Avaliação da qualidade das águas subterrâneas no município de Chapecó, Oeste de Santa Catarina, Brasil Meta 2 Componente3 - Fábio Luiz Carasek, Jacir Dal Magro INTRODUÇÃO Embora indispensável ao organismo humano, a água pode conter determinadas substâncias, elementos químicos e microorganismos que devem ser eliminados ou reduzidos a concentrações que não sejam prejudiciais a saúde humana. Apesar de os mananciais superficiais estarem mais sujeitos a poluição, também se tem observado a deterioração da qualidade de águas subterrâneas, o que acarreta em doenças como febre tifóide, paratifóide, disenterias bacilar e amebiana, cólera, esquistossomose, hepatite infecciosa, giardíase, caries dentarias (falta de flúor), fluorose, saturnismo (devido ao chumbo) e metaemoglobinemia (teor elevado de nitrato). Alem desses, os danos a saúde humana pode decorrer da presença de 11 substâncias tóxicas como nitrito, amônia, fósforo, sulfato, ferro, dentre outros (DI BERNARDO; DI BERNARDO; CENTURIONE FILHO, 2002). O presente trabalho tem como objetivo analisar a qualidade da água subterrânea do município de Chapecó-SC referente a alguns parâmetros físico-químicos de grande relevância da região oeste de Santa Catarina. MATERIAIS E MÉTODOS Coleta e analise das variáveis físicas e químicas da água Área de Estudo Os poços selecionados para analise estão localizados no município de Chapecó-SC (Figura 1), em virtude da grande produção suinícola e agropecuária, outro fator para definição dos poços foi a questão de que todos são utilizados para consumo humano e também à questão de o município não possuir estação de tratamento em 100% do esgoto. A relação dos poços para coleta (Tabela 2) seguiu-se o critério de representatividade da zona rural e urbana do município de Chapecó-SC, conforme critérios do IBGE, sendo que 50% das coletas foram realizadas no meio urbano e o restante em meio rural. O plano de amostragem foi definido com o objetivo de assegurar a representatividade e a validade das amostras coletadas e analisadas em laboratório. Para as águas subterrâneas foram analisados os parâmetros descritos na Resolução Conama 396/2008 que dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas. Para análise em laboratório seguindo a métodos descritos no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 1998). RESULTADOS E DISCUSSÃO Através da avaliação das variáveis físicas e químicas analisadas, para as águas subterrâneas dividiu-se os resultados em zona rural e zona urbana, como demonstrado nas Tabelas 5 e 6. Os valores destacados referem-se aos resultados obtidos acima do permitido conforme a Portaria N° 518/2004 e conforme Resolução N° 357/2005 do CONAMA. Tabela 3. Resultados obtidos para poços localizados na zona urbana. Poço N° 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 pH 8,36 7,44 9,37 9,18 9,26 5,40 6,29 6,58 7,92 7,85 7,92 8,71 7,18 10,24 9,54 8,22 4,73 10,24 10,31 7,35 8,03 10,19 6,48 7,97 7,45 7,18 7,53 8,25 6,90 8,58 7,54 8,62 7,72 7,29 7,90 10,29 7,11 6,47 6,88 6,83 6,56 8,21 6,59 7,23 7,66 6,58 7,33 7,46 8,27 10,81 Nitrato (mg/L) 3,171 0,297 6,214 1,429 5,918 8,513 0,371 6,898 1,411 1,933 0,516 0,378 1,189 0,371 0,449 5,716 10,238 3,385 0,548 0,096 0,426 1,119 1,698 2,109 2,135 0,559 0,912 3,065 2,123 2,832 1,383 2,025 0,219 0,392 1,154 0,442 1,111 0,272 4,200 4,267 0,184 1,104 0,523 3,425 3,795 6,600 5,800 1,358 2,977 0,212 Nitrito (mg/L) 0,000 0,001 0,002 0,000 0,006 0,003 0,001 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,001 0,000 0,000 0,001 0,001 0,001 0,002 0,001 0,001 0,001 0,002 0,196 0,002 0,004 0,002 0,000 0,001 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,002 0,001 0,003 0,003 0,001 0,004 0,000 Amônia (mg/L) 0,160 0,060 0,110 0,120 0,140 0,100 0,030 0,030 0,030 0,060 0,050 0,090 0,040 0,000 0,003 0,050 0,170 0,120 0,050 0,080 0,000 0,110 0,190 0,150 0,090 0,100 0,110 0,100 0,000 0,140 0,120 0,070 0,050 0,000 0,050 0,010 0,250 0,010 0,030 0,020 0,000 0,030 0,040 0,030 0,260 0,010 0,010 0,030 0,070 0,000 Fósforo (mg/L) 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,062 0,000 0,000 0,158 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,850 0,000 0,158 0,000 0,081 0,000 0,000 0,800 0,090 0,081 0,081 0,010 Turbidez (NTU) 0,58 1,42 0,00 0,00 0,39 1,16 0,39 0,00 0,19 0,00 0,64 0,13 1,87 0,06 0,45 0,19 0,02 0,19 0,06 0,00 0,97 0,38 0,32 0,56 0,06 0,79 0,00 0,00 0,06 0,19 1,03 0,39 0,71 0,06 0,06 0,00 0,03 0,00 0,19 0,26 1,35 0,19 0,52 0,70 0,64 12,00 3,22 0,19 0,26 0,06 Cond.Elét 251,0 109,0 218,0 156,9 222,0 92,2 46,1 161,4 117,3 175,0 127,1 103,5 29,1 135,9 98,6 188,0 98,2 203,0 151,6 39,9 114,6 168,0 76,8 221,0 147,1 98,9 170,0 261,0 120,0 239,0 138,5 205,0 37,7 98,7 144,0 215,0 107,7 56,2 149,3 140,5 62,5 112,7 113,8 135,4 160,2 187,4 112,8 177,1 259,0 190,0 °C 19,0 21,4 22,8 22,1 21,0 20,3 21,1 23,3 21,4 24,3 22,1 20,6 21,9 22,9 23,5 21,2 21,5 21,3 20,3 22,1 19,5 19,1 20,0 21,4 21,1 21,4 20,7 18,8 21,1 22,3 21,2 19,0 19,8 22,1 21,5 22,0 20,0 21,1 18,6 19,4 18,3 19,3 19,3 21,6 21,8 18,5 19,4 19,8 20,4 20,9 Tabela 3. Caracterização dos pontos e rios amostrados entre 2005 e 2006. ZU: Zona urbana; ZR: Zona rural. *Classificado de acordo com Hannaford et al. (1997). Poço N° 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 pH 7,85 8,03 10,09 7,33 7,29 6,02 7,83 6,85 7,43 6,73 6,94 7,76 8,58 8,82 8,89 7,76 7,24 7,65 9,49 7,02 7,05 7,63 9,99 8,70 7,71 8,25 8,01 10,61 9,66 7,92 6,92 9,57 7,10 7,13 7,68 6,08 7,87 10,11 10,42 8,23 7,66 8,13 7,02 6,35 7,13 6,66 7,20 5,05 6,26 6,81 Nitrato (mg/L) 2,790 1,126 1,647 2,497 0,022 0,720 6,910 6,807 0,639 2,098 1,841 2,204 0,579 0,362 0,355 2,077 0,050 3,603 0,369 1,969 1,963 7,175 0,191 0,308 5,728 0,184 0,283 0,226 0,163 1,048 0,205 6,743 0,174 0,163 0,258 0,614 1,207 0,128 0,417 3,862 0,925 0,216 0,293 0,142 3,040 7,412 1,999 10,289 0,266 2,915 Nitrito (mg/L) Amônia (mg/L) Fósforo (mg/L) Turbidez (NTU) Cond.Elét (mS/cm) 0,002 0,000 0,062 0,13 120,7 0,000 0,050 0,000 0,00 124,3 0,001 0,110 0,000 0,00 156,2 0,008 0,080 0,000 3,80 122,9 0,000 0,080 0,235 0,19 93,2 0,003 0,170 0,427 5,92 39,7 0,003 0,110 0,177 0,32 417,0 0,001 0,040 0,254 0,19 153,3 0,015 0,140 0,581 4,31 106,4 0,001 0,030 0,000 0,00 105,1 0,001 0,040 0,000 0,03 128,4 0,000 0,080 0,000 0,13 105,5 0,000 0,130 0,000 0,36 112,9 0,000 0,000 0,000 0,00 124,8 0,001 0,080 0,000 0,47 122,5 0,002 0,060 0,000 0,00 139,3 0,001 1,510 0,032 73,84 155,8 0,001 0,030 0,000 0,37 161,6 0,004 1,530 0,000 23,35 44,3 0,000 0,150 0,000 0,00 86,4 0,003 0,140 0,000 0,00 86,4 0,005 0,160 0,000 4,06 106,7 0,000 0,000 0,000 0,19 191,0 0,000 0,060 0,000 3,22 151,0 0,000 0,130 0,000 0,03 157,5 0,000 0,050 0,000 0,19 171,5 0,000 0,000 0,000 0,06 114,2 0,001 0,000 0,000 0,19 179,8 0,000 0,020 0,158 0,32 89,8 0,000 0,000 0,062 0,77 124,1 0,001 0,000 0,081 2,83 34,6 0,008 0,008 0,004 0,26 297,0 0,000 0,120 0,062 0,64 58,6 0,000 0,020 0,000 1,67 59,1 0,000 0,090 0,062 0,52 122,9 0,000 0,000 0,000 0,00 29,1 0,000 0,010 0,158 0,06 104,1 0,003 0,070 0,235 7,47 97,5 0,000 0,040 0,000 0,19 146,8 0,000 0,070 0,000 0,19 156,9 0,000 0,000 0,000 1,61 48,2 0,002 0,060 0,000 0,64 85,6 0,000 0,040 0,000 0,58 40,6 0,000 0,000 0,000 2,06 41,6 0,000 0,020 0,000 0,25 112,2 0,001 0,110 0,000 0,00 191,0 0,001 0,000 0,254 0,00 261,0 0,001 2,350 0,000 0,58 460,0 0,000 0,140 0,000 0,00 44,0 0,002 0,120 0,000 0,26 127,1 T°C 22,6 19,4 21,2 20,7 21,2 20,7 20,6 21,5 21,0 22,1 21,6 21,6 19,9 19,5 21,4 21,3 20,4 21,7 20,0 20,3 19,4 22,0 21,7 22,8 21,8 22,8 21,5 21,5 22,1 22,1 22,5 19,6 17,5 19,6 21,9 22,1 23,5 21,9 19,4 22,0 23,1 21,0 21,8 19,9 19,7 19,6 19,4 21,0 21,6 22,1 Considerações Finais A contaminação das águas dos poços na zona urbana tem origem na ação antrópica, especialmente, a ausência de tratamento de esgoto, pois a maioria das residências possuem fossas negras e sépticas, isso aliado ao mal dimensionamento e manutenção dos poços colaboram para a poluição das águas subterrâneas. Tanto para a zona urbana quanto a rural a construção civil dos poços tubulares profundos, em muitos casos ocorre com a utilização de materiais com qualidade inferior para diminuição do valor final da construção, desta forma futuros problemas de infiltração nos mesmos, devido a oxidação de tubos utilizados para a construção do selo sanitário, falta de cimentação do espaço anular entre o contato do basalto com o revestimento, ou até mesmo zonas de basalto fraturado com falta de revestimento lateral, ocasiona a infiltração das águas superficiais contaminadas no lençol freático. Para a zona rural um dos grandes problemas enfrentados é a questão do manejo com defensivos agrícolas utilizados na agricultura sem o devido cuidado e dosagem correta, desta forma o excesso muitas vezes é levado pela água das chuvas atingindo mananciais superficiais, rios e córregos que muitas vezes se infiltram no solo e atingem os lençóis freáticos que abastecem os poços, colaborando para a degradação da qualidade das águas subterrâneas. Ministério da Ciência e Tecnologia CTHidro