CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO Marta Maria Pasquali Mancini Escrita e oralidade da Língua Portuguesa nos bancos da Academia - Um estudo de caso dos grupos de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino Americana 2012 CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO Marta Maria Pasquali Mancini Escrita e oralidade da Língua Portuguesa nos bancos da Academia - Um estudo de caso dos grupos de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação à Comissão Julgadora do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL - sob a orientação da Profª. Drª. Renata Sieiro Fernandes. Americana 2012 FICHA CATALOGRÁFICA M237e Mancini, Marta Maria Pasquali Escrita e Oralidade da Língua Portuguesa nos bancos da Academia – Um estudo de caso dos grupos de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino / Marta Maria Pasquali Mancini. – Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2012. 160 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro Universitário Salesiano - UNISAL – SP. Orientadora: Profª Drª Renata Sieiro Fernandes. Inclui Bibliografia 1.Pedagogia. 2. Língua Portuguesa; 3. Ortografia; 4. Leitura; 5. Ensino Superior. I.Centro Universitário Salesiano de São Paulo. II. Título. CDD – 401.4 Catalogação elaborada por Carla C. do Valle Faganelli – CRB- 104/2012 Bibliotecária - UNISAL – Unidade de Ensino de Americana. Marta Maria Pasquali Mancini Escrita e oralidade da Língua Portuguesa nos bancos da Academia - Um estudo de caso dos grupos de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação no Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL. Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em 13/12/2012 pela comissão julgadora: Banca examinadora Profª Drª: Regiane Aparecida Rossi Hilkner Instituição: Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL Assinatura: _______________________________________________________ Prof. Dr.: Antonio Carlos Miranda Instituição: Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL Assinatura: _______________________________________________________ Profª.Drª.: Renata Sieiro Fernandes (Orientadora) Instituição: Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL Assinatura: _______________________________________________________ Americana 2012 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, exemplos de força e afeição, bases da minha educação, que semearam, acompanharam com atenção e carinho meu crescimento pessoal e profissional. Ao meu marido, companheiro de muitos anos, de muitas lutas, de muitas alegrias e vitórias, pai das minhas maravilhosas filhas, Mariana e Marina, pessoas mais importantes da minha vida. Agradeço por entenderem e suportarem minhas ausências e, sobretudo por confiarem em meu potencial para que atingisse esta conquista. A vocês, o meu mais puro e verdadeiro amor acompanhado do meu eterno agradecimento. Aos mestres que souberam ensinar e guiar-me no sentido correto, para que esse crescimento fosse atingido. Àqueles que nos inspiram e nos estimulam no sentido de darmos continuidade na caminhada acadêmica. “Determinação, coragem e autoconfiança são fatores decisivos para o sucesso. Se estamos possuídos por uma inabalável determinação conseguiremos superar os obstáculos. Independentemente das circunstâncias, devemos ser sempre humildes, recatados e despidos de orgulho.” (Dalai Lama) AGRADECIMENTOS Agradecimento primordial não poderia deixar de ser Àquele, que me permitiu sonhar de uma forma que alargasse meus horizontes. Sonhei, busquei e conquistei, mas antes, o sonho foi plantado em mim. Obrigado ao Deus que o semeou. Ao meu marido, José Luiz, que esteve ao meu lado nos momentos em que chorei e nos momentos em que sorri; nas horas em que me lamentei e nas horas em que, de uma forma ou de outra, demonstrei total alegria. Obrigado pelo sorriso diário, sem mágoas nem rancores, pelo peito aberto e pela alma explosiva. Você fez, faz e fará sempre parte da minha história! Às minhas queridas e muito amadas filhas Mariana e Marina, agradeço registrando que a maior das vitórias é quando podemos compartilhar a maior das conquistas. As conquistas mais importantes são aquelas que semeamos e colhemos juntas. Vocês se fizeram sempre presentes durante esta trajetória. A um grande homem que certamente orgulhoso ficaria neste momento se aqui estivesse. Pai, agradeço a você por tudo que sou hoje. Se eu sei o que é ser uma pessoa independente, de caráter e de personalidade, foi porque você me fez assim. À minha mãe, Carmem, sempre disposta a acender uma vela para o meu Anjo da Guarda para que me iluminasse e tranquilizasse durante esta jornada, constante incentivadora, com palavras de conforto para que eu não desistisse deste projeto. À Professora Renata Sieiro Fernandes, orientadora desta minha pesquisa, pela atenção, gentileza, apoio, otimismo, paciência e tantos outros adjetivos demonstrados no decorrer da elaboração deste trabalho. A ela que, através de seus questionamentos e, como pesquisadora, me ajudou a definir os caminhos desta pesquisa, minha eterna gratidão por dividir seus conhecimentos. À Professora Regiane Aparecida Rossi Hilkner que acompanha minha caminhada acadêmica há quase uma década, e que soube me transmitir que, para ser uma boa educadora é preciso ensinar muito mais que teorias, é preciso, sobretudo, colocar nas mãos de quem se ensina, ferramentas para que possam abrir novas portas, rumo à satisfação dos ideais humanos e profissionais. Ao Professor Doutor Antonio Carlos Miranda, com o qual convivi pouco tempo, mas que prontamente aceitou ao convite para compor minha “banca examinadora”. A ele, minha profunda admiração pelo exemplo de educação e ética. Aos colegas do Programa de Mestrado, pelos momentos alegres que usufruímos durante os intervalos, os cafezinhos improvisados e pela parceria durante a apresentação dos seminários. A Vaníria Felippe e Raquel Lacava, secretárias do Programa de Mestrado e do Curso de Pedagogia, respectivamente, que estiveram sempre presentes para me auxiliar no que necessário fosse. Mesmo que a palavra obrigada signifique muito, não expressa por inteiro o quanto seus gestos atenciosos e delicados foram importantes para mim. Às alunas do curso de Pedagogia, por colaborarem com o desenrolar deste trabalho, respondendo ao questionário prontamente. Enfim, a todas aquelas pessoas que, de alguma forma, contribuíram ou estiveram presentes durante esta minha trajetória, obrigada por acreditar em mim, quando eu achei difícil acreditar em mim mesma. “Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa.” (Fernando Pessoa) RESUMO O presente trabalho tem por objetivo apresentar a pesquisa de mestrado desenvolvida no Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL – Unidade de Ensino localizada em Americana/SP no que se refere ao processo de escrita do texto acadêmico uma vez que, ao término do curso de Pedagogia, supõe-se que os formandos estejam aptos a escreverem, bem como interagirem com a palavra para a produção escrita de forma adequada, visto que se trata de futuros educadores. Entretanto, o cenário evidenciado é variado, pois os sujeitos deixam a Universidade compondo textos carregados de diversos desvios no que concerne à língua-padrão. Esse querer entender o motivo que acarreta esses resultados foi o que motivou a minha pesquisa. Para elucidar tais questionamentos, foram utilizados como dados potenciais a análise de elementos dissertativos em uma amostra de 35 textos produzidos individualmente pelos estudantes universitários cursando o último semestre correspondente ao ano de 2011, do curso de Pedagogia em uma Instituição Particular de Ensino localizada na cidade de Americana-SP. Foram analisados também, questionários contendo algumas relações com o perfil socioeconômico, hábitos de leitura e gêneros literários dos sujeitos pesquisados. Inferiu-se, nos estudos realizados que um elevado número de formandos conclui o curso universitário com deficiências linguísticas relevantes e consequentemente, apenas um tímido grupo de estudantes completam o ensino universitário com apropriação das ferramentas culturais no que se refere à escrita da língua-materna. Ficou demonstrado que, inexistem em grande parte dos estudantes universitários, habilidades para articular, organizar e selecionar elementos necessários para realizar uma escrita compatível com o nível acadêmico. Observou-se, entretanto também que, neste mesmo grupo de estudantes, porém em um percentual reduzido, possui consciência de suas dificuldades no que se refere à ortografia, desenvolvimento e leitura de textos acadêmicos. Os resultados citados foram apresentados em percentual. A metodologia escolhida e utilizada para esta pesquisa foi a bibliográfica, ocasião em que percorremos pelo campo teórico da conceituação e contextualização, com enfoque qualitativo e quantitativo (quali-quanti) perpassando pelo uso de dados quantitativos (informações em termos de amostragem) e das análises qualitativas, que compreendem a parte exploratória, descritiva e explicativa. Palavras-Chave: Pedagogia; Língua Portuguesa; Ortografia; Leitura; Ensino Superior. ABSTRACT This paper aims to present the master research developed at Salesian University Center of São Paulo – UNISAL - located in Americana / SP with regard to the process of writing academic text, since, by the end of the Pedagogy course, it is assumed that graduates are able to write as well as interact with the written words on text productions, since they are becoming educators. However, the researched scenario is varied, since many students are leaving the University producing texts that presents language usage that deflects from formal language. The wish to understand the role of this deviation was the motivation of this research. To elucidate these questions, were used, as potential data, textual elements in a sample of 35 texts produced individually by the students enrolled in last semester of 2011 at the Faculty of Education on a Private Institution of Education located at Americana-SP. It was also examined, questionnaires pointing some relations with the socioeconomic profile, reading habits and preferred literary genres of the studied subjects. On this research, it was inferred that a large number of those students graduates with relevant linguistic deficiencies and consequently only a timid group of students complete university education with the appropriation of cultural tools with regard to writing in native language. This study showed that none of the university students has sufficient ability to articulate, organize and select elements required to produce academic texts compatible with academic level. However, it was noticed that the students were aware about this gap, with regard to spelling, reading and development of academic papers. The results were presented statistically. The methodology chosen and used for this research was the literature, going through theoretical conceptualization and contextualization, and quantitative with qualitative approach (quali-quanti) using qualitative data (information by sampling) and qualitative analysis, subdivided in exploratory, descriptive and explanatory parts of this paper. Keywords: Pedagogy, Portuguese Language, Orthography, Reading; Higher Education. LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 Estado civil..................................................................................105 GRÁFICO 2 Idade...........................................................................................106 GRÁFICO 3 Atua na área da educação..........................................................106 GRÁFICO 4 Horas trabalhadas/dia.................................................................106 GRÁFICO 5 Remuneração variável................................................................107 GRÁFICO 6 Tipo de ensino.............................................................................107 GRÁFICO 7 Curso preparatório de vestibular.................................................107 GRÁFICO 8 Bolsas de estudos.......................................................................108 GRÁFICO 9 Desconto em bolsa de estudos...................................................108 GRÁFICO 10 Hábito de leitura........................................................................108 GRÁFICO 11 Tipo de escrita...........................................................................109 GRÁFICO 12 Dificuldades...............................................................................109 GRÁFICO 13 Classificação da oralidade.......................................................109 GRÁFICO 14 Dificuldades encontradas.........................................................125 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Dados socioeconômicos...............................................................112 TABELA 2 Conclusão do ensino período pré-universidade............................113 TABELA 3 Leitura e escrita.............................................................................113 TABELA 4 Classificação escrita, gramática e oralidade.................................113 TABELA 5 Dificuldades ortográficas...............................................................124 SUMÁRIO Introdução 1. Construindo e introduzindo os pensamentos .............................. 15 2. A Ortografia e suas Reformas ..................................................... 19 2.1. Pesquisa bibliográfica ............................................................ 42 2.2. Construção e coleta de dado ................................................. 42 1. Capítulo I 1.1. A educação e os seus conceitos ........................................... 45 Dialogando entre as “educações” formal, informal e não formal ............................................................................. 52 1.2. A oralidade e a língua escrita ................................................ 64 2. Capítulo II 2.1. A tecnologia nas “educações” e o aprendizado da Língua-mãe ........................................................................... 76 2.2. Afinal, o que é essa tal de ortografia? ................................... 83 2.3. A ortografia e o regionalismo ................................................. 86 2.4. O papel da memorização....................................................... 89 2.5. A leitura e suas indagações................................................... 93 2.5.1. Seria a leitura apenas uma ação? .................................... 93 2.5.2. Concepções de leitura ...................................................... 95 3. Capítulo III 3.1. Metodologia ............................................................................ 100 3.1.1. Elementos dissertativos................................................... 100 3.1.2. Sujeitos da pesquisa ....................................................... 104 3.1.3. Perfil dos sujeitos pesquisados ....................................... 105 3.1.4. Grupo das estudantes ..................................................... 105 3.1.5. Textos reflexivos ............................................................. 118 3.1.6. Análise de dados ............................................................. 122 Considerações Finais ..................................................................................... 134 Referências Bibliográficas .............................................................................. 142 ANEXOS Anexo 1: Estatuto da Criança e do Adolescente Anexo 2: Lei n° 9394 de 20 de dezembro de 1996 Anexo 3: Assinatura Acordo Ortográfico Anexo 4: O Questionário INTRODUÇÃO 1. CONSTRUINDO E INTRODUZINDO OS PENSAMENTOS “Você aprenderá lições. Você está matriculado numa escola informal de período integral chamada vida. A cada dia nesta escola, terá a oportunidade de aprender lições. Você poderá gostar dessas lições ou considerá-las irrelevante.” (Autor Desconhecido) Opto por introduzir minha dissertação de mestrado discorrendo sobre conceitos significativos abordados pelo autor Peter Burke em seu texto “Oralidade nos bancos da academia”, os quais interagem com o tema por mim pesquisado. Embora o ensino universitário, geralmente, esteja associado à leitura e ao ato de escrever em seus variados estilos – entenda-se aqui de forma manuscrita ou digitalizada – a oralidade é também bastante relevante, visto que, é por meio deste tipo de comunicação, que as informações são transmitidas e que se constituem as vinculações humanas, ou seja, que a cultura e a sociabilidade se caracterizam. Delineando o ambiente universitário e referenciando o gênero oral, o mesmo se encontra presente nas “Aulas Expositivas”, nos “Seminários”, nos “Grupos de Estudos”, nas “Palestras”, nos “Congressos” e em todos os “Encontros” onde ocorre a interação entre os sujeitos. Para melhor argumentação, interessante ressaltar que, foi apenas no decorrer do século XIX, que surgiram as variações dos gêneros orais praticados em locais acadêmicos e dentre eles, podemos citar, o Seminário 1, o 1 Seminário pode-se ser definido como um círculo ou grupo de estudos em que se debatem problemas científicos ou matérias expostas por seus participantes. 15 qual se originou na Alemanha, o Congresso Internacional 2, a pequena Conferência3 que veio para superar a falta de comunicação oriunda dos grandes Congressos, a Sessão Cartaz4, e o Tutorial, neste contexto entendido como sendo o encontro de alunos, em ambiente confortável, com o intuito de discutirem temas associados à escrita de pequenas dissertações. Burke (2011) analisa esses diferentes gêneros orais e assinala uma relação com o desempenho: ... a frequência na qual os trabalhadores em um laboratório ou os participantes de uma Conferência distinguem entre ocasiões formais e informais, o aprendizado é maior a partir de conversas casuais e espontâneas travadas nos corredores ou durante o cafezinho. Também faz a distinção entre a palestra mais hierárquica, com o orador em pé em uma tribuna, e os seminários mais igualitários, com mais espaço para o debate (s/p). Afora os gêneros anteriormente citados, não posso deixar de discorrer, mesmo que sucintamente, sobre o Discurso5, em que o palestrante necessariamente precisa ficar atento e focado ao tema, objeto de sua fala, atento ao fator tempo que lhe fora disponibilizado, tonalidade de sua voz, atenção e interesse do público, acomodação dos convidados e, finalizando, momento que propiciará para questionamento da plateia. Desta forma e considerando que todos são protagonistas dos processos de comunicação, a linguagem falada é o veículo linguístico de comunicação usado em situações naturais de interação social, sendo que, cada modalidade da língua tem seu conjunto de normas às quais os seus usuários devem adaptar-se e os estudantes precisam conhecer esses padrões para ajustar-se a eles. 2 Congresso é uma reunião de pessoas com interesses em comum; consiste na apresentação de um projeto ou de uma proposta de trabalho. 3 Conferência é um discurso, ou uma apresentação, em público sobre algum tema concreto. 4 Cartaz é um suporte, normalmente em papel, afixado de forma que seja visível em locais públicos. Sua função principal é a de divulgar uma informação visualmente. 5 Discurso, neste contexto, possui o significado de: exposição metódica sobre certo assunto; um conjunto de ideias organizadas por meio da linguagem de forma a influir no raciocínio, ou quando menos, nos sentimentos do ouvinte ou leitor. 16 De acordo Marcuschi (1997): A questão não é falar certo ou errado e sim saber que forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo considerando a quem e por que se diz determinada coisa (s/p). A relação existente entre os aspectos da fala com a escrita pode mostrar as diversas possibilidades de expressão. Neste sentido, este trabalho de pesquisa está elaborado com o propósito de analisar as circunstâncias que se referem aos usos da escrita e da oralidade por parte de estudantes universitários de um grupo de Pedagogia, mais especificamente do último semestre de 2011 do curso de uma Instituição particular de ensino superior localizada no interior do estado de São Paulo, os quais serão futuros professores de crianças, jovens ou adultos, portanto, são formados para serem formadores de sujeitos. O objetivo deste trabalho é o de pesquisar especificamente o que segue abaixo relacionado: • Perceber se os estudantes da graduação possuem habilidades para realizar uma escrita compatível com o nível acadêmico; • Refletir sobre os motivos pelos quais alunos de nível universitário apresentam dificuldades ortográficas, de leitura e na produção de textos acadêmicos; • Perceber se estes mesmos alunos possuem consciência de suas dificuldades ou, no caso inverso, se sabem demonstrar suas habilidades; • Perceber como a oralidade se articula com a escrita – nos acertos e nos usos tidos como incorretos com a língua-padrão. Foi ponderando sobre essas questões associado ao meu ingresso no Programa de Mestrado em Educação no ano de 2010, que surgiu o interesse pelo tema objeto deste estudo. Importante salientar que, concomitantemente neste período, passávamos pelo processo de adequação da Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa, a qual foi instituída em 2009. 17 Traçando um recorte, que neste momento se faz necessário para contextualização e posterior seguimento de meus escritos, com o advento da Reforma Ortográfica, como educadora, preocupada com a aprendizagem humana e por ser uma entusiasta da língua portuguesa, busquei cursos de extensão e aprimoramento sobre este tema. Em decorrência desta atualização e na sequência, convites foram realizados por Escolas e Universidades, para que eu apresentasse palestras e/ou minicursos sobre o tema, o que contribuiu significativamente para assimilação e consequentemente, para o meu desenvolvimento profissional. Retomando o objeto de minha pesquisa, é com a experiência adquirida durante os cursos oferecidos, que percebo o quão estava crítica a escrita dos estudantes de graduação, independentemente do curso, da área – se pertencente a exatas ou humanas - ou ainda do semestre que estava sendo cursado pelos universitários. Compreendo ainda que, as dificuldades com a escrita, estão muito além do apenas 0,5% (meio por cento) das modificações ocorridas nas palavras do português do Brasil com a Reforma Ortográfica. De acordo com minhas percepções, os graduandos deixam, a cada encontro, rastros que demonstram claramente as dificuldades que tem internalizadas no que se referem a regras básicas de nossa gramática, sendo elas de acentuação, separação silábica ou até mesmo da simples acepção das palavras que, para muitos, toda essa mistura tratava-se de um conteúdo da tão temida “fada má” que recebeu o nome de Reforma Ortográfica e, justamente por ser má, impossibilitava ou bloqueava ou dificultava a aprendizagem. Constatei também, por meio de minhas observações, que as oportunidades de convívio com a escrita impressa, na família ou na escola, as características das correspondências letra-som que cada pessoa adquire e a frequência de uso das palavras, influenciam fortemente sobre o rendimento ortográfico e a oralidade de indivíduos pertencentes a diferentes grupos sociais. 18 2. A ORTOGRAFIA E SUAS REFORMAS A língua portuguesa manteve até o início do século XX uma pluralidade de grafias não padronizadas, por regra, inspiradas na etimologia 6. Igualmente, neste mesmo século, mais especificamente no ano de 1931, foi aprovado também, o primeiro Acordo Ortográfico entre Brasil e Portugal, com o intuito de unificação e simplificação da língua portuguesa, todavia ele não foi posto em prática de imediato. Tecendo uma cronologia sobre esta história, observa-se que várias tentativas foram realizadas com o objetivo de facilitar a escrita entre os países lusófonos7. 6 Parte da gramática que trata da história ou origem das palavras e da explicação do significado de palavras através da análise dos elementos que as constituem. Por outras palavras, é o estudo da composição dos vocábulos e das regras de sua evolução histórica. 7 Lusofonia é o conjunto de identidades culturais existentes em países falantes da língua portuguesa como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e por diversas pessoas e comunidades em todo o mundo. Portanto, lusófono significa "da língua portuguesa" ou "de língua portuguesa". 19 CRONOLOGIA ACORDO ORTOGRÁFICO 1931 Aprova-se, nesse ano, o primeiro Acordo Ortográfico entre Brasil e Portugal; 1943 Após a primeira Convenção Ortográfica entre Brasil e Portugal, propõe-se o Formulário Ortográfico de 1943; 1945 O Acordo Ortográfico proposto em 1943 torna-se lei em Portugal, mas o Brasil não confirma esse Acordo e permanece no país a ortografia anterior; 1971 O Brasil efetua a proposta de alterações para reduzir as diferenças entre a ortografia brasileira e a portuguesa; 1973 Assim como o Brasil, Portugal também propõe alterações para a redução das divergências entre as ortografias dos dois países; 1986 Por iniciativa do então presidente José Sarney, promove-se um encontro dos sete países de língua portuguesa, na cidade do Rio de Janeiro, ocasião em que foi apresentado um Memorando sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Até aquele ano TimorLeste não era um território independente; 1990 Academia das Ciências de Lisboa promove um encontro para a elaboração do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que entraria em vigor no dia 1° de janeiro de 1994 e somente após a confirmação de todos os países, junto ao governo português; 1996 Apenas três países confirmam o Acordo. São eles: Portugal, Brasil e Cabo Verde; 2004 Acontece uma reunião em Fortaleza, no Brasil, entre os Ministros da Educação das Comunidades dos Países da Língua Portuguesa (CPLP), para propor que o Acordo seja colocado em vigor, ainda que não haja a confirmação por parte de todos os países lusófonos; 2008 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e o presidente Cavaco Silva, de Portugal, assinam o Acordo, que passou a valer a partir de 1° de janeiro de 2009. Relevante evidenciar que essa retrospectiva se fez necessária em função de que, os estudos realizados nos textos disponibilizados pelos 20 estudantes universitários do curso de Pedagogia de uma Instituição particular de Ensino, um dos itens analisados e demonstrados nos gráficos e tabelas encontrados a posteriori, se referiu a recorrência da falta de aplicação das normas implantadas com a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa no ano de 2009, na escrita das palavras. Compreendo que a escola formal ainda é o melhor caminho para a aquisição do conhecimento, entretanto, é possível constatar que existe na área educacional, uma significativa desigualdade no que se refere a habilidades para articular, organizar e selecionar elementos necessários para realizar uma escrita compatível com o nível acadêmico, fato este que ocasionam profundas e, muitas vezes, duradouras consequências, difíceis de serem remediadas ou compensadas na idade adulta, afetando o objeto de minha pesquisa que é a linguagem oral e escrita. Existem ainda, nos dias atuais, estudantes da graduação que se utilizam da língua de acordo com a norma culta, o que acaba por influir na formação do leitor acadêmico (na expressão da percepção de mundo, no desenvolvimento do pensamento crítico, questionamentos e interpretação dos textos lidos). Neste mesmo contexto, o tema leitura é para mim instigante, considerando que a baixa frequência de uso, ou a falta desta é utilizada como justificativa para o elevado índice de estudantes universitários que apresentam dificuldades em seu uso e em consequência, no domínio básico da norma culta da língua escrita, o que implica em um repertório empobrecido que por si só dificulta e atrapalha o diálogo crítico-argumentativo. Retomando, a forma correta das palavras é sempre uma convenção, com fundamentação definida socialmente. Assim sendo, nos textos do início do século XX, encontrávamos palavras grafadas “pharmácia”, “rhinoceronte”, “archeologia”, da seguinte “thermômetro”, maneira: “commércio”, “encyclopédia”, entre outras. Algumas Reformas Ortográficas alteraram as formas de escrita dessas palavras, aproximando-as à transcrição fonética8. Com isso, podemos comprovar que a alteração das palavras supracitadas, aproximou a oralidade da escrita, trazendo benefícios para o 8 Transcrição fonética: representação gráfica dos sons da língua. 21 universo dos escritores. Observe: “farmácia”, “rinoceronte”, “arqueologia”, “termômetro”, “comércio”, “enciclopédia”. Por tratar-se de uma convenção social, as pessoas em geral, precisam de assistência para que possam descobrir o conhecimento ortográfico. Em se tratando de criança, quando compreende a escrita alfabética e consegue ler e escrever seus primeiros textos, supõe-se que ela já apreendeu o funcionamento do sistema de escrita alfabética, mas ainda desconhece a norma ortográfica. De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) que se baseiam no pensamento de Piaget: A concepção de aprendizagem (entendida como processo de obtenção do conhecimento) inerente à psicologia genética supõe, necessariamente, que existam processos de aprendizagem do sujeito que não dependem dos métodos (processos que, poderíamos dizer, passam “através” dos métodos). O método (enquanto ação específica do meio) pode ajudar ou frear; facilitar ou dificultar; porém, não pode criar aprendizagem. A obtenção de conhecimento é um resultado da própria atividade do sujeito (p. 31-32). Ainda de acordo com as autoras, nenhuma aprendizagem conhece um ponto de partida absoluto, uma vez que não há semelhança entre os objetos apresentados. Por assim ser, o ponto de partida de toda a aprendizagem é o próprio sujeito, cada um com suas especificidades, e não o conteúdo que está sendo abordado. Perpassando este pensamento e relacionando o sujeito com a teoria de Piaget, a mesma permite a introdução da escrita como objeto do conhecimento, e o sujeito da aprendizagem, como sujeito cognoscente9. Na teoria de Jean Piaget, é o sujeito quem deve ser colocado no centro do processo e não o método, ou quem o aplica. 9 Sujeito cognoscente: Também chamado de sujeito do conhecimento, o conceito diz respeito às estruturas mentais comuns a todos os seres humanos, que conferem a possibilidade de aprender fazendo relações entre diferentes informações (classificação, comparação, dedução etc.). Tais estruturas se desenvolvem do início ao fim da vida por meio da ação dos indivíduos sobre o meio, num processo de interação com o objeto de conhecimento e com as outras pessoas, o que possibilita a construção de níveis de saber cada vez mais complexos (REVISTA NOVA ESCOLA, 2010). 22 Piaget mostra com seus trabalhos que, um indivíduo não precisa de métodos, instruções e atividades mecânicas de reprodução, mas sim, de apoio para que construa o seu pensamento lógico. Neste sentido, Kamii, Constance coloca que: “Piaget é um interacionistarelativista que acredita na construção do conhecimento pela indissociável interação entre a experiência sensorial e o raciocínio” (1991, p.11). Desta forma, um sujeito ativo intelectualmente é aquele que experimenta, compara, exclui, categoriza, reformula hipóteses e concilia pensamento e ação. Um sujeito independente que compreende e se torna um criador do conhecimento. Ferreiro e Teberosky em seu livro Psicogênese da língua escrita (1979) demonstraram que as crianças formulam uma série de ideias próprias sobre a escrita alfabética, enquanto aprendem a ler e a escrever. Se, considerarmos que a escrita não é um código, mas um sistema notacional, de representações, as autoras referenciadas observaram que o aprendiz, no processo de apropriação do sistema de escrita alfabética, formula respostas no que se refere à significação da escrita das palavras relacionandoa simultaneamente com a aquisição das notações. Neste sentido baseando-se em Piaget e em artigo eletrônico publicado no SOS Pedagogia, Teberosky (2003), evidencia: As crianças, antes de poderem ler e escrever sozinhas formulam uma série de ideias próprias ou hipóteses, atribuindo aos símbolos da escrita alfabética significados bastante distintos dos que lhes transmitem os adultos que as alfabetizam. As hipóteses elaboradas pela criança seguem uma ordem de evolução em que, a princípio, não se estabelece uma relação entre as formas gráficas da escrita e os significantes das palavras (hipótese pré-silábica). Em seguida a criança constrói hipóteses de fonetização da escrita, inicialmente, relacionando os símbolos gráficos às sílabas orais das palavras (hipótese silábica) e finalmente compreende que as letras representam unidades menores que as sílabas: os fonemas da língua (hipótese alfabética). Entre esses dois momentos, haveria um período de transição (hipótese silábicoalfabética) (s/p). Esse aprimoramento conceitual acontece entre crianças das mais variadas classes sociais, e o ritmo do crescimento deste processo, em muitos 23 casos, pode estar associado ao contato que os aprendizes mantêm com a língua escrita no âmbito escolar e no meio em que esta é utilizada socialmente. Pertinente neste momento, retornar para o tema objeto desta pesquisa e para os estudantes universitários, público alvo desta pesquisa, especificamente para o momento em que surgiu a necessidade, por parte desses estudantes, em realizar os primeiros contatos com a Reforma Ortográfica, o momento em que houve o despertar do interesse pela atualização dessas normas e sua atualização, efetivamente. Nesse sentido, é imprescindível garantir que todo e qualquer autor ou escritor das “coisas do mundo”, vivencie oportunidades de registrar seus escritos de forma correta, deixando de lado a utopia de acreditar que as pessoas aprendem ortografia apenas com o tempo, sozinhos ou ainda por repetição da leitura. Enfim e parafraseando: Assim como não se espera que um indivíduo descubra sozinho as leis de trânsito – outro tipo de convenção social – não há por que esperar que nossos alunos descubram sozinhos a escrita correta das palavras (MORAIS, 2008, p. 23). O "novo" Acordo Ortográfico atrapalha a vida – e a escrita - de muitos. Atrapalha, no sentido de não termos a certeza de se pronunciar, na "norma culta", determinada consoante (óptimo10 ou ótimo?), atrapalha professores e os pais que lidam com crianças no ensino básico e cujos manuais e textos de apoio, em muitas vezes, encontram-se escritos de acordo com as duas grafias: a de 1945 e a de 1990, e por que não dizer que prejudica, também, professores de Ensino Médio e Universitários, perante seus alunos, que já detêm certo conhecimento das regras anteriormente adquiridas? Logo e por assim ser, fazê-los assimilar as novas regras em detrimento das já apreendidas, torna-se uma tarefa um tanto quanto maçante para o professor. Penso que seja conveniente ressaltar que, considerando a quantidade de verbetes existentes na língua portuguesa 11, um número inexpressivo das 10 O vocabulário ortográfico da língua portuguesa da Academia Brasileira de Letras (para toda a lusofonia, conforme o preconizado no ponto 4.4 do Anexo II do Acordo de 1990), óptimo figurará como variante legítima no universo da língua visto ser legal no Brasil. 11 No dicionário Aurélio está catalogado 435.000 verbetes. 24 palavras sofreram alterações12 em função da Reforma Ortográfica, o que me leva a crer que as mudanças foram superficiais. Desta forma, as dificuldades com o ato de escrever apresentadas pelos estudantes universitários deixam de estar associada unicamente a adequação ao Acordo Ortográfico. Pode-se supor assim, que a “Reforma” deixa de ser a grande vilã dos deslizes ortográficos cometidos pelos adultos, sujeitos nesta oportunidade referenciados. Assim, se as dificuldades existentes para os usuários da língua forem apenas ao que se refere à assimilação, não será difícil se apropriarem e colocarem em prática as novas regras. Decorre, porém que, alunos do ensino superior, revelam dificuldades bem mais abrangentes e graves na escrita analisada nesta pesquisa, do que as hesitações provocadas pelas novas regras ortográficas. É perceptível a dificuldade que encontram ao expor e desenvolver as ideias por escrito, assim como é tão complexo, para eles utilizar-se da acentuação e da pontuação, e como se confundem ao grafar “a”, “à”, “á”, “há”, no sentido de haver. Com isso, as alterações ocorridas com a Reforma Ortográfica, se torna um detalhe perante as dificuldades de expressão oral e escrita apresentadas. Ressalto ainda o feito de que existem alunos que me surpreenderam positivamente, que são excelência no ato de escrever e de se comunicar, que são referências perante a sala de aula, que são os requisitados e os exaltados tanto pela escrita quanto pela oralidade. Entretanto e para finalizar, os que apresentam e admitem dificuldades, demonstram ser um universo que está em ascendência, mas neste momento eu penso: antes não estivesse... Com esses dilemas e se pudéssemos optar, perguntaríamos: Acordo Ortográfico? Quem pediu que fosse instituído o Acordo Ortográfico? Seguindo este conceito, o aprendizado humano é de natureza social e integra o processo em que a criança desenvolve o seu intelecto na relação com aqueles que a cercam (Vygotsky, 1978). O autor mostra ainda que, uma das características primordiais do aprendizado é que ele desperta vários processos 12 0,5% (meio por cento) das palavras sofreram alterações com a Reforma Ortográfica. 25 internos de desenvolvimento, os quais agem apenas quando existem interação e ação da criança com seu meio de convívio social. Ainda de acordo com Vygotsky, a relação existente entre pensamento e linguagem não é estática, mas se modifica constantemente de acordo com sua interação social, sendo que uma ação interfere na outra e vice-versa. Observar o sujeito, neste contexto o aluno, como sendo um ser sóciohistórico-cultural exprime perceber o processo de aprendizado não apenas relacionado ao aprendente ou ao sujeito que não aprende, mas sim, associá-lo ao contexto cultural desse processo que envolve, entre outros aspectos, o professor e o aluno, possuidores de uma história cultural. Para Cenci (2009): Dizer que o ser humano é ser sócio-histórico é dizer que o ser só é humano se inserido num grupo cultural, que fornece os modos de comportamento humano. As características tipicamente humanas não surgem prontas no nascimento, isto é, o ser humano não nasce humano; nasce um ser biológico, estrutura biológica, que pela interação com um grupo cultural transforma o ser biológico em ser humano. Também as características humanas não são mero resultado das pressões do meio externo, pois a estrutura biológica do ser condiciona as possibilidades de ação. Assim, a análise se volta para a relação indivíduo/sociedade, pois as características tipicamente humanas resultam da interação dialética do homem com seu meio sociocultural (p. 36). Aproximando-me da visão vigotskyana, o aprendizado resulta em um processo continuado e permanente de construção do conhecimento. Ela se estabiliza na interação social e precisa, necessariamente, de mediadores. Sua matéria-prima é a produção social histórica. Nesse sentido, importante mencionar um aspecto particular da teoria de Vygotsky que se refere à área potencial de desenvolvimento cognitivo definido como sendo a distância que intercede o nível intelectual dos sujeitos, determinado pela sua capacidade atual de resolver problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado por meio das resoluções dos problemas sob a orientação de adultos ou com a colaboração de pares. Vygotsky esclarece ainda que, o desenvolvimento é fundamentado em um processo de aprendizado, o qual se utiliza das ferramentas intelectuais por 26 meio das interações sociais com outros mais experientes, sendo que uma dessas ferramentas é o uso da linguagem. Vygotsky afirma que o processo de desenvolvimento não coincide com o processo de aprendizado. Ocorre aqui, a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que trata dessas duas questões da Psicologia: 1. a avaliação das habilidades cognitivas – verifica o nível atual de desenvolvimento da criança e o nível em que poderiam alcançar, denominado como sendo “nível potencial de desenvolvimento”; 2. a avaliação das práticas de instrução – desperta as funções que estão em processo de maturação ou seja, na ZDP. Pelo acima exposto e ainda de acordo com Vygotsky, o aprendizado pode ser considerado como sendo um processo de natureza transacional, uma vez que envolve a instigação de uma determinada cultura, por meio da ação de pessoas mais experientes e provenientes desta mesma cultura. Retomando neste momento ao tema gerador deste trabalho, no Brasil, o Estado legisla sobre a nossa língua e como se não fosse suficiente, elabora leis sobre as palavras. Com base nas “leis” e, em conformidade com uma portaria do Ministério da Educação, os professores são obrigados a aplicar o novo Acordo Ortográfico a partir do ano letivo 2012, indiscutivelmente, pois é lei. Incongruente se torna, na minha acepção, elaborar e unificar o Acordo Ortográfico, passá-lo pelos trâmites jurídicos e políticos, investir nos manuais já escritos reformulando-os de acordo com as novas regras e enjeitarem ou julgarem menos importante, o fato de promover cursos de atualização para aqueles que possuem a escrita como instrumento de trabalho, sejam eles pertencentes à classe do professorado em geral, professores especialistas de português, jornalistas, linguistas e/ou pedagogos, o que caracteriza em um total contrassenso e descaso para com esses profissionais e para com a Educação. Esse desprezo pela atualização culmina em empobrecimento da língua e com isso podemos pensar: Só podem estar se divertindo com a Educação, com os professores, com os alunos, com os pais desses alunos, com toda uma comunidade. É possível considerar o ato como uma ingerência do Estado para com a população. A lei existe, a Reforma foi instituída, mas como está sendo disponibilizado o acesso para que esta “lei” seja cumprida na íntegra? 27 Na prática do trabalho do professor de Língua Portuguesa vemos que a adoção da Reforma Ortográfica foi um desastre quase que impensado. E a decepção com relação a isso advém, primeiramente em função do dinheiro público que foi literalmente dilapidado e na sequência, pelo fato de nos depararmos diariamente com livros didáticos imprecisos e confusos, bem como muitos textos, extraídos de sites eletrônicos, que são uma verdadeira afronta aos olhos dos educadores no que se refere à prática da Reforma Ortográfica. Sobre isso Pasquale Cipro Neto em entrevista ao Diário Liberdade, comenta: Vários livros não seguem o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras (ABL), que, por sua vez, não acompanha o acordo internacional assinado em 1990 pelos membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (2012). Nota-se também que infelizmente, muitos profissionais que se utilizam da escrita como instrumento principal de trabalho, acabam postergando, para momentos mais urgentes, sua própria atualização e com isso deixam de buscar cursos básicos que em muitas ocasiões podem ou até mesmo solucionam as dificuldades e as dúvidas existentes no que se refere à Reforma Ortográfica. Ainda no que se refere a esta abordagem, trago neste momento, um fragmento da entrevista concedia à Revista Nova Escola pelo educador Antonio Nóvoa (2001): Sabemos que a formação depende do trabalho de cada um. Sabemos também que mais importante do que formar é formarse; que todo o conhecimento é autoconhecimento e que toda a formação é autoformação. O aprender contínuo é essencial em nossa profissão. Só o profissional, pode ser responsável por sua formação. Não acredito nos grandes planos das estruturas oficiais. Esse é um processo pessoal incompatível com planos gerais centralizadores. É no espaço concreto de cada escola, em torno de problemas pedagógicos ou educativos reais, que se desenvolve a verdadeira formação. Universidades e especialistas externos são importantes no plano teórico e metodológico. Mas todo esse conhecimento só terá eficácia se o professor conseguir inseri-lo em sua dinâmica pessoal e articulá-lo com seu processo de desenvolvimento. A formação é algo que pertence ao próprio sujeito e se inscreve num processo de ser (nossas vidas e experiências, nosso passado 28 etc) e num processo de ir sendo - nossos projetos, nossa ideia de futuro (s/p). Em entrevista concedida ao Jornal Aventar, Nabais declara: ...deixo aqui uma palavra de pesar para a displicência com que a comunidade docente aceita muitas imposições: é especialmente grave que continue a não existir uma reflexão sobre o Acordo Ortográfico. Como tem acontecido em muitas outras ocasiões, os professores limitam-se a encolher os ombros e a dizer, com um desencanto sofrido: “Agora é para fazer assim…” (2012, s/p). Independentemente de um pequeno percentual das palavras terem sido reformuladas, estamos em um mundo moderno, em que a agilidade impera, e nos referindo à escrita, não poderia ser diferente. A comunicação via correio eletrônico está se tornando cada vez mais frequente e isso pôde ser avalizado nos questionários preenchidos pelos estudantes universitários no decorrer desta pesquisa. O envio de e-mails e conversas pelo MSN refletem o dinamismo e a rapidez com que as informações fluem. Com este advento, as pessoas têm se relacionado cada vez menos pessoalmente e consequentemente, empobrecido o vocabulário. Apesar de a comunicação ser habitual e permanente, precisamos refinála e ajustá-la às diversas situações por nós vivenciadas. Retoma-se neste momento, a importância de um vocabulário amplo e adequado para cada situação e, para isso, é necessário ler como hábito e com atenção. Entretanto, o acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), sobretudo no que se refere à internet, tornou-se imprescindível para o desenvolvimento da leitura e da escrita, vez que possibilita o acesso a uma infindável quantidade de informações. Fato é que, como em qualquer outro ambiente educativo, o usuário do mundo digital precisa desenvolver competências específicas que o possibilite a usufruir tais ferramentas. Em se tratando de leitura, é desejável que o leitor possua uma maior habilidade de antecipação do tema a ser pesquisado, cujo objetivo é facilitar a busca de informações, navegar de um link a outro para estabelecer relações entre vários textos e identificar fontes confiáveis entre as inúmeras disponibilizadas. 29 De acordo com o que foi publicado no Educarede da Fundação Telefônica em 2007: A leitura exploratória das imagens - fotografias, ilustrações, mapas, gráficos, tabelas, fórmulas matemáticas, esquemas, além das saliências gráficas como estilo, tamanho e cor da fonte e emprego de recursos como itálico, negrito é essencial para o leitor escolher o que ler em função de seus objetivos. (SÃO PAULO, 2006, p. 19-20). Tomando como base neste contexto os estudos de Lino de Macedo, trago os conceitos de competências e habilidades que sustentam a argumentação. Em função das transformações tecnológicas, sociais e culturais, vivemos em uma sociedade em que a informação é cada vez mais adquirida em uma velocidade quase que assombrosa. Entretanto, o enigma está em encontrar e interpretar essas informações de forma a solucionar nossos problemas ou saciar nossa curiosidade. Por outro lado, se surge a necessidade de escrevermos um texto no computador, o processador de textos que está disponibilizado na máquina, está também preparado para nos oferecer muitas possibilidades de operações e, antes mesmo que tenhamos explorado todos os recursos existentes, surge uma nova versão do “programa”. Desta forma e, pelo fato de que as atualizações de sistema ocorridas são muito dinâmicas, temos de aprender a manuseá-lo sozinhos, ou seja, temos que aprender a aprender e, em muitas vezes, os programas e as mídias são autoexplicativas para facilitar isso. De acordo com Lino Macedo em palestra realizada durante o Seminário ENEM: Hoje, competências e habilidades são mais fundamentais do que a excelência na realização de algo sempre superado ou atualizado por uma nova versão ou por nova necessidade ou problema (1999, s/p). Definindo brevemente competência e habilidade, em uma primeira aproximação, a diferença depende do recorte. Tomando os exemplos de Macedo: 30 Resolver problemas, por exemplo, é uma competência que supõe o domínio de várias habilidades. Calcular, ler, interpretar, tomar decisões, responder por escrito etc., são exemplos de habilidades requeridas para a solução de problemas de aritmética. Mas, se saímos do contexto de problema e se consideramos a complexidade envolvida no desenvolvimento de cada uma dessas habilidades, podemos valorizá-las como competências que, por sua vez, requerem outras tantas habilidades (1999 s/p). Considerando a leitura, o fato de o sujeito possuir a habilidade de ler, não necessariamente indica competência, ou seja, que possua também a habilidade de ler em público. Assim, a competência neste exemplo, pode ser entendida como o jogo de interações existente entre a habilidade de ler e a habilidade de ler em público. Concluindo, “a competência é uma habilidade de ordem geral, enquanto a habilidade é uma competência de ordem particular” (MACEDO, 1999). Sendo assim e, traçando um paralelo com o mundo tecnológico, competência é a maneira pela qual concentramos nossas necessidades e articulamos nossas habilidades com o intuito de atingir um objetivo ou a resolução de um problema que se apresenta como um desafio a ser superado. No que se refere à escrita, existem dois aspectos, os quais estão diretamente relacionados com as condições em que ela é produzida. São as ferramentas síncrona e assíncrona. A forma síncrona permite a comunicação entre as pessoas em tempo real, ou seja, mensagens escritas são trocadas entre emissor e receptor as quais são recebidas quase que instantaneamente, como em uma conversa por telefone. São exemplos deste tipo de comunicação: chat, videoconferência, blog, twitter, skype ou quaisquer outras redes sociais. Nas comunicações síncronas, prevalece a escrita conhecida como “internetês” – neologismo que designa a linguagem utilizada no meio virtual – o que resulta em restrições que são impostas entre o escritor e o leitor. A necessidade de se condensar as informações, de simplificar a ortografia, são decorrências das relações que padronizam os procedimentos, ou seja, para cada situação existe uma exigência que foi previamente estabelecida. 31 Dentro das abreviações usadas, tem-se a supressão de letras, uso da fonética ou a utilização de línguas estrangeiras (geralmente o inglês), como os exemplos citados no quadro abaixo: 32 Palavra na norma culta Não, ñ, n, Sim Abreviação em internetês naum s, y Por quê Computador pq ou pk PC Também Se Faz Favor Então Beleza Aqui Acho Qualquer Mais Hoje Não é, Quando Novidade tmbm, tbm, tmb, tb sff et blz aki axo qlqr, qq, qquer + hj, og, hg né, neh, neah Qndo, qdo 9dade, nvd, 9da10, ndd Verdade Você vdd vc, vsê, c, vç Vocês v6, vcs, cs Oi tudo bem? 8do bm Comigo Tudo bem Por favor Teclar cmg td bm, tdb pf; pls; plis; plz; pfvr tc Falou (No caso, é sinônimo de Tchau; até). Firmeza Valeu Demais Até Mais É Ah tá Tchau Cabeça Riso Adiciona Aceita Beijo Beijos Tudo bem Saudades ou Só Deus Sabe flw Notas Fonética. Abreviações Fonética. Abreviações do inglês - Yes Fonética. Abreviação Abreviação de Personal Computer (não é utilizado apenas no internetês, mas por muitos que falam assim) Abreviação Abreviação Abreviação Abreviação Fonética Fonética Abreviação Utilização de símbolo Fonética. Abreviação Fonética Abreviação Utilização de símbolo Abreviação Abreviação Utilização de símbolo Abreviação Utilização de símbolo Abreviação Utilização de símbolo Abreviação Abreviação Abreviação Abreviação do inglês - please Abreviação. É utilizado como sinônimo de conversar Abreviação fms, fmz vlw, wlw d+ t+, té+ eh ata, ahan, senta lá xau kbça rs, kkk add acc bj, bjo bjs, bjos tb SDS, sdds Abreviação Abreviação Utilização de símbolo Utilização de símbolo Abreviação Abreviação Fonética Fonética Abreviação Do inglês "Add" Abreviação Abreviação Abreviação Abreviação Abreviação Fonte: Wikipédia – a enciclopédia livre 33 A "linguagem" da internet também fornece informações sobre o estado de espírito de quem escreve. Confira algumas amostras. Sorriso Muito feliz (ou sorrindo muito) Triste ou indiferente Sem expressão ou entediado Surpreso ou de boca fechada Boca fechada (sem dizer uma palavra) Pensando ou assimilando Gritando Chorando Diabólico ou travesso Piscando o olho Beijo De óculos Mostrando a língua Bobo Bocejando Assoviando Abraço Rosa EMOTICONS :-) (-: :) =) :o) :-D :-( (:-( :-c :-< :-(((( :-t :-/ :-| :-I :-X :-v :-I :-O :-@ :,-( :'-( ]:-)> ):-) ;-> ;-) ;) '-) :-x :-* 8-] 8-) B-) :-J :-p :-B |-O :-" ((( ))) []'s @->- ACRÔNIMOS Riso Gargalhada rs (abreviação de 'risos') ou kkkkkk lol (iniciais de "laughing out loud", ou "rindo muito", em português) Pensando ou assimilando hmmm ou huuum Logo que der asap (iniciais de "as soon as possible", ou "assim que possível", em português) Já volto bbs (iniciais de "be back soon", ou "volto logo", em português) Fonte: Microsoft (fabricante do MSN Messenger) e Maria Teresa de Assunção Freitas, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e autora do livro Leitura e Escrita de Adolescentes na Internet e na Escola. Neste cenário apresentado, como ficam as pessoas adultas, em especial os mais velhos e os mais preocupados com a língua como sistema fixo de normas e regras e, como elas se colocam perante tudo isso? Certamente eles se assustam e não se utilizam de tais recursos. Entretanto, devemos considerar que nossa língua é considerada “viva”, possui aspectos que nascem, crescem e morrem como todo ser vivo. Analisando por este aspecto, fica mais compreensível aceitar as mudanças que surgem continuamente e trabalhar com elas. 34 Por assim ser e tomando como referência entrevista concedida on line, realizada no chat do EducaRede, com a professora Heloísa Amaral em 11/06/2007: É importante lembrar que, ao longo de sua história, a humanidade inventou diferentes formas de escrita nos diferentes tempos e espaços. Por exemplo, alguns povos orientais escrevem da direita para esquerda, enquanto nós escrevemos da esquerda para a direita. Há mudanças evidentes pelas quais as línguas vivas passam, como a incorporação de muitas palavras e formas de expressão estrangeiras, resultado das comunicações entre povos em todos os tempos da história. Se analisarmos a origem das palavras que usamos no cotidiano, veremos que elas provêm de diferentes línguas, mortas ou vivas (http://www.educared.org/educa/index.cfm?pg=internet_e_cia.in formatica_principal&id_inf_escola=347 ). Em se tratando, neste momento, da comunicação assíncrona, o processo de reflexão e de aprofundamento da escrita pode ser melhorado devido aos recursos de registro do meio digital, tais como facilidade de apagar erros e a possibilidade existente de armazenar o histórico das produções elaboradas, ações mais complexas de serem realizadas no papel. Já a forma assíncrona dispensa a participação simultânea das pessoas, ou seja, o emissor envia uma mensagem ao receptor, o qual poderá ler e responder esta mensagem em outro momento e desta forma, os participantes não precisam estar conectados ao mesmo tempo para que haja interação. São exemplos deste tipo de comunicação: correio eletrônico, fórum, listas de discussão e torpedos. Em entrevista concedida a Revista Veja (2009), a professora Maria Teresa de Assunção Freitas, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sugere algumas possibilidades dos motivos pelos quais a linguagem simplificada tornou-se corriqueira e comum entre os usuários da internet que se utilizam deste recurso. A professora é também, autora do livro Leitura e Escrita de Adolescentes na Internet e na Escola e para ela, são dois os principais motivos da abreviação de palavras: o primeiro, a facilidade de se escrever de modo simplificado, e o segundo, a pressa. Esta, por sua vez, está ligada a outras duas razões: a economia (mandar uma mensagem maior pelo celular pode custar mais) e o desejo de reproduzir virtualmente o ritmo de uma 35 conversa oral. “É para acelerar o bate-papo, que na internet, em chats e programas de mensagem instantânea, acontece em tempo real”, explica a especialista. “No celular, há o agravante do teclado, que é menor, e do preço, que é maior.” Uma terceira causa seria o desejo do adolescente de pertencer a um grupo: ele pode adaptar a sua escrita à linguagem da comunidade de que quer fazer parte - com o uso dos termos adaptados, ele adere aos códigos do grupo. Os principais autores da escrita simplificada são os jovens e, entre eles, os adolescentes. Eles fazem uso desse tipo de linguagem no celular e na internet, especialmente em canais de relacionamento, como o Orkut e o MSN. “Mas essa linguagem teve início nos chats”, afirma a professora Maria Teresa, que já realizou uma pesquisa na área, também começando pelas salas de bate-papo virtuais. Nos e-mails, segundo ela, a escrita abreviada tem menos lugar porque se trata de um meio de comunicação assíncrono, ou seja, a informação é enviada em intervalos irregulares: uma pessoa envia uma mensagem para outra, mas não sabe quanto terá uma resposta. É um ritmo parecido com o da tradicional troca de cartas. No celular, a linguagem abreviada fica restrita aos torpedos, que são escritos. Ainda de acordo com a professora e escritora Maria Teresa (2009), Pais e mães podem pensar que é uma escrita errada, quando não é: é uma escrita feita para um suporte próprio, adaptada para uma determinada situação. Não há erro de ortografia, embora essa linguagem desobedeça à regra culta (s/p). Dentro daquele sistema, explica a professora, a substituição de “ss” por “ç” faz sentido e não representa um erro. É possível que essa linguagem venha, no futuro, a modificar a língua que falamos. Já se iniciou, no português do Brasil, a incorporação dos termos da informática e da internet, como "deletar", "caps lock", "control+c", "control+v", "control+z". Há muita gente rindo em voz alta como na web: “eheheh”. “A língua é uma coisa viva. Só a língua morta, como é o caso do latim, permanece estática. Há palavras do português que sumiram, enquanto outras foram incorporadas. A língua é dinâmica, se transforma sempre”, diz Maria Teresa. 36 Pelo exposto, é essencial a presença do professor no sentido de instruir seus alunos que a comunicação eletrônica com outros da mesma idade e do mesmo grupo social, admite essa formatação nova e específica de interação, entretanto é fundamental que os mesmos compreendam que a comunicação mais abrangente, a qual envolve públicos diferenciados, pede o uso das normas da língua oficial. Desta forma, o aluno precisa conhecer e se utilizar da comunicação síncrona, a qual é usada naturalmente em um ambiente informal e que pode também, ser realizada por intermédio de atividades executadas no meio digital. O essencial é mostrar a importância da forma culta de se comunicar, podendo citar neste contexto, a produção de textos, a publicação de matérias em jornal virtual, dentre tantas outras que o meio eletrônico proporciona. Para entender melhor o correio eletrônico, pode-se fazer uma analogia com o correio postal: CORREIO POSTAL CORREIO ELETRÔNICO Conteúdo da carta. Mensagem do e-mail. Endereço para correspondência. Endereço eletrônico ([email protected]). Verificar periodicamente a caixa de correios, ler e organizar suas cartas. Acessar constantemente o e-mail. Se a caixa de mensagens estiver lotada (com muitas mensagens) dificultará o recebimento de novas mensagens. Traçando um breve recorte e objetivando um melhor entendimento dos leitores, correio eletrônico, refere-se simplesmente ao e-mail - eletronic mail que na língua portuguesa significa carta eletrônica. Um dos serviços mais utilizados na internet é o envio e o recebimento de mensagens. É como escrever cartas para os amigos sem precisar de envelope e selo. Trata-se de uma ferramenta que permite compor, enviar e receber mensagens, textos e arquivos diversificados por meio da Internet. É um modo assíncrono de comunicação, ou seja, independe da presença simultânea do remetente e do destinatário da mensagem. Por ser prático, é muito utilizado quando a 37 comunicação precisa ser feita entre pessoas que ocupem espaços geográficos diferenciados, em diferentes fusos horários. A partir de um endereço eletrônico, formado por duas sequências de caracteres separadas pelo símbolo arroba “@”, como por exemplo [email protected], você consegue enviar uma mensagem para qualquer pessoa no mundo. Fonte: RNP De acordo com o material original extraído da Mídia na Educação, na Educação a Distância - EAD o correio eletrônico é uma ferramenta indispensável, pois há possibilidade de armazenar e organizar todas as mensagens recebidas a enviadas aos cursistas, tutores e professores. Outro fator importante é a economia, já que não há necessidade da utilização constante do telefone - para avisar todos os alunos sobre uma palestra, por exemplo - e do correio postal tradicional - para envio do material do curso, outro exemplo. 38 (http://www.eproinfo.mec.gov.br/webfolio/Mod82673/etapa1/leituras/correio/o_q ue_e.htm). Nesse sentido e com essa transformação, é importante lembrar que, ao longo de sua história, a humanidade inventou diferentes formas de escrita nos diferentes tempos e espaços e isso não é diferente com a língua portuguesa. Diz-nos Bagno (2012) sobre este encadeamento de ideias: A língua, além de variar geograficamente, no espaço, também muda com o tempo. A língua que falamos hoje no Brasil é diferente da que era falada aqui mesmo no início da colonização, e também é diferente da língua que será falada aqui mesmo dentro de trezentos anos! Nós linguistas dizemos que toda língua muda e varia. Quer dizer, muda com o tempo e varia no espaço (p. 22). Diante de tantas variantes linguísticas, tornou-se inevitável, para fins de pesquisa, investigar qual é a maneira uniforme que os usuários devem adotar em especial estudantes universitários. Tomando como base essas análises, inúmeros incômodos começaram a fazer parte do meu “eu” e, neste momento, coincidentemente ou não, interessame que a pesquisa se paute e seja dirigida especificamente a um grupo de universitários, estudante do curso de Pedagogia, profissionais que atuarão em um breve futuro, no mercado de trabalho com a área da Educação. Esses são os motivos que justificam e que me incentivam a literalmente “mergulhar” na execução deste trabalho de pesquisa. Novamente, algumas tantas outras questões – abaixo relacionadas - que se fazem presentes explicita ou implicitamente em meus pensamentos, reaparecem e norteia este trabalho, momento em que inicio o traçado do plano de pesquisa. Se, o Direito Constitucional garante a Educação, a escola, através da Educação formal, é o lugar onde acontece a aprendizagem. Entretanto e pelo fato de a escola adquirir cada vez mais responsabilidades, assume igualmente, o compromisso de formar leitores e escritores. Por assim ser, a escola se torna também, formadora de sujeitos na cultura letrada. Com esta argumentação e partindo da hipótese de que os estudantes do curso de Pedagogia devem desenvolver habilidades específicas de estudo, 39 uma vez que estas são necessárias à atuação profissional, apesar de enfrentarem dificuldades linguísticas, optaram pelo curso de formação de outros aprendizes, o que pode comprometer, mesmo que involuntariamente, o ensino e usos da língua. A partir disso, as questões abaixo relacionadas se abrem para outros vieses de análise tais como: Os estudantes de graduação do curso de Pedagogia possuem habilidades para articular, organizar e selecionar elementos necessários para realizar uma escrita compatível com o nível acadêmico? Eles possuem consciência de que precisam demonstrar que realmente sabem elaborar e desenvolver uma escrita? Alunos de nível universitário apresentam dificuldades no que se refere à ortografia, desenvolvimento de texto e leitura de textos acadêmicos por quê? Estes mesmos alunos têm consciência de suas dificuldades? Que conhecimentos sobre língua e escrita são interessantes ao cidadão comum escolarizado em uma sociedade industrial de massa (BRITTO, 1997, p. 12)? Como a oralidade se articula com a escrita – nos acertos e nos usos tidos como incorretos ou em desacordo com a língua oficial, ou língua-padrão? Visando a reflexão sobre essas indagações, inicio o processo de pesquisa com os estudantes de graduação, os quais cursavam o último semestre do curso de Pedagogia de uma Instituição particular de Ensino no interior do estado de São Paulo, no ano de 2011: a leitura e a escrita acadêmica dos estudantes nas modalidades manuscrita e digitalizada, cujos processos de análise se encontram detalhados no item “metodologia”. No que se refere à oralidade, tenho conhecimento que gêneros formais não se aprendem por intuição e por assim ser, devem ou deveriam ser trabalhados com os alunos desde as séries iniciais. Entretanto, se retomar o passado escolar, recordamo-nos com facilidade em que ensinamentos sobre 40 fala, discurso, pronúncia ou uso da voz, não faziam parte da matriz curricular. Saltando para o presente, a percepção continua inalterada, ou seja, conteúdos sobre oralidade deixam de ser abordados e praticados em sala de aula independentemente do nível, da série ou do grau de ensino, entendendo-se aqui toda a trajetória escolar que compreende o Ensino Fundamental o Ensino Médio e a Graduação. Com isso, começo então, a dedicar especial atenção na observação do trabalho com a oralidade na esfera escolar, ocasião em que pude revalidar que o espaço dedicado ao desenvolvimento das competências comunicativas é limitado e individualizado. Percebo também que tais atividades, quando praticadas, se reduzem a leitura em voz alta ou discussões informais sobre assuntos relacionados aos conteúdos de disciplinas diversas. Em se tratando de utilizar o gênero formal da oralidade, observo que o mesmo acontece em situações como tão somente a apresentação de Seminários, por exemplo. Os estudantes, quando colocados na condição de locutores, ou seja, quando se deparam com a exposição oral, não demonstram que tenham desenvolvido competências linguísticas e comunicativas em relação a esse gênero. Refletindo e interando-me sobre as possíveis razões desta “falta de ensinamento” nos bancos escolares, a causa é compreensível se partir da ideia de que a escola, em suas séries iniciais, não tem como função ensinar o aluno a falar, assim como a graduação, não tem como propósito, aprimorar a fala dos estudantes, afinal, isso é algo que se aprende com a família e por meio das relações sociais. Concordando parcialmente com o acima exposto, penso que, assim como descrevi sobre a escrita, a oralidade está longe de representar apenas e tão somente às conversas informais, cotidianas, representadas em muitas ocasiões, pelos “bate-papos” virtuais. A linguagem oral possui também diversos gêneros, os quais variam de acordo com a ocasião, como por exemplo, entrevistas, debates, exposições, diálogos com autoridades, conversas informais. Em relação a todos eles, o professor tem um papel importante para demonstrar o gênero que deve ser usado em cada situação, bem como exaltar que a exposição oral é um instrumento fundamental e necessário, pois a 41 oralidade atua como um mediador no desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita e produção da fala em contextos formais e informais, dentro e fora do ambiente acadêmico. Alinhado com essas colocações, segue o fragmento de uma entrevista do psicólogo suíço Bernard Schneuwly em entrevista à Revista Nova Escola (2002): “Cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral nas diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais", afirmou. Considerado um dos maiores estudiosos sobre o Desenvolvimento da oralidade, ele defende que os gêneros da fala têm aplicação direta em vários campos da vida social, como por exemplo - o do trabalho, o das relações interpessoais e o da política. (http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/praticapedagogica/ensino-comunicacao-423584.shtml). Para que possa refletir acerca dos questionamentos e da problemática em foco, ou seja, se os estudantes de graduação possuem habilidades para articular, organizar e selecionar elementos necessários para realizar uma escrita compatível com o nível acadêmico, possui consciência de suas dificuldades e de que precisam demonstrar que realmente sabem elaborar e desenvolver uma escrita, bem como a articulação da oralidade com a escrita nos acertos e nos usos vistos como incorretos ou em desacordo com a línguapadrão, necessário se faz realizar estudo e investigação efetuando o que segue: 2.1. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA: objetivando fundamentação teórica, sendo que os principais autores que servem de referencial de ancoragem são: Bagno; Brandão, Burke, Fernandes, Park; Freire. 2.2. CONSTRUÇÃO E COLETA DE DADOS: por meio de questionários socioeconômicos e de textos elaborados pelos próprios estudantes de graduação, para mapear e tabular dados relevantes no que se refere à escrita acadêmica. No tocante à oralidade, observei superficialmente alunos universitários em 42 contextos formais e informais. No ambiente extrassala de aula, considerado informal, não existe a utilização de recursos prosódicos, como tom, altura e boa qualidade de voz. No entanto, durante a apresentação de trabalhos orais, todos os alunos da graduação, sem exceção, se utilizaram de recursos considerados de apoio à oralidade, sejam eles enunciação dos textos por meio de recursos gestuais, expressões faciais – alguns timidamente desviando o olhar da plateia – parte de um grupo assumindo a fala, isentando os demais componentes da equipe por estarem nervosos ou acanhados, utilizaram-se de textos escritos como base de apoio, e recursos paralinguísticos (risos), para manter a atenção dos ouvintes. Embora não tenha me aprofundado neste estudo, ficou aparente para mim a fundamental relevância que as intervenções didáticas e as discussões avaliativas podem ter na construção das práticas de linguagem oral durante o percurso escolar. Este trabalho recebeu um tratamento de enfoque tanto qualitativo como quantitativo na análise dos dados coletados, sobre os quais, tratarei no capítulo 4. Esta dissertação está estruturada da seguinte forma: Introdução, seguida por três Capítulos e as Considerações Finais. No Capítulo 1 e a partir de levantamento bibliográfico apresento a historicidade da Educação e os seus conceitos, ocasião em que tramito pela Educação formal, informal e não formal. Ainda neste capítulo discorro sobre a oralidade e a língua escrita. O Capítulo 2 traz o uso da tecnologia na Educação, a questão da ortografia e do regionalismo, bem como indagações e concepções da leitura. No Capítulo 3, iniciarei o processo de análise dos textos elaborados pelos alunos, objetos de estudo desta pesquisa, tomando como base dois focos: textos manuscritos e textos digitalizados. Com este enfoque duplicado, é permitido observar a influência causada pelo ambiente durante a escrita, bem como identificar as fragilidades que insistem em permanecer ou que são sanadas durante a escrita digital. 43 Com essas premissas, finalizo a apresentação desta etapa da dissertação submetendo os resultados obtidos e salientando, sobretudo, a fundamental importância de instituir-se um trabalho interdisciplinar, o qual deve ser desenvolvido dentro da escola e ampliado em um contexto de Educação não formal, visando o resgate da leitura e da escrita como condição de contribuição para formação de futuros indivíduos críticos e cientificamente instruídos no que se refere à cultura. 44 CAPÍTULO 1 1.1. A EDUCAÇÃO E OS SEUS CONCEITOS “Nas condições de verdadeira aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo.” (Paulo Freire) A Educação é um dos requisitos fundamentais para que os indivíduos possam exercer o direito de cidadão e é, acima de tudo, a base de toda a construção humana. De acordo com Brandão (1995), a Educação está em todos os lugares bem como no ensino de todos os saberes. Inexistindo modelo de Educação, a escola deixa de ser o único lugar onde ela ocorre. Paulo Freire (1988) conceitua Educação como sendo uma reflexão sobre a realidade existencial. Articula ainda, com essa realidade, fatores significativos dos acontecimentos experienciados, procurando inserir, sempre que possível, fatos particulares identificados com as condições vividas de acordo com a realidade de cada sujeito. Werner Jaeger (1995), em um estudo sobre a Educação do homem grego, procura explicar o que ela é afinal: A natureza do homem, na sua dupla estrutura, cria condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma particular e, exige organizações físicas e espirituais, ao conjunto das quais damos o nome de Educação. Na Educação, como o homem a pratica, atua a mesma força vital, criadora e plástica, que espontaneamente impele todas as espécies vivas à conservação e à propagação de seu tipo. E nela, porém, que essa força atinge o seu mais alto grau de intensidade, através do esforço consciente da vontade e do conhecimento dirigido para a consecução de um fim (BRANDÃO, p. 14, 15). 45 Freire (1977) continua discorrendo sobre este conceito, abrangendo a dimensão deste conteúdo e ressaltando que, antes mesmo de iniciar a alfabetização pela Instituição escola, é necessário que haja a distinção entre dois mundos: o da natureza e o da cultura. O papel ativo do homem em sua e com sua realidade. O sentido de mediação que tem a natureza para as relações e comunicação dos homens. A cultura como o acrescentamento que o homem faz ao mundo que não fez. A cultura como resultado de seu trabalho. Do seu esforço criador e recriador. O sentido transcendental de suas relações. A dimensão humanista da cultura. A cultura como aquisição sistemática da experiência humana. Como uma incorporação, por isso crítica e criadora, e não como uma justaposição de informes ou prescrições “doadas”. A democratização da cultura – dimensão da democratização fundamental. O aprendizado da escrita e da leitura como uma chave com que o analfabeto iniciaria a sua introdução no mundo da comunicação escrita. O homem, afinal, no mundo e com o mundo. O seu papel de sujeito e não de mero e permanente objeto (FREIRE, 1977, p. 108). A aprendizagem da leitura e da escrita equivale a uma releitura do mundo na medida em que revela uma visão crítica sobre o mundo. Segundo Freire, A leitura do mundo não surge com a prática de leitura de textos, a leitura do mundo antecede a leitura da palavra. Assim, antes mesmo de alguém ler uma palavra, já existe uma leitura de mundo que irá basear a leitura da palavra (1981, p.12). Por assim ser, entendo que a leitura de um texto é a releitura da realidade. Existindo a leitura de mundo que antecede a leitura da palavra, é possível efetuar a releitura crítica da realidade. A leitura realmente significativa pode ser entendida como uma nova tomada de visão em que, compreender um texto esteja associado à releitura do mundo e neste momento, o leitor possa estabelecer relações entre o texto e o contexto, ou seja, o que está sendo lido e o mundo. Em seu livro – Educação como Prática da Liberdade – Paulo Freire (1971), elucida a autoconfiança adquirida pelos grupos de alfabetizandos através de alguns depoimentos: “Amanhã”, disse certa vez um gari da Prefeitura de Brasília, ao discutir o conceito de cultura, “vou entrar no meu trabalho de cabeça para cima”. É que descobrira o valor de sua pessoa. 46 Afirmava-se. “Sei agora que sou culto”, assegurou enfaticamente um idoso camponês. E ao se lhe perguntar por que se sabia culto, respondeu com a mesma ênfase: “Porque trabalho e trabalhando transformo o mundo” (p. 116). Persistindo no pensamento de Paulo Freire, o autor expõe a leitura de mundo como sendo uma manifestação da realidade, onde se retira o objeto que encobre os nossos olhos e que também encobre a realidade, com o fim de poder conhecê-las, não bastando apenas desnudar a verdade, mas fazendo uma análise crítica dos fatos, analisando-os, conhecendo-os até encontrar o que existe em seu interior para então, transformá-lo. Desta forma, um conhecimento crítico exige uma ação transformadora. Segundo Santos (s/data): Para exercer a cidadania ativa, é preciso reconhecer o seu papel na sociedade, inserir-se criticamente na realidade. Portanto, na perspectiva de uma “outra globalização” faz-se necessário ler o mundo para desnaturalizar a “malvadez” da globalização capitalista (s/p). A palavra “malvadez” acima mencionada foi utilizada referindo-se a globalização capitalista. Para mudar esta condição e utilizando-me, neste momento, da proposta de Freire: ... uma ação cultural para liberdade se caracteriza pelo diálogo e seu fim principal é conscientizar as massas [...] A ação cultural para liberdade está comprometida com esclarecimento científico da realidade, ou melhor, na exposição dos mitos e das ideologias, tem de separar a ideologia da ciência (1980, p.91). Para isso e por isso, a educação deve formar para a autonomia uma vez que o mundo não é, ele está sendo e a função do homem no mundo é constatar o problema, encará-lo e intervir. A averiguação torna-se valiosa não somente a partir do momento em que o sujeito se adapta a ela, mas também a partir do momento em que tenta transformá-la e interferir perante a realidade. De acordo com Zatti, É preciso que a compreensão do futuro como problema, que a vocação para ser mais em processo de estar sendo, seja fundamento para a rebeldia de quem não aceita as injustiças do mundo. A autonomia encerra em si certa rebeldia, na 47 medida em que implica a não aceitação passiva e acrítica do mundo (2007, p. 25). Assim sendo, para que haja autonomia é preciso reinventar o mundo em que vivemos na atualidade e o fator “Educação” é fundamental nessa reinvenção. Para reinventar o mundo é preciso que haja comprometimento e coerência entre o que se diz e o que se faz – o famoso e conhecido como “exemplo”. Freire (1993, p. 108) revela que a Educação é uma forma de intervenção no mundo e que além da transmissão do conhecimento dos conteúdos, ela precisa se posicionar perante a ideologia dominante. Freire destaca ainda (p. 110) que, os interesses dominantes procuram promover uma educação cuja prática é imobilizadora e ocultadora de verdades. Mas os fatalismos que procuram deixar as coisas como estão devem ser negados, eles ajudam a manter uma situação que é imoral e heterônoma. A prática educativa que propomos deve ser uma tomada de posição frente ao mundo no sentido de transformá-lo para que condições heterônomas sejam superadas, para que se estabeleçam relações e condições que possibilitem a autonomia. Assim, os debates giram em torno da dimensão da cultura como aquisição sistemática da experiência humana, sendo que esta aquisição, em uma cultura letrada, já não é mais feita apenas via oral, como nas iletradas, a que falta a sinalização gráfica. Passa-se então ao debate da democratização da cultura, no qual se abrem as perspectivas para o início da alfabetização, que não deverá ser feita de cima para baixo, como uma doação ou uma imposição, mas de dentro para fora, pelo próprio sujeito, com a colaboração do educador. Paulo Freire atribui importância ao momento pedagógico, mas com meios diferentes, como práxis13 social, como construção de um mundo refletido com o povo. Entretanto, para Brandão (1995), “A Educação aparece sempre que surgem formas sociais de condução e controle da aventura de ensinar-eaprender” (p. 26). A Educação acontece a todo momento e durante a vida toda. A forma como a cultura organiza e institui essa tarefa passa a ser sob a forma de ensino e a escola passa a ser o local onde se professa e se ensina formalmente, de uns para outros e uns com os outros. 13 Trata-se de toda atividade humana em sociedade e na natureza, realizada pelo sujeito em que se imbricam teoria e prática ou experiência. 48 O ensino formal então passa a ser o momento em que a Educação se sujeita à pedagogia (a teoria da Educação); cria situações próprias para o seu exercício, produz os seus métodos, estabelece suas regras e tempos, e constitui executores especializados. Neste momento, aparecem a escola, o aluno e o professor (BRANDÃO, 1995, p.26). Em conformidade com este contexto e dando continuidade aos escritos do mesmo autor, os seres humanos vivenciam inúmeras experiências de aprendizagem nos mais variados espaços geográficos e históricos: em casa, na rua, na igreja e na escola, sob muitos tempos e temporalidades e em múltiplos lugares e espaços. Desenvolvemos esses experimentos para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver. Diariamente misturamos a vida com a Educação. Desta forma, a Educação produz o conjunto de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto constroem tipos de sociedades (BRANDÃO, 1995, p.11). Ao pensarmos em Educação, logo nos chega à imagem da escola. Porém, antropólogos quando se referem à Educação, poucos querem falar de processos formalizados de ensino. Estes estudiosos identificam processos sociais de aprendizagem em que não existe ainda nenhuma situação propriamente escolar de transferência ou compartilhamento do saber. Tomando como exemplo a rotina das aldeias tribais, o saber abrange a confecção do arco e flecha expandindo-se à recitação das rezas sagradas. Tudo o que se sabe, se adquire por viver muitas e diferentes situações de trocas entre pessoas, com o corpo, com a consciência, com o corpo e a consciência. As pessoas convivem umas com as outras e o saber flui, pelos atos de quem sabe-e-faz, para quem não-sabe-e-aprende. Mesmo quando os adultos encorajam e guiam os momentos e situações de aprender de crianças e adolescentes, são raros os tempos especialmente reservados apenas para o ato de ensinar (BRANDÃO, 1995, pág. 18). Em todos os grupos humanos, os diversos tipos de exercícios e experiências através das trocas, socializam e educam os sujeitos: 49 ... Cada tipo de grupo humano cria e desenvolve situações, recursos e métodos empregados para ensinar às crianças, aos adolescentes, e também aos jovens e mesmo aos adultos, o saber, a crença e os gestos que o tornarão um dia o modelo de homem ou mulher que o imaginário de cada sociedade – ou mesmo de cada grupo mais específico, dentro dela – idealiza, projeta e procura realizar. Nunca as pessoas crescem a esmo e aprendem ao acaso (BRANDÃO, 1995, p. 22, 23). Baseando-se nessas premissas, de tudo o que se discute hoje sobre a Educação, dentre as questões mais importantes estão as que foram escritas pelos índios, neste documento: Não há uma forma única nem um único modelo de Educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante (BRANDÃO, 1995, p. 9). Desta forma, a Educação se faz da família à comunidade, bem como nos mundos sociais, através de incontáveis práticas que estão embutidas nos “mistérios do saber”; primeiramente, a Educação inicia-se sem escolas, sem classes de alunos, sem livros e sem professores especialistas; mais adiante, porém, com escolas, salas, professores e métodos pedagógicos. A Educação pode então, existir livre, permitindo que todos se utilizem de “maneiras” que possibilitem tornar comum uma ideia, um saber, uma crença, como pode também, existir imposta por um sistema centralizado de poder. Neste caso, isso ocorre uma vez que “saber ler e saber escrever”, desde o primórdio das sociedades antigas - momento em que se desenvolveu a linguagem escrita na pedra, no barro, no pergaminho e, só muito séculos depois, em uma folha de papel - era uma razão ampliada de desigualdades sociais. Nesta ocasião é que surgem e se consagram os que “sabem” e ocupam posições sociais em função deste fator, e aqueles que “não sabem” decifrar os símbolos das letras escritas em palavras e frases. Esses passam também a ser identificados pelos que “não são”, e pelos que “não sabem”: “iletrados”, “ignorantes”, “analfabetos”. Podemos neste contexto, efetuar uma referência e uma analogia à palavra “aluno”, que provém do reconhecimento de uma falha, de uma ausência: aluno é “aquele que não possui a luz”. 50 Trago neste momento, os indígenas em sua relação com os homens brancos invasores e a percepção que traçaram a partir da carta que há muitos anos, foi escrita e nos deixada por alguns indígenas norte-americanos. Estados Unidos, especificamente Virgínia e Maryland, assinaram um tratado de paz com índios de seis Nações não especificadas. Uma vez que as promessas e os símbolos da Educação sempre foram muito adequados a momentos solenes como o que estavam sendo vivenciados, logo em seguida, os seus governantes mandaram cartas aos índios para que enviassem alguns dos seus jovens às escolas dos brancos. Os chefes indígenas imediatamente responderam agradecendo, porém recusando o convite. A carta em questão ficou mundialmente conhecida em função de que, alguns anos mais tarde, Benjamim Franklin adotou o costume de divulgála frequentemente. O recorte abaixo faz referência aos escritos deste capítulo e vem elucidar que a vida está intrinsecamente relacionada com a Educação ou com as Educações: ... Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas daqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa. (...) Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitála, para mostrar a nossa gratidão, oferecemos aos nobres senhores que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles, homens. (BRANDÃO, 1995, p. 8 e 9). Desta forma, acredito que a Educação se faz também da família à comunidade, bem como nos mundos sociais, através de incontáveis práticas que estão embutidas nos “mistérios do saber”. 51 Para que possa adentrar efetivamente no tema de minha pesquisa, é de suma relevância que se sublinhem e se conceituem os termos: Educação formal - Educação informal e Educação não formal, pois que eles, didaticamente, dizem respeito a algumas particularidades nos modos, tempos e lugares de acontecimento da ação educativa. Diz Lajolo (2000) que, Ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive. Se ler livros geralmente se aprende nos bancos da escola, outras leituras se aprendem por aí, na chamada escola da vida: a leitura do voo das arribações que indicam a seca – como sabe quem lê Vidas secas de Graciliano Ramos – independe da aprendizagem formal e se perfaz na interação cotidiana com o mundo das coisas e dos outros (p. 7). Assim, entendo que a leitura é muito mais do que um instrumento que está intrinsecamente ligado ao ambiente escolar. A leitura envolve o domínio de diversas práticas culturais que permitem diferentes entendimentos e interpretações do mundo físico, natural, social. 1.2. DIALOGANDO ENTRE AS “EDUCAÇÕES” FORMAL, INFORMAL E NÃO FORMAL “As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido!" (Rubem Alves) A Educação formal pressupõe ambientes normatizados, com regras e padrões comportamentais definidos previamente. Na Educação formal, entre outros objetivos, destacam-se os relativos ao ensino e aprendizagem de conteúdos historicamente sistematizados, normatizados por leis, dentre os quais se destacam o de formar o indivíduo como um cidadão ativo, capaz de 52 desenvolver diversas habilidades e competências, bem como desenvolver a criatividade e a percepção. A Educação, entendida como um processo de desenvolvimento da capacidade intelectual do ser humano tem um significado tão amplo e abrangente que, em geral, prescinde de adjetivos. É um processo único, associado quase sempre à escola. Tomando como referência os escritos de Silva (2011), a Educação proposta pelos sistemas formais de ensino, geralmente é linear e ascendente, iniciando-se no Ensino Fundamental e tendo como ápice, os estudos de pósgraduação (mestrado e doutorado) ou ainda, pós-doutoramento. No decorrer do ano de 2009, o Senado alterou, por meio da Emenda Constitucional nº. 59/2009, a redação dos incisos I e VII em seu artigo 3°, a idade de acesso às escolas públicas, passando a vigorar da seguinte forma: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro ) aos 17 (dezessete) anos, assegurado inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria14. Penso que, se a Educação é um direito de Todos e um dever do Estado e da família, devo entender Educação conforme consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9.394/96 em seu artigo 1° que diz: TÍTULO I Da Educação Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. 14 Fonte: Diretório de Artigos Gratuitos. 53 § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. Analisando por este viés, a Educação possui uma dimensão que ultrapassa a recebida nas escolas. Na vida familiar, se refere ao desenvolvimento pessoal, à educação para o “ser”; Na convivência humana, seu preparo para o exercício da cidadania, “saber conviver”; No trabalho, qualificação, “saber fazer”. Por esta análise, desenvolvimento pessoal, cidadania e trabalho caminham em paralelo no que se refere às finalidades educacionais. Se for possível conciliar esse entremear de objetivos, torna-se ideal: Uma escola mais integrada com as demandas do mercado de trabalho, que atenda às reivindicações da sociedade, torne-se mais atraente aos estudantes e seja livre de comodismos Esse é o cenário desenhado pelas novas diretrizes do ensino médio, aprovadas ontem pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). - O objetivo é aproximar a escola da experiência pessoal do aluno, garantindo-lhe uma formação mais abrangente (O Estado de São Paulo - 05 de maio de 2011). Ainda neste mesmo artigo, José Fernandes de Lima (2011), conselheiro relator das diretrizes, relata: “É preciso que o jovem identifique os assuntos tratados com o seu projeto de vida” (s/p). Neste quadro de comparação, em que se espera a aproximação da escola com a experiência pessoal do aluno ao mesmo tempo em que os jovens se identifiquem com seu próprio projeto de vida, faz-se necessário que o nível escolar da educação esteja equiparado, de alguma maneira, com a questão da empregabilidade. No contexto atual em que evoluem as organizações do trabalho, as relações entre o ensino e o mercado de trabalho não podem ser vistas exclusivamente entre a oferta ou a existência de qualificações escolares e profissionais que correspondem em princípio, ao perfil de determinados grupos de profissões. 54 Em se tratando de qualificações e visto que as mesmas são necessárias para o mercado de trabalho, espaços de educação formal e não formal alargam o processo de desenvolvimento para a formação contínua dos sujeitos. Referenciando-me a Ambrosio (1998), e em se tratando deste contexto: A análise da realidade de hoje aponta para situações novas em que a formação pode gerar emprego e o emprego pode gerar novas formas de qualificação. Haverá, pois, que introduzir esta visão inovadora de convergência dinâmica que é, sobretudo importante quando, em vez de “recursos humanos” consideramos antes os “atores participantes e responsáveis” na evolução econômica e na organização do trabalho (s/data). A fim de que ocorram mudanças em termos profissionais, é necessário que ocorra também, o respectivo esforço para a construção do conhecimento, objetivando desta forma, a abertura do caminho para a viabilização da concepção de seu futuro. Podemos tomar como referência que há 80 anos, acontecia uma mudança tecnológica significativa a cada dez anos. Nessa mesma época e utilizando-me desta mesma relação, os cursos universitários já tinham duração de quatro anos. Hoje em dia, a tecnologia “sofre” alterações anualmente e os cursos universitários continuam sendo de quatro anos. Proporcionalmente às necessidades, os cursos ficaram longos demais. Logo, é preciso complementálos, constantemente (REVISTA SUPERINTERESSANTE, Março-2001). A Educação informal é o termo aplicado aos naturais contatos de relação que ocorrem entre uma pessoa com os seus pais, amigos, sociedade em geral, como também com os meios de comunicação de massa, tão presentes no cotidiano de todos. Desta forma, podemos definir a Educação informal ou incidental, como um processo de aprendizagem constante, em que as pessoas adquirem, transferem, compartilham, acumulam conhecimentos e habilidades por meio de experiências vividas habitualmente e da sua relação com o meio. Este universo da área da Educação caracteriza-se na ausência de objetivos explícitos ou qualquer grau de sistematização, organização ou ainda a obrigatoriedade de que os sujeitos produzam conhecimentos e, portanto, ocorram aprendizagens. 55 Assim sendo e substanciando este subitem, a Educação informal é compreendida em um processo permanente, espontâneo e não necessariamente organizado, em que os conhecimentos são repassados por meio das experiências e práticas cotidianas que ocorrem durante o processo de socialização dos indivíduos na família, no bairro, no clube, em seu ambiente profissional ou nos espaços em que haja comunicação que sejam saturados de valores, crenças e marcas culturais. A Educação não formal é toda aquela educação que acontece fora ou mesmo nos ambientes escolares, que não possui a obrigatoriedade de certificar ou de “prestar contas” ao Ministério da Educação e Cultura – MEC, órgão que o Estado define como regulador desse processo. A Educação não formal ganhou destaque e repercussão na década de 90 em decorrência das mudanças ocorridas na economia, a qual impactou diretamente na sociedade e no mundo dos trabalhadores. Entretanto e de acordo com Fernandes e Garcia, (s/data) “O campo da educação não formal encontra-se em processo de constituição dependendo das ações colocadas em prática por diferentes profissionais e por instituições de diferentes origens: públicas, privadas ou do terceiro setor” (s/p). Nessas circunstâncias, os processos de aprendizagem que ocorriam em grupos e que eram minimamente reconhecidos perante as políticas públicas e também entre os educadores, adquiriram uma significativa valorização cultural que de acordo com GOHN, “... passou-se ainda a falar de uma nova cultura organizacional que, em geral, exige a aprendizagem de habilidades extraescolares” (2008, p.92). A educação não formal surge a partir de transformações que, de acordo com Garcia, Park e Fernandes. ...fazem com que a sociedade se reestruture, ao considerarmos as necessidades e propostas sociais que têm preocupações diversas daquelas da educação formal, por considerar propostas diferentes daquelas oferecidas pelo sistema formal, por se propor a atender aqueles que a escola formal tem dificuldade de integrar no seu cotidiano, (crianças/jovens/adultos/velhos com necessidades especiais, praticantes de atos infracionais, aqueles que passam o dia ou vivem nas ruas e outros). Além de se ter que levar em grande consideração o momento social atual, no qual a escola, como uma das representantes da educação formal, não dá mais 56 conta de responder a todas as demandas sociais que lhe são impostas: de educação, cuidado, formação, atendimento, proteção, socialização, guarda etc. (s/data). Neste sentido, e tomando como referência Afonso (2001), o campo da educação não escolar (informal e não formal) sempre coexistiu com o campo da educação escolar, sendo mesmo possível imaginar sinergias pedagógicas muito produtivas, e constatar experiências com intersecções e complementaridades várias (SIMSON, PARK e FERNANDES). Paralelamente, neste período, alguns fatos contribuíram para o “boom” da Educação não formal, destaque seja feito para a Conferência Mundial de Educação para Todos, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a participação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Tecnologia (UNESCO), ocorrida em 1990 na Tailândia e que teve como marco o lançamento da Década “Educação para Todos” (REVISTA ACADÊMICA ELETRÔNICA SUMARÉ, 2012, p. 3). No mesmo ano da “Conferência Mundial de Educação para Todos” sobrevém, no Brasil, a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), proveniente da Constituição Federal de 1988 que já incorporava avanços fundamentais no olhar para a criança e para o adolescente como pessoas em desenvolvimento, e suas formações em termos de valores, conhecimentos e habilidades, como uma tarefa coletiva da comunidade onde vivem, ou seja, no âmbito familiar, na escola ou em outras instituições (REVISTA ACADÊMICA ELETRÔNICA SUMARÉ, 2012, p. 3). Com a oficialização do Estatuto, elevou-se o número de organizações governamentais e não governamentais que se dispuseram a atender crianças e adolescentes, nos horários inversos ao turno escolar, praticando atividades educativas no campo da Educação não formal. No ano de 1996, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n° 9.394/96 - primeira lei educacional a conceituar educação englobando, além do processo de escolarização formal, os processos formativos que ocorrem nos espaços extraescola, estabelecendo em seu artigo 1°, o que segue: 57 A Educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Referenciando-se neste momento a Garcia, Park e Fernandes (2005), A educação não formal, não tem, necessariamente, uma relação direta e de dependência com a educação formal. É um acontecimento que tem sua origem em diferentes preocupações e busca considerar contribuições vindas de experiências que não são priorizadas na educação formal (s/p). Sintetizando o acima exposto, a Educação não formal é uma Educação que ocorre em ambientes e situações interativas construídas coletivamente, segundo diretrizes de dados grupos, sendo que, usualmente, a participação dos indivíduos é optativa. Entretanto, ela também poderá ocorrer por forças de certas circunstâncias da vivência histórica de cada um. De acordo com Gohn (2008), Ela aborda processos educativos que ocorrem fora das escolas, em processos organizativos da sociedade civil, ao redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da sociedade, abrangendo movimentos sociais, ONGs e outras entidades sem fins lucrativos que atuam na área social; ou processos educacionais frutos da articulação das escolas com a comunidade educativa, via conselhos, colegiados, etc. (p. 7). Traçando um paralelo com Fernandes e Garcia (1989), apud Afonso as especificidades da educação são muitas, entre elas a educação não formal: (...) por educação formal, entende-se o tipo de educação organizada com uma determinada sequência e proporcionada pelas escolas enquanto que a designação informal abrange todas as possibilidades educativas no decurso da vida do indivíduo, constituindo um processo permanente e não organizado. Por último, a educação não formal, embora obedeça também a uma estrutura e a uma organização (distintas, porém das escolas) e possa levar a uma certificação (mesmo que não seja essa a finalidade) diverge ainda da educação formal no que respeita a não fixação de tempos e locais e à flexibilidade na adaptação dos conteúdos de aprendizagem a cada grupo concreto (p. 78). 58 Desta forma, os projetos com fins educacionais que são tratados e trabalhados fora do ambiente escolar, podem ser inferidos e incluídos no âmbito da educação não formal. Há na Educação não formal uma intencionalidade na ação, no ato de participar, de aprender e de transmitir ou trocar saberes por parte de todos os envolvidos. Traçando um paralelo entre a prática da leitura e da escrita com as “educações” não formal e informal, tais atividades antes consideradas como sendo sólidas, tornaram-se inconsistentes, e o ato de ler passou a ser também, tarefa solicitada e desejada - principalmente pelas crianças - a “contadores de histórias” e/ou “animadores culturais”, o que descaracteriza a Educação formal. Entendo que, contar histórias contribui de forma significativa para o desenvolvimento infantil e para uma alfabetização ampla. Por assim ser, a prática de contar histórias deve compor o cotidiano de pais e educadores, pois se trata de uma riqueza cultural valiosíssima. O que se ouve por intermédio das histórias é inesquecível, pois é um aprendizado que dura para sempre, é uma arte mágica. Escutar histórias é um momento fascinante, de encanto, é também um incentivo para a criança aprender a ler e a escrever suas próprias histórias. Histórias contadas pelos familiares à noite, na beira da cama, num dia de chuva... Histórias contadas por várias pessoas em baixo de uma árvore. Histórias inventadas, histórias de livros, histórias reais. Quantas maneiras de contar ou ler ou escrever as histórias para rir, questionar, assustar e acalmar, inventar e reinventar. Engana-se quem pensa que ouvir histórias é só para crianças. Adolescentes, adultos, idosos. Quem não fica estagnado perante uma “contação de história”? Seja ela real ou fictícia, um contador de histórias que consegue atrair e “enfeitiçar” pode obter do ouvinte, a atenção do seu público por horas incontáveis. Entretanto, contar histórias não é um dom natural; precisa ser desenvolvido e aprendido por aqueles que desejam agregar ao seu desenvolvimento pessoal, seja para fins profissionais ou pessoais, mais essa competência. 59 Uma boa história deve encantar, prender a atenção, falar de assuntos ou “causos” interessantes que se relacionem com a vida a nível de compreensão de cada envolvido no processo de “escutar”, como também despertar a curiosidade, incentivando a imaginação. O ato de contar histórias não pode objetivar a transmissão de conhecimentos ou ensinamentos sobre moralidade, simplesmente. Ao contarmos e ao escrevermos histórias, desenvolvemos diversas formas de linguagem, ampliamos o vocabulário, vivemos o imaginário, além de estimularmos o desenvolvimento das funções cognitivas importantes para o pensamento, tais como a comparação (entre as figuras e o texto lido ou narrado), o pensamento hipotético, o raciocínio lógico, o pensamento divergente ou convergente, as relações espaciais e temporais (toda história tem princípio, meio e fim). Os enredos geralmente são organizados de forma que um conteúdo moral possa ser inferido das ações dos personagens, fato que contribui para a construção da ética e da cidadania do sujeito. (http://www.portaleducacao.com.br/cursos). Partindo do raciocínio de que contar histórias precede a linguagem verbal, é possível contar histórias se apropriando de diversas linguagens. Por assim ser, a literatura escrita ou falada narra uma história, assim como a música, a dança, o cinema e as novas tecnologias digitais. Retomando neste momento o nascimento dos contadores de histórias e dos animadores culturais, O contador de histórias surgiu da necessidade de perpetuar o imaginário individual ou coletivo e, nesse contexto desempenhou um papel especial. Ele é a ponte que liga o mundo de fora ao mundo de dentro. Em várias civilizações e tradições, o narrador é o mantenedor do sistema mítico e dos valores da sua comunidade, como também um instrumento que operacionaliza o acesso aos diferentes níveis de realidade (BUSATTO, 2012, s/p). O contador de histórias nos faz sonhar, como também nos proporciona um alento para o espírito que traz uma confortável sensação de se estar em paz porque consegue parar o tempo apresentando um novo tempo e neste momento, utilizando-me de uma metáfora, o ouvinte abre-se para a escuta 60 flutuante, sem avaliação e julgamentos, deixando-se levar por um estado de concentração. Eles podem ainda, restaurar o riso que fora deixado em algum momento da vida, a autoestima e a autoconfiança que também foram dissipados, ou até mesmo, a crença e a confiança pela vida. É a este sentido que me refiro ao traçar um paralelo entre as práticas da leitura e da escrita com as “educações” não formal e informal, em que o ato de ler passou a ser também, tarefa solicitada e desejada, principalmente pelas crianças, aos “contadores de histórias” e/ou “animadores culturais”, descaracterizando assim, a Educação formal. Reforçando meus escritos, os contadores de histórias, bem como os animadores culturais, direcionam a narração para que suas histórias não sejam esvaziadas de sentido e vistas apenas como mais um dos inúmeros passatempos oferecidos. Então, que venham as boas histórias acompanhadas do “era uma vez...”, que é a senha conhecida para se entrar no maravilhoso mundo dos contos, mitos, lendas, fábulas e as histórias... quantas histórias. Basta que alguém diga essas três palavrinhas que anunciam a entrada no universo do encantamento – “Era uma vez...” - que o encanto acontece, e tanto as crianças quanto nós, adultos, como que hipnotizados, esperamos que o narrador prossiga com sua narrativa. Retomando ao que se refere à atividade de leitura - entendam-se aqui tipos e gêneros diferenciados - que eram aconselhadas pelos “velhos” e antigos Mestres, em um tempo em que a leitura necessariamente deveria ser realizada individual e reflexivamente e que, na opinião de Lajolo (2000): “transformou-se hoje em consumo rápido de texto, em leitura dinâmica que, para ser lucrativa, tem de envelhecer depressa, gerando constantemente a necessidade de novos textos” (p. 105). Relembro que, para aproximar a produção escrita das necessidades enfrentadas no dia a dia, o caminho atual é enfocar o desenvolvimento dos comportamentos leitores e escritores, ou seja, levar o leitor a participar de forma eficiente das atividades da vida social que envolve o ler e o escrever. Referenciando-me aos alunos da graduação, sujeitos desta pesquisa, discutir textos acadêmicos em sala de aula, noticiar um fato destacado em um 61 jornal, colocar em argumentação propostas que se refiram às leis da área da Educação, por exemplo, cada uma dessas ações envolve um tipo de texto, com finalidades, suportes e meios de veiculação específicos. Conhecer esses aspectos é condição mínima necessária para enfim, o aluno escolher o que vai escrever e de que forma fará isso. Fica perceptível para mim, após análise das escritas de um grupo de estudantes do curso de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino que, não são apenas as questões gramaticais (a ortografia, por exemplo), que ocupam a atenção dos alunos por ocasião da construção da escrita, como também a forma de elaborar o texto. É neste emaranhado de modalidades que se abre espaço para a Educação não formal e informal, em que o intermediário pode incitar diante do público que estiver interagindo, o interesse pela leitura e também pela escrita por meio de ações inusitadas e criativas. Afora os atrativos, proporcionados através da leitura ou da escrita que podem ser aflorados, mediante a satisfação que o ato de ler proporciona, é preciso que o educador atuante nas comunidades, conscientize o seu público de que “aprender a ler” se faz necessário também para atividades rotineiras, como ler jornais, assinar contratos de trabalho, procurar empregos através de anúncios, solicitar documentos na polícia, enfim, para todos aqueles que participam, mesmo que à revelia, dos circuitos da sociedade moderna, que fez da escrita seu código oficial (LAJOLO, 2000, p. 106). Retomando Paulo Freire (2011), a leitura do mundo e a leitura da palavra caminham dinamicamente alinhadas. O comando da leitura e da escrita acontece a partir de palavras e de temas significativos à experiência comum dos alfabetizandos e não de palavras e de temas apenas ligados à experiência do educador (p. 41). Com o simples propósito de contextualização, relembrarei e resumirei, ainda que brevemente, algumas necessidades didáticas vistas como fundamentais para Freire (2011): A alfabetização, em especial a de adultos, não deve ser reduzida ao aprendizado mecânico da leitura e da escrita; 62 O aprendizado da leitura e da escrita de textos requer a “leitura” da realidade através da análise da prática social dos educandos. Assim sendo, há a impossibilidade de separar-se alfabetização e educação em geral, do meio social ou ainda das experiências vividas pelos aprendizes (p. 246). A “leitura” da realidade, aplicada à compreensão da prática social, contribui para que o aprendizado da leitura e da escrita seja aclarado. Para estabelecer relação com este fato, deixo sublinhado: ... um participante de excelente programa de ação cultural, ou de animação cultural, ou de educação popular, não importa o nome que se dê, de Sedengal, afirmou: “Antes, não sabíamos que sabíamos. Agora, sabemos que sabíamos e que podemos saber mais” (FREIRE, 2011, p. 254). Com base neste trecho, o sujeito, na citação referenciada, encontra-se em um processo de compreensão do conhecimento, porém ao efetuar a declaração, referiu-se não apenas ao domínio que conseguira exercer sobre algumas palavras. Referia-se também, às dimensões da realidade que vinha desvelando e principalmente o que ainda poderia ser revelado. Entretanto, importante ressaltar que a leitura literária também é imprescindível e por assim ser, ela integra o “currículo escolar” tornando-se pertencente à educação formal. A este respeito, Lajolo (2000) diz: ... o cidadão para exercer plenamente a sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária, alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca vá escrever um livro: mas porque precisa ler muito (p. 106). O mesmo e na mesma lógica, ocorre com o ato de escrever. Nos dias de hoje, em que as sociedades do mundo inteiro estão cada vez mais centradas na escrita, saber ler e escrever é fundamental para responder às demandas contemporâneas. É preciso ir além da simples aquisição do código escrito, é preciso fazer uso da leitura e da escrita no cotidiano, apropriar-se da função social dessas duas práticas. Nos dizeres de Soares, em entrevista ao Jornal do Brasil (2008): “A cada momento, multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não 63 só na chamada cultura de papel, mas também na nova cultura da tela, com os meios eletrônicos” (s/p). Desta forma e em função das sociedades tornarem-se cada vez mais centradas na escrita, saber escrever é fator imprescindível para o exercício das práticas sociais uma vez que, a todo o momento, somos expostos a situações em que se faz necessário o uso da escrita, seja para escrever cartas, e-mail, relatórios, ofícios, bilhetes, preencher formulários, listas de compras, dentre tantas outras atividades que poderiam ser citadas. 1.3. A ORALIDADE E A LÍNGUA ESCRITA Tão logo nascemos, começamos a interpretar gestos, olhares, expressões faciais, palavras e imagens. Ao longo de nosso crescimento e ao darmos início à nossa “vida escolar”, o processo de interpretação passa a ser aperfeiçoado pela escola, por meio da leitura e da escrita. Interessante salientar neste momento, que esta potencialização, envolve todas as áreas, uma vez que, mais do que reproduzir o som das palavras, é necessário que as mesmas sejam compreendidas, pois é por meio da escrita que registramos as informações e construímos uma “ponte” entre o tempo e o espaço. A sua disseminação está relacionada diretamente à evolução da memória. De acordo com Queiroz (2006): As grandes civilizações, como as da Mesopotâmia, do Egito, da China e da América pré-colombiana usaram a memória escrita como símbolo de progresso evolutivo. A escrita está na fonte de todo progresso humano. Há cerca de vinte mil anos o homem exprime o seu pensamento através de meios gráficos, e há mais ou menos seis mil anos que conhece as formas de escrita. Desde então a palavra escrita só conheceu sucessos e a sua história está voltada para uma expansão cada vez maior (s/p). É inimaginável pensarmos como e o quê seria se não houvesse os registros escritos. Se, nos pegarmos a relacionar as ocasiões em que a escrita se faz presente e necessária em nosso cotidiano, podemos iniciar por elencar que a escrita é, sobretudo, a fixação da linguagem falada em uma forma permanente. É por meio da escrita que se faz a história. 64 Retrocedendo para a pré-história, vamos nos lembrar de que o homem se comunicava através de desenhos que eram realizados nas paredes das cavernas. Era por esta representação, conhecida como pintura rupestre, que eles retratavam cenas do cotidiano, trocavam mensagens, transmitiam seus desejos e suas necessidades. As paredes das cavernas serviam também como uma espécie de agenda, onde eram desenhadas algumas ideias ou mensagens. Os homens pré-históricos faziam estes desenhos utilizando elementos da natureza: extrato retirado de plantas, árvores e frutos, sangue de animais, carvão, rochas. Entretanto, ainda não era considerado como escrita, pois não havia padronização das representações gráficas. Inscrição rupestre Fonte: Portal São Francisco 65 O mais antigo sistema de escrita foi elaborado pelos sumérios por volta de 4000 a.C., na antiga Mesopotâmia, ocasião em que desenvolveram a escrita cuneiforme. O processo teve início a partir de uma imagem simples, a qual evoluiu para um símbolo pictográfico fonetizado. Usavam placas de barro, onde cunhavam esta escrita. Muito do que sabemos hoje sobre este período da história, devemos às placas de argila com registros cotidianos, administrativos, econômicos e políticos da época. Escrita cuneiforme Fonte: Casa do Manuscrito 66 Os egípcios antigos desenvolveram a escrita no mesmo período que os sumérios, porém com duas formas diferentes entre si: a demótica (forma simplificada da escrita hierática, utilizada em documentos jurídicos) e a hieroglífica (mais elaborada, utilizava imagens para representar objetos concretos e, para representar ideias abstratas, formada por desenhos e símbolos). Demotic glyphs representing single consonants Fonte: Omniglot – The online encyclopedia Escrita hieroglífica Fonte: Casa do Manuscrito A título de curiosidade, as paredes das pirâmides eram repletas de escritos sobre a vida dos faraós, rezas e mensagens para espantar saqueadores. Uma espécie de papel, chamado papiro, produzido a partir de uma planta do mesmo nome, também era utilizada para escrever. Foi esta planta que forneceu à humanidade um dos principais instrumentos do progresso: o papel. 67 Planta papiro, da família das cyperaceas, era encontrada nas margens do rio Nilo. As folhas são longas e fibrosas, um pouco semelhantes às folhas de cana-de-açúcar. Fonte: Fascínio Egito Na Roma Antiga, o alfabeto romano possuía apenas letras maiúsculas. Entretanto, com a evolução, a escrita foi se transformando e no início da utilização do pergaminho, criou-se um novo estilo de escrita – a uncial. Este novo estilo foi utilizado na escritura das Bíblias. 68 Fonte: Casa do Manuscrito Fonte: Ficheiro: Codex Vaticanus 69 Com o passar do tempo, a escrita passou por transformações, mas foi no século XV, que alguns eruditos italianos, criaram um novo estilo de escrita. No ano de 1522, o italiano Lodovico Arrighi 15, publicou o primeiro caderno de caligrafia. Foi o responsável pela popularização e difusão na Europa do tipo específico da escrita cursiva chamada chanceleresco - que deu origem ao estilo que hoje chamamos de “itálico”. Na terminologia tipográfica tradicional, esta letra chama-se “grifo”. La Operina, Manual de Caligrafia de 1522 Fonte: Tipógrafos.net 15 Ludovico Vicentino Degli Arrighi (1480 – 1527). Foi escriba papal e um dos calígrafos que participaram na criação da cultura tipográfica ocidental durante o Renascimento italiano. 70 Podemos observar que a letra é um símbolo visual, o qual é utilizado para efetuar registros e que vem evoluindo ao longo do tempo. Presenciamos também que, se os símbolos não tivessem passado por alterações, estaríamos ainda desenhando sinais pictóricos16. A escrita foi se transformando na medida em que a comunicação foi se tornando mais ágil. Johannes Gutenberg substituiu as pranchas xilográficas por caracteres móveis de madeira, depois pelo cobre, finalizando no aço. Criou um processo que cunhava as letras em matrizes de aço gravando-as em relevo, o que gerava uma espécie de molde. Desta forma, estava inventada a imprensa. Foi Gutenberg quem produziu a primeira Bíblia, impressa em latim, com uma tiragem de 300 exemplares. Uma página da Bíblia de Gutenberg Fonte: História da leitura: a imprensa de Gutenberg 16 Em linguística: linguagem oral para escrita - Mímica é um exemplo de imagem pictórica. 71 Para finalizar vale mencionar que todas as formas de inscrição gráfica referenciadas para o registro da escrita - pedra, madeira, papiro, pergaminho – foram fundamentais para que a cultura ficasse perpetuada por vários séculos. A linguagem oral, representada através da letra, reflete diferentes maneiras de sentir, de visualizar o mundo, de externar conquistas, de se relacionar socialmente. A escrita perpetua as ideias, preserva histórias guardadas na memória, transcende no tempo e no espaço. De acordo com Queiroz: ... a escrita é mais que um instrumento. Mesmo emudecendo a palavra, ela não apenas a guarda, ela realiza o pensamento que até então permanece em estado de possibilidade. Os mais simples traços desenhados pelo homem em pedra ou papel não são apenas um meio, eles também encerram e ressuscitam a todo o momento o pensamento humano. Para além-modo de imobilização da linguagem, a escrita é uma nova linguagem, muda certamente, mas, segundo a expressão de L. Febvre, “centuplicada”, que disciplina o pensamento e, ao transcrevê-lo, o organiza (HIGOUNET, 2003, p. 9-10). Perpassando para o mundo acadêmico, percebe-se que, em muitas escolas, a linguagem é pré-requisito exclusivo da Língua Portuguesa, porém a interpretação por meio da leitura e o registro por meio da escrita se fazem necessários e presentes em todas as disciplinas. Desta forma, é essencial que o professor apresente propostas de trabalho aos seus alunos, as quais envolvam os aspectos da fala e da escrita e que os alunos percebam que a língua é dinâmica e, sobretudo, que dispomos desta mesma língua em função da situação comunicativa em que estamos inseridos visando os objetivos que pretendemos alcançar. Assim sendo, cada modalidade da língua apresenta seu conjunto de normas às quais seus usuários devem adequar-se. Importante destacar neste momento, que no Brasil não se fala apenas uma língua: a língua portuguesa. Esta unidade linguística se trata, entre outras definições, “de um mito, uma ideia falsa, sem correspondente na realidade” (BAGNO, 2012, p. 18). Em função de que em nosso país existem ainda diversos pontos habitados por sobreviventes de antigas nações indígenas, muitas comunidades de estrangeiros que mantém viva a língua de seus 72 ancestrais, sejam eles coreanos, japoneses italianos, temos no Brasil mais de duzentas línguas espalhadas e faladas por todo nosso território. Independentemente dos indígenas e dos imigrantes, temos também a variedade linguística, no que se refere às diferenças apresentadas na língua. Relevante neste contexto considerar o seguinte enfoque: Norma-padrão: ortografia oficial, padronizada, maneira única de escrever, imposta por decreto-lei governamental, maior números de palavras eruditas, mais termos técnicos, vocabulário mais diversificado, ou seja, é “a índole da língua”. Esse português-padrão – PP – é a norma oficial, usada na literatura, nos meios de comunicação, nas escolas, definidas nos dicionários. Português não padrão – PNP: varia de acordo com as diferentes regiões geográficas, classes sociais, faixas etárias e níveis de escolarização que se encontram os falantes dessa língua. Por ser utilizada por pessoas de classes sociais desprestigiadas, esta língua é considerada “feia”, “deficiente”, “pobre”. De acordo com Luiz Antônio Marcuschi (1997): "Falar ou escrever bem não é ser capaz de adequar-se às regras da língua, mas é usar adequadamente a língua para produzir um efeito de sentido pretendido numa dada situação" (s/p). Deve-se considerar que existem inúmeros fatores que influenciam na escrita e na oralidade de uma pessoa ou de um grupo social. Existem variedades: Geográficas: região Centro-Sul há diferenças entre o falar do carioca e do paulistano; Gênero: a língua fica diferente quando é falada por um homem ou por uma mulher; Socioeconômicas: falada por pessoa alfabetizada ou não alfabetizada; classe alta, classe média ou classe baixa; morador da cidade ou morador do campo; 73 Etária: falada por uma criança ou por um adulto. Sintetizando, cada uma dessas versatilidades compõe uma variedade. É como se cada pessoa falasse uma língua só sua. Elaborando um comparativo com a escrita, cada um tem a sua letra, o seu jeito de escrever, que é único e exclusivo, e que até serve para identificar uma pessoa, mas que ao mesmo tempo pode ser lido e entendido pelos outros (BAGNO, 2012, p. 20). A língua portuguesa, atualmente, é a quinta língua mais falada no mundo e possui duas grafias oficiais, o que dificulta o estabelecimento da língua como um dos idiomas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU). Com o advento da oficialização e da padronização da língua, e por meio da Reforma Ortográfica, a ortografia-padrão facilitará o intercâmbio cultural entre os países lusófonos, ou seja, os que falam a língua portuguesa. Livros, inclusive os científicos, e materiais didáticos poderão circular livremente entre os países, sem que haja a necessidade de serem revisados. Bechara, em sua entrevista concedida ao Jornal Folha da Tarde, deixou claro que as mudanças foram elaboradas na intenção de simplificar a escrita e não dificultá-la. Esclareceu ainda que o Acordo Ortográfico se refere somente a proximidade da grafia entre os países Brasil e Portugal. Neste sentido, Bechara (2009) diz: Nenhuma ortografia no mundo é perfeita. As ortografias têm sempre, de todas as línguas, seus percalços, suas insuficiências. Agora, quando a diferença entre Portugal e Brasil estiver apenas no nível da grafia, aí o acordo unifica. Mas há fatos que são de língua, que não são de ortografia. Ortografia é convenção, língua é um fato. Quando se trata de fatos da língua, então a ortografia variará não só na comparação Portugal e Brasil, mas também dentro do próprio Portugal e dentro do próprio Brasil. O acordo é somente para a realidade escrita e não para a realidade pronunciada (s/p). No que se refere ao aprendizado desta nova ortografia, é natural que os jovens em fase de alfabetização, serão “beneficiados”, visto que o “Acordo” trouxe uma significativa simplificação das regras. Aos que sabem escrever, precisam passar por um período de adaptação e se empenhar para compreender e assimilar as “novas regras”. 74 Ainda de acordo com Bechara (2009): ...”a reforma ortográfica nunca é para a geração que a faz, mas para os jovens que estão em fase de aprendizado” (s/p). No que se refere à leitura, Bechara (2009) coloca: Aqueles que leem estão divididos em aqueles que leram e aqueles que leram e não entenderam. É a mesma coisa que não saber. Só pronunciar as palavras não significa que você tem a compreensão da língua. Se fosse assim, o papagaio era alfabetizado (s/p). Sabemos que a língua é um sistema de signos histórico e social e que o domínio da língua portuguesa “abre caminhos” para a participação social, uma vez que, é por meio dela que o homem se comunica e tem acesso à informação, expressa e defende posicionamentos, e, sobretudo, adquire conhecimento. De acordo com Viana (2012): O estabelecimento de inferências, bem como a formulação de previsões, são processos que fazem parte da linguagem em geral, e, portanto estão presentes tanto na compreensão da fala quanto da escrita, que está presente de maneira hipertextual no meio digital (s/p). A compreensão da linguagem se faz entre o que está explícito e o que o leitor interpreta do texto, baseado no seu conhecimento de mundo. Assim sendo, ao se propor atividades que envolvam leituras e neste momento, incluem-se os textos virtuais midiáticos, é necessário que haja orientação pedagógica que possibilite a compreensão do que se vê e do que se lê. 75 CAPÍTULO 2 2.1. A TECNOLOGIA NAS “EDUCAÇÕES” E O APRENDIZADO DA LÍNGUA-MÃE “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história.” (Bill Gates) Este capítulo conceitua os termos que recebe a língua portuguesa e que por tantas ocasiões, é pelos usuários, motivo de equívoco ao aplicá-lo. Língua-materna possui como sinônimo, língua-mãe ou ainda línguanativa. Essas denominações foram aplicadas em função de ser a primeira língua que é aprendida na infância até os 5-6 anos de idade. David Crystal registra o termo “native speaker”, cuja tradução para a língua portuguesa é “falante nativo”, para designar o indivíduo que, tendo em criança adquirido uma língua particular – neste contexto a língua portuguesa possui as intuições e os juízos mais seguros sobre o funcionamento da mesma. Essas expressões foram adquiridas dos hábitos em que as mães eram as únicas pessoas que educavam seus filhos na primeira infância. Desta forma, a língua inicialmente assimilada pela criança, era a da mãe. O aprendizado da língua-mãe seja ele através da fala, da leitura ou da escrita, apresenta uma dinâmica que se transforma constantemente e oscila em função do meio social em que o sujeito se relaciona o que pode resultar, invariavelmente e involuntariamente, nas relações entre “os eus e os outros”. Sentimos necessidade de “buscar” informação constantemente seja pela ciência ou pelo senso comum, e este desejo nos impulsiona a procurar diferentes tipos de pesquisa, através de diversos meios, na tentativa de encontrar soluções para as situações que se apresentam no cotidiano. 76 Em contrapartida, para que a necessidade e o desejo pelo aprendizado sejam saciados, torna-se interessante que haja em paralelo, uma liderança criativa, com o afastamento da constante burocracia, que permita a troca de experiências e, sobretudo, a livre circulação de ideias. Dessa forma e para que isso aconteça, é importante que ocorra a mobilização de diferentes meios, que possam oferecer suporte alternativo, associado a um ambiente, também atrativo. Compreensível considerar que o ensino da Língua Portuguesa por meio de textos dispostos no meio virtual torna-se mais atrativo, uma vez que é possível visualizar as imagens, animações e outros aplicativos de comunicação. A prática da leitura pela internet viabiliza acessar títulos de obras raras, as quais só eram encontradas em grandes bibliotecas. Assim como em qualquer prática, a leitura realizada por meio virtual deve ser dotada de sentido. Viana apud Fulgêncio (2001) coloca: A obtenção de informação através da linguagem não se faz pela compreensão de cada elemento; ou seja, da decodificação, mas utilizando-se das informações visuais e não-visuais em que se podem conectar as partes dos textos e enfim compreendê-las (p.98). Por assim ser, o mundo contemporâneo oferece informações por meio de elementos visuais e não visuais também dispostos no âmbito midiático. Pertinente evidenciar que os ambientes midiáticos não se limitam à internet, mas também ao rádio e aos meios televisivos, sendo que estes se fazem mais presentes na realidade do contexto educacional do que a rede virtual. Diante desses instrumentos tecnológicos, pode-se considerar que existem variadas possibilidades de despertar nos alunos, habilidades de interpretação e de escrita de diversas modalidades. Por esta análise, torna-se inimaginável viver sem a tecnologia, visto que ela se encontra em todos os espaços do nosso cotidiano. Entretanto, muito embora esta palavra agregue grande influência em diversas áreas, o termo tecnologia acompanha os homens desde o início da história. 77 A Revolução Industrial foi o “marco”, a mudança da técnica para a tecnologia. Aponto como técnica, o plantio e a caça utilizando-se de arco e flecha. De acordo com Eduardo de Freitas, em artigo publicado na Revista online Brasil Escola (2012): Técnica é criar um manejo, um conhecimento que possa gerar inventos com intuito de facilitar um determinado trabalho. Com as relações sociais de experiências ocorre a evolução das técnicas, que seria um acúmulo de conhecimento acerca das formas de trabalho (s/p). A tecnologia da contemporaneidade é o resultado da transformação da técnica para a tecnologia e neste momento eu aponto os computadores, o transporte aéreo, a fibra óptica. Observa-se que tecnologia é a técnica evoluída; são as ideias do passado que foram sendo aprimoradas e modificadas ao longo dos anos. Referenciando-me nas definições de Silva, Bastos e Fialho (s/data): Tecnologia é um termo que envolve o conhecimento, técnico e científico, e as ferramentas, processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento. Dependendo do contexto, a tecnologia pode ser ferramentas e máquinas que ajudam a resolver problemas. Técnicas são conhecimentos, métodos e materiais usados para resolver ou facilitar a solução dos problemas. O momento no qual os seres humanos começaram a usar ferramentas de caça e de proteção é o início da história da tecnologia (s/p). Sintetizando, técnicas são procedimentos realizados para se obter um determinado resultado; implica em conhecer o que fazer, que ferramentas usar e como usá-las para a função. Já a tecnologia deve proporcionar ao homem, uma vida mais fácil e agradável por meio de inovações tecnológicas que melhorem e simplifiquem as suas vidas. Sabemos que o conceito de tecnologia é polissêmico, ou seja, possui vários significados, os quais variam em função do âmbito que está sendo analisado. Por assim ser, a tecnologia pode ser vista como fonte de 78 conhecimento científico, ou como uma técnica que pode ser utilizada para favorecer o trabalho do homem de forma a torná-lo mais prazeroso, mais flexível, culminando assim, em uma qualidade de vida mais satisfatória, agradável ou até mesmo divertida. Ainda de acordo com Lima (apud KENSKI, 2007), tecnologia é: [...] um conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam ao planejamento, à construção e à utilização de um equipamento em um determinado tipo de atividade (p. 24). Assim sendo, é relevante desenvolver um trabalho tanto escolar quanto extraescola – não formal e informal -, que seja interessante aos sujeitos, que envolva os familiares, que complemente e ofereça satisfação à comunidade escolar. Este desenvolvimento pode acontecer na Educação não formal e na informal, por exemplo, na rua, na família, na igreja, no trabalho enfim, em ambientes onde haja encontros e relacionamentos sociais. Articulando esta inserção nos processos de ensino e aprendizagem da língua materna, sabemos que, ao longo do século XX, a escola apresentou como grande desafio, o ensino do domínio da escrita, tendo como maior objetivo “ensinar a escrever”, “ensinar a ler” e a “gostar de ler”. Trata-se de um desafio, uma vez que, faz-se necessário que sejam incutidas aos falantes da língua que, a fala e a escrita são duas modalidades diferentes da língua. Em entrevista à Revista Veja (1990), Jô Soares foi assim abordado pela repórter: "Português é fácil de aprender porque é uma língua que se escreve exatamente como se fala." Em resposta, ele brincou com a diferença entre o português falado e o escrito, da seguinte forma: Pois é. U purtuguêis é muinto fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. É só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui bom qui a minha língua é u purtuguêis. Quem soubé falá sabi iscrevê (s/p). 79 Invariavelmente, em todas as línguas, a forma escrita se diferencia da forma falada uma vez que, a fala e a escrita exigem conhecimentos diferentes. Fala e escrita são duas esferas diferentes da linguagem, mas que andam lado a lado e que em determinados momentos se unem mutuamente. Para aprender a escrever, é fundamental que o sujeito tenha diversas oportunidades de fazê-lo, independentemente se sabe ou não grafar as palavras corretamente: quanto mais se disponibilizar a escrever, mais aprenderá sobre o funcionamento da escrita. Ao oportunizarmos a escrita, estamos abrindo caminhos para que o sujeito, na escola, independentemente do nível de escolaridade, faça o levantamento de hipóteses sobre a grafia, reflita em como ela se organiza, o que representa e sua aplicação. Mesmo quando as crianças ainda não sabem escrever convencionalmente, elas já apresentam hipóteses sobre como fazê-lo. Perpassando para o mundo da globalização, ocorre que, no decorrer das últimas décadas, surgiram novos contextos de intervenção educativa, as quais estavam baseadas principalmente na investigação das possibilidades oferecidas por meio da comunicação eletrônica, fato que colaborou significativamente com o ambiente de aprendizagem não formal. Encontramo-nos atualmente, na “Era Digital”, momento em que as informações se multiplicam entusiasmaticamente e em larga escala. De posse deste cenário, vivenciamos as intensas mudanças que são promovidas nos setores sociais, incluindo a escola, a qual se utiliza dos computadores como instrumento de levantamento de informações. Esta revolução está causando grandes mudanças, pois o mundo globalizado exige dos indivíduos adaptações para aquisição dos novos conhecimentos. Na área educacional, a informática educativa, deve ser vista como uma ferramenta que estimule e desenvolva as funções intelectuais dos alunos, objetivando facilitar a aprendizagem. Baseando-me em Carnoy (2002), com a chegada da tecnologia nas instituições educativas e apesar das extensas bibliografias que enaltecem os méritos de tais recursos, ainda não existem literaturas que comprovem que a utilização de equipamentos para além do quadro-negro e do retroprojetor aprimore o desempenho dos alunos no âmbito escolar. Ainda neste sentido, 80 difícil também se faz comprovar que o computador, quando disponibilizado em sala de aula, é utilizado com critérios que favoreçam a aprendizagem. Ainda de acordo com Carnoy (2002), A mundialização acelerou a entrada da informática na escola, mas essa tentativa limita-se, em geral, à instalação de computadores e de alguns programas de informática sem prever estágio de iniciação, meios de suporte, tampouco evolução dos métodos de ensino e programas necessários para a completa integração da informática, enquanto modo de aprendizagem (p. 101). Há muito que rádios e televisores são utilizados como recursos para fins educativos. Programas televisivos exercem impactos positivos no que se refere à leitura e cálculos matemáticos. Até mesmo programas educativos transmitidos por emissoras culturais são julgados eficazes quando utilizados com discernimento pelos professores. O computador, no meio acadêmico, influi sobre a rapidez das comunicações. Traçando um paralelo entre Carnoy (2002) e o tema objeto desta dissertação: Os exercícios e os programas de informática dedicados à didática, os trabalhos dirigidos, os inumeráveis jogos educativos propostos no comércio, o programa LOGO, assim como os programas de simulação e de animação para explicar os princípios científicos e, até mesmo, os programas de tratamento de texto com corretor ortográfico e dicionário de sinônimos podem revelar-se instrumentos eficazes para fazer progredir os alunos. A chegada da internet oferece outra forma de coleta de dados que é apreciada para a pesquisa e dá acesso a um maná de informações; portanto, segundo parece, existe uma real possibilidade para tornar o computador um novo instrumento de aprendizagem (p. 102). A utilização do computador no ambiente escolar deve acontecer de maneira que ele seja mais um recurso, ou seja, um mediador cultural na perspectiva em que a aprendizagem ocorra na relação entre sujeito e o conteúdo a ser aprendido por meio de uma ponte entre os quais está o computador que pode “facilitar” ou “dificultar” tal processo. Baseando-nos em Alarcão e Araújo e Sá (2010): 81 Os contextos de aprendizagem não formais e informais, numa sociedade em que se aprende em qualquer tempo e em qualquer lugar, cumprem funções cada vez mais relevantes e que devem ser articuladas com as dos contextos formais, favorecendo a construção de um continuum de oportunidades de aprendizagem em que as aprendizagens linguísticas se articulam com outros saberes (p.5). Neste sentido, a aprendizagem por meio da comunicação eletrônica, por exemplo, em ambientes informais e não formais oportuniza a ampliação da educação linguística no decurso de programas de dinamização de atividades de leitura e escrita, ainda que a presença do professor, do mediador é indireta ou nula, não havendo a relação professor-aluno, se caracterizando por processos de construção e de apropriação do conhecimento sem a necessidade de frequentar a escola formal. Assim como a comunicação eletrônica colaborou significativamente com o ambiente de aprendizagem não formal, sabemos também que, o dinamismo e a facilidade que a Era Digital proporciona, causa igualmente uma preocupação com o surgimento de novas formas de escrita, uma vez que as modalidades apresentadas de leitura e escrita no meio virtual oferecem inúmeras possibilidades de interação entre o leitor e o texto. Ao disponibilizarmos aos sujeitos textos impressos e textos eletrônicos, torna-se transparente que o envolvimento com o texto eletrônico é mais abrangente em função da interação que o recurso midiático oferece através de sons e imagens, ou seja, de hipertextualização com uso de “aberturas de janelas” ou links para muitos sítios. Entretanto, todo esse dinamismo e facilidade oferecidos podem ocasionar transtornos aos meios educativos levando o aluno a sistematização dos “vícios da escrita” e “da linguagem”. É então, que entra a ortografia, a responsável pela parte da língua que se refere a grafia correta das palavras. Essa grafia baseia-se no padrão culto da língua. 82 2.2. AFINAL, O QUE É ESSA TAL DE ORTOGRAFIA? “Palavras não são más, Palavras não são quentes, Palavras são iguais, Mesmo sendo diferentes.” (Sérgio Brito e Marcelo Fromer) Sabemos que uma língua serve para comunicação ampla desde a casa, passando pela rua até a escola e os meios culturais. É na língua que se constitui a identidade pessoal ou a identificação regional, étnica e cultural de uma pessoa. O ato de escrever está tão intimamente fundido em nosso cotidiano que deixamos de nos questionar sobre a origem da escrita, sua estrutura e sua organização. Trivial ouvir-se que a pessoa alfabetizada e que sabe expressar um pensamento oralmente, sabe também colocá-lo no papel, ou seja, escrevêlo. Entretanto é importante, neste momento, salientar que a escrita possui características e configurações diferenciadas da oralidade, o que a torna específica. Pautando-me em Vygotsky (1989): ... a escrita é uma representação, um sistema simbólico que possibilita desenvolver funções psicológicas superiores; ela permite trabalhar com categorias abstratas, independentes da experiência vivida e do contexto concreto (p.85). Assim, a escrita é mais do que um simples instrumento de comunicação, ou ainda, vai além de alguns pequenos rabiscos no papel. A escrita é um instrumento do pensamento reflexivo e teórico que produz interferência direta na forma de ver e de se relacionar com o mundo. Na sociedade contemporânea, a escrita se faz necessária em todos os espaços e em todos os momentos. Nessas circunstâncias, relevante ressaltar que vivemos um momento histórico de renovação da língua-materna e por 83 assim ser, gradativamente, a língua ensinada na escola está adquirindo características semelhantes às adotadas fora do ambiente escolar. Entretanto, a escola resiste e mantém como eixo orientador do trabalho com a língua, a leitura e a produção de textos, os quais estão diretamente integrados com a ortografia. Desta forma e assim sendo, faz-se necessário ensinar ortografia de uma maneira sistemática, ocasião em que surge a pergunta: Por quê? Inicialmente, pelo simples fato de que a escola prioriza a escrita correta, ou seja, cobra insistentemente do aluno que ele escreva certo e o pune quando comete erros ortográficos. Por outro lado, oferece escassas oportunidades de real reflexão entre educador x educando sobre as inúmeras dificuldades que a língua-mãe nos apresenta. Neste sentido, fica claro que existe uma via de “mão dupla”, onde a preocupação da escola está em avaliar o aluno e em verificar o seu conhecimento ortográfico, sendo que, o ideal seria investir na aquisição do conhecimento da ortografia, no ensinar, realmente, a ortografia. Sabemos que, o papel da escola é ensinar a norma padrão da língua partindo da linguagem social do aluno, seja na forma oral ou na forma escrita. Partindo deste pressuposto, natural seria que na Universidade, os alunos tivessem alcançado o domínio da língua e pudessem compreender que as condições da utilização da oralidade e da escrita podem ser alteradas de acordo com o contexto em que está sendo utilizada, ou seja, utilizar-se da norma culta e da língua-mãe, dependendo das circunstâncias sociais em que o sujeito se encontra. Em termos de ensino da língua portuguesa, a Universidade estabelece um relacionamento entre o 1º, 2º e 3º graus, contribuindo na aproximação entre as especificidades de cada nível de ensino. Entretanto, é perceptível que até mesmo no nível superior, os estudantes evidenciam dificuldades em compreender textos, organizar ideias, elaborar seus escritos e argumentar. Neste sentido e de acordo com artigo publicado na NetSaber, Djalmira Sá Almeida (2011): 84 ... os projetos alternativos de ensino devem ser valorizados, estimulando-se os professores que querem fazer algo mais além do alcance de sua área sem, no entanto, se criarem espaços corporativos para destacar algumas pessoas. Em língua portuguesa e, especialmente, em Produção de Textos, os projetos alternativos de ensino, não são estimulados sob o argumento de que as grades curriculares não os comportam (como se elas fossem imutáveis), dando-se a impressão de que o espaço de outras disciplinas “reais” esteja sendo invadido. Visar à preparação de universitários para elaborar textos acadêmicos não parece, a meu ver, invasão nem destronamento de “realezas”, mas um dever da Universidade de investir na graduação, na criação de propostas e em materiais auxiliares, para atender às necessidades da sociedade, e em especial, ao ensino da redação (s/p). Com isso, acredito que poderia haver um maior entrosamento entre todas as disciplinas com a articulação de ideias dos docentes, objetivando benefícios não apenas exclusivamente para o estudante como também oportunizando um encadeamento entre o aluno língua trabalho sociedade. Socialmente e no cotidiano, os tropeços ortográficos funcionam como fonte de censura, chacota e até de discriminação, dentro da escola e também fora dela e a isso, chamamos de “preconceito linguístico”. 17 No ambiente escolar, as circunstâncias são mais agravantes, uma vez que a competência e a produção textual do aluno são frequentemente confundidas com seu rendimento ortográfico. Um significativo percentual dos educadores, infelizmente, deixa-se impressionar pelos erros que o educando comete e com isso, ignora os avanços que ele apresentou em sua produção de texto. Essa postura adquirida muitas vezes pelos educadores/professores deixa marcas e consequências, visto que, o estudante, mesmo depois de muitos anos de escolaridade se sente inseguro quando têm a necessidade de produzir sua própria escrita, seja ela dentro da formalidade ou da informalidade, simplesmente pelo medo de errar. Considero que precisa ser disseminado e entendido que “a ortografia é uma convenção social cuja finalidade é ajudar a comunicação escrita”. (MORAIS, 2008, p. 18). 17 Preconceito linguístico é o deboche, a sátira, ou a não tolerância em relação ao modo de falar das pessoas. 85 2.3. A ORTOGRAFIA E O REGIONALISMO É mais comum do que imaginamos, ouvirmos as pessoas dizerem que a escrita deveria ser feita tal qual a falamos. Um dos fatores determinantes que impedem esta “facilidade” é a questão do regionalismo. Pessoas de regiões diferenciadas, pertencentes a grupos socioculturais distintos, nascidos em décadas específicas ou até mesmo filhos de imigrantes, pronunciam a mesma palavra de forma diferenciada. Essa variação na pronúncia é permitida desde que adequadas aos contextos aplicados. Traçando um paralelo entre ortografia e oralidade, analisemos o poema: 86 O poeta da roça (Patativa do Assaré) 18 Sou fio das mata, cantô da mão grossa, Trabaio na roça, de inverno e de estio A minha chupana é tapada de barro Só fumo cigarro de paia de mio. Sou poeta das brenha, não faço pape De argum menestré, ou errante canto Que veve vagando, com sua viola, Cantando, pachola, à procura de amo. Na tenho sabença, pois nunca estudei, Apenas eu sei o nome assina. Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre, E o fio do pobre não pode estuda. Meu verso rastêro, singelo e sem graça, Não entra na praça, no rico salão, Meu só entra no campo e na roça, Nas pobre paioça, da serra ao sertão. Só canto o buliço da vida apertada, Da lida apertada, da roça e dos eito E às veis, rescordando a feliz mocidade, Canto uma sôdade que mora em meu peito. Eu canto o cabôco com suas caçada, Nas noite assombrada que tudo apavora, Por dentro da mata, com tanta corage Topando a visage chamada caipora. 18 Patativa do Assaré, poeta e cantor cearense, falecido em 2002. “Patativa”: comparação do autor à Ave de Belo Canto. “Assaré”: município de origem do poeta. 87 Eu canto o vaquêro vestido de coro, Brigando com o tôro no mato fechado, Que pega na ponta do brabo novio, Ganhando lugio do dono do gado. Eu canto o mendigo de sujo farrapo, Coberto de trapo e mochila na mão, Que chora pedindo o socorro dos home, E tomba de fome, sem terra e sem pão, E assim, sem cobiça dos cofre luzente, Eu vivo contente e feliz com a sorte, Morando no campo, sem vê a cidade Cantando a verdade das coisas do Norte (Antônio Gonçalves da Silva) Ao analisarmos esta obra, transparente fica aos nossos olhos, a impossibilidade de a grafarmos sob a forma de escrita de acordo com a oralidade. Neste sentido, é possível interpretar o texto, de acordo com o que segue: Trata-se de um brasileiro do meio rural, uma vez que ficou explicitada a expressão “trabaio na roça”; Região Norte/Nordeste, citada no último verso “Cantando a verdade das coisas do Norte”; Provavelmente o personagem mencionado seja idoso. Este entendimento aconteceu em função das seguintes colocações: “cantô da mão grossa”; “só fumo cigarro de paia de mio”; “na tenho sabença, pois nunca estudei”; “E às veis, rescordando a feliz mocidade”. Por assim ser, a ortografia trata-se de um recurso cujo objetivo é unificar na escrita, as múltiplas formas existentes que os usuários possuem para falar uma mesma língua. Escrevendo uniformemente, a comunicação flui com 88 naturalidade, sendo que a pronúncia de um mesmo texto é respeitada independentemente das características orais do leitor. Desta forma, o reconhecimento e o entendimento do texto lido é uma intercorrência natural independentemente da variação linguística e da pronúncia do locutor, a qual pode variar em função de sua região de origem. 2.4. O PAPEL DA MEMORIZAÇÃO “Escrever é fácil: Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio, você coloca as ideias.” (Pablo Neruda) Independentemente da presença de um professor da Língua Portuguesa, de um especialista em Gramática, dos Mediadores para os Cursos realizados a Distância, não há regra que explique por que as palavras “mesa” ou “casa” se escrevem com “s” e não com “z”, pois se tratam de palavras irregulares que precisam ser memorizadas. As irregularidades de nossa ortografia se concentram na escrita. Se não houver regras seguras que ajude o sujeito aprendiz a estabelecer relações no momento do registro da palavra, o mesmo dependerá neste momento, exclusivamente da memorização. Imprescindível destacar neste contexto que a memorização da forma correta das palavras irregulares corresponde a conservar na mente as imagens visuais dessas palavras, suas “imagens fotográficas”, adquiridas por meio de eventuais leituras em livros, jornais, revistas, outdoor, histórias em quadrinhos ou ainda, em “lista de palavras irregulares”. Reforço que memorizar está relacionado com compreender, internalizar e não deve ser confundido com “decorar”. Neste contexto e referenciando-me em Perrenoud (2000), trabalhar a partir de representações dos alunos não está relacionado absolutamente em fazê-los se expressar e se os mesmos cometerem supostas irregularidades ortográficas desvalorizá-los imediatamente. É necessário nesta situação, 89 considerar as diversas modalidades de escrita e oralidade, interessar-se por elas, tentar compreender suas raízes e sua forma de coerência. Importante também, não se demonstrar surpreso no momento em que alguns vocábulos ressurgirem, quando há muito julgávamos ultrapassado. Assim, todo espaço aberto para discussão, no sentido de trabalhar a partir das representações dos alunos, exercitando a compreensão de suas raízes e sua forma de coerência é extremamente válida e muito bem-vinda. Considera-se que o tempo de contato mantido com a escrita, as oportunidades de convívio nos ambientes formal e informal, influi consideravelmente sobre o rendimento ortográfico de pessoas que apresentam diferentes grupos sociais. Pessoas que dedicam um tempo expressivo à escrita, seja por se tratar de seu passatempo favorito ou por exigências profissionais, sabem que para terem uma escrita de boa qualidade é importante que este trabalho seja prolongado. Desta forma, o escritor começa a sair da camada do “usual”, do “habitual”, da “escrita cotidiana” e se depara com o seu estilo de escrever. Seria desejável que este “estilo” fosse único, transparente e verdadeiro. Por assim ser, o avanço da escolaridade contribui com a melhoria na capacidade de seguir a norma em função da aquisição do conhecimento, do tempo dedicado à escrita e do acúmulo natural do processo de memorização. A escola formal ainda é o melhor caminho para aquisição do conhecimento, entretanto, apesar do avanço da última década, o Brasil ainda não possibilita os jovens de alcançarem todos os níveis educacionais. Mais do que isso, temos presenciado na educação, a reprodução da enorme desigualdade que se encontra presente em nossa sociedade e, desigualdades em oportunidades educacionais têm amplas, profundas e duradouras consequências, difíceis de serem remediadas ou compensadas na idade adulta, o que afeta certamente, na qualidade do objeto de minha pesquisa que é a linguagem. Neste cenário, referencio-me à Prof.ª Maria das Graças Costa Val ao conceituar alfabetização e letramento no terceiro programa da série, intitulado "O que é ser alfabetizado e letrado”? 90 A apropriação da escrita é um processo complexo e multifacetado, que envolve tanto o domínio do sistema alfabético-ortográfico quanto à compreensão e o uso efetivo e autônomo da língua escrita em práticas sociais diversificadas. A partir da compreensão dessa complexidade é que se tem falado em alfabetização e letramento como fenômenos diferentes e complementares. De início, pode-se definir alfabetização como o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitam ao aluno ler e escrever com autonomia. Noutras palavras, alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado "código" escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e outras convenções) usadas para representá-la na escrita. Já letramento pode ser definido como o processo de inserção e participação na cultura escrita. Trata-se de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas, etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita (leitura e redação de contratos, de livros científicos ou de obras literárias, por exemplo). O termo letramento foi criado, portanto, quando se passou a entender que, nas sociedades contemporâneas, é insuficiente o mero aprendizado das "primeiras letras", e que integrar-se socialmente, hoje, envolve também "saber utilizar a língua escrita nas situações em que esta é necessária, lendo e produzindo textos". Essa nova palavra veio para designar "essa nova dimensão da entrada no mundo da escrita", que se constitui de um "conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades necessários para usar a língua em práticas sociais" (cf. Batista, 2003). É possível encontrar pessoas que passaram pela escola, aprenderam técnicas de decifração do código escrito e são capazes de ler palavras e textos simples, curtos, mas não são capazes de se valer da língua escrita em situações sociais que requerem habilidades mais complexas. Essas pessoas são alfabetizadas, mas não são letradas. Essa condição é particularmente dolorosa e indesejável, embora frequente, dentro da própria escola, porque acarreta dificuldades para o aprendizado dos diferentes conteúdos curriculares, ou mesmo inviabiliza esse aprendizado. Por isso é que se tem afirmado que alfabetização e letramento são processos diferentes, cada um com suas especificidades, mas complementares, inseparáveis e ambos indispensáveis. O desafio que se coloca hoje para os professores é o de conciliar esses dois processos, de modo a assegurar aos alunos a apropriação do sistema alfabético-ortográfico e a plena condição de uso da língua nas práticas sociais de leitura e escrita (Costa Val, 2004, s/p). 91 Ao longo do último século, o conceito de alfabetização foi sendo progressivamente ampliado, em função das necessidades sociais e políticas. Atualmente, não basta o indivíduo saber ler e escrever para ser considerado alfabetizado. É necessário que saiba também, fazer uso da escrita, da leitura, da interpretação e da produção de textos. Desta forma, o alfabetizado funcional deve ir além do ler e escrever mecanicamente; deve compreender o que leu e saber redigir um texto com autonomia, usando e valendo-se da linguagem escrita para atividades sociais do cotidiano. O tema leitura e escrita, por apresentar tais impactos, por si só instiga o despertar pela análise sob a ótica de que, nesse contexto, existe, ainda hoje, universitários que não sabem usar adequadamente a própria língua, o que acaba por influir na formação do leitor acadêmico. Conforme Santos (s/data): A leitura é de extrema importância na vida do leitor, capaz de habilitá-lo ao desenvolvimento na abrangência do seu conhecimento. Sua prática oportuniza o leitor a uma maior e diferenciada percepção do mundo, contribuindo inclusive no desenvolvimento do pensamento crítico, e a partir de conceitos e das informações até então obtidas, emitir um juízo de valor no sentido de questionar e avaliar o texto lido (s/p). Desta forma, a leitura deve ser praticada e tornar-se um hábito na vida do leitor. De acordo Freire (1988), O aluno como um sujeito do ato de ler desenvolve seu conhecimento com a prática da leitura, passando a compreender o mundo com mais clareza, interpretando as diferentes práticas sociais, e consequentemente, desprende-se da condição de dominado pela prática da educação bancária. O aluno que busca o saber torna-se também capaz de conquistar sua "autonomia" (p. 51). Portanto, entendo a leitura como sendo uma prática social que possibilita a construção de leitores durante a vida escolar e também fora dela e que interfere na formação leitora dos acadêmicos. 92 2.5. A LEITURA E SUAS INDAGAÇÕES 2.5.1. Seria a leitura apenas uma ação? “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.” (Carlos Drummond de Andrade) Para fins de contextualização, apresento a definição do vocábulo “ler” e para isso, se faz necessário buscar auxílio nos dicionários da língua portuguesa. Para consulta foram selecionados os dicionaristas Michaelis e Aurélio. De acordo com Aurélio (2009) e sua edição lançada após a Reforma Ortográfica de 2009, Ler [Do lat. legere] V.t.d.: 1.Percorrer com a vista (o que está escrito) proferindo ou não as palavras, mas conhecendo-as; 2. Pronunciar em voz alta; recitar (o que está escrito); 3. Ver e estudar (coisa escrita); 4. Perceber (sinais, signos, mensagem) com a vista ou com o tato, compreendendo-lhe o significado; 5. Decifrar ou interpretar o sentido de; 6. Ver as letras do alfabeto e juntá-las em palavras, repetindo-as mentalmente ou em voz alta. Pautando-se nas significações abaixo podemos concluir que esse dicionário apresenta o ato de ler como um ato mecânico de decodificação. Vejamos: Acepção do vocábulo Apreciação / Crivo 1.Percorrer com a vista (o que está escrito) proferindo ou não as palavras, mas conhecendo-as; 2 Pronunciar em voz alta; recitar (o que está escrito); 3. Ver e estudar (coisa escrita); 4. Perceber (sinais, signos, mensagem) com a vista ou com o tato, compreendendo-lhe o significado; 5. Decifrar ou interpretar o sentido de; Transmite a ideia de que o sentido está explicitado no texto. Por isso, basta o leitor decodificar as palavras; O ato de ler é simplesmente saber pronunciar em voz alta as palavras; A leitura é utilizada como estudo; Leitura realizada também através do método Braille; 6. Ver as letras do alfabeto e juntá-las em palavras, repetindo-as mentalmente ou em voz alta. Amplifica o que pode ser lido através da interpretação ou da decifração; Novamente a concepção mecânica do ato da leitura. 93 Tomando como comparativo o dicionário Michaelis (2010), em sua última versão, temos: Ler [v.Tr.dir.]: 1.Conhecer, interpretar por meio da leitura; 2. Conhecer as letras do alfabeto e saber juntá-las em palavras; 3. Pronunciar ou recitar em voz alta o que está escrito; 4. Estudar, vendo o que está escrito; 5. Decifrar ou interpretar bem o sentido de. Repetidamente esse dicionário apresenta o verbete indicando a leitura como um ato mecânico de decodificação. A partir dessas definições, surgem as seguintes indagações: 1. Conhecer, interpretar por meio da leitura Ler é sinônimo de conhecer? 2. Conhecer as letras do alfabeto e saber juntá-las em palavras Apenas a decodificação garante o sentido da palavra, da frase, do texto? 3. Pronunciar ou recitar em voz alta o que está escrito e Estudar, vendo o que está escrito Estudar é ver o quê está escrito? Essa definição não nos remete ao ato de decorar? 4. Decifrar ou interpretar bem o sentido de Mas o que significa interpretar bem? Essencial justificar que, no momento em que houve a junção dos vocábulos decifrar e interpretar com o conectivo ou, ficou estabelecido que os dois elementos são sinônimos (um ou outro). Desta forma, o sentido da leitura está dado na palavra, bastando para isso, o indivíduo decifrar. Observando as informações constantes do verbete de acordo com os conceitos expostos nos dicionários, ler trata-se de um ato, onde o objeto a ser lido é estático, cuja ação é fornecida através da escrita, cabendo ao leitor apenas o feito de decodificação. 94 2.5.2. Concepções de leitura “Não se é escritor por ter escolhido dizer certas coisas, mas sim pela forma como as dizemos.” (Jean-Paul Sartre) Semelhantemente a qualquer outra atividade básica, os sujeitos não nascem sabendo ler. Este aprendizado acontece de acordo com o estímulo dos familiares, na medida em que começa a frequentar os ambientes educativos ou até mesmo nas “escolas da vida”. Para Freire (2011): A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Assim as palavras do povo, vinham através da leitura do mundo. Depois voltavam a eles, inseridas no que se chamou de codificações, que são representações da realidade. No fundo, esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos populares uma “leitura da leitura” anterior do mundo, antes da leitura da palavra. O ato de ler implica na percepção crítica, interpretação e “reescrita” do lido (p. 29). Desta forma, a aquisição do processo de leitura não está diretamente relacionada com a aprendizagem formal; ela pode ser construída por meio da relação com o mundo e do processo de interação com as pessoas, ao longo de toda a etapa escolar, o que compreende o ensino superior. A leitura é uma forma exemplar de aprendizagem e o seu aprimoramento decorre na capacidade de aprender como um todo. Referindo-me a estudantes da graduação, os quais praticam um nível mais elevado de leitura, quando se estabelece a relação entre um novo texto e as concepções já adquiridas, a leitura crítica tende a evoluir para a criativa, e a síntese, por eles produzida, conduzirá a resultados completamente novos. A capacidade de ler é essencial à realização pessoal, pois o sujeito-leitor interage e relaciona-se com o texto, tornando–se um sujeito participante, conhecedor e crítico, propiciando a ampliação do seu universo cultural. 95 Considerando este pensamento, lê-se para entender o mundo e quanto mais se alarga a concepção de mundo, mais extenso é o universo da leitura, que pode iniciar-se nos bancos da escola, mas certamente não se encerra nele. Perpassando do “mundo da leitura” para a “leitura do mundo” e da “leitura do mundo” para o “mundo da leitura”, a prática se torna circular e infinita se começarmos a considerar que ler é mais do que um simples ato de decodificar, é antes de tudo um ato de raciocínio, de significação do mundo e de si mesmo. Relevante nesta ocasião, interpelar a leitura nas seguintes acepções: O texto como sendo o centro dos sentidos, ou seja, a leitura é um monólogo, o leitor não se expressa, não interage com o autor, silencia. Nesses termos, o ato da leitura está muito próximo dos sinônimos apresentados pelos dicionaristas. Devemos lembrar, neste tópico, que a significação de um texto em sua totalidade, não se encontra em uma aglutinação de palavras. Enquanto protagonista da leitura, o leitor deve ponderar e compreender de forma progressiva os significados que aparecem implícitos no texto. Em oposição ao item anterior, neste momento, a valorização recai sobre o leitor, uma vez que seria ele o depositário fiel no que se refere à construção da interpretação. A leitura continua sendo um monólogo, porém a compreensão do texto é disseminada, o que possibilita a multiplicidade de sentidos. Ao iniciar a leitura, o leitor automaticamente ativa alguns de seus esquemas de conhecimento e inicia o processo de formulação de hipóteses como suposições relativamente explícitas, as quais espera encontrar respostas no decorrer da leitura. Neste processo, o leitor buscará indícios que comprovem, 96 ou não, suas previsões fixando-se em letras, marcas morfológicas19 ou sintáticas20. E, para concluir, aflora a abordagem interativa, a qual tem a função de agir mutuamente entre o autor da obra (comunicador) e o leitor (destinatário da mensagem). Nessa interação acontece a produção do sentido. De acordo com Castello-Pereira: Se a leitura é uma construção de sentido, pressupõe que o sentido não está pré-determinado no texto, mas que vai ser elaborado num processo que sugere trabalho, ação entre pessoas, num movimento dialógico, determinado por vários fatores como a situação comunicativa, as identidades sóciohistóricas dos sujeitos envolvidos, bem como seus interesses e objetivos (2003, p. 47). Ainda dentro desta linha de pensamento, para Vygotsky (apud CASTELLO-PEREIRA, 1991): O sentido de uma palavra é a soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta em nossa consciência. É um todo complexo, fluido e dinâmico, que tem várias zonas de estabilidade desigual. O significado é apenas uma das zonas do sentido, a mais estável e precisa. Uma palavra adquire o seu sentido no contexto em que surge; em contextos diferentes, altera o seu sentido. O significado permanece estável ao longo de todas as alterações do sentido (p. 125). Sintetizando as abordagens que foram acima apresentadas brevemente é possível consubstanciar que o sentido, o significado de uma mensagem, não está necessariamente declarado no veículo de comunicação que circula entre o autor e o leitor. O sentido é uma alusão oferecida pelo escritor e o leitor é o construtor dos sentidos. Por assim ser, considera-se a relevância da leitura como um processo contínuo, que precisa ser exercitado para que possa ser aprendido. Ler é compreender, é construir significados. 19 Estudo da estrutura e formação das palavras; Parte da Gramática que estuda as palavras de acordo com a classe gramatical a que ela pertence. 20 Estuda a função que as palavras desempenham dentro da oração. 97 Conseguindo o leitor, seja ele iniciante ou não, ler compreensivamente e aprender com a leitura, ele estará “aprendendo a aprender” de forma autônoma, independentemente do gênero textual que a ele for apresentado. No campo pedagógico faz-se necessário que os educadores - uma vez que eles podem oportunizar e estimular o hábito de ler - proporcionem aos sujeitos educandos e aprendizes, leituras que transcendam o intercâmbio entre aluno e leitura. Para isso, é substancial que o educador/professor tenha enraizado uma concepção de leitura que efetivamente busque o desenvolvimento dos alunos e que ofereçam oportunidades positivas de contato com diversos tipos de textos, visto que, o ato de ler e compreender, são fontes de aquisição de conhecimento de todas as disciplinas. A competência textual e a competência comunicativa ultrapassam os domínios prescritivos e normativos que se aprendem, na maioria das vezes, na educação formal. Implica principalmente que o texto seja coerente, coeso, adequado ao contexto da comunicação e informativo quanto ao seu conteúdo. A competência textual é objeto de internalização de recursos de expressão, os quais foram adquiridos por meio da “leitura inteligente”, ou seja, a leitura que decodifica o texto em sua forma e ultrapassa o interesse dado apenas ao conteúdo. Apenas uma relação intensa do leitor com o texto pode levá-lo à internalização da competência textual e esta competência provém do ato de ler, do saber ler, do monitorar a própria leitura, do observar o texto, do surpreender-se, do admirar-se diante do texto. São essas questões que nos leva a escrevermos o que se lê, a recriar a escrita e a encontrar nosso próprio estilo. Enfim, escrevemos o que lemos e também o que pronunciamos. Quer a “língua materna”, quer a língua-padrão, quer a “língua de acolhimento”21 exercem um papel fundamental no processo de comunicação e no processo de estruturação do pensamento. Contudo, o desenvolvimento de competências em compreensão na leitura não pode restringir-se à aula de língua (BALULA E MARTINS, 2012). 21 Língua de acolhimento - designação relacionada com o programa Portugal Acolhe, criado pelo Estado português, desenvolveu, a partir de 2001, cursos de português dirigidos exclusivamente a imigrantes adultos. 98 Importante também ressaltar que, em função do grupo da pesquisa, aqui analisado, se tratar de estudantes universitários, e por assim ser ao universo dos adultos, é pertinente mencionar também, a “língua de acolhimento”, que é uma expressão utilizada para associar o contexto migratório que aprende a língua portuguesa não como disciplina curricular, mas por necessidades contextuais em que a “língua de acolhimento” tem de ser o elo de interação afetivo como forma de integração. Na língua de acolhimento, são privilegiadas áreas que promovem o conhecimento sociocultural, o saber profissional, a consciência intercultural, as relações interpessoais, bem como a partilha de saberes, favorecendo a interajuda e ultrapassando estereótipos pela interação e pelo diálogo intercultural (CONSELHO DA EUROPA, 2001). Em função deste propósito, o educador/professor precisa incorporar na sua prática pedagógica, metodologias e práticas criativas que estimulem a emancipação pessoal na busca do desenvolvimento integral do aluno. O ápice do desenvolvimento, de acordo com o amadurecimento individualizado é poder reconhecer que, dependendo de onde lemos um mesmo texto, vamos ter diferentes leituras, diferentes interpretações. Chartier (1999) exemplifica: Um romance de Balzac pode ser diferente, sem que uma linha do texto tenha mudado, caso ele seja publicado em um folhetim, em um livro para os gabinetes de leitura, ou junto com outros romances, incluído em um livro de obras completas (p. 138). Para que haja este reconhecimento, é importante que a leitura seja praticada em espaços que representem “liberdade”, livres de sofisticação e, sobretudo, que não aconteça severidade e rigor a cada exercício realizado pelo leitor. Assim, o ato de ler se torna “livre” e prazeroso, permitindo a passagem do discurso à ação, da leitura à vida e do canto do galo à luz da manhã (LAJOLO, 2000, p. 109). 99 CAPÍTULO 3 3.1. METODOLOGIA "O principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram." (Jean Piaget) 3.1.1. Elementos dissertativos Este trabalho de investigação parte da análise de textos produzidos por alunos de graduação, mais especificamente estudantes do último semestre do curso de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino, localizada no interior do estado de São Paulo, no ano de 2011 e intensificando a ideia de que esta pesquisa não tem o intento de realizar avaliação textual, tampouco correções ortográficas. Reforçando neste momento a necessidade da pesquisa bibliográfica, a mesma acontece por meio de publicações formatadas em livros, revistas, e publicações em meios eletrônicos, cuja finalidade é o contato direto e a interação dos escritos no que tange aos assuntos abordados nesta pesquisa objetivando o reforço e a instrumentalização paralela na análise das informações. De acordo com Ribeiro (2012): ... as pesquisas bibliográficas devem ser incentivadas, na medida em que puderem contribuir para o processo de reflexão, processo esse que alimenta a empreitada de construção de conhecimento científico. Se este tipo de pesquisa pode contribuir para alimentar a produção de conhecimento científico, deve, então, ser considerada como um meio interessante sobre o qual toda ciência se edifica, um meio que permite a elucidação dos procedimentos que fundamentam a difícil jornada de se produzir conhecimentos que mereçam o rótulo de científicos (s/p). 100 Uma abordagem qualitativa e compreensiva se faz necessária para investigar o que se encontra além do escrito e com isso, interpretar as informações. Neste momento, tratarei brevemente sobre a natureza das classificações qualitativa e quantitativa. A pesquisa qualitativa ganhou representatividade no campo das ciências sociais no decorrer da década de 70 e ela se refere à compreensão dos significados dos fatos, sem que haja a necessidade de apoiar-se em dados estatísticos. Santos Filho e Gamboa (1995) contribuem com esta questão retomando os diferentes paradigmas epistemológicos esclarecendo que o: ... quantitativo-realista e qualitativo-idealista sustentam diferentes práticas de pesquisa social. O primeiro, quantitativorealista, nasce diretamente das Ciências Naturais, pressupondo-se sua aplicação integral às Ciências Humanas. Assim, a neutralidade, a objetividade, a relação sujeito-objeto, a explicação, a generalidade das inferências sustentam a possibilidade de conhecimento tanto nas ciências da natureza como nas ciências humanas. Inversamente, no paradigma qualitativo-idealista, o conhecimento do humano não é redutível ao paradigma positivista das ciências naturais: a descontinuidade lhe é peculiar: daí a impossibilidade de se criarem leis gerais; o sujeito se confunde com o objeto; postulase a compreensão em lugar de explicação. Daí, também a conclusão de que nele não há espaço para a matemática e a estatística, instrumentos fiéis para mensurar quantidades, estabelecerem regularidades e correlações entre variáveis quantificadas (p. 22). Ainda de acordo com o mesmo autor, na pesquisa educacional, “a complexidade dos problemas educacionais constitui um suporte do pluralismo epistemológico” (p. 23) e, por assim ser, a constatação da complexidade que atinge a realidade social é mais que suficiente para descartar o chamado a seguir um único caminho. Araújo e Oliveira (1997) sintetizam a pesquisa qualitativa como um estudo que: (...) se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto, se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes, tem 101 um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada (p. 11). A pesquisa quantitativa surgiu da influência do Positivismo, sendo que o pesquisador não deve se envolver com o objeto da pesquisa, mas visar a objetividade do estudo realizado. Sendo assim, a neutralidade do pesquisador constitui um ponto muito importante para o estudo. De acordo com Malhotra (2001), A pesquisa quantitativa procura quantificar os dados e aplicar alguma forma de análise estatística. Na maioria das vezes, esse tipo de pesquisa deve suceder a pesquisa qualitativa, já que esta última ajuda a contextualizar e a entender o fenômeno (p. 155). Assim, a pesquisa quali-quanti contempla a utilização de ambas as naturezas quando utilizada em uma pesquisa científica. Neste caso, há uma articulação entre o uso de dados quantitativos construídos pelo levantamento de informações de forma representativa em termos de amostragem intencional e as análises qualitativas. Gomes apud Silva (2007) anuncia que: Chegamos a uma interpretação quando conseguimos realizar uma síntese entre: as questões da pesquisa, os resultados obtidos a partir da análise do material coletado, as inferências realizadas e a perspectiva teórica adotada (p. 91). Como forma de sintetização e organização da análise de dados, esta metodologia permite que o pesquisador participe, compreenda e interprete cada situação22 como sendo singular e particular. Groppo e Martins (2007), assim complementam: ... a análise qualitativa toma estes dados como parte de um contexto fluente de relações, não apenas como coisas isoladas ou acontecimentos fixos captados num instante de observação. Os dados não se restringem ao aparente, mas contém ao mesmo tempo revelações e ocultamentos (p. 106). 22 Considera-se produção de texto. 102 Sob a perspectiva da abordagem quantitativa, os questionários são elaborados e aplicados com o objetivo de que fosse efetuada “a posteriori”, uma elaboração da leitura quantitativa dos dados apresentados sob a forma de gráficos. Neste modelo e por meio da matematização, estatística e probabilidade, o pesquisador descreve (os dados), explica (através da frequência e correlação) e prediz (a partir de análise dos dados já existentes) (CHIZZOTI, apud GROPPO e MARTINS, 2000). Nesta pesquisa usa-se como alicerce o fato de que o sujeito precisa ser compreendido a partir de seu referencial existencial concreto, isto é, como manifestação de uma totalidade histórico-social-cultural, ou seja, objeto e sujeito da história. Neste contexto, menciono Vtgotsky (1978), o qual defende que o desenvolvimento intelectual caminha do social para o individual. O autor observou o desenvolvimento de aspectos funcionais e estruturais da fala egocêntrica23, procurando fundamentar a sua hipótese de internalização. Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três fases: a linguagem social, que tem por função denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem que surge; em seguida teríamos a linguagem egocêntrica e finalizando, a linguagem interior, intimamente ligada ao pensamento. Vygotsky descreveu em seu livro Pensamento e Linguagem o fato de que, por volta dos dois anos de idade, o desenvolvimento do pensamento e da linguagem – que até então eram estudados em separado – se fundem, criando uma nova forma de comportamento. Este momento, em que a linguagem começa a servir o intelecto e os pensamentos começam a oralizar-se é denominado “fase da fala egocêntrica” e é marcado pela curiosidade, pelas palavras, por inúmeras perguntas e pelo enriquecimento do vocabulário. No momento em que houver o declínio da vocalização egocêntrica é sinal de que a criança está progressivamente abstraindo o som e adquirindo, 23 Trata-se da fala que a criança emite para si mesmo, em voz baixa, enquanto está concentrada em alguma atividade. A fala egocêntrica constitui uma linguagem para a pessoa mesma, não é uma linguagem social, com funções de comunicação e interação. Esse “falar sozinho” é essencial porque ajuda a organizar melhor as ideias e planejar melhor as ações. É como se a criança precisasse falar para resolver um problema que, nós adultos, resolveríamos apenas no plano do pensamento/raciocínio. 103 simultaneamente, a capacidade de “pensar as palavras”, sem precisar dizê-las. Esta fase é conhecida como discurso interior. O discurso interior refere-se ao momento em que as palavras passam a ser pensadas, sem que necessariamente sejam faladas. É um pensamento em palavras. Já o pensamento é um plano mais profundo do discurso interior, que tem por função criar conexões e resolver problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. Sendo o sujeito portador de uma estrutura cultural, em meio a um contexto social, manifesta corporeamente uma visão de mundo que integra presente e passado e projeta-se dinamicamente dentro desta totalidade. Considero relevantes para esta pesquisa, todos os partícipes do processo educativo anteriormente citado, ou seja, estudantes do curso de Pedagogia, porém focalizo, no decorrer do estudo, uma Instituição Particular de Ensino, localizada na cidade de Americana. Os alunos desta Instituição e sujeitos desta minha pesquisa atuam na área da Educação em suas mais abrangentes funções, as quais posso citar: Professor, Auxiliar educacional, Inspetor de alunos, Monitor de creche, Estagiária, e por assim ser, exercendo funções no âmbito de Educação formal. 3.1.2. Sujeitos da pesquisa Os alunos, pertencentes ao curso de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino, que são sujeitos deste estudo, ingressaram na Universidade no ano de 200924 e concluíram o curso no ano de 2011. Saliento que os elementos que fizeram parte da amostra foram por mim escolhidos intencionalmente, seguindo determinados critérios, neste contexto, pertencentes ao último semestre do curso de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino. Importante registrar também que a seleção dos candidatos não foi realizada necessariamente com o objetivo de ser estatisticamente representativa da população, mas sim, corresponder ao que determina os objetivos específicos desta pesquisa. Para que seja possível planejar e traçar um perfil próximo à realidade desses discentes, busco dados socioeconômicos, bem como hábitos de leitura 24 Duração do curso de três anos. 104 e escrita, que sejam substanciais, ao mesmo tempo em que possam contribuir com a elaboração de um delineamento do grupo. Os dados obtidos partem da aplicação de um questionário – Anexo IV – no qual constam questões de cunho pessoal e também sobre a divulgação das dificuldades apresentadas com a língua portuguesa. Os dados considerados relevantes são apresentados a seguir. 3.1.3. Perfil dos sujeitos pesquisados O grupo de pesquisa é em número de trinta e cinco universitárias, por isso me referenciarei sempre no feminino. Importante salientar que, esse número de participantes é referência para a análise dos textos, porém apenas dezessete estudantes preencheram o questionário na íntegra, número este considerado para compilação dos dados socioeconômicos. Desta forma, as informações especificamente pessoais, foram baseadas em toda a população do 6° semestre. Acredito que, em função do preenchimento e da averiguação dos dados terem sido realizados aleatoriamente, não haverá influência na análise comparativa. Conforme dito anteriormente, a totalidade das participantes é do sexo feminino, ou seja, 100%. Visualizamos abaixo, informações relevantes no que se refere ao perfil do grupo. Os dados foram resumidos em formas gráficas, de 1 a 13. 3.1.4. Grupo das estudantes: Gráfico 1 Estado civil 41,2% 58,8% Solteiro Casado 105 Gráfico 2 Idade 5,9% 5,9% 5,9% 5,9% 5,9% 5,9% 11,8% 23,5% 11,7% 17,6% 20 anos 21 anos 22 anos 24 anos 25 anos 26 anos 38 anos 44 anos 45 anos 52 anos Gráfico 3 Atua na area da educação 11,7% 6,1% Conf irma 11,7% Outras áreas 70,5% Desempregada Abstenção Gráfico 4 Horas trabalhadas/dia 11,7% 6,1% 8 horas/dia 23,5% 58,7% 6 horas/dia Desempregada Abstenção 106 Gráfico 5 Remuneração variável 11,7% 5,9% R$500,00 a R$800,00 5,9% R$800,00 a R$1.100,00 11,7% 58,9% R$1.100,00 a R$1.500,00 Acima de R$1.500,00 5,9% Desempregada Abstenção Gráfico 6 Tipo de ensino 100% 5,9% 50% 94,1% 17,7% 82,3% Escola particular 0% Escola pública Ensino Fundamental Ensino Médio Gráfico 7 Curso preparatório de vestibular 11,7% Não fizeram "cursinho" para ingressar na Universidade 88,3% Fizeram curso preparatório de vestibular 107 Gráfico 8 Bolsa de estudos 41,2% 58,8% Faz uso deste recurso Não faz uso deste recurso Gráfico 9 Desconto em bolsa de estudos 20,0% 30,0% 10,0% 20% de desconto 30% de desconto 10,0% 50% de desconto 80% de desconto 30,0% 100% de desconto Gráfico 10 Hábito de leitura 6,0% 23,5% Leitura de 1 a 5 livros semestralmente 70,5% Leitura de 6 a 10 livros semestralmente Não possuem esse hábito 108 Gráfico 11 Tipo de escrita 120% 100% 100% 82,3% 80% Textos acadêmicos 58,8% 60% Escritas por e-mail Relatórios Poesias 40% 11,7% 20% 0% Gráfico 12 Dificuldades 100% 80% 60% 5,9% 52,9% 64,7% 40% 20% 47,1% 29,4% 0% Escrita de textos argumentativos Dificuldade em alguns momentos Confirmação da dificuldade Negação de tal dificuldade Gramática Gráfico 13 Classificação de oralidade e forma de se expressar 41,0% 59,0% Bom Regular 109 Conforme apresentado acima, pode-se verificar: Deste grupo, 58,8% são solteiras e 41,2% são casadas; As idades estão assim distribuídas: 23,5% possuem 20 anos; 11,7% possuem 21 anos; 17,6% possuem 22 anos; 11,8% possuem 24 anos; 5,9% possuem 25 anos; 5,9% possuem 26 anos; 5,9% possuem 38 anos; 5,9% possuem 44 anos; 5,9% possuem 45 anos; 5,9% possuem 52 anos. Profissionalmente, atua na área da educação: 70,5% confirma; 11,7% outras áreas; 11,7% desempregadas; 6,1% abstiveram-se. Horas trabalhadas/dia: 58,7% dedicam 8 horas/dia ao trabalho; 23,5% dedicam 6 horas/dia ao trabalho; 11,7% desempregadas; 6,1% abstiveram-se. No que se refere à remuneração variável, este grupo apresenta: 58,9% de R$ 500,00 a R$ 800,00; 5,90% de R$ 800,00 a R$ 1.100,00; 11,7% de R$ 1.100,00 a R$ 1.500,00; 5,90% acima de R$ 1.500,00; 11,7% desempregadas; 5,90% abstiveram-se. 110 Quanto ao Ensino Médio: 82,3% concluíram em escola pública; 17,7% concluíram em escola particular. Quanto ao Ensino Fundamental: 94,1% concluíram em escola pública; 5,9% concluíram em escola particular. Quanto ao Curso Preparatório de Vestibular: 88,3% das pesquisadas não fizeram “cursinho” para ingressar na Universidade; 11,7% fizeram curso preparatório de vestibular. Utiliza-se de sistemas de bolsa de estudos: 58,8% fazem uso deste recurso; 41,2% não fazem uso deste recurso. Em que percentual: 30% possuem 20% de desconto calculado sobre o valor da mensalidade; 10% possuem 30% de desconto calculado sobre o valor da mensalidade; 30% possuem 50% de desconto calculado sobre o valor da mensalidade; 10% possuem 80% de desconto calculado sobre o valor da mensalidade; 20% possuem 100% de desconto calculado sobre o valor da mensalidade; 111 No que se refere ao hábito de leitura25: 70,5% leem de 1 a 5 livros semestralmente; 23,5% leem de 6 a 10 livros semestralmente; 6% não possuem este hábito. Tipos de escrita que faz uso: 100% textos acadêmicos; 82,3% escritas por e-mail; 58,8% relatórios; 11,7% poesias. Dificuldades para escrever textos argumentativos: 47,1% negaram tal dificuldade; 52,9% confirmaram dificuldade. Dificuldades no que se refere à Gramática: 64,7% confirmaram dificuldade; 29,4% não encontram dificuldade; 5,9% encontram dificuldade em alguns momentos. Classificação da oralidade e forma de se expressar: 59% bom; 41% regular. Segue abaixo, quadros de análises considerando os percentuais que se sobressaíram na coleta de dados: 1. Dados socioeconômicos 25 Estado civil Idade 59% - solteiras 24% - 20 anos Atuam campo educacional 71% Renda/mês 500,00 – 800,00 59% Leituras consideradas não acadêmicas. 112 2. Conclusão do ensino período pré-universidade Ensino Fundamental II Ensino Médio Curso pré-vestibular 94% - escolas públicas 82% escolas públicas 88% não frequentaram 3. Leitura e escrita Leitura semestral 71% - 1 a 5 livros Praticam escrita textos acadêmicos 100% Escrita email Escrita relatórios Escrita poesias 82% 59% 12% 4. Classificação escrita, gramática e oralidade Escrita 53% - admitem dificuldades Gramática 65% admitem dificuldades Oralidade 59% consideram satisfatória Transcrevendo os dados do Quadro de Análises, no que se refere aos dados socioeconômicos, interessante ressaltar que: mesmo depois de casadas, um percentual significativo continua ou volta a estudar, o que pode caracterizar interesse em conciliar o exercício da maternidade com a formação acadêmica. A mudança do estado civil conjugado com a continuidade dos estudos pode caracterizar que esse grupo esteja “focado” em uma melhor colocação no mercado de trabalho, ou para acompanhar as exigências mercadológicas que buscam em seus funcionários atualização profissionais, ou até mesmo para satisfação pessoal; o maior número de pessoas correspondente ao grupo analisado é bastante jovem, o que sugestiona que esses estudantes acreditam que, por meio da formação acadêmica, as oportunidades profissionais são maiores e que o futuro poderá ser mais promissor; tecendo um breve comentário sobre o grupo que confirma atuar na área da educação, interessante observar que, a grande maioria atua na mesma área em que está concluindo o curso de graduação. Este dado pode mostrar 113 que esses estudantes buscam aperfeiçoamento que contribuam diretamente com a profissão que está sendo exercida atualmente; com o apontamento das horas trabalhadas/dia, pode-se sugerir que, em função da jornada de trabalho abranger os dois períodos do dia e, em função do estado civil – casadas - este grupo faz dupla ou tripla jornada, o que caracteriza pouco tempo para os estudos e consequentemente para a prática da leitura; efetuando uma análise do item renda mensal, observo que a grande maioria do grupo possui uma faixa salarial muito baixa, (característica dos estudantes que procuram pelo curso de Pedagogia em Universidades particulares). Traçando um paralelo com o valor do salário mínimo vigente (R$ 622,00 – base janeiro/2012), a renda deste grupo se aproxima ao valor do salário mínimo. Este dado leva a outro indício, a de que este grupo recebe ajuda financeira seja de seus cônjuges, ou de seus familiares, ou que se utilizam do recurso da bolsa de estudos, para que possam aumentar a renda mensal e com isso, cursar uma Universidade particular. Analisando o quadro com os dados de conclusão do ensino, pode-se supor que: a grande maioria concluiu seus estudos em escolas públicas, sendo este um dado característico dos estudantes que buscam o ensino superior particular, em especial o curso de Pedagogia; cabe aqui, a mesma análise descrita no item anterior, acrescentando que, os universitários estudaram ao longo dos ciclos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio em escolas públicas; analisando este dado e traçando um comparativo com os dados anteriores aqui mostrados, o grande número de 114 alunos que não fizeram curso preparatório de vestibular é bastante próximo dos dados obtidos no que se refere ao estudo em escolas públicas. Por este viés pode-se prever que os alunos que frequentam cursos preparatórios são alunos que estudaram em escolas particulares e que se preparam para ingressar em instituições concorridas, ou seja, em Universidades públicas; considerando que o maior grupo utiliza-se do recurso da bolsa de estudos e que o valor da mensalidade do curso de Pedagogia é de R$ 455,00 para o período noturno (pesquisado nesta dissertação), é bastante pertinente que este recurso seja utilizado uma vez que, conforme demonstrado anteriormente, a renda mensal deste grupo varia de R$ 500,00 a R$ 800,00. Desta forma, seria inviável um estudante cumprir com suas obrigações financeiras se não possuísse este apoio financeiro o que certamente inviabilizaria a continuidade dos estudos. Referenciando-me à leitura e escrita e em meio ao universo pesquisado: nos dados recolhidos não consta o tipo de leitura que o estudante pratica tampouco suas preferências. De qualquer forma é possível observar que, considerando a grande maioria dos entrevistados, estes possuem o hábito de lerem de 1 a 5 livros semestralmente, o que se considerar o número máximo de livros lidos, ou seja, cinco, este estudante lê o correspondente a menos de um livro/mês; analisando o grupo que não possui o hábito de leitura, mesmo sendo o menor índice, este dado mostra que se trata de um percentual preocupante considerando que são estudantes do curso de Pedagogia, profissionais da área da educação e futuros professores; 115 vale abrir um questionamento no que se refere a esta prática e no sentido de analisar e argumentar de que forma esses profissionais pode estimular a leitura de seus futuros alunos se não leem? Como se utilizar da escrita e da oralidade se não possuem essa habilidade desenvolvida? percebe-se que, em função de todo o grupo utilizar-se da escrita de textos acadêmicos, esta prática pode ser realizada em função da exigência da Universidade ou dos professores no sentido da necessidade dos trabalhos solicitados; referindo-me às escritas digitais, este dado mostra que a grande maioria se utiliza deste recurso por tratar-se de escritas rápidas e pontuais, não havendo a necessidade da argumentação. Este recurso é utilizado normalmente para assuntos relacionados ao cotidiano, necessidades mais urgentes e de senso comum; tratando-se do item relatórios, ficou demonstrado que mais da metade do grupo se utiliza desta linguagem, sugerindo que esta prática é realizada em função das necessidades profissionais; finalizando a análise dos tipos de escrita e tratando-se de poesias, percebi que uma pequena quantidade desses estudantes possui este hábito. Entretanto, dentre os que se utilizam deste recurso, os mesmos realizam uma escrita com significação, fazendo uso de imagens e metáforas, o que é necessário para dominar habilidades de leitura e escrita. 116 Apontando neste momento o aspecto escrita, gramática e oralidade, percebe-se que, mais da metade do grupo apresenta dificuldades entretanto, para redigir parece-me textos que argumentativos, existe pouco autoinvestimento para que haja uma reversão deste índice; o mesmo ocorre com as dificuldades apresentadas em Gramática. Oportunidades são oferecidas, mas de quais recursos se utilizam para minimizar este índice? Seria a somatória das dificuldades financeiras associada ao tempo insuficiente que possuem para o estudo? muito pertinente ressaltar que, diferentemente do que ocorre com a escrita e suas dificuldades, a maior parte do grupo se autoclassifica como bons oradores em sua forma de expressão. Referindo-me nesta ocasião aos procedimentos teóricos metodológicos, os mesmos partiram de observações às quais foram realizadas por meio da produção de texto manuscrito, bem como o preenchimento de um questionário, o qual tem como centro de pesquisa a coleta de dados no que se refere a hábitos de leitura, gêneros literários preferidos, dificuldades com a escrita e a oralidade, dentre outros tabulados para posterior análise à luz das referências teóricas e que representam um eixo norteador que possibilita a análise e uma consequente interpretação. De acordo com os padrões éticos da pesquisa, os questionários utilizados foram autorizados pelos sujeitos para que constituam fonte de dados e são investigados com o objetivo de analisar a qualidade das produções dos textos escritos por acadêmicos da área de Ciências Humanas e suas características mais comuns em termos de erros ortográficos, coesão e coerência. 117 3.1.5. Textos reflexivos Com o intuito de analisar a escrita de um grupo de universitários da área de Humanas, mais especificamente do curso de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino, objeto de estudo deste trabalho, utilizo, a priori, textos produzidos manuscritamente por 35 (trinta e cinco) alunos do 6 semestre do referido curso. O primeiro trabalho solicitado aos alunos foi uma produção textual, sobre uma única proposta, ou seja, um mesmo tema para todos, o qual deveria ser produzido livremente, sem exigência de tipo ou gênero, desde que fosse adequado ao tema. Esta atividade foi solicitada pela professora da disciplina - “Educação em espaço não escolar” – e desenvolvida durante uma aula de 50 minutos. Na ocasião em que os alunos desenvolveram, individualmente a escrita, eles puderam se utilizar de leituras bibliográficas de textos trabalhados durante o semestre, bem como de registros realizados. Na sequência segue trabalho proposto para o grupo de estudantes do último semestre do curso de Pedagogia, objeto disparador dos textos produzidos pelas estudantes, por mim analisados. 118 “A AVALIAÇÃO” Disciplina: Educação Não Escolar 6° Semestre 2011 Profa. Renata Sieiro Fernandes Nome: ____________________________________ RA:_____________ Data: __________________________ TRABALHO INDIVIDUAL 1. Faça um texto reflexivo que discuta o papel dos professores e dos alunos na construção de pedagogias articulando: a) A imagem da gaiola como metáfora de aprisionamento, abrigo e liberdade: b) O trecho do texto de Rubem Alves: “Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. (...) Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados”. 119 Visto que, as imagens apresentavam relação entre si que permitia o cotejamento, posso supor que, por tratarem-se de estudantes acadêmicos, “último-anistas”26, do curso de Pedagogia, os mesmos tenham facilidade em desenvolver a escrita utilizando-se das analogias que foram enunciadas, servindo-se assim como argumentos para o desenvolvimento da dissertação. Esperava encontrar, ao menos em uma parcela significativa dos textos, o encadeamento dos fatos dispostos de forma lógica e sequencial, a narrativa dos participantes (personagens), o espaço em que foram alocadas as ideias e até o tempo, a época, o momento em que cada escritor se posicionou nos fatos. Durante o processo de análise dos textos recolhidos, observei que não existem regras rígidas ou “receitas de bolo” para o trabalho de averiguação textual, uma vez que cada texto é único, produzido por pessoas diferentes, as quais possuem sua interação que varia de acordo com o gênero, as condições de recepção e as percepções do escritor. No momento em que os alunos iniciaram os trabalhos de escrita, tornase imprescindível salientar que: Todos estavam dispostos em uma mesma sala de aula; Os textos foram produzidos individualmente; Foi-lhes apresentada a proposta a qual continha uma imagem e um fragmento de um texto do Rubem Alves; a partir desses alvitres, o texto deveria ser produzido. Referindo neste momento ao meu procedimento metodológico, inicialmente realizo a leitura de todas as produções, despida de qualquer “preconceito” linguístico, com o único objetivo de ler por prazer e imergir para o mundo dos alunados. Feita esta primeira leitura, preparo um cadastro de todos os alunos com o propósito de, a partir da segunda leitura dos textos por mim realizada, efetuar as anotações necessárias para o meu estudo. Parto então, para uma leitura detalhada, onde vou apontando com um lápis as ocorrências significativas para o meu estudo e, simultaneamente, anotando-as nos cadastros correspondentes. 26 Estudante do último ano de qualquer curso. 120 Uma terceira e última leitura, por mim foi feita, a fim de que pudesse me certificar dos registros que havia efetuado, bem como rever a “coesão” e a “coerência” que pelo campo da linguística são fatores que garantem a textualidade e o que diferencia um texto de uma mera sequência de palavras. De posse dessas informações, inicio o levantamento dos “erros recorrentes”, momento fundamental deste processo, uma vez que é nesta ocasião que defino quais são os dados relevantes que fazem parte da tabulação dos dados. Os dados pertinentes são apresentados sequencialmente. A fim de discorrer sobre as percepções apontadas nos textos dos respectivos alunos, no que se refere ao uso da língua portuguesa em sua escrita por estudantes universitários, é fundamental deixar registrado que, a leitura da imagem da gaiola como metáfora de aprisionamento, abrigo e liberdade, ressoou de forma diferenciada para uma significativa camada dos escritores, no momento em que os mesmos analisaram, interpretaram e dialogaram com a imagem do texto. Entendemos que essa diferenciação de interpretação ocorreu uma vez que a linguagem não é isenta de influências externas, ou seja, a linguagem é estruturada em função da realidade social imediata em que as pessoas estão inseridas, as quais são determinadas em função do contexto em que se encontram esses sujeitos. Nesse sentido e de acordo com Delia Lerner (2002), a leitura e a escrita devem fazer sentido e estar vinculadas à vida do sujeito, deve possibilitar a sua inserção no meio cultural a qual pertence, tornando-o capaz de produzir e interpretar textos que fazem parte de seu entorno. Posso perceber, através de sondagem inicial, certa desorganização conceitual entre gênero e tipo de texto, uma fragilidade em relação a esses conceitos o que consequentemente dificultou a produção textual. Abrirei neste momento uma “viela” para esclarecer muito rapidamente, as diferenças entre gênero e tipo de texto, cujo intuito é facilitar o entendimento do respectivo leitor. O texto apresenta organização e estruturação próprias que definem o seu sentido estabelecendo desta forma a comunicação entre os sujeitos. Portanto, o texto é um todo com significado, que contem objetivo de 121 comunicação, trata-se de uma ocorrência linguística favorecida de alguma formalidade, que possui sentido e função sociocomunicativa. Um texto precisa ser estruturado de forma que mantenha sua estrutura ao longo da escrita e as relações de coesão e coerência sejam preservadas. Os tipos de textos são determinados de acordo com a interação que ele próprio adquire com o leitor no decorrer da construção teórica, ou seja, pela definição dos tempos verbais, pelos aspectos lexicais e sintáticos e as relações mantidas entre os elementos. Enfim, os tipos de texto são organizados pelos elementos formais. Os principais tipos de texto são: descritivo, dissertativo, narrativo, argumentativo e expositivo. Partindo para o gênero, os mesmos são caracterizados pelo estilo, pela função sociocomunicativa, ou seja, pela finalidade. Desta forma, temos diversificados gêneros sejam orais e/ou escritos, dentre os quais podemos citar: bula de remédios, bilhete, narrativas, artigos de opinião, crônicas, romances, receitas, classificados, reportagens jornalísticas, carta pessoal, carta comercial, catálogos, lista telefônica, telefonema, email, cardápio, chat, manual de instruções, resenha, outdoor, plano de aula, aula virtual, resumo, charge, boletim de ocorrência, edital de concurso, relatório, piada, conversação comum, conferência, sermão, romance, biografia, horóscopo, reunião, entre tantos outros veiculados cotidianamente. Tanto os tipos quanto os gêneros, podem conviver juntamente em um texto. Podemos citar como exemplo uma fábula, em que estão presentes o narrativo e o argumentativo ou ainda um romance que pode trazer trechos descritivos, embora predomine a narrativa. Concluindo, um mesmo tipo de texto pode ocorrer em vários gêneros. 3.1.6. Análise de dados Os dados anteriormente transcritos sugerem para as possíveis interpretações e análises, em cotejamento com o referencial teórico que o grupo observado, em sua grande maioria, estudou o Ensino Fundamental e o Ensino Médio em Escolas Públicas. Encaixam-se neste momento, os escritos de Castello-Pereira (2003): 122 As escolas públicas, como todos sabem, são as menos equipadas e menos preparadas para poder dotar essas alunas do capital cultural que não obtiveram no seio familiar. Ou seja, tanto pela família, como pela escola que cursaram, elas chegaram à Universidade com experiências culturais e conhecimentos diferentes daqueles idealizados ou supostos por esse grau de ensino (p. 87-88). Podemos notar que, 70,5% do grupo pesquisado trabalham com educação, especificamente em escolas, o que indica interesse pela área de atuação, bem como pela opção do curso – Pedagogia. Em função do tempo dedicado ao trabalho, observamos que 58,7% da totalidade do grupo trabalha em período integral, o que inviabiliza a dedicação exclusiva aos estudos, leituras e pesquisas. Analisando a renda mínima, 58,9% possuem remuneração que varia de R$ 500,00 a R$ 800,00/mês e pelo fato de precisarem pagar a mensalidade da Universidade, mesmo considerando que 58,8% do grupo faz uso do sistema de bolsa de estudos em percentuais variados, citados acima, é possível perceber a dificuldade encontrada para aquisição de livros e materiais necessários solicitados para o estudo acadêmico. Deixando de considerar os instrumentos utilizados para leitura na Universidade e para a Universidade, fazia parte do contexto de leitura dessas alunas: histórias em quadrinhos, revistas, jornal, jornal on-line e a Bíblia. Observa-se que, com exceção da Bíblia, os demais textos referem-se à leitura do cotidiano, os quais possuem estruturas sintático-semânticas27 e léxicos28 próximos da oralidade e que trazem informações apenas dos acontecimentos habituais, as quais estão muito distantes das normas cultas da linguagem, praticada em determinados setores da sociedade e certamente sempre presentes nos textos científicos e acadêmicos. 27 Semântica é o estudo do significado. Incide sobre a relação entre significantes, tais como palavras, frases, sinais e símbolos, e o que eles representam, a sua denotação. A semântica contrapõe-se com frequência à sintaxe. A sintaxe é a parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e das frases no discurso, incluindo a sua relação lógica, entre as múltiplas combinações possíveis para transmitir um significado completo e compreensível. 28 Léxico pode ser definido como o acervo de palavras de um determinado idioma: todo o universo de palavras que as pessoas de uma determinada língua têm à sua disposição para expressar-se, oralmente ou por escrito. 123 Sobre o exposto, bem como a influência da leitura que diferentes gêneros de textos produzem, Corrêa (apud Castello-Pereira, 2003), diz: É possível reconhecer que as formas de se relacionar com os impressos são também indicados pela própria natureza dos escritos que eles carregam. Neste caso, os escritos de jornais e revistas, de Sabrina, de Paulo Coelho, produzem em seus leitores diferentes disposições e atitudes. Se isso for verdade, é preciso reconhecer que o gênero de texto (científico, dissertativo) com o qual culturalmente espera-se que a Universidade opere apresenta também especificidades e exigências que são próprias de sua natureza acadêmica. Portanto, existe uma distância a ser considerada entre o conjunto de habilidades e atitudes pressupostas na leitura de textos acadêmicos e aquelas colocadas em funcionamento na leitura dos textos não-acadêmicos (p. 52). Portanto, leitores de gibis, revistas e jornais utilizam-se de atitudes diferenciadas das necessárias para a leitura de textos científicos, solicitados pela Universidade, por exemplo. Traçando essa teia de entendimentos, tabulamos então, nossas percepções acerca dos erros ortográficos ocorridos nos textos manuscritos, comuns deste grupo de discentes, salientando que a linguagem foi sempre considerada em um contexto amplo, social e econômico. Na tabela 1, a qual segue acompanhada do respectivo gráfico demonstrativo, encontra-se a análise das dificuldades ortográficas encontradas pelos discentes ao construírem um texto narrativo, cuja proposta foi elaborar uma escrita sobre percepções acerca de uma imagem, associada a um trecho de um texto do escritor Rubem Alves. TABELA 5 – Dificuldades ortográficas Textos analisados Acentuação Pontuação Reforma ortográfica Coesão Coerência textual Foco narrativo Verbo haver 35 21 18 17 09 07 07 04 124 Gráfico 14 Dificuldades encontradas 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Transcrevendo os resultados obtidos, podemos observar que, dos trinta e cinco textos que foram escritos manualmente pelos alunos do sexto semestre do curso de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino: 60% apresentaram dificuldades ou deixaram de acentuar as palavras. Observe alguns trechos extraídos dos trabalhos citados, que elucidam este tópico: Trecho 1 – palavras não acentuadas: práticas, pedagógica, múltiplos, hábitos. 125 Trecho 2 – palavras não acentuadas: flexível, prática. Trecho 3 – palavras não acentuadas: éramos, íamos, está, necessário, é próprios, intermédio, técnicas. 52% deixaram de utilizar ou desconhecem as regras de pontuação. Observe os trechos abaixo que, deixando de ser pontuados, deixam a interpretação dúbia: Trecho 1 – Neste pequeno parágrafo faltaram alguns sinais de pontuação, que deveriam ter sido usados para que o texto pudesse ter sido estruturado e interpretado corretamente pelo leitor. 126 Trecho 2: Observem como a falta de pontuação neste fragmento do texto deixa-o confuso: 49% desconhecem as alterações ocorridas através da Reforma Ortográfica – Acordo assinado em 1° de janeiro de 2009. Até mesmo mudanças consideradas básicas, utilizadas na escrita cotidiana, como por exemplo: Trecho 1: a palavra ideia deixou de ser acentuada. 127 Trecho 2: assim como a palavra voo. 26% abdicaram-se da utilização dos elementos de coesão para determinar a transição das ideias; Trecho 1: Se lermos com atenção a introdução deste texto, poderemos observar que faltou harmonia entre os elementos, bloqueando a transição das ideias entre as frases. Trecho 2: Parágrafo totalmente desestruturado, o qual poderia transmitir a mensagem se fosse construído com palavras de transição, o que caracteriza a coesão. 128 20% deixaram de apresentar uma relação lógica entre as ideias ou não se complementaram - coerência; Trecho 1: Texto coerente é aquele em que é possível estabelecer sentido. No fragmento abaixo podemos observar, além do número excessivo de erros ortográficos, o que dificulta a leitura e o entendimento da mensagem, um contrassenso no que se refere ao objeto “gaiola”. Trecho 2: Utilizou-se de analogia sem coerência. 129 20% apresentaram dificuldade em compreender a posição e/ou perspectiva de quem conta a história (primeira ou terceira pessoa) – foco narrativo; Trecho 1: Observem: “gaiola como parte do conhecimento”; “... terão que serem”; “saber necessário”. Trecho 2: Erros ortográficos inadmissíveis para o nível universitário e “fuga” do foco narrativo. 130 12% grafia do verbo haver, o qual não raramente foi substituído simplesmente pelo artigo “a” ou ainda por “à”. Trecho 1: Uso indevido do verbo haver: Trecho 2: Uso indevido e inexistente na vogal á: Trecho 3: Utilização da vogal “a” em substituição ao verbo haver: “Hoje há muitos pedagogos ...” 131 Pertinente informar neste momento que, foram analisados trabalhos produzidos e digitalizados pelos estudantes do 4° semestre do curso de Pedagogia29. Esta análise realizada com dados obtidos por meio de um material exploratório de escrita, a mim disponibilizado, me permitiu verificar que, erros ortográficos praticamente inexistem, talvez em função da utilização do aplicativo de atualização, disponibilizados pela Microsoft, que adapta o corretor ortográfico integrado à suíte de aplicativos às novas regras da Reforma Ortográfica. Com esta atualização, o usuário corrige os novos erros de ortografia que passaram a ser previstos a partir do Acordo Ortográfico. Considero aqui que, traçando um comparativo entre os textos manuscritos, escritos pelos alunos do 6° semestre e os textos digitalizados produzidos pelos alunos do 4° semestre, ambos do curso de Pedagogia, a questão da falta de coerência foi diagnosticada em ambas as turmas, uma vez que as ideias não se completavam, causando uma “quebra” da linha de raciocínio. Parte dos trabalhos analisados que apresentou deficiência no que se refere à coesão textual, creio que o fato ocorreu uma vez que não houve a utilização de conectivos e/ou preposições, utilizados para auxiliar a compreensão de um texto. Tratando da escrita e oralidade, a falta de coerência em um texto é facilmente percebida por um falante da língua, mas não é tão simples notá-la na escrita. Com os dados apresentados e com base no referencial teórico, compreende-se que a escrita, a oralidade e a leitura estão interligadas entre o sujeito e o mundo, impregnados de sentidos e significados que norteiam a construção do conhecimento pelos sujeitos relacionando-os com o mundo em que vivem. Aprender a ler, a escrever e a comunicar-se deve estar vinculado ao cotidiano do sujeito, possibilitando inicialmente sua inserção no meio cultural ao qual pertence. Desta forma, é necessário que o objeto de ensino seja reconceitualizado e as práticas de leitura e escrita sejam resignificadas, para 29 Este material não foi por mim utilizado como comparativo, uma vez que não foram coletados para esta finalidade e também por não possuírem categorias similares de comparação. Pretendo me utilizar deste material para a escrita de futuros artigos que serão produzidos em decorrência desta dissertação. 132 que o ler e escrever consista em instrumentos que permitam o repensar do aluno e, por consequência, a reorganização do próprio pensamento. Como vimos, a aprendizagem da leitura e da escrita ocorre por meio de aproximações do sujeito com o objeto, o que lhe permite atribuir um novo significado aos conteúdos aprendidos. Neste sentido e para que haja uma verdadeira transformação do ensino da leitura e da escrita é necessário que a escola propicie momentos que favoreçam a aprendizagem significativa, formando pessoas que apreciem a literatura, as prepare efetivamente, para se tornarem interpretadores e produtores de variados tipos de texto e, sobretudo capacite-os para refletir e reproduzir seus próprios pensamentos promovendo assim a descoberta da escrita como instrumento de criação. Por assim ser e, em se tratando de estudantes universitários, a Universidade e os professores universitários poderiam se valer do mesmo favorecimento, ou seja, proporcionar momentos que oportunizasse a descoberta pela escrita, uma vez que, conforme mencionado anteriormente e em se tratando de um público com baixo poder aquisitivo, com dupla jornada de trabalho, que leem e escrevem pouco, os mesmos não têm tempo para praticar este exercício. Desta forma, a busca pelo conhecimento poderá gerar possíveis discussões entre os estudantes e culminar em uma soma de informações que até então era transmitida pelo professor e assimilada pelo aluno. E assim, a partida para a construção do conhecimento é acionada em função do mundo cultural dos sujeitos e de suas interpretações, enquanto forma de interpretação na busca dos significados. 133 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho não pode ser considerado conclusivo, uma vez que ainda há muito campo a ser explorado no que se refere à pesquisa sobre leitura, oralidade e escrita dos estudantes universitários. Entretanto, algumas conclusões e considerações podem ser ressaltadas ao término deste, as quais podem também ser utilizadas como parâmetros para alguns, ou como objetos de continuidade de investigação para tantos outros, interessados neste campo de estudo e pesquisa. Segundo Fracalanza, Amaral e Gouveia (1986), A criança brinca, joga, constrói brinquedos, faz de conta, corre, conversa, se irrita, briga e isto e aquilo, ajuda a família, faz compras, faz contas e acerta no troco. Faz tarefa escolar. O mundo lá fora, a conta a fazer, e ter que ler, copiar, corrigir e tornar a fazer. E vai para a escola. A criança chega à escola. Encontra os colegas. Conversa, grita, brinca, vê e pega uma coisa, corre, cai, levanta e volta a correr. E vai para a sala de aula. Na sala de aula a criança senta. Ouve, lê, escreve e tenta falar. Olha a professora que olha para ela e fica calada. Tenta levantar. Ouve a professora e senta quieta. Ouve, lê no quadro e copia no caderno. Ouve, copia, faz a conta e faz de conta. Oito mais seis são... O que fica, o que vai? Na conta é que fica, o tempo é que vai (p. 48). Este trecho ajuda a refletir no sentido de que ensinar a ler, a escrever e a contar são hoje atividades consideradas essenciais e rotineiras, porém isso já não é mais o suficiente uma vez que, a utilização dos meios que são colocados à disposição da sociedade, àquela que possui acesso aos inúmeros meios de comunicação atualmente disponibilizados, obriga-nos ao desenvolvimento de outras competências. Praticamos a leitura para nos comunicar, para explorar outras realidades, para nos instruir, para nos informar, para exercitar a nossa imaginação, para nos entendermos e entendermos o mundo. Entretanto, até chegar a estas ações, percorremos um longo caminho e o papel do professor para que este caminho seja trilhado é de fundamental importância, visto que, é por meio da produção de textos narrativos que se torna possível evidenciar a diferença entre os aspectos corriqueiramente apresentados no que se refere à oralidade 134 e à escrita, bem como seu impacto na produção textual. Neste sentido, afirmo que: o papel principal do professor é auxiliar o aluno a interpretar as leituras praticadas, relacioná-las, contextualizá-las e ampliá-las. Apoiando o aluno, transmitindo segurança, permitindo que ele se valorize como pessoa, que acredite em si, torna-se mais sólido e prazeroso trabalhar a dimensão grupal e social. Na sociedade contemporânea, os indivíduos que desenvolverem bem suas competências comunicativas, se adéqua com mais facilidade aos novos desafios propostos na atualidade. Ainda me referindo ao universo contemporâneo e no que diz respeito às escolas, o domínio da escrita e da oralidade se transformou em um grande desafio, uma vez que a educação formal passou a ter como objetivos não somente ensinar a escrever e ensinar a ler, mas principalmente, a saber ler e a gostar de ler, fatores que relacionam às capacidades de compreensão e produção de escrita. Conforme Martins & Sá (2008), Formar leitores exige da escola, e dos vários intervenientes do processo educativo, atitudes que estimulem o pensamento, o sentido crítico, que respondam a desafios, apostando em objetivos de leitura ricos e diversificados e numa postura de diálogo e cooperação, desde o início da escolaridade (p. 236). Por assim ser, a construção do conhecimento - o aprender - depende também do aluno, de que ele esteja disposto, para incorporar a melhor significação que os conteúdos e repertórios têm para ele, para vivenciá-los, emocional e afetivamente. Enquanto a real necessidade da formação não fizer parte do contexto pessoal, intelectual e emocional do aluno, não se tornará verdadeiramente significativa, não será construída verdadeiramente. Pensando no contexto de leitura, escrita e oralidade, a atividade de escrita estabelece relações com a leitura, bem como com as ideologias e o ideário constituintes de cada indivíduo. Neste sentido, é necessário que, ao analisarmos um trabalho que tenha sido realizado com a língua materna, seja considerado e analisado o campo ideológico, o campo das ideias, dos 135 contextos sociais, culturais e históricos próprios aos sujeitos, pois é nisso que eles se fazem e se constituem como sujeitos. É de fundamental importância mostrar aos alunos que os problemas ortográficos apresentados, muitas vezes são fruto da oralidade na escrita, tais como excesso de repetições, usos de conectivos, entre eles “daí”, “que nem”, dentre tantos outros. Os alunos precisam saber da existência e fazer uso das diferentes modalidades de escrita, bem como da variedade padrão. Essas “modalidades” e “variedades” são formas de acesso permitidas e disponibilizadas a todos os falantes, porém utilizadas apenas por uma quantidade irrisória dos usuários da língua portuguesa. O número dos que deixam de se utilizar das diversas modalidades e variedades padrão é reduzido, em função da quantidade insuficiente de leituras diversificadas, seja por meio eletrônico ou por meio de material real/físico. Geraldi (2003), diz: Para percorrer este caminho, no entanto, não é necessário anular o sujeito. Ao contrário, é abrindo-lhe o espaço fechado da escola para que nele ele possa dizer a sua palavra, o seu mundo, que mais facilmente se poderá percorrer o caminho, não pela destruição de sua linguagem, para que surja a linguagem da escola, mas pelo respeito a esta linguagem, a seu falante e ao seu mundo, conscientes de que também aqui, na linguagem, se revelam as diferentes classes sociais. É devolvendo o direito à palavra – e na nossa sociedade isto inclui o direito à palavra escrita – que talvez possamos um dia ler a história contida, e não contada, da grande maioria que hoje ocupa os bancos das escolas públicas (p. 131). Acredito que as reflexões e os apontamentos aqui presentes contribuem sensivelmente para sinalizar que procedimentos e estratégias utilizadas pelo professor, postura e interesse dos alunos, são fatores importantes no ensino e no aprendizado da escrita e da leitura. Porém, não posso deixar de enfatizar que serão as incessantes “buscas” pessoais, as repetidas experiências que transformarão os alunos universitários em leitores e escritores autônomos. “Ter habilidade em leitura, ser um leitor proficiente, depende de prática recorrente, depende de contato frequente com esse universo discursivo, mas depende também de ensino.” (CASTELLO-PEREIRA, 2003, p. 203). 136 Para Michel de Certeau (1998), [...] a atividade leitora apresenta todos os traços de uma produção silenciosa: flutuação através da página, metamorfose do texto pelo olho que viaja, improvisação e expectação de significados induzidos de certas palavras, intersecções de espaços escritos, dança efêmera. [...] Esta mutação torna o texto habitável, à maneira de um apartamento alugado. Ela transforma a propriedade do outro em lugar tomado de empréstimo, por alguns instantes, por um passante. Os locatários efetuam uma mudança semelhante no apartamento que mobíliam com seus gestos e recordações [...] (p. 24) No caso específico do tema de minha pesquisa: “Escrita e oralidade da Língua Portuguesa nos bancos da Academia - Um estudo de caso dos grupos de Pedagogia de uma Instituição Particular de Ensino” se, nos dias de hoje, aprender a aprender se faz urgente e necessário, penso que a Universidade, por meio do seu corpo docente e da coordenação pedagógica, deve refletir sobre as concepções de escrita, leitura e oralidade – e os modos de estimulálas -, em especial no que se refere aos estudantes do curso de Pedagogia, os quais serão futuros educadores de crianças, futuros leitores e escritores, aprendentes da língua-mãe. A leitura, a escrita, a apresentação de trabalhos orais, não podem ser tomadas como algo “sofrido”, mas sim como algo útil, satisfatório, significativo. Essa é uma prioridade que o professor universitário deve ter como princípio; é preciso facilitar e promover com mais frequência esses momentos, mostrando e demonstrando aos estudantes, principalmente aos universitários, que não estamos diante de uma dicotomia quando nos referimos à oralidade e à escrita, ou seja, que a oralidade não pode ser tratada como um elemento divisível, contrário, como “a noite e o dia”, ou “o bem e o mal”. Vale reforçar neste momento que a oralidade deve sempre ser trabalhada e tratada em paralelo com a escrita. A proposta é tornar claro para o estudante que, de um lado essas modalidades são distintas, específicas e, de outro, que há semelhanças perceptíveis quando nos referimos a diversos gêneros literários, fatores esses, que causam uma grande dificuldade de definição dos limites apresentados entre a oralidade e a escrita. Exemplificando, uma mensagem eletrônica (email), em função da sua forma escrita é muito semelhante a uma linguagem 137 informal, ao passo que, um debate ou uma conferência, embora sejam realizados oralmente, em muito se aproximam de um texto formal escrito. Seguindo as sugestões descritas nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN elaboradas pelo MEC para o ensino formal, no processo de produção de textos orais, espera-se que o aluno: planeje a fala pública usando a linguagem escrita em função das exigências da situação e dos objetivos estabelecidos; considere os papéis assumidos pelos participantes, ajustando o texto à variedade linguística adequada; saiba utilizar e valorizar o repertório linguístico de sua comunidade na produção de textos; monitore seu desempenho oral, levando em conta a intenção comunicativa e a reação dos interlocutores e reformulando o planejamento prévio, quando necessário; considere possíveis efeitos de sentido produzidos pela utilização de elementos não verbais (p. 51). Importante é que os alunos encontrem sentido na escrita, na leitura, na oralidade e descubram que um texto depois de lido e compreendido, ele nunca mais será o mesmo. Justifico esta colocação no sentido de que, ao fazermos a primeira leitura de uma determinada literatura, temos uma percepção diferenciada do entendimento que adquirimos depois que repetimos a mesma leitura e interpretamos o que lemos efetivamente. Ao interpretarmos e entendermos os escritos que nossos olhos discorreram, automaticamente a leitura adquire um novo sentido e um novo significado. Acredito que o “papel” da Universidade é formar pessoas que tenham conhecimento variado e amplo, bem como competência leitora, repertório, dinâmicas e técnicas. Ao finalizar esta pesquisa, percebo que, mesmo na Universidade, se faz necessário intensificar o trabalho de leitura, oralidade e produção textual para com os estudantes universitários, uma vez que, tornou-se perceptível que um número significativo de alunos ainda se confunde com questões básicas relacionadas à língua portuguesa, no que tange a ortografia, coesão e coerência na parte escrita. 138 Neste contexto e, encontrando-se esses alunos já no nível universitário, não acredito que a Instituição de Ensino Superior consiga apenas com aulas de Nivelamento da Língua Portuguesa, oferecidas unicamente no primeiro semestre do curso, sanar todas as dificuldades existentes e encontradas nos alunos que cursam a graduação, pois são deficiências anteriores referentes ao processo de escolarização inicial, ao contexto sociocultural de que provêm e a experiência biográfica de cada um com a língua mãe e com o maior ou menor acesso e uso da produção cultural da humanidade. É interessante que haja projetos de desenvolvimento de leitura ou, indo mais além, que ofereçam e que constem na grade curricular, partindo o primeiro semestre e estendendo-se até o último semestre do curso, aulas de Língua Portuguesa não objetivando simplesmente o ensino da Gramática, mas contendo no plano de ensino, um projeto arrojado que oportunize aos alunos momentos de leitura, de interpretação e de escrita de variados tipos e gêneros de texto. Considero possível que, com esta iniciativa, os estudantes universitários passariam a experimentar as aulas de Língua Portuguesa de forma mais prazerosa e significativa e desta forma talvez, mergulhassem no mundo da leitura por simples prazer, o que acarretaria a melhoria na escrita e consequentemente em sua oralidade, ocasionando resultados bastante satisfatórios, tanto para o aluno, quanto para a Instituição de Ensino. Acredito também em uma educação positiva, que seja baseada não nos erros anteriormente cometidos, mas pelo incentivo, pela esperança, pelo crer na capacidade de aprender e de que mudar é possível. É importante ressaltar neste momento que, o mesmo grupo analisado nesta pesquisa, por tratar-se de último-anistas de um curso superior, de Pedagogia, participou no final do ano de 2012, da avaliação do Exame Nacional de Desempenho do Estudante – ENADE que avalia o rendimento dos alunos dos cursos de graduação, ingressantes e concluintes, em relação aos conteúdos programáticos dos cursos em que estão matriculados. Esses mesmos alunos obtiveram para o curso, a nota 4,0 (quatro), o que indica que o curso é bem avaliado, uma vez que a nota máxima para mesma avaliação é 5,0 (cinco). 139 O Conceito ENADE é calculado para cada curso, tendo como unidade de observação a instituição de ensino superior – IES, o município e a área de avaliação. A Nota ENADE do curso é a média ponderada da nota padronizada dos concluintes na Formação Geral e no Componente Específico. A parte referente à Formação Geral contribui com 25% da nota final, enquanto a referente ao Componente Específico contribui com 75%. O conceito é apresentado em cinco categorias (1 a 5), sendo que 1 é o resultado mais baixo e 5 é o melhor resultado possível, na área. (http://www.unoparvirtual.com.br/enade/2012/duvidasfrequentes.html#DF_5.3) Ao lado do reconhecimento pela boa nota alcançada pelos alunos, não há como não estabelecer um comparativo entre os resultados desta pesquisa e os resultados do ENADE, sendo que se trata de análises de habilidades e competências totalmente diferenciadas. De acordo com o que consta na citação acima, “a parte referente à Formação Geral contribui com 25% da nota final, enquanto a referente ao Componente Específico contribui com 75%”. Desta forma e pelo fato de o foco do meu objeto de pesquisa ter sido a escrita e a oralidade, o mesmo não se relaciona e não traça paralelo com o conceito avaliado no ENADE, mesmo porque, a avaliação aplicada pelo Órgão é de múltipla escolha, com peso maior para os conteúdos específicos, adquiridos ao longo do curso. Por assim ser, a avaliação do ENADE não analisou e não avaliou a escrita desses estudantes, o que evidencia que as análises se contrapõem. Por fim, assim como esta pesquisa pode servir de base para futuras pesquisas na área da Língua Portuguesa e da Educação, quero registrar a contribuição que este trabalho de pesquisa trouxe para minha vida pessoal e profissional. Primeiramente e como crescimento pessoal, as descobertas adquiridas por meio do Programa de Mestrado, me permitiram perceber que, ouvir algo com som estranho é relativamente comum em um país que conta com tantas diferenças, como é o caso do Brasil. Percebo ainda que, ao estudar e levar em consideração no falante as variações de origem socioeconômica, de gênero, de faixa etária, de nível de escolaridade ou ainda de região, é possível perceber que nossa língua é viva. 140 Ao longo dos dois anos que me dediquei ao Mestrado, pude identificar com clareza minhas deficiências e minhas potencialidades. Assim, ao final desses vinte e quatro meses de jornada, posso dizer que tenho como formação uma cidadã crítica, com desejo de intervir e contribuir positivamente nos processos educacionais. Desejo com muita veemência que este meu trabalho seja utilizado como referência para aqueles que buscam um novo olhar e um novo interpretar no que tange a Língua Portuguesa. “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” (Cora Coralina) 141 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFONSO, A.J. Os lugares da educação. In: SIMSON, O. R. M.; PARK, M. B. & FERNANDES, R. S. (Orgs.). Educação não formal: cenários da criação. 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Acesso em 05 jul. 2012. 150 ANEXO I Recortes dos títulos, capítulos, artigos e parágrafos do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que são referenciados nesta dissertação. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Texto compilado Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Título I Das Disposições Preliminares Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. 151 Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Capítulo IV Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado preferencialmente na rede regular de ensino; aos portadores de deficiência, IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. 152 § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados níveis de repetência. Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório. Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. Título III Da Prevenção Capítulo I Disposições Gerais Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente. Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção especial outras decorrentes dos princípios por ela adotados. Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos desta Lei. Seção II Da Fiscalização das Entidades Art. 95. As entidades governamentais e não governamentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. 153 Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas serão apresentados ao estado ou ao município, conforme a origem das dotações orçamentárias. Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento que descumprirem obrigação constante do art. 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos: I - às entidades governamentais: a) advertência; b) afastamento provisório de seus dirigentes; c) afastamento definitivo de seus dirigentes; d) fechamento de unidade ou interdição de programa. II - às entidades não governamentais: a) advertência; b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas; c) interdição de unidades ou suspensão de programa; d) cassação do registro. Parágrafo único. Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Ministério Público ou representado perante autoridade judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou dissolução da entidade. o § 1 Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Ministério Público ou representado perante autoridade judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou dissolução da entidade. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência o § 2 As pessoas jurídicas de direito público e as organizações não governamentais responderão pelos danos que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o descumprimento dos princípios norteadores das atividades de proteção específica. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigênc Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais disposições em contrário. Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e 102º da República. FERNANDO COLLOR Bernardo Cabral Carlos Chiarelli Antônio Magri Margarida Procópio Este texto não substitui o publicado no DOU 16.7.1990 e retificado em 27.9.1990 154 ANEXO II Recortes dos títulos, artigos e parágrafos da Lei n° 9.394 de 20 de dezembro de 1996, referenciados nesta dissertação. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Vide Adin 3324-7, de 2005 Vide Decreto nº 3.860, de 2001 Vide Lei nº 12.061, de 2009 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: TÍTULO I Da Educação Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. TÍTULO II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 155 VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. 156 ANEXO III Matéria veiculada no UOL Educação em 29/09/2008 - 16h15 Lula assina acordo ortográfico que entrará em vigor em 2009 Da Redação Em São Paulo Atualizada às 18h00 Reforma ortográfica vai trazer benefícios? Você é contra ou a favor do acordo? O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, na tarde desta segunda-feira (29), o decreto que estabelece o cronograma para a vigência do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O evento aconteceu no Rio de Janeiro, em cerimônia na Academia Brasileira de Letras, durante sessão solene de celebração dos 100 anos de morte de Machado de Assis. "O acordo tem, na verdade, uma importância maior do que pode parecer à primeira vista. Por isso, precisa ser explicado com clareza para os cidadãos desse país", disse Lula, durante a cerimônia. Para o presidente, o acordo é um resgate das origens. "Quero destacar o resgate dos nossos laços com a África, principalmente com os países de língua portuguesa. É o reencontro do Brasil com suas raízes mais profundas, um reencontro consigo mesmo". Sem consenso A unificação ortográfica dos países de língua portuguesa é discutida desde 1991. Entre escritores e gramáticos, não há consenso sobre a reforma. O gramático e imortal da Academia Brasileira de Letras Evanildo Bechara acredita que não há desvantagem na unificação do idioma. "Para uma pessoa culta, essas alterações não representam uma dificuldade, mas para uma criança ou uma pessoa menos preparada, a diferença na ortografia pode causar dificuldade no entendimento do texto". Na outra ponta, o filósofo e escritor Hélio Schwartsman diz que "nunca foram meia dúzia de consoantes mudas --como nas formas lusitanas "adopção" e "óptimo"-- que constituíram barreira à intercomunicabilidade entre leitores e escritores dos dois lados do Atlântico". Em vigor O acordo entra em vigor a partir de janeiro de 2009, mas as duas normas ortográficas --a atual e a prevista no acordo-- poderão ser usadas e aceitas como corretas nos exames escolares, vestibulares, concursos públicos e demais meios escritos até dezembro de 2012. 157 A reforma ortográfica prevê mudanças na língua portuguesa, como o fim do trema, a supressão de consoantes mudas, novas regras para o emprego do hífen, inclusão das letras w, k e y ao idioma, além de novas regras de acentuação. O acordo foi assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, para unificar o registro escrito nos oito países que falam português: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal. A medida, segundo o MEC (Ministério da Educação), deve facilitar o processo de intercâmbio cultural e científico entre os países e ampliar a divulgação do idioma e da literatura em língua portuguesa. 158 ANEXO IV “O QUESTIONÁRIO” Solicito que responda o questionário abaixo, cujo objetivo é tabular os dados coletados que serão utilizados apenas em caráter estatístico para compor o desenvolvimento de uma dissertação de mestrado por mim desenvolvida no Unisal – Campus Maria Auxiliadora. Agradeço a sua participação e aproveito para deixar registrado que suas colocações são extremamente importantes para o desenvolvimento desta pesquisa. Marta Mancini Dados Pessoais: 1. Nome ____________________________________ Idade: ___________ 2. Curso _________________________ Semestre ___________________ 3. Cidade em que reside __________________ Bairro ________________ 4. Estado civil: ___________________________ 5. Religião: ____________ Atuante: ( ) sim ( ) não 6. Atua em algum projeto social? ( ) sim ( ) não Qual tipo de atuação? ______________________________ 7. Atua em escola? ( ) sim ( ) não Qual tipo de atuação? ______________________________ 8. Profissão __________________ Horas trabalhadas/dia _____________ 9. Remuneração: ( ) R$ 500,00 – R$ 800,00 ( ) R$ 800,00 – R$ 1.100,00 ( ) R$ 1.100,00 – R$ 1.500,00 ( ) R$ 1.500,00 – R$ 1.800,00 ( ) acima de R$ 1.800,00 Dados acadêmicos: 10. Fez o Ensino Fundamental escola pública? ( ) sim ( ) não 11. Fez o Ensino Médio escola pública? ( ) sim ( ) não 12. Fez curso preparatório de vestibular? ( ) sim ( ) não 13. Utiliza-se de algum sistema de bolsa de estudos? ( ) sim ( ) não 14. Em caso positivo, qual o órgão? __________ Em que percentual? ____ 15. Por que escolheu estudar no Unisal? ___________________________ 159 Uso da língua portuguesa: 16. Quanto ao seu hábito de leitura, quantos livros, não acadêmicos, aproximadamente, você lê por semestre? ( )1–5 ( ) nenhum ( ) 6 – 10 ( ) mais de 10 17. Assinale outras leituras que você pratica: ( ) jornal ( ) revista ( ) jornal on-line ( ) História em quadrinho ( ) Outras Quais? ____________________________________________________ 18. Assinale os tipos de escrita de que você faz uso: ( ) textos acadêmicos ( ) email ( ) relatórios ( ) poesias ( ) Outros Quais? ____________________________________________________ 19. Percebe que possui dificuldade para escrever textos argumentativos partir de uma proposta previamente oferecida? ( ) sim ( ) não 20. Apresenta dificuldade no que se refere à Gramática (erro ortográfico, pontuação, usa de parágrafos)? ( ) sim ( ) não 21. No que se refere à oralidade, forma de se expressar, você se classificaria como: ( ) bom ( ) regular 160