Trabalho científico
ECOLOGIA ALIMENTAR DA CORVINA PLAGIOSCION SQUAMOSISSIMUS NO
RESERVATÓRIO DE BARRA BONITA, SÃO PAULO.
Stefani, P. M.1; Rocha, O.2
INTRODUÇÃO
No rio Tietê, inúmeras espécies de peixes foram introduzidas com o passar dos anos,
nos reservatórios do Médio e Baixo Tietê (Smith, 2004). O primeiro registro dessas introduções
se refere à espécie amazônica Astronotus ocellatus, introduzida em 1938 na região Nordeste,
eem seguida no Sudeste (CNEC, 1969).
Dentre as outras espécies introduzidas, destaca-se a espécie Plagioscion
squamosissimus (Heckel, 1840) nativa dos rios Parnaíba, Trombetas, Negro e Amazonas
(Nomura, 1984). Esta espécie foi introduzida em açudes do nordeste no início da década de
cinqüenta e no Estado de São Paulo em 1966, quando alguns alevinos foram liberados no rio
Pardo. No início da década de setenta, milhares de alevinos atingiram o rio Grande e se
estabeleceram nos reservatórios do rio Paraná e nos reservatórios de Ilha Solteira e Jupiá,
quando então subiram o rio Tietê (Braga, 1998).
Em seguida, vieram os tucunarés
(Cichla spp), a sardinha (Triportheus signatus), o trairão (Hoplias lacerdae), o tambaqui
(Colossoma macropomum), entre outras (Smith, 2004).
A introdução de espécies em um ecossistema pode levar a conseqüências difíceis de
serem avaliadas (Braga, 1998). As espécies introduzidas possuem maiores tolerâncias às
variações ambientais, podendo ser consideradas espécies rústicas, geralmente de rápido
crescimento, superando em desempenho as espécies nativas (Espindola et al., 2003).
Segundo Agostinho et al. (1994), as introduções de peixes podem resultar, dependendo
do tipo de espécies escolhidas, na redução dos estoques das espécies nativas ou mesmo em
extinções locais, em decorrência de alterações no habitat, pressão de competição, predação, ,
degradação genética do estoque hospedeiro e nanismo ou a introdução de patógenos e
parasitas.
A competição por recursos alimentares é, talvez, o principal meio pelo qual uma espécie
de peixe introduzida afeta as espécies nativas (Agostinho et al., 1994). Sendo assim, os
estudos sobre alimentação de peixes exóticos e nativos são muito importantes por fornecerem
subsídios para compreender o funcionamento trófico de um ecossistema, ou seja, o conjunto
de relações do tipo predação e competição entre os organismos (Ribeiro-Filho, 1999) e a
intensidade da competição por recursos entre ambas, exóticas e nativas.
A partir do conhecimento da dieta dos peixes de uma comunidade e da abundância
específica, pode-se identificar as diferentes categorias tróficas, inferir acerca da estrutura,
avaliar o grau de importância dos diferentes níveis tróficos e entender as inter-relações entre
os componentes da referida comunidade (Agostinho et al., 1997).
OBJETIVO
O objetivo desse estudo foi conhecer o hábito alimentar da corvina (Plagioscion
squamosissimus no reservatório de Barra Bonita, Médio rio Tietê, fazendo uma análise
qualitativa e quantitativa do alimento ingerido e da importância dos diferentes itens
alimentares para esta espécie.
ÁREA DE ESTUDO
1
1
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, [email protected];
2
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, [email protected]
Trabalho científico
O rio Tietê atravessa praticamente todo o território paulista, seu comprimento total é
de 1,15 mil km e o grande desnível de seu curso tem sido aproveitado para a construção de
várias barragens destinadas à produção de energia elétrica (Figura 1) (Smith et al. 2002).
Atualmente, é considerado um rio navegável nos trechos de Barra Bonita (443 km) e de Nova
Avanhandava e no trecho da barragem de Jupiá, no rio Paraná (40 km). O rio Tietê é dividido
em quatro trechos: Alto Tietê, Médio Tietê Superior, Médio Tietê Inferior e Baixo Tietê (Smith
et al. 2002).
A Bacia do Tietê Médio Superior tem uma área de drenagem de 7.070 km2, englobando
15 municípios e os rios Piracicaba e Tietê e o primeiro reservatório do sistema: Barra Bonita
(Espindola et al. 2003; Smith et al. 2002).
O reservatório de Barra Bonita é o primeiro grande aproveitamento hidrelétrico da
CESP, formado em 1962, a partir do represamento realizado à jusante do encontro dos rios
Piracicaba e Tietê e seus rios tributários (CESP, 1998). O reservatório localiza-se entre os
municípios de Barra Bonita (margem direita) e Igaraçu (margem esquerda), entre as
coordenadas 22o 90’ S de latitude e 48o 34’ W de longitude, a 430 metros de altitude. A sua
barragem possui 480 metros de comprimento e foi concluída em 1964, a área de inundação do
reservatório é de 31.000 ha e o tempo de residência da água é entre 37 e 137 dias (Tabela 1)
(CESP, 1998).
Nas áreas urbanas da bacia em que o reservatório está inserido, se concentram mais de
400.000 habitantes e na zona rural cultiva-se principalmente cana-de-açúcar, café, citrus,
hortaliças e frutas, além de existirem algumas áreas de reflorestamento. De acordo com a
CETESB (2001), existem aproximadamente 1.020 indústrias nesta bacia, destacando-se as
indústrias têxteis, alimentícias, de papel e papelão, abatedouros, engenhos e usinas de açúcar
e álcool.
Tabela 1: Parâmetros morfométricos, hidráulicos e o ano de enchimento do reservatório de
Barra Bonita, Médio Rio Tietê-SP.
Reservatório de Barra Bonita
Área alagada (ha)
31.000
Área de drenagem (km2)
32.330
402
Vazão média anual (m3/s)
Tempo de residência (dias)
90.3
3.135
Volume total (106 m3)
2.600
Volume útil (106 m3)
Perímetro (km)
525
Profundidade média (m)
10.2
Profundidade máxima (m)
30.2
Fonte: CESP, 1998; CETESB, 2001
1
2
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, [email protected];
2
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, [email protected]
Trabalho científico
rio Piracicaba
Tie
tê
Bo
ni
ta
ema
Jaú
Bauru
Ba
rir
i
Pr
om
iss
ão
Av
an
ha
nd
av
a
Para
napa
n
Araçatuba
Birigui rio
Lins
Ib
iti
ng
a
Rio
Andradina
No
va
Ri
o
Tr
ês
I
rm
ão
s
Pa
ran
á
Localização da Área de Estudo
Ba
rra
São Paulo
24º
45º
Legenda
Rede de Drenagem
0
41
82
123
km
Fonte: SÃO PAULO (ESTADO),1982 -Coordenadoria da
Indústria e Comércio Diretrizes para a Política de Desenvolvimento e Desconcentração Industrial
Desenho: Cristina Criscuolo
Barragens
Represas
Figura 1: Localização da área de estudo no sistema de reservatórios em cascata do rio Tietê.
MATERIAIS E MÉTODOS
As coletas foram realizadas em novembro de 2002 e novembro de 2003, com redes de
espera (malhadeiras), utilizando-se as malhagens de 3, 4, 6, 8, 10 e 11 cm entre nós opostos.
As coletas dos peixes foram realizadas em três estações: estação 1 (fase rio - porção
superior), estação 2 (fase de transição - porção mediana) e estação 3 (fase lacustre - porção
inferior) (Figura 1).
Foram utilizadas três baterias de redes, localizadas uma em cada estação de coleta, as redes
foram colocadas no período da tarde e retiradas na manhã seguinte, permanecendo por 12
horas de espera. Ainda em campo, foram feitos os registros das espécies coletadas com a sua
respectiva abundância, para em seguida fixar cada indivíduo em formol 10%, colocando-os em
sacos plásticos contendo as informações sobre a época de coleta e o ponto em que foi
coletado.
Todo material fixado foi transportado até o laboratório do DEBE (Departamento de Ecologia e
Biologia Evolutiva - UFSCar), onde foram submetidos à biometria (comprimento padrão,
comprimento total e peso corporal).
Para o estudo do conteúdo estomacal foi realizada, em cada exemplar, uma incisão
ventral longitudinal na cavidade abdominal, a partir da abertura uro-genital em direção à
cabeça, para a retirada do estômago, cortando-se a região de junção deste com o intestino. O
conteúdo estomacal foi analisado em microscópio estereoscópico para a identificação dos itens
consumidos, com auxílio de chaves específicas e de especialistas, com a finalidade de se
alcançar o nível taxonômico mais detalhado possível.
1
3
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, [email protected];
2
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, [email protected]
Trabalho científico
RESULTADOS
Foram analisados 36 estômagos oriundos de peixes coletados em novembro de 2002.
Plagioscion squamosissimus no trecho superior do reservatório de Barra Bonita, apresentou
uma dieta baseada em peixes. Os itens alimentares mais freqüentes foram alevinos de peixes
(não identificados) que se encontravam altamente digeridos (44,44%), fragmentos de peixes
(44,44%) e alevino de Plagioscion squamosissimus (11,11%) (Tabela 2). A participação mais
expressiva em termos de volume (49,59%) e peso (51,34%) foi para os alevinos de peixes
(não identificados) (Figura 2 e 3).
No trecho inferior do reservatório, o item fragmento de peixe foi o componente mais
importante (78%), seguido dos itens ninfas de Odonata (Phyllocycla sp) (11,11%), material
vegetal (11,11%), fragmentos de insetos (5,55%) e alevinos (Astyanax altiparanae) (5,55%)
(Tabela 2). A participação mais expressiva em termos de volume (69,93%) e peso (66,11%)
foi do item alevino de lambari (Astyanax altiparanae) (Figura 2 e 3).
Para os itens material vegetal e fragmentos de insetos, não foi possível determinar o
volume e o peso seco, devido ao pequeno tamanho e quantidade insuficiente do material
encontrado dentro do estômago.
Tabela 2: Freqüência relativa (%) dos itens alimentares encontrados no estômago de
Plagioscion squamosissimus no trecho superior e inferior do reservatório de Barra Bonita em
novembro de 2002.
Reservatório de Barra Bonita
Itens Alimentares
Alevino (não identificado)
Fragmento de peixe
Alevino (Plagioscion squamosissimus)
Material vegetal
Alevino (Astyanax altiparanae)
Fragmentos de insetos
Ninfas de Odonata (Phyllocycla sp)
1
Trecho Superior
Trecho Inferior
Frequência Relativa (%)
N = 18
N = 18
44.44%
44.44%
78%
11.11%
11.11%
5.55%
5.55%
11.11%
4
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, [email protected];
2
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, [email protected]
Trabalho científico
100
90
80
Volume (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
A
B
C
D
E
F
G
Itens Alimentares
trecho superior
trecho inferior
Figura 2: Volume (%) dos itens alimentares: A- Fragmentos de peixe, B-Fragmentos de
Odonata (Phyllocycla sp), C- Material vegetal, D- Alevino (Astyanax altiparanae), EFragmentos de inseto, F- Alevino (não identificado), G- Alevinos de Plagioscion
squamosissimus, consumido por P. squamosissimus, nos trechos superior e inferior do
reservatório de Barra Bonita, em novembro de 2002.
Figura 3: Peso
(%) dos itens
alimentares: A80
fragmentos de
peixe, B70
Fragmentos de
60
Odonata
(Phyllocycla sp),
50
CMaterial
40
vegetal,
DAlevino
30
(Astyanax
20
altiparanae), EFragmentos de
10
inseto,
F0
Alevino
(não
A
B
C
D
E
F
G
identificado), GItens Alimentares
Alevinos
de
Plagioscion
Trecho superior
Trecho inferior
squamosissimus
, consumido por
P. squamosissimus nos trechos superior e inferior do reservatório de Barra Bonita, em
novembro de 2002.
100
Peso (%)
90
Em novembro de 2003 foram analisados 43 estômagos de P.squamosissimus. No trecho
superior do reservatório de Barra Bonita, os principais itens alimentares consumidos foram
1
5
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, [email protected];
2
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, [email protected]
Trabalho científico
fragmento de peixe (62,50%), alevino (não identificado) (31,25%) e alevino da Família
Cichlidae (6,25%) (Tabela 3). A participação mais expressiva em termos de volume (40,86%)
e peso (49,96%) foi para o item fragmentos de peixe (Figura 4 e 5).
Para o trecho médio do reservatório de Barra Bonita, o item alimentar fragmento de
peixe foi o de maior ocorrência (75%), seguido dos itens alevino (não identificado) (18, 75%)
e alevinos da Família Cichlidae (6,25%) (Tabela 3). A participação mais expressiva em termos
de volume (37,09%) e peso (46,86%) foi para o item alevinos da Família Cichlidae (Figura 4 e
5).
No trecho inferior do reservatório, o item alimentar de maior ocorrência foi fragmento
de peixe (72,72%) seguido dos itens larva de Diptera (Família Chironomidae) (18.18%), larva
de Diptera (Cryptochironomus sp) (18,18%), Material vegetal (9,09%), Copepoda Calanoida
(Notodiaptomus sp) (9,09%) e Detritos (9,09%). A participação mais expressiva em termos de
volume (92,65%) e peso (95,12%) foi para o item fragmento de peixe (Figura 4 e 5).
Para os itens alimentares larva de Diptera (Família Chironomidae), larva de Diptera
(Cryptochironomus sp) e Copepoda Calanoida (Notodiaptomus sp) não foi possível determinar
o volume e o peso seco, devido ao pequeno tamanho e quantidade insuficiente do material
encontrado dentro do estômago.
Tabela 3: Freqüência relativa (%) dos itens alimentares encontrados no estômago de
Plagioscion squamosissimus nos trechos superior, médio e inferior do reservatório de Barra
Bonita em novembro de 2003.
Reservatório de Barra Bonita
Itens Alimentares
Alevinos (não identificado)
Alevinos da Família Cichlidae
Fragmentos de peixe
Larva de Diptera (Família Chironomidae)
Larva de Diptera (Cryptochironomus sp)
Material vegetal
Copepoda Calanoida (Notodiaptomus sp)
Detrito
1
Trecho
Trecho
Trecho
Superior
Médio
Inferior
Freqüência Relativa (%)
N = 16
N = 16
N = 11
31.25%
6.25%
62.50%
-
18.75%
6.25%
75.00%
-
72.72%
18.18%
18.18%
9.09%
9.09%
9.09%
6
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, [email protected];
2
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, [email protected]
Trabalho científico
100
Volume (%)
80
60
40
20
0
A
B
C
D
E
Itens Alimentares
trecho superior
trecho médio
trecho inferior
Figura 4: Volume (%) dos itens alimentares: A- Fragmentos de peixe, B- Material vegetal, CAlevinos (Família Cichlidae), D- Larva de Díptera (Família Chironomidae), E- Alevinos (não
identificado), consumido por P. squamosissimus, nos trechos superior, médio e inferior do
reservatório de Barra Bonita, em novembro de 2003.
100
90
80
Peso (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
A
B
C
D
E
Itens Alimentares
trecho superior
trecho médio
trecho inferior
Figura 5: Peso (%) dos itens alimentares: A- Fragmentos de peixe, B- Material vegetal, CAlevinos (Família Cichlidae), D- Detritos, E- Alevinos (não identificado), consumido por P.
squamosissimus nos trechos superior, médio e inferior do reservatório de Barra Bonita, em
novembro de 2003.
1
7
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, [email protected];
2
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, [email protected]
Trabalho científico
DISCUSSÃO
A dieta alimentar da espécie Plagioscion squamosissimus no reservatório de Barra
Bonita foi principalmente piscívora. Devido ao alto grau de digestão dos conteúdos não foi
possível identificar alguns itens alimentares até espécie. Foram encontrados fragmentos de
peixes, alevinos da Família Cichlidae, alevinos da própria espécie e um alevino da espécie
Astyanax altiparanae, sendo consumidos em menor escala, ninfa de Odonata (Phyllocycla sp),
material vegetal, larvas de Diptera (Família Chironomidae), Copepoda Calanoida
(Notodiaptomus sp), fragmentos de insetos aquáticos e detritos.
Não foi registrado nos conteúdos estomacais analisados à ocorrência de Macrobrachium
sp (camarão de água doce). Nas regiões norte e nordeste a sua alimentação baseia-se
principalmente em peixes, insetos aquáticos e camarões de água doce (Braga, 1990).
Braga (1998) estudando a dieta alimentar da corvina (P. squamosissimus), no reservatório de
Barra Bonita, verificou que a espécie apresenta um hábito alimentar piscívoro, ingerindo
principalmente as espécies de peixes Apareiodon sp, Astyanax altiparanae, Moenkhausia
intermedia, indivíduos da própria espécie e indivíduos da família Pimelodidae, e em menor
escala os itens ninfas de Odonata e ninfas de Ephemeroptera.
No presente estudo foi verificada a ocorrência de canibalismo, sendo encontrados
diversos alevinos da mesma espécie dentro do estômago. O canibalismo também foi
observado por Braga (1998) sendo praticado pela espécie P. squamosissimus no mesmo
reservatório. Hahn et al. (1997) estudando a alimentação da corvina no reservatório de
Itaipu, rio Paraná, observou o hábito alimentar piscívoro e a ocorrência de canibalismo.
A plasticidade alimentar da corvina, observada nesse trabalho, pode explicar o sucesso
da sua colonização no reservatório de Barra Bonita. A voracidade da espécie Plagioscion
squamosissimus, evidenciada pela grande quantidade de fragmentos de peixes e alevinos
encontrados no conteúdo estomacal destes, pode sugerir uma forte pressão de predação
sobre as espécies nativas, cuja dinâmica populacional pode ser grandemente alterada.
Além da predação a espécie Plagioscion squamosissimus certamente compete por
recursos alimentares com as espécies nativas piscívoras Hoplias malabaricus, Acestrorhynchus
lacustris e Serrasalmus spilopleura, e com as espécies onívoras Geophagus brasiliensis,
Pimelodus maculatus e Astyanax altiparanae.As conseqüências a médio e longo prazo destes
processos não são ainda previsíveis, mas uma hipótese provável é que a longo prazo e
associada a outros fatores estressantes como a poluição possam colocar em risco a
persistência das espécies nativas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agostinho, A. A.; Júlio Jr., H. F. ; TORLONI, C. E. 1994. Impactos Causados pela Introdução e
Transferência de Espécies Aquáticas: uma síntese. In: Seminário Sobre a Fauna Aquática e o
Setor Elétrico Brasileiro. Caderno II. Rio de Janeiro: COMASE/Eletrobrás.
Agostinho, A. A. et al. 1997. Estrutura Trófica. In: Vazzoler, A. E. A. M. et al. ed. A Planície de
Inundação do Alto Rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá:
EDUEM, p. 229-248.
Braga, F. M. S. 1990. Aspectos da reprodução e alimentação de peixes comuns em um trecho
do rio Tocantins entre Imperatriz e Estreito, Estados do Maranhão e Tocantins, Brasil. Revta.
Bras. Biol., Rio de Janeiro, 50(3): 547-558.
1
8
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, [email protected];
2
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, [email protected]
Trabalho científico
Braga, F. M. S. 1998. Alimentação de Plagioscion squamosissimus (Osteichthyes, Sciaenidae)
no reservatório de Barra Bonita, Estado de São Paulo. Iheringia, Sér.Zool., Porto Alegre, no.
84, p. 11-19.
Companhia Energética de São Paulo-CESP. 1998. A Conservação e Manejo nos Reservatórios:
limnologia, ictiologia e pesca. São Paulo: 163 páginas.
Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental-CETESB, 2001. Relatório da Qualidade das
Águas Interiores do Estado de São Paulo. São Paulo: Série relatórios, Secretaria do Meio
Ambiente.
Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores (CNEC). 1969. O barramento dos rios e a
fauna ictiológica, SP, 122 páginas.
Espindola, E. L. G. et al. 2003. Organismos Aquáticos. In: Fragmentação de Ecossistemas:
Causas, Efeitos sobre a Biodiversidade e Recomendações de Políticas Públicas. Denise Marçal
Rambaldi, Daniela América Suaréz de Oliveira (orgs.). Brasília: MMA/SBF, 510 páginas.
Hahn, N. S., Agostinho, A. A.; Goitein R. 1997. Feeding ecology of curvina Plagioscion
squamosissimus (Heckel, 1840) (Osteichthyes, Perciformes) in the Itaipu reservoir and Porto
Rico floodplain. Acta Limnologica Brasiliensia. Vol. 9. p.11-22.
Nomura, H. 1984. Dicionário dos peixes do Brasil. Brasília, Editerra. 482 páginas.
Ribeiro-Filho, A. R. 1999. Caracterização de Dietas Alimentares de Peixes Predadores em
Açudes de Pernambuco e no lago Paranoá. Recife: Monografia (graduação) – Curso de
Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco, 39 páginas.
Smith, W. S.; Espindola, E. L. G.; Pereira, C. C. G. F.; Rocha, O. 2002. Impactos dos
Reservatórios do Médio e Baixo Rio Tietê (SP) na Composição das Espécies de Peixes e na
Atividade de Pesca. In: Recursos Hidroenergéticos: usos, impactos e planejamento integrado.
São Carlos: Rima, p.57-72.
1
9
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, [email protected];
2
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, [email protected]
Download

Trabalho científico 1 - Ministério do Meio Ambiente