Rosas de minha vida C omo o fazem os poetas, e sem ser um deles, desde muito busco encontrar rosas adultas nos jardins da minha vida. Não me ocorreu até então a sorte, deparo sempre com os espinhos da incompreensão do meu modo de ser. Pessoas às quais me dedico buscam em mim o ter e não vêem o ser. Ligam-se à minha existência e não enxergam a minha essência. Desconsolo-me deveras, pois sei que a vida não é ter, mas ser: nós primeiramente somos; nada temos além da ilusão materialista. Não fosse assim, como viveriam os que não têm? Afinal, representam a estupendamente grande massa que compõe a humanidade, ontem, hoje, e amanhã. Insistir em ser, e receber cobranças de quem apenas tem, é de doer. Pois quem só visa ao ter não é absolutamente nada; vivencia o egoísmo e seus efeitos colaterais: a inveja, a cobiça, o despeito, o ódio etc. Ah, é difícil viver assim! Como suportar conviver com pessoas consumistas, vaidosas e indiferentes? O remédio que antevejo tardiamente é o isolamento de tudo e todos em beirada de praia distante. Seria um meio de vivenciar o meu ser ante o cosmo maravilhoso do qual fazemos parte efemeramente, embora sejamos eternos. Sim, somos feitos de pó e a ele tornaremos. Somos átomos num cosmo em que tudo é átomo compondo massa e energia. Somos pó de estrela, e como tal viajamos o antes, o agora e o depois apenas transformados sabe-se lá em quê. Pensamos, é verdade, ou cremos que o seja. Porém, pensando ou não, cumprimos nosso determinismo tal e qual o animal, o vegetal e o mineral: todos se tornam pó no escorrer do tempo. Se carbonizados, tornamo-nos carvão tanto como o animal e o vegetal. Somos então diferentes em quê?... Eis a importância da arte, que não se liga a nenhum ter, mas ao ser em sua concepção mais sublime. Não fosse a arte, seríamos animais destruidores de nós mesmos, meros fazedores de armas e mentores de mecanismos destinados à opressão pela força. Sem a arte não sentiríamos nenhuma rosa, a não ser a de Hiroshima... Busco, sim, encontrar as minhas rosas, que são infinitas e inesgotáveis construtoras de poesia. Elas inspiraram poetas e trovadores, cientistas e escritores e animam as gentes simples que as cultivam em variedade mundo afora. Não há uma só rosa que seja feia. Todas são lindas em suas cores e feitios. Se os canteiros do mundo fossem somente de rosas, as demais flores poderiam ser dispensadas. Bastam as rosas, somente a rosas e nada mais... Tantas vezes eu sonhei Ter duas rosas pra mim Uma só em minha vida E outra no meu jardim. Rosas duplas, encantadas Do jeito que a gente quer Uma ao chão me despertando Confundindo a sua essência Com seu perfume, mulher. www.emirlarangeira.com.br 2