Catástrofe climática ocorrida na Região Serrana do Rio de Janeiro em 12/01/2011 Uma chuva intensa afetou a Região Serrana do Rio de Janeiro (RSRJ) entre a noite do dia 11/01 e madrugada de 12/01/2011, compreendendo os municípios de Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. O número de mortes até o momento passa dos 750, e são mais de 200 desaparecidos (ainda sem os dados de Petrópolis). O último balanço da Defesa Civil Estadual indica que 7.780 pessoas estão desalojadas (aquelas que estão na casa de vizinhos ou familiares) e 6.050 desabrigadas (aquelas que perderam tudo e necessitam de abrigos públicos).A imprensa classifica este evento como a maior catástrofe climática ocorrida do Brasil em toda a história. Através das fotos da Figura 1 pode-se ter a dimensão desta tragédia. Figura 1 – Desastre natural ocorrido por causa da chuva na Região Serrana do Rio de Janeiro entre os dias 11 e 12/01/2011 Na Figura 2 apresenta-se uma sequência de imagens realçadas do satélite GOES 12 no período de ocorrência das chuvas mais intensas, onde se observam muitas nuvens sobre a RSRJ. Nota-se que, embora as nuvens não tenham sido tão profundas, foram suficientes para provocar acúmulos significativos de chuva, que superaram os 150 mm em alguns municípios, como Teresópolis e Nova Friburgo, segundo as estações do INMET. Pelo estrago causado, imagina-se que valores semelhantes devam ter ocorridos no topo das montanhas, ocasionando a enxurrada e os deslizamentos, como pode ser visto nas fotos acima (Figura 1). Figura 2 – Imagens realçadas do satélite GOES-12 das 22:00, 23:00 (11/01/2011), 00:00 e 01:00Z (12/01/2011) Na Figura 3 pode-se observar as cartas sinóticas do perfil atmosférico, onde nota-se um fluxo bastante difluente em altitude sobre o estado do RJ (Figura 3A), sendo este um fator importante para ocorrência deste evento, já que o escoamento difluente em altitude gera divergência neste nível, que por sua vez provoca a convergência de massa em superfície, dando condições para a formação das nuvens. O principal sistema causador deste evento pode ser visto através da Figura 3D (superfície), onde nota-se a presença de uma Zona de Convergência de Umidade (ZCOU) atuando justamente sobre o RJ. Em 500 hPa (Figura 3B) e 850 (Figura 3C), a configuração sinótica é típica deste tipo de evento. A) 250 hPa B) 500 hPa C) 850 hPa D) Superfície Figura 3 – Cartas Sinóticas refentes ao dia 12/01/2011, às 00z Outro fator determinante para a ocorrência desta catástrofe foi a orografia da região. A Figura 4 exemplifica bem o efeito orográfico, onde podemos observar que a massa de ar é forçada a se elevar, provocando a convecção. Fora os fatores meteorológicos, a ocupação desordenada das encostas das montanhas pela população potencializou a catástrofe, motivo pelo qual houveram tantas mortes. Além disso, um plano de emergência bem estruturado frente aos avisos meteorológicos enviados poderiam ter minimizado a grandiosidade do evento. Figura 4 – Efeito orográfico Na Figura 5 apresenta-se as anomalias de precipitação para Região Sudeste dos últimos 180, 90 e 30 dias anteriores ao dia 14/01/2011 (Figuras 5C, B e C, respectivamente). Nessa figura podemos observar que as anomalias foram positivas, acima da média, desde julho de 2010 sobre a RSRJ. Ou seja, a região vinha sendo atingida por chuva constantes, o que certamente contribui para o enxarcamento do solo, e que consequentemente facilitou as “avalanches” de terra. A) Anomalia de precicipitação pra Região Sudeste do Brasil entre 01/07/2010 até 14/01/2011 A) Anomalia de precicipitação pra Região Sudeste do Brasil entre 17/10/2010 até 14/01/2011 A) Anomalia de precicipitação pra Região Sudeste do Brasil entre 16/12/2010 até 14/01/2011 Na Figura 6A observa-se valores altos de temperatura do ponto de orvalho (Td) elevadas, em torno de 24C, indicando uma atmosfera bastante instável. A temperatura também esteve elevada na RSRJ, entre 25 e 28C de acordo com o INMET, que pode ser considerado temperaturas altas, por se tratar de região serrana. Na Figura 6B observa-se significativa divergência sobre a área em estudo, gerada pela difluência no escoamento em 250 hPA, auxiliando no levantamento da massa de ar úmida e instável, dando condições para formação das nuvens que provocaram o evento extremo. A) Temperatura do ponto de orvalho em 1000 hPa B) Divergência em altitude Figura 6 – Temperatura do ponto de orvalho e divergência em altitude Através da Figura 7 pode-se fazer uma análise de alguns dos principais índices de instabilidade, onde nota-se valores de Lifted entre -4 e -2 (Figura 6A), indicando forte instabilidade. Já na Figura 7B nota-se valores significativos de k e Sweat também, que foram superiores a 40 e 200, respectivamente. A) Lifted (contínuo) A) Sweat (sombreado) k (contínuo) Figura 7 – Índices de Instabilidade Diante da discussão exposta neste caso, conclui-se que foram vários os fatores responsáveis para que este evento tomasse tamanha proporsão. Em termos meteorológicos, a presença da ZCOU, o escoamento difluente em altitude, a presença de uma massa de ar altamente instável e as anomalias positivas de precipitação nos últimos 180 dias ocasionaram o desastre. Pode-se somar à isso a orografia da região e a má ocupação territorial da região. Elaborado pelo meteorologista Carlos Moura