A INFLUÊNCIA DOS SIGNOS E O ESPIRITISMO
Gerson Simões Monteiro
Astrônomos britânicos afirmaram que as datas dos signos do Zodíaco estão todas equivocadas;
em virtude disto, a maioria das pessoas teria nascido sob uma constelação diferente daquela que
historicamente seu signo indicava. Essa matéria, publicada pelo jornal O GLOBO de 21/01/1995, teve
como título “Astrônomos criam Zodíaco de 13 signos”. No entanto, essas afirmações perdem o sabor
de novidade, pois desde 1868 elas já haviam sido proclamadas por Allan Kardec ao publicar “A
Gênese” (1), abordando no Capítulo IX a questão das revoluções periódicas da Terra. Neste capítulo,
em nota de rodapé, lemos textualmente o seguinte:
“A “precessão dos equinócios” ocasiona uma outra mudança: a da variação da posição dos
signos do zodíaco. Com a Terra girando em torno do Sol ao longo de um ano, à medida que ela
avança, o Sol, a cada mês, encontra-se diante de uma nova constelação. Essas constelações são em
número de doze, a saber: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Balança, Escorpião,
Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. São chamadas de constelações zodiacais, ou signos do
zodíaco, e formam um círculo no plano do equador terrestre. Conforme o mês de nascimento de um
indivíduo, diz-se que ele nasceu sob tal signo; daí os prognósticos da Astrologia. Mas, em virtude da
“precessão dos equinócios”, acontece que os meses já não correspondem às mesmas constelações que
há 2.000 anos; por exemplo, quem nasce no mês de julho não está mais no signo de Leão, mas no de
Câncer. Cai, assim, a idéia supersticiosa ligada à influência dos signos.(Cap. V, item 12.)”
Esta nota de Allan Kardec vem a propósito, quando explica que a “precessão dos equinócios”
ocorre pelo fato de a Terra, além do seu movimento anual em torno do Sol, que origina as estações, e
do seu movimento de rotações sobre si mesma em 24 horas, que determina o dia e a noite, ter um
terceiro movimento que se completa em 25 mil anos, ou, mais exatamente, 25.868 anos. Este
movimento, que seria impossível explicar apenas em algumas palavras sem o auxílio de figuras e sem
uma demonstração geométrica, consiste em uma espécie de oscilação circular, que se pode comparar à
oscilação de um pião prestes a parar. Em conseqüência desta oscilação, o eixo da Terra, mudando de
inclinação, descreve um duplo cone, cujo vértice está no centro do planeta, e as bases abrangem a
superfície circunscrita pelos círculos polares, ou seja, uma amplitude de 23 graus e meio de raio (vide
gráfico do esquema do movimento de precessão da Terra, extraído do livro “A Gênese”, de Allan
Kardec, revisado por Cláudio Lirange Zanatta – Ed. CELD).
Esclarece ainda o Codificador do Espiritismo, no item 7 daquele capítulo (2):
“O equinócio é o instante em que o Sol, ao passar de um hemisfério para o outro, encontra-se
perpendicular ao equador, o que acontece duas vezes por ano, em 20 de março, quando o Sol passa
para o hemisfério boreal (Norte), e em 22 de setembro, quando ele volta para o hemisfério austral
(Sul).
Em conseqüência, porém, da gradual mudança também na obliqüidade do eixo, o que resulta
em mudança também na obliqüidade do equador sobre a eclíptica, o momento do equinócio avança a
cada ano de alguns minutos (25 minutos e 07 segundos). É a esse avanço que se deu o nome de
precessão dos equinócios (do latim “proecedere”, caminhar para diante, composto de “proe”,
adiante, e “cedere”, ir-se).”
A mudança das datas dos signos do Zodíaco, com base na precessão dos equinócios
demonstrada por Allan Kardec, vem sendo também defendida pelo astrônomo brasileiro Lineu
Hoffmann, que escreveu carta ao jornal O GLOBO esclarecendo que já havia tratado do assunto
desde 1978, ao editar a “Nova Carta Celeste”, acompanhada do livro “Astronomia”. Nele dedica,
inclusive, um capítulo à astrologia, estabelecendo a data correta dos signos em virtude dos efeitos
precessionais, incluindo também o 13º signo, referente à constelação de Ofiúco, transitada pela
trajetória do Sol, vista da Terra na esfera celeste durante 17 dias (30 de novembro a 17 de dezembro).
Segundo Lineu Hoffmann, os astrólogos, baseados nos princípios estabelecidos por Hiparco e
Ptolomeu há cerca de 2.000 anos, determinaram que o Ponto Vernal, ponto de partida para medir as
longitudes celestes, definia-se em 21 de março, considerando-se o atual calendário gregoriano, e
subdividiram os 360º da esfera celeste em 12 signos de 30º cada, que tomaram o nome das
constelações da Eclíptica.
Acontece, diz ainda o astrônomo, que um terceiro movimento principal da Terra, o de
precessão, isto é, uma oscilação do eixo da Terra com raio de 23º 26’, que dura nada menos do que
25.780 anos para perfazer 360º, alterou profundamente todas as normas dos astrólogos, que teimam
numa concepção de um universo estático e não dinâmico.
A precessão acarreta a fuga do Ponto Vernal. Essa fuga, aparentemente desprezível de 50’,
27” por ano, ou de 1º arco para cada 72 anos, faz com que o Ponto Vernal, em 2.129 anos, se afaste
cerca de 30º para o oeste, um signo inteiro portanto. Assim, o signo de Aries passou a ser de Peixes, o
de Peixes, Aquário, etc.
Utilizando o pensamento de Allan Kardec, exposto no item 12 do Capítulo V de “A Gênese”
(3)
, vemos também que os grupos que tomaram o nome de constelações não são mais do que agregados
aparentes causados pela distância. Ora, não existindo esses agrupamentos senão na aparência, é
ilusória a significação que uma supersticiosa crença vulgar lhes atribui e somente na imaginação pode
existir.
Além disso, esclarece o Codificador do Espiritismo que a crença na influência das
constelações, sobretudo das que constituem os doze signos do Zodíaco, proveio da idéia ligada aos
nomes que elas trazem. Se ao que se chama “leão” fosse dado o nome de “asno” ou de “ovelha”,
certamente lhe teriam atribuído outra influência.
Foi por isso mesmo que os Espíritos, ao serem perguntados por Allan Kardec, na Questão 867
de “O Livro dos Espíritos” (4) – “Donde vem a expressão: nascer sob uma boa estrela?” –
responderam: “Antiga superstição, que prendia às estrelas os destinos dos homens. Alegoria que
algumas pessoas fazem a tolice de tomar ao pé da letra”.
A resposta é lógica, porque se o destino do homem já estivesse determinado pelas estrelas,
nele seria nulo o livre-arbítrio, e não teria nem culpa por praticar o mal nem mérito em praticar o bem.
Lembramos, por último, que Jesus, o Espírito mais perfeito e o mais sábio que passou pelo
nosso Planeta, afirmou categoricamente: “A cada um será dado segundo as suas obras”, e não “A cada
um segundo o seu signo”, por falta de lógica e de bom senso.
GERSON SIMÕES MONTEIRO
Presidente da Fundação Cristã Espírita Cultural Paulo de Tarso (Rádio Rio de Janeiro)
e-mail: [email protected]
1.
2.
3.
4.
KARDEC, Allan. A Gênese. Rio de Janeiro. CELD, 2000, Cap. IX.
Id. Cap. IX, item 7.
Id. Cap. V, item 12.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro, FEB, 1983.
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