REQUALIFICAÇÃO DA ANTIGA HOSPEDARIA DOS IMIGRANTES PARA O PORTO DE SANTOS, SP. Laís Hanson Alberto Lima Universidade Estadual de São Paulo - UNESP [email protected] Hélio Hirao Universidade Estadual de São Paulo - UNESP [email protected] RESUMO O trabalho trata da revitalização de uma zona portuária através de um projeto pontual, com a requalificação da antiga Hospedaria dos Imigrantes, um edifício abandonado que foi projetado para servir ao Porto de Santos na década de 10, mas a obra não foi finalizada e, após 100 anos, se encontra em estado de ruína. Assim, a construção de uma instituição de ensino no local proporcionará novamente a interligação com o Porto, dando suporte ao mesmo, através da formação de profissionais qualificados para o mercado de trabalho nesta área. Palavras-chave: Abandono. Ruínas. Intervenção. Requalificação. ABSTRACT The paper its about a revitalization of the waterfront through a punctual project, with the redevelopment of the former Guesthouse of Immigrants, an abandoned building that was designed to serve the Port of Santos in the late 10, but the work was not finished and, after 100 years, lies in ruins. Thus, the construction of an educational institution at the place will provide again the interconnection with the Port, supporting the same, through training of professionals for the labor market in this area. Keywords: Abandon. Ruins. Intervention. Requalification. 1. INTRODUÇÃO Com as novas propostas de requalificação dos centros históricos e a modernização dos portos, a cidade de Santos tem visado projetos para melhorar as condições de suas áreas em questão. O projeto “Alegra Centro”, uma Lei Complementar instaurada em 2003, já realizou diversas restaurações nos antigos casarões da área central da cidade (até o presente momento, foram 224 imóveis), além de ter um projeto de modernização do porto, que culminaria em uma maior valorização da área (Jornal A Tribuna, 21/02/2008). A antiga Hospedaria dos Imigrantes se localiza no bairro Vila Mathias, na zona portuária da cidade, muito próxima ao centro. Essas áreas centrais e portuárias têm apresentado um quadro de abandono e degradação comum aos centros urbanos no Brasil. Consequentemente, elas têm reunido um grande número de população de rua residindo em seus espaços vazios e/ou abandonados. A Hospedaria é um dos edifícios que faz parte da Área de Proteção Cultural do programa Alegra Centro e se encontra em processo de ruínas e está abandonada há décadas, sendo degradada pelas ações do tempo a cada dia que passa. É um dos edifícios do programa mais próximos ao porto, que deveria estar inserido, sendo ligado à zona portuária, como um "monumento" e não sendo esquecida a cada ano que passa. Através de um projeto de requalificação da antiga Hospedaria, acredita-se que a intervenção na área culminaria em melhorias no bairro Vila Mathias, agindo com um caráter transformador do espaço. 2. OBJETIVOS O objetivo principal é a requalificação de um bem tombado que está abandonado e faz parte de um cenário de degradação de um bairro da zona portuária de Santos. Assim, pretende-se modificar o espaço através do projeto proposto para essa edificação que se encontra em estado de ruínas. Além disso, tem-se o objetivo de propor um uso para o local, que em cem anos não teve um uso específico, sendo aos poucos modificado e, correndo o risco de ser demolido pelo abandono, o novo uso se destinará a assegurar a manutenção da edificação (importante registro da arquitetura eclética). O projeto para as novas instalações da Faculdade de Tecnologia de São Paulo - FATEC visa criar um eixo institucional no bairro da Vila Mathias (onde a Hospedaria se insere), assim, consequentemente, requalificando não somente sua área, como o seu entorno, trazendo maior movimentação ao bairro, inclusive no período noturno. 3. ÁREAS CENTRAIS E PORTUÁRIAS Os espaços de uma cidade estão em constante transformação a de acordo com o contexto econômico e social em que se inserem. Estão sempre surgindo novas atividades e estas vão modelando novos espaços, inovando e intensificando o uso de outras áreas. A evasão que ocorre nas áreas mais antigas, especialmente nas áreas centrais, é decorrência deste fenômeno que ocorre no Brasil em maior escala, segundo Castilho e Vargas (2009, p. 02) desde a década de 80. As áreas portuárias também se encaixam nesse quadro. As atividades portuárias, em grande ascensão, acarretam em alguns problemas para quem reside próximo a essas áreas, pois existe um grande tráfego de caminhões, vagões de trem de carga, que gera poluição do ar, sonora, etc. Além disso, a maioria dessas áreas esta localizada próxima ou até mesmo nas áreas centrais das cidades, onde já existe um processo de degradação ocorrendo. Existem diferentes tipos de centros: centro histórico, centro de mercado, centro de negócios, entre outros. Um centro histórico deve estar diretamente ligado à origem da cidade, deve conter as sedimentações da sua história, reforçando a valorização do passado (CARRION, 2000, p. 47). Quando ocorre a desvalorização e o abandono de uma área central, culminando em um estado de degradação, sobretudo em um centro histórico, é necessário intervir de maneira a resgatar características que fazem referências ao passado, a fim de não permitir que tais valores históricos e culturais se percam. Porém, é necessário se atentar ao fato de que um centro histórico não é um lugar predestinado à fantasmagoria do passado, mas sim um lugar que deve conter lembranças da história da cidade. Para Castilho e Vargas (2009, p. 03), deteriorar e degradar são dois conceitos associados ao desuso de uma área, “à perda de sua função, ao dano ou à ruína das estruturas físicas, ou ao rebaixamento do nível do valor das transações econômicas de um determinado lugar”, além da obsolescência dos setores industriais, que foram aos poucos se deslocando para áreas mais periféricas. A partir de 1980, foram realizadas várias experiências urbanísticas voltadas para a requalificação do patrimônio cultural e arquitetônico em áreas centrais (SANTOS, JR, 2006, p. 03). 4. RECORTE ESPACIAL Em contrapartida ao desenvolvimento do porto e das riquezas que o mesmo trouxe para a cidade, tornando-a uma das maiores economias do país, com o tempo, acabou deslocando os moradores mais abastados para a orla, que no século XX começava a ser mais valorizada e transformou as zonas centrais, onde agora estão os moradores de baixa renda em áreas totalmente degradas. A Vila Mathias é um exemplo de um bairro que se consolidou através da riqueza trazida pela economia cafeeira que impulsionou a cidade e depois de anos foi aos poucos sendo abandonada pela elite. Somando a localidade do bairro Vila Mathias, fronteira entre o porto e a cidade e a falta de planejamento estratégico para o desenvolvimento socioeconômico dos bairros que fazem divisa com a nova Avenida Perimetral, transformaram essas áreas em locais “mortos” para empreendimentos econômicos, mesmo com o forte eixo comercial que se localiza próximo ao bairro, nos bairros vizinhos. Não há como negar a força do comércio que se estende ao longo de ruas como a Senador Feijó, a Braz Cubas, a Lucas Fortunato e outras das imediações. Mas a Vila Matias é muito mais do que isso: ostenta também um lado tipicamente residencial e outro em franca decadência, onde só restaram vestígios da opulência de outros tempos. Diversidade e contraste se misturam no mesmo bairro. (Novo Milênio, Histórias e lendas de Santos – reportagem retirada do jornal A Tribuna em 24/02/1983). Essas áreas centrais passaram a ter poucos frequentadores, quando não conseguiram obter um desenvolvimento comercial, gerando uma grande quantidade de terrenos vazios, abandonados e subutilizados, além do grande tráfego de caminhões, devido ao eixo portuário, proporcionando ruídos indesejados e bastante poluição para o local. Começava então um processo de deterioração das áreas adjacentes à Avenida Perimetral e ao porto. 5. HISTÓRICO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA A Hospedaria dos Imigrantes surgiu no começo do século XX, em 1912, devido à grande movimentação que havia no porto de Santos, com a vinda de muitos imigrantes para trabalhar nas fazendas de café no interior de São Paulo. Estes imigrantes principalmente japoneses, italianos e portugueses traziam consigo muitas doenças, como por exemplo, a febre amarela. E, a partir de Santos casos da doença foram levados ao interior do estado, juntamente com as famílias de imigrantes estrangeiros, dando início à sucessão de epidemias (FRANCO, 1976 apud TELAROLLI, 1996, p. 18). Preocupados com o quadro gradativo que se estendia, a então Comissão de Saneamento de Santos decidiu implantar uma espécie de hospital de isolamento e hospedaria que cuidaria dos imigrantes que apresentavam sintomas de doenças assim que desembarcavam no porto, para que eles pudessem ser curados antes de serem enviados ao interior do estado. Foi então que o antigo barracão onde se instalava a Comissão de Saneamento da cidade deu lugar às obras da Hospedaria dos Imigrantes. O arquiteto Nicolau Spagnolo foi o responsável pelo projeto da Hospedaria dos Imigrantes, em 1910, que começou a ser executado em 1912. A obra durou dois anos, porém não seguiu à risca o projeto original de Spagnolo e foi paralisada em 1914 por falta de verba. Este projeto foi divido em duas alas distintas, com uma área central que funcionaria como um pátio descoberto. Até então havia sido construída a primeira ala, com dois pavimentos. A segunda ala, onde seria feita a entrada principal dos imigrantes não chegou a ser construída. Com o início da Primeira Guerra Mundial, a produção cafeeira no Brasil ficou comprometida, isto se deu principalmente com o bloqueio alemão e com a proibição da importação de café pela Inglaterra, em 1917, que alegava que os espaços nas cargas dos navios deveriam transitar produtos mais importantes na época. Isso gerou um enorme acúmulo das sacas de café e havia poucos armazéns em Santos para estocá-las, por isso a Secretaria da Agricultura tomou posse de vários prédios para fazer estocagem e a Hospedaria dos Imigrantes, com suas obras paralisadas, foi um deles. Este processo de estocagem durou até 1928, quando em 1929 a era do café teve seu declínio, devido à crise mundial provocada pela quebra da Bolsa de Nova York. Com o fim da era cafeeira, o governo, aproveitando a mão de obra imigrante que se instalava nas fazendas, resolve investir na produção de outros produtos, como o milho. Assim, o prédio da Hospedaria, ainda em posse da Secretaria da Agricultura passa a ser entreposto de milho até 1940. Na década de 40, a banana passa a ser um importante produto de exportação, cultivada principalmente no Vale do Ribeira, região próxima a Santos. Assim, a Cooperativa de Bananicultores toma posse da Hospedaria para utilizá-la como depósito de banana. (OLIVEIRA, 2011) Após mais de 40 anos, a Secretaria da Agricultura resolve reaver a posse do prédio, apropriando-se da primeira ala, enquanto o pátio central e a segunda ala passam a servir de garagem e oficina para veículos da polícia, sendo a Secretaria de Segurança Pública a responsável por essa parte da edificação. Em 1989, o muro que separava essas duas alas, desabou, danificando muitos veículos, gerando grande prejuízo para a Secretaria de Segurança Pública, que então abandona o prédio. De 1989 a 1990, a Secretaria da Agricultura empresta sua ala à ATATESP - Associação dos Trabalhadores Avulsos do Estado de São Paulo. (OLIVEIRA, 2011) De 1990 a 1998 o prédio se encontra em total abandono. Em outubro de 1998, o CONDEPASA (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos) resolve tombar a edificação, alegando sua importância na história da cidade de Santos. Em 16 de dezembro do mesmo ano sai uma nota no Diário Oficial de Santos, relatando a Resolução de Tombamento da Hospedaria dos Imigrantes pela Secretaria de Cultura. Ainda em 1998, o Estado cede a posse do prédio ao Sindicato do Comércio Varejista que pretendia restaurar a edificação e implantar nela um Centro de Convenções. Em um período de quatro anos, nada é feito e o Sindicato resolver devolver o prédio, alegando falta de verba para a execução do projeto. Em 2004 a Prefeitura de Santos, SP, sob o comando do então prefeito João Paulo Tavares Papa, pede a posse do prédio para que seja executado o projeto de um Museu do Imigrante juntamente com uma biblioteca pública, a fim de revitalizar a área da Hospedaria, que se encontrava em total desuso e contribuía para a degradação desta parte do bairro da Vila Mathias. (OLIVEIRA, 2011) Dois anos se passaram e nada foi feito. O prédio continuava sendo destruído pela ação do tempo e por furtos em sua estrutura de aço (a população de rua que vivia pelas redondezas entrava na Hospedaria para roubar peças metálicas da cobertura, que um dia cedeu, matando um morador de rua). Devido ao acidente e ao abandono, também pela prefeitura, no final de 2006, o então governador Cláudio Lembro, passa a posse do prédio para a UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), que pretendia instalar um novo campus no local. ‟O estado de abandono da Hospedaria dos Imigrantes na Vila Mathias se agrava enquanto a instalação definitiva do campus da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) não acontece. A situação tem preocupado moradores, além de provocar a migração de alguns comerciantes. ‟ (A Tribuna. Santos, domingo, 14 de agosto de 2005) Cinco anos depois, mais precisamente em março de 2011, a Universidade devolve o prédio ao estado, alegando falta de recursos para restaurar a edificação. A partir de janeiro de 2012, a FATEC tomou posse da edificação para a construção de uma nova unidade da faculdade, mas até o presente momento, as obras não começaram. Para verificar o atual estado da edificação realizamos diversas visitas nas quais pudemos registrar imagens do prédio mostrando o estado de degradação do lugar (Figura 3). Para fazer a análise visual da paisagem, foram feitos desenhos tanto das fachadas da Hospedaria (Figuras 1 a 4) como das fachadas das edificações do entorno (só não foi feito o desenho da Av. Perimetral, pois já é parte do Porto), a fim de entender de forma mais minuciosa todos os detalhes da arquitetura eclética que está presente nas ruas do bairro Vila Mathias. Figura 1: Croqui fachada Rua Antenor da Rocha Leite (Fonte: Produzido pela autora). Figura 2: Croqui fachada Rua Silva Jardim (Fonte: Produzido pela autora). Figura 3: Croqui fachada Rua Dona Luisa Macuco (Fonte: Produzido pela autora). Figura 4: Croqui fachada Av. Perimetral (Fonte: Produzido pela autora). Existem galpões abandonados na Rua Antenor da Rocha Leite (Figura 5). O entorno da Hospedaria é atualmente marcado por uma arquitetura eclética, sendo que algumas construções foram restauradas, como no caso da Rua Silva Jardim (Figura 6), e outras encontram-se em estado de degradação, como as da Rua Dona Luisa Macuco (Figura 7). A Av. Perimetral é tomada pelo porto. Figura 5: Croqui Rua Antenor da Rocha Leite (Fonte: Produzido pela autora). Figura 6: Croqui Rua Silva Jardim (Fonte: Produzido pela autora). Figura 7: Croqui Rua Dona Luisa Macuco (Fonte: Produzido pela autora). Na avenida Perimetral, o tráfego de veículos é bastante intenso, pelo fato de esta avenida margear parte da cidade, sendo uma rota para o centro, além de ser o acesso ao Porto. (portanto, além de muitos caminhões circularem, também se encontram estacionamos em suas margens). O fluxo na Rua Silva Jardim também é considerável, por ser uma paralela a uma das maiores avenidas da cidade, a Av. Conselheiro Nébias, mas não é muito movimentada por pedestres. Ela possui construções restauradas, onde funcionam serviços públicos e em mau estado, sendo somente habitações. Na Rua Dona Luíza Macuco existem somente casas em mau estado (até mesmo cortiços), algumas fachadas em ruínas e um galpão. É acesso da Rua Silva Jardim para a Av. Perimetral, então existe um certo fluxo de caminhões na rua. Por último, a Rua Antenor da Rocha Leite possui apenas alguns depósitos que não se encontram em atividade e um lote particular vazio. Ela é uma rua sem saída, sem movimentação e existe uma diferenciação de piso (todas as ruas do entorno são de asfalto e somente esta é de paralelepípedo). Nota-se, portanto, que o entorno da Hospedaria é composto por uma paisagem urbana bastante característica dos primeiros anos do século XX. O maior gabarito encontrado foi de uma casa que possui 3 pavimentos. Na quadra seguinte, existe somente uma edificação atual, que é o novo campus da UNIFESP, que conta com de 5 pavimentos. Nesta outra quadra existe também um grande lote onde está instalado um canteiro de obras para a construção de um grande edifício de escritórios. 6. LEGISLAÇÃO De acordo com a Lei Complementar 312/98, Lei de uso do solo, revisada em 2011 que passou a ser LC 730/11, a área da Hospedaria dos Imigrantes é considerada NIDES 14 e está explícita no Capítulo II, artigo 68, inciso VI e alíneas "a", "b". Capítulo II – Dos Núcleos de Intervenção e Diretrizes Estratégicas Art. 68. Os empreendimentos em NIDES deverão atender às seguintes exigências: VI - quanto ao uso do solo para os imóveis situados em NIDES ficam definidas as seguintes exigências: a) nos NIDES 1 a 6, as categorias de uso permitidas são aquelas estabelecidas para as zonas de uso em que estiverem inseridas, conforme esta lei complementar, vedadas as previstas nas alíneas “c”, “e” e “g” do inciso IV e nas alíneas “a”, “b”, “e” e “f” do inciso V, do artigo 16 desta lei complementar; b) nos NIDES 4 e 5 as restrições estabelecidas na alínea anterior não se aplicam desde que fiquem garantidos em projeto, a destinação de no mínimo 40% (quarenta por cento) da área total de cada NIDE, para construção exclusivamente de empreendimentos destinados a centros culturais, centros de convenções, pavilhão de exposição ou complexos turísticos de esporte e lazer, sendo permitido adicionalmente para o NIDE 5, além de todos os usos relatados, o uso de hotéis; Art. 16. As categorias de uso comercial e de prestação de serviços, identificadas pela sigla – CS, ficam subdivididas nas seguintes categorias: IV - CS4: comércio e/ou prestação de serviços que impliquem na fixação de padrões específicos referentes às características de ocupação do lote, de acesso, de localização, de tráfego, de serviços urbanos e aos níveis de ruído, de vibrações e de poluição ambiental, admitindo-se as seguintes atividades: 1 Determinadas porções do território, com destinação específica, incentivos fiscais e normas próprias de uso e ocupação do solo, visando a uma intervenção urbanística renovadora, capaz de criar condições para o desenvolvimento social, econômico e ambiental, priorizando as atividades de lazer, cultura e turismo). c) lojas de departamento, centros comerciais não dotados de lojas “âncoras”, praças de alimentação e/ou estabelecimentos de entretenimento, supermercados, concessionárias de veículos, faculdades e centros esportivos; Além disso, a Hospedaria está inserida pelo Alegra Centro 2 em um corredor de proteção cultural na Zona Central II3. 7. O PROJETO DE REQUALIFICAÇÃO Visando a contribuição do projeto para a própria cidade de Santos, e por se tratar de uma área portuária, a proposta é a construção de uma instituição de ensino voltada para o mercado de trabalho da Baixada Santista. Pelo fato de a FATEC ter a necessidade de expansão de sua unidade já existente em Santos e pela implantação de três novos cursos diretamente ligados ao porto. São eles: Petróleo e Gás, Construção Naval e Sistemas de Navegação. Com a implantação destes cursos na nova unidade, a instituição passará a dar suporte ao Parque Tecnológico que será implantado na cidade de Santos. Também está prevista a implantação de um estaleiro-escola no próprio Porto de Santos, que possibilitará a realização de futuras parcerias com empresas do setor portuário. De acordo com diz Paulo Alexandre Barbosa, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, "a iniciativa vai permitir que os jovens santistas se qualifiquem profissionalmente e busquem uma colocação no mercado de trabalho da região." (FATECRL: http://www.fatecrl.edu.br/site/?p=19&n=2). Assim, o projeto passará a integrar a Hospedaria dos Imigrantes ao próprio porto, visto que ela foi construída exatamente para dar suporte às necessidades da época de sua construção - que seria hospedagem para os imigrantes - hoje a necessidade é a demanda do mercado de trabalho na região, que vem crescendo cada vez mais. Além disso, já existem outras instituições de ensino no entorno da Hospedaria, o que facilita a implantação de mais uma, afinal já existe infraestrutura necessária para apoiar o projeto, como linhas circulares de ônibus bem próximas ou até mesmo na rua principal, com pontos 2 Programa de revitalização e desenvolvimento da região central histórica de Santos, que culminou em Lei Complementar. 3 Caracterizada por ocupação de baixa densidade e comércio especializado em determinadas vias, onde se pretende incentivar a renovação urbana e o uso residencial. de ônibus, comércio e serviços, principalmente na Av. Conselheiro Nébias (uma das principais de Santos, que se encontra a duas quadras da Hospedaria). 8. DIRETRIZES PROJETUAIS No projeto para as novas instalações da FATEC na antiga Hospedaria dos Imigrantes, existirão duas linhas principais e contrastantes guiando o desenvolvimento do projeto: as ruínas da Hospedaria e a contemporaneidade de uma Faculdade de Tecnologia. Primeiramente, foi feito um estudo sobre a conservação das ruínas de um monumento, visto que a Hospedaria dos Imigrantes é um bem tombado patrimônio de Santos pelo CONDEPASA (Conselho de Defesa do Patrimônio de Santos). Esse estudo sobre conservação foi realizado a fim de entender o porquê de alguns teóricos defenderem o estado ruinoso como algo que não deve ser restaurado, mas sim mantido com suas características atuais, mostrando todos os processos de deterioração causados pela ação do tempo. Conservar, de acordo com o artigo 2º da Carta de Burra de 1980, tem por objetivo a preservação da significação cultural de um bem; além de implicar medidas de segurança e manutenção, assim como disposições para sua futura destinação. Sendo assim, a conservação é capaz de não só manter visualmente o caráter histórico da edificação, mas também ajuda a preservar esses aspectos. O projeto de intervenção em uma ruína, segundo Brandi (1977, s/p), deve-se restringir à sua conservação e consolidação e não se aventurar por reconstruções que retomem as formas do passado. Sendo assim, e, a partir de todos os estudos realizados para o desenvolvimento deste projeto, o mesmo ficou determinado como uma intervenção dentro das ruínas. Estas ruínas serão conservadas em seu estado atual e, escoradas junto à nova edificação, que somente terá contato com as fachadas atuais através destes escoramentos feitos, inicialmente, por vigas metálicas desmontáveis. Existe a preocupação em utilizar uma estrutura que não seja permanente, para dar maior flexibilidade à obra, visto que seu uso pode ser modificado ao longo dos anos. A respeito do prédio que será proposto para as novas instalações da FATEC (Figura 8) existe a preocupação em preservar o contexto original do projeto, que era divido em duas alas distintas e separadas por um pátio interno. Sendo assim, a FATEC também terá dois volumes distintos (um para abrigar a seção administrativa, de serviços, principalmente) e o outro bloco pedagógico, onde estarão as salas de aula e os laboratórios. Estes volumes serão ligados por passarelas metálicas dispostas acima do pátio interno, propiciando diferentes visões, não somente da cidade, como também do porto ali adjacente, além de não fechar o prédio para o porto, interligando um ao outro. Figura 8: Imagem 3D das diretrizes do projeto. (Fonte: Produzido pela autora). 9. CONCLUSÕES Sendo assim, a partir de todo o levantamento realizado, foi possível constatar o estado de degradação em que a Hospedaria dos Imigrantes e seu entorno se encontram e perceber a necessidade de se tomar medidas intervencionistas para não permitir que este prédio seja destruído pelas ações do tempo e sua área não seja totalmente degradada. Logo, o projeto proposto para as novas instalações da FATEC no local cuidará da conservação e, consequentemente, da manutenção das fachadas externas e internas mantidas do projeto antigo e requalificará a Hospedaria, ocasionando maior circulação no seu entorno, reavivando uma área abandonada, além de atender a demanda da região, com a oferta dos novos cursos voltados às atividades portuárias. AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Dr. Hélio Hirao e ao meu co-orientador, Prof. Dr. Cesar Fabiano Fioriti. Também ao diretor da FATEC, Prof. Dr. Paulo Roberto Schroeder de Souza, à Prefeitura de Santos e à equipe do CONDEPASA. REFERÊNCIAS CASTILHO, A. L. H. de. VARGAS, H. C. Intervenções em Centros Urbanos objetivos, estratégias e resultados. Barueri, SP: Manole, 2009. CARRION, F. M. Vinte temas sobre os centros históricos na América Latina. In: ZANCHETI, S. M. (Org.) Gestão do Patrimônio Cultural Integrado. Recife, PE: CECI, 2002 (p. 45 - 57). OIVEIRA, M. F. F. de. Restauração e requalificação da Hospedaria dos Imigrantes em um centro cultural. Trabalho (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UNISANTOS. Santos, 2011. SANTOS, A. R. O Centro de Santos: intervenções, legislação e projetos. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade de São Paulo. São Paulo: 2008. TELAROLLI Jr., R. Imigração e epidemias no Estado de São Paulo. Manguinhos, 1996. FATECRL. Disponível em: <http://www.fatecrl.edu.br/site/?p=19&n=2>. Acesso em: abril, 2012. NOVO MILÊNIO. Vila Matias, bairro que tem de tudo um pouco. Disponível em: <http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0100b35.htm>. Acesso em: fevereiro, 2012.