CIRCUITOMATOGROSSO GERAL PG 5 CUIABÁ, 18 A 24 DE AGOSTO DE 2011 www.circuitomt.com.br FETHAB Arrecadação com destino desviado Dos recursos arrecadados, 30% deveriam ser destinados à construção de conjuntos habitacionais e 70% às obras nas rodovias estaduais, mas não é isso o que acontece. Por Poliana Almeida – Especial para o Circuito Mato Grosso. Foto: Mary Juruna Uma das principais fontes de recursos do governo do Estado, o Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), criado há 11 anos pelo então governador de Mato Grosso Dante de Oliveira (PSDB), já falecido, sofreu uma série de mudanças ao longo desse período, até ser desviado completamente do foco inicial. Dos recursos arrecadados, 30% deveriam ser destinados à construção de conjuntos habitacionais populares e 70% às obras nas rodovias estaduais, conforme projeto original. Mas não é isso que acontece. Desde 2010, 30% do montante arrecadado pelo Fundo são repassados diretamente à Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Pantanal (Agecopa). A medida tem desagradado a muitos, como, por exemplo, ao presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Rui Prado. Ele revelou, inclusive, que, no princípio, o segmento era contrário, mas acabou concordando ao entender que as verbas seriam utilizadas para a pavimentação de estradas, beneficiando o setor. Para ele, é preocupante essa transferência de recursos à Agecopa, já que o montante sai direto do bolso do produtor rural. Por isso, defende que é preciso investir mais em estradas e ainda debater o assunto de forma mais ampla. “É preciso discutir mais o assunto porque precisamos de infraestrutura”, cobrou o presidente da Famato, ao reclamar que há muito tempo não é convocado a participar de nenhuma reunião do Conselho Diretor do Fethab, composto por várias entidades ligadas ao setor agrícola e representantes da administração estadual. Ao Conselho cabe avalizar as ações governamentais. Na gestão do exgovernador Blairo Maggi (PR), que hoje ocupa vaga no Senado, o Fethab ampliou a cobrança de tributos e passou a arrecadar sobre o frete de soja, algodão, óleo diesel, Para a Famato o desvio de recursos do projeto para a Agecopa é preocupante já que o montante sai direto do bolso do produtor rural madeira, além de gás natural e cabeças de gado, o que aumentou o valor da arrecadação. Em 2006, por exemplo, foram recolhidos R$ 274,9 milhões, enquanto no ano passado esse número dobrou, chegando a R$ 514,1 milhões. Já entre os meses de janeiro a junho deste ano, a arrecadação foi superior a R$ 330 milhões, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Transportes e Pavimentação Urbana do Estado (Setpu), instituída neste ano a partir do desmembramento da extinta Secretaria de Infraestrutura do Estado (Sinfra), que também originou a Secretaria Estadual das Cidades. A alegação, entretanto, é de que esses recursos não estão sendo devidamente aplicados, como avalia o deputado Percival Muniz (PPS), um dos poucos deputados a integrar a ala de oposição ao governo Silval Barbosa (PMDB) na Assembleia Legislativa. Ele chegou a declarar que o dinheiro do Fethab, assim como de outros fundos, estaria sendo utilizado para cobrir um suposto rombo de aproximadamente R$ 300 milhões. Com isso, segundo o socialista, compromissos relacionados ao programa não vinham sendo honrados. Acusou ainda o governo de retirar recursos do Fethab destinados à manutenção das estradas para a Agecopa e de prejudicar os municípios do interior do Estado. Dos 28 mil quilômetros de rodovias estaduais, menos de dez mil encontram-se asfaltados. Ocorre que, apesar de os municípios do interior contribuírem com a maior parte da arrecadação do Fethab, poucos serão beneficiados diretamente com as obras previstas para a Copa do Mundo de 2014, pois os investimentos estão concentrados em Cuiabá, uma das 12 cidades-sede dos jogos. Mas, para evitar maiores perdas, a Associação Mato-Grossense dos Municípios (AMM), por meio do atual presidente Meraldo Sá (PR), tem defendido junto ao Executivo Estadual a destinação de 25% dos 70% restantes do Fethab a algumas prefeituras. A AMM tenta convencer o governo de que é preciso fortalecer os municípios menos favorecidos, somando à possibilidade de readequação na distribuição do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cuja proposta foi apresentada no ano passado pelo presidente da AL, José Riva (PP), com base nos cálculos do Índice de Desenvolvimento Social Municipal (IDS-M). Silval, porém, ainda não deu resposta quanto à garantia do repasse de um percentual específico aos municípios. A maioria do montante arrecadado com o Fethab refere-se ao óleo diesel. Para cada litro comercializado do combustível, R$ 0,18 vai para o fundo, embora o valor mais alto esteja embutido na venda de gado. De cada cabeça de bovino vendida no primeiro semestre deste ano, R$ 8,18 foi destinado ao Fethab. Nesse segundo semestre, porém, a cobrança subiu para R$ 8,47.