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ANSIEDADE EM ATLETAS NA PERSPECTIVA DA TERAPIA COGNITIVA
COMPORTAMENTAL1
Anxiety in athletes from Cognitive Behavioral Therapy perspective
Alessandro José Lopes Souza*
Fernanda Andrade de Freitas Salgado**
RESUMO: Este trabalho pretende responder em que sentido a ansiedade afeta o desempenho
dos atletas e quais as técnicas atualmente utilizadas para um desempenho satisfatório, à luz da
terapia cognitiva comportamental. O presente trabalho é um estudo de cunho bibliográfico,
enfatizando técnicas e influências que a ansiedade acarreta no desempenho esportivo, nos
levando a considerar a avaliação social, comparação com o adversário e o medo de errar
como uma das causas da ansiedade. A terapia comportamental cognitiva lança mão de
técnicas comportamentais e cognitivas para o enfrentamento da ansiedade, a saber, avaliação,
psicoeducação, e mais especificamente, o biofeedback, a dessensibilização sistemática, o
treino de relaxamento e a reestruturação cognitiva.
Palavras-chave: Ansiedade. Psicologia do Esporte. Terapia Cognitiva Comportamental.
ABSTRACT: This paper has the objective to answer to what sense anxiety affects the
performance of athletes and which techniques are currently being used for satisfactory
performance, showing techniques and comprehension of anxiety from the perspective of
cognitive behavioral therapy. This present work is a bibliographical study emphasizing
techniques and influences that anxiety has on sports performance, leading us to consider
social evaluation, compared with the opponent and the fear of failure as a cause of anxiety.
For this reason, this work is grounded on cognitive behavioral therapy, with the aim of
evaluating the way athletes perceive competitions from the cognitive point of view, and how
they react facing situations of extreme charges.
Keywords: Anxiety. Sports Psychology. Cognitive Behavioral Therapy.
MOTIVAÇÃO DO ESTUDO
No ambiente esportivo, as pressões e cobranças, tanto físicas quanto psicológicas,
estão presentes na rotina de atletas, determinando sua atuação em campo, sendo positivas ou
negativas. Assim sendo, a questão que se pretende responder é como a ansiedade pode afetar
o desempenho desses atletas e quais os tratamentos oferecidos para o restabelecimento de um
desempenho satisfatório.
1
Artigo originado do trabalho de conclusão de curso de Psicologia
Atleta profissional de Fisiculturismo. Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário Nossa Senhora do
Patrocínio (CEUNSP). Atualmente cursando Pós-Graduação lato sensu em Terapia Cognitiva.
**
Doutora em Educação pela UNICAMP. Mestra em Avaliação Psicológica pela Universidade São Francisco.
Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP).
*
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Neste sentido, este trabalho objetiva apresentar as principais técnicas existentes no
tratamento da ansiedade para atletas visando uma possível melhora no rendimento desportivo,
fundamentando o levantamento teórico na Teoria Cognitiva Comportamental.
Este estudo contribuirá com a área por congregar, em leitura crítica, as principais
fontes do assunto, com conhecimento conjunto e atualizado sobre ansiedade e seus métodos
de enfrentamento, favorecendo o entendimento de possíveis ações para melhorar o
desempenho de atletas no ambiente competitivo.
O número de pessoas praticantes de atividades físicas vem crescendo nos últimos
anos, trazendo com este crescimento a cobrança pelo bom desempenho, e em razão deste
processo, os modos de enfrentamentos da ansiedade provocada nessas circunstâncias poderá
ser um estudo proveitoso do ponto de vista social.
No que concerne ao conhecimento cientifico, o futuro estudo busca agrupar em um
único trabalho as causas e enfrentamento da ansiedade em atletas. Algumas técnicas e
estratégias psicológicas de controle da ansiedade podem ser nomeadas como uma
“tecnologia” promissora para o controle da ansiedade. Essas técnicas incluem o
“Biofeedback”, a dessensibilização sistemática, o treino de relaxamento e modelagem, e
outras técnicas de natureza cognitiva, para ajudar os atletas a alterarem suas cognições e
pensamentos desajustados ou inadequados (LEHRER; WOOLFOLK, 1993 apud J. CRUZ,
1996a, p. 569).
Para responder à questão que o estudo propõe, partindo do pressuposto de que a
ansiedade influencia o desempenho de atletas em sua rotina desportiva, e isso poderá ser
melhorado na preparação do atleta como um todo, esse estudo é de cunho bibliográfico,
enfatizando técnicas de controle e influências que a ansiedade acarreta no desempenho
esportivo.
REVISÃO DA LITERATURA
Apesar das diversas modalidades esportivas existentes no Brasil, e da visibilidade
gerada por grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, poucos
são os estudos voltados para a área da Psicologia do Esporte e poucos técnicos e
comissões técnicas preocupam-se com o bem-estar dos atletas, que não são meras
máquinas para aquisição de recordes. Quando se fala em treinamento esportivo a maioria
dos envolvidos pensa em questões físicas, técnica, tática e a própria literatura da área
coloca a preparação psicológica em último plano (SANTOS; SHIGUNOV, 2000).
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Apesar disso, o atleta não deve ter seu treinamento focado apenas nos aspectos
técnicos, táticos e físicos, mas também, no psicológico que, por sua vez, tem uma forte
relação com o rendimento esportivo, de acordo com Fabiani (2009). A autora ainda
complementa:
propiciar aos atletas respaldo psicológico é tão importante quanto lhes
fornecer uma alimentação balanceada e exercícios regulares. Do mesmo
modo que a técnica, a tática e o físico são treinados, o fator psicológico pode
influenciar no rendimento do atleta (FABIANI, 2009, p. 2).
A partir de 1967, com a criação do NASPSPA – North American Society For The
Psychology of Sport and Physical Activity (Sociedade Norte Americana para a Psicologia
do Desporto e da Atividade Física) é que muitos estudos vêm sendo desenvolvidos. No
entanto, quando a questão é trazida para o contexto do brasileiro, poucos são os trabalhos
vinculados a esta área, e, quando encontrados, limitam-se no diagnóstico, não trazendo
grandes evoluções ou contribuições para a resolução dos problemas levantados
(SANTOS; SHIGUNOV, 2000).
Cabe ressaltar que o corpo e mente são fatores inseparáveis e que ambos precisam
do mesmo grau de atenção e os fatores psicológicos se tornam uma das razões que mais
justificam a obtenção de determinados resultados, principalmente quando o rendimento
do atleta fica abaixo do esperado. Neste sentido, a preparação mental e psicológica em
atletas tem ganhado destaque e importância no processo de treinamento. Apesar de ter
sido negligenciada, essa relação é conhecida há muito: mens sana in corpore sano. Por
isso, é importante que treinadores, amigos e familiares apoiem o treinamento psicológico
e não somente o desenvolvimento físico.
O principal fator psicológico a ser estudado nesse trabalho é a ansiedade e como
ela pode influenciar o rendimento esportivo.
De modo geral, poder-se-á dizer que a literatura e a investigação
actualmente existentes no domínio do stress e da ansiedade, em contexto
desportivo, permitem evidenciar alguns aspectos mais ou menos
consensuais (Cruz, 1994): 1) o stress e ansiedade são experienciados por
todos os indivíduos, em situação competitivas, independente do seu sexo,
idade, nível competitivo ou modalidade; 2) os atletas com maiores níveis de
sucesso e rendimento experienciam diferentes padrões e utilizam diferentes
estratégias para lidar com o stress e ansiedade associados à competição
desportiva (comparativamente aos atletas menos bem-sucedidos ou com
fracos rendimentos ); 3) os efeitos do stress e da ansiedade no rendimento
são altamente individualizados e moderados para variáveis do tipo traço,
pelas características e exigências da situação e pelo processos de avaliação
cognitiva e de confronto com as situações competitivas (CRUZ, 1996a, p.
567).
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Neste sentido, existe unanimidade de teóricos e investigadores da Psicologia do
Esporte de que o efeito do estresse e da ansiedade no rendimento esportivo torna-se um
assunto complexo e individualizado e sua total compreensão exige em conjunto de vários
fatores psicológicos interdependentes (CRUZ, 1994). A esse respeito, Marli Terezinha
Fabiani afirma que “isso ocorre porque os atletas respondem de maneira diferente aos
estímulos externos durante a competição” (FABIANI, 2009, p.2).
Muitas vezes o estresse e a ansiedade de uma competição são transferidos para a
área emocional, afetando o desempenho, e é por este motivo que o fator psicológico
precisa ser também objeto de estudo e ação a fim de que não interfira de maneira negativa
no rendimento.
Em virtude de cada atleta ser diferente um de outro - o chamado “fator individual”
-, é que treinadores, pais e dirigentes questionam os profissionais de Psicologia do
Desporto, inquirindo o porquê de alguns atletas alcançarem excelentes desempenhos
enquanto outros, mesmo possuindo boas competências físicas, não alcançam tal
desempenho, principalmente em situações de maior pressão competitiva.
Quando a falta de rendimento torna-se crônica começam a surgir justificações de
ordem mental e psicológica, como exemplo: o atleta é “muito nervoso”, “não consegue se
concentrar”, “ainda tem que amadurecer”, “não resiste à pressão” (CRUZ; GOMES,
2001). Com base nessas situações e na compreensão do problema é que tem surgido
grande número de estudos (MORGAN, 1980) nas últimas décadas (acentuando-se nos
últimos anos), que procuraram analisar quais são as características psicológicas que
diferenciavam os atletas bem-sucedidos daqueles que não alcançam o bom rendimento; e
a primeira questão investigada foi a personalidade dos atletas. Os resultados não foram
animadores e até hoje não se tem respostas para “perfis” nem “maneira de ser” que
possam justificar a diferença de rendimento (CRUZ; GOMES, 2001).
Colocando de lado os fatores de personalidade, os investigadores focaram na
investigação da análise de processos e fatores cognitivos envolvidos no rendimento dos
atletas. Focaram o modo como os atletas percebem e avaliam de uma ótica cognitiva as
competições, tentando investigar como é que cada atleta reage perante situações e
pressões competitivas (CRUZ; GOMES, 2001). Os resultados, por este ângulo de estudo,
levaram a excelentes conclusões, favorecendo o sucesso do atleta através de “uma saúde
mental positiva, por autopercepções e por melhores competências cognitivas e
comportamentais” (VEALEY, 1992 apud CRUZ; GOMES, 2001, p.35). Os atletas com
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maior rendimento esportivo possuem altos níveis de motivação e comprometimento,
valorização acentuada com o seu próprio rendimento, níveis elevados de autoconfiança,
boa capacidade para concentração e facilidade para controlar a ansiedade (CRUZ;
GOMES, 2001).
Podemos citar, neste momento, algumas competências psicológicas de atletas que
contribuem para o sucesso de um alto rendimento:
a) Altos níveis de motivação e comprometimento com o desporto; b)
valorização e interesse principal com o seu rendimento individual; c)
formulação de objectivos claros e específicos para as competições e
para definir “bons” resultados desportivos; d) Níveis elevados de
autoconfiança; e) grande capacidade de concentração; f) Frequente
utilização da imaginação e da visualização mental; g) boa capacidade
para controlar a ansiedade e os níveis de activação; h) Desenvolvimento
e utilização de planos e rotinas mentais competitivos; i) capacidade para
lidar eficazmente com acontecimentos inesperados e/ou distracções
(CRUZ; GOMES, 2001, p. 36).
Para os atletas, a ansiedade e o estresse são fatores presentes na rotina de
competições ou pressões em determinadas situações. Os professores norte-americanos
Brustad (1996) e Scanlan (1996) (apud ARAÚJO; GOMES, 2005) afirmam que os atletas
experienciam ansiedade competitiva devido a três fatores:
a) O fato do desporto envolver a demonstração de feitos desportivos, que é
algo muito valorizado pelos mais novos; b) a tendência da prática
desportiva possibilitar aos praticantes informações acerca de suas
capacidades físicas através das comparações que estes fazem entre si e;
c) a sujeição às avaliações externas por parte dos significativos (pais,
treinadores e colegas) que frequentemente emitem opiniões e juízos de
valor acerca das capacidades dos atletas (ARAÚJO; GOMES, 2005. p.
212).
Neste sentido, os aspectos citados servem tanto para atrair pessoas ao círculo
esportivo como também propiciar fontes de estresse. Tal como referem Smoll e Smith
(1996 apud ARAÚJO;GOMES, 2005) alguns atletas tendem a enfatizar esses fatores
como desafios às suas capacidades, enquanto outros sentem-se ameaçados, sendo assim,
motivados pela vontade de evitar a falha de se deparar com a falta de capacidade.
De acordo com Scanlan, Stein e Ravizza (1991), as fontes de estresse e ansiedade
em atletas derivam também da preocupação com o desempenho de suas capacidades,
custos financeiros, dedicação de tempo aos treinos, inseguranças em relação ao talento,
aos relacionamentos ou experiências traumáticas fora do esporte. E, por último, é possível
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observar fonte de estresse e ansiedade em atletas recentemente lesionados, em que lesões
provocavam o medo, desesperança e sonhos destruídos (GOULD; UDRY; BRIDGES;
BECK, 1997).
Cruz (1996a), ao recuperar estudos de Leher e Woolfolk (1993), considera que
atualmente é possível utilizar de várias técnicas para o controle do estresse e ansiedade
em atletas como biofeedback, a dessensibilização sistemática, o treino de relaxamento e a
modelagem. E também uma “tecnologia” promissora de natureza cognitiva que ajuda os
atletas a alterarem cognições e pensamentos desajustados ou inadequados. É o caso, por
exemplo, da reestruturação cognitiva, da paragem do pensamento ou do treino de
autoinstrução (LEHRER; WOOLFOLK, 1993 apud CRUZ, 1996a).
Partindo dessa tecnologia promissora e de natureza cognitiva, seguiremos este
estudo para identificar as técnicas e conceitos da Terapia Cognitiva Comportamental
(TCC), que são baseadas na compreensão de que cada paciente individualmente possui
suas crenças específicas e padrões de comportamento (BECK, J. 2011), o que pode
possivelmente causar estresse e ansiedade. Este método se adequa a cada indivíduo, já
que cada pessoa possui sua particularidade, seus pensamentos automáticos e a
interpretação que faz de cada situação estressora.
Vários estudos demonstram que a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC)
auxilia pessoas que enfrentam as mais diversas adversidades, incluindo depressão,
ansiedade, transtornos alimentares, tabagismo, e comportamentos adictos (RANGÉ et al.,
2011 apud NEUFELD; MOREIRA; XAVIER, 2012). Um dos modelos teóricos da TCC é
a Terapia Cognitiva (TC), a qual foi elaborada em 1956 por Aaron Beck e, desde então,
vem sendo adaptada por pesquisadores do mundo inteiro, visando sua utilização em
inúmeros transtornos e problemas psicológicos.
As intervenções Cognitivas Comportamentais visam não apenas remissões
temporárias dos sintomas, mas sim a manutenção, a longo prazo, da melhora. “Isto
porque os pacientes aprendem a modificar seus pensamentos disfuncionais, sentindo-se
melhores emocionalmente e, assim, comportando-se de maneira mais produtiva na busca
de suas metas” (BECK, 1993 apud NEUFELD; MOREIRA; XAVIER, 2012. p. 94).
ANSIEDADE E DESEMPENHO: AMBIENTE ESPORTIVO
O tratamento da ansiedade fundamentada na terapia cognitiva ensina as pessoas em
uma linguagem simples para entendimento e compreensão que, segundo Clark e Beck (2012,
p. 42), “a forma de você pensar afeta a forma de você agir”. Ainda de acordo com esses
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mesmos autores, muitos indivíduos desconhecem a maneira como seus pensamentos
influenciam o seu estado de humor, talvez pelo fato de que a ansiedade provoque uma intensa
e incontrolável excitação emocional, em que as pessoas acabam negando, assim, a sua base
cognitiva.
Depreende-se disso que os indivíduos supõem que sua ansiedade se dá pelas situações
e nunca por suas cognições, conforme exemplo:
Considere, por exemplo, como você se sente no período anterior a um
exame importante. A ansiedade será alta se você espera que o exame seja
difícil e você duvida de seu nível de preparação. Por outro lado, se você
espera que o exame seja bastante fácil ou você está confiante em sua
preparação, a ansiedade será baixa (CLARK; BECK, 2012, p. 42).
Pode-se perceber que no exemplo citado o contexto é o mesmo para ambas situações,
ou seja, a situação em si não gera ansiedade e sim a maneira de encará-la ou interpretá-la. Os
estudos de Clark e Beck (2012) permitem-nos compreender que é a forma como pensamos
que tem uma influência poderosa sobre como nos sentimos, se ansiosos ou calmos.
A perspectiva cognitiva sobre a ansiedade está centralizada na noção de
vulnerabilidade (CLARK; BECK, 2012). Beck, Emery e Greenberg (1985 apud CLARK;
BECK, 2012) definiram vulnerabilidade como:
A percepção de uma pessoa de si mesma como sujeita a perigos internos e
externos sobre os quais ela não tem controle ou ele é insuficiente para
permitir-lhe um senso de segurança. Nas síndromes clínicas, o senso de
vulnerabilidade é ampliado por certos processos cognitivos disfuncionais
(CLARK; BECK, 2012, p. 43).
Para esses teóricos, quando a vulnerabilidade é aumentada, o indivíduo faz uma
avaliação tendenciosa e exagerada de um possível dano pessoal em resposta a sinais que são
neutros ou inexistentes. Sendo assim, essa avaliação de ameaça envolve uma percepção
errônea de um possível acontecimento. Cabe ressaltar que uma tendência exagerada de
determinada situação é importante, mas não o suficiente para gerar o estado ansioso; é
necessário também que ocorra um distúrbio emocional baseado em um mecanismo cognitivo
deficiente (CLARK; BECK, 2012).
Ou seja, usando as exatas palavras de Clark e Beck (2012, p. 44), “a ansiedade é um
produto de um sistema de processamento de informação que interpreta uma situação como
ameaçadora aos interesses vitais e bem-estar do indivíduo”.
Nesses dois especialistas em ansiedade encontramos ainda outro exemplo, que desta
vez ilustra a asserção acima:
a maioria dos indivíduos poderia facilmente caminhar sobre uma prancha de
15 centímetros de largura sem medo, se ela estivesse colocada a uma altura
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de 30 centímetros do chão. Entretanto, eleve a prancha a 30 metros acima do
chão, e a maioria dos indivíduos tornará intensamente apavorada e se
recusará a caminhar na prancha (CLARK; BECK, 2012, p.44).
É possível ver no exemplo que o indivíduo caminha sobre a prancha a 30 centímetros
do chão com facilidade, mas, quando a prancha é colocada a 30 metros do chão, o indivíduo
duvida da sua capacidade de equilíbrio, o que poderia ocasionar sintomas como tontura e
instabilidade caso arriscassem tal façanha. Embora a prancha seja a mesma, apenas em
alturas diferentes, sua capacidade de evocar medo ou ansiedade depende da percepção de
perigo (CLARK; BECK, 2012).
No exemplo anterior, ocorre a interpretação errônea da dificuldade de andar sobre a
prancha, o que não tem relação direta com os riscos da altura. Neste sentido, entende-se que a
ansiedade é uma reação e pressupõe uma avaliação inadequada e exagerada, provocando
vulnerabilidade pessoal, pois o sujeito tende a interpretar erroneamente situações ou sinais
neutros como ameaçadores. Deveria ser tão fácil andar sobre uma prancha de 15 centímetros
de largura a 30 centímetros do chão, quanto andar nessa mesma prancha a 30 metros do chão,
se não fosse nossa capacidade de fazer uma avaliação exagerada de ameaça. Isso ocorre
porque nosso corpo entende que a queda de 30 metros é altamente perigosa, causando um
impacto negativo sobre nossos interesses vitais e bem-estar.
Por esta perspectiva, a ansiedade gerada pelo risco de uma queda a 30 metros é
comparável àquela em atletas que buscam um bom desempenho esportivo, tornando-os
vulneráveis à falha, a questionamentos familiares, de amigos ou da equipe técnica. E, de fato,
são bastante conhecidas as exigências feitas aos atletas, treinadores, árbitros e dirigentes, bem
como a constante pressão psicológica presente em competição. Neste sentido não se pode
estranhar as dificuldades ou incapacidades de muitos atletas e equipe técnica em lidarem de
forma eficaz com as exigências sofridas pelo ambiente competitivo (CRUZ, 1994;
MAHONEY, 1989; MARTENS et al., 1990 apud CRUZ, 1996b).
A maioria das derrotas dentro do ambiente competitivo muitas vezes é justificada pela
dificuldade em controlar as emoções consideradas negativas, como a ansiedade e o estresse,
por exemplo, que são com grande frequência considerados fatores perturbadores do
rendimento esportivo. (ABRANTES, 2007 apud FABIANI, 2009).
Cruz (1996b) considera que no ambiente esportivo, pela sua própria natureza,
objetivos e características da competição têm o potencial de poder gerar elevados níveis de
ansiedade. E a ansiedade competitiva pressupõe que os atletas mais ansiosos acabem
prestando muita atenção em pistas ou sinais que são irrelevantes, influenciando no
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rendimento (CRUZ, 1996a), como, por exemplo, prestar atenção no público que está
assistindo mais do que naquilo que está fazendo. Com essa mesma preocupação Cratty (1984)
mencionou:
alguns estudos indiciam que níveis excessivos de ansiedade tendem a
restringir o campo da atenção, e o atleta poderá começar a prestar atenção
somente a um número limitado de sinais, pois a interferência dos fatores
psicológicos tende a afetar o desempenho do atleta (CRATTY, 1984, p.91
apud FABIANI, 2009, p.3).
Na frase pré-competitiva, é possível encontrar atletas em estado de intensa carga
psíquica ou estresse psíquico, principalmente se a competição tiver um valor social ou
particular elevado. Detalhando esta emoção podemos usar as palavras de Samulski (1995, p.
117):
esse estado se caracteriza, sob o ponto de vista psicológico, pela antecipação
da competição, e consequentemente pela antecipação das oportunidades,
riscos e consequências. Nesta fase intervêm frequentemente medo e temor.
Estes temores não só se manifestam em processo cognitivo, mas também
podem produzir reações vegetativas, motoras e emocionais. (apud
FABIANI, 2009, p. 5).
De acordo com o autor, este estado é o que chamamos de ansiedade. E para endossar e
completar o que outros autores anteriormente citados dizem sobre ansiedade, pode-se dizer
que ansiedade
é um estado emocional de temor, de apreensão, uma sensação de desastre
iminente, sem nenhuma explicação racional. Ela denota vários estados
emocionais complexos que são causados por fatores internos ou externos e
surgem de ameaças reais ou presumidas. Esses estados são descritos com
termos como: apreensão, agitação, paralisia, aborrecimentos. (BARBANTI,
1994, p.18 apud FABIANI, 2009, p. 5).
De acordo com Fabiani (2009, p. 5), a ansiedade pode ser definida como um
“sentimento vago de nervosismo e incerteza, um estado emocional desagradável de medo ou
apreensão”. Para atletas, a ansiedade pode ser presenciada principalmente em duas situações,
pré e pós-competição, e, de acordo com a autora, a pior ansiedade é aquela que antecede o
evento, em razão de ter uma maior influência no seu rendimento. Ela ainda complementa:
“dentro do ambiente competitivo é possível destacar dois tipos de ansiedade: ansiedade traço
e ansiedade-estado.
A ansiedade traço é “uma característica relativamente estável do indivíduo”
(FABIANI, 2009, p. 6). Já a ansiedade-estado, como menciona Singer, “refere-se à reação ou
resposta emocional que é evocada em um indivíduo de perceber uma situação particular
como pessoalmente perigosa ou ameaçadora para ele, a despeito da presença ou ausência de
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um perigo real (objetivo)” (SINGER, 1977, p. 95 apud FABIANI, 2009, p. 6). Ou seja, a
ansiedade-estado é um estado emocional temporário do indivíduo, que tem uma variação em
sua intensidade e é praticamente instável no decorrer do tempo, caracterizando-se pelo medo,
apreensão e tensão.
A ansiedade exacerbada no atleta é vista como desadaptativa e perturbadora, o que
prejudica o rendimento dos atletas, e com esta preocupação é que a maioria das intervenções
psicológicas feitas em contexto esportivo integra alguma técnica ou forma para reduzir a
ansiedade (CRUZ, 1996b).
Cabe ressaltar também que, de acordo com Cruz, (1994), a ansiedade vai além de
influenciar o rendimento; ela leva, por exemplo, ao abandono da competição por atletas que
percepcionam o ambiente competitivo como aversivo e ameaçador, gera vulnerabilidade a
lesões ou a dificuldade da recuperação.
Ainda segundo Cruz (1996b), ao estudar a ansiedade em atletas jovens, as principais
fontes de ansiedade vivenciadas eles estão associadas a três fatores: medo de falhar,
preocupações com avaliações do rendimento pelos adultos e sentimento de incapacidade.
Alguns outros autores como Gould (1991), Kroll (1980), Passer (1984) e Pierce
(1980), citados por Cruz (1996b), afirmam em seus estudos que as potenciais fontes de
ansiedade e estresse dentro do ambiente competitivo (equipe técnica, famílias e amigos) são
diversas, como, por exemplo, incertezas, conflitos e preocupações. Porém, Passer (1984) diz
que quando se refere ao atleta, a principal fonte de ansiedade competitiva está associada ao
medo de falhar ou o medo de ter um rendimento inadequado (PASSER, 1984 apud CRUZ,
1996b, p. 175). Neste sentido, também foi evidenciado no trabalho de Pierce (id., ibid.), que
muitos atletas preocupam-se essencialmente com o seu mau rendimento, com possíveis erros
que possam vir a cometer e como seus companheiros e treinadores podem reagir com essa
possível falha.
A partir deste ponto, este trabalho tem como objetivo identificar as principais técnicas
existentes no tratamento da ansiedade para atletas, visando uma possível melhora no
rendimento desportivo, fundamentando o levantamento teórico na teoria Cognitiva
Comportamental, tratado na seção seguinte como “Resultados”.
RESULTADOS
No que diz respeito à ansiedade em atletas, os resultados do levantamento
bibliográfico permitiram identificar algumas dimensões gerais que podem afetar o
esportista, como: avaliação social ou a dúvida de “como vai ser minha performance diante
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dos outros?”, comparação com o adversário, e pensar que não tem o desempenho
esperado (medo de errar).
De acordo com Gomes e Cruz (2001), é importante inicialmente fazer uma
investigação de como os atletas percebem e avaliam do ponto de vista cognitivo as
competições, tentando compreender como que cada atleta reage em situações ou pressões
competitivas. Os mesmos autores destacam que é possível investigar um conjunto de
características associadas ao bom rendimento, como os altos níveis de motivação e
comprometimento, o interesse com o rendimento individual, a formulação de objetivos, a
autoconfiança, a capacidade de concentração e a capacidade de controlar a ansiedade.
Neste sentido, há grande importância de treinos de competências psicológicas, nos
quais o primeiro aspecto é enfatizar que o treino mental pode ajudar os atletas a
melhorarem seus rendimentos e até mesmo a encontrarem ótimos níveis psicológicos
tanto em treinos como em competições (GOMES; CRUZ, 2001). As competências
psicológicas podem ser ensinadas e os atletas são primeiro seres humanos e só depois
atletas (CRUZ; VIANA, 1996 apud GOMES; CRUZ, 2001). Isto significa que o objetivo
da intervenção vai além da melhora do rendimento esportivo, promovendo o crescimento
e desenvolvimento pessoal do esportista.
Os treinos de competências psicológicas sugeridos por Gomes e Cruz (2001),
seguem três fases distintas:
I. Na primeira fase trabalha-se a sensibilização e educação de atletas e
parte dos envolvidos (equipe e treinadores) ensinando os atletas a
controlar seus níveis de ansiedade. Deverão ser ensinados a causa da
ansiedade e o modo como este fenômeno pode prejudicar o
rendimento;
II. Na segunda fase, o atleta adquire técnicas e estratégias para lidar com
o problema da ansiedade;
III.
A última fase é aquela em que o atleta automatiza o processo de
aprendizagem anterior e integra o que aprendeu nas situações reais de
competição, podendo tirar maior proveito das estratégias e controle da
ansiedade.
Gomes e Cruz (2001) identificam estratégias para controlar os níveis de ansiedade
cognitiva, eliminando objetivos e expectativas irrealistas, os pensamentos negativos e as
preocupações dos atletas acerca de suas capacidades e as exigências das competições. A
técnica de reestruturação cognitiva e racional é uma das técnicas utilizada por Gomes e
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Cruz, ensinando os atletas a identificar um conjunto de pensamentos e crenças negativas,
como, por exemplo, “vou falhar e cometer erros”, “sou um mau atleta”, e corrigir esses
pensamentos disfuncionais por autoinstruções mais positivas e realistas. Exemplo disso,
“sinto-me bem e confiante num bom rendimento”; “no passado fiz coisas bem feitas e
posso repeti-las no presente”.
Santos e Shigunov (2000) publicaram um trabalho voltado ao suporte psicológico
ao atleta, e, segundo eles, a técnica de relaxamento encontrava-se presente em diversos
estudos. Dentre as pesquisas descritas por esses dois estudiosos, há destaque para o que
diz Delboni (1997):
Muitas são as alternativas de tratamento com o objetivo de tentar minimizar
os sintomas advindos do estresse, que incluem mudanças no estilo de vida e
práticas alternativas, tais como: cromoterapia, florais, homeopatia,
massagens, além de atividades físicas relaxantes, como yoga, tai-chi-chuan e
outras (DELBONI, 1997 apud SANTOS; SHIGUNOV, 2000, p. 8).
Neste mesmo sentido Balaguer (1996) “desenvolveu um programa junto a tenistas,
o qual incluía habilidades de relaxamento, ativação, visualização e concentração,
atingindo ótimos resultados” (BALAGUER, 1996 apud SANTOS; SHIGUNOV, 2000, p.
10).
Cruz (2006) afirma que os treinos de relaxamento têm como foco principal a
modificação direta das reações emocionais em que as situações competitivas oferecem.
A redução da ansiedade é promovida ensinando o atleta a reduzir a tensão
muscular, através de um treino onde se procede à tensão e relaxamento
sistemáticos de vários grupos musculares. O relaxamento está associado não
só a um menor consumo de oxigênio, a uma menor frequência cardíaca e a
menores taxas de respiração e actividade muscular, mas também a aumentos
na resistência da pele e à produção de ondas cerebrais “alfa” (GOULD &
UDRY, 1993 apud CRUZ, 2006, p. 570).
O mesmo autor afirma que existem inúmeras técnicas de relaxamento utilizadas,
mas duas específicas têm sido utilizadas com maior frequência, principalmente quando a
questão é o controle da ansiedade. Uma delas é a técnica de relaxamento muscular
progressivo de Edmund Jacobson e o treino autogênico de J. Schultz. Este último é pouco
utilizado dentro do ambiente esportivo, devido ao longo tempo para domínio da técnica,
cerca de 6 a 8 meses.
Compreendemos que “o principal objetivo no treino de relaxamento muscular
progressivo é levar o atleta a aprender e a tomar consciência da diferença que existe entre
tensão e relaxamento” (CRUZ, 2006, p. 570). Deste modo, o atleta concentra-se nas
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sensações corporais opostas quando executa o relaxamento e a tensão sobre determinado
grupo muscular.
Os dois pressupostos básicos do relaxamento progressivo são os seguintes:
a) É impossível estar simultaneamente tenso e relaxado (relaxamento e
tensão são mutuamente exclusivos); e b) o relaxamento e a diminuição da
tensão muscular geram, por sua vez, baixos níveis de tensão mental e
psicológica (CRUZ, 2006, p. 570).
Ao contrário do treino autogênico, o relaxamento progressivo é capaz de ser
realizado pelo atleta em 5 minutos e poderá ser utilizado em momentos críticos da
competição. Exemplo, momentos antes de executar um grande movimento ou lance livre,
no caso do basquete. Atualmente, o treino de relaxamento progressivo ganhou diversas
versões e adaptações para atender os diversos contextos do esporte, além, de existirem
inúmeras técnicas de relaxamento utilizadas no âmbito esportivo, como controle da
respiração, meditação transcendental, yoga, etc.
Como citado no início deste trabalho, o biofeedback é uma tecnologia promissora
que vem sendo utilizada no ambiente competitivo para “ajudar os atletas a tornarem-se
mais conscientes e sensíveis aos seus estados internos de tensão e ativação” (CRUZ,
1996a, p. 569), centralizada, principalmente nos processos emocionais da ansiedade.
De uma maneira simples e resumida, o “biofeedback” utiliza a ajuda de recursos
sofisticados (do ponto de vista tecnológico), ou seja, instrumentos evoluídos,
principalmente quando se fala de tratamento da ansiedade. Esse tratamento
detecta e amplifica processos e reações fisiológicas que nós geralmente não
conhecemos. Tais instrumentos de controle permitem dar “feedback”
auditivo e/ou visual de consequências fisiológicas como a frequência
cardíaca, a temperatura da pele, a activação muscular, etc. (CRUZ, 1996a, p.
569).
Meichenbaum (1985 apud CRUZ, 1996a) afirma que o treino de biofeedback é eficaz
por ser algo mensurável, “não propriamente pelas reduções nas actividades corporais, mas
sim pelas mudanças que tais reduções provocam no modo como os indivíduos avaliam e
lidam com os acontecimentos geradores de stress” (MEICHENBAUM, 1985 apud CRUZ,
1996a, p. 569). Apesar de ser uma técnica recente, é possível observar estudos positivos com
a utilização do treino de biofeedback no tratamento da ansiedade competitiva (CRUZ, 1994).
“O biofeedback dá ao indivíduo a oportunidade de exercer algum controle consciente sobre a
actividade do seu sistema nervoso e modificar conscientemente os seus processos
fisiológicos” (CRUZ, 1994, p. 569).
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No que diz a respeito aos tratamentos voltados com base na terapia cognitiva, os
objetivos principais são o educar o paciente, voltado para o modelo cognitivo, e o ensinar
habilidades para que o próprio paciente possa identificar os pensamentos ansiosos e
avaliações ansiosas automáticas. O terapeuta deve conscientizar o paciente que o “pleno”
entendimento da própria ansiedade, seja por meio da educação ou automonitoramento dos
episódios ansiosos, é uma intervenção importante, além de explicar aos pacientes uma breve
descrição das estratégias que serão utilizadas para “desligar” o programa do medo, e
consequentemente, diminuir os sentimentos ansiosos (CLARK; BECK, 2012).
O tratamento focalizado no fator cognitivo visa diretamente a mudar os pensamentos
e crenças que causam os fatores ansiosos, ensinando os pacientes a se autoquestionarem
(criticamente), ou seja, a avaliar se os pensamentos ansiosos ou apreensivos são uma
avaliação correta ou tendenciosa de determinada situação e, portanto, desencadeadora da
ansiedade e se os pensamentos são reais ou fictícios.
De acordo com Clark e Beck,
experimentos comportamentais específicos são planejados para ajudar o
paciente a desenvolver uma forma de pensar menos ansiosa. O terapeuta
deve enfatizar que desenvolver novas formas de pensar sobre suas
preocupações ansiosas é uma parte importante do tratamento porque visa
diretamente os pensamentos apreensivos automáticos que dão origem aos
sintomas ansiosos (CLARK; BECK, 2012, p.202).
Outra forma de intervenção baseada no modelo cognitivo parte das respostas
comportamentais e das estratégias utilizadas pelos pacientes para o enfrentamento da
ansiedade, que segundo Clark e Beck (2012), no trabalho que irá fundamentar os próximos
parágrafos, e contribui para a redução ou eliminação dos pensamentos ansiosos, já que a fuga,
evitação, comportamento de busca de segurança e outras repostas comportamentais e
cognitivas são utilizadas pelos pacientes como forma de controlar sua ansiedade. “Formas
alternativas de responder à ansiedade são introduzidas e os pacientes são encorajados a
avaliar a utilidade dessas abordagens por meio do uso de exercício comportamentais”
(CLARK; BECK, 2012, p. 202).
Para ambos, um toque final da terapia cognitiva voltada para a ansiedade é colocar o
paciente em exposição gradual e repetida a situações que provocam a ansiedade, e fazendo
uma interrupção gradativa de fuga, evitação, da busca de segurança e outras formas de
repostas neutralizantes. A forma de intervenção voltada para a exposição, “reduz a ansiedade
fornecendo evidências contra cognições e crenças “quentes” relacionadas à ameaça, reforça a
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autoconfiança e dá a oportunidade de praticar formas mais adaptativas de lidar com a
ansiedade” (id., ibid., p. 202).
Em 1979, Aaron Beck introduziu a experimentação comportamental, ou teste
empírico da hipótese, no manual de terapia cognitiva voltado para depressão, e atualmente é
uma das mais importantes intervenções utilizadas para a mudança cognitiva, muito bemsucedida no tratamento da ansiedade, conforme indicam Clark e Beck (2012). “Os
experimentos comportamentais são experiências planejadas, estruturadas que visam fornecer
ao paciente experiências a favor e contra avaliações ou crenças de ameaça e vulnerabilidade”
(id., ibid. p. 217), os quais são observadas pelos pacientes na sessão ou entre as sessões.
Eles dizem que o objetivo principal, voltado para o enfrentamento da ansiedade é
fornecer novas informações, para que o paciente possa “testar” a validade de suas crenças
disfuncionais, reforçar positivamente as crenças mais adaptativas e verificar a formulação
cognitiva.
Assim, “no transtorno de ansiedade, o teste empírico da hipótese geralmente envolve
alguma forma de exposição a uma situação temida e uma manipulação desconfirmatória que
testa a validade da avaliação ansiosa” (D.M. CLARK, 1986b; WELLS, 1997 apud CLARK;
BECK, 2012, p. 19). Para estes mesmos autores,
Os exercícios de teste da hipótese mais efetivos são estruturados de modo
que o resultado do experimento possa refutar a crença ansiosa e apoiar a
interpretação alternativa. Dada a evidência empírica esmagadora da
afetividade da exposição na redução do medo, os exercícios de teste da
hipótese baseados em exposição são uma intervenção fundamental na
terapia cognitiva da ansiedade. Experimentos comportamentais devem ser
introduzidos cedo e continuados durante todo o tratamento. (CLARK;
BECK, 2012, p. 219).
Sendo assim, fica difícil pensar em intervenção psicológica voltada para ansiedade,
baseados em fatores cognitivos que não inclua aspectos ou exercícios comportamentais ao
longo do tratamento, já que os fatores comportamentais podem tomar a forma de
demonstração da própria realidade vivenciada pelo paciente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De fato, é muito importante pensar no treino psicológico como aspecto fundamental
para o bom desempenho do atleta, já que corpo e mente são fatores inseparáveis.
Dentro do ambiente competitivo, o papel do psicólogo tornou-se fundamental quando
se pretende alcançar um bom rendimento, tendo em vista as grandes dificuldades encontradas
por atletas em controlar suas emoções ou perceber a ansiedade como um fator “destrutivo” do
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seu rendimento. Por este motivo, é importante a proximidade do psicólogo junto ao atleta,
para perceber como ele, do ponto de vista cognitivo percebe as competições ou as situações
que causam a ansiedade (GOMES; CRUZ, 2001).
Neste sentido é que a Terapia Cognitiva Comportamental vem sendo eficaz no
tratamento da ansiedade, já que o foco é educar o paciente, ensinando habilidades para que
ele mesmo possa identificar os pensamentos ansiosos em situações em que requer controle,
ou seja, dar autonomia para que ele mesmo seja capaz de controlar seus níveis de ansiedade
(CLARK; BECK, 2012).
A partir do levantamento bibliográfico, reconhece-se que o psicólogo do esporte tem
possibilidade de utilizar diversas técnicas a fim de contribuir para o melhor desempenho do
atleta, entretanto, julga-se necessário identificar as características particulares de cada atleta,
inicialmente, as demandas sociais (equipe técnica, familiares, patrocinadores) para planejar
uma intervenção eficaz, tanto em grupo como individualmente.
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ansiedade em atletas na perspectiva da terapia cognitiva