UCAM - UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE
PSICOMOTRICIDADE
Milena da Silva Ribeiro
Professor Orientador: Fabiane Muniz da Silva
Rio de janeiro,
2005.
UCAM - UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE
PSICOMOTRICIDADE
Milena da Silva Ribeiro
Monografia
apresentada
a
UCAM
–
Universidade Cândido Mendes, ao PROJETO A
VEZ DO MESTRE como requisito parcial para a
conclusão do curso de pós-graduação “latusensu”, com especialização em Psicomotricidade,
sob a orientação da professora Fabiane Muniz
da Silva.
Rio de Janeiro
2005
Agradeço a Deus, pelas bênçãos recebidas dia a
dia.
Agradeço aos meus amigos e familiares pelo
apoio e incentivo, sempre presentes e que
encorajam a prosseguir.
RESUMO
As crianças quando chegam às escolas, indivíduos que são, trazem características
pessoas bastante diferentes entre si, daí a necessidade do professor estabelecer critérios
especiais de tratamento, e definir os padrões a serem atingidos. Certas crianças
apresentam características de dificuldades de aprendizagem de certos conteúdos devido à
falta de desenvolvimento de habilidades especiais. Dentre essas habilidades está o
desenvolvimento motor, que é essencialpara a aprendizagem integral da criança. O texto
que se segue coloca sobre a relevância da psicomotricidade para a superação das
dificuldades, bem como para todo o processo ensino- aprendizagem.
Palavras- chaves: psicomotricidade – aprendizagem - dificuldades
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 06
1. PSICOMOTRICIDADE - CONCEITOS E DEFINIÇÕES.......................... 08
1.1 Psicomotricidade e Afetividade....................................................................... 11
2. PSICOMOTRICIDADE - DISSOCIAÇÃO, RITMO E SINCINESIA ...... 13
2.1 Dissociação........................................................................................................ 13
2.2 Ritmo e Rítmica................................................................................................ 16
2.3 Sincinesias......................................................................................................... 22
3. A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL .............................................................................................................. 26
3.1 Plano de Trabalho Psicomotor........................................................................ 30
3.2 - Aprendizagem Motora .................................................................................. 32
3.3 Como a Psicomotricidade entra na Alfabetização ...................................... 33
4. PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL........................................................ 39
CONCLUSÃO......................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 44
INTRODUÇÃO
O presente texto pretende demonstrar a importância em se trabalhar junto as
crianças na Educação Infantil para que elas conquistem sua autonomia e sejam agentes da
construção de seu conhecimento. Os educadores que trabalham com as crianças pequenas
sabem da importância da psicomotricidade em seu amadurecimento psicoafetivo, já que
fomenta a comunicação e a evolução de capacidades básicas para o desabrochar de seu
mundo emocional, cognitivo, social e de sua fantasia.
Este trabalho tem a pretensão de ser uma ferramenta útil para qualificar o cotidiano
pedagógico, ajudando a dar sentido à ação infantil por meio de intervenções e estratégias
para trabalhar eficientemente com a psicomotricidade.
A psicomotricidade constitui o estudo relativo às questões motoras e psico-afetivas
do ser humano. A mesma seria o ponto de encontro entre a expressão motora (o que a
pessoa faz ) e a característica pessoal-emocional de cada ser humano (o que a pessoa
sente).
O corpo é o seu ponto de referência e o seu interesse objetivo de estudo. As
alterações corporais constituem-se, assim, no motivo das suas pesquisas e no da sua
intervenção. A psicomotricidade será, dessa forma, um tipo de psicoterapia de índole
corporal.
A Educação Motora, tem como objetivo ampliar as possibilidades do uso
significativo de gestos e posturas corporais, desenvolvendo assim, também o movimento
humano, pois ele é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em
uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o
ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo assim como
levar as crianças a expressarem sentimentos, emoções e pensamentos.
A Educação Motora na instituição deve ser levada a sério, sendo aplicada com
diferenciação por faixa etária e respeitando as diferenças individuais e grau de maturidade
das crianças, conduzida de forma lúdica (recreativa), levando-as a fazer uso de diferentes
gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade, ou seja, objetivando
desenvolver áreas em específicos como: coordenação motora dos grandes e pequenos
músculos, equilíbrio, velocidade, agilidade, ritmo, assim como também correr, saltar,
pular, rastejar, arremessar, entre outros; utilizando materiais e métodos como: circuito com
atividades recreativas, bambolê, cordas, atividades de roda, pneu, bolas de diferentes
tamanhos e espessuras, entre outros, fazendo com que a criança se sinta segura, para
arriscar e vencer desafios, proporcionando conhecimento a cerca de si mesma, dos outros e
do meio em que vive.
Conhecer o por que da criança agir desta ou daquela forma, porque umas realizam
determinados movimentos com destreza e outras não, conhecer maneiras e métodos de
criar e diversificar atividades que desenvolva cada criança de acordo com suas
necessidades e maturidade.
O desempenho motor de crianças e jovens com baixo rendimento escolar tem sido
alvo de diversas investigações, considerando que a atividade motora faz apelo constante a
um conjunto de processos cognitivos básicos envolvidos nas aprendizagens escolares 1.
1
SILVA, C. E MARQUES, U. Rendimento escolar e desenvolvimento motor: análise comparativa da
proficiência e desempenho motor em dois grupos educacionais distintos. Revista de Educação Especial e
Reabilitação REFER, 1(8) III, 43-60. 2001.
Este trabalho vai nesse sentido, ao abordar, ainda que de forma sucinta, a
importância da Psicomotricidade no desenvolvimento da criança em geral e das crianças
com dificuldades de aprendizagem, em particular.
1. PSICOMOTRICIDADE - CONCEITOS E DEFINIÇÕES
A psicomotricidade, nos seus primórdios, compreendia o corpo nos seus aspectos
neurofisiológicos, anatômicos e locomotores, coordenando-se e sincronizando-se no
espaço e no tempo, para emitir e receber significados. Hoje, a psicomotricidade é o
relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência que une o ser
corpo, o ser mente, o ser espírito, o ser natureza e o ser sociedade. A psicomotricidade
está associada à afetividade e à personalidade, porque o indivíduo utiliza seu corpo para
demonstrar o que sente, e uma pessoa com problemas motores passa a apresentar
problemas de expressão. A psicomotricidade conquistou, assim, uma expressão
significativa, já que se traduz em solidariedade profunda e original entre o pensamento e a
atividade motora. Vitor da Fonseca2 (1988) comenta que a psicomotricidade é atualmente
concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível
entre a criança e o meio. É um instrumento privilegiado através do qual a consciência se
forma e se materializa.
Diversos autores apresentaram conceitos relacionados à psicomotricidade. Para
Pierre Vayer (1986), a educação psicomotora é uma ação pedagógica e psicológica que
2
FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. Martins Fontes Editora, São Paulo, 1983.
utiliza os meios da educação física com o fim de normalizar ou melhorar o comportamento
da criança. Segundo Jean Claude Coste (1978), é a ciência encruzilhada, onde se cruzam e
se encontram múltiplos pontos de vista biológicos, psicológicos, psicanalíticos,
sociológicos e lingüísticos. Para Jean de Ajuriaguerra (1970), é a ciência do pensamento
através do corpo preciso, econômico e harmonioso. E Sidirley de Jesus Barreto (2000)
afirma que é a integração do indivíduo, utilizando, para isso, o movimento e levando em
consideração os aspectos relacionais ou afetivos, cognitivos e motrizes. É a educação pelo
movimento consciente, visando melhorar a eficiência e diminuir o gasto energético.3.
Mesmo em meio a tantos conceitos, pode-se dizer que existe uma coerência na
ciência. No momento em que a psicomotricidade educa o movimento, ela ao mesmo tempo
coloca em jogo as funções da inteligência. A partir dessa posição, observa-se a relação
profunda das funções motoras cognitivas e que, também pela afetividade, encaminha o
movimento.
Fonseca (1988) comenta que4
O movimento humano é construído em função de um objetivo. A partir de uma
intenção como expressividade íntima, o movimento transforma-se em
comportamento significante”. O movimento humano é a parte mais ampla e
significativa do comportamento do ser humano. É obtido através de três fatores
básicos: os músculos, a emoção e os nervos, formados por um sistema de
sinalizações que lhes permitem atuar de forma coordenada. O cérebro e a medula
espinhal enviam aos músculos pelos seus mecanismos cerebrais ordens para o
controle da contínua atividade de movimento com específica finalidade e dentro
das condições ambientais. Essas ordens sofrem as influências do meio e do
estado emocional do ser humano (BARROS; NEDIALCOVA , 1999).
A unidade básica do movimento, que abrange a capacidade de equilíbrio e assegura
as posições estáticas, são as estruturas psicomotoras. As estruturas psicomotoras definidas
como básicas são: locomoção, manipulação e tônus corporal, que interagem com a
organização espaço-temporal, as coordenações finas e amplas, coordenação óculo3
NEGRINE, Airton da Silva. A coordenação psicomotora e suas implicações. editora Pallotti, Porto Alegre,
1987 .
segmentar, o equilíbrio, a lateralidade, o ritmo e o relaxamento. Elas são traduzidas pelos
esquemas posturais e de movimentos, como: andar, correr, saltar, lançar, rolar, rastejar,
engatinhar, trepar e outras consideradas superiores, como estender, elevar, abaixar,
flexionar, rolar, oscilar, suspender, inclinar, e outros movimentos que se relacionam com
os movimentos da cabeça, pescoço, mãos epés. Esses movimentos são conhecidos na
educação física como movimentos naturais e espontâneos da criança. Baseiam-se nos
diversos estágios do desenvolvimento psicomotor, assumindo características qualitativas e
quantitativas diversas 5.
O movimento refere-se, geralmente, ao deslocamento do corpo como um todo ou
dos membros, produzido como uma conseqüência do padrão espacial e temporal da
contração muscular. Movimento é o deslocamento de qualquer objeto e na
psicomotricidade o importante não é o movimento do corpo como o de qualquer outro
objeto, mas a ação corporal em si, a unidade biopsicomotora em ação.
Os movimentos podem ser involuntários ou voluntários. Movimentos involuntários
são atos reflexos, comandados pela substância cinzenta da medula, antes de os impulsos
nervosos chegarem ao cérebro. Os movimentos involuntários são os elementares inatos e
adquiridos. Os inatos são aqueles com os quais nascemos e são representados pelos
reflexos, que são respostas caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de sua produção
e execução.
Movimentos e expressões involuntárias, muitas vezes, estão presentes em
determinadas ações sem que o executante os perceba. Esses movimentos são
desencadeados e manifestados pelo corpo no momento em que realiza determinados atos
4
Op. Cit.
HOLLE, Britta. Desenvolvimento psicomotor na criança normal e retardada. editora Manole, São Paulo,
1976.
5
voluntários. Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados, que ocorrem
devido à aprendizagem e que formam os hábitos, os quais, quando bons, poupam tempo e
esforço, porém, se exagerados, eliminam a criatividade. Os hábitos podem ser passivos
(adaptação biológica ao seu ecossistema) ou ativos (comer, andar, tocar instrumentos). Os
reflexos condicionados são produzidos desde as primeiras semanas de vida. Esses reflexos
condicionados geralmente começam como atividade voluntária e, depois de aprendidos,
são mecanizados.
Para a execução do ato voluntário exige-se um certo grau de consciência e de
reflexão sobre finalidades, entretanto, a maior parte dos atos executados na vida diária é
relativamente automática. Para a atividade voluntária cotidiana, faz parte uma série de
reflexos automáticos e instintivos os quais, na prática, não podem ser bem diferenciados. A
freqüente repetição de atitudes voluntárias acaba por transformar-se em atos automáticos.
1.1 Psicomotricidade e Afetividade
Associada à psicomotricidade, está a afetividade. A criança utiliza seu corpo para
demonstrar o que sente. Desde o nascimento, a criança passa por diferentes fases nas quais
adquire conhecimentos e passa por diversas experiências até então chegar a sua vida
adulta. As primeiras reações afetivas da criança envolvem a satisfação de suas
necessidades e o equilíbrio fisiológico.
Segundo Lapierre e Aucouturier (1984)6, “Durante o seu desenvolvimento,
aparecem os fantasmas corporais que limitam suas expressões devido à falta de contato
corporal dos pais com os filhos. A afetividade é indispensável para o desenvolvimento da
criança e ao equilíbrio psicossomático”. Como esse contato corporal tende a diminuir com
o passar do tempo, cria-se um grande problema para o desenvolvimento da criança.
É recomendado aos pais que mantenham o contato corporal através do toque
durante toda a vida da criança, pois isso certamente levará a uma evolução psicomotora e
cognitiva da criança. É necessário que toda criança passe por todas as etapas em seu
desenvolvimento. Henri Wallon (1971) diz que o movimento humano surge das emoções,
que a criança é pura emoção durante uma longa fase de sua vida. A afetividade
compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, as emoções, as paixões, e reflete
sempre a capacidade de experimentar sentimentos e emoções. É ela quem determina a
atitude geral da pessoa diante de qualquer experiência vivencial, percebe os fatos de
maneira agradável ou sofrível, confere uma disposição indiferente ou entusiasmada e
determina sentimentos que oscilam entre dois pólos, a depressão e a euforia. O modo de
relação do indivíduo com a vida se dá através da tonalidade de ânimo em que a pessoa
perceberá o mundo e a realidade. Direta ou indiretamente, a afetividade exerce profunda
influência sobre o pensamento e sobre toda a conduta do indivíduo7.
6
LAPIERRE, André; AUCOUTURIER, Bernard. Fantasmas corporais e práticas psicomotoras. São Paulo:
Manole, 1984.
7
CHICON, José Francisco. Prática psicopedagógica integrada em crianças com necessidades educativas
especiais: abordagem psicomotora. Vitória: CEFD/UFES, 1999.
2. PSICOMOTRICIDADE - DISSOCIAÇÃO, RITMO E SINCINESIA
2.1 Dissociação
Entende-se por dissociação a capacidade de individualizar os segmentos corporais
que tomam parte na execução de um gesto intencional. A dissociação reveste-se de uma
formulação melódico-quinestésica que põe em causa aspectos do auto comando motor e
aspectos de adaptação a situações que exijam continuidade rítmica de execução. Dissociar
é sinônimo de diferenciar, e no campo da psicomotricidade está em relação com o grau de
dificuldade do controle mental do gesto8.
Nesta observação, interessa verificar a possibilidade de independência dos vários
segmentos corporais, quando estruturados em função de um fim. A independência
segmentar que é mais significativa é a que se estabelece entre o trem superior
(diferenciação dos braços em relação ao tronco) e o trem inferior (diferenciação das pernas
em relação ao tronco).
O tronco está organizado pelo seu sistema cruzado, em forma de torção com os
membros. Situa-se na continuidade dos movimentos dos membros, unindo as mãos e os
8
DE MEUR, A. e STAES, L. (1989). Psicomotricidade – Educação e reeducação, Níveis Maternal e
Infantil. São Paulo: Editora Manole.
pés. Sendo assim procura-se perceber a dissociação segmentar como uma estrutura
resultante da coordenação.
Numa primeira análise verifica-se a independência dos dois membros superiores
entre si. Posteriormente analisa-se a diferenciação dos dois membros inferiores entre si,
tomando em consideração, tanto num caso como no outro, a execução de movimentos de
percussão (membros superiores) e de batimento (membros inferiores), em função de um
ritmo de metrônomo. Nesta observação tem-se, como preocupação essencial, verificar a
libertação da globalização do gesto, que normalmente se encontra presa em crianças.
Na maioria dos casos, procura-se inter-relacionar a execução de movimentos
unilaterais. Solicita-se ao paciente, (geralmente crianças), para realizar um batimento de pé
e de mão do mesmo lado, em seguida do lado contrário.
Em seguida as observações que se seguem visam a dissociação da mão direita e
esquerda, do pé direito e esquerdo. Exemplo: do primeiro sinal bater com a mão esquerda,
depois com a mão direita, ao segundo; em seguida um batimento do pé esquerdo, e por
último no quarto sinal um batimento do pé direito. A prova deve ser continuada e permitir
a observação de aspectos relativos ao controle e coordenação do gesto.
Deve-se tomar nota da qualidade do gesto (crispado, sacado, armonioso, etc.) da
disponibilidade e da elegância psicomotora. Pode-se observar as variações de execução, as
blocagens, as hesitações, as inibições, e através delas tomar consciência das relações
automática e voluntária.
Há ainda na dissociação, outra prova que visa relacionar aspectos da agilidade, da
coordenação e da dissociação.
Trata-se de solicitar ao paciente a realização de uma prova mais dinâmica, que pode
dar origem a reação de desorganização e descoordenação, visto exigir uma maior perfeição
motora:
Afastar e juntar as pernas (agilidade)
O mesmo movimento, com batimento de palmas no momento da junção das
pernas (coordenação)
O mesmo movimento com batimento de palmas no momento do
afastamento das pernas (dissociação)
Os mesmos saltos, com batimento de palmas no primeiro e segundo tempos.
Segundo De Meur e States9, no que se refere ao caráter de dissociação, há os
movimentos coordenados dissociados, em que ambas as mãos executam movimentos
distintos. Por exemplo: enquanto se corta uma folha de papel com uma tesoura segura pela
mão dominante, a folha de papel é segura pela outra mão. este exemplo refere-se ao tipo
simples de dissociação. Mas pode-se executar movimentos mais complexos de dissociação,
isto é, enquanto uma das mãos realiza uma tarefa, a outra realiza outra diferente, por
exemplo: bater com uma mão na mesa e com a outra alisá-la.
Dentro deste grupo de movimentos há outros movimentos distintos que são os
movimentos gestuais que acompanham geralmente as conversações e ajudam a expressão
facial e corporal; são gestos naturais necessários para a harmonia da conduta motora e se
caracterizam por sua amplitude variável. São os movimentos em que participam tanto o
braço, como antebraço e a mão.
Nestes movimentos gestuais há dois tipos de dissociação: a manual e a dos
membros superiores e inferiores.
1.Dissociação manual - trata-se sobretudo da apreciação da dissociação manual:
Bater sobre a mesa com as duas mãos, depois só com a esquerda;
De novo as duas mãos, depois só a direita;
9
Op. Cit.
Bater as duas mãos juntas em pronação, depois uma em pronação e outra em
supinação
Estuda-se a seguir a "pianotage": os dedos batem rapidamente sobre a mesa: mãos
juntas e separadas.
Aprecia-se a oposição do polegar a cada um dos dedos (nos dois sentidos); os
movimentos de afastamento dos dedos, de dobramento.
2. Dissociação dos membros superiores e inferiores A) É procurada entre os cinco a oito anos, fazendo bater o pé e bater as mãos;
depois, pedindo-se uma batida de mãos e duas de pé. A prova é inicialmente ajudada pela
ordem verbal, depois deve-se desenrolar sem apoio.
B) Além dos oito anos, faz-se o sujeito saltar no lugar ajuntando e afastando os pés;
retoma-se a prova fazendo as mãos baterem no primeiro tempo, no segundo, nos dois, etc.
2.2 Ritmo e Rítmica
Criança Normal - Ritmo e alegria do movimento
A palavra grega rhytmós significa movimentos ondulares. Indica uma alternância
regular de força, velocidade e duração que pode ser motora, visual ou auditiva.
O ritmo do movimento é uma alternância entre a contração e o relaxamento e pode
ser forte ou fraco, rápido ou lento, acelerando ou diminuindo a velocidade, súbito ou
hesitante de durações diferentes.
O ritmo do movimento é algo vivo; constitui uma expressão natural do estado de
ânimo e da natureza de cada indivíduo.
O ritmo dos movimentos não deve ser confundido com batimentos, não deve ser
contado, mas deve ser experimentado e percebido. Esta percepção do ritmo do movimento,
juntamente com a circulação acelerada causada por ele, evoca a alegria do movimento que
é o principal objetivo da ginástica.
2.2.1 MOVIMENTO RÍTMICO
Mesmo quando bebê a criança experimenta movimentos rítmicos - ela mama em
um certo ritmo. Mais tarde ela engatinha, anda e corre ritmicamente, assim como, como
escreve seus movimentos são rítmicos. Todos estes movimentos variam mais ou menos de
indivíduo para indivíduo, sob a influência de fatores como: percepção e reação,
comprimento comparativo dos membros, temperamento e estado de ânimo momentâneo10.
A inteligência assim como as condições e características mentais e físicas,
determinam o ritmo de movimento da criança o qual pode mudar por influência
psicológica.
2.2.2 A COOPERAÇÃO DE DIFERENTES SENTIDOS:
O ritmo pode ser percebido através de vários sentidos:
Audição: O ritmo auditivo é observado na música, na fala, nas ondas batendo na
praia etc.
Sentido cinestésico: O ritmo cinestésico é encontrado em movimentos, tais como,
respirar, andar, correr e dançar.
10
PANTIGA, G. Psicomotricidade. Retirado em 14 de Dezembro de 2003 da World Wide Web: WWW.
http://members.tripod.com/~Gpantiga/Giba.html. 2002.
Tato: O ritmo pode ser sentido através do tato, o qual é utilizado para ensinar o
surdo, por exemplo, no qual o ritmo da música de piano é conduzido através do
chão até a criança ( o sentido cinestésico também é envolvido aqui).
Visão: Visualmente o ritmo é experimentado através dos movimentos das pessoas e
dos animais, das árvores curvando-se ao vento, das ondas encurvando-se na
superfície do mar. O ritmo também pode ser observado no arranjo e na relação das
cores, linhas e formas de paisagens, na pintura, na escultura e na arquitetura.
Senso de tempo: O comprimento das notas e a duração dos intervalos podem ser
observados.
22.3 .RÍTMICA
A palavra rítmica ou harmonia significa a ciência do ritmo, e também pode
abranger o estudo do ritmo do movimento.
Entretanto, a palavra rítmica, tal como utilizada na linguagem ordinária, significa as
muitas maneiras diferentes de produzir ritmos e movimentos rítmicos, tais como: copiar
simples padrões rítmicos, o que realmente significa copiar formas métricas ( metro: medida
de verso ou de música ) de elementos acentuados ou não pela percussão sobre
instrumentos, ou batendo palmas com os pés.
Como treinamento para audição e concentração, esta espécie de rítmica pode ser
uma excelente preparação para o aprendizado dos rítmos da linguagem, assim como para
realização de outras espécies de movimentos com música.
O professor, por exemplo, pode produzir padrões rítmicos simples que as crianças
tentam acompanhar enquanto se movimentam ao redor da sala, ou o professor pode tocar
um disco e deixar as crianças acompanharem a música enquanto se movem mais ou menos
à vontade.
Finalmente podemos falar de movimentos rítmico harmonioso em sua totalidade,
no qual por exemplo, o piano bem tocado pelo professor proporciona o impulso e o
estímulo e assim inspira e motiva a resposta-movimento natural da criança à música. O
ensino individual é na prática, mas as dificuldades do ensino em grupo podem ser evitados
até certo ponto quando cada grupo consiste de elementos tão similares quanto possível em
termos de compreensão do ritmo e tamanho
Quando as crianças sentem facilmente o compasso e o ritmo da música, elas se
movem natural e ritmicamente de acordo com a música. Entretanto, muitas vezes isto não
acontece, de tal forma que é aconselhável que o professor organize os grupos.
2.2.4 TEATRO E A MÍMICA
Vários tipos de teatro e mímica, com ou sem acompanhamento musical têm sido
utilizados ultimamente e podem ser divertidos e benéficos para as crianças.
A ginástica com jazz também pode ser usada como uma forma divertida de
educação física.
A criança especial:
A maior parte dos ritmos pode ser usada com crianças retardadas - possivelmente
sob uma forma modificada - mas o professor deve recordar que está:
Proporcionar prazer à criança,
Treinar a criança na realização de movimentos mais livres e naturais, de tal forma
que ela possa experimentar a alegria do movimento,
Promover a capacidade de concentração (exercícios de atenção),
Preparar a criança para as lições de canto e dança e estimular o treinamento da fala.
O professor precisa compreender bem o desenvolvimento neurológico da criança
normal a fim de encontrar a criança retardada naquele nível de desenvolvimento que ela
atingiu e, além disso, ele deve ser capaz de avaliar se os movimentos das crianças são
normais para sua fase de desenvolvimento.
Apoiar a criança em seu desenvolvimento motor envolve ajudá-la a abandonar os
padrões primitivos ou anormais de movimento.
A rítmica não é um substituto do treinamento sensoriomotor da ginástica
educacional, mas o professor habilidoso pode usar o ritmo como uma variedade agradável.
2.2.5 OS COMPORTAMENTOS RÍTMICOS
As grandes necessidades biológicas do recém-nascido: a fome, a sede, também
obedecem a uma organização rítmica, sincronizada pela alternância vigília-sono. Os
núcleos supraquiasmáticos do hipotálamo teriam, segundo alguns autores, um papel
essencial na instalação destes comportamentos rítmicos. Um estudo recente de Sue Binkey
põe em evidência o papel de uma enzima epifisária que interviria na memorização do
tempo e representaria um dos relógios biológicos em relação aos ritmos circadianos11.
2.2.5.1 Influência Dos Fatores Extrínsecos Nos Comportamentos Rítmicos
Desde o nascimento, o organismo, com seus rítmicos espontâneos, é confrontado a
uma realidade temporalmente estruturada, seja por razões puramente físicas como
alternância dos dias e das noites, seja pela influência das normas sócio-culturais. Colocado
frente a uma realidade temporalmente estruturada, o organismo deve poder adaptar-se e
encontrar seu próprio equilíbrio. Chama-se este processo de sintonização.
1-A sintonização. Esta sintonização participa primeiro no campo do comportamento
global, na organização dos grandes rítmicos vitais: alimentação, sono, a fim de permitir
que o ritmo circadiano se instalar progressivamente. A este respeito, a atitude familiar é
muito importante.
2-A influência do meio nos ritmos espontâneos. Pode-se emitir a hipótese de que a
inter-relação entre o organismo materno e o organismo da criança tem um papel
fundamental na instalação de automatismos cadenciados mais primitivos, tais como
ritmias, balanceamento cadenciados de cabeça ou de tronco. Esta ritmias são a tradução de
uma oscilação tônica, ou pulsação, fazendo alternar tensão-relaxação sob a dependência da
atividade espontânea da formação reticular.
A relação entre o balanceio e a estimulação do aparelho labiríntico cria um
mecanismo de auto-alimentação que reveste um caráter fundamentalmente hedônico e
primitivo que se observa em deficientes mentais e nas crianças que se desligam do meio.
Este corte com o meio manifesta-se em certas psicoses ou em certos casos de autismo.
A forma como é vivida a relação com a outra pessoa joga um papel muito
importante no movimento ou, ao contrário, pode bloquear a espontaneidade do movimento,
do que depende seu caráter harmoniosamente rítmico.
A maneira como a mãe intervém a este respeito, determinando: horário das
mamadas, horário de jogos, de sono tem uma influência nos ritmos preferenciais
espontâneos e no tempo da criança. Se a mãe é muito rígida e não tem conta os próprios
ritmos da criança, pode acarretar uma desorganização que repercutir no equilíbrio tônico11
MARQUES, op. Cit.
emocional da criança. Ao contrário, a mãe deixa a criança liberada a seus próprios ritmos,
sem permitir uma certa modulação e um certo controle, a criança terá muitas dificuldades
de obedecer às exigências do ambiente. Esta desadaptação poderá ser também fonte de
perturbação que transformará seus próprios ritmos12.
Outras perturbações da organização rítmica dos movimentos observam-se quando a
criança permanece muito tempo em uma relação simbiótica com a mãe. Nesse caso, resulta
uma ausência de desenvolvimento da função de ajustamento e a incapacidade para a
criança adquirir uma consciência nítida de seu corpo a partir da experiência vivida, como
assim dificuldades de adquirir novas praxias, sobretudo aquelas que implicam uma certa
independência em relação com a mãe.
Mais tarde, no transcurso do período de investigação e aquisição das práticas
fundamentais, a importância da atitude educativa do meio é essencial para manter e
aprimorar uma boa ordem temporal do movimento e da espontaneidade. O meio deve
favorecer as experiências práticas em um clima bom de segurança e de bem-estar. Em
outros termos, o meio que privilegia a dimensão intelectual em detrimento da experiência
vivida do corpo terá uma influência importante, a favor da atividade cortical no processo
córtex-subcórtex.
2.3 Sincinesias
O estudo do movimento voluntário revela que, quando nos expressamos
corporalmente através de uma ou outra ação, nem sempre os movimentos executados
obedecem a um controle cortical, acionado pelo sistema piramidal.
12
CHAZAUD, Jacques. Introdução à psicomotricidade. editora Manole, São Paulo, 1976.
Movimentos e/ou expressões involuntárias, muitas vezes, estão presentes em
determinados ações, sem que o executante perceba estes movimentos parasitas
desencadeados e manifestados pelo corpo no momento em que realiza determinados atos
voluntários.
As sincinesias são consideradas como um dos elementos da debilidade motora,
juntamente com as paratonias e as inabilidades , e que podem ser encontradas em
indivíduos psiquicamente normais e até intelectualmente superiores.
Da mesma forma. certos débeis em alto grau e certos idiotas podem apresentar
desenvolvimento notável da força e da agilidade motora, constituindo um exemplo inverso
de que o cérebro motor, por vezes, é poupado, enquanto o cérebro psíquico é detido em sua
evolução.
Há de destacar-se que, nem sempre, as sincinesias representam debilidade motora,
até porque a imaturidade do feixe piramidal determina comportamento motores
involuntários que as caracterizam.
Entende-se, principalmente que as sincinesias podem ser definidas como
movimentos e/ou expressões involuntárias manifestadas pela criança no momento em que
realiza determinado movimento voluntário.
Para contribuir com o estudo das sincinesias Airton Negrine propõe a seguinte
classificação:
1-Sincinesias Faciais:
De expressão
De movimento
2 - Sincinesias Segmentares:
Hipertônica
Similar
2.3.1 SINCINESIAS FACIAIS
São movimentos ou expressões faciais involuntárias manifestadas pelo indivíduo
quando ele realiza algum movimento ou expressão voluntária com qualquer parte do corpo
(geralmente as mãos).
As sincinesias faciais podem ser manifestadas de duas formas distintas:
Sincinesias Faciais de Expressões:
São aquelas manifestadas com expressões faciais (caretas), caracterizadas como:
abrir a boca, elevar as sobrancelhas, etc., enquanto algum segmento corporal realiza algum
movimento voluntário.
Sincinesias Faciais de Movimento:
São manifestações dinâmicas realizadas com parte ou partes da face, caracterizado
como: morder a língua, elevar e baixar sucessivamente as sobrancelhas, etc., enquanto o
indivíduo realiza movimentos voluntários com determinado segmento corporal.
2.3.2 SINCINESIAS SEGMENTARES:
São caracterizadas como a falta de controle segmentar nos braços, mãos e dedos,
isto é, manifestam-se em atitudes involuntárias no segmento contrário àquele que realiza o
movimento voluntário.
Nesse caso também classifica-se em dois tipos distintos:
Sincinesia Segmentar Hipertônica
Refere-se ao estado de tensão da musculatura que se desencadeia no segmento
contrário àquele que realiza o movimento voluntário.
Nesse caso a Sincinesia ocorrida se dá de forma estática, isto é, sem movimento no
segmento contrário, muito próximo ao estado paratônico, que se refere a uma dificuldade
de relaxamento segmentar.
Sincinesia Segmentar Similar
Refere-se a movimentos desencadeados de forma involuntária do segmento
contrário àquele que realiza um determinado movimento voluntário.
Nesse caso, a Sincinesia aparente é evidenciada de uma forma dinâmica, onde a
característica principal é o movimento.
No momento em que se propõe uma classificação das sincinesias, deve-se destacar
que podem se r encontrados outros tipos de sincinesias e que vão depender da posição em
que se encontra a pessoa em que está sendo observada.
Por exemplo: se colocarmos uma criança sentada em uma cadeira e lhe solicitarmos
que abra e feche a mão sucessivamente, poderemos observar sincinesias faciais e
segmentares na mão contrária, ou ainda, sincinesias segmentares nos membros inferiores.
Quando avaliamos, portanto, as sincinesias em uma criança, colocando-a em
posição em pé, estamos consequentemente, neutralizando as possíveis sincinesias dos
segmentos inferiores . O mesmo caso poderá acontecer se colocarmos uma criança sentada
no solo, apoiando suas mãos no chão, e lhe solicitarmos que, com um pé faça extensão e
flexão ou a circundação para fora e para dentro.
Neste caso, as sincinesias manifestadas poderão ser facias ou segmentares no pé
contrário, porque as possíveis sincinesias dos segmentos superiores estarão neutralizadas
pelo apoio das mãos no solo13.
3. A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A motricidade, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento afetivo são
inter dependentes na criança. O estudo da psicomotricidade não se refere somente ao
desempenho motor da criança, à sua lateralidade, estruturação tempo-espacial ou às
discriminações perceptuais que é capaz de realizar mais do “eu” e as conseqüências da
falta de um esquema corporal bem conscientizado.
Do ponto de vista fisiológico o inter-relacionamento dos sistemas anatômicos que
concorrem para a motricidade é de fato, muito intricado. O sistema extrapiramidal tem na
realidade origens corticais, certas delimitações com o sistema piramidal e fazem com que
ele garanta, sem sinergia com este, regulações complexas. Estima-se atualmente que o
sistema extrapiramidal é atribuído a motricidade massiva. Os sistemas apresentam
evidências de convergências notáveis, e há uma multiplicidade de vias córtico-estriadas,
córtico-cerelelares, cerebelo-estriadas, etc. Um mesmo “centro” participa em regulações
diferentes: não é graças à sua parte mais recente que o cerebelo exerce um papel na
harmonia motora; suas partes mais antigas intervêm no equilíbrio e na resistência ao peso.
O desempenho psicomotor de uma criança pode acontecer em sua plenitude
através das experiências vividas por uma infância rica em oportunidades estimuladoras
naturais.
13
FONSECA, op. Cit.
Os problemas de aprendizagem podem ter várias causas: problemas físicos,
causas sensoriais, neurológicas, emocionais, intelectuais, sociais, ou até causas geradas
pelo ambiente educacional. É sobretudo visando as necessidades dos tratamentos
reconstrutores que devemos claramente seriar os problemas e métodos. É evidente que ao
nível pedagógico (não mais reeducativo) e particularmente na criança normal, há interesse
em associar a educação física, rítmica e educação psicomotora para favorecer ao máximo o
desenvolvimento das capacidades existentes.
Existem teorias que salientam de tal modo a importância do movimento para a
criança que admitem que as dificuldades de aprendizagem são o resultado de um
desajustamento com o espaço que as envolve (Neto e col., 1989, citados por Silva e
Marques, 2001)14.
Segundo os mesmos autores, o movimento é um meio de ensino-aprendizagem
particularmente relevante em crianças com dificuldades de aprendizagem. Com base nas
múltiplas relações da motricidade com a inteligência, realçam que a atividade lúdicomotora facilita a aquisição das noções simbólicas fundamentais para as aprendizagens
escolares, destacando que o movimento promove a espontaneidade, a imaginação e o
pensamento criativo, constituindo-se numa experiência multi-sensorial de aprendizagem.
Para Matos (1991, citada por SILVA E MARQUES, 2001) a dimensão cognitiva,
na qual as aprendizagens escolares apostam fortemente, não é só um acidente ou um
"dom", mas também é resultante da atividade motora exploratória, criativa e social que
então satisfaz por um lado as necessidades de maturação orgânica e por outro permite a
regulação das funções psicofisiológicas, traduzidas na prática pelo desenvolvimento e pelo
crescimento.
14
SILVA E MARQUES, op. cit.
Assim, a atividade motora parece associada às representações mentais, ou seja,
regula o aparecimento e o desenvolvimento dos processos cognitivos.
Alguns autores15 referem que atualmente não há dúvidas de que um bom
desenvolvimento psicomotor durante a infância é a base de uma aprendizagem adequada e
que o grau de desenvolvimento psicomotor nos primeiros anos de vida vai continuar, em
grande parte, durante toda a sua vida.
A motricidade, segundo os mesmos autores, influi de forma notável no psiquismo
do indivíduo, ao ponto do processo intelectual depender da maturidade do sistema nervoso.
Isto significa que existe uma estreita influência entre o físico-fisiológico e o intelectual. As
referidas teorias estão presentes no processo ensino-aprendizagem, como por exemplo, no
da leitura, onde a desorientação espaço-temporal pode levar a criança a confundir grafias
semelhantes (p/q, b/d ...), conduzindo-a dificuldades da leitura e escrita e
conseqüentemente a dificuldades de aprendizagem. A lateralidade, a coordenação
visomotora, discriminação figura-de-fundo e a mobilidade manual são outros exemplos,
entre vários, de áreas que devem ser trabalhadas, pois poderão contribuir para ultrapassar
as dificuldades de aprendizagem ou para a sua prevenção.
Deste modo, a influência do desenvolvimento motor na aprendizagem é de tal
forma importante que uma intervenção através da psicomotricidade poderá contribuir para
eliminar ou pelo menos diminuir as dificuldades de aprendizagem de crianças e jovens que
apresentam tal problemática.
A aprendizagem é um processo inteligente e seletivo, não consiste num
encadeamento de reflexões ou numa reação cega e inconsciente e estímulos externos, mas
é uma atividade consciente que implica sempre na compreensão da situação.
15
CUENCA, F. E RODAO, F. (1994). Como desenvolver a psicomotricidade na criança. Porto: Porto
Editora.
A aprendizagem é um processo dinâmico e auto-ativo. O principal agente da
aprendizagem é a própria atividade da criança, não apenas uma atividade externa e física,
mas atividade interna e mental.
A aprendizagem é um processo sintético e global, em que entra em jogo a própria
personalidade, e não consiste numa aquisição de estados mentais isolados ou de reações
nervosas fragmentárias.
A aprendizagem é um processo que apresenta diferenças individuais, embora
conservando os seus caracteres essenciais. Essas diferenças resultam de causas várias,
como a capacidade intelectual, temperamento, clima, sociedade, família, etc.
É necessário diferenciar aprendizagem de ensino. Ensino é a transmissão de
conhecimentos por meio de explicações orais , indicações de livros, etc. Para que exista
aprendizagem, é necessário motivar a criança, basear-se nos interesses dela, de modo a
obter um esforço espontâneo. É possível encontrar algumas crianças com as seguintes
deficiências:
Observação imperfeita;
Compreensão superficial, por falta de pensamento reflexivo ou de
capacidade de raciocínio;
Desinteresse, criança distraída;
Ausência de atenção voluntária, dificuldade de manter-se numa situação de
esforço que, talvez, lhe pareça penosa demais;
Indução rápida demais, tendo como conseqüência conclusões apressadas;
Falta de objetivação suficiente;
A educação pelo movimento deveria ter um espaço reservado, principalmente na
escola primária. Ter um programa de desenvolvimento motor com atividades recreativas
compensatórias. No currículo do ensino fundamental é necessário também como básica a
educação pelo movimento. As crianças que possuem dislexia e disgrafia, devem superar
estas dificuldades. “A dislexia é conseqüência de uma perturbação específica da relação
em um determinado momento da evolução pessoal” 16.
Na realidade, vários problemas de reeducação não aconteceriam junto à leitura,
escrita e matemática se a psicomotricidade fosse utilizada como principal meio educativo,
associada a exercícios gráficos e de manipulação. A proposta, neste sentido,
é de
formação do indivíduo, de forma a proporcionar não uma cultura abstrata e sim um meio
para dominar as dificuldades que o indivíduo enfrentará futuramente no trabalho, lazer e
sociedade.
3.1 Plano de Trabalho Psicomotor
É necessário que a escola tenha um plano de trabalho psicomotor que vise o
desenvolvimento da criança, este plano deve basear-se nos seguintes requisitos.
1 - Utilização dos Problemas com o Propósito de levar a Criança a resolvê-los.
Propor várias situações educativas para que a criança adapte-se ao determinado
gesto.
Oferecer vários exercícios com a finalidade de facilitar a estruturação perceptiva.
Jogos livres, para que a criança possa criar e expressar sua espontaneidade
2 - Exercícios de Coordenação Motora
16
LE BOULCH, Dr. Jean. Psicomotricidade. Secretaria da Educação Física Desportos - M.E.C, Uberlândia,
1983.
Coordenação viso-motora - importante para a escrita - exercícios de destreza e
precisão.
Coordenação dinâmica geral - esse trabalho enriquecem as reações da criança
através da resolução de problemas concretos.
3 - Estruturação do Esquema Corporal
Afirmação da lateralidade e orientação;
Conhecimento e tomada de consciência das diferentes partes do corpo;
Consciência das atitudes globais e associação dos segmentos unindo-os ao trabalho
respiratório e relaxamento.
4 - Ajustamento Postural
Requer equilíbrio, boa tonalidade muscular, flexibilidade.
5 - Percepção Temporal
Relação da percepção com a educação;
Relação da percepção das estruturas rítmicas
6 - Percepção do Espaço e Estruturação Espaço Temporal
Orientação e localização de objetos no espaço e apreciação de trajetória
O mundo e os objetos, e o mundo e as pessoas.
Os trabalhos de coordenação motora na infância, funcionam como um sistema de
movimentos coordenados entre si em função de um objetivo. Os trabalhos de coordenação
global permitem a aquisição de uma série de habilidades motoras cujo caráter não é
estritamente automático e nos quais os movimentos se adaptam grosso modo ao objeto.
7 - Pedagogia dos Exercícios de Coordenação Global
Oferecer a criança condições para a realização de seus ensaios e erros. A criança
aproveitará seus conhecimentos perceptivos em forma de intuição, e quase sempre
inconscientes.
O psicopedagogo (ou educador) impedirá toda realização estereotipada, variando as
conduções de execução dos mesmos exercícios, devendo aceitar os erros da criança, pois
sua correção é sempre convertida num fator de progresso.
O trabalho psicomotor deverá ser lentamente progressivo, atraente, agradável e
variado em suas modalidades de aplicação, para que a criança possa adaptar-se17.
3.2 - Aprendizagem Motora
A aprendizagem motora, como área de estudo, procura explicar e investigar o que
acontece com o indivíduo em relação aos mecanismos internos e variáveis quando ocorre
mudança do comportamento. Quando estuda-se o comportamento humano e o processo
educacional encontra-se diferentes níveis de análise. A aprendizagem pode ser classificada
em três domínios do comportamento humano: cognitivo, afetivo e motor.
17
CHAZAUD, Jacques. Introdução à psicomotricidade. editora Manole, São Paulo, 1976.
Esta classificação não pode e nem deve ser considerada como itens mutuamente
exclusivos, mas elas constituem um meio conveniente de organização a partir do qual o
estudo do comportamento pode-se desenvolver.
O domínio cognitivo: envolve comportamentos tipicamente identificados como
atividades intelectuais. Fazem parte do domínio cognitivo, as operações mentais como
descoberta ou reconhecimento, retenção ou armazenamento e geração de informações que
a partir de certos dados originam a tomada de decisão ou julgamento da informação
processada.
O domínio afetivo: refere-se a sentimentos ou emoção, sendo que a maior parte,
senão a totalidade de nosso comportamento afetiva é aprendida, conforme pesquisas
recentes.
O domínio motor: muitas vezes identificado como psicomotor, inclui atividades que
requerem movimento físico, por ser o movimento da base desse domínio.
3.3 Como a Psicomotricidade entra na Alfabetização
“O desenvolvimento da criança não pode se fazer sobre a base de um número de
estruturas anatômicas e de organizações psicológicas que lhes são dadas ao nascer.”18
Estas estruturas e organizações não estão prontas ao nascimento, necessitando de
uma evolução por um processo de maturação sucessivo, e de facilitação ambiental, para
atingir os graus como atividade da vida da criança.
18
AJURIAGUERRA, J. Manual de psiquiatria infantil. São Paulo: Masson, 1980.
Certamente que não se pode considerar o organismo da criança como puramente
passivo e sofrendo as leis da maturação e da experiência. A criança traz, em si, sua
capacidade de criar. Se muito precocemente , recria o mundo das coisas, da mesma forma,
muito procura atuar sobre este mundo.
Transtornos gerais da aprendizagem que podem ocorre em relação a toda
aprendizagem escolar e podem ter como causas principais:
Imaturidade da criança para a freqüência sistemática à escola;
Deficiências sensoriais ou motoras;
Retardo mental;
Perturbações emocionais;
Carência de interesse e motivação para aprender;
Níveis de exigência escolar ou familiar muito elevado;
Métodos escolares inadequados.
A psicomotricidade, cujo princípio básico é a Unidade Mente - Corpo, integra
várias técnicas como que se trabalha o corpo, relacionando o com a afetividade, o nível de
pensamento e nível de inteligência.
Quando um corpo se movimenta percebe-se a ação do movimento: braços, pernas,
músculos. Mas como se gera o movimento senão pela mente, pela intenção ?
É indispensável educar movimento e mente. Essa unidade da pessoa pode
reconhecer em nós mesmos. Qualquer atitude mental reflete no corpo. Quando nos
encontramos ansiosos, angustiados, nós ficamos rígidos, trêmulos, descontrolados, etc. As
pernas tremem quando ficamos com medo.
O que nós somos, nossas emoções, nossos sentimentos e nossa atividade conceitual
são inseparáveis do nosso corpo. Somente quando a criança domina o uso do seu corpo,
pode ter boas relações com os elementos e pessoas ao seu redor.
Uma criança que amadurece intelectualmente, mas fica para trás no aspecto
corporal ou afetivo, ou vice-versa, apresenta defasagem que se evidenciam principalmente
através de distúrbios psicomotores que dificultam a sua integração como pessoa e com a
personalidade, ocasionando futuramente problemas escolares.
O que é preciso, para preparar uma criança para a alfabetização? Quanto ao
aspecto motor, é importante ensiná-la a usa a mão para escrever. É o primeiro requisito
para levá-la a manipular com habilidade o lápis e torná-la ciente de suas mãos. Nem todas
as crianças quando entram para a escola têm consciência de suas mãos.
Ter consciência é saber que as têm, é sentir, é perceber internamente. Não
podemos nos esquecer, porém, de que o ato de ler e escrever são complexos envolvendo
também outras partes do corpo, além da mão. Dessa forma, se o treino das habilidades for
dirigido para a coordenação manual ficará incompleto e a criança poderá ter dificuldades
na aprendizagem.
É pois, muito importante estimular a criança:
a trabalhar com o corpo e percebê-lo interna e externamente;
a tomar consciência dele como um todo que funciona integradamente;
a sentir suas partes, dando ênfase a algumas delas conforme sua fase de
desenvolvimentos.
A Educação Física , na essência interdisciplinar, é importante que se desenvolva a
alfabetização corporal, ou seja, que se aproveite o interesse das crianças por atividades
físicas para apresentar temas que elas ainda não conhecem. Conhecer o gosto das crianças
é importante para dosar as dificuldades dos conceitos a serem apresentados19.
As habilidades adequadas para explorar na alfabetização são as que permitirão às
crianças atingir o estágio de prontidão. As habilidades podem ser:
Lateralidade: desenvolvê-la significa dar oportunidade à criança de descobrir qual o
lado do corpo ela utiliza com mais eficiência. Isso é necessário para ela manusear
de maneira eficiente lápis e outros objetos de sala de aula. Desenhar letras
alternando mão esquerda e mão direita, auxiliam o desenvolvimento lateral.
Coordenação Espaço Temporal: longe, perto, dentro, fora, em cima embaixo, é
conceitos importantes para a escrita, mas nem sempre estão amadurecidos nas
crianças. Quando elas sobem ou rastejam nos brinquedos, assimilam tais noções.
Equilíbrio Dinâmico e Estático: importante para uma boa coordenação motora, o
equilíbrio pode ser aprimorado como caminhar carregando um livro na cabeça sem
deixá-lo cair, isso refina o equilíbrio dinâmico.
Agilidade: é uma habilidade necessária para a alfabetização. Jogos marcados com
palmas ou música ajudam a dar noção de ritmo, outra aptidão a ser desenvolvida.
Nesse ponto, os jogos estimulam as habilidades físicas e mentais necessárias para a
criança aprender a ler e a escrever. As brincadeiras podem ajudar a ensinar conteúdos,
especialmente de matemática.
19
PATNGA, op. cit.
É esperado que a criança ao atingir 7 anos tenha desenvolvido todas as funções
neurológicas básicas para que ela possa aprender a ler e a escrever. Mas, muitas vezes, o
ambiente em que ela vive não é favorável para que isso ocorra.
Crianças que vivem em apartamentos ou casas muito pequenas, não tem espaço
para brincar. As mães muitas vezes, não gostam que elas brinquem dentro de casa porque
o barulho as atrapalha ou atrapalha os vizinhos. Consequentemente, a noção de espaço
dessas crianças se desenvolvem precariamente.
Outras têm esse espaço e nenhuma restrição quanto aos limites, uma vez que os
pais deixam-nas soltas na rua. Dessa forma desenvolvem a coordenação motora grossa
através dos movimentos amplos, mas não a coordenação motora fina.
Outras ficam paradas durante horas por dia, diante da televisão, como se o ver e não
fazer fosse o meio mais apropriado de desenvolver a mente e o corpo. Muitos sofrem sérias
privações sociais, não têm colegas ou irmãos para brincar, ou ficam afastadas dos pais o
dia inteiro porque eles saem para trabalhar e só voltam para casa à noite.
Acrescem-se a tudo isso os constantes barulhos de cidade como São Paulo, que
diminuem a acuidade auditiva, fazendo com que as pessoas fiquem dispersas devido aos
ruídos intensos e difusos.
Todas essas crianças quando chegam à escola encontram sérias dificuldades. Qual é
a atitude que os professores devem tomar? Encaminhá-las para uma clínica para que façam
um tratamento ? Não. Nem todos os casos necessitam de tratamento clínico e é importante
frisar também que a dificuldade para aprender não é sinônimo de deficiência mental.
Crianças que não aprendem, na sua maioria apresentam falhas no desenvolvimento
das habilidades, que sendo bem trabalhadas em sala de aula, levam a um melhor
rendimento escolar, conforme verificamos na nossa prática.
Alguns exercícios físicos podem auxiliar, ou seja, esses exercícios devem ser
gradativos e ter continuidade enquanto necessários. Dessa forma, o professor pode
contribuir para sanar algumas falhas existentes no desenvolvimento das habilidades que se
pressupõe já devem estar desenvolvidas aos 7 anos.
É um trabalho demorado, posto que se trata de uma ajuda ao desenvolvimento. Não
fixar um prazo para que isso ocorra, às vezes precisamos de alguns dias, de um mês, um
ano e outras de muito mais tempo. Mas, sem dúvida, ajudar é o melhor que se tem a fazer.
Para esse treinamento, um exercício de cada habilidade apenas não é suficiente. É
necessário que eles sejam dados constantemente, repetidos, variados, durante o ano todo,
principalmente se as crianças não fizeram o pré-primário, como é o caso da maioria dos
nossos escolares.
É importante obedecer a seguinte seqüência para cada habilidade.
Utilização do próprio corpo;
Utilização de material concreto;
Utilização de gravuras e figuras;
Utilização de lápis e papel.
Quando a criança não consegue escrever nas primeiras tentativas é porque ela não
está preparada para isso e forçá-la não vai adiantar. É necessário ajudar a criança, criando
condições para que ela possa ir se amadurecendo sem criar tensão no ambiente que está.
Vale atentar que a postura compreensiva, amiga, afetiva do professor, certamente
só irá ajudar a criança, assim como o treino através dos exercícios20.
4. PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL
De origem francesa, a psicomotricidade relacional foi criada pelo professor,
cinesioterapeuta e psicoreeducador, André Lapierre e sua filha, Anne. Ao fazer trabalhos
de psicomotricidade com bebês em creches carentes da França, os dois perceberam que
poderiam reverter até quadros de sintomas patológicos. Foi quando desenvolveram a
técnica onde o adulto pudesse sentir corporalmente tudo o que uma criança sente, sendo
capacitados e sensibilizados para aplicar a terapia. "Esse trabalho vê o corpo indissociável
do ser, expressão da totalidade física, intelectual, afetiva, racional e social", conceitua Ceça
Gomes, diretora pedagógica do Colégio Apoio, psicomotricista relacional e analista
corporal - formada pelo próprio Lapierre. A especialista explica que Lapierre se baseou nas
concepções de Freud, Walon, Piaget, Winnicott e Melanie Klein21.
Uma fileira de alunos descalços, entre quatro e seis anos, mal conseguem esconder
a ansiedade para chegada da próxima aula. Enquanto aguardam a saída da outra turminha
da sala, as crianças se empurram, gritam, pulam e se abraçam, mais parece que vão entrar
num parque de diversões. Quando a professora abre o portão, elas entram correndo e
20
PATINGA, Op. cit. .
gritando incessantemente. A curiosidade em descobrir o motivo de tamanha euforia leva a
uma sala simples, até austera, com uma grade na parede, bolas (de todos os tamanhos),
tecidos, bastões de espuma, cordas e bambolês espalhados no chão. Sentada apenas num
lençol, uma simpática "tia" é atacada pela garotada com beijos e abraços. A cena, no
mínimo cativante, revela o trabalho da Psicomotricidade Relacional.
A cena acima descrita é fctícia, mas está relacionada ao trabalho de Educação
Infantil. Os conflitos relacionais que permeiam a sociedade exigem cada dia mais que
profissionais de todas as áreas invistam seus conhecimentos na busca e na redescoberta dos
valores que promovem a relação humana.
A Psicomotricidade Relacional tem por objetivo permitir à criança expressar suas
dificuldades relacionais, ajudando-a a superá-las.
Os primeiros 6 anos de vida são fundamentais para a evolução da criança como
pessoa autônoma, criativa e socializada. É a etapa básica para o posterior equilíbrio da
personalidade e para o desenvolvimento da inteligência.
A criança traz para a escola suas dificuldades relacionais (agressividade, agitação,
inibição, passividade, dependência), o que certamente dificultará a aprendizagem escolar.
A Psicomotricidade Relacional se propõe a operar sobre os núcleos psicoafetivos que
geram as atitudes relacionais, oferecendo um espaço de jogo espontâneo com o seu grupo,
para que possa manifestar suas necessidades e desejos através do jogo. Nesse jogo a
criança utiliza como mediadores da relação: seu corpo, os colegas, o espaço, os objetos
(bolas, bambolês, cordas, caixas, espaguetes, tecidos, tintas, entre outros), num
determinado tempo. O psicomotricista observa esse jogo espontâneo, o qual lhe permitirá
ver os papéis que cada criança desempenha espontaneamente e a repetição de seus
21
CABRAL Suzana Veloso. Psicomotricidade Relacional prática clínica e escolar.
comportamentos, ou seja, as estratégias relacionais que cada criança utiliza para evitar ou
enfrentar as suas dificuldades22.
O adulto intervém como componente do jogo e responde da mesma maneira à
demanda das crianças, transformando-se em um “parceiro simbólico” do jogo. Essa
vivência simbólica será repassada para o cotidiano de nossos alunos como elemento
facilitador de suas relações.
Em consultório, o atendimento em Psicomotricidade Relacional leva em conta o
Inconsciente, mas, sobretudo, age com a intervenção corporal que é específica desta
abordagem, que lida com o jogo corporal, tônico, espontâneo e simbólico. Nossa busca de
agir desde um nível icônico e indicial, além do nível simbólico, usando a mediação dos
gestos, do diálogo tônico, das mímicas, das posturas, da melodia da fala, além das palavras
verdadeiras que ajudam o sujeito a desvelar seus fantasmas e, então, poder modificar
padrões de conduta repetitivos e sintomáticos, é necessária em vários casos. Estes são
predominantemente aqueles em que os distúrbios evolutivos, psicomotores, de linguagem,
de tipo psicótico, além dos casos de atraso mental, requerem um tipo específico de
transferência que a abordagem da Psicomotricidade pode proporcionar.
Já na escola, a procura de instaurar um espaço para a expressão do sujeito, para a
manifestação dos impulsos inconscientes que levam à busca do conhecimento, ligados à
afirmação da própria identidade e à superação de conflitos normais do desenvolvimento,
tem sido uma constante da prática da Psicomotricidade Relacional. Trata-se de uma
abordagem que não se quer exclusiva e nem pretende solucionar todos os problemas que
podem surgir na evolução psicopedagógica das crianças. Por outro lado, o fato de a criança
ser mais livre e capaz de exprimir o que sente e pensa, vai ajudá-la, inclusive, a assimilar
melhor a prática construtivista que muitas escolas têm adotado.
22
Ibid
É na medida em que a psicomotricidade relacional não está ali para "compreender"
a priori tudo o que o paciente traz como material, na medida em que inclui na sua
interpretação o "mal-entendido", o "explique-se melhor", é que se denota sua aproximação
com a psicanálise. A hipótese do inconsciente implica não só as motivações inconscientes
para nossos atos, como também, e na sua radicalidade, que o inconsciente como tal nunca
deixará de existir e de nos intrigar com suas produções, em qualquer terapia. É justamente
esse enigma que mantém a margem de liberdade que temos enquanto indivíduos.23"
23
CABRAL, op. cit.
CONCLUSÃO
Há muito tempo, educadores de todos os lugares, se preocupam com o
desenvolvimento da psicomotricidade por perceber a sua importância no decorrer da
existência.
O mundo todo é unânime em afirmar que o exercício físico é muito necessário para
o desenvolvimento mental, corporal e emocional do ser humano e em especial a criança.
O exercício físico estimula a respiração, a circulação, ao aparelho excretor, além
de fortalecer os ossos, músculos e aumentar a capacidade física geral, dando ao corpo um
pleno desenvolvimento.
Quanto á parte mental, se a criança possuir um bom controle motor, poderá
explorar o mundo exterior, fazer experiências concretas, adquirir várias noções básicas
para o próprio desenvolvimento da mente, o que permitirá também tomar conhecimento de
si mesmo e do mundo que a rodeia.
Emocionalmente, a criança conseguirá todas as possibilidades para movimentar-se
e “descobrir” o mundo, tornar-se feliz, adaptada, livre, socialmente independente. É bom
frisar que a criança percebe-se e percebe o mundo exterior através do corpo e por ele se
relaciona com os objetos e fatos. O seu “comportamento” liga-se à ação corporal que
abrange três noções, a do corpo, a dos objetos e a dos demais corpos. A medida que o
desenvolvimento motor ocorre na criança de forma adequada, ela se torna capaz de uma
aprendizagem eficaz, e este é o verdadeiro objetivo a que se propõe destacar a importância
da psicomotricidade para a educação.
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SILVA, C. E MARQUES, U. Rendimento escolar e desenvolvimento motor: análise
comparativa da proficiência e desempenho motor em dois grupos educacionais distintos.
Revista de Educação Especial e Reabilitação REFER, 1(8) III, 43-60. 2001.
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