Série Lancet Brasil Saúde de mães e crianças no Brasil: progressos e desafios 57 anos de Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca / FIOCRUZ Setembro de 2011 Saúde de mães e crianças no Brasil: progressos e desafios Série Lancet Brasil Cesar G Victora (PPGE/UFPel) Estela M L Aquino (ISC/UFBa) Maria do Carmo Leal (ENSP/FIOCRUZ) Carlos Augusto Monteiro (FSP/USP) Fernando C Barros (UCPel) Célia Landmann Szwarcwald (ICICT/FIOCRUZ) Saúde de mães e crianças no Brasil Série Lancet Brasil Saúde no Brasil 2 • Saúde reprodutiva e materna • Cesarianas • Mortalidade materna • Abortos • Saúde e nutrição das crianças • Mortalidade • Morbidade • Subnutrição • Cobertura de intervenções para mães e crianças • Entendendo as mudanças • Desafios que persistem Introdução Série Lancet Brasil • Últimas décadas, importantes mudanças nos determinantes sociais das doenças e na organização dos serviços de saúde. (Artigo 1) • Como estas mudanças se refletiram nos indicadores de saúde de mães e crianças brasileiras? (Artigo 2) Fontes de dados: de estatísticas vitais, censos populacionais, inquéritos de demografia e saúde e publicações obtidas de diversas outras fontes. Brasil: um país em transformação Série Lancet Brasil Últimos 50 anos: • Rural a urbana (mais de 80% da população vive em áreas urbanas); • Marcada queda da fecundidade (mais de seis filhos por mulher para menos de dois); • Educação fundamental foi universalizada; • Expectativa de vida ao nascer aumentou cerca de 5 anos / década; • Mortes por doenças infecciosas diminuíram – sucesso no controle de HIV/AIDS e doenças imunopreveníveis. Saúde materna e direitos reprodutivos Série Lancet Brasil Neste artigo, discute-se a gravidez e a saúde de mulheres nos marcos dos direitos reprodutivos, que incluem o direito de escolha reprodutiva, maternidade segura e sexualidade sem coerção. Contracepção, aborto, gravidez e parto Saúde reprodutiva e materna Série Lancet Brasil Temas com pouca visibilidade na agenda da saúde até a década de 80 • Mudanças na situação das mulheres: – Educação e trabalho – Fecundidade, sexualidade e casamento • Democratização e participação política - controle social de políticas públicas e movimentos de mulheres – PAISM (1983) Atenção à saúde reprodutiva: conquistas Série Lancet Brasil • PAISM e várias iniciativas – Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna (2004) – Programa Nacional para a Humanização da Atenção ao Parto e ao Nascimento (2004) – Norma Técnica Atenção Humanizada ao Abortamento (2005) – Campanha Nacional de Incentivo ao Parto Normal e Redução da Cesárea Desnecessária em 2006 e 2008 – Acompanhante no parto • Ampliação do acesso – Contracepção – Pré-natal – Parto hospitalar Indicadores de saúde reprodutiva Série Lancet Brasil 1981 (%) 1986 (%) 1996 (%) 2006 (%) - 57,0 72,0 78,5 Mais de 6 consultas de pré-natal (% de todas as mulheres) 40,5 ... 75,9 80,9 Iniciou de pré-natal no primeiro trimestre da gravidez (% de todas as mulheres) ... ... 66,0 83,6 79,6 80,5 91,5 98,4 Uso de contraceptivos modernos entre mulheres unidas Atenção durante a gravidez e o parto (últimos 5 anos antes do inquérito) Parto hospitalar (%) Cobertura de intervenções por renda, Brasil, 1996-2006 Série Lancet Brasil Saúde no Brasil 2 Poorest Richest Busca de tratamento Pneumonia 2006 1996 2006 1996 2006 1996 2006 1996 2006 1996 Pneumonia careseeking Água Tratada Safe water Pré-Natal Antenatal care (4+) Parto Institucional Skilled birth attendant Uso de Contraceptivo Contraceptive use 0% 20% 40% 60% 80% 100% Atenção à saúde reprodutiva: desafios Série Lancet Brasil • Excessiva medicalização da gestação e do parto – Ultrassom – Ocitocina – Episiotomias – Cesarianas • 35% SUS • 80% Saúde Suplementar Mortalidade materna Série Lancet Brasil Severa violação dos direitos reprodutivos das mulheres: praticamente todas as mortes podem ser evitadas com atenção precoce e de qualidade. – Estimativas das RMM são afetadas pelo sub-registro de óbitos e pela sub-notificação de causas maternas. – A investigação compulsória de mortes em idade reprodutiva tem melhorado as informações. – Difícil interpretação de tendências temporais e diferenças regionais. Série Lancet Brasil Aborto inseguro Série Lancet Brasil • Ilegalidade não coíbe a prática, mas contribui para o uso de técnicas inseguras e afeta a confiabilidade dos dados. • Alta magnitude: – em 2010, 22% das mulheres entrevistadas na PNA (25-39 anos), declararam já ter realizado um aborto induzido; – em 2008, 215.000 hospitalizações do SUS foram por complicações de abortos (somente 3230 abortos legais). – Mais de um milhão de abortos induzidos foram realizados em 2008, para 3 milhões de nascimento: uma gravidez em cada quatro terminou em aborto. – Em 2002, 11% das mortes maternas por complicações do aborto. • Iniquidade – mulheres jovens, negras, pobres e residentes em áreas periurbanas são as mais afetadas. Conquistas e desafios Série Lancet Brasil • Principais conquistas: – Incorporação da perspectiva das mulheres na atenção à reprodução – Aumento da cobertura dos indicadores de saúde reprodutiva • Principais desafios – – – – – – Mortalidade materna Qualidade da atenção Excessiva medicalização Articulação entre assistência pré-natal e ao parto Humanização da atenção Atenção ao aborto inseguro / ilegalidade da prática Série Lancet Brasil Saúde infantil Série Lancet Brasil Saúde infantil restrita aos menores de 5 anos e mais focada em menores de um ano: mortes no primeiro ano de vida representam 90% da mortalidade de 0-4 anos. Tendência temporal na mortalidade infantil, Brasil, 1930-2006 Série Lancet Brasil Taxas anuais de redução Infant deaths per 1,000 (Iog scale) 1930-70 ≈ 1% 1970-79 = 3,2% 1980-89 = 5,5% 1990-99 = 5,5% 2000-06 = 4,4% CMI (escala LOG) 100 C M I 10 Source: Demographic Censuses, 1940-2000, and MIX model (Ministry of Health) 1990-2008 Mortalidade infantil por causas Série Lancet Brasil Mortalidade infantil por 1.000 25 20 15 10 5 0 C.Perinatal Perinatais A. Congênitas Malformations 1990 I.Respiratory Respiratórias CIne infections 2000 2007 Diarréia Diarrhea Ot. infections infecções Other Morbidade de crianças Série Lancet Brasil • Erradicação (ou quase) de doenças imunopreveníveis (polio, sarampo, difteria, coqueluche, etc) • Marcada redução na morbi-mortalidade por diarréias • Redução da transmissão vertical do HIV • Aumento importante nos nascimentos pré-termo • Persistência da sífilis congênita Nutrição de crianças menores de 5 anos Série Lancet Brasil Saúde no Brasil 2 Ano 1989 Tipo de deficit (%) Altura/ Peso/ Peso/ idade idade altura 19,9 5,6 2,2 Sobrepeso ou obesidade 8,4 1996 13,5 4,6 2,5 7,4 2006/7 7,1 2,2 1,6 7,3 Duração mediana da amamentação Série Lancet Brasil 16 14 Meses 12 10 8 6 4 2 0 1974/5 1989 1996 2006/7 Mortalidade infantil por Região Geográfica Brasil, 1990, 2000 e 2007 Série Lancet Brasil Mortalidade infantil por 1.000 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Norte North Nordeste Northeast 1990 Sudeste Southeast Norte 2000 2007 Sul South Centro-Oeste Centre-West Saúde da família e mortalidade infantil Série Lancet Brasil 50 Cobertura PSF Mortalidade infantil por 1.000 45 40 <60% 35 60 - 80% 30 >80% 25 20 15 10 5 0 Poorest Mais pobre 2 3 4 Qunitos de renda média do município Richest Mais rico Mortalidade em menores de 5 anos por renda Série Lancet Brasil Saúde no Brasil 2 Ricos Pobres 2001-2 1991 0 20 40 60 80 100 Diferença entre o quintil mais rico e o mais pobre Déficit de altura por região, 1974/5-2006/7 Série Lancet Brasil 60 Déficit de altura/idade (%) 50 40 30 20 10 0 Norte North Nordeste Northeast 1974/5 Sul Sudeste Sul South Southeast 1989 1996 2006/7 Sul Centro-Oeste Centre-West Déficit de altura por renda, 1974/5-2006/7 Série Lancet Brasil 100% 1974/5 1989 1996 2006/7 `Déficit de altura (%) 80% 60% 40% 20% 0% Mais pobre Mais pobre Poorest 2 3 2nd 4 3rd 4th Mais rico Richest Série Lancet Brasil Saúde de mães e crianças no Brasil: mensagens (1) Série Lancet Brasil • A saúde e a nutrição das crianças brasileiras melhoraram rapidamente a partir dos anos 1980. • A primeira Meta do Milênio (redução pela metade do número de crianças subnutridas entre 1990 e 2015) já foi alcançada e a Meta número quatro (redução de dois terços dos coeficientes de mortalidade de crianças menores de 5 anos) provavelmente será alcançada em breve. Saúde de mães e crianças no Brasil: mensagens (2) Série Lancet Brasil • O progresso na razão de mortalidade materna é difícil de ser avaliado, uma vez que a tendência temporal do indicador vem sendo afetada por melhorias nas estatísticas vitais, mas há evidências de diminuição nas razões de óbitos maternos nos últimos trinta anos. • Entretanto, a Meta do Milênio número 5 (redução de três quartos da mortalidade materna entre 1990 e 2015) possivelmente não será alcançada. Saúde de mães e crianças no Brasil: mensagens (3) Série Lancet Brasil • As desigualdades regionais e socioeconômicas – em termos de cobertura de intervenções, estado nutricional e outros indicadores de saúde materno-infantis diminuíram marcadamente. Saúde de mães e crianças no Brasil: mensagens (4) Série Lancet Brasil • Os principais fatores que contribuíram para tais avanços incluem: • melhorias nos determinantes sociais (pobreza, educação de mulheres, urbanização e fecundidade) • intervenções fora do setor de saúde (transferência condicional de renda, abastecimento de água e saneamento) • a criação de um sistema nacional de saúde unificado, com focalização da atenção primária em saúde nas populações previamente excluídas • programas dirigidos a doenças específicas. Saúde de mães e crianças no Brasil: mensagens (5) Série Lancet Brasil • • • • • • • Grandes desafios ainda persistem: Excessiva medicalização da assistência ao parto e nascimento; Alta frequência de cesarianas; Aumento dos nascimentos pré-termo; Ilegalidade do aborto; Elevados índices de gravidez na adolescência; Elevada razão de mortalidade materna; Redução das desigualdades socioeconômicas e regionais na saúde das mães e crianças. Série Lancet Brasil Obrigada [email protected] [email protected]