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INVESTIGAÇÃO DAS PRÁTICAS ALIMENTARES DE CRIANÇAS
MENORES DE DOIS ANOS DE UM PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
EM CORONEL FABRICIANO, MG
INVESTIGATION OF FOOD PRACTICES OF CHILDREN UNDER TWO YEAR OF
A PROGRAM FAMILY HEALTHCARE IN CORONEL FABRICIANO, MG
ELIETH FLÁVIA FONSECA
Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG
E-mail: [email protected]
VIVIANE JÉSSICA DA SILVEIRA
Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG
E-mail: [email protected]
ANA LAURA GROSSI DE OLIVEIRA
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG
E-mail: [email protected]
RESUMO
Nesta pesquisa analisou-se 16 crianças menores de 24 meses pertencentes a uma área de
cobertura do Programa Saúde da Família de Coronel Fabriciano, MG, quanto ao tempo de
aleitamento materno exclusivo e as práticas alimentares através de entrevistas com os
responsáveis em sua própria residência. Ao avaliar o perfil econômico das 14 famílias
analisadas, 10 (71,42%) foram enquadradas na classe econômica C e a escolaridade dos 14
chefes de família encontrava-se entre o ensino fundamental completo e o ensino médio
completo. Do total de crianças menores de vinte e quatro meses analisadas apenas uma
(6,25%) havia sido amamentada exclusivamente até o sexto mês de vida e 15 (93,75%)
tinham recebido alimentação complementar em tempo inoportuno discordando do
preconizado pelo Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde. Observou-se,
portanto, baixa taxa de aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e a introdução precoce
de alimentos complementares para as crianças menores de 24 meses analisadas.
Palavras-chave: aleitamento materno, alimentação complementar, crianças.
ABSTRACT
In this study we examined 16 children under 24 months whose coverage area of the Program
Family Healthcare of Coronel Fabriciano, MG, about the time of exclusive breastfeeding and
feeding practices through interviews with officials in his own residence. In assessing the
economic profile of the 14 families analyzed, 10 (71.42%) were framed in economic middle
class and schooling of the 14 family heads was between the fundamental school and complete
high school. Of all children under twenty-four months analyzing just one (6.25%) had been
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exclusively breastfed until the sixth month and 15 (93.75%) had received complementary
feeding at inopportune time disagreeing with the proposed by the Ministry of Health and
World Health Organization. It was observed, therefore, low rate of exclusive breastfeeding
until the sixth month and the early introduction of complementary foods for children under 24
months analyzed.
Keys words: breastfeeding, complementally feeding, children.
INTRODUÇÃO
Os primeiros anos de uma criança são considerados os mais críticos de todas as fases
da vida, devido a alta velocidade de crescimento, intensa maturação e principalmente pela
formação do hábito alimentar. Portanto, a nutrição exerce papel fundamental para garantir a
sobrevivência e o crescimento apropriado da criança, uma vez que irá prevenir a desnutrição,
a deficiência de micronutrientes e a obesidade. A primeira infância é dividida em duas fases:
até os seis meses onde a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza a prática do
aleitamento materno exclusivo sem a introdução de chás, água, leites, outras bebidas ou
alimentos; e após os seis meses até dois anos de idade, onde deverá ocorrer a introdução de
uma alimentação complementar para um crescimento saudável e pleno (BRASIL, 2002;
NETO, 2006; SALDIVA et al, 2007; BRASIL, 2009a).
Na fase inicial da vida o leite humano é o alimento mais completo, pois, reúne
características nutricionais ideais, com balanceamento adequado de nutrientes, além de
desenvolver inúmeras vantagens imunológicas e psicológicas, fornecendo proteção contra
doenças agudas e crônicas, bem como o crescimento e desenvolvimento saudável. O leite
materno possui grande importância na diminuição da morbidade e mortalidade infantil, por
isso é considerado uma das principais estratégias de sobrevivência infantil (MARQUES;
LOPEZ; BRAGA, 2006; BARBOSA et al., 2007; FRANÇA et al., 2007; HORTA et al.,
2007).
O principal argumento contra a introdução dos alimentos complementares antes do
sexto mês de vida é o aumento do risco de infecções gastrointestinais que podem ser causas
do aumento da morbidade e mortalidade infantil devido a não higienização adequada dos
alimentos. São incontáveis as desvantagens da introdução precoce dos alimentos
complementares, entre elas, destacam-se a interferência na absorção de nutrientes, como o
ferro e o zinco, o aumento do risco de alergia alimentar, e a maior ocorrência de doenças
crônico-degenerativas na idade adulta (VIEIRA et al., 2004).
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Recomenda-se a introdução dos alimentos complementares a partir dos seis meses de
idade, onde devem ser oferecidos alimentos em consistência pastosa, como papas de frutas e
papas salgadas, aumentando gradativamente sua consistência até chegar à alimentação da
família por volta do oitavo mês. Antes do sexto mês a criança possui o reflexo de protusão,
que implica na expulsão do alimento ao ser introduzido na boca, portanto a mesma não está
apta a receber alimentos em consistência pastosa ou sólida, além de não ter o controle da
cabeça e do pescoço, devido a imaturidade neuromuscular, dificultando assim sua alimentação
(BRUNKEN et al., 2006; VITOLO, 2008; BRASIL, 2009a).
A interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo vem sendo um dos mais
importantes problemas de saúde pública no país, evidenciando a necessidade de
monitoramento, novas pesquisas e intervenções. Cabe ao profissional da saúde, em especial o
nutricionista, acompanhar e orientar corretamente o processo da alimentação infantil, para
isso é necessário entender o aleitamento materno e a alimentação complementar junto ao
contexto sociocultural e familiar (BRASIL, 2009a; PARIZOTO et al., 2009).
Dentro deste contexto, a pesquisa teve como objetivo investigar as práticas alimentares
de crianças menores de dois anos de idade cadastrados em um Programa de Saúde da Família
(PSF) do município de Coronel Fabriciano, MG.
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo retrata uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, em que de uma
população de aproximadamente 60 crianças menores de 24 meses vacinadas na Unidade
Básica de Saúde (UBS) no bairro Mangueiras do município de Coronel Fabriciano, MG, 17
(28,33%) cadastrados no PSF foram convidadas a participarem do estudo, sendo avaliadas
quanto aos hábitos alimentares.
Como critério de exclusão retirou-se as crianças maiores de 24 meses, crianças não
cadastradas na área de abrangência do PSF durante a coleta dos dados e/ou não consentimento
pelos pais (motivo de exclusão de um único participante do estudo). Este estudo foi
submetido ao comitê de ética em pesquisa do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais.
Assegurou-se aos participantes o sigilo das informações e os pais e/ou responsáveis assinaram
um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que especificou os objetivos e as
propostas do estudo.
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A caracterização do perfil econômico das famílias foi realizada a partir da análise das
respostas encontradas no questionário de Critério de Classificação Econômica Brasil da
Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), cuja função é estimar o poder de
compra das pessoas e famílias urbanas. O questionário foi analisado de acordo com as
diretrizes propostas pela ABEP que enquadra as famílias nas classes A, B, C, D e E,
considerando-se a acumulação de bens materiais, condições de moradia, números de
empregados domésticos e o nível de escolaridade do chefe da família (ABEP, 2008).
A investigação dos hábitos alimentares das crianças menores de 24 meses foi realizada
através de entrevistas domiciliares divididas em dois formulários adotados pelo Ministério da
Saúde, denominados de “Formulários de marcadores do consumo alimentar de crianças
menores de seis meses” com informações sobre o tipo de amamentação (exclusiva,
predominante ou complementar) e “Formulário de marcadores do consumo alimentar de
crianças com idade entre seis meses e menos de dois anos” com conteúdo se referindo aos
alimentos introduzidos na dieta da criança antes e após os seis meses de idade. Para a análise
e comparação dos resultados constantes nos formulários foram utilizadas as recomendações
do Ministério da Saúde encontradas no Guia alimentar para crianças menores de dois anos
(BRASIL, 2002; BRASIL, 2009a).
Os dados foram analisados através de estatística descritiva simples, e os resultados
obtidos, apresentados na forma de gráficos e tabelas construídas no programa Microsoft
Office Excel® 2003.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliadas 16 crianças menores de 24 meses pertencentes a 14 famílias
cadastradas no Programa Saúde da Família (PFS) do bairro Mangueiras de Coronel
Fabriciano, MG. Destas, sete (43,75%) eram menores de seis meses e nove (56,25%) tinham
entre seis e vinte e quatro meses, a idade média foi de 9,6 meses, quanto ao gênero oito (50%)
eram do sexo masculino e oito (50%) do feminino. Em relação às características das mães
entrevistadas, a idade média foi de 25 anos, variando entre 19 e 31 anos. Quanto à
escolaridade dos 14 chefes das famílias observou-se que três (21,43%) eram analfabetos ou
tinham primário incompleto, dois (14,28%) estudaram até 4ª série do ensino fundamental,
cinco (35,57%) tinham o ensino fundamental completo e quatro (28,57%) possuíam o ensino
médio completo.
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Para a definição das classes econômicas foram utilizadas as diretrizes propostas pela
Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) considerando-se a acumulação de
bens materiais, condições de moradia, número de empregados domésticos e o nível de
escolaridade do chefe da família. Em relação à classificação econômica das 14 famílias
estudadas (Tabela 1), 10 (71,42%) foram enquadradas na classe econômica C, valores
superiores aos resultados apresentados pela ABEP (2008) para a região metropolitana de Belo
Horizonte (39,5%) e para o Brasil (42,5%). Para a classe econômica C espera-se que as
famílias tenham um mínimo de 1 geladeira, casa própria, 1 televisor, 1 rádio dentre outros
eletrodomésticos. Esses bens atribuem à família condições médias de manutenção de
alimentos sob refrigeração, acesso a informações atualizadas, higienização pessoal e de
alimentos, acesso a água tratada e saneamento básico.
Tabela 1 – Classificação econômica e escolaridade do chefe de família de crianças menores de dois anos
pertencentes à área de cobertura do PSF do bairro Mangueiras, Coronel Fabriciano, MG.
Variáveis econômicas
n
%
Classe A
0
Classe B
1
7,14
Classe C
10
71,43
Classe D
3
21,43
Classe E
0
Total
14
100
Escolaridade do chefe de família
Analfabeto/até 3ª. Série fundamental
3
21,43
Até a 4ª. Série fundamental
2
14,28
Fundamental completo
5
35,71
Médio completo
4
28,57
Superior completo
0
Total
14
100
Crianças menores de 6 meses de idade
Aleitamento Materno
Amamentar exclusivamente até o sexto mês reduz os índices de morbi-mortalidade
infantil, trazendo inúmeros benefícios à mãe e à criança que terá um pleno desenvolvimento
imunológico, cognitivo, psicológico e motor, prevenindo distúrbios nutricionais e metabólicos
de difícil correção em idades futuras (MARQUES et al., 2006; BARBOSA et al., 2007;
FRANÇA et al., 2007; HORTA et al., 2007; BARROS et al., 2009; BRASIL, 2009a).
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Das sete crianças menores de 6 meses de idade pesquisadas cinco (71,4%) receberam
leite materno e duas (28,6%) não tinham sido amamentadas nas últimas 24 horas, sendo que
estas o receberam somente até 2 e 4 meses de vida, mostrando-se um padrão inadequado
quando comparado ao recomendado pela OMS quanto ao aleitamento materno exclusivo até o
sexto mês de vida (Tabela 2).
Segundo o Ministério da Saúde (MS), o aleitamento materno exclusivo é entendido
quando a criança recebe somente leite materno. Em relação ao estudo, das sete crianças
menores de 6 meses, seis (85,7%) nunca receberam ou receberam aleitamento materno
exclusivo somente até um mês de idade e uma (14,28%) tinha recebido apenas até o 2º mês de
vida (BRASIL, 2009a).
Tabela 2 – Marcadores do consumo alimentar de 7 crianças menores de 6 meses pertencentes à área de
abrangência do PSF do bairro Mangueiras, Coronel Fabriciano, MG.
Variáveis
n
%
1. A criança ontem recebeu leite do peito?
5
71,43
2. Se não até que idade seu filho mamou no peito? (menos de 4 meses)
2
28,57
3. Até que idade seu filho ficou em aleitamento materno exclusivo? (menos de 4 meses)
7
100
4. A criança ontem recebeu: leite do peito, chá/água, leite de vaca, fórmula infantil, suco
de fruta, fruta, papa salgada?
7
100
Estudos demonstram um declínio do aleitamento materno em diferentes regiões do
mundo, mesmo conhecendo sua importância na maioria dos países, as taxas de amamentação
exclusiva ainda são baixas e sua duração também é insatisfatória como mostra a “II Pesquisa
de Prevalência do Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal”, que
verificou uma taxa de aleitamento materno exclusivo em menores de seis meses de apenas
41% nas crianças estudadas (BRASIL, 2009b). No Brasil, a prevalência de aleitamento
materno varia de acordo com o país, região e população urbana ou rural e a região sudeste
ocupa a quarta posição com um total de 6,7% em relação às outras regiões brasileiras
(FALEIROS et al., 2005; MARQUES; LOPEZ; BRAGA, 2006; BARROS et al., 2009;
BRASIL, 2009a).
Introdução de alimentos
Simon, Souza e Souza (2009) ao estudar a relação do aleitamento materno,
alimentação complementar com sobrepeso e obesidade em pré-escolares, observaram que há
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uma introdução precoce de alimentos na faixa etária de zero a seis meses de idade e a água
e/ou chá foram os alimentos introduzidos mais precocemente para a maior parte das crianças
(72,1%), seguido das frutas (66,4%) e leite não materno (53,2%). Neste estudo, a água e/ou
chá e a fórmula infantil foram os alimentos mais precocemente introduzidos, sendo 71,42%,
para cada item, seguidos pelo leite de vaca (42,86%) e suco de fruta (28,57%). Esses
resultados sugerem discordância com o preconizado pelo MS e descrito no passo 1 dos Dez
passos para uma alimentação saudável do Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos
- Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro
alimento (BRASIL, 2002).
Em relação aos alimentos consumidos pelas crianças menores de seis meses nas
últimas 24 horas, os resultados obtidos estão apresentados na Figura 1, sendo possível a
escolha de mais de uma opção de alimento por criança.
2
0
2
5
leite do peito
5
5
chás/água
leite de vaca
fórmula infantil
suco de fruta
fruta
papa salgada
3
Figura 1 – Número de crianças menores de seis meses que receberam alimentos nas últimas 24 horas cadastradas
no PSF do bairro Mangueiras, Coronel Fabriciano, MG.
Os dados encontrados sugerem que a maioria das crianças (n=5) é amamentada nos
primeiros dias de vida e, com o passar dos dias há um abandono dessa prática, devido à
introdução de outros líquidos ou alimentos. Ressalta-se que o suco de frutas e as frutas são
considerados os primeiros alimentos de transição a serem introduzidos na alimentação da
criança e neste estudo, o consumo destes pelas crianças foi pouco relatado pelas mães
(BRASIL, 2002).
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Crianças com idade de 6 a 24 meses de idade
Na análise do Formulário de Marcadores do Consumo Alimentar para Crianças de 6 a
24 meses de idade, observou-se que, das 9 crianças pesquisadas, apenas 2 (22,22%) tinham
recebido leite do peito no dia anterior (Tabela 3). Das 7 crianças que não tinham sido
amamentadas no dia anterior, 5 (55,55%) receberam aleitamento materno até 4 meses e 2
(22,22%) até o sexto mês de vida. Esses resultados estão em desacordo com o recomendado
no Guia alimentar para crianças menores de 2 anos no que se refere ao aleitamento materno
exclusivo e introdução de novos alimentos: “A partir dos 6 meses introduzir de forma lenta e
gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais”
(BRASIL, 2002; BRASIL, 2009a)
Observou-se também que apenas uma criança tinha sido amamentada exclusivamente
até o sexto mês de vida, enquanto 6 (66,66%) nunca tinham sido amamentadas ou o foram até
1 mês, outras duas foram amamentadas exclusivamente até 2 e 3 meses. Esses dados sugerem
que na pesquisa, 15 crianças (93,75%) estavam em desacordo com o preconizado pelo MS no
que diz respeito à complementação da alimentação definida como dieta composta de leite
materno e outras comidas sólidas ou semi-sólidas com finalidade de complementar o
aleitamento materno a partir do 6º mês (BRASIL, 2009a).
A alimentação da criança deve ser variada, apresentando-se colorida para melhor
aceitação e introduzida no primeiro ano de vida, visto que este é denominado o momento
crítico de inserção e formação de hábitos alimentares saudáveis. Recomenda-se o
oferecimento separado dos diversos alimentos para que a criança identifique os vários
sabores, e sua exposição frequente para a aceitação de novos alimentos (BRASIL, 2002;
WEFFORT; LAMOUNIER, 2009).
Observou-se que a introdução da papa salgada/comida de panela antes dos 6 meses de
idade prevaleceu em 6 das crianças discordando do preconizado pelo MS (Tabela 3), que
relata que a introdução precoce de alimentos pode trazer malefícios como o aumento da
mortalidade e morbidade, diminuição da duração do aleitamento materno, interferência na
absorção de nutrientes, redução da eficácia da lactação na prevenção de novas gravidezes,
predisposição da criança a reações alérgicas, aumento da carga de soluto renal e problemas
futuros como hipertensão arterial, diabetes, doença cardiovascular, sobrepeso e obesidade. Já
a introdução tardia está associada a déficits de crescimento e risco de deficiências de
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micronutrientes como ferro, zinco e vitamina A e também de energia e proteína (BRUNKEN,
2006; FRANÇA et al, 2007; WEFFORT; LAMOUNIER, 2009).
Tabela 3 – Marcadores do consumo alimentar de 9 crianças de 6 a 24 meses pertencentes à área de abrangência
do PSF do bairro Mangueiras, Coronel Fabriciano, MG.
Variável
1. A criança ontem recebeu leite do peito?
n
2
%
22,22%
2. Se não, até que idade seu filho mamou no peito?
Menos de 6 meses
5
55,55%
Mais de 6 meses
2
22,22%
Menos de 6 meses
8
88,88%
Mais de 6 meses
1
11,11%
4. Ontem a criança recebeu preparações (copos/mamadeiras) de leite?
8
88,88%
5. Ontem a criança comeu verduras/legumes?
4
44,44%
6. Ontem a criança comeu fruta?
6
66,66%
7. Ontem a criança comeu carne?
7
77,77%
8. Ontem a criança comeu feijão?
8
88,88%
9. Ontem a criança comeu assistindo à televisão?
1
11,11%
10. Ontem a criança comeu comida de panela no jantar?
6
66,66%
11. A criança recebeu mel/melado/açúcar/rapadura antes de seis meses de idade
consumido com outros alimentos ou utilizado para adoçar líquidos e preparações?
5
55,55%
12. A criança recebeu papa salgada/comida de panela (comida da casa, comida da
família) antes de seis meses de idade?
6
66,66%
13. A criança tomou suco industrializado ou refresco em pó (de saquinho) no
último mês?
5
55,55%
14. A criança tomou refrigerante no último mês?
6
66,66%
15. A criança tomou mingau com leite ou leite engrossado com farinha ontem?
8
88,88%
3. Até que idade seu filho ficou em aleitamento materno exclusivo?
Do total de crianças entre 6 meses e 2 anos investigadas, oito não tinham se
alimentado assistindo à televisão no dia anterior. Segundo Borges et al. (2007), o hábito de
assistir à televisão provoca um desequilíbrio energético, pois há um gasto calórico menor que
o exigido em atividades como correr, andar e jogar bola, além de produzir o desejo de
consumir guloseimas, aumentando a ingestão calórica. De acordo com Camurra e Teruya
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(2008), a televisão afeta a capacidade de escolha das pessoas, pois esta impede que as mesmas
decidam sobre seus gostos e preferências.
A prevenção da anemia ferropriva está diretamente ligada à alimentação, portanto o
consumo de alimentos ricos ou fortificados com ferro deve ser estimulado (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2006). A introdução de feijão e carne na alimentação das
crianças maiores de 6 meses investigadas no presente estudo apresentou valores de 88,88% e
77,77% respectivamente (Figura 2). Silveira e Lamounier (2004) observaram em seu estudo
um consumo de carne entre as crianças de 6 a 12 meses de 40,5% e de 66,1% daquelas com
mais de 12 meses de idade.
Para Oliveira, Osório e Raposo (2007), os principais fatores de risco da anemia são a
baixa renda familiar e escolaridade materna, falta de acesso aos serviços de saúde,
precariedade nas condições de saneamento e a dieta inadequada em ferro, caracterizada pela
baixa ingestão de alimentos fontes e facilitadores de sua absorção.
comida de
panela no jantar
feijão
66,66%
88,88%
carne
77,77%
frutas
66,66%
44,44%
88,88%
22,22%
verduras e
legumes
preperações de
leite
leite materno
Figura 2 – Ingestão de alimentos nas últimas 24 horas pelas crianças entre 6 e 24 meses pertencentes à área de
abrangência do PSF do bairro Mangueiras, Coronel Fabriciano, MG.
O consumo de mel, melado, açúcar, rapadura consumidos com outros alimentos ou
utilizados para adoçar líquidos e outras preparações foi de 55,55% entre crianças de 6 a 24
meses. Simon, Souza e Souza (2009) observaram em seu estudo a introdução de açúcar e/ou
mel em percentagens menores (15,2%) para crianças na mesma faixa etária.
Quanto ao consumo de açúcar, observou-se uma inadequação de sua introdução na
alimentação das crianças na presente pesquisa, já que deve ser oferecido com moderação nos
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primeiros anos, de preferência, sendo restrito nos primeiros dois anos de vida, uma vez que a
criança tem preferência pelo sabor doce e esse apresenta relação direta com a obesidade
infantil. Alimentos industrializados devem ser evitados devido a altas concentrações de
açúcares, gorduras, sal, corantes e essências que podem ser prejudiciais à saúde e provocar
alergias. A utilização de mel fica restrita no primeiro ano de vida devido à possibilidade da
presença de Clostridium botulinum causador do botulismo (BRASIL, 2009a; SIMON;
SOUZA; SOUZA, 2009; WEFFORT; LAMOUNIER, 2009).
Em relação ao consumo de refresco em pó e refrigerante, cinco (55,55%) e seis
(66,66%) crianças, respectivamente, haviam consumido esses alimentos no mês anterior.
Carneiro, Delgado e Brescovici, (2009) estudaram a introdução de refrigerante na alimentação
de menores de 6 meses e de crianças de 6 a 24 meses do município de Canoas, RS, e
encontraram 30,7% e 75%, respectivamente, valores estes superiores aos encontrados neste
estudo para maiores de 6 meses. O consumo de refrigerantes, suco industrializado e refresco
em pó podem prejudicar a saúde das crianças e provocar alergias, pois, são ricos em açúcares,
corantes e essências (BRASIL, 2002).
No presente estudo, a prevalência de introdução precoce de alimentação complementar
das crianças analisadas (n=16) foi de 93,75%, resultados superiores aos encontrados por
Morellato et al, (2009) que relataram 78% de inadequação em seu estudo.
Em relação à restrição ao aleitamento materno, para o MS (BRASIL, 2004) existem
certas condições em que se contra-indica o aleitamento materno, como é o caso do leite de
mães portadoras de HIV (AIDS) e do leite materno que está contaminado por
microorganismos ou substâncias que ponham em risco a saúde e a vida dos lactentes. Nesta
perspectiva é necessária uma maior demanda de cuidados e prioridades para assegurar a
efetividade dos direitos referentes à saúde e à vida. O leite humano pasteurizado em bancos de
leite promove a inativação de vírus, bactérias e outros microorganismos patogênicos,
tornando este seguro e não impedindo que as mães doem leite a seus próprios filhos.
CONCLUSÃO
Observou-se nas crianças menores de seis meses baixa taxa de aleitamento materno
exclusivo e a introdução precoce de alimentos. Entre as crianças com idade entre seis e vinte e
quatro meses verificou-se a interrupção precoce do aleitamento materno e a introdução de
outro tipo de leite em substituição. Constatou-se também baixo consumo de verduras e
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legumes nas refeições do dia anterior e o consumo de frutas, carne, feijão, além da presença
do mel e outros açúcares antes dos seis meses de idade.
A partir dos resultados encontrados, sugerem-se programas públicos específicos de
incentivo ao aleitamento materno exclusivo até os seis meses e complementado até os dois
anos de idade através de palestras e apoio aos grupos de gestantes, bem como o
acompanhamento de puericultura para prevenção de carências nutricionais nas crianças.
AGRADECIMENTOS
Ao secretário municipal de saúde de Coronel Fabriciano por permitir a execução deste
trabalho. Às Agentes Comunitárias de Saúde da UBS do bairro Mangueiras pela colaboração
na coleta de dados. A nutricionista e orientadora Ana Laura Grossi de Oliveira pela ajuda na
elaboração e realização deste trabalho.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA (ABEP). Critério de
Classificação Econômica Brasil 2008. Disponível em: <www.abep.org>. Acesso em: 01
nov. 2010.
BARBOSA, M. B.; PALMA, D.; BATAGLIN,T.; TADDEI, J. A. A. C. Custo da
alimentação no primeiro ano de vida. Revista de Nutrição, Campinas, v. 20, n.1, jan./fev.
2007.
BARROS, V. O.; CARDOSO, M. A. A.; CARVALHO, D. F.; GOMES, M. M. R.; FERRAZ,
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Recebido em: 15/06/2010
Revisado em: 02/10/2010
Aprovado em: 11/11/2010
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Investigação das práticas alimentares de crianças