UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR Resistência Bacteriana a Antibióticos: O problema da Tuberculose Multiresistente. Mestranda: Luita Nice Café Oliveira Orientador: Dr. Fabrício Rios Santos RESUMO O fenômeno de resistência bacteriana aos antibióticos é observado desde a descoberta do primeiro antibiótico, a penicilina, por Alexander Fleming em 1929 (1) . A ampla utilização de diferentes agentes e formas inapropriadas de uso e indicação possibilitaram maior seleção (2) de cepas multiresistentes . O mecanismo de resistência bacteriana pode ser intrínseco (natural) ou adquirido. Na resistência natural a bactéria possui em seu genoma o código genético da resistência, enquanto que na resistência adquirida à resistência é obtida através de mutações espontâneas. Entre os microorganismos de relevância clínica em humanos, destaca-se a espécie Mycobacterium tuberculosis, causador da tuberculose. A tuberculose é uma das doenças transmissíveis mais antigas sendo relatada em registros arqueológicos de povos da antiguidade. Seu quadro clínico acomete mais freqüentemente os pulmões e quando não tratada rapidamente leva à sepse e morte. Atualmente cerca de 1/3 da população mundial está infectada pelo M. tuberculosis, ainda que assintomaticamente. A doença pode causar cerca de dois milhões de mortes no mundo por ano e o Brasil apresenta-se no ranking como o 18° país com maior incidência de tuberculose no mundo (3) . O tratamento padrão é feito com pelo menos 4 antibióticos, sendo oficialmente indicadas a isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol, por no mínimo 6 meses. A existência de bactérias resistentes a pelo menos duas drogas (rifampicina e isoniazida) classifica a tuberculose como multiresistente (TBMDR). Somente no ano de 2008 a TBMDR matou cerca de 15.000 pessoas no mundo. O principal gene envolvido no mecanismo de resistência a isoniazida é o katG, responsável por produzir a enzima catalase-peroxidase que ativa o fármaco inibindo a síntese da parede celular (4). Cerca de 80% de suas mutações estão no códon 315, onde há a troca aminoacídica de uma serina por uma treonina(5). Existem ainda outros genes associados à resistência a este antibacilar, nomeadamente: o gene inhA, cujo produto gênico é uma enoil-ACP redutase e que constitui o alvo primário da isoniazida (6) . A resistência a rifampicina ocorre no gene rpoB que codifica a subunidade β da RNA polimerase, impedindo assim a transcrição bacteriana numa região central bem definida de 81 pb (7) . Pelo menos 96% dos isolados clínicos resistentes apresentam mutações nesta região, o que facilita a caracterização da resistência.(8). A despeito do progresso tecnológico alcançado, o diagnóstico da TBMR é demorado pelo tempo exigido nas metodologias atuais e por limitações e inconsistências nos testes de sensibilidade. As principais conseqüências do atraso na detecção da resistência são os aumentos na incidência de casos de TBMDR onde os pacientes permanecem transmitindo a doença por um maior período de tempo há uma taxa de mortalidade superior, uma taxa de cura mais baixa, e a necessidade de tratamento individualizado utilizando de complexos com drogas de 2ª linha com alta toxicidade e elevados custos. (9) A grande dificuldade no controle da TBMDR reside na falha de um diagnóstico precoce. A necessidade do desenvolvimento de diagnóstico rápido e seguro são de extrema importância para a diminuição da incidência de TBMDR. REFERÊNCIAS 1. Organização Mundial de Saúde. Global Tuberculosis Control: Surveillance, planning and financing (WHO/HTM/TB/2008.393), 2008. 2. CAMPOS, Hisbello S; The diagnosis of tuberculosis. Journal of Pneumology, 2006. 3. Hijjar MA, Procópio MJ, Freitas LMR AJ et al . Epidemiology of tuberculosis in the world, Brasil and Rio de Janeiro. J Pneumology, 2005. 4. Höfling CC, Pavan EM, Giampaglia CMS, Ferrazoli L, Aily DCG, Albuquerque DM et al. Prevalence of katG Ser315 substitution and rpoB mutations in isoniazid-resistant Mycobacterium tuberculosis isolates from Brazil. Int J. Tuberc Lung Dis, 2005. 5. BOSTANABAD, Saeed Zaker et al. Detection and frequency of mutation in the rpoB gene of Mycobacterium tuberculosis isolates from patients with active Pulmonary Tuberculosis in different regions of Tehran City. Reviews in Infection, 2010. 6. SILVA Márcia Susana N. et al. Mutations in katG, inhA, and ahpC Genes of Brazilian Isoniazid-Resistant Isolates of Mycobacterium tuberculosis. Journal of Clinical Microbiology, 2003. 7. VALIM Andréia Rosane M. et al. Mutations in the rpoB Gene of Multidrug-Resistant Mycobacterium tuberculosis Isolates from Brazil. Journal of Clinical Microbiology, 2000. 8. YUE Jun et al. Mutations in the rpoB Gene of Multidrug-Resistant Mycobacterium tuberculosis Isolates from China. Journal of Microbiology, 2000.