Disputas de Terrenos A Capital 17 de Novembro de 2012 Os terrenos em disputa foram adquiridos por intermédio da então Administração da Samba, em Janeiro de 2008. Porém pelas mudanças que se operaram no plano administrativo, as coisas esbarraram. Em face disso, os futuros moradores do Bemvindo, constituíram uma Comissão de Reivindicação, cujo presidente é António Emiliano. Segundo contou ao A Capital, foi através de documentos endereçados às autoridades, cujo deferimento demorou, que eles receberam os terrenos, tendo, a própria Administração se encarregado de fazer o devido loteamento, bem como o cadastro de todos os beneficiários. Foi assim que, em 2008, a área técnica da referida Administração, levou-os até ao sítio indicado e, apresentou a cada um, o seu lote com o respectivo cadastro, chamado de "contrato-promessa". "Na altura, o governador da província de Luanda era o senhor Job Capapinha, que tinha como administrador municipal da Samba, o senhor Mayembe", explicou Antônio Emiliano, ele que, com seus companheiros, depois daquele procedimento, convenceram-se de que doravante, estavam legalizados. Malgrado eles. Com o andar do tempo, tanto Job Capapinha como Mayembe, foram substituídos. Para a Administração municipal da Samba vem, então, Pedro Ambrôsio dos Reis Fançony que, segundo os queixosos, cancelou o projecto. "Não sei qual era o inconveniente que ele achou no projecto, apesar de que, já tinha sido aprovado. Simplesmente, ficamos sem saber porquê!", exclamou, Emiliano, falando em nome do grupo. Não tardou, Fançony é, por sua vez, substituído no cargo por Adão António Malungo, com quem, no entanto, o processo voltou a ter pernas. "O senhor Malungo fez a sua administração e, nós ficamos assim. Esta é a situação que estamos a " viver", mercê, talvez, das sucessões constantes de administradores e o surgimento do novo mapa administrativo da província que, por si só, levou a que o município da Samba deixasse de sê-lo, passando a distrito e, concomitantemente, pertencente ao município de Belas, em cuja Administração, a julgar pelo que dizem os queixosos, tudo parece encalhar. E, como indicam, tudo começou no dia 02 de Março do ano corrente, quando a administradora do município de Belas, Joana Quintas, surgiu no terreno com um grupo de mulheres trajadas com o uniforme da Organização da Mulher Angolana, (OMA) e falou aos populares. "Ela fez um discurso, dizendo que a terra é propriedade do camponês", palavras que na óptica dos reclamantes, exacerbou os ânimos dos camponeses que, apesar de já terem sido indemnizados para a deixarem, ganharam força para a reocupação. "Foi-lhes dada toda a plantação que ali estava, algum dinheiro e, evidentemente, algumas parcelas de terreno", informou António Emiliano. "Temos aqui provas documentais cedidas pela Administração municipal da Samba, designadamente, contratos-promessa que estão todos no cadastro", adicionou, ao mostrar um conjunto de papeis, que, em seu entender, os mesmos já se devem encontrar na posse da Administração de Belas.' Ela não nos receber Dizem os futuros moradores do Bem-vindo que a abordagem do caso com a actual titular não tem sido fácil. Isso foi, pelo menos, o que avançou outra integrante do grupo, no caso, Edna Gonçalves, para quem o litígio só existe, por, alegadamente, "a senhora administradora não estar a agir correc-tamente". "Se ela quiser acabar com este problema, hoje mesmo ou amanhã terminaria", sublinhou Edna Gonçalves, o único senão é que já somam quatro tentativas de falar com a governante, e, simplesmente, "ela não nos recebe". "Já mandamos o nosso advogado lá. Não o recebeu. Estamos aqui novamente. Disse que não nos recebia, porque tem um encontro. E isso tem sido constante", lamentou, deduzindo que as autoridades estejam a fazer passar o tempo até que eles se cansem e parem de chatear. "Por exemplo, no meu espaço, eles partiram o muro. Vim me queixar, e mesmo assim nada aconteceu. Não vou estar a abdicar de muitos outros afazeres que tenho, para estar aqui em tempo integral", desabafou, inconformada. Camponeses fantasmas No entanto, uma névoa começa a confundir a situação. É que no mesmo espaço onde eles sonhavam erguer suas residências, alegadamente, sob orientação do Estado, paradoxalmente estão a ser feitas construções de grande envergadura. "As obras que estão a ser feitas nos nossos terrenos, vão muito para além das capacidades financeiras das camponesas", denunciou, ainda, Edna Gonçalves, pois, observa, "as camponesas não conseguem pagar chineses para lhes fazerem obras daquela magnitude", o que os leva a deduzir que há gato escondido, porque, senão, "as pessoas que devem tomar a peito a situação, já o teriam feito". "O que nós queremos de concreto é que nos seja restituído o que é nosso. Nós já constituímos um advogado. Se eles não podem nos receber por sermos muitos, então que recebam o nosso advogado e resolvam a situação", manifestou, irada. Quem corrobora é João Isabel, que diz ter sido camponês na zona em litígio só que, depois trabalhou muito tempo no Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural. "Quando me reformei, deram-me uma parcela de terreno lá. Só mesmo agora com a senhora Joana Quintas como administradora é que estes problemas chegaram à este extremo", denunciou João Isabel que considera uma situação muito fácil de resolver. De acordo com este cidadão, há pessoas ambiciosas a aliciar os camponeses, dizendo-lhes que a terra os pertence, mas que por detrás são elas que compram os nossos terrenos. "As camponesas actuam compulsivamente. Quando nos vêem lá, começam a atirar pedras, agarrar nas camisas. Se você perde a cabeça, pode aleijar alguém", pelo que, "para que isso não aconteça, estamos aqui a pedir que nos sejam dados os nossos terrenos". Há duas semanas, o A Capital tentou saber junto da Administradora de Belas ou de alguém por ela indica-do, qualquer coisa sobre o assunto. Contudo, apesar de, através de seus colaboradores, nos ter sido, sucessivamente; assegurada a disponibilidade da governante para o efeito, acabamos por nunca termos sucesso.