Instabilidade pré-frontal provoca temporais no RS A formação de áreas de instabilidade associadas ao deslocamento de uma frente fria provocou chuva forte no interior do RS entre a noite do dia 29 e madrugada de 30 de maio de 2012. As regiões mais atingidas foram o centro e norte do RS, onde houve temporais que resultaram em destruição em diversas localidades. O maior volume de chuva foi registrado em Santa Maria (130,6 mm), mais do que a climatologia do mês de maio (129 mm). Neste município, além da chuva os ventos fortes causaram destelhamento de casas e queda de postes e árvores (Figura 1b). Em Santa Cruz, também na região central do RS, houve queda de granizo e mais de 100 residências ficaram danificadas. Figura 1: (a) Acumulado de chuva (estações INMET e RBS) registrado entre os dias 29 e 30/05/12. (b) Bairro Alto da Boa Vista em Santa Maria-RS atingido pelos temporais. Fonte: clicrbs A sequência de imagens de satélite mostra a evolução da convecção sobre o estado gaúcho, que esteve bem organizada e atingiu topos bastante profundos (inferior a 80C) durante a madrugada. Apenas as localidades da região sudoeste e campanha não foram atingidas pelas chuvas fortes. Figura 2: Imagens do satélite GOES-12 no canal infravermelho realçada. O comportamento sinótico deste evento esteve associado com o deslocamento do ramo frio de um sistema frontal, que avançou desde a Argentina, adquirindo maior umidade ao atingir o território brasileiro. Essa umidade foi transportada pela corrente de jato em baixos níveis (850 hPa), que esteve intensa e direcionada desde a Região do Chaco até a Bacia do Prata. Este fluxo ainda permitiu a intensificação da advecção de ar quente, alimentando ainda mais a instabilidade gerada sobre o interior do RS. Nas camadas mais altas o escoamento esteve bastante zonal e com grande baroclinicidade, com a presença dos Jatos Subtropical e Polar acoplados e com forte intensidade. (a) (b) (c) (d) Figura 3: Cartas sinóticas da 00Z do dia 30/05/12 para (a) 250 hPa, (b) 500 hPa, (c) 850 hPa e (d) superfície. A sondagem do aeroporto de Santa Maria-RS (Figura 4) revela um ambiente altamente instável e com elevado conteúdo de umidade nos primeiros níveis da atmosfera. Os valores observados para alguns índices de instabilidade, como o LIFETD (-3,3), SWEAT (353), TOTAL TOTALS (50,6) e K (39,7) confirmam a presença de um ambiente favorável para a ocorrência de tempo severo. Figura 4: Sondagem do aeroporto de Santa Maria da 00Z do dia 30/05/12. A Figura 5 mostra a distribuição espacial de alguns índices de instabilidade e de variáveis termodinâmicas. Percebe-se uma ampla área com valores negativos e inferiores a -4 de LIFTED estendendo-se entre o sul do Paraguai, RS e Atlântico (Figura 5a). Os tons em verde indicam valores de umidade relativa acima de 50% na camada 850/500 hPa. Já a Figura 5b, o tom azul mais fluorescente indica SWEAT superior a 400, valor favorável para o desenvolvimento de tormentas. O índice K também esteve elevado e maior do que 35, associado ao gradiente vertical de temperatura e pela presença de umidade na camada mais baixa. (a) (b) Figura 5: Análise do modelo GFS da 00Z do dia 30/05/12. (a) umidade relativa média na camada 850/500 hPa (sombreado) e lifted (contorno); (b) sweat (sombreado) e K (contorno). Em resumo, pode-se dizer que os temporais que atingiram o interior do RS foram provocados pelo avanço de uma frente fria, que intensificou a convecção sobre a porção quente do sistema frontal. Esta análise mostrou que grande parte do estado gaúcho foi atingida por chuvas fortes, embora a região central tenha sido mais castigada. Elaborado pelo Meteorologista Henri Rossi Pinheiro Grupo de Previsão de Tempo do CPTEC/INPE