REQUALIFICAÇÃO DA ANTIGA HOSPEDARIA DOS IMIGRANTES
PARA O PORTO DE SANTOS, SP.
Laís Hanson Alberto Lima
Universidade Estadual de São Paulo - UNESP
[email protected]
Hélio Hirao
Universidade Estadual de São Paulo - UNESP
[email protected]
RESUMO
O trabalho trata da revitalização de uma zona portuária através de um projeto pontual, com a requalificação da
antiga Hospedaria dos Imigrantes, um edifício abandonado que foi projetado para servir ao Porto de Santos na
década de 10, mas a obra não foi finalizada e, após 100 anos, se encontra em estado de ruína. Assim, a
construção de uma instituição de ensino no local proporcionará novamente a interligação com o Porto, dando
suporte ao mesmo, através da formação de profissionais qualificados para o mercado de trabalho nesta área.
Palavras-chave: Abandono. Ruínas. Intervenção. Requalificação.
ABSTRACT
The paper its about a revitalization of the waterfront through a punctual project, with the redevelopment of the
former Guesthouse of Immigrants, an abandoned building that was designed to serve the Port of Santos in the
late 10, but the work was not finished and, after 100 years, lies in ruins. Thus, the construction of an educational
institution at the place will provide again the interconnection with the Port, supporting the same, through training
of professionals for the labor market in this area.
Keywords: Abandon. Ruins. Intervention. Requalification.
1. INTRODUÇÃO
Com as novas propostas de requalificação dos centros históricos e a modernização dos
portos, a cidade de Santos tem visado projetos para melhorar as condições de suas áreas
em questão. O projeto “Alegra Centro”, uma Lei Complementar instaurada em 2003, já
realizou diversas restaurações nos antigos casarões da área central da cidade (até o
presente momento, foram 224 imóveis), além de ter um projeto de modernização do porto,
que culminaria em uma maior valorização da área (Jornal A Tribuna, 21/02/2008).
A antiga Hospedaria dos Imigrantes se localiza no bairro Vila Mathias, na zona portuária da
cidade, muito próxima ao centro. Essas áreas centrais e portuárias têm apresentado um
quadro
de
abandono
e
degradação
comum
aos
centros
urbanos
no
Brasil.
Consequentemente, elas têm reunido um grande número de população de rua residindo em
seus espaços vazios e/ou abandonados.
A Hospedaria é um dos edifícios que faz parte da Área de Proteção Cultural do programa
Alegra Centro e se encontra em processo de ruínas e está abandonada há décadas, sendo
degradada pelas ações do tempo a cada dia que passa. É um dos edifícios do programa
mais próximos ao porto, que deveria estar inserido, sendo ligado à zona portuária, como um
"monumento" e não sendo esquecida a cada ano que passa.
Através de um projeto de requalificação da antiga Hospedaria, acredita-se que a intervenção
na área culminaria em melhorias no bairro Vila Mathias, agindo com um caráter
transformador do espaço.
2. OBJETIVOS
O objetivo principal é a requalificação de um bem tombado que está abandonado e faz parte
de um cenário de degradação de um bairro da zona portuária de Santos. Assim, pretende-se
modificar o espaço através do projeto proposto para essa edificação que se encontra em
estado de ruínas.
Além disso, tem-se o objetivo de propor um uso para o local, que em cem anos não teve um
uso específico, sendo aos poucos modificado e, correndo o risco de ser demolido pelo
abandono, o novo uso se destinará a assegurar a manutenção da edificação (importante
registro da arquitetura eclética).
O projeto para as novas instalações da Faculdade de Tecnologia de São Paulo - FATEC
visa criar um eixo institucional no bairro da Vila Mathias (onde a Hospedaria se insere),
assim, consequentemente, requalificando não somente sua área, como o seu entorno,
trazendo maior movimentação ao bairro, inclusive no período noturno.
3. ÁREAS CENTRAIS E PORTUÁRIAS
Os espaços de uma cidade estão em constante transformação a de acordo com o contexto
econômico e social em que se inserem. Estão sempre surgindo novas atividades e estas
vão modelando novos espaços, inovando e intensificando o uso de outras áreas. A evasão
que ocorre nas áreas mais antigas, especialmente nas áreas centrais, é decorrência deste
fenômeno que ocorre no Brasil em maior escala, segundo Castilho e Vargas (2009, p. 02)
desde a década de 80.
As áreas portuárias também se encaixam nesse quadro. As atividades portuárias, em
grande ascensão, acarretam em alguns problemas para quem reside próximo a essas
áreas, pois existe um grande tráfego de caminhões, vagões de trem de carga, que gera
poluição do ar, sonora, etc. Além disso, a maioria dessas áreas esta localizada próxima ou
até mesmo nas áreas centrais das cidades, onde já existe um processo de degradação
ocorrendo.
Existem diferentes tipos de centros: centro histórico, centro de mercado, centro de negócios,
entre outros. Um centro histórico deve estar diretamente ligado à origem da cidade, deve
conter as sedimentações da sua história, reforçando a valorização do passado (CARRION,
2000, p. 47).
Quando ocorre a desvalorização e o abandono de uma área central, culminando em um
estado de degradação, sobretudo em um centro histórico, é necessário intervir de maneira a
resgatar características que fazem referências ao passado, a fim de não permitir que tais
valores históricos e culturais se percam. Porém, é necessário se atentar ao fato de que um
centro histórico não é um lugar predestinado à fantasmagoria do passado, mas sim um lugar
que deve conter lembranças da história da cidade.
Para Castilho e Vargas (2009, p. 03), deteriorar e degradar são dois conceitos associados
ao desuso de uma área, “à perda de sua função, ao dano ou à ruína das estruturas físicas,
ou ao rebaixamento do nível do valor das transações econômicas de um determinado lugar”,
além da obsolescência dos setores industriais, que foram aos poucos se deslocando para
áreas mais periféricas.
A partir de 1980, foram realizadas várias experiências urbanísticas voltadas para a
requalificação do patrimônio cultural e arquitetônico em áreas centrais (SANTOS, JR, 2006,
p. 03).
4. RECORTE ESPACIAL
Em contrapartida ao desenvolvimento do porto e das riquezas que o mesmo trouxe para a
cidade, tornando-a uma das maiores economias do país, com o tempo, acabou deslocando
os moradores mais abastados para a orla, que no século XX começava a ser mais
valorizada e transformou as zonas centrais, onde agora estão os moradores de baixa renda
em áreas totalmente degradas.
A Vila Mathias é um exemplo de um bairro que se consolidou através da riqueza trazida pela
economia cafeeira que impulsionou a cidade e depois de anos foi aos poucos sendo
abandonada pela elite.
Somando a localidade do bairro Vila Mathias, fronteira entre o porto e a cidade e a falta de
planejamento estratégico para o desenvolvimento socioeconômico dos bairros que fazem
divisa com a nova Avenida Perimetral, transformaram essas áreas em locais “mortos” para
empreendimentos econômicos, mesmo com o forte eixo comercial que se localiza próximo
ao bairro, nos bairros vizinhos.
Não há como negar a força do comércio que se estende ao longo de ruas como a
Senador Feijó, a Braz Cubas, a Lucas Fortunato e outras das imediações. Mas a Vila
Matias é muito mais do que isso: ostenta também um lado tipicamente residencial e
outro em franca decadência, onde só restaram vestígios da opulência de outros
tempos. Diversidade e contraste se misturam no mesmo bairro. (Novo Milênio,
Histórias e lendas de Santos – reportagem retirada do jornal A Tribuna em
24/02/1983).
Essas áreas centrais passaram a ter poucos frequentadores, quando não conseguiram obter
um desenvolvimento comercial, gerando uma grande quantidade de terrenos vazios,
abandonados e subutilizados, além do grande tráfego de caminhões, devido ao eixo
portuário, proporcionando ruídos indesejados e bastante poluição para o local. Começava
então um processo de deterioração das áreas adjacentes à Avenida Perimetral e ao porto.
5. HISTÓRICO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA
A Hospedaria dos Imigrantes surgiu no começo do século XX, em 1912, devido à grande
movimentação que havia no porto de Santos, com a vinda de muitos imigrantes para
trabalhar nas fazendas de café no interior de São Paulo. Estes imigrantes principalmente
japoneses, italianos e portugueses traziam consigo muitas doenças, como por exemplo, a
febre amarela. E, a partir de Santos casos da doença foram levados ao interior do estado,
juntamente com as famílias de imigrantes estrangeiros, dando início à sucessão de
epidemias (FRANCO, 1976 apud TELAROLLI, 1996, p. 18). Preocupados com o quadro
gradativo que se estendia, a então Comissão de Saneamento de Santos decidiu implantar
uma espécie de hospital de isolamento e hospedaria que cuidaria dos imigrantes que
apresentavam sintomas de doenças assim que desembarcavam no porto, para que eles
pudessem ser curados antes de serem enviados ao interior do estado. Foi então que o
antigo barracão onde se instalava a Comissão de Saneamento da cidade deu lugar às obras
da Hospedaria dos Imigrantes.
O arquiteto Nicolau Spagnolo foi o responsável pelo projeto da Hospedaria dos Imigrantes,
em 1910, que começou a ser executado em 1912. A obra durou dois anos, porém não
seguiu à risca o projeto original de Spagnolo e foi paralisada em 1914 por falta de verba.
Este projeto foi divido em duas alas distintas, com uma área central que funcionaria como
um pátio descoberto. Até então havia sido construída a primeira ala, com dois pavimentos. A
segunda ala, onde seria feita a entrada principal dos imigrantes não chegou a ser
construída.
Com o início da Primeira Guerra Mundial, a produção cafeeira no Brasil ficou comprometida,
isto se deu principalmente com o bloqueio alemão e com a proibição da importação de café
pela Inglaterra, em 1917, que alegava que os espaços nas cargas dos navios deveriam
transitar produtos mais importantes na época. Isso gerou um enorme acúmulo das sacas de
café e havia poucos armazéns em Santos para estocá-las, por isso a Secretaria da
Agricultura tomou posse de vários prédios para fazer estocagem e a Hospedaria dos
Imigrantes, com suas obras paralisadas, foi um deles.
Este processo de estocagem durou até 1928, quando em 1929 a era do café teve seu
declínio, devido à crise mundial provocada pela quebra da Bolsa de Nova York.
Com o fim da era cafeeira, o governo, aproveitando a mão de obra imigrante que se
instalava nas fazendas, resolve investir na produção de outros produtos, como o milho.
Assim, o prédio da Hospedaria, ainda em posse da Secretaria da Agricultura passa a ser
entreposto de milho até 1940.
Na década de 40, a banana passa a ser um importante produto de exportação, cultivada
principalmente no Vale do Ribeira, região próxima a Santos. Assim, a Cooperativa de
Bananicultores toma posse da Hospedaria para utilizá-la como depósito de banana.
(OLIVEIRA, 2011)
Após mais de 40 anos, a Secretaria da Agricultura resolve reaver a posse do prédio,
apropriando-se da primeira ala, enquanto o pátio central e a segunda ala passam a servir de
garagem e oficina para veículos da polícia, sendo a Secretaria de Segurança Pública a
responsável por essa parte da edificação. Em 1989, o muro que separava essas duas alas,
desabou, danificando muitos veículos, gerando grande prejuízo para a Secretaria de
Segurança Pública, que então abandona o prédio. De 1989 a 1990, a Secretaria da
Agricultura empresta sua ala à ATATESP - Associação dos Trabalhadores Avulsos do
Estado de São Paulo. (OLIVEIRA, 2011)
De 1990 a 1998 o prédio se encontra em total abandono. Em outubro de 1998, o
CONDEPASA (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos) resolve tombar a
edificação, alegando sua importância na história da cidade de Santos. Em 16 de dezembro
do mesmo ano sai uma nota no Diário Oficial de Santos, relatando a Resolução de
Tombamento da Hospedaria dos Imigrantes pela Secretaria de Cultura.
Ainda em 1998, o Estado cede a posse do prédio ao Sindicato do Comércio Varejista que
pretendia restaurar a edificação e implantar nela um Centro de Convenções. Em um período
de quatro anos, nada é feito e o Sindicato resolver devolver o prédio, alegando falta de
verba para a execução do projeto.
Em 2004 a Prefeitura de Santos, SP, sob o comando do então prefeito João Paulo Tavares
Papa, pede a posse do prédio para que seja executado o projeto de um Museu do Imigrante
juntamente com uma biblioteca pública, a fim de revitalizar a área da Hospedaria, que se
encontrava em total desuso e contribuía para a degradação desta parte do bairro da Vila
Mathias. (OLIVEIRA, 2011)
Dois anos se passaram e nada foi feito. O prédio continuava sendo destruído pela ação do
tempo e por furtos em sua estrutura de aço (a população de rua que vivia pelas redondezas
entrava na Hospedaria para roubar peças metálicas da cobertura, que um dia cedeu,
matando um morador de rua). Devido ao acidente e ao abandono, também pela prefeitura,
no final de 2006, o então governador Cláudio Lembro, passa a posse do prédio para a
UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), que pretendia instalar um novo campus no
local.
‟O estado de abandono da Hospedaria dos Imigrantes na Vila Mathias se agrava enquanto a
instalação definitiva do campus da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) não
acontece. A situação tem preocupado moradores, além de provocar a migração de alguns
comerciantes. ‟ (A Tribuna. Santos, domingo, 14 de agosto de 2005)
Cinco anos depois, mais precisamente em março de 2011, a Universidade devolve o prédio
ao estado, alegando falta de recursos para restaurar a edificação. A partir de janeiro de
2012, a FATEC tomou posse da edificação para a construção de uma nova unidade da
faculdade, mas até o presente momento, as obras não começaram.
Para verificar o atual estado da edificação realizamos diversas visitas nas quais pudemos
registrar imagens do prédio mostrando o estado de degradação do lugar (Figura 3).
Para fazer a análise visual da paisagem, foram feitos desenhos tanto das fachadas da
Hospedaria (Figuras 1 a 4) como das fachadas das edificações do entorno (só não foi feito o
desenho da Av. Perimetral, pois já é parte do Porto), a fim de entender de forma mais
minuciosa todos os detalhes da arquitetura eclética que está presente nas ruas do bairro
Vila Mathias.
Figura 1: Croqui fachada Rua Antenor da Rocha Leite (Fonte: Produzido pela autora).
Figura 2: Croqui fachada Rua Silva Jardim (Fonte: Produzido pela autora).
Figura 3: Croqui fachada Rua Dona Luisa Macuco (Fonte: Produzido pela autora).
Figura 4: Croqui fachada Av. Perimetral (Fonte: Produzido pela autora).
Existem galpões abandonados na Rua Antenor da Rocha Leite (Figura 5). O entorno da
Hospedaria é atualmente marcado por uma arquitetura eclética, sendo que algumas
construções foram restauradas, como no caso da Rua Silva Jardim (Figura 6), e outras
encontram-se em estado de degradação, como as da Rua Dona Luisa Macuco (Figura 7). A
Av. Perimetral é tomada pelo porto.
Figura 5: Croqui Rua Antenor da Rocha Leite (Fonte: Produzido pela autora).
Figura 6: Croqui Rua Silva Jardim (Fonte: Produzido pela autora).
Figura 7: Croqui Rua Dona Luisa Macuco (Fonte: Produzido pela autora).
Na avenida Perimetral, o tráfego de veículos é bastante intenso, pelo fato de esta avenida
margear parte da cidade, sendo uma rota para o centro, além de ser o acesso ao Porto.
(portanto, além de muitos caminhões circularem, também se encontram estacionamos em
suas margens). O fluxo na Rua Silva Jardim também é considerável, por ser uma paralela a
uma das maiores avenidas da cidade, a Av. Conselheiro Nébias, mas não é muito
movimentada por pedestres. Ela possui construções restauradas, onde funcionam serviços
públicos e em mau estado, sendo somente habitações. Na Rua Dona Luíza Macuco existem
somente casas em mau estado (até mesmo cortiços), algumas fachadas em ruínas e um
galpão. É acesso da Rua Silva Jardim para a Av. Perimetral, então existe um certo fluxo de
caminhões na rua. Por último, a Rua Antenor da Rocha Leite possui apenas alguns
depósitos que não se encontram em atividade e um lote particular vazio. Ela é uma rua sem
saída, sem movimentação e existe uma diferenciação de piso (todas as ruas do entorno são
de asfalto e somente esta é de paralelepípedo).
Nota-se, portanto, que o entorno da Hospedaria é composto por uma paisagem urbana
bastante característica dos primeiros anos do século XX. O maior gabarito encontrado foi de
uma casa que possui 3 pavimentos. Na quadra seguinte, existe somente uma edificação
atual, que é o novo campus da UNIFESP, que conta com de 5 pavimentos. Nesta outra
quadra existe também um grande lote onde está instalado um canteiro de obras para a
construção de um grande edifício de escritórios.
6. LEGISLAÇÃO
De acordo com a Lei Complementar 312/98, Lei de uso do solo, revisada em 2011 que
passou a ser LC 730/11, a área da Hospedaria dos Imigrantes é considerada NIDES 14 e
está explícita no Capítulo II, artigo 68, inciso VI e alíneas "a", "b".
Capítulo II – Dos Núcleos de Intervenção e Diretrizes Estratégicas
Art. 68. Os empreendimentos em NIDES deverão atender às seguintes exigências:
VI - quanto ao uso do solo para os imóveis situados em NIDES ficam definidas as seguintes
exigências:
a) nos NIDES 1 a 6, as categorias de uso permitidas são aquelas estabelecidas para as
zonas de uso em que estiverem inseridas, conforme esta lei complementar, vedadas as
previstas nas alíneas “c”, “e” e “g” do inciso IV e nas alíneas “a”, “b”, “e” e “f” do inciso V, do
artigo 16 desta lei complementar;
b) nos NIDES 4 e 5 as restrições estabelecidas na alínea anterior não se aplicam desde que
fiquem garantidos em projeto, a destinação de no mínimo 40% (quarenta por cento) da área
total de cada NIDE, para construção exclusivamente de empreendimentos destinados a
centros culturais, centros de convenções, pavilhão de exposição ou complexos turísticos de
esporte e lazer, sendo permitido adicionalmente para o NIDE 5, além de todos os usos
relatados, o uso de hotéis;
Art. 16. As categorias de uso comercial e de prestação de serviços, identificadas pela sigla
– CS, ficam subdivididas nas seguintes categorias:
IV - CS4: comércio e/ou prestação de serviços que impliquem na fixação de padrões
específicos referentes às características de ocupação do lote, de acesso, de localização, de
tráfego, de serviços urbanos e aos níveis de ruído, de vibrações e de poluição ambiental,
admitindo-se as seguintes atividades:
1
Determinadas porções do território, com destinação específica, incentivos fiscais e normas
próprias de uso e ocupação do solo, visando a uma intervenção urbanística renovadora, capaz
de criar condições para o desenvolvimento social, econômico e ambiental, priorizando as
atividades de lazer, cultura e turismo).
c) lojas de departamento, centros comerciais não dotados de lojas “âncoras”, praças de
alimentação e/ou estabelecimentos de entretenimento, supermercados, concessionárias de
veículos, faculdades e centros esportivos;
Além disso, a Hospedaria está inserida pelo Alegra Centro 2 em um corredor de proteção
cultural na Zona Central II3.
7. O PROJETO DE REQUALIFICAÇÃO
Visando a contribuição do projeto para a própria cidade de Santos, e por se tratar de uma
área portuária, a proposta é a construção de uma instituição de ensino voltada para o
mercado de trabalho da Baixada Santista. Pelo fato de a FATEC ter a necessidade de
expansão de sua unidade já existente em Santos e pela implantação de três novos cursos
diretamente ligados ao porto. São eles: Petróleo e Gás, Construção Naval e Sistemas de
Navegação.
Com a implantação destes cursos na nova unidade, a instituição passará a dar suporte ao
Parque Tecnológico que será implantado na cidade de Santos. Também está prevista a
implantação de um estaleiro-escola no próprio Porto de Santos, que possibilitará a
realização de futuras parcerias com empresas do setor portuário.
De acordo com diz Paulo Alexandre Barbosa, secretário estadual de Desenvolvimento
Econômico, Ciência e Tecnologia, "a iniciativa vai permitir que os jovens santistas se
qualifiquem profissionalmente e busquem uma colocação no mercado de trabalho da
região." (FATECRL: http://www.fatecrl.edu.br/site/?p=19&n=2).
Assim, o projeto passará a integrar a Hospedaria dos Imigrantes ao próprio porto, visto que
ela foi construída exatamente para dar suporte às necessidades da época de sua
construção - que seria hospedagem para os imigrantes - hoje a necessidade é a demanda
do mercado de trabalho na região, que vem crescendo cada vez mais.
Além disso, já existem outras instituições de ensino no entorno da Hospedaria, o que facilita
a implantação de mais uma, afinal já existe infraestrutura necessária para apoiar o projeto,
como linhas circulares de ônibus bem próximas ou até mesmo na rua principal, com pontos
2
Programa de revitalização e desenvolvimento da região central histórica de Santos, que
culminou em Lei Complementar.
3
Caracterizada por ocupação de baixa densidade e comércio especializado em determinadas
vias, onde se pretende incentivar a renovação urbana e o uso residencial.
de ônibus, comércio e serviços, principalmente na Av. Conselheiro Nébias (uma das
principais de Santos, que se encontra a duas quadras da Hospedaria).
8. DIRETRIZES PROJETUAIS
No projeto para as novas instalações da FATEC na antiga Hospedaria dos Imigrantes,
existirão duas linhas principais e contrastantes guiando o desenvolvimento do projeto: as
ruínas da Hospedaria e a contemporaneidade de uma Faculdade de Tecnologia.
Primeiramente, foi feito um estudo sobre a conservação das ruínas de um monumento, visto
que a Hospedaria dos Imigrantes é um bem tombado patrimônio de Santos pelo
CONDEPASA (Conselho de Defesa do Patrimônio de Santos).
Esse estudo sobre conservação foi realizado a fim de entender o porquê de alguns teóricos
defenderem o estado ruinoso como algo que não deve ser restaurado, mas sim mantido
com suas características atuais, mostrando todos os processos de deterioração causados
pela ação do tempo.
Conservar, de acordo com o artigo 2º da Carta de Burra de 1980, tem por objetivo a
preservação da significação cultural de um bem; além de implicar medidas de segurança e
manutenção, assim como disposições para sua futura destinação.
Sendo assim, a conservação é capaz de não só manter visualmente o caráter histórico da
edificação, mas também ajuda a preservar esses aspectos. O projeto de intervenção em
uma ruína, segundo Brandi (1977, s/p), deve-se restringir à sua conservação e consolidação
e não se aventurar por reconstruções que retomem as formas do passado.
Sendo assim, e, a partir de todos os estudos realizados para o desenvolvimento deste
projeto, o mesmo ficou determinado como uma intervenção dentro das ruínas. Estas ruínas
serão conservadas em seu estado atual e, escoradas junto à nova edificação, que somente
terá contato com as fachadas atuais através destes escoramentos feitos, inicialmente, por
vigas metálicas desmontáveis. Existe a preocupação em utilizar uma estrutura que não seja
permanente, para dar maior flexibilidade à obra, visto que seu uso pode ser modificado ao
longo dos anos.
A respeito do prédio que será proposto para as novas instalações da FATEC (Figura 8)
existe a preocupação em preservar o contexto original do projeto, que era divido em duas
alas distintas e separadas por um pátio interno. Sendo assim, a FATEC também terá dois
volumes distintos (um para abrigar a seção administrativa, de serviços, principalmente) e o
outro bloco pedagógico, onde estarão as salas de aula e os laboratórios. Estes volumes
serão ligados por passarelas metálicas dispostas acima do pátio interno, propiciando
diferentes visões, não somente da cidade, como também do porto ali adjacente, além de
não fechar o prédio para o porto, interligando um ao outro.
Figura 8: Imagem 3D das diretrizes do projeto. (Fonte: Produzido pela autora).
9. CONCLUSÕES
Sendo assim, a partir de todo o levantamento realizado, foi possível constatar o estado de
degradação em que a Hospedaria dos Imigrantes e seu entorno se encontram e perceber a
necessidade de se tomar medidas intervencionistas para não permitir que este prédio seja
destruído pelas ações do tempo e sua área não seja totalmente degradada.
Logo, o projeto proposto para as novas instalações da FATEC no local cuidará da
conservação e, consequentemente, da manutenção das fachadas externas e internas
mantidas do projeto antigo e requalificará a Hospedaria, ocasionando maior circulação no
seu entorno, reavivando uma área abandonada, além de atender a demanda da região, com
a oferta dos novos cursos voltados às atividades portuárias.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. Hélio Hirao e ao meu co-orientador, Prof. Dr. Cesar
Fabiano Fioriti. Também ao diretor da FATEC, Prof. Dr. Paulo Roberto Schroeder de
Souza, à Prefeitura de Santos e à equipe do CONDEPASA.
REFERÊNCIAS
CASTILHO, A. L. H. de. VARGAS, H. C. Intervenções em Centros Urbanos objetivos, estratégias e resultados. Barueri, SP: Manole, 2009.
CARRION, F. M. Vinte temas sobre os centros históricos na América Latina. In:
ZANCHETI, S. M. (Org.) Gestão do Patrimônio Cultural Integrado. Recife, PE: CECI, 2002
(p. 45 - 57).
OIVEIRA, M. F. F. de. Restauração e requalificação da Hospedaria dos Imigrantes
em um centro cultural. Trabalho (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) –
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UNISANTOS. Santos, 2011.
SANTOS, A. R. O Centro de Santos: intervenções, legislação e projetos.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo – Universidade de São Paulo. São Paulo: 2008.
TELAROLLI Jr., R. Imigração e epidemias no Estado de São Paulo. Manguinhos,
1996.
FATECRL. Disponível em: <http://www.fatecrl.edu.br/site/?p=19&n=2>. Acesso em:
abril, 2012.
NOVO MILÊNIO. Vila Matias, bairro que tem de tudo um pouco. Disponível em:
<http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0100b35.htm>. Acesso em: fevereiro, 2012.
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