8 O DISTRITAL | TERÇA-FEIRA | 27 de outubro a 2 de novembro de 2009 MATÉRIAS ESPECIAIS SAÚDE Um mal silencioso Da Redação U ma doença neurológica hereditária, caracterizada por uma desordem do cérebro, que vai se degenerando devido à perda de células. Afeta pessoas de todas as raças e idades, mas se manifesta frequentemente quando o indivíduo está no auge de sua capacidade produtiva, por volta dos 30 anos. É a Doença de Huntington (DH), uma mutação genética que interfere nas habilidades cognitivas do paciente, provocando a demência. Como trata-se de uma mutação genética, os filhos da pessoa acometida têm 50% de chances de também desenvolver a doença. É autossômica dominante. Portanto, se o descendente não herdar o gene nunca terá a doença, nem ele nem a geração que se seguir, mas basta que um dos pais seja um portador para que o filho tenha a herança do gene defeituoso. Assim, não escapará dos desvios de comportamento e demais sintomas, como depressão profunda, chegando muitos dos doentes a tentar o suicídio na tentativa de escapar do sofrimento. O sentimento de desamparo que acomete essas famílias fez surgir em 1997 a Associação Brasil Huntington (ABH) - www.abh.org.br -, organização civil sem fins lucrativos criada em Atibaia, no interior de São Paulo, por um grupo de 43 parentes de portadores da DH, sob o incentivo do neuropsiquiatra Walmir Galvão de Almeida Passos, que à época defendia sua tese de doutorado sobre o tema. A ABH hoje está se unindo à Upadh - União dos Parentes e Amigos dos Doentes de Huntington, presidida por Edília Miranda Paz, que ajudou a fundá-la no DF. Ela conta que a sua família foi a primeira no Brasil a se submeter ao exame de DNA para descobrir quem era portador das altera- SAIBA MAIS A ABH, QUE É ASSOCIADA À INTERNATIONAL HUNTINGTON ASSOCIATION E DE QUEM RECEBE INFORMAÇÕES SOBRE OS PROGRESSOS DAS PESQUISAS CIENTÍFICAS NA ÁREA. AGORA ATUA JUNTO COM A UPADH E TEM COMO OBJETIVOS: apoiar e aconselhar famílias portadores de DH, de forma a melhorar a qualidade de vida de pacientes e famíliares; divulgar a doença; proporcionar a troca de experências entre pacientes, familiares, cuidadores e profissionais de saúde; incentivar a organização de grupos regionais; estimular pesquisas e a a capacitação de profissionais de saúde; lutar por atendimento adequado junto aos órgãos públicos de saúde Contato: 3036-1594 e 9237-7725 Thyago Arruda A Doença de Huntington, também conhecida como Coreia Hereditária, ataca o cérebro e causa uma série de problemas no dia a dia do paciente. Falta de informação ainda é a maior inimiga das famílias que lutam contra a síndrome A Doença de Huntington é uma mutação genética que interfere nas habilidades cognitivas do paciente, provocando a demência ções características do mal de Huntington. E para surpresa de todos, segundo Edília, o resultado ficou além das expectativas: foi positivo para a doença em um número bem maior do que todos esperavam. Dos 14 irmãos, oito eram portadores. Cinco já morreram em decorrência da DH. Duas irmãs de Edília, gêmas, de 49 anos, estão em estado vegetativo e outra irmã de 64 também está doente. Outros membros da família, como sobrinhos, são portadores do gene relacionado à DH, que matou também o seu pai em 1974. Edília escapou da sentença de morte, mas sofre junto com a família toda e se desdobra com os demais parentes nos cuidados com as irmãs. “Os cuidadores sofrem muito, pois não podem sucumbir ao cansaço e à tristeza de ver a degeneração de seus entes queridos”, observa Edília, que perdeu outras duas irmãs, suas parceiras no cuidados com os demais doentes, mas não por causa da Coreia. Quando a doença atinge essa fase intermediária, com o agravamento dos sintomas, a própria ABH recomenda que chegou a hora de começar a se pensar em planos para o futuro, a organizar documentos e finanças ou até preparar um testamento Uma morreu com apenas 46 anos. Teve um infarto na missa de sétimo dia de uma irmã vítima de Huntington. E outra, mais recentemente, a jornalista Maria Filomena Miranda de Abreu Gomes, morreu em 2007, aos 55 anos, de embolia pulmonar. Os familiares dos portadores de DH acreditam que quanto mais se divulgar a doença, mais possibilidade terá de se discutir o assunto e, num futuro, encontrar uma eventual cura. Neste sentido, a Upad apoiou o lançamento, recentemente, de duas publicações sobre Huntington, as primeiras em português. Uma com depoimentos sobre os grandes dilemas e as experiências de quem já teve a certeza de ser o portador do gene alterado e também de quem não sabe se é ou não portador do gene defeituoso. O outro livro é um Guia para Famílias e Profissionais de Saúde e sintetiza as informações atuais sobre DH, anunciado como o primeiro guia brasileiro a abordar o tema com profundidade. Ainda como forma de divulgação, um congresso internacional sobre Huntington já é realizado de dois em dois anos. O último foi em Vancouver (Canadá). A estimativa da ABH é que no Brasil exista algo em torno de 19 mil portadores do gene mutante e de 65 mil a 95 mil pessoas em risco para a DH. A doença não é assim tão rara, mas é desconhecida e gera um preconceito que começa na própria família. Segundo Edília, as pessoas têm medo de, ao serem rotuladas como doentes de Huntington, perderam seus empregos ou as oportunidades. Como não existe cura, os pacientes são tratados paliativamente, com remédios que visam combater os sintomas que vão surgindo, como depressão, seguida de irritabilidade, que surgem no estágio inicial e são potencializados em quem já tinha um temperamento irritadiço. Depois vêm as alterações na coordenação, quando aparecem os movimentos involuntários e a dificuldade de concentração e as alterações emocionais. Nesse caso são ministrados antidepressivos ou, se for o caso, remédios para esquizofrenia, calmantes. Existe hoje no mercado a tetrabenazina, que ameniza os movimentos involuntários e torna menos intensas as contrações sustentadas, mas não pára com a morte dos neurônios. “Por isso nós, os familiares, temos que mostrar a 9 O DISTRITAL | TERÇA-FEIRA | 27 de outubro a 2 de novembro de 2009 MATÉRIAS ESPECIAIS “ Parecia uma festa: coletouse o sangue de cerca de trinta pessoas...Pensei em escrever uma carta ao laboratório, porque achei terrível a maneira como nos enviou os resultados, mas nem isso tive condições de fazer. Será que em nenhum momento pensaram o quanto um pedaço de papel com poucas e frias palavras pode mudar o destino das pessoas? Minhas irmãs que tiveram acesso ao resultado começaram a piorar sensivelmente. Depois dessa catástrofe, um dos diretores do laboratório veio a Brasília tentar reparar o mal causado, mas nada que fizesse iria parar de sangrar a nossa ferida ou amenizar o nosso sofrimento. Relato de Edília Miranda Paz para o livro “Relatos e Depoimentos” ” cara, pois temos que motivar as discussões sobre a doença com vistas à cura”, salienta Edília. Quando a doença atinge essa fase intermediária, com o agravamento dos sintomas, a própria ABH recomenda que chegou a hora de começar a se pensar em planos para o futuro, a organizar documentos e finanças ou até preparar um testamento. Devido à desorientação e à falta de habilidade de pensamento, alguns pacientes começam a utilizar etiquetas para organizar gavetas, por exemplo, e a anotar compromissos e eventos. Depois, as coisas começam a ficar mais complicadas. Acentuam-se os movimentos involuntários, o andar pode ficar cambaleante e passa até a impressão de embriaguez. Já houve caso de o doente ser confundido com uma pessoa bêbada. Por isso é recomendável que ela porte sempre um laudo sobre a doença. As alterações começam a afetar a fala e a deglutição. Depender de outras pessoas torna-se cada diz mais obrigatório e a morte acontece cerca de 15 a 20 anos após o surgimento da doença. O detalhe é que o óbito não chega por causa da doença propriamente dita, mas em decorrência de complicações como engasgo, infecções ou traumatismos. Como o raciocínio lógico fica prejudicado, a preocupação dos portadores de DH é com o emprego. Muitas vezes as condições não permitem mantê-lo. Por isso muita gente com casos na família prefere o silêncio e então surge a dúvida para quem ainda não sabe se é portador: fazer ou não o exame, ou viver com a dúvida. Sem um preparo psicológico não é recomendável que o teste seja feito, pois a pessoa pode não saber lidar bem com um possível resultado positivo. É recomendável, antes do teste, que o possível paciente passe por sessões com psicólogos e por aconselhamento genético e exame neurológico, onde serão abordadas as implicações da doença. O exame neurológico vai determinar quaisquer sintomas iniciais, quando a pessoa poderá optar por não dar prosseguimento ao teste genético. No entanto, mesmo diante de um resultado positivo, a pessoas podem ficar saudáveis por muito tempo. CURIOSIDADE Huntington era o sobrenome do médico que descreveu a doença em 1872. George Huntington, americano, a chamou também de Coreia Hereditária ou Coreia de Huntington, ou ainda, doença de São Guido. Coreia é uma alusão à palavra grega que designa dança, isto por causa dos movimentos involuntários gerados pela falta de coordenação provocada pela doença e que afetam braços, pernas e até o rosto, com tiques e caretas. O gene causador da DH foi detectado em 1993, após incessantes estudos científicos, quando então começaram a avançar as pesquisas e os tratamentos com vistas a minimizar os impactos dos sintomas, tanto no aspecto mental quanto motor. A CÂMARA LEGISLATIVA CRIOU A NOTA LEGAL. E muitas outra outras coisas legais, dignas de nota. Muita gente ainda não sabe, mas ma o trabalho da Câmara Legislativa do Distrito Federal vai muito além de aprovar leis e projeto projetos enviados pelo GDF. A Câmara Legislativa é produtora de ideias, que são lapidadas até que sse transformem em benefícios para a população. Por exemplo, a Nota Legal, que nasceu na Câmara. C Pedindo a Nota Legal, você ganha descontos no seu IPVA e IPTU. E todo mundo sai ganhando: o GDF, que combate a sonegação; os lojistas, pelo atrativo extra que passa passam a oferecer aos seus clientes; e a população, beneficiada pelas obras e melhorias que os recursos arrecadados irão gerar. E existem muitos outros projetos legais, d dignos de nota, criados pela Câmara Legislativa. É o caso do Cheque Moradia e do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, que assim como tan tantos outros projetos demonstram o quanto a Câmara está atenta às suas necessidades. E ilustram, muito bem, o trabalho dos deputados que você elegeu. w w w. c l . d f . g o v. b r Com você por uma cidade melhor. !"#$# &'()*+#,)-#