Vol. II N. 2 Jul – Dez / 2006 pp. 118 - 128 ISSN 1809-3604 O Aprendizado da leitura nos dias atuais Thais Faria* RESUMO: A leitura e a escrita são atividades dialógicas que ocorrem no meio social através do processo histórico da humanização. O artigo evidencia a importância das estratégias para o uso de textos no aprendizado da leitura, pois a interpretação e produção de textos devem ser exploradas com o intuito final de promover um ensino de qualidade, prazeroso e direcionado à criança. PALAVRAS-CHAVES: Leitura – produção de textos – ensino - aprendizagem ABSTRACT: The reading and the writing are activities dialogicas that happen in the social way throught the historical process of the humanization. The article evidences the importance of the strategies for the use of texts in the learning, of the reading, interpretation and production of texts they should be explored with the final intention of promoting a quality, pleased and addressed the child. KEY-WORDS: Reading – production of texts – teaching - learning * Thais Faria nascida em 18/08/1983 é formada em Letras pela Universidade Metodista de São Paulo, em MBA em Marketing e Mestranda em Educação nas linhas de Política e Gestao Escolar na Universidade Metodista de São Paulo. Introdução Nos dias atuais, o tema “Aprendizado da leitura” vem suscitando debates como nunca ocorreu antes. Mas devemos levar em conta que o domínio da leitura hoje, tem uma importância bem diferente situando-se em um patamar mais amplo do que há cinqüenta anos atrás. Antes saber ler era sobretudo um luxo (favorecia a uma mudança de classe social), e sendo assim não era preciso ler para ter uma vida melhor para viver em sociedade. Hoje em dia, o fato de não saber ler tem implicações mais diretas na vida das pessoas, visto que para realizar as mais básicas tarefas do dia a dia ( ir a um supermercado, procurar um telefone, fazer uma receita de bolo, utilizar um carro, pegar um ônibus, etc), exige a utilização da leitura. Pesquisas recentes mostram que a causa maior do fracasso escolar está relacionado ao não domínio da leitura por parte dos alunos, ler se tornou uma ferramenta indispensável que pode levar ao enriquecimento pessoal. Seria impossível pensar que o surgimento das técnicas modernas poderiam trazer o fim da leitura. Na verdade, ocorrerá justamente o contrario. Por muito tempo, nós professores, ensinamos leituras para nossos alunos por dois modos distintos: pelo método tradicional e pelo método global. No método tradicional, também chamado de silábico, a criança aprende a ler por síntese: indo da aprendizagem de letras à produção de silabas, depois de palavra e enfim da frase. Já no método global, em vez de partir da letra, parte das frases das quais os alunos reconhecem globalmente do desenho, ensinando-se assim, pouco a pouco, as semelhanças e as diferenças entre elas. Mas o que acontece na verdade é que a maioria das vezes é o comportamento do professor em face de sua pratica pedagógica que faz a diferença (Charmeux, 1995, pág 45). É muito fácil encontramos professores que preferem utilizar ferramentas de aprendizagens prontas em manuais e métodos, e professores que não utilizam ferramentas, preferindo construí-las. Conforme Charmeux (1995), podemos dizer que as ferramentas utilizadas pelos professores dividem-se em quatro categorias distintas: os manuais clássicos (mecanismo de base), os manuais modernos ( os livros que utilizam truques que os deixam mais modernos. Ex. historias em quadrinhos, etc), os métodos com pretensões cientificas ( feitos por especialistas) e as ferramentas de auxilio à aprendizagem ( softwares educacionais). Quando a criança é bem pequena é importante que seus pais façam a leitura em voz alta, pois a criança vai desejar através do prazer que lhe dá ouvir historias, tornar-se capaz de ler sozinha. Outra maneira de incentivar as crianças a lerem é ir com elas a uma biblioteca, ir comprar um livro no shopping center, ou seja, fazer desta visita à biblioteca e da ida ao shopping para comprar um livro, uma festa. Ter a necessidade de possuir livros é uma característica do ser leitor. Quando lermos um livro, o grifamos ou o marcamos, os grifados e marcados o tornam de fato nosso, pois as nossas impressões estão registradas nele. Assim devemos permitir que as criancas também tenham o prazer de descobrir isso. Mas para tal, é necessário que aprenda a ter cuidados com o livro e não sujá-lo; a perceber que eles custam caro e que devem ser respeitados para que possam ser lidos e relidos por varias pessoas. Se um livro não for meu, se for de uma biblioteca devemos ter mais respeito, considerando que seu conteúdo poderá ser vivenciado por infinitos leitores. Para crianças pequenas o ideal é oferecer livros que tenham formatos, desenhos e espessuras diferentes para prender a sua atenção. É bom que a criança sempre tenha acesso às motivações de seus pais, suas escolhas morais e ideológicas, mas que não fiquem somente presa a elas, e sim tenha o direito de ter acesso a novos temas e autores. Outro fator que é de grande importância ao incentivo da leitura são as assinaturas de revistas e gibis infantis, realizados e escritos por profissionais que estão preocupados em proporcionar matérias ricos em informações para as crianças. Com todo esse respaldo a criança crescerá com o hábito e o gosto de ler. É como di Smith (1998, pág.45) “uma criança só pode ser bem sucedida, se estiver certa de ser capaz disso”. Já Bruno Bettelhein, em “La Lecture et l’enfant” (pág 98) “para ensinar as crianças a ler não é absolutamente necessário descrevê-las como individuo de cabeça vazia obcecados pela busco do prazer, nem obrigá-las a ler historias que não levam em conta suas realidades e a de seus pais, nem repetir para elas incansavelmente as mesmas palavras. Mas é inteiramente possível habituá-las desde o inicio `idéia de que o essencial é o sentido do texto e de que a leitura está na origem de toda informação e de um prazer estético autentico.” Cabe ao professor oferecer aos alunos as competências que lhes faltam, sem fazer julgamento do aluno. Não devemos nunca dizer que uma criança não sabe ler até que não exploremos suas competências em todos os tipos de situação. Quando realizamos um leitura do tipo exterior, em que a leitura atravessa em texto ligando-se a um projeto exterior a ele, podemos encontrar situações funcionais ( onde a leitura serve para agir, aprender, colher informações) e situações de estudo ( onde a leitura serve para construir conhecimentos). Ao mesmo tempo, quando realizamos uma leitura para nós, podemos encontrar situações farnientes ( distração pura), situações de nostalgia ( dicionários, livros escolares) e situações de leitura para o puro prazer ( leitura degustação). Assim não haverá aprendizagem de leitura se não levar em conta todas essas situações de aprendizagem, pois na verdade, não é a situação que faz aprender a ler, e ainda menos a vigilância do professor, mas sim todo um trabalho em torno dessas situações. Quando uma criança tem em casa pais que lêem, essa criança terá uma maior facilidade em ter contatos com textos, visto que bem antes de chegar à escola, o sucesso escolar praticamente está construído pela maneira de viver em casa. Não é necessário gastar fortunas comprando livros somente para agradar as crianças, pois o que realmente irá fazer com que a criança tenha um ambiente vivo e rico em leitura é a sua utilização, o caráter vivo da escrita. De nada adianta estantes forradas de livros e nenhum deles ser lido, é preferível a criança ter poucos livros, mas ter lido a todos eles. Uma criança que vê seus pais lendo e escrevendo terá muito mais vontade de aprender a ler e a escrever do que uma que não tem essa oportunidade. Muitas são as formas dos pais incentivarem seus filhos a leitura: livros de receita, instruções de utilização de produtos de limpeza ou alimentos, indicações de rua, manuais eletrônicos. É necessário lembrar, no entanto, que para as crianças das classes desfavorecidas (a maioria das crianças que freqüentam as escolas publicas), a realidade é bastante desfavorável em relação à pratica de leituras, que porque não conviva com atos de leitura e escrita por serem seus familiares analfabetos, quer porque não possuam livros. A criança tem que descobrir que a leitura pode ser uma distração, um prazer, uma forma de descontração, e uma forma de aquisição de conhecimentos. Segundo Freinet ( pág, 99, 1961) “se o escrito for um objeto positivo em casa, sua aprendizagem será desejada pela criança, e se a aprendizagem é objeto de desejo, ela será facilitada e possivelmente será de fato mais fácil”. Mager (2000), afirma que “quando não sabemos onde vamos, corremos o risco de chegar a outro lugar” (pág.22), isso ocorre muitas vezes resultando no fracasso escolar: os alunos não sabem como ler e porque lêem. Muitas são as razoes que nos levam a ler, mais duas são essenciais: para acharmos respostas as nossas duvidas e perguntas e para nos distrairmos e termos momentos agradáveis. Assim ler não é apenas uma atividade que tem uma finalidade própria, uma atividade em si. Ler é também, uma atividade- meio. Contudo, o que nos permite dizer se uma leitura ganha significados é a realização do projeto que a provocou. Assim não haverá leitura se a compreensão não ocorrer. Compreender algo é construir sentido a partir do que foi lido, é um trabalho da inteligência e do domínio da linguagem. Aprender a ler é mergulhar em um universo novo, assim para que todas as crianças aprendam a ler, é necessário que elas se sintam em casa no universo de ler, por isto é que se diz que exemplo vem de casa, dos pais, dos familiares. A leitura tem varias funções: ler para se distrair, aprender, compreender, passar o tempo, informar. De um lado temos as leituras voltados para o exterior ( leituras a serviço do social), do outro as leituras voltadas para o próprio leitor ( para o seu prazer, descanso). Essas duas formas de ler, não requerem as mesmas capacidades, pois a leitura para o próprio leitor exige um imaginário maior do que a leitura exterior, visto que esta exige um maior rigor de raciocínio. Segundo Charmeux (1998): “os julgamentos sobre o saber ler dos alunos freqüentemente devem ser nuançados e relativizados: se uma criança não tem vontade de ler romances, e se, por outro lado, ela for muito boa em matemática ou em ciências, é evidente que ela sabe ler! Simplesmente, ela talvez não tenha imaginação concreta suficiente para encontrar prazer na leitura de obras de ficção.” (pág. 67). Frank Smith (1999), em seu prefacio do Understanding Reading diz que “ as crianças aprendem a ler não por causa dos programas prontos de ensino, mas porque os professores conseguem fazer com que elas encontrem um sentido para o ensino que recebem. É na sabedoria e na intuição do professor que devemos confiar, desde que estes disponham das bases necessárias para tornar, em sua classe, decisões que só cabem e eles tomar”. (pág. 56). Um professor não pode se acomodar com as praticas de ensino que já estão gastas, ele deve sempre procurar inovar, buscar no interesse do aluno o que ele realmente quer aprender, deve ter força de vontade em buscar novos conhecimentos, pois viver é questionar as evidencias, é crescer, evoluir, fazer e mostrar a diferença. Portanto de acordo com estas ultimas citações percebemos que ao mesmo tempo que ler é algo complexo, também é algo muito acessível a todos, inclusive às crianças. A alfabetização, a leitura e a produção textual têm sido alvo de interesse por parte dos estudiosos da educação, já que há muitos anos se observam entre os alunos dificuldades de aprendizagem e altos índices de reprovação e evasão escolar. Dentre as dificuldades mais focalizadas, destaca-se o ensino da língua materna. A dificuldade, após anos de escola, de o aluno escrever um texto coeso e coerente culminando na insegurança lingüística demonstra o fracasso das práticas lingüísticas das aulas. A voz do professor raras vezes é ouvida no coro daqueles que denunciam a situação. Não é de surpreender, pois faz parte do processo de desvalorização do professor deixá-lo sem acesso à palavra escrita, seja, como leitor, seja como produtor de textos, porque não detém recursos financeiros suficientes para adquirir o que é instrumentos para o seu trabalho, uma vez que não é um representante social da elite formadora de opiniões, embora tenha que representá-la em sala de aula. A função primordial da escola seria, para grande parte dos educadores, propiciar aos alunos caminhos para que eles aprendam, de forma consciente e consistente, os mecanismos de apropriação de conhecimentos, dos quais a leitura e a escrita são dos mais importantes de forma a de possibilitar que os alunos atuem, criticamente em seu espaço social. A linguagem tem como objetivo principal a comunicação sendo esta socialmente construída e transmitida culturalmente. Portanto, o sentido da palavra instaura-se no contexto, aparece no diálogo e altera-se historicamente produzindo formas lingüísticas e atos sociais. A transmissão racional e intencional de experiência e pensamento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala humana, oriunda da necessidade de intercâmbio durante o trabalho.(Vygotski,1998,07). Mas, freqüentemente o aprendizado fora dos limites da instituição escolar é muito motivador, pois a linguagem da escola nem sempre é a do aluno. Dessa maneira percebemos a escola que exclui, reduz, limita e expulsa sua clientela: seja pelo aspecto físico, seja pelas condições de trabalho dos professores, seja pelos altos índices de repetência e evasão escolar ou pela inadaptabilidade dos alunos, pois, a norma culta padrão é a única variante aceita, e os mecanismos de naturalização dessa ordem da linguagem são apagados. (Soares, 1995,36). A análise das questões sobre a leitura e a escrita está fundamentalmente ligada à concepção que se tem sobre o que é a linguagem e o que é ensinar e aprender. E essas concepções passam, obrigatoriamente, pelos objetivos que se atribuem à escola e à escolarização. Muitas das abordagens escolares derivam de concepções de ensino e aprendizagem da palavra escrita que reduzem o processo da alfabetização e de leitura a simples decodificação dos símbolos lingüísticos. A escola transmite uma concepção de que a escrita é a transcrição da oralidade.(Cagliari, 1989, 26) Parte-se do princípio de que o aprendiz deve unicamente conhecer a estrutura da escrita, sua organização em unidades e seus princípios fundamentais, que incluiriam basicamente algumas das noções sobre a relação entre escrita e oralidade, para que possua os pré-requisitos, aprenda e desenvolva as atividades de leitura e de produção da escrita. Mas a escrita ultrapassa sua estruturação e a relação entre o que se escreve e como se escreve demonstra a perspectiva de onde se enuncia e a intencionalidade das formas escolhidas.(Guimarães, 1995,08) A leitura ultrapassa a mera decodificação porque é um processo de (re)atribuição de sentidos. Os que se baseiam em uma visão tradicional da leitura e da escrita continuam a ver o aprendizado dessas práticas como o acesso às primeiras letras, que seria acrescido linearmente do reconhecimento das sílabas, palavras e frases, que , em conjunto, formariam os textos, e, após o conhecimento dessas unidades, o aluno estaria apto a ler e a escrever.(Cagliari,1989,48) Essa seria uma concepção de leitura e de escrita como decifração de signos lingüísticos transparentes, e de ensino e aprendizagem como um processo cumulativo. Já na visão contemporânea a construção dos sentidos, seja pela fala, pela escrita ou pela leitura, está diretamente relacionada às atividades discursivas e às práticas sociais as quais os sujeitos têm acesso ao longo de seu processo histórico de socialização. As atividades discursivas podem ser compreendidas como as ações de enunciado que representam o assunto que é objeto da interlocução e orientam a interação. A construção das atividades discursivas dá-se no espaço das práticas discursivas. (Matencio,1994,17). A leitura e a escrita são atividades dialógicas que ocorrem no meio social através do processo histórico da humanização. Adotar esse ponto de vista requer mudança de postura pois a diferença lingüística não é mais vista como deficiência (Ceccon,1992,62). O trabalho com a leitura e a escrita adquire o caráter sócio-histórico do diálogo e a linguagem preenche a representação social: a palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. (Baktin, 1992,95).Nessa perspectiva, a evolução histórica da linguagem , a própria estrutura do significado e a sua natureza psicológica mudam de acordo com o contexto vivido. A partir das generalizações primitivas, o pensamento verbal eleva-se ao nível dos conceitos mais abstratos (Vigotski,1997,30). Não é simplesmente o conteúdo de uma palavra que se altera, mas o modo pelo qual a realidade é generalizada em uma palavra. “O significado dicionarizado de uma palavra nada mais é do que uma pedra no edifício do sentido; não passa de uma potencialidade que re realiza de formas diversas na fala.” (Vigotski,1998,156). Assim percebemos que a infância é o melhor momento para o indivíduo iniciar sua emancipação mediante a função liberatória da palavra. É entre os oito e treze anos de idade que as crianças revelam maior interesse pela leitura. Segundo o estudioso Richard Bamberger (1994) "Se conseguirmos fazer com que a criança tenha sistematicamente uma experiência positiva com a linguagem, estaremos promovendo o seu desenvolvimento como ser humano." (pág. 34).Igual a ele inúmeros pesquisadores têm-se empenhado em mostrar aos pais e professores a importância de se incluir o livro no dia-a-dia da criança. Bamberger afirma que, comparada ao cinema, ao rádio e à televisão, a leitura tem vantagens únicas. Em vez de precisar escolher entre uma variedade limitada, posta à sua disposição por cortesia do patrocinador comercial, ou entre os filmes disponíveis no momento, o leitor pode escolher entre os melhores escritos do presente e do passado. Lê onde e quando mais lhe convém, no ritmo que mais lhe agrada, podendo retardar ou apressar a leitura; interrompê-Ia, reler ou parar para refletir, a seu belprazer. Lê o que, quando, onde e como bem entender. Essa flexibilidade garante o interesse continuo pela leitura, tanto em relação à educação quanto ao entretenimento. Na leitura existe um contato sensorial com o objeto livro, que, acaba por revelar "um prazer único" na criança, no adolescente e nos adultos. Quando uma criança realiza a leitura, por meio dos sentidos, a criança é atraída pela curiosidade, pelo formato, pelo manuseio fácil e pelas possibilidades emotivas que o livro pode conter. Para as nossas crianças brasileiras, o acesso ao livro é dificultado por uma conjunção de fatores sociais, econômicos e políticos. São raras as bibliotecas escolares. As bibliotecas existentes não dispõem de um acervo adequado, além do fato de profissionais aptos a orientar o público infantil no sentido de um contato agradável e propício com os livros. Pior ainda são as bibliotecas domésticas. Os pais, quando se interessam em comprar livros, muitas vezes os escolhem pela capa por falta de uma orientação direcionada às preferências das crianças. Segundo a professora Regina Zilberman, estudiosa em literatura infanto-juvenil e leitura, a forma de motivarmos as crianças e os jovens ao hábito de ler: é favorecida quando se aborda as relações entre a literatura e ensino legitimando a função da leitura, sugerindo livros, assim como atividades didáticas, a fim de alcançar o uso da obra literária em sala de aula e nas casas dos alunos com objetivos cognitivos, e não apenas pedagógicos; quando se considera o confronto entre a criação para crianças e o livro didático, tornando o último passível de uma visão crítica e o primeiro o ponto de partida para a consideração dos interesses do leitor e da importância da leitura como desencadeadora de uma postura reflexiva perante a realidade. Estratégias para o uso de textos infantis no aprendizado da leitura, interpretação e produção de textos devem ser exploradas com o intuito final de promover um ensino de qualidade, prazeroso e direcionado à criança. Somente desta forma, contribuiremos para o Brasil num país de leitores, onde todas as nossas crianças terão oportunidades escolares iguais e quem sabe formando cidadãos-leitores aptos a dizer a sua própria palavra, contribuiremos para tornarmos o Brasil em um mundo de paz, de ordem e de grandeza. Mesmo as crianças tendo conseguido aumentar suas taxas de escolarização nos últimos anos, alfabetizar os alunos ainda configura-se como um grande desafio. O Censo Escolar do ano de 2000 revelou que o fracasso escolar no 1º ano do 1º ciclo do Ensino Fundamental, no estado de Pernambuco, representou cerca de 25%, um valor muito alto para a nossa população. Esse fracasso também teria relação direta com as praticas de leituras realizadas nas nossas escolas, pois somente a partir do final dos anos 80 e inicio da década de 90 que houve um deslocamento do eixo da discussão de como se ensina para como se aprende. Com o desuso das cartilhas, dos livros e de todo o material de apoio paradidático, notamos que nos últimos anos um processo de reformulação dos livros didáticos com vistas a contemplar as novas perspectivas teóricas de alfabetização. Com toda essa dificuldade e a imensa necessidade de medidas para a resolução de tal problema, o MEC passou a desenvolver, desde 1995, o PNLD, que nada mais é do que uma analise e avaliação pedagógica dos livros didáticos das diferentes áreas de ensino, seguindo, como parâmetros, critérios cuidadosamente estabelecidos e de acordo com as novas perspectivas educacionais. Como disse Chartier ( 1998), “os professores privilegiam as informações que utilizam diretamente, o como fazer mais do que o porque fazer e seu trabalho pedagógico se alimenta, freqüentemente da troca de receitas coletadas em encontros ou, ate mesmo, por acaso, e elas estão validadas pelos colegas com os quais se pode discutir sem embaraço e que são relativamente flexíveis para autorizar as variações pessoais”. Ainda de Chartier( 1996, pág.267) a afirmação : “a liberdade do leitor é aceita entre os funcionários autorizados, já os alunos resta reduzir-se à escudeira do sentido recebido por seus mestres : cujas invenções são consideradas desprezíveis, e assim reduzidas ao silêncio. Porém, há possibilidade de transgressão.” Com esta idéia Chartier afirma que toda leitura modifica seu objeto, uma vez que o leitor inventa nos textos outra coisa que não aquilo que era a intenção do autor. Ainda que a prática religiosa condene determinados tipos de textos, o menino familiariza-se em eles, não se reduzindo a passividade cristã e deixando indícios de que mantém sua decisão viva em relação aos seus modos de operar com o objeto que está em jogo. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; SZYMANSKI, Heloisa & PRANDIDNI, Regina Célia Rego. A Entrevista na Pesquisa em Educação: a prática reflexiva. Org. Heloisa Szymanki. Brasília : Plano, 2002. CAGLIARI, L.C. Alfabetização & Lingüística. Ed. Scipione, 2000. CARRAHER, Terezinha Nunes. SCHKIEMANN, Analúcia. CARRAHER, David. Na vida Dez, Na Escola Zero. 13ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003. COLLARES, C.ªL. O cotidiano escolar patolozizado. In. Erro e fracasso na escola: Alternativas teóricas e praticas. Julio Groppa Aquino (Org). 4 ª Ed. São Paulo: Summus, 1997. FERREIRO, Emilia. Com todas as letras.Coleção Ferreiro, Emilia. Ed. Cortez, 10º Ed., 2001. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1972. ____Org. 13º COLE- Congresso de Leitura do Brasil. Com todas as letras para todos os nomes. Unicamp, Campinas, 2001. ____Org. 14º COLE- Congresso de Leitura do Brasil. II Congresso da História do Livro e da Leitura no Brasil. Que triste são as coisas consideradas sem ênfase.Unicamp, Campinas, 2003. ____Org. 15º COLE- Congresso de Leitura do Brasil. Pensem nas crianças mudas e telepáticas. Unicamp, Campinas, 2005. ____Org. 25 anos de COLE- Congresso de Leitura do Brasil. Leituras: um concerto. Unicamp, Campinas, 2005. PATTO, Maria Helena Souza. A Produção do Fracasso Escolar: Histórias de Submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. SACKS, Oliver. Um antropólogo em Marte. Sete historias paradoxiais. Ed. Companhia das Letras, 2001.