Balanço Social: a Utilização dos Indicadores do Global Reporting Initiative (GRI) em Empresas Brasileiras Autoria: Lidiane Nazaré da Silva Dias, José Ricardo Maia de Siqueira, Monica Zaidan Gomes Rossi Resumo Este trabalho tem por objetivo analisar o grau de aderência plena das empresas brasileiras aos indicadores essenciais de desempenho econômico, ambiental e social propostos pelas Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade do Global Reporting Initiative (GRI) 2002. Para tanto, iniciou-se com uma exposição acerca das origens das discussões sobre Responsabilidade Social das Empresas, a relação desta com a Contabilidade e o surgimento do Balanço Social. Em seguida, é apresentado o modelo de Balanço Social proposto pelo GRI e são evidenciadas as contribuições que os indicadores propostos pelo referido modelo proporcionam. Posteriormente é realizada a análise dos Balanços Sociais de empresas brasileiras que afirmam utilizar os indicadores do GRI, onde as informações fornecidas por tais empresas, referentes a cada indicador, são confrontadas com o que efetivamente é solicitado pelo GRI, sendo evidenciados os problemas encontrados entre o previsto pelo GRI e o apresentado pelas empresas. Dentre as conclusões desta pesquisa, tem-se a Natura classificada como a empresa brasileira que possui maior aderência aos indicadores essenciais do GRI. 1. Introdução A atuação das empresas passou a ser mais questionada pela sociedade no período pósguerra, quando a conscientização acerca de problemas sociais e ambientais teve um espantoso crescimento em todo o mundo (BELLEN, 2005, p. 17). Isto se deu, em grande parte, em virtude das guerras que vinham ocorrendo, e suas conseqüências, e também devido a desastres ecológicos que marcaram a sociedade e o ecossistema (TINOCO, 2001, p. 23; VALLE e LAGE, 2003, p. 9; POLLACK, 1997; DE LUCA, 1998, p.23-24 apud CUNHA e RIBEIRO, 2004, p. 3). A Guerra do Vietnã é um exemplo de tomada de consciência da sociedade, em especial a norte-americana, que deixou de comprar produtos e ações das empresas envolvidas de alguma forma no conflito, como sinal de repúdio a tal participação. Como conseqüência, com a intenção de melhorar a sua imagem, as empresas norte-americanas passaram a justificar o seu objetivo social (SUCUPIRA, 2001, p. 124). Como exemplos de desastres ecológicos que levaram a maiores cobranças da população a respeito de uma postura ambientalmente responsável têm-se os casos da Baía de Minamata (1932-1952, no Japão); da indústria de Bhopal (1984, na Índia); da usina nuclear de Chernobyl (1986, na Ucrância, ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas); e do navio-tanque Exxon Valdez (1989, no Alasca, Estados Unidos da América). Assim, foram surgindo e crescendo movimentos sociais no seio da população cobrando melhores condições de trabalho, respeito ao meio ambiente, redução das desigualdades sociais, dentre outras mudanças, o que fez com que as organizações passassem a dar maior importância para estes fatores até pouco tempo menosprezados, brotando então o tema Responsabilidade Social das Empresas (RSE), que é, conforme Rosenburg (2005, p. 13), “uma forma de gestão, e não diz respeito somente ao investimento na comunidade”. Queiroz (2001, p. 5) aponta que “hoje em dia é muito fácil para uma empresa perder a credibilidade frente ao grande público em função de um comportamento ético inadequado ou pelo fato de não assumir suas responsabilidades frente à sociedade”. Por outro lado, Queiroz (2001, p. 17), 1 lembra que “há linhas de pensamento e construções teóricas que se mantêm contrárias a essa idéia”. Milton Friedman é um árduo defensor de que a única RSE é maximizar os lucros, questionando, dentre outras coisas, a “competência dos administradores profissionais para decidir sobre o destino do gasto social e acha que isso é papel de políticos, eleitos para buscar o interesse público” (SUCUPIRA, 2001, p. 120). As empresas têm sido cobradas pela sociedade em geral para que assumam uma postura mais efetiva e transparente em relação à realidade que as cercam (Baldo, 2002, p. 3). Kroetz (2000, p. 57) revela essa cobrança ao citar que: As empresas norte-americanas e européias já sabem que não bastam preços baixos e produtos de qualidade. O consumidor, enquanto cidadão, quer saber se a produção não foi obtida à custa da impureza do ar, da poluição dos rios, da morte de animais, dos desmatamentos, da dignidade de seus habitantes, entre tantos outros males provocados pela ganância do homem, nem sempre “racional”. O Balanço Social – tratado neste trabalho como sinônimo dos termos “Demonstração Social”, “Relatório Social” e “Relatório de Sustentabilidade”, visto que incorporam os aspectos econômico, social e ambiental do desempenho da organização – é um produto da Contabilidade que auxilia as organizações a tornar mais transparente sua forma de atuação. Sua publicação contribui para que “a sociedade como um todo conheça melhor a empresa” (Martins (1997, p. A-3) apud Ribeiro (2005, p. 24)). Para auxiliar esta divulgação de informações que vão além da evidenciação de dados econômico-financeiros, algumas organizações não governamentais, tanto no Brasil quanto fora dele, começaram a unir-se na tentativa de formular modelos de Relatórios Sociais transparentes, responsáveis e não enviesados, dentre os quais pode-se destacar o modelo proposto através das Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade (Diretrizes) elaboradas pelo Global Reporting Initiative (GRI). A abordagem ética da Teoria da Contabilidade solicita que “considerações tais como ausência de viés e fidelidade de representação [sejam] vistas como características necessárias de um sistema contábil confiável” (Hendriksen e Breda, 1999, p. 25). Entretanto, Siqueira (2003, p. 198), ao analisar o “estágio atual em que se encontra o esforço das empresas brasileiras na exposição de seu impacto social”, notou que algumas das organizações analisadas não apresentavam adequadamente os dados solicitados pelos modelos de Balanços Sociais que diziam utilizar – o modelo IBASE e a Demonstração do Valor Adicionado, o que comprometia a comparabilidade entre os relatórios e a qualidade dos mesmos. Esse trabalho examina os Relatórios Sociais de empresas brasileiras que adotam de alguma forma as Diretrizes do GRI, averiguando se os dados fornecidos como sendo os solicitados pelos indicadores de desempenho econômico, ambiental e social estão completos. 2. Vertentes do Balanço Social Adams e Zutshi (2004, p. 32) afirmam que o Balanço Social da empresa é o processo de comunicar os efeitos sociais e ambientais das suas ações econômicas para grupos com interesses particulares na sociedade e para a sociedade em geral. Já Tinoco (2002, p. 27) menciona que “o Balanço Social é um instrumento de gestão e de informação que visa a evidenciar, da forma mais transparente possível, informações econômicas e sociais do desempenho das entidades aos mais diferenciados usuários”. A transparência das informações publicadas se traduz pelo atendimento a diversos pontos, tais como: a existência de evidenciações no corpo do relatório que permitam uma 2 melhor compreensão por parte do usuário, a revisão por entidade não vinculada com a gestão da organização, ou ainda, através da identificação de um responsável pelas informações que possa servir de interlocutor com os stakeholders e dirimir dúvidas (SIQUEIRA e VIDAL, 2003a, p. 9). Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI, 2000, p. 31-32), o conceito de Balanço Social engloba quatro vertentes, que ao atuarem de forma complementar, deverão evidenciar as informações necessárias ao entendimento de como a empresa está se relacionando com a sociedade e o meio ambiente. Estas vertentes são: (1) o Balanço Ambiental, que se refere a todos os gastos e investimentos que envolvam recursos naturais ou estejam voltados para está área; (2) o Balanço de Recursos Humanos, que demonstra o perfil da força de trabalho, remuneração e benefícios concedidos, bem como gastos com a comunidade que cerca a organização; (3) a Demonstração do Valor Adicionado – DVA – que visa demonstrar o valor da riqueza gerada pela organização e como ela foi distribuída a sociedade; e (4) os Benefícios e Contribuição à Sociedade em geral, que evidencia o que a organização tem feito em termos de benefícios sociais. O GRI estrutura o relatório social sob três perspectivas: econômica, ambiental e social, denominadas triple bottom line, ou resultado triplo (GRI, 2002, p. 9). No entanto, caso se considere a DVA como um instrumento que evidencie os aspectos redistributivos da atividade produtiva, então o GRI englobará todas as vertentes propostas pela FIPECAFI, uma vez que sua perspectiva econômica contempla tais informações. O Balanço Social deverá ser elaborado objetivando atender, conforme Siqueira (2003, p. 177), “às demandas de usuários com bom nível intelectual, sem formação formal em contabilidade e disposto a um esforço mental considerável para sua correta leitura e interpretação”, fazendo com que este usuário possa chegar às suas próprias conclusões a respeito do compromisso ético e social desempenhado pela empresa. A discussão sobre a utilização do Balanço Social como algo capaz de auxiliar na tomada de decisão dos stakeholders revela vários pontos que comprometem a sua qualidade e demandam cuidados na elaboração e na publicação desse relatório. 3. Questões na elaboração e publicação do Balanço Social 3.1. Obrigatoriedade e Padronização A divulgação do Balanço Social não é obrigatória em todos os países. O primeiro país que regulamentou a sua publicação foi a França, através da Lei nº 77.769, de 12 de julho de 1977, sendo este exemplo seguido por Portugal, em 1985, e posteriormente pela Bélgica, em 1996 (TINOCO, 2001, p. 27; FREIRE e REBOUÇAS, 2001, p.70). No Brasil não existe a obrigatoriedade de elaboração e publicação do Balanço Social, porém, por parte de alguns setores do governo e da sociedade civil, existe a intenção de que isto ocorra (SILVA e FREIRE, 2001a, p. 70). Kroetz (2000, p. 87) afirma que como não há regulamentação relativa à demonstração do Balanço Social, as organizações “divulgam os dados que entendem relevantes e da forma que melhor convém”. Desse modo, exceto nos países onde a publicação é obrigatória, a maioria dos Balanços Sociais não segue efetivamente uma estrutura básica. 3 Por outro lado, existem posicionamentos contra a obrigatoriedade. Diefenthaeler (2000) afirma que o sociólogo Ciro Torres, coordenador do IBASE, acredita que “’não se pode criar cidadania por decreto’. [...] ‘De que adianta obrigar se não houver o que mostrar?’, ele questiona. ‘O balanço dá transparência às ações, mas a sua realização deve ser espontânea’". Quairel (2004, p. 36) conclui que, sendo a organização a favor ou contra a obrigatoriedade do Balanço Social, um consenso comum é a necessidade de um padrão para esta demonstração. A padronização do Balanço Social está diretamente relacionada à necessidade de comparação entre os relatórios de diferentes organizações e diferentes períodos. Siqueira e Vidal (2003a, p. 1 e 6) fizeram uma análise da qualidade informativa dos Balanços Sociais de 21 empresas brasileiras publicados em 2001 e concluíram que não havia uma padronização referente à elaboração desta demonstração. Num recente estudo, Pinto e Ribeiro (2003, p. 1) comentam que os modelos de Balanços Sociais apresentados por empresas brasileiras são diferentes; os indicadores divulgados são os mais variados; algumas informações relevantes não são apresentadas; as informações fornecidas são apenas de poucos períodos, reduzindo a utilidade dessas demonstrações. Beets e Souther (1999, p. 129) observaram que a ausência de um padrão para esses relatórios fez com que os mesmos tenham diferido significativamente, dificultando ou até inviabilizando a comparação entre diversas empresas. 3.2. Viés para potencialização de resultados Um relatório de qualidade deve evidenciar tanto aspectos positivos quanto aspectos negativos da atuação social da empresa, sem dar maior ênfase a nenhum dos dois lados. O viés para potencialização de resultados pode ocorrer de três formas (Siqueira e Vidal, 2003, p. 5-8): (1) Através do destaque das informações positivas e da omissão de alguma outra informação – normalmente as informações omitidas depõem contra a imagem da empresa; (2) Através de atenuante fornecido a informação – quando algo de ruim aconteceu à sociedade ou ao meio ambiente em virtude das atividades operacionais da empresa e a mesma tenta passar a impressão de que o fato não foi “tão ruim como parece”; (3) Através do uso de viés positivo – que ocorre quando de uma informação que reflete algo de maléfico ou prejudicial cometido pela empresa a mesma tenta extrair algum benefício proveniente disto, dando a impressão de que foi bom que tal fato ruim ocorresse. Este viés foi percebido tanto em pesquisas internacionais (Deegan, Rankin e Tobin (2002, p. 312), Hackston e Milne (1996, p. 77)) quanto em pesquisas nacionais (Dias e Siqueira (2005, p. 14)). 3.3. Abrangência A abrangência está diretamente relacionada à contemplação das quatro vertentes do Balanço Social propostas pela FIPECAFI. O não fornecimento de todas as informações necessárias à análise das ações da empresa compromete a qualidade dessa análise (Siqueira e Vidal (2003, p. 4)). Pesquisa realizada por Cunha e Ribeiro (2004, p. 13 e 14) concluiu que as empresas brasileiras, gradativamente, vêm passando a fornecer informações que vão além de dados meramente sobre Recursos Humanos, mas apesar disto, apenas três empresas, de uma análise 4 envolvendo 284, apresentaram informações envolvendo todos os aspectos, demonstrando assim uma limitação na abrangência das informações divulgadas. 3.4. Transparência Siqueira e Vidal (2003, p. 9-11) destacam três pontos importantes para a transparência das demonstrações sociais: (1) a presença de notas explicativas associadas às informações; (2) a identificação de um responsável pelo conteúdo do relatório; e (3) a realização de uma auditoria. Quanto a esta última questão, Beets e Souther (1999, p. 137) apontam a necessidade de serem determinados padrões de auditoria para o Balanço Social, pois ainda não há um parecer que atenda a esta necessidade específica. 4. Contribuições do GRI O Global Reporting Initiative (GRI) é uma iniciativa conjunta da Organização NãoGovernamental norte-americana Coalition for Environmentally Responsible Economics (CERES) e do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP - United Nations Environmental Programme). O GRI elaborou as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade (Diretrizes) baseadas num processo consensual a fim de se criarem relatórios que possam alcançar aceitação mundial. Para isto, há a participação ativa de representantes da indústria, das áreas de contabilidade, investimento, ambiente, direitos humanos e organizações de trabalho de várias partes do mundo, que enviam sugestões e comentários (GEE e SLATER, 2005, p. 30). As contribuições fornecidas pelo GRI têm sido elogiadas por diversos autores. Para Barbosa (2005), o GRI é “considerado o mais sofisticado dos balanços sociais [...] exigindo desde informações sobre impacto ambiental da atividade da empresa até avaliações qualitativas do resultado dos investimentos sociais”. Cowe (2003a, p. 14) e Adams e Evans (2004, p. 97) afirmam que este modelo está sendo considerado o menos suscetível a tendências, fornecendo às organizações que o adotam indicadores não enviesados para que sejam incluídos no seu Relatório Social, dando maior garantia referente à independência do relatório e dando-lhe uma credibilidade adicional. O modelo do GRI apresenta de forma integrada o desempenho sob as perspectivas econômica, ambiental e social da organização. Ele busca o equilíbrio nas complexas relações atuais entre estas três perspectivas de modo a não comprometer o desenvolvimento futuro e alcançar a sustentabilidade, daí o termo “relatório de sustentabilidade” para designar este relatório (GRI, 2002, p. 1, 9; ADAMS, 2004, p. 16). A adoção das Diretrizes do GRI poderá ocorrer de forma gradual, através de uma “adesão informal”, iniciando com a adesão parcial aos princípios e/ou ao conteúdo das Diretrizes e progressivamente alcançando um nível mais completo de adesão, o qual poderá chegar a um relatório “de acordo com” as Diretrizes, que ocorre quando são seguidas estritamente as recomendações do GRI, atingindo o ideal de maximizar a comparabilidade entre relatórios através de procedimentos comuns para a sua elaboração (GRI, 2002, p. 13 e 14). Os indicadores de desempenho do GRI são organizados de forma hierárquica, por categoria, aspecto e indicador, agrupados em três grupos: econômico, ambiental e social. O quadro a seguir fornece uma visão geral da estrutura dos mesmos. 5 ECONÔMICA Quadro 1: Visão geral da estrutura dos indicadores do GRI CATEGORIA Impactos econômicos diretos AMBIENTAL Impactos ambientais Práticas trabalhistas SOCIAL Direitos humanos Sociedade Responsabilidade serviços sobre produtos ASPECTOS Clientes Fornecedores Funcionários Investidores Setor público Materiais Energia Água Biodiversidade Emissões e resíduos Fornecedores Produtos e serviços Adequação à legislação Transporte Total Emprego Relações com funcionários Saúde e segurança Treinamento e educação Diversidade e oportunidade Estratégia e gestão Não-discriminalização Liberdade de associação e de negociação coletiva Trabalho Infantil Trabalho forçado e compulsório Procedimentos disciplinares Procedimentos de segurança Direitos indígenas Comunidade Suborno e corrupção Contribuições políticas Competição e política de preços e Saúde e segurança dos consumidores Produtos e serviços Propaganda Respeito à privacidade Fonte: GRI (2002, p. 34). Dentro de cada uma das três dimensões mostradas no quadro 1 existem diversos indicadores de desempenho, que por sua vez são classificados em: essenciais e adicionais. Os indicadores essenciais foram assim classificados por apresentarem duas características: serem relevantes para a maioria das organizações relatoras e por serem importantes para a maioria das partes interessadas (GRI, 2002, p. 12). Os indicadores adicionais são assim classificados por apresentarem pelo menos uma das características a seguir (GRI, 2002, p. 79): (1) são uma prática tradicional de medição econômica, ambiental ou social, mas são usados por poucas organizações relatoras; (2) fornecem informações relevantes para as partes interessadas e especialmente importantes para a entidade relatora; e (3) são “candidatos” ao conjunto de indicadores essenciais no futuro. Os indicadores adicionais referem-se a práticas de informações voluntárias dentro do GRI, não se fazendo necessária justificativa para a sua não utilização, como no caso da 6 omissão dos indicadores essenciais. No entanto, o emprego dos mesmos demonstra que a entidade relatora possui grande interesse em buscar fornecer o máximo de informações as suas partes interessadas, primando por transparência e credibilidade (GRI, 2002, p. 17). 5. Metodologia da pesquisa Trata-se de uma pesquisa descritiva, pois, conforme Salomon (1999, p. 160), para o alcance do objetivo proposto o trabalho irá compreender: “descrição, registro, análise e interpretação da natureza atual ou processos dos fenômenos”. Quanto à modalidade, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental. A primeira servirá para informar o contexto, no qual surge a necessidade do estudo da responsabilidade social das empresas e da utilização dos Balanços Sociais. E de forma a fornecer uma visão prática do que vem ocorrendo referente à busca por maior transparência pelas empresas, utiliza-se a pesquisa documental, que, conforme Salomon (1999, p. 161), consiste no “exame sistemático de informes ou documentos como fontes de dados”. Por intermédio dela, serão analisados os Relatórios Sociais das empresas selecionadas para a pesquisa, onde se buscará o elo entre a teoria e a prática no que tange à evidenciação de informações sobre a responsabilidade social das empresas. Utilizou-se o banco de dados disponível no site oficial do GRI para selecionar as empresas a serem estudadas. Este banco de dados contém a relação das empresas que informaram a instituição que estão utilizando os seus indicadores (de forma informal ou com relatórios “de acordo com”) (GRI, 2005). Para cada empresa listada, buscou-se analisar o último Balanço Social publicado utilizando os indicadores do GRI (vide quadro 2). Quadro 2: Empresas que utilizavam o GRI em 16/09/2005 EMPRESA SETOR ANO BASE DA ÚLTIMA PUBLICAÇÃO 1 ABN AMRO Real Serviços Financeiros 2 Copesul Materiais Químicos 2004 2004 3 CPFL Energia Energia 2004 4 McDonald's Varejista 2004 5 Natura Cosméticos Aparelhos Domésticos e Produtos Pessoais 2004 6 Petróleo Brasileiro (Petrobras) Energia 2004 7 Samarco Mineração S. A. Mineração 2004 8 Shell Brasil Energia 2004 9 Souza Cruz (British American Tobacco) Fumo 2003 10 Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A (USIMINAS) Produtos de Metal 2004 Entrou-se em contato com cada empresa listada por telefone e/ou e-mail, para que enviasse o seu Relatório Social impresso. As empresas que atenderam à solicitação foram: ABN AMRO Real, Copesul, CPFL Energia, Natura, Petrobras, Samarco Mineração, Souza Cruz e Shell. No caso das que não atenderam à solicitação (Mc Donald’s Brasil e Usiminas) buscou-se o Relatório Social disponibilizado no site da empresa (em versão PDF). Fez-se uma análise comparando o que era informado pela empresa referente a determinado indicador de desempenho do GRI com o que este indicador realmente solicitava que fosse divulgado. Para facilitar o acesso às informações, o GRI sugere a elaboração de um sumário indicando as 7 páginas que contêm os dados dos indicadores existentes no relatório. Assim, na análise individual de cada indicador, considerou-se a informação fornecida no sumário do GRI, ou seja, quando determinada página foi divulgada no sumário como sendo a que continha as informações relativas a determinado indicador, somente ela foi averiguada. As empresas que não apresentaram o sumário do GRI foram: Shell Brasil, McDonald's Brasil, Souza Cruz e Copesul. Porém, no caso da Souza Cruz e da Copesul, foi possível realizar a análise dos indicadores do GRI, devido ao fato destas duas empresas terem condensado a apresentação dos indicadores em apenas uma parte do relatório, identificando que aquelas informações se tratavam dos dados solicitados pelo GRI O exame das informações de cada empresa identificou os indicadores ‘apresentados’ e os ‘não apresentados’ no Balanço Social. Para examinar o grau de adesão de cada empresa às Diretrizes do GRI calculou-se um índice de aderência plena aos indicadores essenciais do GRI. Apenas os indicadores essenciais foram considerados no cálculo deste índice em virtude de serem a base para elaboração de Relatórios Sociais “de acordo com” o GRI e por serem indicadores aplicáveis a um maior número de organizações. Os indicadores adicionais também foram analisados qualitativamente, contudo, não integraram o cálculo do grau de aderência. Para obtenção desse índice, os indicadores essenciais apresentados foram subclassificados em: (1) Aderência Plena: quando todas as informações solicitadas pelo indicador correspondente do GRI eram fornecidas pela empresa; (2) Aderência Parcial: quando apenas parte das informações solicitadas pelo indicador correspondente do GRI eram fornecidas pela empresa; (3) Dúbio: quando não são fornecidas informações suficientes ao usuário que permitam a este perceber se houve aderência plena ou parcial; e (4) Inconsistente: quando as informações fornecidas pela empresa referentes a determinado indicador são diferentes do que é solicitado pelo GRI. Já os indicadores essenciais não apresentados foram sub-classificados em: (1) Não disponível: quando a empresa reconhece que a informação referente a determinado indicador é pertinente às atividades dela, porém a mesma ainda não tem condições de fornecê-la; (2) Não aplicável: quando a empresa não dispõe da informação de determinado indicador porque este não se relaciona com o setor ou às atividades da mesma. Ressalta-se que os indicadores apresentados nesta sub-classe foram classificados pela própria organização, que os considerava não aplicável e informava isto no sumário dos indicadores, não sendo realizados, neste trabalho, averiguações adicionais para comprovar a não aplicabilidade dos mesmos; (3) Omitido com justificativa: quando a empresa omite a informação referente a determinado indicador, porém emite alguma justificativa que embase tal decisão conforme declarado pelo GRI; e (4) Omitido: quando, nos sumários dos Relatórios Sociais das empresas ou na identificação dos indicadores do GRI nestes relatórios (no caso da Souza Cruz e da Copesul), nada é comentado sobre este indicador, como se o mesmo não existisse. Para cálculo do grau de aderência plena aos indicadores essenciais do GRI pelas empresas brasileiras utilizou-se a fórmula: Grau de aderência plena aos indicadores essenciais = do GRI Total dos indicadores com aderência plena + Total de indicadores omitidos com justificativa Total dos indicadores essenciais – Total dos indicadores não aplicáveis 8 6. Resultados O quadro 3 proporciona uma visão geral da utilização dos indicadores do GRI pelas empresas brasileiras estudadas. Ele apresenta um ranking no qual as empresas são classificadas conforme o seu grau de aderência plena ao indicadores do GRI Quadro 3: Análise da adoção dos indicadores do GRI A E A E A E A GRI 10 3 16 19 24 25 50 47 97 1º Natura 8 3 16 15 24 20 48 38 86 95,83 % 2º CPFL Energia 10 3 16 19 24 25 50 47 97 93,62 % 3º Petrobras 10 2 14 12 21 16 45 30 75 81,63 % 4º Samarco 8 1 12 16 22 18 42 35 77 75,00 % 5º Usiminas 10 3 16 16 23 22 49 41 90 64,00 % 6º ABN AMRO Real 9 11 9 5 20 7 38 23 61 53,49 % 7º Copesul 7 0 12 4 2 1 21 5 26 24,00 % 8º Souza Cruz 0 0 8 6 0 0 8 6 14 6,00 % Ranking E GRAU DE ADERÊNCIA PLENA AOS INDICADORES ESSENCIAIS DO GRI Indicadores de Desempenho Econômico Ambiental Social TOTAL TOTAL GERAL Observações: E = Essencial A = Adicional Os totais de indicadores incluem a quantidade de indicadores apresentados acrescida da quantidade de indicadores "não aplicáveis" a realidade da organização. Observe que se fosse considerado simplesmente o total de indicadores do GRI que a empresa declara apresentar, o primeiro lugar no ranking seria a CPFL Energia, seguida da Usiminas e, em terceiro lugar surgiria a Natura, contudo, o critério de ordenamento é o grau de aderência plena aos indicadores essenciais, o que dá o primeiro lugar à Natura. A posição da Natura como a primeira no ranking de aderência plena aos indicadores essenciais do GRI corrobora com a posição da mesma no ranking da SustainAbility, no qual afirma-se ter a Natura elaborado o 16º melhor Relatório Anual de 2004, entre 350 analisados em diversos países. Esse quadro também revela que as empresas brasileiras encontram-se em fases diferentes de adesão às Diretrizes do GRI. Enquanto umas apresentam quase a totalidade dos indicadores e elevado grau de aderência plena aos mesmos, outras apresentam apenas pequena parcela dos indicadores ou divulgam os indicadores sem conformidade com o solicitado pelo GRI. As análises individuais dos Relatórios Sociais revelam vários problemas relativos aos pontos que comprometem a qualidade de tais relatórios. A tempestividade do Relatório Social 9 foi o primeiro problema encontrado nessa análise e que já havia sido mencionado nas pesquisas de Siqueira (2003, p. 115) e do GRI (2002, p. 16). Este problema aparece apenas no Relatório Social da Souza Cruz, onde o Balanço Social que é elaborado conforme as Diretrizes do GRI é publicado somente a cada 18 meses, sendo divulgado anualmente com o relatório financeiro apenas o Balanço Social Modelo IBASE. A abrangência foi outro problema encontrado somente no Relatório Social da Souza Cruz, onde os indicadores do GRI contemplavam apenas a vertente ambiental, deixando de lado os indicadores de desempenho econômico e social sem que fossem justificadas tais omissões. Isto torna o Relatório Social incompleto pois não fornece todas as informações necessárias a uma adequada análise do desempenho da organização conforme destacam Cunha e Ribeiro (2004, p. 13 e 14) e Siqueira e Vidal (2003, p. 12). A Shell Brasil, a Mc’Donalds Brasil, a Souza Cruz e a Copesul, apesar de haverem adotado o modelo do GRI de modo informal, ao não elaborarem o sumário de conteúdo, acabaram incorrendo no problema de falta de padronização, ocasionando imprecisão na identificação dos indicadores, dificultando ou até tornando impossível a comparação entre os relatórios. A não publicação do sumário de conteúdo do GRI implica num trabalho extra para o usuário identificar os indicadores no relatório. Constatou-se que a maioria das empresas estudadas apresenta quantidade satisfatória de notas explicativas associadas às informações quantitativas e qualitativas do relatório, o que diverge do observado por Siqueira (2003a, p. 12) na análise dos Relatórios Sociais de 21 empresas brasileiras. Sobre o auditor externo, este está presente apenas nos Relatórios Sociais da Souza Cruz, do ABN AMRO Real e da Petrobras. Na Souza Cruz, apesar de haver relatório de auditoria referente à demonstração social, o mesmo afirma que as informações referentes ao GRI não foram verificadas; e nas duas outras empresas, apesar de ter havido revisão de alguns indicadores, o fato de não existirem normas para este tipo de trabalho acaba comprometendo a credibilidade da revisão, pois a mesma é feita com base em procedimentos pré-acordados entre a empresa de auditoria e a empresa revisada. Já sobre o tópico referente à identificação de algum responsável pelas informações dos Relatórios Sociais, as empresas o entendem de modo diferenciado. A Usiminas, por exemplo, fornece apenas o cargo dos responsáveis pelas informações; a Souza Cruz, por sua vez, fornece o nome, o endereço, o telefone e o e-mail para contato sobre maiores informações referentes ao Relatório Social, porém nada fala sobre responsável pelos dados ali contidos; a Samarco Mineração, a Petrobras e a CPFL Energia identificam o nome dos responsáveis pelas informações contidas no Relatório Social, juntamente com e-mail e telefone para contato com os mesmos. O ABN AMRO Real, ao final do relatório, se responsabiliza pelas informações e fornece o nome das pessoas que participaram na coleta de dados; enquanto que a Copesul e a Natura nada falam sobre responsáveis pelos dados do Relatório Social. Observou-se que, dos 16 indicadores essenciais relativos à categoria ambiental propostos pelo GRI, a Souza Cruz utilizou somente oito, sendo que destes: três tiveram aderência plena, três aderência parcial, um estava dúbio e um não disponível, o que fez com que o grau de aderência aos indicadores ambientais do GRI por esta empresa fosse de 18,75%, e a aderência total ao GRI, considerando as três perspectivas, fosse de 6% - esta foi à aderência mais baixa por parte das empresas brasileiras que utilizam as Diretrizes do GRI. Um exemplo de indicador essencial publicado de forma parcial é aquele que solicita a divulgação do consumo direto de energia, segmentado por fonte primária, no entanto, a Souza Cruz informou apenas o total de energia utilizada (SOUZA CRUZ, 2003, p. 70). No caso do indicador essencial classificado como dúbio tem-se que o GRI solicita que sejam informadas 10 as emissões de gases causadores do efeito estufa (CO2, CH4, N2O, HFCs, PFCs, SF6), e a Souza Cruz informou apenas a quantidade de CO2, não sendo possível identificar se houve omissão dos outros gases ou se não foram mencionados por não serem emitidos pela empresa. Na análise referente à utilização dos indicadores essenciais do GRI pela Copesul, constatou-se que no geral foram apresentados de forma adequada apenas 12 indicadores, que equivalem, conforme a metodologia empregada, a uma aderência de 24% ao GRI. A perspectiva ambiental foi a que recebeu maior atenção, pois obteve 43,75% dos seus indicadores essenciais contemplados adequadamente, sendo seguida pela econômica com 40% e pela social com 4,17%, sendo esta última categoria a maior responsável pela baixa aderência ao GRI pela Copesul. Destaca-se o fato de 18% dos indicadores essenciais da Copesul terem sido classificados de aderência parcial ou dúbio. Um indicador dúbio é o que solicita que sejam divulgados os benefícios obrigatórios a serem pagos aos funcionários agrupados por país ou região. A Copesul não fez as especificações solicitadas e o usuário não tem como saber se as mesmas foram omitidas ou se não foram informadas pelo fato da empresa vir a ter suas atividades apenas no Sul do Brasil. O ABN AMRO Real apresentou 23 indicadores de desempenho de forma completa (incluindo econômico, ambiental e social), que fizeram com que o grau de aderência ao GRI fosse de 53,49%. Entretanto, apesar de ter apresentado adequadamente pouco mais da metade dos indicadores essenciais do GRI, deve ser destacado o fato de que 28% dos indicadores essenciais divulgados pelo Banco estavam apresentando problemas relativos à divulgação das informações, onde quatro tiveram aderência parcial, dois estavam com informações dúbias e oito estavam inconsistentes com o solicitado. A inconsistência ocorreu porque ao se proceder a leitura das páginas referentes aos indicadores, o que foi mencionado nelas não tem relacionamento com o que os indicadores do GRI efetivamente solicitaram. A aderência completa aos indicadores essenciais do GRI pela Usiminas foi de 64%. Dos indicadores divulgados, 32 apresentaram aderência plena, estando as informações fornecidas no relatório em conformidade com o que o GRI solicita. Destaca-se que 11 indicadores constantes no sumário estavam inconsistentes com o solicitado pelo GRI, o que representa 22% dos indicadores apresentados, e, caso estes sejam somados aos indicadores classificados como dúbios e de aderência parcial, o percentual de desconformidade passará para 32%. Há um indicador essencial simplesmente omitido sem nenhuma justificativa para tal. A Samarco Mineração apresentou um grau de aderência plena aos indicadores essenciais do GRI de 75%, sendo a sua maior conformidade com o GRI referente aos indicadores essenciais de desempenho social, com aderência de 91,30%, em seguida vem os indicadores de desempenho ambiental, com 62,50%, e econômico, com 55,56%. O percentual de desconformidade encontrado foi baixo quando comparado com o das empresas anteriormente apresentadas, sendo este de 8% - nas três perspectivas, foram encontrados dois indicadores com aderência parcial, um dúbio e um inconsistente. No sumário de conteúdo do GRI todos os indicadores de desempenho (social, econômico e ambiental) foram expostos. Entretanto 20 deles foram classificados como “não disponíveis” Não foram divulgados os motivos que levaram a indisponibilidade dos indicadores ou a não aplicabilidade dos mesmos. Na análise dos indicadores essenciais do GRI divulgados pela Petrobras, constatou-se que o grau de aderência da empresa a estes indicadores é de 81,63%, sendo o desempenho econômico o que mais contribuiu para isto, com 90% de conformidade, seguido do desempenho social, com 86,96% e do ambiental, com 68,75%. A Petrobras não possuía as informações relativas a cinco indicadores essenciais. Apenas um indicador apresentou aderência parcial, dois estavam dúbios e um inconsistente, o que representa 8% de não 11 conformidade. Por exemplo, o indicador classificado como de aderência parcial solicita a localização e o tamanho das terras pertencentes à organização, arrendadas ou administradas por ela em habitats ricos em biodiversidade. No texto da página onde deveria estar a informação referente a este indicador apenas alguns exemplos deste tipo de área são citados, e nada é comentado sobre o tamanho das mesmas - nem ao menos das que serviram de exemplo. A CPFL Energia foi a empresa que apresentou uma aderência de 93,63% aos indicadores essenciais do GRI. Foram divulgados em conformidade com o solicitado pelo GRI 100% dos indicadores essenciais econômicos, 95,65% dos sociais e 85,71% dos ambientais. Os problemas referentes a não conformidade com o solicitado pelos indicares do GRI foram poucos, apenas um indicador teve aderência parcial e dois estavam dúbios, o que totaliza 6% de não conformidade. Três indicadores foram classificados pela empresa como não aplicáveis à sua realidade, sendo dois ambientais e um social. Por fim, a Natura foi a empresa brasileira que apresentou maior aderência plena aos indicadores essenciais propostos pelo GRI, com um total de 95,83% de conformidade com o solicitado. Todos os indicadores de desempenho ambiental da empresa foram adequadamente divulgados; dos de desempenho social, apenas um possuía informações dúbias, o que fez com que a aderência referente a esta categoria fosse de 95,83%; e dos indicadores econômicos a aderência plena foi de 90%, pois dois não foram divulgados: um por não estar disponível e outro devido a empresa considerar a informação relativa a ele estratégica, sendo este último o único indicador (dentre todos os apresentados pelas oito empresas estudadas) que não foi divulgado porém houve uma justificativa para isto, conforme solicita o GRI. Um ponto positivo observado no relatório é que, quando há quebra de padrão referente a como a informação vinha sendo divulgada nos anos anteriores, a empresa justifica porque isto ocorreu. Tem-se como exemplo disto o indicador sobre Doações à comunidade e a outros grupos na página 79 do relatório, onde a empresa fornece os valores investidos em responsabilidade corporativa de maneira diferente da adotada nos últimos relatórios com a intenção de apresentar dados mais completos (NATURA, 2004, p. 79). 7. Considerações Finais O Balanço Social evidencia a relação da empresa com a sociedade e o meio ambiente, sendo uma forma de prestação de contas da empresa para com a sociedade em geral. Nele os efeitos positivos e negativos referentes à atuação da organização devem ser evidenciados com igual destaque. Um modelo que procura atender a esta exigência e que vem recebendo atenção no cenário internacional é o proposto pelo GRI. Esta pesquisa descreveu e analisou a sua utilização em empresas brasileiras. O trabalho indica que o modelo proposto pelo GRI pode sanar alguns problemas apontados nas críticas referentes à elaboração e divulgação do Balanço Social, elevando a qualidade desta demonstração e a sua utilidade para os stakeholders. O GRI é um modelo que está tendo adesão internacional, o que leva à possibilidade de comparabilidade entre o desempenho exercido por organizações de diversos países e setores, bem como o acompanhamento da atuação da empresa no decorrer do tempo,. Outra grande contribuição que pode ser atribuída a este modelo é o fato dele apresentar as bases para uma análise completa da atuação da empresa, pois seu modelo de relatório está baseado em divulgação de informações relativas ao desempenho econômico, ambiental e social da empresa, fato que o caracteriza como um Relatório Social completo por atender a todas as vertentes sugeridas pelos estudiosos do assunto. Além disso, o GRI procura fornecer informações não enviesadas sobre a atuação da empresa, contemplando em vários indicadores 12 aspectos negativos da atividade da empresa, como, por exemplo, ao solicitar a divulgação do número de óbitos relacionados ao trabalho dentro das atividades da organização. Fazendo uma análise geral sobre o grau de aderência plena das empresas brasileiras aos indicadores essenciais do GRI constata-se que este varia bastante, indo de 6% a 95,83%. Isto demonstra que as empresas brasileiras que aderiram ao GRI de forma informal ou formal estão passando por diferentes fases de amadurecimento relativas a utilização destes indicadores. O alto grau de aderência parcial aos indicadores em algumas empresas, bem como de indicadores com informações dúbias ou inconsistentes com o solicitado pelo GRI, evidencia que as organizações precisão despender maior atenção ao elaborarem seus relatórios para que os usuários dos mesmos não sejam levados a acreditar que determinada empresa está apresentando seu relatório em conformidade com o GRI quando, na verdade, grande parte de seus indicadores apresenta problemas relativos ao que realmente deveria ser informado. Como sugestão para trabalhos futuros recomenda-se que seja feita a análise da aderência plena aos indicadores do GRI considerando um período maior de tempo, onde poderá ser verificado se os problemas encontrados na apresentação dos indicadores do GRI utilizados pelas empresas brasileiras dessa pesquisa foram resolvidos nos Relatórios Sociais subseqüentes. 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