A BIOGEOGRAFIA DE POPULAÇÕES DE LEVEDURAS FERMENTATIVAS DAS VINHAS DO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES J. Drumonde-Neves a, b, M. T. Lima a, D. Schuller b (a) Centro de Investigação de Tecnologias Agrárias – Departamento de Ciências Agrárias, Universidade dos Açores. (b) Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA), Universidade do Minho, Braga Os objectivos deste estudo são a avaliação da biodiversidade e caracterização da flora de leveduras fermentativas das vinhas dos Açores, e a construção de uma colecção de estirpes de Saccharomyces cerevisiae. Nas vindimas de 2009 e 2010 colheram-se 163 (88 e 75) amostras de uvas de castas tradicionais dos Açores (Arinto, Verdelho e Terrantez) e de castas híbridas em oito ilhas do arquipélago. A amostragem abrangeu 36 localizações, incluindo vinhas em zonas demarcadas e vinhas abandonadas. Verificaram-se 95 (49 e 46 em 2009 e 2010, respectivamente) fermentações espontâneas. Em 2009 cerca de 83% dos mostos obtidos a partir de castas tradicionais concluíram a fermentação, enquanto este valor foi de 47% e 33% para as amostras de castas híbridas nas vinhas em produção e vinhas abandonadas, respectivamente. Em 2010 aqueles valores foram de 62%, 67% e 47%, respectivamente. Da fase inicial da fermentação, foram obtidos 4890 isolados (2640 e 2250 em 2009 e 2010, respectivamente), pertencentes a mais de 20 espécies, sendo Hanseniaspora uvarum, Issatchenkia terricola, Candida zemplinina, Metschnikowia pulcherrima, Zygoascus meyera e Hanseniaspora opuntiae as mais representativas. Da fase final das fermentações obteve-se um total de 2850 isolados (1470 e 1380 em 2009 e 2010, respectivamente). A identificação das espécies foi realizada pela análise de polimorfismos de fragmentos de restrição de sequências ITS. A diferenciação de estirpes de S. cerevisiae foi efectuada pela comparação de perfis polimórficos obtidos por amplificação de sequências inter-delta. Das amostras colhidas em 2009, identificaram-se 660 isolados de espécies não-Saccharomyces e 810 isolados de S. cerevisiae, que foram classificados em 168 estirpes. Surpreendentemente, a percentagem de S. cerevisiae em fermentações de mostos obtidos em vinhas abandonadas (75%) foi superior aos valores obtidos em vinhas em produção (56%, tanto em castas tradicionais como em castas híbridas). Pelo contrário, o número de estirpes de S. cerrevisiae por fermentação nas amostras colhidas em vinhas abandonadas (3-11) foi inferior ao obtido em vinhas em produção (1-23). A proporção relativa de isolados pertencentes às espécies S. cerevisiae e não-Saccharomyces não dependeu da casta, mas do tipo de vinha. O maior número de estirpes de S. cerevisiae por fermentação foi obtido nas amostras colhidas na Ilha Graciosa. Estes resultados demonstram a elevada diversidade genética de S. cerevisiae nas vinhas dos Açores, mesmo em vinhas abandonadas e sem intervenção humana. Este trabalho foi financeiramente suportado pela DRCT, pelo programa PTDC (AGRALI/103392/2008) e pelo Sétimo Programa-Quadro (FP7/2007-2013) da União Europeia sob o contrato nº 232454. Agradecemos o apoio dos Serviços de Desenvolvimento Agrário do Faial, Graciosa, Pico, São Jorge, Santa Maria e São Miguel, e a diversos viticultores.