Periodicidade: Semanal Temática: Cultura Time Out Classe: Cultura/Lazer Dimensão: 469 19112014 Âmbito: Nacional Imagem: S/Cor Tiragem: 20000 Página (s): 50 Crítica O Mandarim Teatro Municipal Joaquim Benite Teatro Ter Dom Simples como isto tlim tlim Um simples tilintar um mandarim morre na China e um tipo seguindo uma espécie de manual de instruções e o conselho de um diabo fica rico mais ou menos num abrir e fechar de olhos sem sequer sair de Lisboa A isto chama se sorte enfim descontando a morte de Ti Chin Fu Aí a coisa torna se um dilema tipo moral E isso enfim a um sujeito pouco escrupuloso talvez não afectasse mas neste caso é assunto que vai mesmo moer o juízo do amanuense subitamente matador e de uma assentada milionário Como Santo Agostinho que pediu a Deus para o fazer casto mas não ainda ou coisa que o valha Teodoro mal abandona o Ministério do Reino onde exercia como apagado manga de alpaca aproveita enquanto pode Isto é enquanto a culpa não lhe corrói assim tanto a alma que não possa estroinar como um nababo gastar à fartazana em lagosta e champanhe e roupa e mulheres e caleches e palacetes E esbanjar mais ainda em todas as outras coisas caríssimas e decadentes de que se lembrou Eça de Queirós 1845 1900 quando escreveu O Mandarim e o caminho do seu trabalho seguiu noutra direcção como quem dá com os pés no naturalismo de O Crime do Padre Amaro de O Primo Basílio de Conde deAbranhos e segue os caminhos menos tirânicos quer dizer as alamedas livres da fantasia sem condicionamentos positivistas Há quem diga existir por esta época uma influência digamos opiácea que se prolonga até A Relíquia contudo a prova é fraca e não vale aparentemente a pena explorá la Interessa sim que por muita fantasia que a imaginação do autor tenha destilado esta continua a ser uma obra como todas as outras moral e que o protagonista como quase todos os outros por ele engendrados acaba por sofrer as consequências do seu vá lá egoísmo Não é que Teodoro não tente emendar ou que não parta para a China em demanda da família do falecido disposto a pagar qualquer forma de compensação como muito bem mostra O a encenação de Teresa Gafeira correctamente ilustrada pelas interpretações de André Alves Catarina Campos Costa Celestino Silva João Farraia Maria Frade e Pedro Walter bem iluminada porJosé Carlos Nascimento e alegrada tanto pelo cenário como pelos figurinos de Ana Paula Rocha mas como se costuma dizer o mal estava feito E Eça que é Eça não deixa passar estas coisas pelo seu fino crivo de ironia a bem dizer pedagógica nem mesmo quando virado para o fantástico abandona a corrosão criativa da critica social quer dizer deixa de lado a dissecação do chamado espírito português Rui Monteiro