O Currículo, a Evolução da Sociedade e Nossas Aulas
Já não é mais possível dar nossa aula de cada dia baseada em nossa
formação acadêmica, em nossa práxis pedagógica rotineira ou
espelhada em nossos antigos professores. Também não basta levar
uma parafernália de recursos midiáticos para sala de aula e ficar os
operando sem permitir a participação dos alunos, como as antigas
aulas, "tipo eu de cá e vocês de lá." É preciso incentivar e dar liberdade
aos alunos para que eles mesmos operem esses novos recursos
educativos, de forma a oportuniza-los a ser protagonista sua própria
aprendizagem.
Nos, professores, precisamos deixar de pensar e agir como se fôssemos
o centro do saber na escola e não subestimar nossos alunos, acreditar
que eles aprendem sem nós, ensinando o que sabem, e,
principalmente, mediados pelo outro.
Precisamos promover a participação verdadeiramente democrática e
autônoma, isto é, deixar de pensar que nossos alunos seguem nossas
sombras, nossas pegadas, como se fossem robotizados.
Os projetos lindos, com estratégias, fundamentação e discursos
maravilhosos precisam sair do papel, do Projeto político Pedagógico e
das gavetas e permitir o aprendizado real, com o pé no chão da escola,
no contexto, na vida do aluno além do muro da escola, valorizando sua
identidade pessoal, identificando seu sentimento de pertencimento,
dando lhe oportunidade de falar e aplicar aquilo que sabe,
estabelecendo relações e ressignificando conceitos e estratégias para
aprender a apreender, para intervir e melhorar a sua vida e de sua
comunidade.
Para desenvolver uma prática pedagógica voltada para a integração das
mídias, uma das possibilidades tem sido o trabalho por projetos. Na
perspectiva da pedagogia de projetos, o aluno aprende-fazendo,
aplicando aquilo que sabe e buscando novas compreensões com
significado para aquilo que está produzindo (Freire & Prado, 1999;
Almeida, 2002; Prado, 2003).
A escola precisa sair da mesmice. Que currículo é esse que não muda,
não evolui nunca? Nem mesmo confrontando com exames do Enem,
Prova Brasil, Olimpíadas de Matemática e de Língua Portuguesa, etc. e
obtendo resultados insatisfatórios em todos eles?
Que paradoxo é esse que de dentro pra fora a escola corre atrás do que
a sociedade e a evolução tecnológica "dita", impõe, mas de fora para
dentro não aceita mudar o currículo e sofre as consequências da mesma
evolução pós moderna no que se refere ao descontrole dos pais na
educação dos filhos e imposição de limites, ou seja, da mesma
sociedade.
Que currículo é esse que diz primar pela educação de valores como a
preocupação com o ser, pela solidariedade, pela coletividade, pelo
respeito mútuo, pela ação de compartilhar, pela paz, pela
responsabilidade social, pela cidadania, pela politização, pela ética, pela
criticidade, etc, entretanto, é na escola que surge e evolui a exclusão
social, o preconceito, o desejo ter mais que o outro, a competição, a
alienação, a manipulação, pelo status, pela acumulação de bens
financeiros, os direitos sem deveres, a falta de compromisso, enfim o
egocentrismo.
Parece simples de entender. Se a sociedade surgiu primeiro que a
escola, então, a escola tem que aprender e evoluir com a sociedade,
caso contrário, não será capaz de preparar essa mesma sociedade para
atuar e aplicar os conhecimentos formais e informações para hoje e
para as futuras gerações, de forma a promover a inclusão digital e,
consequentemente, a inclusão social.
Por isso, é imperativo dar uma guinada de 360 graus no currículo da
escola. O que mesmo será necessário e importante que nosso aluno
aprenda? O que o mercado de trabalho, a sociedade, a sobrevivência da
vida, dos valores, da dignidade exigem que nosso aluno aprenda para
ser "gente" de verdade, fazer e ser feliz?
Coraci Machado Araújo – Professora Pedagoga, Especialista em Gestão
Escolar – Email: [email protected]
Referências
FREIRE, F. M. P. & PRADO, M. E. B. B. Projeto Pedagógico: Pano de
fundo para escolha de um software educacional. In: Valente, J.A.
(org.). O computador na Sociedade do Conhecimento. Campinas, SP:
UNICAMP-NIED,
1999.
p.
111-129.
PRADO, M. E. B. B. Articulando saberes e transformando a prática.
Boletim do Salto para o Futuro. Série Tecnologia e Currículo, TVESCOLA-SEED-MEC,
2001.
Disponível
no
site:
http:www.tvebrasil.com.br/salto.
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