Evento de Precipitação Intensa nos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba Totais pluviométricos anômalos foram registrados nos Estados da Costa Leste do Nordeste (CLNE) entre os dias 07 e 08 de agosto de 2008. De acordo com os dados SYNOP, somente no Estado do Rio Grande do Norte o acumulado em 24 horas para o dia 07 de julho atingiu 98 mm na cidade de Natal e 74 mm na estação do Aeroporto de Natal. Na estação de João Pessoa (PB), os valores atingiram 82 mm. Valores significativos também foram observados no Estado de Alagoas. Segundo dados da Diretoria de Meteorologia do Estado de Alagoas (DMET/SEMARH-AL), foram registrados acumulados de 47 mm em Passo do Camaragibe, 59 mm em Japaratinga e 74 mm em Porto de Pedras. Para o dia 08 de julho os totais acumulados atingiram 172 mm em Natal e 129 mm na estação de Ceara-Mirim-RN (SYNOP). Os dados do INMET registraram acumulados significativos em Areia-PB, com 91 mm, Campina Grande-PB apresentando 37,0 mm e Recife-PE, com 39 mm. Verifica-se nos recortes das imagens de satélite a seguir, a presença do Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL) deslocando-se à costa do RN e PB. Essas nuvens originaram-se próximas à costa e se desenvolveram gradualmente à medida que se deslocavam, atingindo o continente entre 10 e 12Z. (a) (c) (b) (d) Figura 1. Recortes das imagens de satélite do Goes-10 + METEOSAT-9 no IR, para o dia 07 de agosto de 2008. (a) às 04:00Z, (b) às 05:00Z, (c) às 08:00Z, (d) às 12:00Z. Em alguns casos semelhantes, esses distúrbios ocorrem associados à penetração de sistemas frontais, que intensificam os ventos alísios, auxiliando na convergência do fluxo de umidade. Porém fica visível através da imagem abaixo que não houve uma interação clara entre o sistema frontal e o distúrbio de leste. Figura 2. Imagens de satélite Goes-10/METEOSAT do dia 07/08/2008 às 12:00 Z no IR. Observa-se na Figura 3 a seguir, valores significativos de umidade relativa média na camada 850/700 hPa sobre a Região NE, especialmente sobre a costa leste. É notável a predominância de ventos com a componente de E/SE, através das linhas de corrente em 925 hPa. Esses fatores auxiliaram a convergência do fluxo de umidade sobre o continente. Figura 3. Umidade Relativa (verde e azul) à superfície, Vento Meridional (em amarelo, ms-1) e Linhas de Corrente (ms-1) em 925 hPa para o dia 07/08/2008 às 12:00Z. A Figura 4 mostra que a convergência do fluxo de umidade na camada limite esteve intensa na costa, contribuindo com o fornecimento de calor latente e intensificando o levantamento. Figura 4. Convergência do Fluxo de Umidade na Camada Limite, Espessura (entre 1000 e 850 mb) e Vento à superfície para o dia 07/08/2008 às 12:00Z. A dinâmica que envolve os sistemas produtores de chuva na CLNE é complexa e sofre influência de diversos fatores. As cartas a seguir mostram que o sistema recebeu suporte dinâmico por toda a atmosfera. Nota-se na Figura 5a e 5b, através das linhas de corrente nos níveis de 500 e 200 hPa respectivamente, que o fluxo predominante do escoamento do vento esteve de leste. Visualiza-se uma circulação anticiclônica próxima à costa em 250 hPa, com um fluxo de NE que atuou sobre os Estados do RN e da PB, onde foram registrados os valores mais significativos. Ainda é possível observar valores negativos de omega na atmosfera média associados à umidade relativa acima de 60% na camada 1000/500 hPa e índices de levantamento significativos (K>30, TTS> 45) (vide área verde, Figura 5c). (a) (b) (c) Figura 5. Previsão automática para o dia 07/08/2008 às 09:00 h. Omega em 500 hPa (Pas-1), umidade relativa (%) e índices de estabilidade. (a) Linhas de Corrente em 500 hPa e (b) Linhas de corrente em 200hPa. (c) conjunto de índices de instabilidade por levantamento. Em síntese, pode-se concluir que o fluxo predominantemente de nordeste sobre a região de estudo, observado na camada 1000/500 hPa, foi determinante para o estabelecimento deste distúrbio. O comportamento do vento na troposfera alta (250 hPa) não foi determinante, porém pôde ter contribuído a intensificar a divergência em altitude e em conseqüência a acrescentar a convergência em superfície.