CAPÍTULO IV
Vamos agora ao ponto fulcral da teoria do comércio internacional. Sob o ponto de
vista teórico vamos analisar a contribuição da teoria do comércio internacional para a
teoria do equilíbrio geral; sob o ponto de vista de política vamos analisar a
controvérsia entre comércio livre e proteccionismo.
Continuando a análise dos capítulos II e III, vamos considerar que uma mudança nos
preços relativos dos produtos causará uma mudança em outras variáveis, tais como os
salários pagos. Ou melhor, a abertura ao comércio internacional e as consequentes
mudanças nos preços relativos dos produtos provoca uma alteração na distribuição
do rendimento de um país. E, claro, cada política que altere a distribuição do
rendimento num país terá adeptos e inimigos.
PREÇOS DO PRODUTO E PREÇOS DOS FACTORES
O TEOREMA DE STOLPER-SAMUELSON
Como vimos os ganhos do comércio internacional resultam da especialização
produtiva com base nas vantagens comparativas. Também vimos que a troca, a qual
resulta em combinações diferentes dos dois bens, implica que se altera a procura
relativa dos dois factores de produção. Por exemplo, se se deixar de produzir algum
aço cuja produção é capital intensiva, para passar a produzir mais têxteis, cuja
produção é mais trabalho intensiva, aumenta a procura pelo factor trabalho e diminui
a procura pelo factor capital. Dadas as quantidades fixas de ambos factores, isto
provoca uma subida na taxa de salário w e uma descida no preço de aluguer de
capital, r.
De acordo com as hipóteses subjacentes ao modelo de Heckscher-Ohlin, cada país
aumenta a produção do bem em se especializa, ou seja, do bem que utiliza de
forma intensiva o factor que possui em abundância. Isto também implica que nesse
país baixa a produção do bem que utiliza de forma intensiva o factor que possui
em escassez.
Logo, sobe o preço do factor que o país possui em abundância e desce o preço do
factor em que é escasso. Admitamos, por exemplo, que o país A é abundante no
factor trabalho e que o bem X é trabalho intensivo (pelo que o bem Y é capital
intensivo). O aumento na produção do bem X eleva o salário, w. A resultante
diminuição na produção do bem Y (pois os recursos são escassos) faz baixar a
taxa de aluguer do capital r. A diminuição na produção do bem Y liberta pouco
trabalho para a produção de mais X, pois trata-se de uma indústria capital
intensiva. Todos estes efeitos aparecem na Figura 4.1. Esta Figura ilustra no painel
(a) os efeitos do comércio sobre a procura de trabalho no país A, e no painel (b) os
efeitos do comércio sobre a procura de capital no mesmo país. Assim, no painel (a),
quando começa o comércio, o aumento na produção do bem X provoca um
aumento na procura de trabalho, de DAL0 para DAL1. No mesmo painel a
diminuição na produção do bem YA (libertando algum trabalho para a produção
de X, o que permite anular parcialmente os efeitos do aumento na procura de
1
trabalho através de um aumento na oferta de trabalho), faz com que a procura
por L aumente só até DAL2. A curva de oferta dos factores vertical, traduz o facto
da sua quantidade ser fixa. Logo, o comércio fez subir o salário no país A, apenas
de wA0 para wA2.
Os efeitos sobre o factor capital aparecem ilustrados no painel (b). A diminuição na
produção do bem YA, provocada pela abertura ao comércio, provoca uma diminuição
na procura de capital, de DAK0 para DAK1. A produção do bem X aumentou, como
vimos. Mas, dado tratar-se de um bem trabalho intensivo, só absorve uma pequena
fatia de capital libertado pela diminuição na produção do bem Y (essa diminuição
liberta mais capital do que é necessário para a produção de mais X, o que
permite anular completamente os efeitos do aumento na procura de capital
através de um aumento mais do que proporcional na oferta de capital). Assim, a
procura de capital no final só baixa até DK2, para poder absorver o aumento na oferta
de capital. Isto faz com que a taxa de aluguer do capital de equilíbrio baixe no
país A apenas de rA0 para rA2.
Portanto, as mudanças na composição do produto, introduzidas pelo comércio
internacional, fizeram mudar o preço relativo do factor trabalho em equilíbrio,
de (wA0/rA0) para (wA2/rA2), elevando-o. Este resultado significa que se deu uma
redistribuição do rendimento a favor do factor trabalho, que é o factor
abundante, à custa do outro factor escasso, que é o capital.
Esta mudança nos preços relativos dos factores reflecte-se na mudança dos preços
relativos do produto. Se se produz mais X e se exporta mais desse bem, sobe o seu
preço. Se se produz menos Y e se importamos mais desse bem (onde ele é produzido
de modo relativamente mais barato), desce o seu preço. Portanto, (pX/pY ) sobe.
Para além do que concluímos, ainda podemos afirmar que o preço de cada factor, o
qual muda na mesma direcção do preço do produto que o utiliza de forma intensiva,
muda mais do que proporcionalmente ao preço do produto.
Se o preço do bem capital intensivo (Y=YA+YB) não mudar enquanto o preço do
bem trabalho intensivo (X=XA+XB) sobe, o preço do factor capital deve descer. Isto
porque, em condições de concorrência perfeita, o preço de um bem tem de ser igual
ao seu custo marginal. Se tivermos dois factores, K ( com K= KXA XA+KYA YA + KXB
XB+KYB YB) e L ( com L= LXA XA+LYA YA + LXB XB+LYB YB), podemos escrever
esta condição de concorrência perfeita, como:
pX X = aLX w X + aKX r X ⇒ receita total com a produção de X = custo total com a
produção de X, ou seja, RT=CT ⇒ Π X = 0 (condição de equilíbrio em mercado de
concorrência perfeita)
Em termos marginais esta condição fica no caso do bem X:
∆ (px X) / ∆X = ∆(aLX w X) / ∆X + ∆(aKX r X) / ∆X ⇒ receita marginal = custo
marginal
2
Ou seja:
px (∆X/ ∆X) = aLX w (∆X/ ∆X ) + aKX r (∆X/ ∆X ) ⇒
px = aLX w + aKX r
No caso do bem Y, teríamos:
pY = aLY w + aKY r
A expressão para pY mostra que se pY não mudar quando sobe w (esta subida é
provocada pela subida em pX), então r tem de descer. No entanto, sabemos que no
ponto de óptimo se verifica a igualdade w/r=pX/pY (reparemos que pX/pY sobe).
Consequentemente, para w/r poder subir tanto como pX/pY com r a descer, é
porque o w tem de subir mais do que proporcionalmente do que px. Assim, os
preços relativos do produto mudaram subindo pX e mantendo-se pY e, como resultado,
o w subiu mais do que o proporcionalmente em relação à subida no pX, enquanto que
r baixou mais do que proporcionalmente à descida do pY, o qual desceu zero, ou seja,
não desceu.
Este efeito de ampliação das mudanças nos preços relativos do produto nas
mudanças dos preços relativos dos factores é muito útil para avaliarmos os efeitos das
políticas do comércio internacional. Admitamos que o país A, que é trabalho
intensivo, se abre ao comércio. Isto faz subir tanto o pX, como w, e faz descer pY e r.
Agora suponha que você é um trabalhador do país A. Por um lado ganha mais e,
por outro lado, passa a ter de pagar um preço mais elevado pelo bem X.
Pergunta: Será que você fica melhor, ou seja, consegue aumentar o seu consumo
do bem X, sem baixar o consumo do bem Y? Isto equivale a perguntar: Será que o
seu poder de compra do bem X aumentou?
Resposta: A resposta é afirmativa, mesmo se o aumento no seu rendimento for
todo gasto na aquisição de maior quantidade de X. Isto porque o seu salário, de
acordo com o efeito ampliação, aumentou mais do que o pX.
Mas se, pelo contrário, você for um capitalista no país A, o preço de aluguer do
capital que você recebe, baixou. No entanto o preço do bem Y também baixou.
Pergunta: Será que baixou o seu poder de compra?
Resposta: A resposta é afirmativa, mesmo que você gastasse todo o seu
rendimento na compra do bem mais barato Y, de acordo com o efeito ampliação,
o preço de aluguer do capital que você recebe baixou, proporcionalmente mais
do que o preço do bem Y, que no nosso exemplo não baixou nada. Estamos em
condições de enunciar o chamado teorema de Stolper-Samuelson que diz:
Nas condições estabelecidas no caso do nosso modelo uma mudança no preço de
um bem provoca uma mudança mais do que proporcional, e de igual sentido, no
preço do factor que é utilizado intensivamente na produção desse bem.
3
Se adicionarmos as hipóteses do teorema de Hecksher-Ohlin podemos afirmar
que, quando um país se abre ao comércio internacional sobe o preço do factor
que possui em abundância (pois sobe a procura por esse factor), mas sobe mais
do que o preço do produto que o usa de forma intensiva. Isto porque esse país
especializa-se na produção do bem que utiliza de forma intensiva o factor que possui
em abundância, de acordo com o princípio das vantagens comparativas de HecksherOhlin.
Ou melhor, a mudança no preço de um bem que usa intensivamente o factor que
o país detém em abundância provoca uma mudança (subida) mais do que
proporcional no preço desse factor.
Portanto, a abertura ao comércio internacional e a consequente especialização vai
provocar uma subida do preço do factor em abundância, pelo que os detentores desse
factor apoiam essa abertura; mas também vai descer o preço do factor escasso, pelo
que os detentores desse factor estão contra a abertura.
Contudo, o país, no seu todo, i.e., não distinguindo trabalhadores e capitalistas,
melhora, pois aumenta o produto total e logo as possibilidades de consumo.
Então, se houvesse maneira de fazer com que os residentes que melhorassem de
situação compensassem os outros, sem, com isso, piorarem de situação, estaríamos
perante uma situação em que ninguém perdia com o comércio, ou seja, em que o total
dos residentes no país beneficiava.
Só que é difícil de implementar esse esquema de compensação, garantindo uma
redistribuição do rendimento, pelo que continuam a existir teses contra o
comércio, as quais só podem desaparecer através de medidas apropriadas de
redistribuição do rendimento.
O COMÉRCIO E OS PREÇOS DOS FACTORES:
O TEOREMA DA IGUALIZAÇÃO DOS PREÇOS DOS FACTORES
Sabemos como é que os preços relativos dos produtos tendem a tornar-se iguais
entre países, com a abertura ao comércio. Agora, queremos saber se os preços dos
factores, também tendem a tornar-se iguais entre os países?
Se existisse mobilidade perfeita1 dos factores entre os países, então, de certeza que
os seus preços se tornariam iguais. O trabalho deslocar-se-ia do país com salários
mais baixos para o país com salários mais elevados, até que: a diminuição na oferta
de trabalho nesse país de salários mais baixos, elevasse os seus salários e o
aumento na oferta no país com salários mais elevados, baixasse os seus salários.
Este processo termina quando acaba o excesso de procura no país de salários
1
mobilidade física, no sentido de deslocação sem impedimentos e técnico/económica, no sentido de
perfeita substitutabilidade entre factores nos processos produtivos.
4
mais baixos, e o excesso de oferta, no outro país. O mesmo sucederia em relação
à taxa de aluguer do capital, r.
No entanto nós admitimos que entre os países não existia mobilidade nem do
trabalho, nem do capital. Essa falta de mobilidade é o equivalente, sob o ponto de
vista económico, à existência de fronteiras, sob o ponto de vista político.
Na realidade observamos que apesar dos factores não terem mobilidade absoluta entre
países, também não têm mobilidade zero. Outro aspecto observado é que os factores
têm muito maior mobilidade dentro de um país do que entre países, pelo que os
preços relativos dos factores tendem a igualar-se mais rapidamente entre indústrias
dentro do mesmo país do que entre países. Isto porque as barreiras à mobilidade, tais
como, a língua, a religião, a raça, a cultura, os controles sobre a emigração e sobre os
movimentos de capital, tendem a ser maiores entre países, do que no interior do
mesmo país.
Quando se inicia o comércio devido à especialização produtiva, o preço do factor
que o país A possui em abundância (L), eleva-se no país A, onde ele era
inicialmente mais baixo (repare-se que ele sobe, e ele era relativamente baixo em
autarcia no país A) e o preço do factor em que o país A é escasso (K) desce nesse
próprio país, onde ele era inicialmente mais alto (ele baixa, e ele era relativamente
alto em autarcia no país A). Dá-se o mesmo ajustamento, mas em sentido
contrário, no outro país, B. Tudo isto se escreve sob o ponto de vista matemático
do seguinte modo: (wA↑/rA↓)↑ e (wB↓/rB↑)↓.
No final, mesmo quando não existe mobilidade dos factores entre os países, o
comércio tende a tornar os preços relativos dos factores iguais entre os países.
Este resultado é conhecido pelo nome de Teorema da Equalização dos Preços dos
Factores de Samuelson.
Não vamos apresentar a prova deste teorema por ser complexa e de nível mais
avançado do que o presente curso, mas vamos dar uma idéia da sua lógica e da sua
importância.
Até aqui vimos o ajustamento dos preços dos factores entre países. Um modo
alternativo de analisar a equalização dos preços dos factores devida ao comércio é
fazê-lo sob o ponto de vista do ajustamento de uma firma quando ela entra nas
trocas.
Suponhamos que, ao aumentar a produção do bem que usa intensivamente o factor
que o país detém em abundância, em troca da produção do outro bem, a produção de
cada bem continua a utilizar os mesmos coeficientes de produção em cada país.
Como em cada país, aumenta mais a produção do bem que usa intensivamente o
factor abundante nesse país, do que diminui a produção do bem que usa
intensivamente o factor escasso, o comércio aumenta o produto total em ambos os
países - (∆XA↑ e ∆YA↓) ⇒ (∆X+∆Y) A↑, ou, (∆XB↓ e ∆YB↑) ⇒ (∆X+∆Y)B↑. Logo,
em cada país, dar-se-ia um aumento mais do que proporcional na quantidade usada do
factor abundante por cada unidade adicional de produto que o utiliza de forma
intensiva, (aumenta mais a procura do factor abundante do que o aumento na
quantidade do produto que o usa intensivamente) e uma diminuição menos do que
5
proporcional na quantidade total usada do mesmo factor abundante por cada unidade a
menos de produto que o utiliza de forma pouco intensiva. Isto sucede em cada país
se após entrarem no comércio não mudarem as proporções de produto, ou seja,
os coeficientes técnicos. Mas aqueles factores existem em dotações fixas em cada
país e, logo, as proporções de produto (ou seja, os coeficientes técnicos), têm de
mudar, em ambos os países, pois:
LA = LAx + LAY
KA = KAx + KAY
(1)
LB = LBx + LBY
KB = KBx + KBY
Portanto, não é possível que em cada país se produzam combinações diferentes
dos produtos X e Y, aumentando o produto total depois do comércio, se
utilizarmos as mesmas técnicas de produção do que em autarcia, ou seja, os
mesmos rácios capital/trabalho (pois não existem quantidades totais dos dois
factores suficientes para satisfazer os aumentos nas procuras totais de ambos os
factores em ambos os países). É que, por exemplo, ao diminuir a produção de YA
(bem capital intensivo) no país A, país que se especializa na produção de XA, libertase pouca quantidade de trabalho em relação à que é necessária para produzir mais
uma unidade de XA caso aLX se mantenha inalterado (ou seja, caso a quantidade de
trabalho necessária por unidade de XA se mantenha constante). E, caso aKX também
se mantenha constante, liberta-se mais quantidade de capital da que é necessária
para produzir mais de XA. Então, temos de diminuir o aumento (aumentar menos)
da quantidade de trabalho necessário para a produção de XA e diminuir a diminuição
(diminuir menos) a quantidade de capital na produção de YA, para ajustar as
quantidades libertas de L e K da produção de menos de YA, às necessidades
correspondentes de mais L e K para a produção de mais de XA. Isto de modo a que o
aumento em LXA seja igual à diminuição em LYA, i.e., mantendo constantes as
proporções de LXA e de LYA no produto total (logo, mantendo igual o produto total,
XA+YA). Podemos ilustrar este resultado através da equação (1). Analisemos o caso
do país A, pois o caso do país B é idêntico. No caso deste país A, admitindo que os
coeficientes técnicos se mantém constantes, temos as seguintes equações:
LA = LAx + LAY e, KA = KAx + KaY ⇒ LA=LAx (XA/ XA) + LAY (XA/
XA) e, KA = KAx (XA/ XA) + KaY (XA/ XA) ⇒ LA = aLX XA + aLY YA e,
KA = aKX XA + aKY YA
Em termos de variações e dado que as quantidades totais existentes de ambos os
factores são fixas, temos que:
6
A
∆LA = aLX ∆XA + aLY ∆YA e, ∆ K =
aKX ∆XA + aKY ∆YA ⇒
⇒ 0= aLX ∆XA + aLY ∆YA e, do mesmo
modo se obtém que:
¼ + ∆XA = - ∆YA . ¼ o produto total
não mudou, nem as suas proporções
(pois
os
coefecientes
técnicos
mantiveram-se)
0 = aKX ∆XA + aKY ∆YA ⇒
Então, para que o produto total se altere, têm de mudar os coeficientes técnicos:
aLX ∆XA + aLY ∆YA = aKX ∆XA + aKY ∆YA ⇒ aLX - ∆YA + aLY∆YA = aKX - ∆YA+
aKY ∆YA ⇒ ∆YA (aLY - aLX) = ∆YA (aKY - aKX) ⇒ (aLY - aLX) =(aKY - aKX)⇒ (aLY-aKY)
= (aLX+aKX) ⇒ (aLY/aKY) -1 = 1- (aKX/aLX) ⇒ (aLY/aKY) = 2- (aKX/aLX) ⇒ (aLY/aKY) ≠
(aKX/aLX) ¼ mudaram os coeficientes técnicos
Consideremos o caso em que o país A, que é abundante em trabalho, se abre ao
comércio, especializando-se na produção do bem trabalho intensivo X. Através da
Figura 4.2 podemos ver que a produção de uma unidade adicional de X exige uma
grande quantidade de trabalho e pouco de capital.
Mas para produzir essa unidade adicional de X, o país A tem de produzir uma unidade
a menos de Y, que liberta pouca quantidade de trabalho e, grande quantidade de
capital (trata-se de um bem capital intensivo).
Assim, quando o país A se abre ao comércio internacional, com os mesmos
coeficientes de produção, passa a haver um excesso de oferta de capital (capital
liberto de YA e não completamente absorvido por XA), e excesso de procura de
trabalho (trabalho absorvido por XA e liberto em quantidade insuficiente de YA).
O equilíbrio restaura-se através da consequente mudança nos preços relativos
dos factores, (dada a sua mobilidade entre indústrias do mesmo país). O capital
torna-se mais barato (excesso de oferta), i.e., r A↓; o trabalho torna-se mais caro
(excesso de procura), i.e., wA↑ e , logo, (wA/ rA)↑. Isto é, o capital torna-se
relativamente mais barato e, o trabalho torna-se relativamente mais caro, pelo
que: (w↑/r↓)A↑e, (r↓/w↑)A↓, no país A. Isto faz com que as firmas produtoras do
bem YA queiram vender menos (reter e usar mais) capital (r/w) A↓ e vender mais
trabalho, ou seja, usar menos trabalho (tornam-se mais capital intensivas). Ao
mesmo tempo faz com que as firmas produtoras do bem XA queiram comprar
mais capital e absorver menos trabalho (se tornem mais capital intensivas). O
resultado é uma mudança imediata nas técnicas de produção, ou seja, nos
coeficientes de produção, ficando, neste caso, ambas as firmas mais capital
intensivas no país A.
Façamos a mesma análise para o país B!
7
Quando este país entra no comércio internacional ele especializa-se na produção do
bem YB (capital intensivo). Assim ele vai aumentar a produção de YB e diminuir a
produção de XB. Mas isso faz com que se liberte uma grande quantidade relativa de
trabalho e pouca quantidade relativa de capital. Nesse país passa a haver um excesso
de procura de capital (capital absorvido por YB e liberto em quantidade
insuficiente de XB) e um excesso de oferta de trabalho (trabalho liberto de XB e
não completamente absorvido por YB), dados os mesmos coeficientes de
produção. Nestas circunstâncias, o equilíbrio restabelece-se quando, como resultado,
o preço do capital se eleva, r B↑, e o preço do trabalho baixa, w B↓. Então, o capital
torna-se relativamente mais caro e, o trabalho torna-se relativamente mais
barato, i.e., (wB↓/rB↑)↓, ou (rB↑/wB↓)↑.2 Isto3 faz com que as firmas produtoras do
bem YB queiram comprar menos capital (usar menos capital) e vender menos
trabalho, ou seja, usar mais trabalho (diminuindo o seu rácio K/L), ou seja,
tornando-se menos capital intensivas. Ao mesmo tempo faz com que as firmas
produtoras do bem XB queiram vender mais capital e vender menos (usar mais)
trabalho (diminuindo o seu rácio K/L), ou seja, tornando-se menos capital
intensivas. Portanto, no país B, como o trabalho se torna relativamente mais barato
do que o capital, isto faz com que as firmas produtoras do bem YB queiram usar
proporcionalmente mais trabalho e menos capital e com que as firmas
produtoras do bem XB queiram usar proporcionalmente menos trabalho e mais
capital.
O resultado é que mudam as técnicas de produção, ou seja, os coeficientes de
produção ficando, neste caso, ambas as firmas menos capital intensivas no país
B, ou seja, ficando ambas mais trabalho intensivas no país B.
Vamos explicar tudo isto mais em detalhe!
O trabalho, apesar de abundante, é limitado no país A. Para especializar-se e
produzir mais do bem X que é trabalho intensivo, o país A tem de adaptar as suas
técnicas de produção, ou seja, ajustar os seus coeficientes de produção, indo parar
para outro ponto da isoquanta4. Assim, tem de mudar a combinação dos factores
produtivos utilizados e, logo, os rácios dos factores. Isto consegue-se com uma
alteração dos preços relativos dos factores. Mas como é que esta se dá?
Ela é o resultado dos excessos de procura e oferta de factores no país A, que
surgam quando se dá a sua especialização produtiva, na hipótese de imobilidade
dos factores entre países.
Para produzir mais do bem XA o país A tem de fazer com que a produção de cada
unidade adicional de XA seja menos trabalho intensiva do que a anterior (ou seja,
tornar o bem XA cada vez menos trabalho intensivo-para manter a despesa). Isto
equivale a baixar aLX (ou seja, a aumentar a produtividade do trabalho na produção de
XA, a qual é dada por 1/aLX). Só assim haverá trabalho suficiente para aumentar a
produção de XA, pois o trabalho liberto pela diminuição na produção de YA (que é
2
Notemos que um seta mais comprida, por exemplo, ↑ ,indica um movimento maior e uma seta mais
curta, por exemplo, ↑, indica um movimento menor.
3
Notemos que (wA/rA)/, sobe, onde ele era relativamente baixo no país A em autarcia; (wB/rB)/, desce,
onde ele era relativamente alto no país B em autarcia
4
Notemos que neste novo ponto as combinações produzidas de XA e YA são diferentes.
8
capital intensivo, ou seja, utiliza pouco trabalho relativamente ao capital ⇒ rácio K/L
elevado) é menor do que o trabalho adicional necessário para a produção de mais
uma unidade de XA. Portanto, como se disse, isto só se consegue mudando a técnica
de produção do bem XA, de modo a tornar o trabalho relativamente mais produtivo.
Ou melhor, de modo a utilizar não só menos trabalho (que passa a ser mais bem pago
do que em autarcia, i.e., wA ↑), como mais capital (que passa a ser menos bem pago
do que em autarcia, i.e., rA↓) por cada unidade adicional do bem trabalho intensivo,
XA. Isto num mundo em que os dois factores são substitutos entre si. Concluindo,
diminui a intensidade de trabalho na produção de XA, ou seja, aumenta o rácio
(K/L)XA. O mesmo será dizer que o trabalho se tornou relativamente mais escasso
(ficou mais caro) no país onde ele era abundante e o capital relativamente mais
abundante (ficou mais barato) no país onde ele era escasso.
Por sua vez a indústria produtora do bem YA, com a descida no preço do capital,
rA, e a subida em wA, cada vez liberta menos (usa mais) quantidade de capital e mais
(usa menos) quantidade de trabalho (absorvido pelo aumento em XA). Então, cada vez
diminui mais a procura adicional de trabalho pela firma produtora de XA, que
beneficia das maiores quantidades de trabalho agora libertas por YA, e aumenta
menos a oferta adicional de capital pela firma produtora de YA. Como havia
excesso de procura de trabalho quando o país A começou a sua especialização
produtiva e excesso de oferta de capital, este ajustamento nos preços dos factores
permite acabar com este excessos e restabelecer o equilíbrio no país A, através de
um rácio (K/L↓)YA ⇒ (K/L)YA µ, mais elevado.
O resultado é que ambas as indústrias no país A se tornaram mais capital
intensivas.
Vejamos, de novo, e, mais em pormenor, o que se passa no país B!
O capital é abundante mas limitado no país B. Para especializar-se e produzir mais
do bem YB que é capital intensivo, o país B tem de adaptar as suas técnicas de
produção, ou seja, ajustar os seus coeficientes de produção, indo parar para outro
ponto da isoquanta. Assim, tem de mudar a combinação dos factores produtivos
utilizada. Isto é o resultado de uma alteração dos preços relativos dos factores. Mas
como é que esta se dá?
Ela é o resultado dos excessos de procura e oferta de factores no país B, que
aparecem quando se dá a sua especialização produtiva, na hipótese de
imobilidade dos factores entre países.
Para produzir mais do bem YB o país B tem de fazer com que a produção de cada
unidade adicional de YB seja menos capital intensiva do que a anterior (ou seja, tornar
o bem YB cada vez menos capital intensivo). Só assim haverá capital suficiente para
aumentar a produção de YB, pois o capital liberto pela diminuição na produção de XB,
(que é trabalho intensivo, ou seja, utiliza pouco capital relativamente ao trabalho ⇒
rácio K/L baixo) é menor do que o capital adicional necessário para a produção de
mais uma unidade de YB. Mas isto só se consegue mudando a técnica de produção do
bem YB de modo a tornar o capital relativamente mais produtivo. Ou melhor, de
modo a utilizar menos capital (que passa a ser relativamente mais bem pago do que
em autarcia, i.e., rB ↑), como mais trabalho, por cada unidade adicional de YB(o
trabalho passa a ser relativamente menos bem pago do que em autarcia, i.e., wB↓) - w
9
desce porque em autarcia era relativamente elevado no país B e, como este aumenta a
produção do bem X através de trabalho importado, aumentado a sua oferta a um w
mais baixo o efeito é baixar w no país B). Isto significa diminuir a intensidade de
capital na produção de YB, ou seja, diminuir o rácio (K/L).
Por sua vez a indústria produtora do bem XB, com a descida no preço do trabalho
w, cada vez está disposta a libertar menos quantidade de trabalho. Então, cada vez
aumenta menos a oferta adicional de trabalho e diminui mais a procura
adicional de capital. Como havia excesso de procura de capital quando o país B
começou a sua especialização produtiva e excesso de oferta de trabalho, este
ajustamento nos preços dos factores permite acabar com este excessos e restabelecer
o equilíbrio no país B através de um rácio (K↓/L)YB ⇒ (K/L)YB mais baixo.
O resultado é que ambas as indústrias no país B se tornaram menos capital
intensivas.
Com as trocas diminui a intensidade em trabalho no país A (menos trabalho ⇒
trabalho mais produtivo⇒ trabalho melhor remunerado), e diminui a intensidade
em capital no país B (menos capital⇒ capital mais produtivo⇒ capital melhor
remunerado). No país A a indústria X baixa a intensidade em trabalho, o que
aumenta a produtividade do trabalho (K/L eleva-se) e a indústria Y eleva a
intensidade em capital (K/L eleva-se). No país B a indústria Y baixa a intensidade
em capital, o que aumenta a produtividade do capital (K/L baixa) e a indústria X
eleva a intensidade em trabalho (K/L baixa)
O equilíbrio final estabelece-se no mesmo ponto K/L, correspondente a um rácio
(K/L)A mais elevado em ambas as indústrias no país A e a um rácio (K/L)B mais
baixo em ambas as indústrias no país B. Quer dizer o rácio K/L eleva-se no país A,
que é abundante em trabalho, e baixa no país B, que é abundante em capital. Isto de
modo a que, através das trocas se produza um ajustamento em equilíbrio final
caracterizado por um mesmo rácio K/L, correspondente ao mesmo ponto da
5
isoquanta, em ambas as indústrias de ambos os países .
Os gráficos de isoquantas na Figura 4.3, ilustram este ponto. Uma elevação em
(w/r)A, de (w/r)0A para (w/r)1A no país A e uma baixa em (w/r)B, de (w/r)0B para
(w/r)1B no país B, que provoca rotações das rectas de isocusto, de modo a aumentar o
valor absoluto da sua inclinação no país A, e a diminuir o valor absoluto da sua
inclinação no país B, faz com que as firmas produtoras dos bens X e Y no país A
passem a usar um rácio (K/L)X1 maior do que o rácio inicial em autarcia (K/L)X0.
Também faz com que as firmas produtoras dos bens X e Y no país B passem a usar
um rácio (K/L)X1 menor do que o rácio inicial em autarcia (K/L)X0. Este
ajustamento ocorre em ambas as indústrias e em ambos os países.
5
(KX/LX)A sobe no país A, onde em autarcia ele era baixo em relação ao bem Y no mesmo país e
ao bem X no outro país e, (KY/LY)A sobe no país A, onde em autarcia ele era baixo em relação ao
bem Y no outro país; (KX/LX)B desce no país B, onde em autarcia ele era alto em relação ao
bem X no outro país e, (KY/LY)B desce no país B, onde em autarcia ele era alto em relação ao
bem X no mesmo país e ao bem Y no outro país . Isto, até se tornarem iguais em ambas as
indústrias (no mesmo país) e em ambos os países (na mesma indústria). Este é o equilíbrio final
com comércio.
10
Mas porque é que o país A, abundante em trabalho, seria obrigado a utilizar um
rácio K/L mais elevado na produção de ambos os bens X e Y? Ou, porque é que o
país B, abundante em capital, seria obrigado a utilizar um rácio K/L mais baixo
na produção de ambos os bens X e Y?
A resposta já foi esquematizada anteriormente. Voltamos a expô-la resumidamente.
Quando o país inicia o comércio internacional especializa-se no produto que usa
intensivamente o factor que detém em abundância. Mas a dotação desse factor é fixa.
Para produzir maior quantidade do produto que usa o factor trabalho de forma
intensiva, é preciso que a produção de todas as unidade anteriormente produzidas
de ambos os produtos utilize menor quantidade do factor abundante em cada um
dos países. Só assim será possível continuar a dispor desse factor para distribuílo na produção de ambos os bens. As mudanças nos preços relativos dos factores,
ditadas pelo teorema da equalização dos preços, dão à firma um incentivo para
mudar as suas técnicas de produção.
Concluindo: no país A com a especialização produtiva no bem X, pX↑ e pY↓ →w ↑
mais do que pX e r ↓ menos do que pY. No país B, com a vantagem comparativa no
bem Y, ou seja, desvantagem comparativa no bem X, pX↓ e pY↑ →w ↓ e r ↑ mais do
que do que pY. Portanto, (w/r)A era relativamente baixo em autarcia → (w/r)A ↑ com
o comércio internacional → ambas as indústrias se tornam mais capital intensivas no
país A. Por seu lado, (w/r)B era relativamente alto em autarcia → (w/r)B ↓ com o
comércio internacional → ambas as indústrias se tornam menos capital intensivas
(mais trabalho intensivas) no país B.
UMA PERSPECTIVA ALTERNATIVA DA IGUALIZAÇÃO
DOS PREÇOS DOS FACTORES
Robert Mundell afirma que o comércio dos produtos serve de substituição para o
comércio dos factores. Por exemplo, quando um país abundante em trabalho exporta
uma unidade do bem trabalho intensivo, ele está, indirectamente, a exportar trabalho
(relativamente mais barato) para o país em que este factor é escasso (o qual compra-o
a um preço mais elevado do que era pago no mercado doméstico do país exportador).
Do mesmo modo, quando um país abundante em trabalho está a importar um bem
capital intensivo, indirectamente ele está a importar o factor capital (relativamente
mais barato) de um país onde ele é abundante (o qual vende-o a um preço mais caro
do que era pago, no mercado em autarcia no país exportador). É o mesmo do que se o
trabalho e o capital tivessem “mobilidade implícita” entre países e se “deslocassem
incorporados nos produtos” para os países onde fossem melhor remunerados. Daí darse a equalização dos preços dos factores, mesmo quando existe imobilidade
desses factores entre os países. Mundell, continuando com a sua análise, virou o
modelo do avesso. Assim ele diz que se existisse mobilidade dos factores de produção
e perfeita imobilidade dos produtos entre países, então, o comércio igualizaria os
preços dos produtos. Portanto, a basta a existência de comércio sem barreiras num
11
dos mercados, do produto ou, dos factores, para garantir que os efeitos do comércio
se produzam, automaticamente, no outro mercado.
A AUSÊNCIA DE CONFIRMAÇÃO EMPÍRICA DO MODELO DA
EQUALIZAÇÃO DOS PREÇOS DOS FACTORES
Nunca observamos uma completa igualização dos preços dos factores no mundo
real. As principais razões são:
1) A desigual distribuição do rendimento proveniente dos factores de produção6,
combinada com a desigual distribuição da riqueza7 entre os países, é o resultado da
desigualdade na distribuição entre esses países da propriedade do capital
humano e do capital físico (ou capital não humano).
O modelo neoclássico admite a hipótese de que todo o trabalho é homogéneo.
Mas existem diferenças no factor trabalho entre os países (i.e., não é homogéneo),
devido a várias razões, tais como: o treino, a educação, a nutrição, etc. As
diferenças salariais, mesmo quando há mobilidade absoluta do factor
trabalho entre países, reflectem estas diferenças de características.
Para além disso a maioria dos indivíduos nos países industrializados ganham
parte do seu rendimento da propriedade de capital físico, obtendo um
complemento do rendimento do trabalho. Já nos países em desenvolvimento,
os indivíduos não são, de modo geral, detentores de capital físico, ou pelo menos
de capital físico de igual qualidade. Logo, isto cria desigualdades nas
remunerações do capital fixo entre países e nos rendimentos auferidos pelos
detentores do capital físico nos distintos países, independentemente da sua
mobilidade;
2) Admitimos, atrás, que cada país utiliza os mesmos coeficientes de produção
em cada produto. Vejamos o que acontece, mesmo no caso em que partimos da
mesma tecnologia, quando introduzimos uma inovação (alterando a
produtividade e, logo, os referidos coeficientes).
Quando se inventa uma nova tecnologia mais eficiente (mais produtiva) para a
produção de um bem, leva tempo até ela ser adoptada em substituição da velha
tecnologia. O processo de adopção é ainda mais lento sobretudo quando a tecnologia
é transferida entre países mais desenvolvidos e países menos desenvolvidos, o que
cria durante mais tempo diferenças de produtividade entre esses países.
Quando dois países produzem um mesmo bem utilizando tecnologias diferentes
(o que equivale a produtividades distintas, pois a produtividade é o inverso dos
6
devido à distribuição distinta da propriedade de capital humano, por exemplo, que introduz diferenças
nas características do factor trabalho entre países.
7
devido, em parte, à detenção de capital físico em qualidade e quantidades também distintas pelos
diferentes países.
12
coeficientes técnicos), então mesmo com a abertura ao comércio internacional
não se dará a igualização dos preços (remunerações) dos factores de produção.
Apenas podemos esperar que os preços (remunerações) dos factores de produção
se igualizem entre países, se os ajustarmos para as diferenças relativas das
produtividades do trabalho e do capital entre esses países. Quer dizer, se
isolarmos as diferenças de produtividade, responsável pelas diferenças de preços
mesmo com comércio, então podemos esperar que se dê a igualização dos preços dos
factores produtivos com o comércio internacional.
Repetimos que, as diferenças entre países, quer na posse de capital humano, como
de capital físico, explicam as diferenças de produtividade dos seus factores e, logo,
dos preços relativos desses factores, mesmo com comércio internacional. Sob esta
hipótese, apenas é de esperar que se dê a igualização dos preços dos factores
corrigidos pelas diferenças de produtividade, originadas pelas posses daqueles
factores, em graus distintos, pelos diferentes países. Por exemplo, esperamos ver
salários mais elevados do que nos USA em países onde a produtividade do factor
trabalho é maior, mesmo que esses países participem no comércio internacional com
os USA. Para medirmos as diferenças de salários entre, por exemplo, um país A em
relação aos USA, dividimos o salário nesse país pelo salário nos USA; para medirmos
as diferenças de produtividade do trabalho entre, por exemplo, um país A em relação
aos USA, dividimos a produtividade do trabalho nesse país pela produtividade do
trabalho nos USA. Agora se dividirmos as diferenças de salários pela diferença de
produtividades obtemos as diferenças de salários corrigidas da diferença de
produtividades, isto é, obtemos um rácio diferente da unidade, caso as diferenças de
salários não sejam explicadas por diferenças de produtividade. Matematicamente:
(sA/sUSA) / [(XA/LA)/(XUSA/LUSA)], representam as diferenças de salários entre o país
A e os USA (numerador), em relação às diferenças de produtividade entre esses dois
países (denominador). Quando esse rácio é igual a 1, como seja ao longo de uma recta
de 45º que parta da origem, isso significa que as diferenças de salários em relação aos
USA, mesmo com o comércio internacional, são inteiramente explicadas por
diferenças de produtividades. Por isso esperamos, quando comparamos na Figura 4.5
esse rácio para 30 países, que os vários países se concentrem à volta dessa recta, o
que explica a existência de diferenças salariais, corrigidas de diferenças de
produtividades, mesmo quando há comércio internacional. A recta é crescente
porque baixam as diferenças de salários em relação aos USA á medida em que baixam
as diferenças de produtividade. Logo a variação das diferenças relativas dá-se no
mesmo sentido. Ou seja, os salários vão crescendo em relação aos dos USA à medida
em que a produtividade vai crescendo em relação à dos USA.
O painel (b) da Figura 4.5 dá a mesma informação em relação ao capital.
3) Não nos podemos esquecer que a igualização nos preços dos factores é o
resultado da igualização nos preços dos produtos. Mas essa equalização nem
sempre acontece, devido a vários tipos de entraves, tais como: custos de
transporte diferentes, barreiras ao comércio, existência de bens que raramente são
comercializáveis entre países, como por ex, os cortes de cabelo, os tratamentos de
beleza, etc.
Apesar destes impedimentos à igualização dos preços relativos dos factores entre
países, o teorema da igualização dos preços dos factores permite sugerir a existência
de uma importante alternativa em termos de políticas para o país A. Ou seja,
13
sugerir que esse país permita o comércio livre dos produtos, que se especialize na
produção do produto trabalho intensivo (onde é mais produtivo), e que exporte o
trabalho indirectamente, através da exportação desse produto de modo a obter,
assim, a igualização dos preços dos factores. É o que têm feito a Irlanda, as
Filipinas, a Índia, a Jamaica e, Singapura. Graças ao desenvolvimento das redes de
computadores e de telecomunicações os países como, por exemplo, os que foram
mencionados acima, com abundância do factor trabalho, podem especializar-se na
produção de tarefas trabalho intensivas, tais como, tarefas de processamento de dados
para firmas estrangeiras. A entrada de dados destinada à criação de novas bases de
dados, a criação de bases de dados de números para listas telefónicas, a manutenção
de ficheiros para subscrição de revistas, o processamento de dados no computador
para grandes organismos de segurança social, são apenas alguns dos exemplos de
tarefas que são trabalho intensivas, isto apesar de não serem intensivas em trabalho
não-qualificado. Assim ,por exemplo, podemos ligar para a assistência técnica da
firma de software de computadores “Quarterdeck Office Systems, Inc.”, sediada na
Califórnia e o técnico que responde às nossas perguntas pode encontrar-se na Irlanda.
O COMÉRCIO E A IMOBILIDADE DOS FACTORES NO
CURTO-PRAZO: FACTORES ESPECÍFICOS
Pode acontecer que no curto-prazo se verifique uma reduzida mobilidade dos
factores. Neste caso os efeitos do comércio sobre os preços dos factores são
diferentes no curto, e, no longo prazo.
RAZÕES PARA A FRACA MOBILIDADE DOS
FACTORES NO CURTO-PRAZO
Existem várias razões que dificultam a mobilidade dos factores no curto prazo, tais
como:
1) no caso do capital físico é fácil de entender que uma máquina destinada a fabricar
sapatos não pode ser facilmente adaptada para fabricar computadores.
Como é, então, que muda a composição do estoque de capital ao longo do tempo, de
modo a reflectir as alterações resultantes do encerramento de algumas indústrias,
e da abertura de outras. No longo-prazo, á medida em que as máquinas, os edifícios,
etc., se desgastam, e são substituídas, as firmas têm oportunidade de mudarem o
estoque de capital na altura da substituição. Os fundos necessários são os chamados
fundos de amortização e correspondem a uma forma de poupança por parte das
firmas. Ora essas poupanças podem ser utilizadas para comprar tipos distintos de
equipamento. Por outras palavras, à medida em que se desgasta o estoque de
capital de uma economia, podemos substitui-lo, mudando o tipo de estoque de
capital existente, dirigindo-o para a produção dos (novos) produtos, agora mais
14
procurados, ou dos mesmos produtos mas incorporando novas tecnologias mais
eficientes.
Por outro lado se, por exemplo, subirem os preços dos computadores utilizados por
algumas firmas, estas não só farão a substituição dos velhos computadores, como
aparecerão outras firmas a investir em equipamento destinado a produzir
computadores mais modernos (com novas tecnologias).
2)
o argumento utilizado atrás para o estoque de capital pode aplicar-se ao
estoque de trabalho (ou força–de-trabalho). As pessoas adquirem certas
qualificações (perícias, ou conhecimentos específicos), para desempenharem
ocupações específicas.
As qualificações mais específicas não se adaptam de um momento para o outro, a
outras ocupações. Por exemplo um professor não se pode transformar num carpinteiro
de um dia para o outro, em resposta a um crescimento na indústria da carpintaria e a
um declínio no sector da educação. No longo-prazo, à medida em que os velhos
trabalhadores entram para a reforma, e entram novos trabalhadores na força de
trabalho, muda a distribuição das qualificações a favor das indústrias em
crescimento.
Concluindo, no longo prazo, estes processos de depreciação do capital, de
requalificação e substituição do trabalho, permitem que o capital e o trabalho se
orientem para as indústrias em crescimento, cujos r e w estão a subir, acabando
por garantir a equalização dos preços dos factores, através de uma maior oferta
de trabalho e capital adequados. É que, nessa altura, aumenta a oferta de
trabalhadores nessas indústrias permitindo aliviar a pressão para a alta dos salários,
sentida devido à crescente procura. Por outro lado, a oferta de trabalhadores nas
indústrias em declínio diminui, evitando a queda acentuada de salários nessas
indústrias. Tudo isto de modo a que os salários se venham a igualar entre indústrias
em declínio e indústrias emergentes. No entanto, como vimos, a mobilidade dos
factores é limitada, impedindo, no curto prazo, a equalização dos seus preços entre
indústrias. Ela é tanto mais lenta, quanto maior for o grau de especialização dos
trabalhadores e das máquinas e, quanto menor for a taxa de amortização (maior o
período de substituição).
OS EFEITOS DA IMOBILIDADE DOS
FACTORES NO CURTO-PRAZO EM AUTARCIA
Suponhamos que o país A produz sapatos (S), e computadores (C), utilizando capital
e trabalho. Admitimos que existe mobilidade absoluta do factor trabalho, mas o
capital, sendo específico ao fabrico de sapatos, é perfeitamente imóvel. O
resultado é que a taxa de salário será idêntica nas duas indústrias do país A, ao
passo que a taxa de aluguer que remunera o capital pode ser diferente de
indústria para indústria.
O equilíbrio nos mercados dos factores do país A aparece ilustrado na Figura 4.6.
15
No painel (a), o tamanho do eixo horizontal (Os Oc), mede a quantidade total de
trabalho disponível no país A, ou seja, LA. Os dois eixos verticais medem os salários,
pagos em ambas as indústrias (S e C), ou seja, wS no lado esquerdo, e wC no lado
direito. Medimos a quantidade de trabalho utilizada na produção dos sapatos da
esquerda para a direita, a partir da origem dos sapatos, Os; medimos a quantidade de
trabalho utilizado na produção de computadores da direita para a esquerda, a partir da
origem, Oc. Qualquer ponto neste eixo horizontal representa uma distribuição de
trabalho, na produção de ambos os bens.
As curvas do valor do produto marginal do trabalho nas duas indústrias são,
respectivamente, VPmgaL0s e VPmgaL0C. Estas curvas são decrescentes porque
VPmgaL0S = ps x PmgaLS e VPmgaL0C = pc x PmgaLC. Ora, o PmgaLS e o
PmgaLCcomeçam a decrescer a partir da combinação de quantidades crescentes de
trabalho com a mesma quantidade de capital8.
Como existe concorrência perfeita no mercado de trabalho a remuneração de cada
unidade de trabalho (w) é igual ao valor do seu produto marginal. Através da Figura
vemos que o ponto de equilíbrio é o ponto (L0, wS0, wC0) correspondente à
intersecção das curvas VPmgaL0S e VPmgaL0C. Nesse ponto os salários são
idênticos nas duas indústrias, i.e., wS0 = wC0.
Os painéis (b) e (c) da Figura 4.6 ilustram o equilíbrio nos mercados do factor
capital para o fabrico dos sapatos (ks), e do factor capital para o fabrico dos
computadores (kc).
As dotações de ambos os tipos de capital no país A são fixas e iguais a SKA e CKA,
pelo que as curvas de oferta, de ambos os tipos de capital são rectas verticais. As
curvas do VPmgaKS e VPmgaKC para os dois tipos de capital (estas representam as
curvas de procura pelos dois tipos de capital) também possuem inclinação negativa.
O cruzamento da oferta e da procura dos dois tipos de capital dá as taxas de aluguer
de equilíbrio, que são, respectivamente, rS0 e rC0. Ou seja, a intersecção da procura e
da oferta dão o preço de equilíbrio.
O que é que acontece aos preços dos factores, se sobe o preço dos sapatos, pS,
(pois o país A especializa-se na produção de sapatos) e, se o preço dos
computadores (pc), se mantiver constante?
O VPmgaL0S na indústria dos sapatos sobe proporcionalmente a pS, provocando uma
deslocação da curva de VPmgaL0S paralelamente a si própria, para cima, e para a
direita, até VPmgaL1S. Este movimento aparece retratado no painel (a) da Figura 4.6.
No ponto que corresponde à distribuição inicial de trabalho entre as duas indústrias (o
ponto L0), passamos a ter wS1 > wC0. Isto faz com que os trabalhadores deixem a
indústria dos computadores, para irem trabalhar para a indústria dos sapatos, até os
salários se tornaram iguais, i.e., até ao nível wS2 = wC2. Este novo ponto de equilíbrio
entre os salários em ambas as indústrias, corresponde a uma nova distribuição de
trabalho entre as duas indústrias, dada por L2.
8
reparemos que a curva de PmgaLC tem uma inclinação negativa em relação ao eixo wc.
16
Notemos que os salários aumentaram menos do que proporcionalmente com o
aumento no preço dos sapatos, pS (o aumento dos salários foi de wS0 até wS2,
enquanto que o aumento do pS corresponde ao aumento de wS0 até wS1 - distância
medida na vertical entre a curva VPmgaL0S e VPmgaL1S , ao nível L0).
Portanto, o efeito de ampliação, ou seja, o efeito que faria com que o aumento
nos preços dos sapatos se reflectisse inteiramente numa igual (ou superior)
subida dos salários pagos, não se aplica ao factor com mobilidade (o trabalho, no
exemplo dado), quando um dos factores (o capital, no nosso exemplo) é imóvel.
A subida no preço dos sapatos, tem um efeito ambíguo no poder de compra dos
trabalhadores. Os salários sobem, mas menos do que o preço dos sapatos. Se os
sapatos tem um grande peso nas compras dos trabalhadores (i.e., e, se eles gastam
uma percentagem elevada do seu rendimento em sapatos), então o poder de compra
diminui. Caso contrário, se a maior parte do rendimento é gasta em
computadores, cujo preço permanece constante, então os trabalhadores aumentam o
seu poder de compra.
Embora não haja mobilidade do capital entre as duas indústrias (S e C), a
mudança no preço dos sapatos, pS, não deixa de afectar o mercado de capital. O
Pmga de qualquer factor depende positivamente da quantidade de outros
factores (por ex., se se aumentar a quantidade de capital, à medida em que se aumenta
a quantidade de trabalho, aumenta o Pmga de ambos os factores, pois deixa de haver
um factor fixo a ser combinado com quantidades crescentes do outro factor).
Portanto, à medida que o trabalho se desloca para a indústria dos sapatos, o capital
usado no fabrico de sapatos pode, agora, combinar-se com mais trabalho,
aumentando a sua produtividade. Isto desloca o VPmgaKS, de VPmgaK0S para
VPmgaK1S, provocando um aumento em rs de rs0 para rs1. Mas, a elevação no preço
dos sapatos provoca uma deslocação adicional da curva de VPmgaK1S para
VPmgaK2S, elevando rs, de rS1 para rS2. Repare-se que a elevação total no preço dos
sapatos, pS, corresponde à “variação” de rS0 para rS1. Concluímos pois, que a elevação
no preço do aluguer de capital usado no fabrico de sapatos, rs, foi mais do que
proporcional ao aumento no preço dos sapatos, ps. No entanto, com a saída de
trabalhadores da indústria dos computadores, o VPmgaKC baixa, de VPmgaK0C
para VPmgaK1C.
Logo, o VPmgaKc do capital usado na produção de computadores baixa, de
VPmgaK0c para VPmgaK1c, fazendo baixar a taxa de aluguer de capital usado no
fabrico de computadores (ou seja, a taxa de retorno ganha pelos proprietários de
capital usado no fabrico de computadores) de rC0 para rC1. Como o preço dos
computadores não se alterou, a baixa no preço de aluguer do capital utilizado
para fabricar computadores, rc , é mais do que proporcional à baixa de preço do
produto, pc (que não baixou nada). Tudo isto leva a concluir que, a elevação no
preço dos sapatos eleva o bem-estar (poder de compra) dos proprietários do factor
capital usado no fabrico de sapatos, mesmo que eles gastem tudo o seu
crescimento na compra dos sapatos, agora mais caros. Ao mesmo tempo, reduz o
poder de compra dos proprietários de capital usado no fabrico de computadores,
mesmo se eles gastarem todo o seu rendimento na compra de computadores, cujo
preço não se alterou.
17
Concluindo, podemos dizer que em autarcia e neste caso da presença de um
factor imóvel no curto prazo em conjunto com um factor móvel, o efeito
ampliação aplica-se apenas para o caso do factor sem mobilidade (o capital).
Todos os resultados desta secção aparecem ilustradas no Quadro 4.2.
Efeito de uma subida no preço dos
sapatos (ps) sobre os preços dos
factores, quando o capital é imóvel
entre indústrias
wS
? (sobe)
Poder de compra de wS
? (indefinido)*
wc
? (sobe)
Poder de compra de wc
?*
rS
? (sobe)
Poder de compra de rS
? (sobe)**
rc
? (desce)
Poder de compra de rc
? (desce)**
* neste caso não existe efeito amplificador;
** neste caso existe efeito amplificador.
OS EFEITOS DO COMÉRCIO QUANDO EXISTE UM FACTOR
ESPECIFÍCO A UMA INDÚSTRIA
No caso em que um dos factores é especifico a uma indústria, ou seja, um factor
sem mobilidade no curto prazo, não se verifica o teorema de Stolper-Samuelson
(relembremos que se juntarmos as hipóteses do modelo de Hecksher-Ohlin, aquele
teorema significa que a abertura ao comércio internacional aumenta a remuneração do
factor abundante - que era relativamente baixa em autarcia - e diminue a remuneração
do factor escasso - que era relativamente alta em autarcia - de modo a igualar as
remunerações de ambos os factores).
Suponhamos que o factor trabalho tem mobilidade perfeita entre indústrias,
enquanto que o factor capital, no curto-prazo, é específico e, logo, sem
mobilidade. Admitamos, também, que o país B se especializa na produção capital
intensiva de computadores, pois é um país abundante em capital, kc, com
vantagens comparativas para a produção de computadores, (pelo que rc é
relativamente baixo na posição inicial de autarcia), e que possui uma
desvantagem comparativa na produção trabalho intensiva de sapatos, pois é um
país escasso em trabalho, LB, (pelo que wc é relativamente elevado na posição
inicial de autarcia). Ao abrir-se ao comércio a sua produção de sapatos baixa e a sua
produção de computadores aumenta. O preço dos computadores, pc, sobe nesse
país, enquanto que, o preço dos sapatos, ps, desce. Se houvesse perfeita
mobilidade do factor trabalho entre a duas indústrias, os novos trabalhadores
desempregados saem da indústria dos sapatos (ws sobe) para irem trabalhar na
indústria dos computadores (onde ganhariam salários mais elevados dos que eram
pagos na indústria dos sapatos, mas mais baixos do que os que eram pagos na
18
indústria dos computadores em autarcia, pois aumentou a oferta de trabalho).
Logo, wC desce. Por seu lado, se o capital possuísse mobilidade perfeita, a
indústria de computadores compraria o factor capital kS, que deixasse de ser
utilizado pela indústria dos sapatos. Passavamos a ter na indústria dos
computadores mais capital em combinação com mais trabalho. Isto faria
aumentar a produtividade marginal do capital usado no fabrico de
computadores, ou seja, VPmgaKc ↑, e, consequentemente, subia o rC. No final, os
preços de ambos os factores, wC e rC, tornar-se-iam iguais e verificar-se-ia, assim,
o teorema de Stolper-Samuelson.
Mas, dado que, no nosso modelo, não existe mobilidade do capital, as máquinas
usadas na produção de sapatos tornam-se inúteis, quando baixa a produção de sapatos.
O que é que acontece, neste modelo sem mobilidade do capital, aos salários, wS e
wC, e às taxas de aluguer (ou taxas de retorno) do capital, rS e rC?
Em primeiro lugar, notemos que no país B o preço dos sapatos, pS, desce porque os
sapatos domésticos são gradualmente substituídos por sapatos importados
produzidos de modo mais eficiente (utilizando cada vez menores quantidades
adicionais do factor trabalho, num país A onde esse factor era abundante e, logo,
relativamente mais barato do que no país B). Por sua vez, o preço dos
computadores, pC, sobe, pois sobe o custo de oportunidade de kC, ou seja, sobe rC
(kC cada vez relativamente mais escasso e, logo, cada vez mais caro), à medida
em que se vão produzindo mais computadores. O efeito líquido das mudanças
nos preços dos produtos sobre os salários depende da magnitude da descida em
pS e, da subida em pC.
Mas, independentemente dos salários subirem, ou descerem, ainda existe uma outra
questão. É que os efeitos sobre o poder de compra dos trabalhadores dependem
da combinação dos bens que eles compram. Assim, por ex., se um trabalhador gasta
uma grande percentagem do seu rendimento na compra de sapatos, cujo preço desceu,
e apenas uma pequena percentagem em computadores, o seu poder de compra sobe.
Mas, se outro trabalhador não comprar sapatos, decidindo comprar um novo
computador, cujo preço subiu, numa percentagem superior à subida nos salários9,
então o seu poder de compra baixa.
Já o efeito sobre os retornos (preço de aluguer do capital recebido) do capital é mais
claro. O poder de compra dos proprietários do capital usado na produção de
sapatos desce, pois a taxa de retorno desse tipo de capital, rS , baixa numa
percentagem superior à baixa no preço dos sapatos. O poder de compra dos
proprietários do capital usado na produção de computadores sobe, pois a taxa de
retorno desse tipo de capital, rc , sobe (pois sobe o preço dos computadores), e sobe
numa percentagem superior à subida no preço dos computadores (custo de
oportunidade de kc crescente).
9
Quando existe um factor imóvel, um aumento no preço de um bem provoca uma elevação nos
salários menos do que proporcional. Neste caso, o preço do segundo bem também baixa pelo que os
salários se elevam numa proporção ainda menor. Se a baixa no preços dos sapatos mais do que anula o
aumento no preço dos computadores, os salários podem baixar; mas o efeito sobre o poder de compra
do trabalho permanece ambíguo.
19
O Quadro 4.3 ilustra os efeitos, de curto e, longo-prazos, sobre os preços dos factores
no caso do nosso exemplo que utiliza os bens sapatos e computadores.
Efeito de curto e longo prazos duma CURTO PRAZO
subida no preço dos sapatos (ps) sobre
os preços dos factores e sobre o poder
de compra
wS
? (indefinido
LONGO PRAZO
? (desce)
Poder de compra de wS
wc
? (indefinido)*
? (indefinido
? (desce)**
? (desce)
Poder de compra de wc
rS
? (indefinido)*
? (desce)
? (desce)**
? (sobe)
Poder de compra de rS
rc
? (desce)**
? (sobe)
? (sobe)**
? (sobe)
Poder de compra de rc
? (sobe)**
? (sobe)**
* neste caso não existe efeito amplificador;
** neste caso existe efeito amplificador.
Logo, no curto-prazo (com factores imóveis) os efeitos do comércio sobre a
remuneração dos factores dependem do padrão de consumo (preferências) dos
proprietários dos factores de produção (trabalhadores e capitalistas), e da
indústria onde esses factores estão a ser utilizados (se aquela em que subiu o
preço, pC (intensiva no factor abundante), ou desceu o preço, pS (intensiva no factor
escasso).
Só no longo-prazo é que, dada a mobilidade de todos os factores, a abundância,
ou escassez relativa de um factor se torna no factor determinante dos resultados
(ou efeitos sobre as remunerações dos factores), do comércio internacional.
Vamos, então, distinguir os efeitos sobre os preços dos factores, de curto e longoprazo, tomando o mesmo exemplo.
No curto prazo, sobe o preço do aluguer do capital, rC (os retornos de capital)
usado na indústria crescente, ou seja, a dos computadores. Isto cria um incentivo
para novos investimentos de capital nessa indústria. Por outro lado, desce o preço de
aluguer do capital, rS ,na indústria em declínio, mais precisamente, a dos
sapatos. Isto cria incentivos para não substituir o capital nessa indústria, à
medida em que o capital existente se desgasta.
Quanto aos salários, estes podem subir, ou descer, mas o efeito sobre o poder de
compra dos trabalhadores depende dos seus padrões de consumo, ou seja, de eles
20
gastarem mais em sapatos (agora mais baratos), ou em computadores (agora mais
caros).
No longo-prazo, há mobilidade perfeita dos dois factores entre as duas
indústrias. O resultado é que os salários descem em toda a economia (em ambas as
indústrias) pois a indústria dos sapatos em declínio é trabalho intensiva. O retorno de
todo o tipo de capital sobe em toda a economia (em ambas as indústrias), com a
especialização na indústria dos computadores que é capital intensiva.
Apenas estes resultados de longo-prazo é que correspondem ao teorema de
Stolper-Samuelson.
A existência de factores específicos a uma indústria, no curto-prazo, cria uma rigidez
na redistribuição, rápida, e barata (eficiente), dos recursos entre as indústrias. Quanto
mais específica a uma indústria for um factor de produção, tanto maiores são os
custos da sua redistribuição, provocada por uma alteração nos preços relativos dos
factores, pois maior o período em que existirá desemprego, e sub-utilização do
capital, uma vez que nem os vários tipos de trabalho, nem os vários tipos de
capital são substitutos perfeitos. Estes custos de curto-prazo, resultantes do processo
de ajustamento, colocam problemas ao princípio segundo o qual o comércio aumenta
o bem estar de um país. É que só aumenta o bem-estar dos detentores dos factores
utilizados intensivamente na produção do bem em que o país tem vantagens
comparativas (em que tem abundância do respectivo factor). Pelo contrário,
desce o bem-estar dos detentores do factor específico utilizado intensivamente na
produção do bem em que o país tem uma desvantagem comparativa (em que tem
escassez do respectivo factor).
Logo os primeiros defenderão a abertura ao comércio, enquanto que os segundos
não!
Contudo, qualquer política destinada a impedir (ou a diminuir), a queda nos
preços e remunerações de alguns factores usados na indústria em declínio (factor
móvel e factor específico imóvel), provoca uma redução do bem-estar da
economia como um todo, pois, como sabemos, o comércio livre conduz a um
aumento no produto total produzido e disponibilizado para o consumo e, logo, do
bem-estar do total da população.
MODELOS EMPÍRICOS DE EQUILÍBRIO GERAL
21
No início deste capítulo salientamos a importância de escolher, tanto a técnica
apropriada, como o tipo de análise, de equilíbrio parcial ou de equilíbrio geral, para
construir os modelos de comércio internacional.
Até ao presente a maior parte dos modelos usados para análise dos efeitos das
políticas de comércio internacional têm sido modelos de equilíbrio parcial. Mas com
os avanços informáticos, cada vez mais se estimam modelos testáveis de equilíbrio
geral (MEGT).
Existem quatro passos obrigatórios na construção e uso de modelos de equilíbrio geral
destinados a estudar os efeitos de políticas comerciais, nomeadamente:
1) a obtenção dos dados sobre a produção mundial, o consumo, as importações e
exportações, os preços, etc.;
2) construção das equações do modelo com base na teoria do comércio internacional;
3) escolher os valores para os parâmetros das equações, ou seja, calibrar o modelo.
Para alguns parâmetros existem estimativas publicadas na teoria da especialidade.
Para outros é necessário escolher um valor que reproduza o resultado do modelo para
o ano base;
4) fazer simulações, através da alteração dos valores das variáveis e da observação
dos respectivos efeitos nos resultados.
Os principais problemas com a implementação de modelos MEGT são as limitações
de dados e a sua qualidade.
GANHADORES E PERDEDORES DE BEM-ESTAR COM O COMÉRCIO
INTERNACIONAL E ESQUEMAS DE COMPENSAÇÃO
O teorema de Stolper-Samuelson e o modelo dos factores específicos ajudam a
explicar porque é que o comércio internacional provoca reacções diferentes entre os
vários grupos intervenientes nas trocas. Se juntarmos as hipóteses do modelo de
Hecskher-Ohlin sabemos que um país deve especializar-se e exporta do bem que
utiliza intensivamente o factor que ele detém em abundância. Isto aumenta a procura
pelo factor abundante o que eleva o seu preço e, logo, o preço desse bem. Do mesmo
modo o país importa do bem que utiliza intensivamente o factor em que ele é escasso.
Isto faz baixar a procura por esse bem e a procura pelo factor escasso o que baixa
também o seu preço relativo. No curto-prazo, quando existem factores que são
específicos, sobem as remunerações dos factores específicos empregues na indústria
em que o país detem vantagens comparativas e, descem as remunerações dos factores
específicos empregues na indústria em que o país exibe desvantagens comparativas.
Mas a abertura ao comércio internacional aumenta o produto total, tornando possível
que todos ganhem. Para que todos os intervenientes possam ganhar, apesar das
mudanças nas remunerações dos factores previstas pelos teoremas de StolperSamuelson e do modelo dos factores específicos, é necessário que os ganhos auferidos
por alguns possam ser usados para compensar outros. Se isto acontecesse todos
ganhariam e aumentaria o bem-estar da sociedade. No entanto não é habitual
verificar-se a existência de um mecanismo de compensação automático.
Estas questões da distribuição do rendimento e dos diferentes impactos dos comércio
internacional entre os vários agentes económicos não foram levantadas no modelo de
Ricardo, com custos constantes. Isto porque o modelo de Ricardo apenas tinha um
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factor de produção, o trabalho. A abertura ao comércio internacional fazia elevar o
preço do produto que utilizava de modo intensivo o factor que cada país detinha em
abundância e subiam as remunerações desse factor. Por isso os detentores desse único
factor aumentavam sempre o seu bem-estar.
No entanto a realidade é bem mais complexa porque existem vários factores e, logo,
várias remunerações distintas possíveis, pelo que os detentores desses factores vêem o
“bolo” repartido entre si de modo distinto, dando origem a ganhadores e perdedores.
UTILIDADE POTENCIAL E UTILIDADE REAL
Já demostramos em capítulos anteriores que o comércio internacional aumenta a
quantidade de bens que podem ser produzidos pelos factores existentes em
quantidades limitadas a nível mundial.
Com mais bens para consumo aumenta o bem-estar mundial, como se pode ver na
Figura 4.7.
Porque é que nos referimos a um ganho de utilidade ou bem-estar potencial a
nível mundial? Não podemos dizer que um movimento do ponto 1, que representa a
situação de autarcia, para o ponto 2, que representa a situação de comércio
internacional, tenha melhorado a utilidade ou bem-estar real, ou seja o bem-estar
efectivamente desfrutado pelos intervenientes. É que desconhecemos a distribuição
dos aumentos de bem-estar em cada um dos referidos pontos. A sociedade produz
X1 unidades de X e Y1 unidades de Y, no ponto1. Mas tanto pode acontecer que um
indivíduo detenha todo o X e todo o Y produzidos, como pode acontecer que essas
quantidades estejam igualmente repartidas por todos os indíviduos. O mesmo
acontece no ponto 2. Então o facto do ponto 2 estar sobre uma curva de indiferença
mais para cima e para a direita significa que aumentou a utilidade potencial para
todos os indivíduos intervenientes na troca. Agora se aumentou, ou não, a utilidade
real para todos os indivíduos, depende da distribuição dos bens entre eles.
O CRITÉRIO DE PARETO COMO INSTRUMENTO PARA COMPARAÇÃO
DA UTILIDADE
Suponhamos que na passagem do ponto 1 para o ponto 2, na Figura 4.7, as unidades
adicionais de X (X2 - X1), e de Y (Y2 - Y1), foram distribuídas de modo a
contemplar todos. Neste caso podemos dizer que o comércio internacional aumentou
a utilidade mundial actual (real) de acordo com um critério, chamado o critério de
Pareto. O critério de Pareto diz que: qualquer mudança que beneficie pelo menos
uma pessoa, sem ao mesmo tempo prejudicar alguém, produz um aumento de
bem-estar. Claro que o caso em que os resultados do comércio mundial são
distribuídos por todos os intervenientes satisfaz o critério de Pareto, pois há mais
produto para ser distribuído por todos. Mas, de um modo geral o comércio mundial
conduz à existência de ganhadores e perdedores. Nesse caso o critério de Pareto
não serve de nada para avaliar os resultados do comércio.
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COMPARAÇÃO DAS UTILIDADES: O CRITÉRIO DA COMPENSAÇÃO
O critério de Pareto permite responder a algumas das questões levantadas pelo
comércio internacional. As mudanças nos preços relativos dos factores implicam que
o comércio internacional é negativo para certos agentes. Em especial ele é
desvantajoso para os agentes detentores do factor específico utilizado na
produção do bem em que o país detém uma desvantagem comparativa.
Muitos economistas sugerem vários esquemas para que os ganhadores compensem os
perdedores, mas a questão principal é a de se saber se os ganhos do comércio são
suficientes para compensar os perdedores, trazendo ainda um benefício liquído aos
ganhadores.
O comércio internacional satisfaz o critério da compensação, pois ao aumentar o
produto total, garante que existem benefícios suficientes para serem distribuídos pelos
eventuais perdedores.
O problema é que essa compensação raramente se faz.
OS CUSTOS DE AJUSTAMENTO, A COMPENSAÇÃO E A ASSISTÊNCIA
AO AJUSTAMENTO DO COMÉRCIO
A especialização e o comércio de acordo com o princípio das vantagens comparativas
são processos dinâmicos. Á medida em que se alteram as condições da procura e
da oferta os países ganham e perdem as suas vantagens comparativas. O princípio
da eficiência exige que as indústrias se adaptem, o que implica custos.
Quanto mais específicos forem os recursos maiores são os custos da adaptação,
devido á sua fraca mobilidade.
A razão de ser de muitas políticas proteccionistas são justamente os referidos custos e
as associadas redistribuições do rendimento.
As indústrias são icentivadas a desenvolverem lobbies (grupos de pressão), para
evitarem os custos associados a mudanças nos padrões de vantagens comparativas
num dado país.
Os custos de ajustamento criam três tipos distintos de problemas:
1) o problema da equidade, relacionada com os indivíduos que sofrem com o
comércio. O montante das compensações a atribuir pela sociedade aos indivíduos
perdedores é um importante problema de política económica;
2) como evitar que os perdedores desenvolvam grupos de pressão eficazes,
capazes de restringir o comércio mundial e os seus efeitos benéficos;
3) como é que o governo pode proceder aos necessários ajustamentos de modo a
potenciar os ganhos do comércio mundial.
A maioria dos países possuem programas públicos destinados a ajudar os indivíduos
que perderam empregos devido às mudanças nos padrões das vantagens comparativas.
Estes programas tem três objectivos, nomeadamente: distribuir os custos do
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ajustamento de modo mais equitativo, atenuar os argumentos defensores do
proteccionismo e facilitar os ajustamentos necessários.
QUEM É A SOCIEDADE?
Um modo alternativo de analisarmos os efeitos distributivos do comércio é
analisarmos o que entendemos por bem-estar social ou utilidade social.
O bem-estar social será, naturalmente, a combinação do bem-estar dos seus
indivíduos. Mas que tipo de combinação? Será a soma do bem-estar de todos os
indivíduos, presumindo que todos os indivíduos possuem o mesmo peso ? E de que
indivíduos? Será que se deve atribuir um peso específico a alguns indivíduos?
Tudo isto são perguntas às quais os economistas não podem responder, mas que
possuem importantes impactes de política.
CASO I
O sistema política do Reino-Unido no século XIX atribuia grande poder à classe de
agricultores. No seguimento dos trabalhos de Adam Smith e de David Ricardo, o
Reino-Unido baniu, durante a segunda metade desse século, muitas das tarifas
impostas sobre certos produtos. A única excepção dizia respeito ao cereal, sendo
proibida a importação de cereais a preços abaixo dos cereias ingleses. Foi imposta
uma tarifa variável sobre o grão importado de modo a que governo pudesse ajustar
regularmente a tarifa, de modo a que o preço total de importação de grão, incluindo a
tarifa excedesse o preço pago pelos consumidores Ingleses.
Claro que o Reino-Unido não detinha nenhuma vantagem comparativa na produção
de grão. A agricultura no Reino-Unido era intensiva no uso da terra, enquanto que as
indústrias emergentes eram capital intensivas. O modelo dos factores específicos
sugere que a comércio livre de grão teria prejudicado os proprietários rurais e
beneficiado os capitalistas industriais. A nova classe de empresários urbanos
necessitava de mão-de-obra para as suas fábricas e contavem ir buscá-la ao sector
primário, caso fossem abolidas as leis sobre a protecção da importação de grão. Como
a maior parte dos agricultores gastava quase todo o seu rendimento na compra do
grão, começaram a juntar-se aos proprietários urbanos contra os proprietários rurais.
Em 1864 as referidas leis foram abolidas. Mas inda hoje existe uma controvérsia
sobre os efeitos do desaparecimento dessas leis.
CASO II
A POLÍTICA ENERGÉTICA DO CANADA E AS IMPORTAÇÕES DOS USA
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O Canada é o maior exportador para os USA, incluindo exportações de gaz e
electricidade, petróleo e produtos derivados do petróleo e urânio. Consequentemente
e, dado o recente incremento do comércio de energia, gerou-se uma polémica sobre os
efeitos desse comércio entre os dois países. Os exportadores de energia Canadianos
estão satisfeitos com as crescentes facilidades concedidas pelos USA às suas
exportações.
Os consumidores canadianos receiam que o incremento nas exportações eleve os
preços domésticos da energia. Mais potestos surgiram quando a Direcção Nacional de
Energia, em 1990, ditou que todos os clientes da Canada Pipelines deveriam partilhar
com os Americanos, os custos da construção de uma nova conduta de gáz, destinada a
servir o Nordeste Americano. Outros grupos no Canada receiam que os canadianos
estejam a vender os seus recursos energéticos no presente, em vez de os conservarem
para serem vendidos no futuro a preços mais elevados.
Do lado Americano, os consumidores compram energia a preços mais baixos.. Os
consumidores Americanos preocupam-se menos com a dependência das importações
do Canada, do que uma dependência dos exportadores da OPEC. Os produtores
Americanos estão divididos sobre este assunto. Uma grande parte de firmas
Americanas são co-proprietárias dos recursos energéticos do Canada e, logo, não se
preocupam. Mas, os pequenos produtores de energia Americanos já afirmam que as
exportações Canadianas baixam os preços, alterando o funcionamento dos mercados.
Estes pequenos produtores pedem medidas proteccionistas e aproveitam-se das
restrições existentes que exigem que qualquer excedente energético Americano seja
adquirido antes de comprar energia ao Canada. Os produtores das indústrias
transformadoras Americanas que consomem muita energia, estão do lado dos
consumidores Americanos na defesa das importações.
As relações comerciais entre os USA e o Canada são amistosas, sobretudo após a
criação da NAFTA- North Americam Free Trade Agreement- em 1994.
Esse acordo proíbe quaisquer restrições sobre as exportações e importações de
energia, excepto por razões de segurança ou de cortes temporários na oferta.
Mas a política energética continua um foco de controvérsia.
CASO III
COMÉRCIO E SALÁRIOS NA ÁSIA
O modelo neoclássico afirma que os preços dos factores e o padrão do comércio são
determinados em conjunto. Cada um se afecta mutuamente. Se isto não for
reconhecido obtem-se argumentos e previsões falsas.
Por exemplo, muitos especialistas em comércio afirmam que a abertura a importações
de países com salários mais baixos resultará em mudanças maçissas de emprego para
esses países. É o que afirmava Perot nos USA quando se celebrava a constituição da
NAFTA, prevendo que milhares de empregos se deslocariam para o México. Mas,
existem muitos problemas com este argumento, pois não previu que os salários
subiriam no país abundante (México) no factor utilizado de forma intensiva no
produto intensivo em trabalho pouco qualificado. Estes aumentos salariais
verificaram-se em países como a Tailândia, a Coreia do Sul, Singapura e Taiwan.
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Vão-se dando vários ajustamentos ao longo do processo de subida dos salários. As
firmas passam a ser menos motivadas a deslocarem-se para esses países. Em vez dos
países mencionados acima, as firmas passaram a deslocar-se mais para países como a
Indonésia, a China e o Vietnam.
Em segundo lugar, as firmas dos países em que subiram os salários começam a mudar
a sua linha de fabrico para a produção de bens que exigem trabalho mais qualificado.
Assim, por exemplo, a Coreia do Sul passou do fabrico de sapatos para o fabrico de
sapatos de ténis, botas de alpinismo, e patins. São todos produtos que países como a
China não fabricam porque não detém a mão-de-obra suficientemente qualificada para
o efeito.
CASO IV
COMÈRCIO E SALÁRIOS NOS USA
Os economistas começaram a analisar, recentemente, a eventual relação entre três
tendências verificadas na economia Norte-Americana, durante a década de 80.
A primeira tendência revela um acréscimo rápido no défice da balança comercial. A
segunda tendência mostra que a subida nos salários médios reais Norte-Americanos
durante o período do pós-guerra, parou. A terceira tendência revela que cada vez é
maior a diferença entre os salários da mão-de-obra qualificada e não-qualificada.
Levantam-se, assim, duas questões fundamentais, nomeadamente: 1) será que o
comércio internacional, reflectido no défice da balança comercial, fez parar a subida
nos salários reais?; 2) será que a baixa nos rendimentos do trabalho pouco-qualificado
é um resultado do comércio internacional?
As respostas, com base em testes empíricos, são complicadas! É que existem muitas
causas que podem causar em simultâneo estes fenómenos e é difícil identificá-las e
isolá-las. Por outro lado, as mudanças nos padrões de comércio podem afectar os
salários, mas as mudanças nos salários também podem afectra os padrões de
comércio.
E não existem técnicas estatísticas para identificar esta dupla causalidade.
Muitos economistas concordam que as tendências reveladas pelos salários nos
Estados-Unidos na década de 80 são, sobretudo, o resultado de mudanças
tecnológicas e, logo, de produtividade, e não devido ao comércio internacional.
Em particular, a subida na procura de computadores e material informático, provocou
uma maior procura por trabalho com as qualificações necessárias, diminuindo a
procura por trabalho pouco-qualificado. Como resultado, os salários reais dos
trabalhadores qualificados subiram muito, enquanto que os salários reais de
trabalhadores pouco-qualificados baixaram. Esta tendência aparece ilustrada na
Figura 4.8. Tudo isto levou os Norte-Americanos a analisarem o sistema educativo
Norte-Americano e a consequente reforma educativa.
Qualquer que seja o resultado dessa reforma educativa combater a baixa dos salários
dos trabalhadores pouco-qualificados através de medidas protecionistas ao comércio,
não parece ser uma boa estratégia. Estas implicariam custos muito elevados para os
trabalhadores menos qualificados. O caminho a seguir parece ser o de liberalizar o
comércio e introduzir esquemas de compensação de modo a que não sejam só os
trabalhadores pouco qualificados a suportar os custos.
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Preços do Produto e Preços dos Factores