ANAIS INTEGRAÇÃO ENTRE MARKETING, LOGÍSTICA E PRODUÇÃO: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NOS PONTOS DE CONTATO. GUILHERME HERNANDES VASCONCELLOS LOMBARDI ( [email protected] , [email protected] ) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS/ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ANDREA LAGO DA SILVA ( [email protected] ) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS/ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MÁRCIO LOPES PIMENTA ( [email protected] ) UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA/ FACULDADE DE GESTÃO E NEGÓCIOS Resumo A integração entre Marketing, Logística e Produção melhora a capacidade das organizações para identificar, criar e entregar o valor ao cliente. Entretanto, pouco se sabe acerca do relacionamento das três funções em conjunto (tríade). Este artigo propõe identificar quais atividades realizadas por estas funções requerem integração interfuncional, servindo de subsídio para que pesquisas futuras aprofundem o conhecimento sobre tal relacionamento. Realizou-se uma revisão bibliográfica, seguida de um estudo de caso em uma grande indústria de bebidas. Identificaram-se, tanto na teoria quanto em campo, atividades que dependem de integração entre a tríade, bem como atividades que dependem da integração em díades. Palavras-chave: Integração interfuncional, pontos de contato, Marketing, Logística, Produção. 1. Introdução As organizações vêm se estruturando de maneira funcional e hierarquizada, onde cada função procura maximizar seus objetivos específicos a partir da expertise acumulada por cada uma delas (CHRISTOPHER, et. al., 2004). Entretanto, a organização funcional tem se mostrado incapaz de responder satisfatoriamente ao dinamismo externo à organização já que cada função acaba desenvolvendo comportamentos e pontos de vista próprios (SHAPIRO, 1977; LAWRENCE e LORSCH, 1986). Essa “miopia” funcional caracteriza o que a literatura chama de “silo” funcional. Assim como um silo, as funções se fecham ao ambiente e procuram proteger seus objetivos individuais em detrimento do objetivo geral. Marketing, Logística e Produção surgem como três importantes funções quando procura-se equilibrar a demanda com a oferta (SHAPIRO, 1977; KONIJNENDIJK, 1994; BALLOU, 2006; GIMENEZ, 2006; LYNCH, WHICKER, 2008; MENTZER, et. al.2008). Essas três funções são reconhecidas na literatura por expandirem seus domínios conceituais de atuação, ou seja, estabelecem pontos de contato no ambiente interno (com outras funções empresariais) e externo (com outros membros da cadeia de suprimentos). Além disso, as três 1/16 ANAIS funções podem ser consideradas como clientes e fornecedoras internas durante o processo de criação de valor ao cliente (PORTER, 1990; PIERCY, 2007). Do ponto de vista teórico há necessidade de se entender conceitualmente o papel de cada função dentro de uma organização e como as mesmas se relacionam. Do ponto de vista prático, a identificação das principais atividades que requerem o trabalho conjunto das três funções pode representar um ponto de partida para a implementação de iniciativas integradas e do uso de ferramentas gerenciais como Sales and Operations Planning (S&OP) e Collaborative Planning, Forecasting, and Replenishment (CPFR). O objetivo deste trabalho é identificar as principais atividades que unem as três funções e criar condições para que próximos trabalhos aprofundem de maneira mais detalhada a compreensão sobre as relações interfuncionais entre elas. Na sessão dois são apresentadas as atividades encontradas na revisão de literatura que demandam pontos de contatos entre as funções de Marketing, Logística e Produção, sendo que os primeiros três itens da revisão tratam dos mesmos em termos das díades e o último item, da tríade. A sessão três apresenta os preceitos metodológicos que governaram o presente estudo. Já a sessão quatro apresenta os principais pontos de contato da tríade Marketing-Logística-Produção encontrados no estudo de caso, enquanto que a sessão cinco compara, no nível de díades, os dados coletados com a literatura. Cabe ressaltar que de modo a cumprir com o limite de espaço imposto pelo molde do presente evento, optou-se por suprimir a confrontação dos dados coletados com a literatura em nível da díade, ficando tal análise para trabalhos posteriores. Por fim, a sessão seis apresenta as referências utilizadas. 2. Fundamentação teórica 2.1. Pontos de Contato A literatura de Gestão da Cadeia de Suprimentos e de Gestão de Operações conta com diversas contribuições para o estudo dos relacionamentos interfuncionais (SEZEN, 2005; JÜTTNER et. al., 2007; PIERCY, 2007; LYNCH e WHICKER, 2008). No entanto, a maior parte desses estudos se limita a analisar o relacionamento entre pares de funções, ou díades como é mais conhecido no meio acadêmico (SILVA, 2010). Neste item serão discutidos os principais pontos de contato encontrados nas díades e no item seguinte, na tríade. 2.1.1. Díade Marketing-Produção Desde o trabalho pioneiro de Shapiro (1977) sobre a necessidade de integração entre Marketing e Produção, muitos autores discutiram o tema sob diferentes aspectos deste ponto de contato (WHYBARK et al., 1994; PARENTE, 1998; HAUSEMAN et al., 2002; O’LEARRY-KELLY e FLORES, 2002; PIERCY, 2007; SONG e SWINK, 2007; LYNCH e WHICKER, 2008). A literatura aponta diversos pontos de contato, os quais muitas vezes são conflitantes (SHAPIRO, 1977), entre as funções de Marketing e Produção. Os principais pontos de contato com os respectivos relacionamentos entre ambas as áreas (trade-offs) são apresentados no quadro 1. 2.1.2. Díade Logística-Marketing Diferentes autores reconhecem que Marketing e Logística trabalham em contato direto com os clientes (RINEHART, et al., 1989, ELLINGER et al., 2002, DAUGHERTY et al., 2/16 ANAIS 2009). Em linhas gerais, Marketing é responsável por criar e gerenciar a demanda, enquanto que Logística é responsável por satisfazer tal demanda disponibilizando os produtos e serviços aos clientes (VAN HOEK et al., 2008; DAUGHERTY et al., 2009). Apesar de ambas as funções estarem focadas no cliente, a literatura aponta a existência de alguns conflitos originados pela pouca colaboração entre ambas as funções (ELLINGER, 2000). O quadro 2 apresenta os pontos de contato, a relação entre as funções e as principais contribuições encontradas na literatura. 2.1.3. Díade Logística-Produção A díade Logística-Produção, em comparação com outros pontos de contato revisados, foi a que conta com a menor quantidade de artigos relacionados. Uma possível causa levantada por Gimenez (2006) é o fato de ambas as áreas pertencerem ao domínio da função Operações. De fato, muitos dos assuntos cobertos pela pesquisa, ensino e prática em Logística são também considerados como elementos centrais da Gestão de Operações (MENTZER et al., 2008, p.35). Desse modo não é de se estranhar a confusão de onde termina o domínio de Logística e onde inicia o da Gestão de Operações. Tal sobreposição de assuntos entre as áreas pode indicar que a Produção e a Logística possuem objetivos mais alinhados e, portanto, trabalham de forma mais integrada. Gimenez (2006) concluiu que ambas as funções trabalham juntas de maneira informal. Além disso, a mesma autora sugere que o fato de ambas as funções atentarem a todo o momento para o impacto dos custos enquanto realizam suas atividades funcionais pode ser outro indício de que o relacionamento entre Logística e Produção seja mais harmonioso. O quadro 3 apresenta os pontos de contato Logística-Produção encontrados na literatura. 2.1.4. Tríade Marketing, Logística e Produção Diferentes funções podem estar envolvidas com o processo de oferecer um melhor nível de serviço ao cliente. Entretanto, Marketing, Logística e Produção são as mais diretamente envolvidas, pois o mercado têm demandado cada vez mais que as organizações construam diferenciais (RINEHART et al., 1989; CHRISTOPHER, 2005). Neste sentido, alcançar o “pedido perfeito” ou “vender certo e não mais” como argumentado por Mollenkopt et al. (2011) pode ser a base para criação de um padrão de serviço. Nesta pesquisa, considera-se um novo contexto da gestão de operação, partindo das contribuições de Mentzer et al. (2008). Para estes autores, ao invés da abordagem funcional, que se ocupa em executar processos, a gestão de operações deve ir além, se envolvendo diretamente com a melhoria de processos com foco na coordenação dos pontos de contato entre processos entre as funções Marketing, Logística e Produção. Os mesmos autores definem estas três funções como funções centrais dentro da Gestão de Operações. Partindo-se então deste novo olhar sob a Gestão de Operações, percebe-se a relevância de compreender como ocorrem os pontos de contato dos processos relacionados a estas três funções. Considera-se que cliente de diferentes segmentos de mercado vão demandar diferentes requisitos em termos de Logística e também podem requerer diferentes configurações em termos de produtos e serviço, requerendo decisão e ação da Produção. Marketing e Vendas precisam interagir com a Produção para definição de quantidades a serem produzidas, em qual sequência e a que tempo devem estar disponíveis para que Logística seja capaz de entregar no prazo acordado com cliente. Konijnendijk (1994) definiu que existe um 3/16 ANAIS trade-off entre requisitos dos clientes e capacidade de produção e um descuido nesta decisão pode aumentar custos ou diminuir preços, o que sacrificaria a lucratividade da empresa como um todo. O processo de Planejamento da Demanda configura-se como um ponto de contato crítico entre as três funções. Mollenkopt et al. (2011) afirmam, a partir de um estudo sobre gestão de retornos e interface Marketing/Operações, que a abordagem “vender certo, não mais” deveria ser levada em conta pelas empresas e para tanto, a integração interfuncional é o caminho natural. Outra interdependência básica entre Marketing, Produção e Logística é na gestão de estoques devido ao fato de que “manter estoques” têm diferentes significados para as três funções, originando trade-offs variados. Para Marketing dispor de estoques significa ter produto suficiente para atender um cliente quando o mesmo solicitar uma quantidade maior do que foi inicialmente solicitada e isso trará resultados em termos de vendas e satisfação como agilidade de resposta da empresa como fornecedora. Entretanto, para Logística e Manufatura manter estoques significa alocar recursos financeiros e físicos (espaço de armazenagem) que poderiam estar sendo utilizados para atividade de produção, por exemplo, ou outros investimentos, sem contar os riscos de obsolescência ou restrições para as decisões de utilização de capacidade. Ou seja, trata-se de uma decisão acerca de adicionar valor para empresa como um todo, versus atender requisitos de um cliente individual sem considerar o impacto na operação, entendida aqui como Logística e Produção (SHAPIRO, 1977; PARENTE, 1998; COYLE et al., 2003; BOYER e HULT, 2005). Os três processos, previsão da demanda, serviço ao cliente e gestão de estoques são exemplos de pontos de contato críticos entre a tríade Marketing, Logística e Produção. A previsão de demanda auxilia Marketing a alcançar seus alvos de mercado e Produção a produzir a quantidade certa, na hora certa e ao custo adequado (MEIJDEN et al., 1994). Logística necessita informação das duas funções para planejar os equipamentos para manuseio e transporte, assim como a informação para possibilitar o trabalho adequado e ao menor custo possível do sistema logístico. A ausência de alinhamento entre as três funções ter impactos no processamento do pedido, levando a empresa a atrasar o tempo de entrega, diminuindo o nível de serviço prestado. Como ressaltado por Meijden et al. (1994), em indústrias isso poderia levar a necessidade de se acumular estoques para fazer frente ao nível de serviço prometido ao cliente e requerido pelo mercado. 4/16 ANAIS Quadro 1 – Pontos de contato Marketing-Produção e principais autores Ponto de contato Principais autores Características Previsão de demanda Produção depende da previsão agregada para decidir em quanta capacidade será necessário investir e quais os Shapiro (1977), Konijnendijk (1994), equipamentos necessários para atender a tal capacidade. Meijden et. al. (1994). Alterações freqüentes na demanda de curto-prazo dificultam a programação da produção; por outro lado, agilidade na resposta às necessidades dos clientes (pronto-atendimento) pode representar uma vantagem competitiva. Gestão de estoques e entrega Produção quer usar os estoques para manter os ciclos de produção mais longos, suavizando assim a produção; já Shapiro (1977), St. John E Rue (1991). Marketing quer usar os estoques de modo a garantir rápida entrega para o cliente. Garantia da qualidade Produção prioriza padrões de qualidade ou procedimentos de monitoramento da qualidade que não necessariamente Shapiro (1977), St John E Rue (1991). medem os verdadeiros parâmetros da qualidade no ponto de vista do cliente; Marketing quer adicionar características diferenciadas no produto que podem tornar os procedimentos de inspeção mais caros e complexos. Amplitude da linha de produtos Enquanto Marketing deseja uma linha de produtos ampla para aumentar as vendas, fatias de mercado e a reputação da Shapiro (1977), St John e Rue (1991), empresa como fornecedora de uma linha completa, Produção prefere manter uma linha de produtos mais restrita como Meijden et. al. (1994), Calantone et al. forma de manter baixos os custos de estoque, preparação de máquina e para alteração da Produção. (2002). Controle de custos Quanto mais ampla for a linha de produtos, maiores tendem a ser os custos de produção com ajustes de máquinas e Shapiro (1977), St John E Rue (1991). mudanças de linha. Quanto maiores os custos de produção, menor flexibilidade na precificação Marketing terá. Introdução de novos produtos Para a Produção novos produtos podem necessitar novos equipamentos e processos que tornam a operação produtiva Shapiro (1977), St John e Rue (1991). mais complexa. Em contrapartida, a disponibilização de novos produtos no mercado pode representar uma possibilidade para Marketing aumentar as vendas e a lucratividade. Atividades promocionais Marketing lança mão de ações promocionais como forma de alavancar as vendas; caso tais ações não sejam Shapiro (1977), Meijden et. al. (1994). coordenadas com a Produção, pode haver falta do produto promocional no mercado. Além disso, a mobilização dos recursos produtivos para suprir a demanda por produtos promocionais pode implicar na falta de produtos de linha. Serviço ao cliente. Marketing pode prometer entregar um pedido ao cliente em um prazo sem consultar a capacidade da Produção em Shapiro, (1977), Meijden et. al. (1994). cumprir com esse prazo. Para Produção, fornecer esse pedido pode significar um aumento significativo nos custos, além de prejudicar a programação da produção; para Marketing, não cumprir com a promessa pode impactar negativamente o relacionamento com o cliente, o que pode implicar em redução das vendas no longo prazo. 5/16 ANAIS Quadro 2 – Pontos de Contato Marketing-Logística e principais autores Pontos de Contato Características Principais autores Gestão de estoques Marketing prefere níveis de estoques mais elevados de modo a atender prontamente todos os pedidos; Speh (1977), Lynagh e Poist (1984), Voorhees Logística procura minimizar seus custos de armazenagem por meio da redução de estoques. et al.(1988), Lynch e Whicker (2008). Amplitude e profundidade da linha de produtos Determina a quantidade de SKU (stock keeping units). Quanto maior o número de SKUs, maior a Rinehart et al. (1989). probabilidade do cliente ter suas necessidades satisfeitas; em contrapartida, Logística enfrenta maior dificuldade em manter níveis de estoque e taxas de preenchimento do pedido adequadas. Processamento de pedidos O processamento de pedidos por meio eletrônicos torna a Logística mais responsiva ao mercado e ao Speh (1977), Rinehart et al. (1989). mesmo tempo reduz a necessidade de vendedores. Embalagem Para chamar atenção do cliente, muitas vezes Marketing lança mão de embalagens com formas, tamanhos e Speh (1977), Lynagh e Poist (1984), Voorhees materiais diferenciados que muitas vezes pode complicar Logística na execução de atividades como et al. (1988), Coyle et al. (2003), Lynch e movimentação, seleção de modal e aproveitamento do espaço (cubagem). Whicker (2008). Desenvolvimento de novos produtos/ modificações em produtos de linha Logística deve estar atento a todas as etapas do processo de criação/ alteração de produtos, enxergando as Lynch e Whicker (2008). possíveis conseqüências para sua operação e comunicando para Marketing os possíveis problemas técnicos ou práticos que venham a surgir. Descontinuação de produtos Marketing deve informar Logística com antecedência em caso da descontinuidade de um determinado Lynch e Whicker (2008). produto de modo que Logística possa escoar esse produto antes que este se torne obsoleto ou vencido. Distribuição Nem sempre há coordenação entre os pedidos a serem entregues no dia e a disposição geográfica dos Rinehart, et al. (1989), Lynch e Whicker clientes. Com uma melhor coordenação nesse aspecto, Logística pode otimizar seus custos de transporte e (2008). melhorar seu nível de serviço, beneficiando Marketing também. Serviço ao cliente Logística e Marketing devem trabalhar em conjunto de modo a definir os pacotes de serviços adequados Speh (1977), Voorhees et al. (1988), Lambert para cada perfil de cliente, oferecendo para cada um apenas o conjunto de atributos que satisfará suas e Cook (1990), Coyle et al. (2003), Ballou necessidades em específico, para não saturar a capacidade operacional. (2006), Lynch e Whicker (2008). Atividades promocionais Quando as promoções envolvem embalagens promocionais especiais, Logística e Marketing encontram Rinehart et al. (1989),Ellinger (2000), Coyle et problemas com o timing da ação promocional. Isso acontece porque a indústria sabe quando o produto saiu al. (2003). da fábrica, mas não sabe exatamente quando este foi disposto na prateleira do varejista. Precificação Descontos servem para influenciar o tamanho do pedido do cliente. Espera-se que quanto maior o desconto, Rinehart et al. (1989),Ballou (2006), Lynch e maior será o tamanho do pedido médio. Entretanto, uma estrutura de descontos mal projetada pode levar a Whicker (2008). pedidos Premium antieconômicos, considerando restrições de consolidação de carga. 6/16 ANAIS Quadro 3 – Pontos de contato Logística-Produção e principais autores Pontos de Contato Características Principais autores Duração do ciclo de produção Produção procura obter economias de escala com longos ciclos de produção, entretanto, tal opção pode implicar em Bowersox e Closs (2001), Coyle et al. (2003). elevação do nível de estoque de determinados produtos aumentando assim os custos logísticos. Previsão da demanda (sazonalidade) Com intuito de reduzir custos e evitar situações de pressa, Produção procura antecipar ao máximo a produção sazonal.No Gattorna et al. (1991), Coyle et al. entanto, tal antecipação pode ser inviabilizada devido a elevação dos custos de armazenagem. Produção e Logística devem (2003). trabalhar juntas para planejar uma produção sazonal economicamente viável. Suprimentos/ compra de matéria prima É preciso garantir que os itens serão pedidos, transportados e recebidos de acordo com os prazos e níveis de qualidade Bowersox e Closs (2001), Coyle et estabelecidos. al. (2003), Christopher (2005). Embalagem de proteção Para a Produção, a embalagem de proteção contribui para conservar os atributos da qualidade do produto; para Logística, Coyle et al. (2003). contribui na unitização da carga e cubagem. Movimentação de materiais Logística pode facilitar a entrada da matéria-prima na linha de produção por meio de uma movimentação de abastecimento Gattorna et al. (1991), Bowersox e eficiente. Do mesmo modo, Produção pode facilitar a retirada do produto final da linha para que Logística possa Closs (2001). acondicioná-lo no armazém. Armazenagem Logística deve trabalhar em conjunto com a Produção para decidir como lidar com a estocagem e o despacho dos produtos Bowersox e Closs (2001); acabados. Christopher (2005). Programação da produção e do transporte Normalmente a programação da produção e do transporte ocorrem de maneira descentralizada na empresa. Produção Scholz-Reiter et al. (2010). executa sua programação sem considerar possíveis restrições de roteirização da frota da Logística. Redução de lead time Produção tem grande interesse em reduzir o lead time com intuito de oferecer respostas mais rápidas ao mercado, Jin et al. (2007), Kuhlang e Sihn no entanto, muitas vezes os tempos de espera dos caminhões para o descarregamento dos produtos não é levado (2011). em conta pela Produção 7/16 ANAIS 3. Metodologia Este trabalho consiste em uma pesquisa qualitativa exploratória, na qual, em uma primeira etapa, uma revisão da literatura existente sobre os temas relacionados foi realizada. Na segunda etapa, foi conduzido um estudo de caso, procurando fazer uma análise vis a vis dos dados com a literatura revisada. Trata-se de uma abordagem qualitativa, uma vez que há necessidade de se conhecer e interpretar melhor as informações sobre o fenômeno estudado, aprofundando o conhecimento em uma situação real (MIGUEL, 2010). Dado o objetivo proposto, a estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso, que Yin (2001, p. 32-33) define como uma “investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Outros autores também sugerem a adoção de estudos de caso em ambientes dinâmicos como os encontrados na pesquisa em Gestão de Operações (MEREDITH, 1998; BOYER e SWINK, 2008, MIGUEL. 2010). Optou-se pela realização de um estudo de caso em profundidade numa empresa do setor de bebidas, aqui chamada de Empresa A. Segundo Yin (2001), a adoção de um estudo de caso único é conveniente quando o caso escolhido oferece evidências revelatórias do fenômeno em estudo, significando que o fenômeno não fora investigado a fundo até então. Neste caso, trata-se de uma empresa que conta com um esforço na direção da integração funcional há cerca de doze anos, tendo já estruturado um comitê de planejamento integrado, o que pareceu aos autores uma primeira oportunidade de entender o fenômeno pesquisado de forma mais profunda. Verificou-se, a partir de um primeiro contato com a alta administração, tratar-se de uma empresa com uma forte preocupação com a formação de comitês interfuncionais em diversos processos decisórios da empresa. Além do mais, devido ao setor de atuação, trata-se de uma empresa que exige elevada sincronia entre funções relacionadas à integração demanda-suprimentos, parecendo assim adequada ao fenômeno em estudo. A Empresa A conta com unidades de produção e distribuição localizadas no interior paulista, na qual 2,5 mil colaboradores entre terceirizados e próprios trabalham para atender aos mais de 25 mil pontos de venda espalhados em aproximadamente 130 cidades dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Quanto maior a organização, mais complexas tendem ser as ações de integração interfuncional, envolvendo maior volume de recursos gastos com integração, variados níveis de descentralização de decisões e dispersão física das atividades (MASSEY; DAWES, 2001; PAIVA, 2008). Neste sentido, esta foi mais uma característica observada para escolha da empresa alvo do estudo de caso. Uma das principais características do setor de bebidas é o elevado volume de investimentos em marca realizados pelas grandes companhias do setor. Tais investimentos, entre outras coisas, visam à fidelização dos clientes, os quais, apesar de apresentarem preferência por alguma marca, estão dispostos a trocar de marca caso a sua marca preferida não esteja disponível no ponto de venda no ato da compra. Sendo assim, de modo a não prejudicar a reputação da marca nem de perder espaço no mercado para a concorrência as funções de Marketing, Logística e Produção da Empresa A devem orquestrar suas ações para garantir que os produtos certos (considerando aspectos promocionais como embalagens e rótulos diferenciados) estejam disponíveis em todos os 25 mil pontos de venda atendidos, respeitando os prazos promocionais assim como todos os outros atributos da qualidade. Na pesquisa de campo, foram entrevistados dezenove indivíduos das áreas funcionais de Marketing, Comercial, Logística e Produção, assim como de áreas suporte como 8/16 ANAIS Controladoria, Call Center, Equipamentos, Planejamento Estratégico e Recursos Humanos. A função Comercial foi incluída dentro do grupo principal de entrevistas pelo fato de ser a responsável na execução de boa parte das atividades descritas na literatura de Marketing, ao mesmo tempo em que possui diversos pontos de contato entre Produção e Logística. O critério escolhido para a determinação das funções de apoio entrevistadas foi o nível de relacionamento que estas apresentavam com cada uma das três funções foco da pesquisa (já incluindo Comercial no Marketing). Na primeira entrevista de alinhamento das expectativas e esclarecimentos dos objetivos da pesquisa com a superintendência da Empresa A esses pontos de contatos foram apontados e a equipe de pesquisa logo as incluiu no escopo do estudo por acreditar que tais visões externas enriqueceriam na compreensão do fenômeno estudado. O foco das entrevistas foi a apreensão das percepções individuais dos diretores, gerentes e coordenadores de diferentes áreas funcionais a respeito do fenômeno em estudo. Foram selecionados indivíduos de diferentes níveis hierárquicos para evitar percepções tendenciosas acerca dos pontos de contato. Phillps (1981) ressalta a importância das percepções dos gerentes no processo de pesquisa porque eles estão mais envolvidos com as atividades gerenciais funcionais e interfuncionais e por esses motivos podem contribuir com comentários válidos sobre o problema em estudo. As entrevistas foram conduzidas individualmente com cada participante. A duração das entrevistas com os gestores de cada uma das áreas focais foi de 45-100 minutos, enquanto que as entrevistas com as áreas de apoio duraram entre 30-60 minutos. As entrevistas foram guiadas por meio de um questionário semi-estruturado, o qual identificava assuntos de interesse retirados da revisão de literatura sobre os pontos de contato entre Marketing, Logística e Produção (CARTER e ELLRAM, 1998; ROGERS et al., 2002). A adoção de um questionário semi-estruturado permite ao pesquisador entender mais a fundo os pressupostos que governam as interações entre os gerentes de Marketing, Logística e Produção (MCCRACKEN, 1988), ao passo que estimula o entrevistado a dar respostas mais francas e detalhadas (ELLINGER et al., 2006). Primeiramente, o entrevistado era introduzido sobre o contexto da pesquisa e sobre a estruturação da entrevista. Em seguida, pedia-se uma breve apresentação da posição do indivíduo dentro da hierarquia da empresa e das suas principais responsabilidades funcionais. Passada essa primeira parte de contextualização do cenário, o entrevistado era pedido para descrever as atividades que demandavam pontos de contato entre Marketing, Logística e Produção, ressaltando o relacionamento e possíveis conflitos diários entre elas. Por fim, pedia-se que o entrevistado avaliasse o nível de integração entre as três funções, justificado o porquê da sua escolha e identificando possíveis ações de incentivo a maiores níveis de integração. Além das entrevistas, outras fontes de evidências foram utilizadas para análise, incluindo visitas à planta, participação de pesquisadores na reunião de Planejamento Integrado e uso de materiais impressos fornecidos pela empresa ou obtidos de fontes secundárias. 4. Estudo de caso 4.1. Principais pontos de contato identificados Quando perguntados sobre os pontos de contato entre Marketing, Logística e Produção, os entrevistados naturalmente se remetiam às reuniões de PI (Planejamento Integrado) para contextualizarem suas opiniões. O PI surgiu em meados dos anos 2000 com a proposta de reduzir os problemas de falta de atendimento (ruptura) que a empresa vinha 9/16 ANAIS sofrendo. Naquele momento, apenas os responsáveis por Comercial e Produção participavam dos encontros. Hoje em dia, diversas outras funções (como Logística, Qualidade, Suprimentos e Controladoria) participam das reuniões semanais, conduzidas por uma coordenação rotativa, visando todo planejamento e controle da operação semanal. A dinâmica dos encontros do PI se inicia com o acompanhamento do que fora decidido na reunião passada sendo que cada parte tem direito de sugerir ações corretivas de acordo com a situação apresentada. Em seguida, cada representante funcional realiza uma breve apresentação apontando os principais os acontecimentos, resultados e problemas encontrados durante a semana, a começar pela responsável pela previsão de demanda (Comercial). Depois, os representantes de Logística, Produção, Marketing, Suprimentos, Qualidade e assim por diante vão fazendo suas ressalvas até se chegar a um consenso. Todas as decisões são relatadas em um documento o qual é repassado para os gestores e a alta administração. Os principais pontos de contato identificados nas entrevistas foram lançamento de produtos, planejamento da demanda, promoção, transporte (entrega), nível de serviço, planejamento/ sequenciamento da produção, planejamento da capacidade logística e embalagens. A atividade de lançamento de produtos foi apontada por doze dos dezenove entrevistados. Aqui se considerou também a atividade de relançamentos de produtos já que ambas demandam o mesmo envolvimento das três funções segundo os entrevistados. Na Empresa A, todas as ações de marketing são desenvolvidas pela companhia franqueadora e repassadas a Empresa A, cabendo à função Marketing basicamente a execução coordenada dessas ações. Desse modo, é fundamental que a função Marketing disponibilize o cronograma de lançamentos de produtos juntamente com a previsão de demanda para que a Produção e a Logística possam programar suas capacidades de modo a atender as quantidades dentro dos prazos pré-estabelecidos. Alguns entrevistados chegaram a citar a questão da imprevisibilidade da demanda em casos de lançamentos de novos produtos, o que representa um grande complicador para as funções operacionais se planejarem. Em seguida, a atividade planejamento da demanda foi reconhecida por dez dos dezenove entrevistados. O planejamento da demanda pode ser dividido em duas etapas. Na primeira, a função Comercial tem uma equipe dedicada que utiliza modelos históricos em conjunto com as percepções dos consultores de vendas para a definição da previsão de demanda irrestrita (sem considerar capacidades operacionais). Na segunda etapa, esses números são compartilhados com Produção e Logística (usualmente na reunião do PI) para que cada área exponha sua perspectiva sobre as capacidades operacionais de modo a traduzir a previsão de demanda em previsão de vendas; ou seja, procura-se um consenso entre as três funções para que o Comercial venda apenas o que a Produção e a Logística se comprometem a produzir e entregar, respectivamente. A atividade Promoção foi apontada por nove dos dezenove entrevistados. Assim como no caso de lançamento de produtos, a equipe de Marketing deve compartilhar com Produção e Logística o cronograma de promoção e a expectativa de demanda para o produto em questão. Novamente, busca-se um consenso entre as capacidades operacionais e de mercado durante as reuniões de PI e, assim como no caso anterior, alguns entrevistados citaram a questão da confiabilidade da previsão de demanda dado o comportamento incerto do consumidor perante a ação promocional. Tal incerteza dificulta o planejamento das capacidades produtivas e logísticas da Empresa A. 10/16 ANAIS Sete dos dezenove entrevistados apontaram a atividade de transporte como demandante do ponto de contato entre Marketing, Logística e Produção. A responsabilidade em transportar o produto é da função Logística, no entanto, se Marketing e Comercial não disponibilizarem seus cronogramas de lançamentos de produtos e de promoção, a Produção não terá tempo suficiente para planejar sua capacidade e acionar os fornecedores para cumprir com os pedidos. Consequentemente, Logística terá dificuldades em disponibilizar o produto seguindo os prazos acordados com os clientes. Nessas situações é comum Logística lançar mão de planos alternativos para cumprir com as quantidades e prazos, o que envolve a contratação de caminhões terceirizados (freteiros). Tal ação paliativa, além de elevar os custos logísticos, também gera insatisfação dos motoristas já que os caminhões fretados não são preparados como os da Empresa A o que torna o trabalho deles mais desgastante. A atividade nível de serviço foi apontada por cinco dos dezenove entrevistados. A empresa possui uma política de nível de serviço que prega que “todo pedido realizado hoje é entregue amanhã”. Tal política é vista pela Empresa A como uma vantagem competitiva no mercado e foi esse o nosso principal parâmetro de classificação. Todas as colocações que remetiam diretamente à política (citando-a explicitamente) ou indiretamente (visando a satisfação do cliente como vantagem competitiva) foram classificadas como nível de serviço. Cabe comentar que a maior parte dos entrevistados citou este ponto de contato de modo indireto. Os pontos de contato planejamento/seqüenciamento da produção e planejamento da capacidade logística podem ser entendidos como os desdobramentos de: lançamentos de produtos, promoção e planejamento da demanda. Na Empresa A, os planejamentos operacionais são definidos semanalmente na reunião do PI após a avaliação dos calendários de lançamentos de produtos, de promoções e do planejamento de demanda. O ponto de contato embalagens também requer o compartilhamento dos calendários de lançamentos de produtos e promoções. Segundo os entrevistados, é muito comum haver revisões nos grafismos, formatos e materiais que compõem as embalagens, acompanhadas de ações publicitárias que requerem uma grande sincronia das ações das três funções. Marketing deve disponibilizar ambos os calendários e os atributos requeridos para as embalagens (arte dos grafismos, arte das tampinhas, cores e materiais) assim como procurar formas de negociar os produtos não promocionais em estoque evitando desperdícios; Logística deve revisar as condições de manuseio, armazenagem, transporte reportando possíveis restrições em qualquer uma dessas dimensões, assim como executar a gestão de estoques seguindo o FEFO (first to expire - first out) para que a produção em estoque não seja desperdiçada e que ao mesmo tempo o produto promocional esteja na prateleira de acordo com o plano traçado por Marketing. Produção deve acionar os fornecedores, repassando as alterações requeridas por Marketing e sequenciar sua produção levando em conta os níveis de estoque tanto dos novos produtos/produtos promocionais, quanto dos outros produtos regularmente ofertados de modo a cumprir com os calendários repassados por Marketing. Ainda com relação aos pontos de contato entre a tríade Marketing-Logística-Produção, diferente do que havia sido observado na teoria, nenhum dos entrevistados mencionou explicitamente a gestão de estoques como um ponto de conto mesmo estando claro no parágrafo anterior a relação desta com Marketing, Logística e Produção. 11/16 ANAIS 5. Conclusão Ao se comparar as características observadas no estudo de caso com os encontrados na literatura, percebe-se que os conflitos se concentram mais no ambiente operacional/tático do que no estratégico. Vale destacar que o fato da indústria de bebidas ter seu negócio fundamentado em grandes ações de marketing realizadas principalmente pelas grandes companhias internacionais pode reduzir os conflitos interfuncionais de ordem estratégica vivenciados pela Empresa A, ao passo que esta apenas executa as diretrizes repassadas pela franqueadora, nos níveis táticos e operacionais. Outro aspecto que pode contribuir para este ponto é a maturidade da alta administração da Empresa A para questões interfuncionais, cumprindo esta um papel relevante em estimular uma visão mais sistêmica em detrimento da visão estritamente funcional (MURPHY e POIST, 1994; RHO et al., 1994; MOLLENKOPF et al., 2000; PAGELL, 2004). A estruturação do PI foi uma iniciativa da alta administração e hoje o PI é considerado pelos próprios funcionários como a maior referência em resolução de problemas interfuncionais. O PI engloba todas as discussões de caráter operacional/tático envolvendo Marketing, Logística e Produção. Em termos operacionais/táticos, o ponto de contato mais citado foi previsão da demanda. De fato, a previsão de demanda, primeira etapa do planejamento da demanda, é o principal fator considerado por Logística e Produção para o planejamento da capacidade operacional (tático) e para a programação da utilização de tal capacidade (operacional) (SHAPIRO, 1977; KONIJNENDIJK, 1994; MEIJDEN et al.,1994). Do mesmo modo, as variações na demanda devido à sazonalidade ou alterações repentinas no comportamento do consumidor impactam diretamente o planejamento/sequenciamento da produção e planejamento da capacidade logística, requerendo medidas de aumento da capacidade como horas-extras (Produção e Logística) e terceirização de transporte (Logística) para caso de picos na demanda e bancos de hora em casos de retração da mesma (COYLE et al., 2003). A atividade previsão de demanda é realizada pelo Comercial e discutida no PI, onde as capacidades e restrições de cada função serão consideradas para a construção da segunda etapa do planejamento da demanda, a previsão de vendas. Direta ou indiretamente todos os outros pontos de contato identificadas estarão relacionados com a previsão da demanda. O lançamento de produtos reforça o maior peso dos conflitos de interesse em níveis mais operacionais da empresa. Há cerca de um ano e meio a Empresa A teve de adquirir uma nova linha de produção para engarrafar um produto que estava retornando ao portfólio da empresa. Tal aquisição teve impactos na Produção com aumento da complexidade do processo produtivo, (SHAPIRO, 1977; ST. JOHN e RUE, 1991), assim como em Logística, ao passo que a nova linha ocupa parte do espaço que antigamente era usado para armazenagem. A aquisição de uma linha de produção é vista na literatura como uma decisão de nível mais estratégico/tático e em nenhuma das entrevistas notou-se uma relação mais conflituosa entre os diretores das funções no momento da compra. Pelos relatos coletados, ambas as partes acharam de bom senso investir em uma nova linha naquele momento. A promoção para a tríade representa a descrição encontrada na literatura acerca das díades Marketing-Produção e Marketing-Logística. Pelos relatos das entrevistas ficou clara a intenção de orquestrar as ações desde o fornecimento, passando pela produção até a distribuição dos produtos sempre respeitando os prazos promocionais (SHAPIRO,1977; MEIJDEN et. al.,1994). A disponibilidade do produto promocional em boas condições de uso é tão importante para a imagem da marca que a Empresa A tem um cláusula contratual na 12/16 ANAIS qual ela se compromete a cumprir com os prazos promocionais estabelecidos sob pena de multa a ser paga para a franqueadora. O controle das ações visando tal orquestração se materializa novamente nas reuniões de PI. Rinehart et al.(1989) fazem a ligação da promoção com embalagens e transporte dentro de um contexto de nível de serviço. De fato, é muito comum na indústria de bebidas a realização de ações promocionais alusivas a datas comemorativas como carnaval, dia das mães e natal. Essas embalagens normalmente possuem grafismos diferenciados que fazem referencia a essas datas, o que exige um esforço de suprimentos, gestão de estoques e distribuição entre Logística, Produção e Marketing (Comercial). O objetivo desses esforços visa garantir que os estoques promocionais serão suficientes para atender a demanda, disponibilizando-os ao consumidor final somente no momento exato do inicio da promoção, atentando para não permitir falta de produto não promocional antes do inicio da promoção. Ainda com relação a embalagens, o caso reforçou a importância de Logística atuar em conjunto com Marketing durante o processo de definição de novas embalagens ou embalagens promocionais (LYNAGH E POIST, 1984; WHICKER, 2008) para que questões relativas à manipulação de materiais e transporte sejam levadas em consideração no projeto da embalagem. O ponto de contato nível de serviço se encontra bem alinhado com a visão de Lambert e Cook (1990) a qual afirma que as empresas enxergam o nível de serviço como uma forma de vantagem competitiva e que o trabalho conjunto das funções Marketing e Logística deve procurar o ajuste dos pacotes de serviço para melhor atender aos seus clientes. Pela percepção dos entrevistados, Produção possui um papel fundamental dentro do processo de criação de vantagem competitiva através da disponibilização dos produtos para que a empresa possa cumprir com sua política de “entregar amanhã todos os pedidos realizados hoje”. A empresa também tem trabalhado no sentido de melhorar seus pacotes de serviço, afinal “fornecer para um grande varejista é diferente de fornecer para uma padaria”. Desse modo, em casos especiais, a negociação da data de entrega é desvinculada da política de serviço ao cliente. A presente pesquisa cumpre com os objetivos propostos ao evidenciar os pontos de contato entre as funções de Marketing, Logística e Produção, dando um primeiro passo em direção ao melhor entendimento das relações que norteiam tais pontos de contato tanto para pesquisadores quanto para gerentes. Entretanto, algumas dos pontos de contato identificados podem estar relacionados com a indústria na qual o caso foi realizado, necessitando assim que esse tipo de pesquisa exploratória seja replicada em diferentes indústrias. O fato de usualmente um ponto de contato ser utilizado para contextualizar outro (vide embalagem), pode sugerir que talvez faça mais sentido conceitualmente agrupar os pontos de contato dentro de um contexto mais amplo. Uma solução seria pensar em processos de negócio mais amplos, nos quais os pontos de contato levantados na literatura estariam agrupados em categorias mais amplas. O artigo deixou de explorar em profundidade a análise das díades, não por falta de informação, mas pelo limite de espaço permitido no formato do evento. Em trabalhos seguintes, os autores farão esta análise, enriquecendo ainda mais a análise da tríade. 6. Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. 616p. 13/16 ANAIS BOWERSOX, D. J; CLOSS, D. J. Logística Empresarial: O Processo de Integração da Cadeia de Suprimento. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 602p. BOYER, Kenneth K.; SWINK, Morgan L. Empirical Elephants—Why Multiple Methods are Essential to Quality Research in Operations and Supply Chain Management. Journal of Operations Management. V. 26, p.337-348, 2008. CALANTONE, Roger; DRÖGE, Cornelia; VICKERY, Shawnee, Investigating the manufacturing–marketing interface in new product development: does context affect the strength of relationships? Journal of Operations Management v.20, p. 273-287, 2002. CARTER, Craig R.; ELLRAM, Lisa M. Reverse Logistics: A Review of Literature And Framework for Future Investigation. Journal Of Business Logistics, v. 19, n.1, p.85-102,1998. CHRISTOPHER, Martin; LOWSON, Robert; PECK, Helen. Creating Agile Supply Chains in the fashion Industry. International Journal of Retail & Distribution Management, v.32, n. 8,p. 367-376, 2004. CHRISTOPHER, Martin. Logistics and supply chain management: Creating value-adding networks, London: Prentice Hall, Financial Times, 2005. ISBN-13: 978—0-273-68176-2. 305p. COYLE, John J.; BARDI, Edward, J.; LANGLEY Jr., C. J. The Management Of Business Logistics: A Supply Chain Perspective. 7 ed. Canada: Thomson Learning, 2003, 707p. DAUGHERTY, P. J., CHEN, H., MATTIODA, D. D.; GRAWE S. J. Marketing/logistics relationships: influence on capabilities and performance” Journal of Business Logistics, v. 30, n. 1, p. 1-18, 2009. ELLINGER, A.E. Improving Marketing/Logistics cross-functional collaboration in the supply chain. Industrial Marketing management, New York, v.29, p.8-96, 2000. ELLINGER, Alexander E.; ELLINGER, Andrea .D.; KELLER, Scott B. Logistics managers‟ learning environments and firm performance. Journal of Business Logistics. v.23, n.1, p.19-38, 2002. ELLINGER, A.E.; KELLER, SB.; HANSEN J.D. Bridging the divide between logistics and Marketing: facilitating collaborative behavior. Journal of business logistics, v.27, n.2, p.1-28, 2006. EMERSON, Carol J.; GRIMM, Curtis M.. Logistics and Marketing components of customer service: an empirical test of the Mentzer, Gomes and Krapfel model. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, v.26, n.8, p.29-42, 1996. FUGATE, Brian S.; STANK, Theodore P.; MENTZER, John T. Linking improved knowledge management to operational and organizational performance. Journal of Operations Management, v. 27, n. 3, p.247-264, 2009. GATTORNA, John; DAY, Abby; HARGREAVES, John. Effective Logistics Management, Logistics Information Management, v.4, n.2, p.2–86,1991. GIMENEZ, C.. Logistics integration processes in the food industry. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, [S.I.], v.36, n.3, p. 231-249, 2006. GIMENEZ, C.; VENTURA, E. Logistics-production, logistics-marketing and external integration: their impact on performance. International Journal of Operations & Production Management. v. 25 n. 1, p.20-38, 2005. HAUSMAN, Warren H.; MONTGOMERY, David B.; ROTH, Aleda V. Why Should Marketing And Manufacturing Work Together? Some Exploratory Empirical Results. Journal of Operations Management, v.20, p.241–257, 2002. JIN, Mingzhou; LUO, Yi; EKSIOGLU, Sandra D. Integration of production sequencing and outbound logistics in the automotive industry. Int. J. Production Economics, v. 113, p. 766-774, 2008. JÜTTNER, Utta.; CHRISTOPHER, Martin.; BACKER, S. Demand chain management-integrating marketing and supply chain management. Industrial Marketing Management, [S.I.], v.36, n.3. p. 377-392, 2007. KONIJNENDIJK, P. A. Coordinating marketing and manufacturing in ETO companies. International Journal of Production Economics, [I.S.], v.37, n.1, p. 19-26, 1994. LAMBERT, D. M. Supply Chain Management: Process, Partnership, Performance.3.ed. Florida: Supply Chain Management Institute, 2008. 431p. 14/16 ANAIS KUHLANG, P.; EDTMAYR, T.; SIHN, W. Methodical approach to increase productivity and reduce lead time in assembly and production-logistic processes. Journal of Manufacturing Science and Technology, v.4, p.24–32, 2011. LAMBERT, Douglas M.; COOK, Robert L. Integrating Marketing and Logistics for Increased Profit. Business, v.40, n.3, p.22-29, 1990. LAWRENCE, Paul R.; LORSCH, Jay W. Organization and Environment: Managing Differentiation and Integration. Boston: Harvard University, 1967. 280p. LIEDTKA , Jeanne M., BRAGG; WAYNE, Ellen. Collaborating across Lines of Business for Competitive Advantage [and Executive Commentary] The Academy of Management Executive. V. 10, m. 2 p. 20-37, 1996. LYNAGH, P.M. and POIST, R.F. Assigning organizational responsibility for interface activities: an analysis of PD and marketing manager preferences”, International Journal of Physical Distribution and Materials Management, v.16, n.6, p. 34-46, 1984. LYNCH, J.; WHICKER, L. Do logistics and marketing understand each other? An empirical investigation of the interface activities between logistics and marketing. International Journal of Logistics: Research and Applications, v.11, n.3, p. 167-178, 2008. MASSEY, G., DAWES, P. L. Integrating Marketing and Sales: The Frequency and Effectiveness of Methods Used in Australia and the United Kingdom, ANZMAC 2001 Conference, Massey University, Auckland, New Zealand, 2001. MCCRACKEN, G. The long interview. Newbury Park, CA: Sage Publications, 1988. MEIJDEN, Lorike H.; NUNEN A. E. E.; RAMONDT, Aad. Forecasting - Bridging The Gap Between Sales And Manufacturing. Int. J. Production Economics , v.37, p.101-114, 1994. MENTZER, John T.; STANK, Theodore; ESPER, Terry L. Defining SCM and its Relationship to Logistics, Marketing, Manufacturing and Operations Management. Journal of Business Logistics, [S.I.], v.29.n.1.p. 31-46, 2008. MEREDITH, Jack. Building Operations Management Theory Through Case And Field Research. Journal Of Operations Management, v.16, p.441–454, 1998. MIGUEL, Paulo Augusto C. (Org.) Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção e Gestão de Operações: Adoção do estudo de caso na engenharia de produção, Rio de Janeiro: Elsevier , p. 129-142, 2010. MOLLENKOPF, D.; GIBSON, A.; OZANNE, L. The integration of Marketing and logistics functions: an empirical examination of New Zealand firms. Journal of Business Logistics, v. 21, n.2, p.89-112, 2000. MURPHY, Paul R.; POIST, Richard F. Comparative views of logistics and Marketing practitioners regarding interfunctional co-ordination. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, v. 26, n.8, p.15-28, 1996. OLIVA, Rogelio; WATSON Noel. Cross-functional alignment in Supply Chain Planning: a case study of sales and operations planning. Harvard Business School, Working Paper #07-001. 2009. O’LEARY-KELLY, Scott W.; FLORES, Benito E. The integration of manufacturing and marketing/sales decisions: impact on organizational performance. Journal of Operations Management, [S.I.].v.20, n.3.p.221–240, 2002. PAGELL, Mark. Understanding the factors that enable and inhibit the integration of operations, purchasing and logistics. Journal of Operations Management, v.22, n.5, p. 459-487, 2004.PAIVA, Ely L. Manufacturing and Marketing integration from a cumulative capabilities perspective. The International Journal Production Economics, [S.I.], v.126, n 2, p. 379-386, 2008. PARENTE, Diane H. Across the manufacturing-marketing interface. International Journal of Operations and Production Management, v. 18, n. 12, p. 1205-1222, 1998. PIERCY, Niguel Framing the problematic relationship between the marketing and operations functions. Journal of Strategic Marketing, v.15, n.2-3. p. 185-207, 2007. 15/16 ANAIS PHILLIPS, Lynn W. Assessing Measurement Error in Key Informant Reports: A methodological Note on Organizational Analysis in Marketing. Journal of Marketing Research.v.18, n.4, p.395-415, 1981.PORTER, Michael. Vantagem Competitiva. Ed. Campus., 1990, 512p. RHO, Boo-Ho; HAHM, Yong-Seok; YU, Yung-Mok. Improving interface congruence between manufacturing and Marketing in industrial-product manufacturers. International Journal of Production Economics, v.37, p.27-40, 1994. RINEHART, Lloyd M.; COOPER, M. Bixby; WAGENHEIM, George D. Furthering the integration of Marketing and Logistics Through Customer Service in the Channel. Journal of Academy of Marketing Science, v.17, n.1, p.63-71, 1989. ROGERS, Dale S. Et Al. The Returns Management Process. The International Journal Of Logistics Management, v.13, n.2, p.1-18, 2002.SCHOLZ-REITER, Bernd; FRAZZON, Enzo M.; MAKUSCHEWITZ, Thomas. Integrating manufacturing and logistic systems along global supply chains. Journal of Manufacturing Science and Technology, v.2, p.216–223, 2010. SEZEN, Bülent. The role of logistics in linking operations and marketing and influences on business performance. The Journal of Enterprise Information Management, v.18, n.3.p. 350-356, 2005. SHAPIRO, Benson P. Can Marketing and Manufacturing Coexist? Harvard Business Review, v.55, p. 104-114, 1977. SILVA, Andrea L. Inter-functional integration between Marketing, Logistics and Manufacturing: a theoretical review. São Paulo: Projeto Novas Fronteiras - FAPESP, n. 2009/05160-0 123p. Set, 2010. Relatório de PósDoutoramento. SPEH, T.W. Physical distribution-marketing interfaces: research and managerial implications”, National Council of Physical Distribution Management Proceedings, p. 25-40, 1977. ST. JOHN, Caron H.; RUE, Leslie W. Co-Ordinating Mechanisms, Consensus between Marketing and Manufacturing Groups, and Marketplace Performance. Strategic Management Journal, v.. 12, n. 7, p. 549-555, 1991. STANK, Theodore; DAUGHERTY, Patricia J.; ELLINGER, Alexander E. Marketing/Logistics integration and firm performance. The International Journal of Logistics Management, v.10, n.1, p.11-24, 1999. SWINK, M.; SONG, M. Effects of marketing-manufacturing integration on new product development time and competitive advantage. Journal of Operations Management, v. 25, p. 203–217, 2007. VAN HOEK, R.; ELLINGER, A. E.; JOHNSON, M. Great divides: internal alignment between logistics and peer functions. The International Journal of Logistics Management. v. 19, n. 2, p.110-129, 2008. VAN HOEK, R. I.; MITCHELL, A. J. The challenge of internal misalignment. International Journal of Logistics Research and Applications,v.9, n.3.p. 269-281, 2006. VOORHEES, R.D., TEAS, R.K., ALLEN, B.J. and DINKLE, E.T. Changes in the marketing-logistics relationship. Journal of Business Logistics,v.9, n.1,p.34-50, 1988. WHYBARK, D. Marketing's influence on manufacturing practices international Journal of Production Economics, v. 37, n.1, p.41-50, 1994. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e método. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. 205p. 16/16