Representações dos indígenas nos livros didáticos
Vocês sabiam que os livros didáticos também podem ser considerados
como fontes históricas? Isso mesmo! Eles sempre foram utilizados para educar crianças, jovens e
adultos a partir dos objetivos que o governo e as escolas escolhiam. Grande parte das ideias e
preconceitos de uma época podem ser encontrados nos livros didáticos, pois eles tanto
representam quanto criam o contexto histórico. Pergunte aos seus pais o que eles acham dos
índios ou mesmo da escravidão durante o Brasil colonial. Você certamente vai escutar o que eles
aprenderam nas escolas sobre esse assunto. O que nós estudamos na sala de aula nós levamos
para nossa vida.
Dessa forma, os conteúdos dos livros didáticos de história variam de acordo com o
contexto em que foram escritos, pois as ideias e visões de uma época não são iguais as de outra.
Para percebermos essas diferenças, vamos analisar livros didáticos do século 19 e da atualidade
sobre a temática do índio no Brasil colonial. Mas antes disso, vamos conhecer um pouco sobre a
história da chegada dos portugueses ao
território que hoje denominamos Brasil1.
Em 1500, chegou a terras brasileiras uma expedição comandada por Pedro Álvares
Cabral, ligada à Coroa Portuguesa. Nós costumamos dizer que os portugueses descobriram o
Brasil. O que vocês acham disso? O que dizer dos antigos habitantes da América, os índios? Eles
já estavam no território quando os portugueses chegaram. Logo, os europeus não foram
descobridores, pois o território já estava descoberto.
O que ocorreu foi um encontro entre duas culturas, a europeia com a indígena. Como elas
eram bem diferentes, houve um forte estranhamento por parte dos portugueses ao verem os
índios com outras características físicas, outra religião, outras formas de se vestir, alimentar e se
comportar. Da mesma forma o contrário. Os índios provavelmente também acharam os
portugueses estranhos.
A Coroa Portuguesa se interessou inicialmente pelo pau-brasil, árvore existente no
território brasileiro usada para a fabricação de tinta. Os portugueses começaram a utilizar a mãode-obra indígena para várias atividades, como a extração do pau-brasil.
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É importante ressaltar que o nome “Brasil” foi fornecido posteriormente à chegada dos portugueses. Antes desse
nome, o território avistado pelos portugueses em 1500 foi nomeado de Monte Pascal, Ilha de Vera Cruz e Terra de
Santa Cruz. Durante o período colonial é comum chamarmos o território de América Portuguesa, pois ainda não
havia uma nação chamada Brasil. Quando usarmos o termo “Brasil”, estamos nos referindo ao território que
posteriormente serviu de colônia para Portugal. A origem do nome “Brasil” ainda é incerta, mas pode ser relacionada
à extração do pau-brasil, árvore na qual os portugueses coletavam para retirar tinta.
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Somente por volta de 1530 é que Portugal começou a dar mais atenção à colonização .Em 1534
o território foi dividido em 15 faixas de terra, denominadas capitanias hereditárias, distribuídas
para alguns administradores particulares. Mas e os índios? Como foi a relação deles com os
colonizadores e viajantes estrangeiros?
Os índios foram representados pelos colonizadores e viajantes portugueses, muitas vezes,
como inferiores, selvagens, monstros e canibais (aqueles que comem carne humana). Na visão
dos portugueses, os índios só sairiam dessa condição de inferioridade caso adotassem a cultura
e a religião portuguesa, que era a católica. Não é por acaso que os portugueses colocavam os
indígenas para trabalhar, pagando-os com bugigangas de pouquíssimo ou nenhum valor.
Mas, e a cultura indígena? Ela acabou com a chegada dos portugueses? Certamente não.
Apesar de muitos índios terem sido cristianizados pelos jesuítas (padres da Companhia de
Jesus), eles ainda mantinham grande parte de suas características culturais. Os nativos não
aceitaram todas as ordens dos portugueses e também não eram tão dóceis e amigáveis com os
viajantes portugueses. Existiram muitos conflitos entre europeus e índios.
Essa visão de inferioridade que os colonizadores tinham sobre os índios perdurou por
muito tempo na mentalidade dos homens. Os índios eram constantemente representados de
maneira etnocêntrica, ou seja, na visão do europeu colonizador. Isso esteve presente nos livros
didáticos brasileiros desde a época colonial, e mudou apenas recentemente.
Como sabemos, o Brasil tornou-se independente de Portugal em 1822, saindo da situação
de colônia. Após essa liberdade, foi preciso criar para a nação que acabava de nascer uma
identidade que não fosse exclusivamente européia. Para isso, buscou-se incorporar os elementos
indígenas e negros como formadores da nação brasileira, só que com um detalhe: a etnia branca
portuguesa ainda era a mais valorizada, considerada como superior às outras. O português era
exaltado, visto como o difusor de bons costumes e boa cultura. Nos livros didáticos, por exemplo,
os indígenas apareciam inicialmente como selvagens e tornavam-se bons cidadãos somente
quando eram cristianizados e civilizados pelos europeus. Uma visão bem etnocêntrica, você não
acha?
Para concluir nossa discussão, leia os trechos dos livros didáticos abaixo, relativos à
temática do índio no Brasil colonial:
a) Livro didático de história do século 19
“Os naturais desse lugar eram antropófagos, como mostram, matando um Português que
desembarcara, e comendo-o quase à vista de seus companheiros. Dali costearam até 8 graus
Sul, onde acharam ainda selvagens canibais de quem, porém, não foram ofendidos.”
“Américo Vespúcio fez segunda viagem ao Brasil [...] Costeou 216 léguas para o Sul, e cinco
meses se demorou em um lugar em boa amizade com os indígenas.” (adaptação de Epítome de
História do Brasil, de José Pedro Xavier Pinheiro, 1ª ed. 1857, 2ª ed.1860)2.
b) Livro didático de história atual, de 2007.
“Portanto, não podemos julgar a sociedade indígena por nossos valores atuais ou pelos valores
europeus do século XVI”. [...] Quando a gente considera que os valores de nossa cultura, nossa
sociedade, nossa civilização são a ‘verdade absoluta’ e que todas as outras diferentes são
‘inferiores, bárbaras, atrasadas’, estamos cometendo um grave erro e uma tremenda injustiça. É o
que os antropólogos chamam de etnocentrismo.
[...] Finalmente, seria interessante perguntar: o que nos ensinaram os índios? Se os portugueses
tivessem que descobrir sozinhos o que havia para comer, onde estavam os rios e as caças, talvez
demorassem muito em colonizar o Brasil. Nossa vida cotidiana está cheia de ensinamentos dos
índios.” (Nova História Crítica, de MarioSchmidt, 2007)3.
Referências
MATTOS, Ilmar Rohloff (org.). História do ensino da história no Brasil. Rio de Janeiro: Access,
1998.
PINHEIRO, José Pedro Xavier. Epítome de História do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Typographia
Universal de Laemmert, 1860.
SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica. São Paulo: Nova Geração, 2007.
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PINHEIRO, José Pedro Xavier. Epítome de História do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Typographia Universal de
Laemmert, 1860. p.40-41.
3 SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica. São Paulo: Nova Geração, 2007. p.152-154.
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Atividades
Com base no texto acima e nos trechos dos livros didáticos, responda as questões abaixo:
1) De que maneira os livros didáticos podem ser usados como fontes históricas representativas do
pensamento de uma época?
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2) O que há de semelhante na forma de representar o indígena entre os viajantes e colonizadores
europeus e o livro didático do século 19? Justifique sua resposta com trechos do texto acima.
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3) Como os livros atuais mostram o indígena no Brasil colonial?
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4) A proposta dos livros didáticos de história do século 19 era formar a identidade nacional. Na sua
opinião, qual seria a proposta dos livros didáticos de História atuais?
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