1220 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS MULHERES IDOSAS QUE APRESENTARAM QUEDAS NA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DE UMA SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE SAÚDE EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF ELDERLY WOMEN WHO HAVE PRESENTED FALLS IN THE AREA COVERED BY A REGIONAL HEALTH OFFICE Nathalia Victória Cezar e Silva Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UNILESTE. [email protected] Maria Marta Marques de Castro Borges Graduada em Enfermagem e Obstetrícia pela UFMG. Especialista em enfermagem em Saúde Pública pela UFMG. Mestre em Gerontologia pela UCB. Docente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais UNILESTE. [email protected]. RESUMO Com o aumento da população feminina na faixa etária de 60 anos ou mais e a grande prevalência de quedas nessas pessoas, há uma demanda para os profissionais da área da saúde na definição de estratégias para a prevenção deste evento. Baseado neste contexto realizou-se uma pesquisa descritiva de natureza quantitativa, a fim de caracterizar o perfil socio-epidemiológico e demográfico das mulheres idosas que sofreram quedas, usuárias das Unidades de Saúde da Família de Coronel Fabriciano/MG correlacionando com as que não sofreram. Os dados foram coletados em quatro Unidades de Saúde da Família do município, através de um questionário aplicado as mulheres idosas sobre a ocorrência e característica da queda, nos meses de novembro e dezembro de 2012 e janeiro de 2013. Utilizou-se o teste qui-quadrado sendo p ≤ 0,05. A população de estudo foi de 743 mulheres idosas e a amostra foi composta por 205 idosas. Predominou as mulheres idosas na faixa etária de 60 a 69 anos (54,6%), com baixa escolaridade, sendo 47,8% analfabetas e quanto ao estado civil 45,9% eram viúvas. Verificou-se que 50,7% caíram no último ano; 91,7% faziam o uso de medicamentos; 74% utilizavam anti-hipertensivos e 81% tinham alterações na visão. Os fatores de risco correlacionados à queda foram o uso de quatro a cinco e a mais de cinco medicamentos com 44,2%; o uso de antidiabéticos com 24,27% e a presença de incontinência urinária com 62,7%. Encontrou-se que 52,9% das quedas foram no domicílio com 10,28% de ocorrência de fratura. Evidencia-se a necessidade de aprimoramento das estratégias da equipe com a avaliação multidimensional e intervenções multifatoriais para a redução do evento na população idosa feminina. PALAVRAS- CHAVE: Saúde do Idoso. Mulheres. Quedas. Perfil Epidemiológico. ABSTRACT With the increase of the female population aged 60 years old or over and a high prevalence of falls in these people, there is a demand for professionals in the area of health in developing strategies to prevent these events in order to reach a considerable decrease. Based on this context a descriptive quantitative research was submitted in order to characterize the epidemiological and sociodemographic profile of elder women who have experienced falls, all of them users of the Family Health Units from Coronel Fabriciano / MG, correlating with the ones who have not been through such event. The data was collected in four Family Health Units around the city through a questionnaire applied to elder women on the occurrence and characteristics of the fall throughout the months of November and December 2012 and January 2013. The chi-square test with p ≤ 0.05 was used. The studied population was 743 elder women and the sample consisted of 205 elderly. The majority of these people were women aged 60-69 years old, 54.6% with low education, 47.8% illiterate and 45.9% Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014 1221 widows. It was found that 50.7% of these individuals have fallen in the last year; 91.7% were using drugs, 74% used anti-hypertensive and 81% had vision changes. However, the risk factors that have been correlated to the research decrease were the use of four to five and more than five drugs with 44.2%, the use of anti-diabetics with 24.27% and the presence of urinary incontinence with 62.7%. It was found that 52.9% of these falls happened at home with 10.28% fracture occurrence. The need for improvement of team strategies with multidimensional assessment and multifactorial interventions to reduce the event in the elderly female population is highlighted. KEY WORDS: Health of the Elderly. Women. Falls. Health Profile. INTRODUÇÃO Desde a década de 1960 o Brasil vem sofrendo grandes mudanças demográficas e epidemiológicas. O aumento da longevidade e a rápida queda da fecundidade nesse período levaram ao acelerado envelhecimento da população brasileira comparado à europeia. No Brasil, idoso é o indivíduo com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos segundo o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003). A população brasileira em 2009 era de 191,8 milhões de habitantes, e desse total, 21 milhões eram idosos (IBGE, 2010). Considerando o constante crescimento da população de idosos há necessidade de adequado conhecimento sobre os problemas que os atingem, presumindo o aumento progressivo da demanda por serviços de saúde, determinando aumento considerável dos gastos públicos (IBGE, 2010). No mundo existe uma proporção maior de mulheres idosas do que de homens, quando se considera a população total de cada sexo. No Brasil, as mulheres idosas representaram 55,8% deste seguimento populacional existindo, portanto, um excedente de mulheres idosas em relação aos homens em idade avançada (IBGE, 2010). As mulheres idosas estão mais sujeitas a ocorrência de doença de cuidado prolongado. A adaptação ao processo de envelhecimento traz dificuldades individuais para as quais cada mulher desenvolve sua própria estratégia. Os problemas ou mudanças que acompanham ou surgem na etapa da velhice como doenças crônicas, recursos econômicos insuficientes, necessidades de atenção ou cuidado são predominantemente, problemas femininos (NERI, 2001). Portanto, o envelhecimento acarreta o aumento na probabilidade de ocorrência de doenças, declínio da funcionalidade e de afastamento social. Um dos principais fatores que acarretam este afastamento são as quedas (SÃO PAULO, 2010). A queda é definida como “o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial com incapacidade de correção em tempo hábil, determinado por circunstâncias multifatoriais comprometendo a estabilidade” (BUKSMAN et al., 2008, p. 3). Considera-se que a queda é um dos primordiais problemas desta faixa etária. São eventos que têm chamado a atenção dos profissionais e pesquisadores da área de gerontologia devido às suas consequências e a frequência com que ocorrem. Os dados brasileiros sobre a ocorrência de quedas ainda são poucos e, no entanto revelam a importância de um maior conhecimento dos fatores causadores com o objetivo de contribuir para a sua prevenção e diminuir a mortalidade. No Brasil cerca de 30% dos idosos caem pelo menos uma vez ao ano, e 5 a 10% das quedas Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014 1222 resultam em fraturas. A frequência das quedas aumenta com a idade e o nível de fragilidade (PEREIRA et al., 2004). Os principais fatores de riscos para as quedas podem ser categorizados em quatro dimensões: biológica, comportamental, ambiental e fatores socioeconômicos. Os fatores de risco biológico abrangem características dos indivíduos que são relacionadas ao corpo humano (idade, gênero e raça). Os de riscos comportamentais incluem os de ações humanas, emoções ou escolhas diárias como o uso de medicamentos, álcool e o sedentarismo (WHO, 2010). Os riscos ambientais incluem a condição física dos indivíduos e o ambiente que os cerca como os problemas domésticos, design de prédios, pisos escorregadios, calçadas quebradas ou irregulares e iluminação insuficiente. Os socioeconômicos são relacionados à influência das condições sociais e do status econômico dos indivíduos, bem como a capacidade da comunidade de enfrentá-los. Esses fatores incluem a baixa renda, pouca educação, habitações inadequadas, falta de interação social, acesso limitado ao cuidado de saúde e assistência social em áreas remotas e falta de recursos da comunidade (WHO, 2010). Neste contexto, a compreensão de como a queda pode influenciar na construção da velhice identificando fatores intrínsecos como a diminuição da visão e audição; sedentarismo; distúrbios músculos esqueléticos; alteração na postura; alteração de equilíbrio e locomoção; deformidades nos pés e os extrínsecos como aqueles relacionados ao ambiente em que o idoso interage, em sua casa, locais públicos e o transporte coletivo. Portanto, destaca-se a importância de inovação nos modelos assistenciais com o enfoque na prevenção, na detecção precoce e no tratamento das morbidades associadas à ocorrência de quedas beneficiando as pessoas idosas, melhorando sua qualidade de vida e reduzindo os custos com esta ocorrência. O objetivo desta pesquisa foi caracterizar o perfil sócio epidemiológico e demográfico das mulheres idosas que sofreram quedas, usuárias das Unidades de Saúde da Família de Coronel Fabriciano/MG. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva e de natureza quantitativa realizada no município de Coronel Fabriciano que possuía 6.386 mulheres com idade igual ou superior a 60 anos (IBGE, 2010) sendo, 743 usuárias das quatro Unidades de Saúde da Família cadastradas no DATASUS (2011) dos bairros Caladinho, Recanto Verde, Santa Cruz e Caladão. A coleta de dados ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 2012 e janeiro de 2013, nas quatro Unidades de Saúde da Família. A amostra foi constituída por 254 mulheres idosas. As mesmas foram convidadas para participar da pesquisa, através do Agente Comunitário de Saúde (ACS) de cada microárea sendo realizada uma palestra sobre a prevenção de quedas. Como critério de inclusão foram selecionadas as mulheres com 60 anos ou mais de idade, que compareceram ao local de reunião e que aceitaram participar da pesquisa. Desta forma obteve-se uma amostra de 205 mulheres idosas. Nesta pesquisa foi utilizado o programa SPSS, versão 20. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014 1223 Na análise dos dados foi utilizado o teste de x2 (qui-quadrado), sendo p ≤ 0,05 para associação das variáveis patologias referidas e o uso de medicamentos com o evento queda. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário, aplicado individualmente, elaborado e preenchido pelas pesquisadoras, contendo dados socio-demográficos e epidemiológicos como a utilização e a quantidade de medicamentos considerando os agrupamentos: sedativos/hipnóticos, antidepressivos, diuréticos, anti-hipertensivos, vasodilatadores, anti-inflamatórios não esteroides, analgésicos, digitálicos e medicação tópica ocular; a presença de problemas de saúde; realização de atividade física; relato de queda; hospitalização; descrição da queda, local e suas consequências. As recomendações da Resolução 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde foram respeitadas de forma a manter os princípios éticos, o sigilo e o anonimato (BRASIL, 2013). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Unileste sob o parecer nº 56.305.12 de 19/09/2012. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na TAB 1 observam-se os dados socio-demográficos das idosas pesquisadas, apontando que 54,6% (112) estavam na faixa etária de 60 a 69 anos e que 50,48% (53) da mesma faixa etária apresentaram quedas no último ano. Em relação às de 70 a 79 anos, 38,83% (40) caíram em contrapartida com 29,41% (30) que não caíram. Tais resultados foram inferiores ao de Aguiar e Assis (2009) na faixa etária de 70 a 79 anos (52%). As causas das quedas em pessoas idosas são variadas e comumente estão associadas e sabe-se que com o avanço da idade há aumento da vulnerabilidade em especial das mulheres nesta faixa etária. As variáveis que podem justificar esta ocorrência estão além da idade mais avançada a diminuição da força de preensão, a quantidade de fármacos utilizados e a redução da frequência de atividades externas (FABRÍCIO; RODRIGUES; COSTA JÚNIOR, 2004). Em relação ao estado civil, 45,9% (94) eram viúvas e dessas 41,74% (43) apresentaram quedas. Quanto à escolaridade a maioria das idosas pesquisadas era analfabeta sendo no total 47,8% (98) e dessas 48,54% (51) caíram; 42% (86) das idosas pesquisadas possuíam ensino fundamental incompleto, sendo que 42,71% (44) caíram e 41,17% (42) não caíram. Observou-se que tanto para o estado civil quanto para a escolaridade os percentuais não apresentaram diferenças significativas para a ocorrência de quedas. Constata-se na pesquisa uma baixa escolaridade para os dois grupos sendo os dados semelhantes aos do IBGE (2010) para as mulheres idosas. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014 1224 TABELA 1- Dados sócio-demográficos das mulheres idosas pesquisadas cadastradas nas Unidades de Saúde da Família do Caladão, Caladinho, Recanto Verde e Santa Cruz, Coronel Fabriciano/MG, 2013. Variáveis Caíram N % Não caíram N % Total N % Faixa Etária (anos) 60 a 69 53 50,48 59 58,82 112 54,60 70 a 79 40 38,83 30 29,41 70 34,10 80 a 89 09 8,73 12 11,76 21 10,20 ≥90 02 1,94 0 0 02 1,00 Total 104 100,00 10 44 9,70 41,74 43 07 0 104 41,74 6,79 0 100,00 Analfabeta Ensino Fundamental Completo 51 05 48,54 4,85 47 08 47,05 6,86 98 13 47,80 6,30 Ensino Fundamental Incompleto 44 42,71 42 41,17 86 42,00 Ensino Médio Completo 02 1,94 03 2,94 05 2,40 Ensino Médio Incompleto 01 0,97 0 0 01 0,50 01 0,98 02 1,00 101 100,00 205 100,00 Estado Civil Solteira Casada Viúva Divorciada Não Informou Total 04 38 3,92 38,23 51 50,00 07 6,86 01 0,98 101 100,00 14 82 6,80 40,00 94 45,90 14 6,80 01 0,50 205 100,00 Escolaridade Ensino Superior Total FONTE: Dados da pesquisa 01 0,97 104 100,00 101 100,00 205 100,00 Na TAB. 2 no que se refere ao uso de medicamentos observou-se que 91,7% (188) das idosas pesquisadas relataram fazer o uso e 91, 26% (95) dessas idosas apresentaram quedas. Não houve diferença estatística quanto ao uso de medicamentos e a queda, assim como observado por Fabrício; Rodrigues e Costa Júnior (2004). No entanto, para a quantidade de medicamentos houve diferença estatística com o evento queda, sendo que 44,4% usavam de quatro a cinco e mais de cinco medicamentos, assim como Siqueira et al. (2007), no qual observaram uma correlação de quedas com maior número de medicações referidas de uso contínuo. A polifarmácia pode influenciar na queda devido à possibilidade de associação entre elas com efeitos colaterais ou que o uso de vários medicamentos pode indicar um maior comprometimento na condição de saúde da pessoa idosa. Portanto, cabe ao profissional realizar uma avaliação criteriosa da pessoa idosa, para que a prescrição seja feita considerando suas reais necessidades (FABRÍCIO; RODRIGUES; COSTA JÚNIOR, 2004). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014 1225 Os medicamentos mais utilizados foram os anti-hipertensivos com um percentual de 74% entre as mulheres idosas. Destas 71,8% caíram e 76,5% não caíram (p>0,05). Em relação aos medicamentos antidiabéticos o valor de p foi significativo (0,021) para a queda na amostra estudada em relação às idosas que faziam uso destes com percentual de 24,27%. Destaca-se o acompanhamento deste grupo populacional considerando a racionalização da prescrição e a correção de doses e de combinações inadequadas para contribuir para a prevenção da ocorrência de queda (PEREIRA et al., 2004). Quanto à atividade física, 78,5% das idosas não praticavam sendo que 80,5% delas apresentaram quedas e 75,9% não apresentaram o evento no último ano. O valor de p (0,34) encontrado não foi significativo para a ocorrência de quedas nas mulheres idosas desta pesquisa. Sabe-se que a prática da atividade física regular tem sido associada à diminuição na prevalência de doenças crônicas não transmissíveis e na redução do declínio da capacidade funcional. O exercício moderado pode melhorar o equilíbrio, a mobilidade e o tempo de reação e ainda aumentar a densidade mineral óssea nas mulheres após a menopausa e nas pessoas com mais de 70 anos reduzindo a ocorrência de fraturas. Portanto, é uma prática que pode reduzir o risco de quedas e de suas consequências. TABELA 2 - Correlação do uso de medicamentos e a prática de atividade física com o evento queda das mulheres idosas pesquisadas nas Unidades de Saúde da Família do Caladão, Caladinho, Recanto Verde e Santa Cruz, Coronel Fabriciano/MG, 2013. N Caíram % N 95 09 104 91,26 8,73 100,00 93 08 101 92,15 7,84 100,00 188 17 205 91,70 8,30 100,00 0,849 13 40 21 21 95 13,70 42,10 22,10 22,10 100,00 20 50 16 07 93 21,50 53,80 17,20 7,50 100,00 33 90 37 28 188 17,55 47,87 19,68 14,90 100,00 0,017 75 29 104 71,84 28,15 100,00 77 24 101 76,47 23,52 100,00 152 53 205 74,00 25,90 100,00 0,500 25 79 104 24,27 75,72 100,00 13 88 101 12,74 87,25 100,00 38 167 205 18,53 81,47 100,00 0,021 20 84 104 19,41 80,58 100,00 25 76 101 24,50 75,49 100,00 45 160 205 21,95 78,50 100,00 0,340 Variáveis Medicamentos Sim Não Total Quantidade de medicamento diário 1 2a3 4a5 Mais de 5 Total Anti-hipertensivo Sim Não Total Antidiabético Sim Não Total Atividade Física Sim Não Total FONTE: Dados da pesquisa Não Caíram % N Total % Valor de p Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014 1226 Em relação à TAB. 3 identificou-se as patologias referidas pelas idosas sendo problemas de visão com percentual de 82% (168), dessas 83,7% (87) apresentaram queda no último ano; 74,1% (152) relataram hipertensão (HA) e 50,3% (77) informaram a ocorrência de queda; 53,7% (110) problema de coluna; 24,9% (51) incontinência urinária (IU) e artrite. O déficit sensorial é considerado como fator de risco para quedas e, no entanto não houve correlação segundo o valor de p encontrado para as alterações visuais. Esta situação também foi identificada na pesquisa de Aguiar e Assis (2004). A Hipertensão Arterial é uma morbidade crônica frequente na população idosa e sabe-se que pode contribuir para a queda. Nesta pesquisa não apresentou valor de p que apontasse correlação com o evento no grupo de mulheres idosas da pesquisa. Em relação à IU o valor de p (0,048) foi significativo para a ocorrência de quedas na amostra estudada. A IU é um fator de risco potencialmente modificável principalmente para mulheres idosas da comunidade, conforme apontado no relatório de São Paulo (2010). Portanto durante a avaliação da pessoa idosa nas Unidades de Saúde da Família investigar os sinais e sintomas desta condição e estabelecer intervenção adequada pode reduzir a predisposição ao evento queda. TABELA 3 - Patologias referidas pelas mulheres idosas pesquisadas nas Unidades de Saúde da Família do Caladão, Caladinho, Recanto Verde e Santa Cruz, Coronel Fabriciano/MG, 2013. Variáveis Caíram N Problema de visão Sim Não Total Hipertensão Sim Não Total Problema de coluna Sim Não Total Artrite Sim Não Total Incontinência urinária Sim Não Total % Não Caíram N % Total N % Valor de p 87 17 104 83,70 16,30 100,00 81 20 101 80,20 19,80 100,00 168 37 205 82,00 18,00 100,00 0,520 77 27 50,30 51,90 76 25 49,70 48,10 152 53 74,10 25,90 0,842 104 100,00 101 100,00 205 100,00 59 45 104 53,60 47,40 100,00 51 50 101 46,40 52,60 100,00 110 95 205 53,70 46,30 100,00 0,371 29 75 104 56,90 48,70 100,00 22 79 101 43,10 51,30 100,00 51 154 205 24,90 75,10 100,00 0,312 32 72 104 62,70 46,80 100,00 19 82 101 37,30 53,20 100,00 51 154 205 24,90 75,10 100,00 0,048 FONTE: Dados da pesquisa Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014 1227 A TAB 4 refere-se às quedas relatadas pelas idosas, sendo que 50,7% (104) das pesquisadas apresentaram pelo menos uma queda no último ano e 35,57% (37) precisaram de atendimento médico após o evento. Tais dados foram menores do que o encontrado por Aguiar e Assis (2009). A maioria das quedas aconteceu no domicílio conforme relatado por 52,9% (55) das mulheres idosas e 44,73% (51) tiveram os membros inferiores como a região atingida. A fratura ocorreu em 10,28% (11) dos casos sendo uma de fêmur. Das mulheres idosas que caíram 39,25% (42) relataram que não apresentaram nenhuma consequência do evento. O domicílio também foi considerado como o local de maior ocorrência na pesquisa de Fabrício; Rodrigues e Costa Júnior (2004) e apontado no relatório Vigilância e Prevenção de Quedas do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2010). Segundo Pereira et al. (2004), as quedas resultam em fraturas em 5% dos casos e nesta pesquisa o percentual foi maior. Considera-se que são diversos os fatores envolvidos incluindo o sedentarismo das mulheres idosas pesquisadas. Quanto aos fatores extrínsecos do ambiente domiciliar, 61,53% (64) delas informaram que tem escadas em casa, 96,15% (100) não tem corrimão no banheiro, 76% (80) não possuem tapetes antiderrapantes. Os fatores extrínsecos podem levar a queda da pessoa idosa no próprio domicilio e devem ser investigados nas visitas domiciliares incluindo a capacitação do Agente Comunitário de Saúde para esta investigação (BRASIL, 2000; SÃO PAULO, 2010). As modificações ambientais melhoram a segurança do domicílio sendo essenciais na prevenção de quedas (STUDENSK; WOLTER, 2002; SÃO PAULO, 2010; WHO, 2010). TABELA 4 – Dados do evento queda encontrados nas mulheres idosas pesquisadas nas Unidades de Saúde da Família do Caladão, Caladinho, Recanto Verde e Santa Cruz, Coronel Fabriciano/MG, 2013. Variáveis Frequência Percentual Queda Sim 104 50,70 Não 101 49,30 Total 205 100,00 Atendimento médico Sim Não Total 37 67 104 35,58 64,42 100,00 Local de ocorrência das quedas Domicílio Quintal Via pública Hospital Unidade de Saúde Total 55 20 26 0 03 104 52,90 19,20 25,00 0 2,90 100,00 Consequência Dor Edema Escoriações 16 15 12 14,95 14,02 11,22 Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014 1228 TABELA 4 – Dados do evento queda encontrados nas mulheresidosas pesquisadas nas Unidades de Saúde da Família do Caladão, Caladinho, Recanto Verde e Santa Cruz, Coronel Fabriciano/MG, 2013 (CONTINUAÇÃO) Variáveis Frequência Percentual Fraturas Fratura de fêmur Nenhuma Outras Total de ocorrências 10 01 42 11 107 9,35 0,93 39,25 10,28 100,00 Escada Sim Não Total 64 40 104 61,53 38,47 100,00 Corrimão no Banheiro Sim Não Total 04 100 104 3,85 96,15 100,00 Tapete Antiderrapante Sim Não Total 24 80 104 24,00 76,00 100,00 FONTE: Dados da pesquisa Considerando os diversos fatores associados à ocorrência de quedas a abordagem deve ser multidimensional realizada por equipe capacitada segundo Perracini e Ramos (2002), e as intervenções multifatoriais podem contribuir para a redução do evento em pessoas idosas da comunidade mesmo para aqueles que não apresentam fatores de risco. As intervenções incluem os exercícios físicos, a correção da visão e dos riscos ambientais, revisão sistemática de medicamentos, tratamento das patologias e aconselhamento sobre prevenção de quedas (BUKSMAN et al., 2008; SÃO PAULO, 2010). CONCLUSÃO Evidenciou a colaboração de fatores para a ocorrência do evento, como o uso de mais de quatro medicamentos, o uso dos antidiabéticos e a presença da incontinência urinária. Tendo o conhecimento dos fatores relevantes a atuação da equipe de saúde deve ser direcionada para intervir de forma adequada às necessidades destas mulheres para a prevenção da queda. A Equipe de Saúde da Família é a mais adequada para identificar o evento queda considerando as visitas domiciliares da equipe e o agente comunitário pode identificar os fatores de risco possibilitando uma intervenção em tempo hábil. A utilização de estratégias como palestras para a população idosa, a formação de grupos de terceira idade contando com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família contribuem para diminuir e evitar o evento queda e suas consequências. E ainda, as Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste, V. 7 - N. 1 - Jul./Ago. 2014 1229 orientações quanto às modificações no domicilio, os cuidados no período pós-alta hospitalar direcionados aos que apresentam fatores de risco associados. REFERÊNCIAS AGUIAR, C. F.; ASSIS, M. Perfil de mulheres idosas segundo a ocorrência de quedas: estudo de demanda no Núcleo de Atenção ao Idoso da UnATI/UERJ. Rev. Bras. Geritr. Gerontol., v. 12, n. 3, p. 391-404, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Caderno de Atenção Básica. Atenção à Saúde do Idoso: Instabilidade Postural e Quedas. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o estatuto do idoso e dá outras providências. 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