Sumário resenha • Economia solidária e cooperativismo: considerações acerca do trabalho Introdução à economia solidária de Paul Singer..................................................... 3 Anne Caroline Moura Guimarães Cançado e Airton Cardoso Cançado Artigos TECNOLOGIA • Previsão de Séries Temporais utilizando Lógica Fuzzy............................................... 5 Alexandre Tadeu Rossini da Silva EDUCAÇÃO • O ensino superior no Brasil: vontade política ou aspiração popular?........................... 15 Maria Cristina d´Almeida Moretz-Sohn • Docência na educação superior: uma construção mediada por saberes pedagógicos....... 33 Marilda Piccolo GESTÃO • Ecoturismo no Brasil: uma proposta de desenvolvimento e sustentabilidade................ 43 Claudia Nolêto Maciel Luz • Análise dos impactos de um sistema de avaliação de desempenho aos colaboradores internos de uma organização.......................................................................... 55 Roseli Vieira Pires e Rubia Mara Martins Peixoto • Competitividade no setor de análises clínicas: um estudo survey na cidade do Natal/RN..................................................................................................... 67 Dany Geraldo Kramer Cavalcanti e Silva, Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior, Bianca Caroline da Cunha Germano, Walter Romero Ramos e Silva Júnior, Sérgio Marques Júnior e Aurean de Paula Carvalho • Levantamento sócio-econômico e cultural do assentamento Pericatu localizado no município de Pium-TO....................................................................................75 Glenda Feitosa da Silva, Alan Kardec Elias Martins e Iracy Coelho de Menezes Martins • Remuneração: do tradicional ao estratégico........................................................... 83 Paulo César Romão Bomfim • A importância da qualidade da informação para as organizações................................91 Suzana Gilioli da Costa Nunes MEIO AMBIENTE • Alternativa ambientalmente correta para o tratamento líquido percolado ou chorume combinado com esgotos domésticos.....................................................................99 Francisco Ferreira Dantas Filho e Magna Sueli Barros Dantas DIREITO • O periodismo jurídico oitocentista na órbita das academias brasileiras...................... 105 Armando Soares de Castro Formiga Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Apresentação Um periódico científico é sempre bem vindo no atual contexto de construção do conhecimento. A Revista Integração Universitária surge com o objetivo de estimular e difundir a produção científica. Esta iniciativa da Faculdade Católica no Tocantins vem reforçar os trabalhos de pesquisa que são realizados na instituição, bem como se constituir em um canal aberto para a comunidade acadêmica apresentar seus trabalhos. Foi de grande valia a colaboração de todos os professores e funcionários da instituição para a finalização deste primeiro número da Revista Integralização Universitária - RIU. Cada membro da equipe da Católica do Tocantins pode se sentir responsável por uma parte deste trabalho. Neste número iniciamos com uma resenha que trata de importante trabalho do Professor Paul Singer, Introdução à economia solidária. Na seqüência temos um trabalho na área de tecnologia, que trata da previsão de séries temporais utilizando a Lógica Fuzzy. Na seção de educação, os dois trabalhos são complementares, um trata da competência pedagógica dos professores da graduação, enquanto o outro aborda a origem e evolução do ensino superior no país. A seção de gestão foi a que recebeu mais trabalhos. Entre os artigos publicados nesta revista relacionados à esta questão, temos textos que tratam dos tipos de remuneração, ecoturismo, avaliação de desempenho, qualidade da informação, competitividade no setor de análises clínicas e um levantamento sócio-econômico-cultural em um assentamento. Na temática do meio ambiente, o trabalho apresentado mostra uma metodologia para o tratamento de resíduos poluentes líquidos. Finalizando a Revista, na seção voltada para os estudos jurídicos, encontramos um trabalho que trata da origem e evolução dos periódicos brasileiros de direito. Dentro desta diversidade encontramos a unidade que é a pesquisa e a produção científica desenvolvida por estes autores. Boa leitura! Airton Cardoso Cançado Editor Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 RESENHA Economia solidária e cooperativismo: considerações acerca do trabalho Introdução à Economia Solidária de PAUL SINGER Anne Caroline Moura Guimarães Cançado1 Airton Cardoso Cançado2 SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002, 124 p. Este livro do Professor Paul Singer pode ser considerado como um dos pioneiros a tratar da temática da economia no Brasil. É um livro bastante conhecido e usado como referência em quase todos os trabalhos sobre o tema. O autor divide o livro em quatro capítulos, no primeiro faz-se uma comparação entre a sociedade capitalista e a sociedade da economia solidária ou cooperativista, relacionando todos os pontos fracos e fortes das duas sociedades. O autor critica o capitalismo e defende a economia solidária, porque para ele vivemos “em uma sociedade em que a competição domina todas as áreas da atuação humana”, produzindo assim, sociedades totalmente desiguais. Segundo o autor, para existir uma sociedade em que predominasse a igualdade entre a população, seria necessário que a economia fosse solidária em vez de competitiva, ou seja, que os participantes na atividade econômica deveriam cooperar em vez de competir. “Não há competição entre os sócios: se a cooperativa progredir, acumular capital, todos ganham por igual. Se ela for mal, acumula dívidas, todos participam por igual nos prejuízos e nos esforços para saldar os débitos assumidos”. Para o autor, se a economia fosse solidária, a sociedade seria menos desigual, porém, algumas cooperativas iriam progredir mais que outras, em função do acaso e das diferenças de habilidade e inclinação das pessoas que as compõem. O mesmo defende que as pessoas deveriam repartir por igual o resultado, independente do cargo em que atuam na organização. Mas devido ao capitalismo, apenas Revista Integralização Universitária algumas cooperativas aceitam repartir por igual a sua retirada e a maioria divide de acordo com a função exercida na cooperativa. O capitalismo, para o autor, aplica a heterogestão, ou melhor, a administração hierárquica formada por níveis sucessivos de autoridade. O objetivo constante das organizações capitalistas é a procura de novas fórmulas que lhe permitam extrair o máximo de trabalho e eficiência das pessoas empregadas. Já a economia solidária, pratica a autogestão, ou seja, administra democraticamente. Todas as decisões devem ser tomadas em assembléias realizadas na cooperativa, porque todos os associados devem saber de tudo que acontece. No segundo capítulo o autor relata a história da economia solidária, suas origens e evolução. Cabe ressaltar que Paul Singer considera a economia solidária quase como sinônimo de cooperativismo. Nos relatos do autor, o cooperativismo nasceu logo após a Revolução Industrial, na Inglaterra, devido aos baixos salários das pessoas e a grande carga de horas de trabalho. A primeira pessoa a manifestar idéias diferentes da sociedade industrial foi o empresário Robert Owen em New Lanark. Este empresário tinha idéias avançadas para a época, os seus empregados passaram a trabalhar menos horas e a ganhar mais, mostrando assim, um melhor rendimento nos serviços desempenhados. Após a Revolução Francesa, Robert Owen apresentou ao governo britânico uma proposta para o combate à pobreza, baseado em ações estruturantes, ao invés de o estado sustentar os pobres - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 ������������������� Pós-graduada da 1ª Turma do MBA em Gestão de Cooperativas da Universidade Católica do Salvador – UCSAL, Turismóloga pelo Centro Universitário da Bahia e Consultora do Instituto de Economia Solidária (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). 2 Mestre ��������������������� em Administração pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia – EAUFBA -, professor da Faculdade Católica do Tocantins – FACTO e da Universidade Federal do Tocantins - UFT. 1 (numa perspectiva assistencialista), proporcionaria condições de trabalho, comprando terras e construindo aldeias cooperativistas para que as pessoas trabalhassem na terra e na indústria, criando assim, a sua própria subsistência. Mas o governo não aceitou a sua proposta, então Owen foi embora para os Estados Unidos ficando por lá alguns anos, depois voltou para a Inglaterra e, quando chegou na sua terra natal, descobriu que algumas pessoas estavam usando as suas idéias. A primeira cooperativa owenista foi criada por George Mudie, que reuniu um grupo de jornalistas e gráficos, em Londres. Na terceira parte do trabalho o autor trata de diversos tipos de cooperativas. O cooperativismo de consumo foi o tipo pioneiro, em Rochdale (Inglaterra), e seu sucesso difundiu as idéias pela Europa. Esta cooperativa, ao ser criada adotou oito princípios, que depois foram apropriados pelo movimento como os princípios do cooperativismo. O cooperativismo de crédito foi desenvolvido na Alemanha, inicialmente como uma caixa de crédito de caráter filantrópico. Posteriormente passou a funcionar como um fundo de crédito rotativo, onde os cooperados entravam com recursos e na medida da necessidade faziam empréstimos a juros módicos. As Cooperativas de compras e vendas, descritas neste capítulo pelo autor, “são associações de pequenos e médios produtores que procuram ganhos de escalas mediante a unificação de suas compras e/ou de suas vendas”. O tipo que mais se destaca nesta categoria é a cooperativa agrícola. O autor descreve neste livro, a corporação cooperativa de Mondragón (Espanha), que une cooperativa de produção industrial e de serviços comerciais com um banco cooperativo, “uma cooperativa de seguro social, uma universidade e diversas cooperativas dedicadas à realização de investigações tecnológicas”. No quarto e último capítulo, Paul Singer trata da reinvenção da economia solidária no fim do século XX e as pers- pectivas da economia solidária. Ao final da segunda Guerra Mundial, uma grande parte da população da Europa passou a desfrutar de boas condições de vida, assistidas pelo Estado de Bem-estar Social (wellfare State). Com isso, ocorreu um grande desinteresse pela economia solidária e, também, a introdução de assalariados dentro das cooperativas. Esta situação foi modificada depois dos anos 70 quando se iniciou a crise do desemprego em massa, provocando a desindustrialização em países centrais e semi-industrializados. Com isso a economia solidária ressurgiu com toda a força, aumentando assim, o número das cooperativas. Porém este novo cooperativismo buscava a volta dos seus princípios e o repúdio ao assalariamento. Em síntese, Singer no primeiro capítulo faz uma crítica ao modo de sobrevivência do capitalismo e apóia a economia solidária, pois se todas as pessoas vivessem com o modo de produção da economia solidária, haveria menos desigualdade social no mundo. No segundo, ele relata a história do cooperativismo, como e onde surgiu. O capítulo seguinte é dedicado à descrição dos tipos de cooperativa e suas origens, com destaque para a cooperativa de Rochdale. No quarto capítulo, o autor fala do ressurgimento da economia solidária ou cooperativismo no mundo, pois para ele, o cooperativismo e a economia solidária são sinônimos. Cabe ressaltar, ao fim deste trabalho, que considerar o cooperativismo, mesmo apenas sua vertente denominada cooperativismo popular como sinônimo da economia solidária é uma proposta discutível. O fenômeno da economia solidária também assume outras formas como clubes de troca, associações, grupos produtivos etc. Todos centrados na questão da autogestão e na valorização do trabalho em detrimento do capital, porém cada tipo de organização tem suas características distintas que, mesmo apesar de muito próximas não são idênticas entre si. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 TECNOLOGIA Previsão de séries temporais utilizando Lógica Fuzzy Alexandre Tadeu Rossini da Silva1 Resumo. Usando o processo de KDD (Knowledge Discovery Database), um sistema foi definido a fim de extrair automaticamente regras em bases de dados. O método de aprendizado de máquina adotado foi a Lógica Fuzzy com o algoritmo Wang-Mendel. Testes e resultados são apresentados para validar o modelo. Todo o processo de extração e inferência está descrito ao longo do trabalho. Palavras-chave: Previsão de Séries Temporais; Lógica Fuzzy; Mineração de Dados; Wang-Mendel; KDD. Abstract: Using the KDD (Knowledge Discovery Database) process, a system was defined to extract rules automatically in databases. The method of machine learning was the fuzzy logic using the WangMendel algorithm. Tests and results are presented to validate. The process of extration and inference is described in the paper. Key-words: Time Series Prediction; Fuzzy Logic; Data Mining; Wang-Mendel; KDD. 1 Introdução A evolução da computação possibilitou um aumento na capacidade de processamento e armazenamento de dados. Nesse sentido, aplicativos essencialmente para consultas foram projetados para gerar relatórios simplificados. Porém, os relatórios necessitam ser interpretados. O processo de Extração de Conhecimento de Bases de Dados tem o objetivo de encontrar conhecimento a partir de um conjunto de dados para ser utilizado em um processo decisório. A Mineração de Dados é a principal etapa do processo de Extração de Conhecimento. A descrição completa de um sisRevista Integralização Universitária tema real em muitos casos requer dados extremamente detalhados e muito além do que um ser humano poderia simultaneamente processar e entender. Uma nova abordagem para a solução deste problema pode ser encontrada no campo de Sistemas Inteligentes. O termo Inteligente significa buscar, identificar e emular a forma de processamento da informação executada pelo cérebro humano em situações complexas. Nestas situações não se usam conceitos explicitados em equações matemáticas, mas a experiência adquirida mediante a um processo específico de aprendizagem. Dentre os métodos computacionais, a Lógica Fuzzy é capaz de aproximar complexos sistemas não lineares com poucas regras em linguagem natural. Uma série temporal é um conjunto de observações de um fenômeno ordenado no tempo (Box e Jenkins, 1970). A análise de uma série temporal é o processo de identificação das características, padrões e propriedades importantes da série, utilizados para descrever em termos gerais o seu fenômeno gerador (Morettin e Tolot, 1987). Na figura 1, é ilustrada uma série temporal, onde o eixo k é a linha de tempo e [U-,U+] é a faixa de valores possíveis da série. Repare que a série tende a se repetir ao longo do tempo. - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Mestre em Sistemas e Computação, professor da Faculdade Católica do Tocantins. 1 Figura 1. Série temporal Diante do exposto, este trabalho tem o objetivo de construir um sistema minerador que utilize Lógica Fuzzy para extrair regras para previsão de séries temporais automaticamente em base de dados. O trabalho está organizado da seguinte forma: inicialmente será introduzida a fundamentação teórica dos métodos utilizados no trabalho; em seguida a descrição de todo o problema bem como algumas considerações; posteriormente a solução proposta é detalhada; para validar a solução, os testes e resultados do sistema são apresentados em seguida; por fim são feitas as considerações finais do trabalho. 2 Fundamentação Teórica Nesta seção são descritos os métodos necessários para compreensão do trabalho. 2.1 KDD O processo capaz de descobrir conhecimento em base de dados chama-se Knowledge Discovery Database (KDD). Este processo envolve encontrar e interpretar padrões nos dados, de modo iterativo e interativo, através da repetição dos algoritmos e da análise de seus resultados. As técnicas da Inteligência Computacional têm sido empregadas com sucesso no desenvolvimento de sistemas inteligentes de previsão, suporte à decisão, controle, otimização, modelagem, classificação e reconhecimento de padrões em geral, aplicados em diversos setores: energia, industrial, econômico, financeiro, comercial, síntese de circuitos, meio ambiente, entre outros. Divide-se o processo de KDD em três grandes etapas: pré-processamento, mineração de dados e pós- processamento. Vide Figura 2. A etapa de pré-processamento tem como objetivo a preparação dos dados para os algoritmos da etapa seguinte, a Mineração de Dados. Durante a etapa de Mineração de Dados é realizada a busca efetiva por informações úteis no contexto da aplicação de KDD. A etapa de pós-processamento abrange o tratamento do conhecimento obtido na Mineração de Dados (Goldschmidt e Passos, 2005). Mineração de dados ou Data Mining é a extração não-trivial de informação implícita (nova ou previamente desconhecida) e útil a partir de bases de dados. (Loh, 2006) Figura 2. Divisão do processo de KDD 2.2. Lógica Fuzzy Os conjuntos Fuzzy tentam aproximar o raciocínio humano ao da lógica executada matemática. Tradicionalmente, em lógica bivalente, temos em um conjunto convencional limites bruscos, onde a transição de conjuntos representa um corte abrupto entre elementos vizinhos pertencentes a conjuntos diferentes. Em Lógica Fuzzy, elementos podem ser reduzidos a “meias verdades” ou “meias mentiras”, através de uma lógica multivalorada, tornando gradual a transição de conjuntos. Concisamente, pode-se definir Lógica Fuzzy como sendo uma técnica capaz de capturar informações vagas, em geral descritas em uma linguagem natural e convertê-las para um formato numérico, de lógica. Outra vantagem é que o conhecimento gerado pela Lógica Fuzzy está explicitamente representado na forma de regras em linguagem natural, o que dá maior compreensão do processo ao especialista. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 2.2.1 Algoritmo de Wang-Mendel O algoritmo utilizado neste trabalho para a extração automática de regras fuzzy é o Wang-Mendel. Esse algoritmo utiliza o paradigma de aprendizado supervisionado. O primeiro passo do algoritmo é a definição do domínio das variáveis, intervalos onde provavelmente os valores de cada variável estarão, onde x1,x2,...,xn são entradas e y é a saída. Em seguida, dividir cada domínio em 2N+1 regiões, ou seja, um número ímpar de conjuntos. O segundo passo consiste em buscar os dados em uma base de dados e determinar os graus de pertinência dos dados nos conjuntos fuzzy obtidos no passo 1. Em seguida, é aproveitado somente o conjunto com maior grau de pertinência do elemento, os demais conjuntos são descartados, obtendo-se assim as regras. No próximo passo é necessário atribuir um grau a cada regra a fim de eliminar regras conflitantes e redundantes. O grau de pertinência de cada regra é definido pelo produto dos graus de pertinência da regra. Para cada grupo de regras com mesmo antecedente (conflitantes e redundantes), é selecionada a regra como o maior grau e, as demais, são eliminadas. O último passo é realizado somente nos casos em que se dispõe de regras lingüísticas criadas por especialistas. Nesse sentido, elas serão consideradas, assumindo que também possuem um grau atribuído pelo especialista. Havendo regras conflitantes, com antecedentes iguais e conseqüentes diferentes, se deve selecionar aquela com maior grau e eliminar as demais. O algoritmo de Wang-Mendel aplicado aos problemas de previsão de séries temporais, difere apenas no fato de que, agora, os n antecedentes (janela) formarão uma série temporal e o alvo é um dado com k passos à frente a ser previsto Revista Integralização Universitária (Figura 3). Figura 3. Janela (x0,x1,x2,...,xn) e alvo (y) de uma série temporal 3 Descrição do Problema A análise em grande massa de dados realizada visualmente por especialistas humanos pode ser bastante confusa ou ocorrer de informações importantes passarem despercebidas, acabando por gerar dados imprecisos causados pela grande quantidade de informações relacionadas. Os especialistas passam horas analisando os dados para extrair informações importantes para o processo de tomada de decisão. Previsão, basicamente, é a antecipação, na base de suposições, do que ainda não aconteceu. Assim, a previsão de séries temporais tem sido aplicada em diversos problemas do mundo real, auxiliando o planejamento e a tomada de decisões. Diversos modelos já foram desenvolvidos na literatura para prever séries temporais e destacam-se a Lógica Fuzzy e Redes Neurais, entre outras. Em problemas desse tipo, como já citado, a descrição completa de um sistema real requer, em muitos casos, dados extremamente detalhados e muito além do que um ser humano poderia simultaneamente processar e entender. Nesse contexto, é necessário minimizar a quantidade de regras sem perder o comportamento do sistema. Dessa forma, é necessário um sistema de aproximação. Um problema que pode aparecer na minimização é o surgimento de uma nova série na qual o sistema não possui regras, ou seja, essa série temporal não existia no momento da - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 criação das regras do sistema. Há ainda aplicações onde o universo não pode ser limitado previamente, na qual o universo varia por conseqüência de fatores não determinísticos, pelo acaso. Exemplos disso são a bolsa de valores e a quantidade de acessos em um website. Como seria possível prever, com um mínimo de erro aceitável, o número de acessos do website da rede de televisão estadunidense CNN no dia 11 de setembro de 2001 (dia do atentado terrorista ao World Trade Center, em Nova Iorque)? Uma pergunta difícil e que talvez não tenha resposta. O que se pode, então, é tentar prever em condições normais, esse exemplo da CNN seria um desvio da normalidade. 4 Solução Proposta Seguindo o processo de KDD, neste trabalho coube à etapa de Pré-processamento apenas a realização da normalização linear dos dados. A normalização é a transformação dos valores para uma gama fixa (eg 0 a 1), isto foi adotado para verificar o comportamento do sistema de inferência quando o universo é extrapolado. É pré-requisito do sistema que a base de dados contenha apenas dados numéricos e não possua ruídos. A mineração de dados, aqui realizada por método de aprendizado de máquina, é o processo de aquisição de conhecimento, é nele que as regras são descobertas a partir dos exemplos passados. A Lógica Fuzzy foi escolhida por estar mais próxima à forma do pensamento e da linguagem natural humana, o que facilita a análise e compreensão do conhecimento adquirido nesse processo. O algoritmo utilizado para a extração das regras fuzzy é o algoritmo de Wang-Mendel. (Wang e Mendel, 1992) A obtenção do conhecimento não é o passo final do processo de KDD. O pós-processamento é uma etapa que não é automatizada, ainda dependendo do raciocínio humano (especialista). A principal meta dessa fase é melhorar a compreensão do conhecimento descoberto validando-o através de medidas de qualidade da solução e da percepção de um especialista. O intuito da implementação de um sistema computacional é a realização automática de extração de regras e ser capaz de realizar a inferência Fuzzy, através do modelo de Mamdani. De acordo com o sistema, o primeiro passo é a introdução da base de dados a ser utilizada no sistema (Figura 4). Figura 4. Tela do sistema: importação da base de dados Seguindo, já com a base de dados no sistema, são apresentadas em tela as variáveis da base de dados (Figura 5) que devem ser escolhidas. No quadrado devem ser marcadas as variáveis que serão utilizadas para extrair conhecimento e o círculo representa a variável temporal. Figura 5. Tela do sistema: seleção de variáveis No próximo passo, é necessária, por parte do especialista, a entrada da quantidade de conjuntos fuzzy que serão utilizados (Figura 6) em cada variável. Atualmente no sistema a única opção de formato do conjunto é triangular e simétricos entre si. Figura 6. Tela do sistema: definição dos conjuntos Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Caso o especialista deseje renomear os rótulos, que a priori são definidos numericamente por ordem crescente partindo-se de zero, a próxima tela é para isso (Figura 7). Figura 7. Tela do sistema: renomear os rótulos A Figura 8 é a tela seguinte do sistema, onde devem ser inseridas as configurações para o sistema de extração de regras. Nessa tela deve ser definido o tamanho da janela e o alvo (k passos à frente a ser previsto), além do conjunto de dados que será usado no treinamento. Na implementação do sistema de extração de regras fuzzy, o universo pode ser indicado por um especialista ou ainda a partir da base de dados, obtê-lo automaticamente, a partir do maior e do menor valor no conjunto de treinamento, para então, realizar a normalização linear dos dados a partir do universo. Depois de realizada a normalização, todos os dados estarão no intervalo, independentes do domínio [0,1]. Há ainda uma opção de αcut para as regras. Posteriormente, as regras extraídas são exibidas para o especialista que, se desejar, pode aplicá-las utilizando a mesma base de dados, em qualquer intervalo da base. O sistema de inferência fuzzy implementado utiliza a composição max-min e a defuzzificação é calculada pelo método da altura Y=Σiyµ(yi)/ Σiµ(yi), onde y é a altura de um conjunto e µ(yi) o grau de pertinência ao conjunto. Adicionalmente, sabendo que o KDD é um processo interativo e iterativo, onde através das interações com o especialista há iteração no processo inteiro a fim de melhorar os resultados apresentados, modificações podem ocorrer durante os testes. 5 Experimentos e Resultados A base de dados utilizada nos testes é uma base de dados de um website real, onde contém a hora (variável temporal) e a quantidade (série) de páginas visualizadas (pageview) diariamente, observadas entre outubro de 2003 e novembro de 2004. Figura 8. Tela do sistema: configurações Revista Integralização Universitária Em testes iniciais, utilizou-se apenas o mês de outubro de 2003 com 7 conjuntos fuzzy para a extração de regras, janela de 5 observações (dias úteis da semana), alvo igual a 1 e α-cut 0 (zero). O universo é obtido pelos maiores e menores valores desse mês. Dessa configuração, foram extraídas 20 regras fuzzy (Figura 9). - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 10 Figura 9. Tela do sistema: regras extraídas do mês de outubro de 2003 Para validar essas regras, aplicouas entre os dias 6 e 31 de outubro de 2003, período incluído na extração das regras. A média dos erros dos testes foi de 4.22618% em relação ao universo. Vejamos agora como o sistema se comporta para uma quantidade maior de conjuntos. Utilizando 21 conjuntos e as mesmas configurações do teste anterior, foram extraídas 26 regras e aplicando-as no mesmo conjunto do teste anterior a média de erros reduziu para 1.01196% em relação ao universo. Ainda utilizando as mesmas configurações, mas alterando para 39 conjuntos, o erro caiu ainda mais. 0.4682% do universo. Assim pôde-se constatar que o aumento na quantidade conjuntos é diretamente proporcional à acurácia do sistema, mas deve ser observado que a complexidade do sistema também aumenta e na proporcionalmente também aumenta o número de conjuntos. A partir de agora os testes serão realizados sempre com 21 conjuntos fuzzy para analisar o comportamento das regras no sistema de inferência. Agora faz-se necessário analisar a janela. No teste a seguir, utilizou as mesmas configurações dos testes anteriores, exceto a janela que passa a ser 7 (dias da semana). As regras extraídas foram aplicadas para prever os dias entre 8 e 31 do mesmo mês. O erro foi de 0.94007% em relação ao universo, ou seja, menor que os 1.01196% com janela igual a 5 (dias úteis). Utilizando uma janela de 10 dias, o erro resultante foi 0.95169% do valor do universo para a previsão dos dias entre 11 e 31 de outubro de 2003. Isso mostra claramente que o comportamento da série na aplicação está intimamente ligada aos dias da semana, assim decidiu-se utilizar nos demais testes janela igual a 7. Entretanto, A complexidade do sistema também cresce com o aumento da janela. Continuando, a análise é feita na aplicação das regras extraídas no mês de outubro de 2003 aplicadas no mês de outubro de 2004. Nenhuma regra foi encontrada para ser aplicada ao mesmo mês do ano seguinte, isso ocorre porque o número de acessos diários no website aumentou e o universo que estava definido de acordo com o valor mínimo e máximo de um ano antes não atende à realidade atual, mesmo atualizando o universo a cada dia, por exemplo, para a previsão do dia 2, se o dia 1 tiver fora do universo, o universo é alterado com os dados do dia 1, tentando melhorar a previsão para o dia 2, mas continua não encontrando regras para aplicar. Uma solução seria tentar encontrar todas as soluções possíveis, o que é inviável já que queremos reduzir o número de regras e utilizar um sistema inteligente para aproximar funções. Diante disso, decidiu-se tentar através de pesos nas regras existentes prever um alvo onde não seja encontrada uma regra, assim pelo princípio da localidade espacial (se um item é referenciado, é provável que seus vizinhos também o sejam) cada antecedente da regra recebe um peso que cresce à medida em que esteja mais próximo do alvo. A fórmula utilizada para atribuir pesos às regras é peso=(Y*d), onde Y é a altura do conjunto e d é uma distância, quanto mais próximo do conseqüente da regra ele aumenta. Agora, com peso nas regras para inferir apenas as séries na qual ainda não Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 11 possuam regras, o erro para o mês de outubro de 2004 foi de 9.57871% em relação ao universo, sendo que houve 8 alvos sem previsão. Faz-se necessário analisar o comportamento quando o treinamento é realizado com mais dados. Utilizou-se agora para o treinamento o período entre os meses de abril de 2004 e setembro de 2004, foram 176 regras extraídas, o que mostra ser uma aplicação onde as séries não tendem a se repetir. Descobriu-se que o número de páginas visualizadas está diretamente ligado a fatores externos e que na maioria não são previsíveis, por exemplo, notícias. As regras extraídas foram utilizadas para prever os acessos do website no mês de outubro de 2004 e somente uma regra foi ativada completamente. Na tentativa de encontrar regras pelo princípio da localidade espacial, conseguiu prever valores para todas as outras, demonstrando que um conjunto de dados maiores no treinamento aumenta a capacidade de aproximar mais séries. Entretanto, o erro médio foi de 10.22% do universo, mas houve resultados interessantes como, por exemplo, o erro de apenas 23.55268 acessos em um dia, mas nesse mês havia um desvio (dia 04) nos acessos, que é justamente 1 dia após as eleições, ou seja, o dia em que todos os resultados de votação foram divulgados amplamente, neste dia o erro foi de 3846.73524 acessos. Utilizando um α-cut de 0.1 na relevância das regras extraídas, o resultado na inferência foi de 10.9% do universo, piorando o resultado. Ao invés de apenas testar meses escolhidos ao acaso, foi necessário conhecer melhor a base, note que isso é típico do pós-processamento do KDD. É interessante observar que os dados que serão levados ao treinamento para a extração das regras devem ser escolhidos pelo especialista para um melhor resultado. Assim, decidiu-se extrair regras utilizando os meses de setembro e outubro de 2004 e prever o mês de novembro de 2004. Como resultado, todos os alvos não possuíam regras, Revista Integralização Universitária lembrando que isso é provocado pela natureza dinâmica do universo de acessos. Tentando aproximar as regras existentes, o erro foi de 6.943157% do universo, observando melhora no resultado, isso ocorreu porque entre os meses de setembro e novembro de 2004, houve algumas semelhanças nas séries, ficando evidente a necessidade de se conhecer a base de dados para obtenção de melhores resultados. Com um especialista definindo um universo suficientemente grande para que o período entre outubro de 2003 e novembro de 2004 seja coberto, utilizou para treinamento extração de regras nos meses entre outubro de 2003 e janeiro de 2004 e aplicando as regras para prever o mês de setembro de 2004. Em 9 dias haviam regras para prevê-los, nos outros dias restantes utilizou o princípio da localidade espacial, o erro médio foi de 4.20484% do universo, incluindo os dois métodos de inferência. Portanto, o conhecimento de um especialista definindo previamente um universo suficientemente grande consegue melhorar os resultados. Contudo, notou-se que a base de dados utilizada nos testes não costuma repetir as séries periodicamente o que dificulta a previsão. Fica para trabalhos futuros a busca por um método que consiga aproximar as regras mais eficientemente, mas já em mente a possibilidade da utilização de algoritmos genéticos, onde o cromossomo seria uma regra e o gene as variáveis da janela e do alvo. Nessa estrutura, as regras evoluiriam tentando encontrar uma regra que atenda à série, sendo a comparação com a série a função objetivo. Por fim, no intuito de tentar reduzir a complexidade computacional do sistema de inferência, ao invés de utilizar todas as regras ativadas para fazer a defuzzificação, foi utilizada apenas a regra na qual o seu conseqüente tenha o maior grau de pertinência no conjunto alvo. No teste foram utilizados 21 conjuntos, janela de 7 observações, alvo igual a 1, normalização - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 12 linear entre o maior e menor elementos dos dados de treinamento e α-cut zero. A extração das regras foi aplicada no mês de outubro de 2003, assim como a previsão (entre dias 8 e 31). Na figura 10, são apresentados parcialmente os resultados, onde o erro no método normal foi de 0.86776% (figura 10a) enquanto utilizando apenas a regra mais ativada foi (a) de 0.8972% (Figura 10b) do em relação ao universo. O tempo de processamento reduziu consideravelmente e a acurácia permaneceu semelhante, isto quer dizer que em aplicações que essa diferença seja tolerável, há a necessidade de respostas mais rápidas, talvez seja interessante a utilização de apenas a regra mais ativada. (b) Figura 10. Tela do sistema: resultados de previsão de séries 6 Considerações Finais Neste trabalho foram apresentadas as etapas de KDD, bem como suas utilizações. A etapa de mineração de dados é a fase mais importante, onde ocorre a extração automática das regras fuzzy a partir de uma base de dados. O método de aprendizado de máquina utilizado na mineração de dados foi a Lógica Fuzzy, implementada com o algoritmo WangMendel. Utilizou-se como base de dados de teste, o acompanhamento diário de acessos em um website real. De acordo com os testes, conclui-se que o sistema proposto é capaz de gerar regras que consigam pre- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 13 ver séries temporais correspondentes no futuro, ou seja, que tendam a se repetir. Contudo, a base de dados analisada demonstrou forte tendência de não repetir séries temporais, ocasionada por influência externa ao sistema e serviços disponíveis nos dias. Além disso, o universo do número de páginas visualizadas tem natureza dinâmica, o que prova mudança de comportamento (pageviews) em relação às regras extraídas. Entretanto, em bases de dados que apresentam séries temporais com fortes tendências a se repetir e que o universo tenda a ser estático, os resultados podem ser ainda mais interessantes. 7 Referências Box, G. E. e Jenkins, G. M. Time Series Analysis: Forecasting and Control, Holden-Day, San Francisco: 1970. Goldschmidt, R. R, Passos, E. Data Mining: Um Guia Prático, Campus, Rio de Janeiro: 2005. Loh, S. Data Mining. Disponível em: http://atlas. ucpel.tche.br/~loh/dm.htm. Acesso em: 15 set. 2006. Morettin, P. A. e Tolot, C. M. Séries Temporais, Métodos Quantitativos, Atual, São Paulo: 1987. Wang, L. X. e Mendel, J. M. Generating fuzzy rules by learning from examples. IEEE Transactions on Systems, Man, and Cybernetics: 1992. Todavia, tentou-se implementar um método de inferência na qual se pudesse, a partir das regras extraídas, prever acessos quando não haviam regras para a série. O método se mostrou com resultados inferiores aos de quando há regras para o alvo e fica proposto para trabalhos futuros a utilização de meta-heurísticas, como os algoritmos genéticos. É interessante acrescentar que a base de dados dos testes possuía dados com ruídos, ou seja, dias nos quais a medição de acessos estava com problemas, o que prejudicou os resultados. Diante disso e dos resultados apresentados, a figura de um especialista para orientar o processo é fundamental na obtenção de melhores resultados. Por fim, foram comparados os resultados do sistema proposto com duas formas de inferência diferentes, uma na qual é obedecida á fundamentações teóricas do sistema de inferência fuzzy proposto por Mamdani e outra na qual infere apenas á regras mais ativadas, na qual os resultados foram semelhantes, e podendo ser adotada em aplicações na qual obedeça à tolerância. A principal vantagem de se utilizar apenas a regra mais ativada para inferir é que a complexidade computacional é reduzida. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Foto: Roberto Carlos 15 EDUCAÇÃO O ensino superior no Brasil: vontade política ou aspiração popular? Maria Cristina d’ Almeilda Moretz-Sohn1 Resumo: A primeira universidade brasileira foi oficialmente instituída em 1920 por força de um decreto, sem um projeto acadêmico, sem uma estrutura realmente sólida e madura que lhe servisse de sustentação. Desde então, o ensino superior no Brasil passou por várias reformas, culminando com Lei de Diretrizes e Bases 09.394 de 20/12/1996, cujo texto genérico abriu espaço para sucessivas mudanças, deixando evidente a interferência política na educação, reafirmando a velha vocação brasileira de priorizar o poder e secundarizar o saber, o que distancia o ensino superior do referencial de reflexão e crítica, pilar da sua existência. Palavras-chave: ensino superior, reforma universitária, autonomia, flexibilidade, educação. Abstract: The first Brazilian university was instituted officially in 1920 by force of an ordinance, without an academic project, without a structure really solid and mature that served it as sustentação. Ever since, the higher education in Brazil went by several reforms, culminating with Law of Guidelines and Bases 09.394 of 20/12/1996, whose generic text opened space for successive changes, leaving evident the political interference in the education, reaffirming the old Brazilian vocation of to prioritize the power and to work the knowledge, what distances the higher education of the reflection referencial and critic, pillar of its existence. Key-words: higher education, reforms university, autonomy, flexibility, education. Revista Integralização Universitária 1 Introdução A universidade, nascida no século XIII, surgiu espontaneamente nas escolas catedralícias européias, formando professores e alunos uma única societas “e representavam o novo mundo que surgia a consciência de liberdade e a valorização do saber pelo que ele representa por si mesmo”. Com o significativo apelido de alma mater, a universidade recebia jovens das mais diversas camadas sociais, acreditando que, “através do saber e do diálogo, a verdade acabava por vir à luz”. (Beltrão, 1997, p.68) No Brasil, a universidade criada como “terreno seguro para abrigar a vida e o corpo social” revelou-se ao longo da história uma ilha de indefinições, um retrato, quem sabe, do próprio Estado (de estável, estabelecido) brasileiro, pródigo em ajustes circunstanciais, sem profundidade e substância, que verdadeiramente promovam a equidade e a justiça social (Beltrão, 1997, p.70). Para Chauí, “a vocação política teve prioridade na criação das universidades públicas e privadas no Brasil” (Chauí, 2001, p.115), ou seja, os aspectos políticos da universidade sobrepujaram em momentos históricos diferentes o projeto acadêmico, secundarizando o saber em detrimento do poder, distanciando-se do referencial de reflexão e crítica, pilar da sua existência. O presente artigo percorre os caminhos e descaminhos do ensino superior no Brasil, desde a vinda da Corte Portuguesa em 1808 até a Lei de Diretrizes e Bases promulgada em 1996 sob o número 9.394, desvelando a íntima relação, em momentos históricos diferentes, entre o saber e o poder. - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Mestre ������������������� em Educação Brasileira pela UFG. 1 16 2 A Educação superior no Brasil de 1808 a 1920 ������������������� Em 1772, o Marquês de Pombal promoveu uma reforma na Universidade de Coimbra, subdividindo o ensino entre Ciências Teológicas (Faculdade de Ciências e de Leis) e Ciências Naturais e Filosóficas (Faculdade de Medicina, de Matemática e de Filosofia). Cuidando para que o ensino estivesse voltado para a aplicação, as novas faculdades foram dotadas de observatório, gabinete de física, laboratório químico e jardim botânico, contando ainda com um grupo de naturalistas de reconhecido prestígio na Europa. (Paim, 1982, p.19) 2 A necessidade de formação das elites patriarcais e escravocratas despertada com a vinda da Corte Portuguesa ao Brasil em 1808, fez com que surgissem escolas superiores profissionalizantes, de caráter estritamente utilitarista, conforme o modelo pombalino2 de universidade, instituído em 1772 em Portugal, quando “a universidade tradicional foi virtualmente destruída, surgindo uma nova universidade, voltada para a ciência aplicada”. Com referência à nova universidade, Paim lembra que esta “é encarada como uma peça essencial ao projeto de tornar Portugal uma nação rica e próspera. Escapa à reforma a compreensão da ciência como saber desinteressado e busca da verdade”. (Paim, 1982, p.18) O Brasil, sede da monarquia, foi marcado indelevelmente pela Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra, já que “os homens que cercavam D. João VI e tiveram a missão de implantar as instituições de cultura, inexistentes na Colônia, haviam sido formados na nova mentalidade e prescindiam de todo da universidade”. (Paim, 1982, p.18) No Segundo Império, embora projetos para a reforma do ensino não tivessem faltado, a universidade permaneceu como um agregado de faculdades. Silveira observa que A concepção de universidade se alargou no Segundo Império; considerada ainda o agregado de cursos ou faculdades, fugiu – ou tentou fugir – ao velho modelo de Coimbra, sofrendo ora a influência francesa da universidade napoleônica, ora a influência germânica segundo as idéias de Humboldt. No primeiro caso, através da direção estatal centralizadora, objetivava-se o preparo dos profissionais necessários ao Estado; no segundo proclamava-se a liberdade de ensinar e aprender, a instituição dos cursos livres e da livre-docência. E havia ainda a concepção que considerava a universidade inútil e obsoleta: a dos positivistas, que se colocavam então contra a sua instituição no Brasil. (Silveira, 1984, p.62) A influência dos positivistas sobre os órgãos decisórios foi fundamental para o abandono sistemático da idéia de implantar-se a universidade no país, nos decênios iniciais da República. Sob o argumento de que “a universidade não se inclui entre os elementos requeridos pela grandeza nacional” (Paim, 1982, p.25), os positivistas rejeitavam a estruturação de uma universidade; defendiam que a grandeza nacional estaria diretamente ligada à Redução ao mínimo da massa de parasitas que exploram o trabalho proletário; da redução ao indispensável dos indivíduos úteis que, mantidos pelo proletariado, colaboram para o bem-estar deste; enfim, da educação e moralização deste mesmo proletariado, para que possa possuir seu domicílio inviolável e uma verdadeira família, em que a mulher não seja obrigada a descuidar dos filhos para cuidar do sustento da casa. (Paim, 1982, p.24) No primeiro período da República (1889-1930), a concepção de ensino superior no país expressa as determinações socioeconômicas, políticas e cultural da sociedade brasileira: a esta bastavam as escolas isoladas profissionalizantes, pois “uma concepção sofisticada de universidade exige da sociedade que a ela aspira a consciência do papel a desempenhar na História, a liberdade de pensamento e de ação, a estimulação do espírito criador”. (Silveira, 1984, p.76) Cabe lembrar que a Proclamação da República “foi um golpe militar que adquiriu o caráter revolucionário por causa da queda do Império e da implantação da República”, não ocorrendo concomitantemente uma revolução social, “liderada por forças sociais e sujeitos rebeldes. Em conseqüência disso, o espaço público acabou sendo monopólio dos que detém o poder, e entre os privilégios deles, está o controle do Estado”. (Fernandes, 1995, p.51) Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 17 3 A educação superior no Brasil na dácada de 20 Nesse contexto de total alienação do povo nas decisões políticas, surge a primeira universidade brasileira: a Universidade do Rio de Janeiro, criada pelo Decreto n° 14.343, de 07 de setembro de 1920, que de universidade só tinha o nome. Na verdade, constituía-se de um agregado de instituições de ensino profissional, com autonomia didática e administrativa, tendo na qualidade de Reitor, o presidente do Conselho Superior de Ensino, Ramiz Galvão, que exerceu cumulativamente os cargos até 1925 (Fávero, 2000, v.1, p.28). A propósito, a inauguração da primeira universidade brasileira deu-se às pressas, por um motivo no mínimo bizarro: prestar homenagem ao rei Alberto da Bélgica, em visita ao país, conferindo-lhe o título de doutor honoris causa. (Trindade, 2000, p.28; Galvão, 1999) A primeira universidade brasileira é o resultado da aglutinação de escolas independentes, com características próprias, sem qualquer integração entre elas (Favéro, 1999, p.17). Apesar de sua existência ser apenas nominal, teve o mérito de desencadear o processo de discussão “a respeito da estrutura e do papel da universidade em relação à sociedade”. (Silveira, 1987, p.20) Em 16 de outubro de 1924, foi fundada a Associação Brasileira de Educação (ABE), que desempenhou papel renovador no terreno da educação, com a proposta de formar uma consciência acerca dos problemas educacionais brasileiros, apontando soluções. Conferências, debates e cursos de alta cultura e especialização eram promovidos por professores de renome, empunhando ainda a bandeira em prol da universidade, graças à qual formou-se entre os educadores brasileiros uma acepção de universidade que serviu, de um lado, para unificá-los, e, de outro, para assegurar que essa idéia se mantivesse e acabasse vingando no decênio subseqüente, em que pese o desinteresse oficial”. (Paim, 1982, p.39) Revista Integralização Universitária 4 A era Vargas e o ensino superior A Revolução de 303, resultante do descontentamento de forças heterogêneas com a situação vigente no país, faz o Governo Provisório sob a égide de Getúlio Vargas, desenvolver “mecanismos de cooptação” nos setores político, econômico e educacional. Nas palavras de Vargas, a revolução não fora obra de um partido, mas sim um movimento geral de opinião; não possuía para guiar-lhe, a ação reconstituidora, princípios orientadores nem postulados ideológicos definidos e propagados. Dela participaram e surgiram várias correntes de difícil aglutinação. (Vargas apud Fávero, 1980, p.114) Um exemplo claro desse “mecanismo de cooptação”, que visava garantir as relações de compromisso com setores e interesses diversos, foi a autorização de Vargas ao Prefeito da Capital Pedro Ernesto, para assinar o decreto de criação da Universidade do Distrito Federal (UDF) em 1935, passando por cima do Ministro Gustavo Capanema, que a ela se opunha por razões mais político-ideológicas, do que legais (Fávero, 1980, p.115). Essas razões prendiam-se ao caráter inovador e socializador do programa de instrução pública que o Secretário de Instrução Pública da Capital, Anísio Teixeira4 vinha implementando no Rio de Janeiro, acusado de defender “idéias comunistas”. A designação por Pedro Ernesto, para Teixeira tratar do projeto de criação da UDF, encontrou forte rejeição por parte do segmento conservador da sociedade, especialmente dos cat ólicos, liderados por Alceu Amoroso Lima, que viam em Anísio Teixeira, uma ameaça aos verdadeiros ideais de uma sociedade sadia. Em carta ao Ministro Gustavo Capanema, Alceu Amoroso Lima, defendendo “a estabilidade das instituições e a paz social”, argumenta que o governo devia “organizar a educação e entregar os postos de responsabilidade nesse setor importantíssimo a homens de toda a confiança moral e capacidade técnica, e não a socialistas como o diretor do Depar- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Para ���������������������� Romanelli, o que se convencionou chamar de “Revolução de 30” foi o ponto alto de uma série de revoluções e movimentos armados que, desde 1920, se empenharam em promover vários rompimentos políticos e econômicos com a velha ordem social oligárquica. (Romanelli, 1996, p.47) 3 �������������������� Anísio Spíndola Teixeira (1900/1971), nasceu na Bahia. Formou-se em Direito e em 1924, foi convidado para ser Secretário Estadual de Educação e Saúde da BA. Em 1931, assumiu no DF a Diretoria de Instrução Pública. Ajudou a criar a UnB junto com Darcy Ribeiro. Ribeiro foi seu primeiro Reitor, mas logo passou o cargo para Teixeira, afastado pelo golpe militar de 64. Publicou centenas de livros, artigos e trabalhos científicos, entre eles, Educação e Universidade, Educação é um Direito, Educação para a Democracia, Educação não é privilégio, Educação no Brasil, Educação no mundo moderno. (Martino, 2000, p. 32) 4 18 tamento Municipal de Educação”. Mais adiante, Alceu Amoroso Lima, indignado com as realizações de Anísio Teixeira, em especial a UDF, expõe que A recente fundação de uma universidade municipal, com a nomeação de certos diretores de faculdade que não escondem suas idéias e pregação comunistas, foi a gota d’água que fez transbordar a grande inquietação dos católicos. Para onde iremos por esse caminho? Consentirá o governo em que à sua revelia mas sob sua proteção, se prepare uma geração inteiramente informada dos sentimentos mais contrários à verdadeira tradição do Brasil e aos verdadeiros ideais de uma sociedade sadia? (Fávero, 1996, p.70) ������������������������� Getúlio Vargas foi chefe do governo provisório de 1930 a 1934, presidente constitucionalmente eleito de 1934 a 1937 e ditador de 1937 a 1945. (Cunha, 1983, p.49) 5 Etimologicamente, oligarquia significa “governo de poucos”. Ao referir-se à estrutura oligárquica, a autora faz menção a composição social do Estado brasileiro da época, com “uma elite do minante saída do patriarcalismo rural, com mentalidade arcaica, em relação à educação, mas altamente requintada, em relação aos padrões de consumo”. (Romanelli, 1996, p. 56) 6 O sentimento de repúdio dos conservadores ao projeto de integração de educação pública, mais a perseguição política de que era vítima o prefeito Pedro Ernesto resultaram na exoneração de Anísio Teixeira, em dezembro de 1935, sobrevivendo a UDF, entretanto, até 1939, quando foi extinta e seus cursos transferidos para a Universidade do Brasil, pelo Decreto n° 1.063, de 20 de janeiro do mesmo ano. Para Fávero, a criação da Universidade do Distrito Federal foi um grande marco na educação brasileira, deixando vivas até hoje “as marcas do seu espírito inovador” (Fávero, 1996, p.69). Nas palavras de Fávero, Ao ser instalada, a Universidade do Distrito Federal surge como um divisor de águas, em meio à agitação que marca o País naquele momento e às disputas pelo controle dos rumos da educação nacional. Sua instalação é aclamada por segmentos importantes da intelectualidade brasileira, que vêem finalmente surgir na capital da República uma instituição universitária, “preocupada em não apenas difundir conhecimentos, preparar práticos ou profissionais de artes e ofício”, mas empenhada em “manter uma atmosfera de saber pelo saber para se preparar o homem que o serve e o desenvolve”; preocupada em “conservar o saber vivo e não morto” e formular intelectualmente a experiência humana sempre renovada, para que a mesma se torne consciente e progressista. (Fávero, 2000, v.1, p. 49) Com a deposição do presidente Washington Luís em 1930 por um movimento armado iniciado no sul, Getúlio Vargas5 assumiu provisoriamente a presidência em 3 de novembro de 1930, na qualidade de chefe vitorioso da revolução que derrubou a República Velha (1889-1930). Apesar do autoritarismo do Governo Provisório, diversas iniciativas em matéria de educação superior fizeram-se sentir, visando atender às pressões das camadas sociais que o capitalismo industrial fez emergir, pois Se antes, na estrutura oligárquica6, as necessidades de instrução não eram sentidas, nem pela população, nem pelos poderes constituídos (pelo menos em termos de propósitos reais), a nova situação implantada na década de 30 veio modificar profundamente o quadro das aspirações sociais, em matéria de educação, e, em função disso, a ação do próprio Estado. (Romanelli, 1996, p.59) A Revolução Constitucionalista de 1932 contribuiu para conscientização pelas elites paulistas da falta de quadros políticos com formação científica na sociedade, trazendo como conseqüência a implementação da Escola Livre de Sociologia e Política em 1933 e, no ano seguinte, a Universidade de São Paulo. (Fávero, 2000, v.1, p.48) A Escola Livre de Sociologia e Política veio precedida de um manifesto assinado por professores e profissionais liberais no qual, de modo apaixonado, é lembrado o malogro da “guerra civil desencadeada em nosso Estado” e a falta percebida de uma “elite harmoniosa”, que inspire confiança ao povo e o guie “na luta para refazer-se dos efeitos dessa guerra e das aflições que a antecederam”, ensinando-lhe “passos firmes e seguros”. O manifesto anunciava o preenchimento dessa lacuna com a criação da Escola Livre de Sociologia e Política, que “oferecerá aos estudiosos um campo de cultura e de preparo indispensável para eficiente atuação na vida social”. (Fávero, 1980, Anexo 3) Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 19 A Universidade de São Paulo (USP) propunha-se a ser “um centro de renovação e de formação de elites culturais e políticas”. No projeto de criação da USP, além de incorporadas a Faculdade de Direito, a Escola Politécnica, a Escola Superior de Agronomia, o Instituto de Educação (elevado a categoria de escola superior), a Faculdade de Medicina e a Escola de Veterinária já existente, foram criadas a Escola de Belas Artes, o Instituto de Ciência Econômicas e Sociais e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, constituindo-se esta última, na alma mater da USP, oferecendo “todas as disciplinas em que se subdividem as diferentes áreas do saber humano”. Para essa idéia se tornar exeqüível, seus fundadores recorreram aos países europeus, em busca de especialistas. Logo no primeiro ano, foram contratados treze professores estrangeiros: seis franceses, quatro italianos e três alemães. A ousadia da organização proposta encontrou resistência dentro do próprio Conselho Universitário, contribuindo para que a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, após 1938, se voltasse para a formação de professores de ensino secundário, como as demais escolas existentes no país. (Fávero, 1980, p. 63-4; Cunha, 2000, p. 167-8) O fim da primeira guerra mundial despertou uma nova consciência de valores na população em geral, que ansiava por reformas educacionais que colocassem o Brasil na corrente de idéias de democratização e socialização do ensino. No Diário Oficial de 15 de abril de 1931, foi publicada a etapa da Reforma Francisco Campos7 relativa ao ensino superior, consubstanciada no Decreto nº 19.851 de 11 de abril do mesmo ano. Para Campos, a Universidade tinha por objetivos “equiparar tecnicamente as elites profissionais do país e de proporcionar ambiente propício às vocações especulativas e desinteressadas, cujo destino, imprescindível à formação da cultura nacional, é o da investigação e da ciência pura” (Campos, 1980, p.129). Revista Integralização Universitária Segundo Campos, o projeto representava “um estado de equilíbrio entre tendências opostas, de todas consubstanciando os elementos de possível assimilação pelo meio nacional, de maneira a não determinar uma brusca ruptura com o presente”, preferindo a “orientação prudente e segura da autonomia relativa”. A esse respeito Campos, argumenta que Autonomia requer prática, experiência e critérios seguros de orientação. Ora, o regime universitário ainda se encontra entre nós na sua fase nascente, tentando os primeiros passos e fazendo os ensaios de adaptação. Seria de mau conselho que, nesse período inicial e ainda embrionário e rudimentar da organização universitária, se tentasse, com risco de graves danos para o ensino, o regime de autonomia integral (...) com a experiência poderá o quadro da autonomia ir se alargando de maneira gradual e progressiva até que, finalmente, com o desenvolvimento da capacidade e da envergadura do espírito universitário, este venha a reunir sob a sua autoridade todos os poderes de governo do grande agrupamento administrativo, técnico e didático que constitui a Universidade. (Campos, 1980, p.131) Para Nosella (1998, p.173) a política populista que marcou a década de 30 fez “uma conciliação conservadora entre as pobres escolas do faz-de-conta e as que adotam modelos pedagógicos arrojados, entre as instituições universitárias de beira de estrada e universidades de excelência”. Para Luiz Antônio Cunha, o Estatuto das Universidades Brasileiras sancionado em 11 de abril de 1931 (Decreto n° 19.851), constrangeu as universidades públicas, compelindo-as a manterem suas estruturas, a fim de se enquadrarem em padrões gerais determinados pelo governo federal; em parte devido à força dos interesses políticos e burocráticos e em parte, pelo “medo à liberdade”. (Cunha, 1999, p.90) Em julho de 1934, o governo constitucional de Vargas (1934-1937) separou a Escola Politécnica e a Escola de Minas da Universidade do Rio de Janeiro, agregan- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Primeiro ��������������������� Ministro do Ministério da Educação e Saúde, criado pelo governo provisório que se seguiu à desti tuição de Washington Luiz. Foi convidado por Getúlio Vargas e empossado em 18/11/1930. (Silveira, 1984, p.65) 7 20 A Universidade do Rio de Janeiro passou a chamar-se Universidade do Brasil em 1937, o que perdurou até 1965, quando a Lei n° 4.759, decretou que “As Universidades Federais sediadas nas capitais dos estados terão a denominação do respectivo Estado”. Assim, a Universidade do Brasil passou a chamarse Universidade Federal da Guanabara, o que não ocorreu na prática. Em 05 de novembro de 1965, a Lei n° 4.831, decretou por fim, que “A Universidade Federal situada na cidade do Rio de Janeiro passaria a chamar-se Universidade Federal do Rio de Janeiro”. (Fávero, 2000 v.2, p.221, 223, 227) 8 Com o estabelecimento do Estado Novo em 1937, as lutas ideológicas em torno dos problemas educacionais entraram numa espécie de hibernação. A educação, que na Constituição de 1934 era um dever do Estado, na Constituição de 1937 passou a ser uma ação meramente supletiva. Thomas Skimore via a implantação do Estado Novo como uma versão brasileira do modelo fascista europeu. (Romanelli, 1996, p. 51; p.153) 9 ������������������ Departamento Administrativo de Serviço Público. 10 do a estas a Escola Nacional de Química, mais oito institutos de pesquisa e criou a Universidade Técnica Federal, através do Decreto n° 24.738. A nova instituição é conseqüência da preocupação técnicoprofissional que permeava o Parlamento, tendo, porém vida curta: a Lei n° 452 de 05 de julho de 1937, que organizava a Universidade do Brasil8, como passou a chamar-se a Universidade do Rio de Janeiro, definiu que esta seria integrada, entre outras, pela Escola Politécnica, Escola de Minas, Escola Nacional de Química, então existentes. (Paim, 1982, p.66; Fávero, 2000, v.2, p.170) A abertura suscitada pela Revolução de 1930 passou a ser vista a partir de 1935, como “um erro a ser corrigido”, o que abriu as portas para a implantação do Estado Novo (Fávero, 1999, p.22). Cabe lembrar que mesmo antes da decretação do Estado Novo, há evidências do quanto o “Estado distinguia na escola, um lugar capaz de formar os que os que a freqüentavam, segundo a conveniência de seus interesses e das classes que os representavam”. (Fávero, 1999, p.25) Os anos de 19379 a 1945 foram marcados pelo total esquecimento da autonomia universitária: em nome do princípio da autoridade e da disciplina, o poder central chama a si, o controle sobre a vida das instituições universitárias, tornandoas vítimas da organização monolítica do Estado, ao qual é reservado o direito de designar em comissão, os dirigentes universitários. (Fávero, 1999, p.26) 5 O ensino superior no Brasil pósestado novo Em 17 de dezembro de 1945, durante o governo provisório que se seguiu à queda do Estado Novo, foi sancionado o Decreto-Lei nº 8.393, que dispunha sobre a autonomia administrativa, financeira, didática e disciplinar no ensino superior. Autonomia esta não implementada, pois independente das relações entre a universidade e os órgãos do governo, esbarrou em lutas internas, dentro das Congregações, que criticavam as relações de poder na universidade, que se expressavam desigualmente de cima para baixo. Para Raul Bittencourt, catedrático da Universidade do Brasil (UB), que vivenciou esse momento, a autonomia decretada, não mudou o estado das coisas, sofrendo a interferência do DASP10 “dia a mais dia, na vida das universidades federais, com aspereza e inciência”. (Bittencourt apud Fávero, 1999, p.27) A criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em 1947 no Rio de Janeiro e alocado definitivamente em São José dos Campos (SP) em 1950 foi um diferencial no ensino superior brasileiro. Influenciado diretamente pelos padrões americanos de organização universitária, trazia inovações, tais como: ausência de cátedras vitalícias, carreira do magistério, organização departamental, residência de professores e alunos no campo, flexibilidade curricular e estímulo à pesquisa, principalmente nos cursos de pós-graduação. (Cunha, 1983, p.155; Cunha, 2000, p.173) Em 28 de outubro de 1948, foi encaminhado pelo ministro Clemente Mariani ao Presidente da República Eurico Gaspar Dutra, um Projeto de Lei que garantia, entre outros, o direito de todos à educação. Discussões e controvérsias em torno da liberdade e democratização do ensino, autonomia administrativa e descentralização, colocaram em jogo interesses diversos, que prenderam o Projeto durante treze anos no Congresso Nacional, o que dá mostras dos interesses em jogo e, em especial, do temor dos “privatistas” com os possíveis desdobramentos da legislação sobre as diretrizes e bases da educação, sinalizados pela Constituição de 1946. A respeito do embate entre os defensores da escola pública versus escola privada, que marcou intensamente toda a década de 50, Cunha ressalta que os dirigentes das escolas particulares re- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 21 cusavam ao Estado o papel de principal provedor das oportunidades escolares: Defendiam o direito das famílias de escolherem a educação que desejassem dar aos filhos e, em função disso, o Estado deveria se restringir ao papel de assegurar meios às escolas e às famílias de modo que pudessem se encontrar oferta e demanda num mercado livre de interferências monopolistas e perturbadoras, admitindo a existência de estabelecimentos de ensino oficiais apenas quando e onde a iniciativa privada não fosse suficiente ou, então, para setores muito especializados e de interesse exclusivo, como o de formação de pessoal militar. Para garantir igualdade de condições entre escolas governamentais e particulares, os representantes destas deveriam ter representação “adequada” nos conselhos de ensino, assim como deveria haver distribuição dos recursos financeiros públicos proporcionalmente ao número de alunos matriculados nas escolas. (Cunha, 1983, p.117) Pinto lembra, que o foco era a escola secundária que crescera mais do que qualquer outra, devido ao seu prestígio de caminho para o ensino superior, já que este se constituía (...) um sistema de recrutamento do mandarinato brasileiro. Com a urbanização, a industrialização e o fortalecimento da classe média no país, o ensino secundário, até então reservado aos filhos das classes economicamente privilegiadas, tornou-se alvo das classes emergentes, para as quais era reservado o ensino profissionalizante. Sob pressão popular, o governo começou a criar escolas oficias, reduzindo o total de matrículas nas escolas particulares, que caiu de 78% em 1950, para 66% em 1959. Segundo Pinto, Este fato explica, em parte, a grande luta que se travou contra a escola pública e em favor da escola particular, na época da tramitação do projeto da Lei de Diretrizes e Bases luta esta que se disfarçou sob a bandeira de oposição ao monopólio do Estado e a favor da liberdade de ensino, defesa do direito da família e outras coisas mais. (Pinto, 1984, p.96) Revista Integralização Universitária Finalmente, em 20 de dezembro de 1961, foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Apesar das substanciais modificações com relação ao projeto original, no dizer de Anísio Teixeira, resultou em “uma meia vitória, mas sempre uma vitória”. (Silveira, 1984, p.68) Há que se ressaltar o fato de que, não obstante a polêmica ter saído do Congresso Nacional para os jornais, ela não teve repercussão nas classes populares. Para Romanelli, Foi uma oportunidade com que contou a sociedade brasileira para organizar seu sistema de ensino, pelo menos em seu aspecto formal, de acordo com o que reivindicava o momento, em termos de desenvolvimento. Foi a oportunidade que a nação perdeu de criar um modelo de sistema educacional que pudesse inserir-se no sistema geral de produção do país, em consonância com os progressos sociais já alcançados. Ocorreu, porém, que as heranças não só cultural, como também a das formas de atuação política foram suficientemente fortes para impedir que se criasse o sistema que carecíamos. O horizonte cultural do nosso homem médio, sobretudo do nosso político, ainda limitava muito a sua compreensão da educação, como um fator de desenvolvimento e como requisito básico para a vigência do regime democrático. (Romanelli, 1997, p.183) O espírito conciliador do texto final da Lei nº 4024/61 é duramente criticado por Leite, Morosini e Martini, para quem Utilizando argumentos formalmente corretos e universais tais como “liberdade de ensino” e “direito de ensinar”, os legisladores os associaram a contextos materiais injustos, como o foram subvenções públicas a escolas privadas e igualdade de representação dos administradores do ensino privado nos Conselhos Federal e Estadual de Educação. Tudo isso foi feito porque o instrumento legal, com texto equívoco, foi colocado a serviço de interesses particularizantes. Os setores conservadores e a burguesia liberal antidemocrática uniramse para consagrar por meio da lei algo que, não sendo democrático, não era bom para todos. (Leite, Morosini e Martini, 1991, p.207) - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 22 ������������������� Em 1947, o ITA iniciou o movimento de modernização do ensino superior no Brasil. Seu modelo era visto como o caminho necessário para que o país adquirisse a maioridade científica e tecnológica, indispensável para viabilizar o rompimento dos laços da dependência externa. O movimento de modernização alcançou seu ápice na criação da Universidade de Brasília, uma fundação de direito público definida pela Lei nº 3.998, de 15 de dezembro de 1991. (Cunha, 1983, p.171; Cunha, 2000, p.173) 11 ��������������������� O ensino superior no Brasil sempre foi pago pelos estudantes, desde o início do século XIX. A Constituição de 1946 dizia ser o ensino superior oficial (como o médio) gratuito, “para os que provarem falta ou insuficiência de recursos”. (Cunha, 1983, p.89) 12 “Oligarquia não designa tanto esta ou aquela instituição, não indica uma forma específica de governo, mas se limita a chamar a nossa atenção para o fato puro e simples de que o poder supremo está nas mãos de um restrito grupo de pessoas propensamente fechado, ligados entre si por vínculos de sangue, de interesse ou outros, e que gozam de privilégios particulares, servindo-se de todos os meios que o poder pôs a seu alcance para os conservar”. (Bobbio, Matteuci e Pasquino, 1991, p. 835). 13 Se, por um lado, a LDB representou um freio no processo de modernização11 do ensino superior através de medidas como a manutenção da cátedra vitalícia e da formação de universidades pela agregação de escolas isoladas; por outro lado, contribuiu diretamente para significativos avanços como o aumento da autonomia das instituições e atribuição de poderes para dirigir o processo de transformação do ensino superior ao Conselho Federal de Educação (CFE) (Cunha, 1983, p. 257). Um fato que marcou os anos 50 foi a “federalização” de estabelecimentos de ensino superior estaduais, municipais e particulares, “por força da deteriorização dos orçamentos, das reivindicações estudantis pelo ensino gratuito12 e das demandas de professores e funcionários pelos privilégios do funcionalismo público federal”. Surgiu então a lei n° 1.254 de dezembro de 1950, fazendo crescer a participação da União no financiamento das instituições de ensino superior. A Lei n° 1.523 de dezembro de 1951, que alocava recursos para as instituições de ensino “federalizadas”, apresentou uma lista de trinta e nove beneficiadas, entre universidades e escolas isoladas. As “federalizações” sofreram um freio em 1962, quando o Conselho Federal de Educação (CFE), no uso das atribuições que a LDB lhe conferia, opôs forte resistência a esse expediente. Justificando essa posição pela falta de recursos, sucessivos pareceres do CFE defendiam a prioridade de expansão de vagas das escolas superiores oficiais sobre a “federalização” de escolas particulares, as principais candidatas a essa mudança de “status” jurídico-financeiro. Além do mais, a jurisprudência firmada pelo conselho dizia que nenhuma nova “federalização” de escola superior deveria ocorrer enquanto as despesas do governo federal com esse grau de ensino permanecessem acima das dotações orçamentárias. (Cunha, 1983, p.92) Como no Plano de Educação entregue ao Ministro da Educação em setem- bro de 1962, o CFE recomendava a não criação de novas escolas ou universidades federais, diante da insuficiência de recursos previstos para o Fundo Nacional do Ensino Superior, incapazes até mesmo de manter o sistema funcionando, a festa da “federalização” acabou. (Cunha, 1983, p.93) A transferência da capital para Brasília em 1960, uma capital cujo projeto urbanístico “negava a segregação urbana encontrada em todas as cidades brasileiras, procurando promover uma utópica integração de classes”, repercutiu no plano para a criação de uma universidade no Distrito federal, que negasse “a estrutura e o funcionamento do ensino superior existente, almejando realizar uma utopia universitária”. O modelo fundacional instituído buscava desvencilhar-se das “amarras do serviço público federal sem perder a característica de uma entidade pública”. A Universidade de Brasília (UnB) tinha por missão “formar cidadãos empenhados na busca de soluções democráticas para os problemas com que se defronta o povo brasileiro na luta por seu desenvolvimento econômico e social”. (Cunha, 1983, p.171; Cunha, 2000, p.175). 6 O ensino superior no Brasil durante o regime militar Nos anos 50 e início dos anos 60, na sociedade brasileira despontaram movimentos em prol de uma menor submissão ao grande capital transnacional e às oligarquias13, abruptamente interrompidos pelo golpe militar de 1964, cuja escalada repressiva atingiu duramente a educação: universidades foram objeto de intervenção militar, professores e estudantes foram presos, reitores pro tempore foram nomeados em diversas instituições, entre outras arbitrariedades. (Germano, 1993, p.106). O período que se seguiu ao golpe de 1964 assistiu a uma expansão do ensino superior no país, notadamente no âmbito privado, favorecido que foi pela política Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 23 de contenção de verbas e pela crescente necessidade de expansão de vagas, propiciando “a emergência de um novo perfil privado de ensino nitidamente empresarial” (Dourado, 2000, p.287). Para Dourado, tal política privatista apresenta-se, certamente, como uma opção adotada pelo regime político implantado em 1964 que, apoiado na ideologia do desenvolvimento e segurança nacional, refletia as lutas desencadeadas até então pela sociedade civil organizada, com destaque para os setores médios que vislumbravam a escolarização superior como mecanismo de ascensão social. (Dourado, 2001, p.15) A expansão do ensino superior privado atingiu o seu ápice, durante o “milagre econômico” (1967/73), quando os governantes necessitavam cooptar a classe média brasileira em torno do projeto segurança - desenvolvimento - industrialização. Assim, o apoio das camadas médias acoplava-se aos anseios da ascensão social via ensino superior, concretizado na esfera privatista, de baixo custo para o Estado e para a própria iniciativa privada, uma vez que o funcionamento de cursos superiores, via de regra na área humana, não exigia maiores investimentos. (Leite, Morosini e Martini, 1991, p.212) Contraditoriamente, a mesma prática política autoritária, centralizadora e excludente, tanto política quanto social da maioria dos segmentos da sociedade, mantinha-a integrada no processo de modernização e de industrialização, com o apelo desenvolvimentista, sob a influência da teoria do capital humano14, que partia da suposição de que o indivíduo na produção era uma combinação de trabalho físico e educação ou treinamento, sendo denominado de investimento humano, o fluxo de despesas que o próprio indivíduo devia efetuar em educação para aumentar a sua produtividade (Oliveira, 2000, p.223). A disseminação desta teoria nos países do terceiro mundo foi promovida pelos organismos internacionais (BID, BIRD, OIT, Revista Integralização Universitária UNESCO, FMI, USAID, UNICEF)15 e regionais (CEPAL, CINTERFOR)16. Mário Henrique Simonsen17, “pregava ao mundo que o Brasil tinha encontrado seu caminho para o desenvolvimento e eliminação das desigualdades, não pelo incentivo ao conflito de classes, mas pela equalização do acesso à escola e pelo alto investimento em educação”. (Frigotto, 1999, p.42) Em 1968, o Estado promoveu a reforma universitária, numa tentativa de suplantar a situação cada vez mais crítica em que se encontrava a universidade, que ameaçava romper a unidade da instituição e minar sua legitimação. Fissuras internas, originadas pelo confronto de posições entre docentes e discentes agravavam a crise, tendo como fato culminante, a reivindicação pelos estudantes por maior participação na estrutura de poder da universidade. Outro fator decisivo para a reforma universitária foi a postura denunciadora da exploração capitalista, adotada por alguns docentes, em especial aqueles ligados às faculdades de filosofia, na crença de que assim promoviam o desvendamento da alienação da sociedade brasileira e da universidade nela inserida. (Cunha, 1983, p.259) Um grupo de trabalho18 instituído por decreto do presidente Arthur da Costa e Silva em 02 de julho de 1968, foi encarregado de traçar as diretrizes da reforma universitária, visando transformar a universidade em uma instituição eficiente, moderna, administrativamente flexível e produtiva, além de conciliar os objetivos práticos e imediatos do ensino de massa com a sua missão constitutiva como “centro criador da ciência e expressão mais alta da cultura de um povo” (Silveira, 1984, p.73). Na verdade, a Reforma Universitária foi colocada na pauta do dia para recuperar o controle sobre os movimentos estudantis universitários, cuja bandeira principal de mobilização era a reforma, ou seja, a ótica do governo era “façamos a reforma antes que outros a façam”. (Saviani, 2000, p.22) - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 ��������������������� A “teoria do capital humano” foi desenvolvida por um grupo de estudos coordenados por Theodor Schultz, nos EUA, valendo-lhe o prêmio Nobel de Economia em 1968. A idéia-chave é de que um acréscimo marginal de instrução, treinamento e educação correspondam a um acréscimo marginal de capacidade de produção. (Frigotto, 1999, p.41) 14 �������������������� BID: Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD: Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento OIT: Organização Internacional do Trabalho UNESCO: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura FMI: Fundo Monetário Internacional USAID: United States Aid International Development UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância 15 ���������������� CEPAL: Comissão Econômica das Nações Unidas para América Latina e Caribe CINTERFOR: Centro Interamericano de Pesquisa e Documentação sobre Formação Profissional 16 Ministro ����������������������� da Fazenda no regime militar. Professor de Economia na Fundação Getúlio Vargas 17 O �������������������� grupo de trabalho teve 30 dias de prazo para apresentar seus estudos e era constituído por Newton Sucupira, Valnir Chagas, Pe. Fernando Ávila, João Lira Filho, Reis Velloso, Fernando do Val, Antônio Couceiro, Roque S. de Barros.. Posteriormente contou com a participação do deputado Leon Peres. Os estudantes indicados para formar o grupo, João Carlos Moreira e Paulo Bouças, recusaram-se a participar. (Baldino, 1991, p.104) 18 24 Na ���������������������� linguagem oficial, dentre os “inimigos” da nova ordem estão a autonomia acadêmica, a liberdade de cátedra, os indivíduos ideologicamente adversos e os estudantes militantes ou com capacidade para liderar grupos em confronto com o sistema. (Rama, 1996, p.74) 19 �������������������� Sistema de organização do trabalho desenvolvido pelo engenheiro norte-americano Frederick Taylor (1856-1915), baseado na separação das funções de concepção e planejamento das funções de execução, na fragmentação e na especialização das tarefas, no controle de tempos e movimentos e na remuneração por desempenho. (Cattani, 2000, p.247) 20 Espaço ���������������������� contínuo, delimitado e exclusivo, onde se reúnem os edifícios de uma universidade, podendo estar situado dentro da cidade, na sua periferia ou fora dela. (Cunha, 2000, p.141) 21 Assim, em 28 de novembro de 1968, foi sancionada a lei n° 5.540/68, de tendência tecnicista, enfatizando a quantidade em lugar da qualidade, os métodos (técnicas) em detrimento dos fins (ideais), a adaptação em oposição à autonomia e priorizando a formação profissional no lugar da cultura geral (Saviani, 2000, p.32). A educação então “adquire o caráter de agência de controle social de novos valores” com reformulações que restringiam os campos do conhecimento considerados ideológicos, tais como a sociologia e a filosofia. Por conseguinte, a “definição das idéias e valores admitidos na educação depende de que linha de separação demarcará o âmbito nacional e antinacional”, linha esta imprecisa e que, a bem da consolidação do projeto de reconstrução nacional, requeria a eliminação dos “inimigos” 19 da nova ordem e controle de todas as expressões de cultura. (Rama, 1996, p.74-5) Referindo-se à reforma universitária, Cunha (1999, p.92) denuncia sua concepção taylorista20 , expressa em duas diretrizes principais: 1.“Na eliminação da duplicação de meios para fins idênticos ou equivalentes”, onde a adoção do regime de matrícula por disciplina (sistema de crédito), o agrupamento dos professores de disciplinas afins em departamentos e a divisão dos cursos de graduação entre o ciclo básico e o profissional, compôs uma tríade para a minimização dos custos, com o uso racional dos recursos humanos e materiais. 2. “Na separação entre as atividades de concepção e de execução”, isto é, aos educadores era reservado o cumprimento das diretrizes e decisões tomadas pelo grupo militar- tecnoburocrático que havia assumido o poder. Cabe destacar que entre os princípios da lei da reforma universitária (Lei n° 5.540/68), encontra-se o da flexibilidade, no qual se procurava garantir a variedade de currículos, a utilização de meto- dologias apropriadas a cada tipo e nível de ensino, o aproveitamento dos estudos realizados, a combinação do binômio continuidade (formação geral) e terminalidade (formação especial) e a possibilidade de adoção do regime de matrícula por disciplina no ensino do segundo grau. (Saviani, 2000, p.27) O princípio da flexibilidade, aparentemente incompatível com o regime militar vigente, constituiu-se em um importante instrumento para preservação do arbítrio no âmbito educacional, já que, na ausência de definições legais mais precisas que limitassem suas ações, os programas educacionais que interessavam as autoridades governamentais eram impostos à nação, com a vantagem de facilitar a busca de adesão e apoio daqueles mesmos sobre os quais eram impostos os referidos programas. (Saviani, 2000, p.27) De positivo no ensino superior dos anos 60, podemos destacar a institucionalização da profissão docente mediante ao regime de tempo integral e de dedicação exclusiva e o incremento das pesquisas, como conseqüência do aumento de recursos destinados à pós-graduação. (Cunha, 2000, p.179) As mudanças também se estenderam ao espaço geográfico, com a construção dos campi21 nos arredores dos grandes centros, o que reforçou a argumentação contra a gratuidade do ensino superior, dentro da lógica de que aqueles que podem se deslocar representam uma clientela de nível de renda elevado, que não precisam trabalhar para manterem-se. Nas universidades privadas, que ocupavam as áreas urbanas, estariam os estudantes que precisam dividir seu tempo entre o trabalho e o estudo, ou seja, aqueles de mais baixo nível de renda. Cunha, referindo-se à hegemonia que o modelo dos campi alcançou, atribui esta ao contexto político repressor imposto pelo regime militar, quando o ato institucional nº 5 e o decreto lei n° 477/69 Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 25 “ameaçavam com a perda ou a limitação de emprego futuro os professores, e com a expulsão os estudantes que fossem acusados e julgados, em rito sumário, por práticas de atividades consideradas subversivas”. Cunha acredita que, fosse outro o contexto político, o argumento de que a questão espacial era fundamental para que os objetivos econômicos da reforma universitária fossem alcançados, seria amplamente questionado, diante dos custos decorrentes da transferência para um campus suburbano ou extra-urbano, além da caríssima manutenção das mega edificações e das áreas do entorno. (Cunha, 2000, p.141-3) Marilena Chauí recorda, que nos movimentos sociais, civis, estudantis, guerrilheiros da América Latina e libertários do leste europeu em 68, “o ponto de partida, se não foi a universidade como instituição, foi a universidade como irradiadora de conhecimentos e de práticas novas”, ressaltando ser esta a face luminosa da vocação política da universidade. Entretanto, o movimento de 68, desvelou sua face sombria, quando colocou “a realização da vocação política através da vocação científica”, com o incremento das pesquisas nucleares, genéticas e o suprimento científico para o poder armamentista. Para Chauí, essa face sombria, na verdade, não depende de boa ou má vontade da universidade, nem da boa ou má consciência dos universitários, mas do modo de inserção da universidade no social, isto é, do seu papel de reprodutora dos sistemas econômicos e políticos, através dos intelectuais orgânicos da classe dominante que somos nós, queiramos ou não, para usarmos a expressão gramsciana. (Chauí, 2001, p.18) Quanto à articulação das duas vocações (política e científica) da universidade, Chauí defende que quando feita a partir dela mesma e por iniciativa dela, tende a nos oferecer a face Revista Integralização Universitária luminosa das duas vocações, pois a universidade assume explícita e publicamente tal articulação como algo que a define internamente. A articulação das duas vocações da universidade, quando feita a partir do prisma da reprodução sócio-política e da formação de um grupo social específico o que chamo de intelectuais orgânicos da classe dominante, tende a oferecer a face sombria, pois a articulação é tácita, implícita e, muitas vezes, secreta e, freqüentemente, determinada pela via indireta do modo de subvenção e financiamento das pesquisas como se fossem “ciências puras”. (Chauí, 2001, p.118) 7 O ensino superior no Brasil dos anos 80 / 90 Uma nova ordem mundial marcou os anos 80, centrada no desenvolvimento da ciência e da tecnologia e na necessidade de preparar trabalhadores para atuarem nas novas bases produtivas, subordinando a educação em geral e o ensino superior em particular, ao sistema produtivo. Concomitantemente, cresce a pressão popular em favor de mais oportunidades educacionais, que passa a ser vista como um investimento, cujo retorno ideologicamente dar-se-ia por meio da ascensão social. A pressão popular aliada aos interesses eleitoreiros promove a implementação de ações de provimento e/ou consolidação de faculdades isoladas e universidades no âmbito estadual, favorecendo também, iniciativas de natureza pública, de caráter privado, denominadas juridicamente de fundações públicas municipais de ensino superior, delegando aos municípios, a responsabilidade pelo ensino superior sem garantir, efetivamente, as condições mínimas para o funcionamento do ensino básico, negligenciando, inclusive, o cumprimento da premissa constitucional de universalização desse nível de ensino. (Dourado, 2001, p.57-8) Cabe lembrar que já em 1967, o Coronel Meira Matos, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o Ensino Superior, defendia a adoção de um modelo fundacional nas universidades, - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 26 Assembléia �������������������� Nacional Constituinte 22 através da combinação dos dois sistemas, o do ensino público e o da fundação, com a participação da iniciativa privada. (Silva Jr. e Sguissardi, 2001, p.188) Nos anos 80, reacende a interferência de agentes internacionais na agenda educacional brasileira, destacando-se o Banco Mundial (BM), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e agências da Organização das Nações Unidas (ONU). Preocupado em assegurar o pagamento da dívida externa dos países do terceiro mundo, o BM, “guardião dos interesses dos grandes credores internacionais” (Soares apud Dourado, 1999, p.123), volta seu olhar para a educação escolar básica, na certeza de que o potencial produtivo da força de trabalho reduz-se em função da falta de escolaridade da população, relacionando-a com a eficiência econômica global. Para Dourado (1999, p.123), ao defender a realocação dos recursos públicos para a educação básica, o Banco Mundial “busca construir mecanismos ideológicos às políticas, sobretudo em países como o Brasil, que sequer garantiu a democratização do acesso a esse nível de ensino e de permanência nele”. Paralelamente, é intensificado o cerco à universidade pública, sendo-lhe imputada a responsabilidade “pela precariedade da educação básica: a alegação da carência de recursos para a melhoria do ensino básico deve-se ao suposto alto nível de despesas com o ensino superior”. (Franco, 2000, p.90) Ainda nos anos 80, foi promulgada a Constituição Federal, em 05 de outubro de 1988, que resguardou a gratuidade do ensino público em todos os níveis, proclamou a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão na educação universitária, sacramentou a autonomia universitária e, fundamentalmente, reafirmou a educação como direito público subjetivo. No entender de Braga, a euforia dos dois maiores “lobbies” (os “privatistas” e os “publicistas”) que buscava in- fluenciar os Congressistas com relação ao texto final do capítulo sobre educação e cultura da Constituição Federal, significa que a ANC22 foi hábil o suficiente para costurar um consenso feito de mútuas concessões, cuja flexibilidade dá a expectativa a ambos os grupos de avançarem mais alguns passos, quer na fase de regulamentação da Lei e nas Constituições Estaduais, quer na prática interpretativa da vigência constitucional (...) é o que estamos no momento presenciando, quando as frentes de batalha se deslocam para as Constituintes Estaduais e para as propostas de LDB dos diversos grupos interessados. (Braga, 1989, p.31) A mobilização da comunidade educacional organizada em torno da elaboração das novas diretrizes e bases da educação nacional foi ganhando forma, contando com a contribuição dos embates resultantes de inúmeras iniciativas governamentais, tais como: Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU) em 1983, Comissão Nacional para a Reformulação da Educação Superior em 1985 e o Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior. (GERES) (Dourado, 1999, p.124) No mês de dezembro de 1988, o deputado Octávio Elísio apresentou o primeiro projeto de lei (n° 1.258-A/88) fixando as diretrizes e bases da educação nacional. Até o parecer favorável da Comissão de Constituição, Justiça e Redação em 28 de junho de 1989, o projeto sofreu várias emendas na Comissão de Educação, Cultura e Desporto, com base em sugestões de caráter formal e informal ao próprio autor (Saviani, 2000, p.195). Para apreciação do material disponível, o então presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desporto, deputado Ubiratan Aguiar (PMDB – CE), constituiu um grupo de trabalho, tendo como relator o deputado Jorge Hage (PSDB – BA), dando início, nas palavras do próprio relator, “o que talvez tenha sido o mais democrático e aberto método de elaboração de uma lei de que se tem notícia no Congresso Na- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 27 cional”, tendo o mesmo percorrido o país, ouvindo todos que, a seu juízo, podiam contribuir para a formulação do projeto – substitutivo. (Saviani, 2000, p.57) As eleições realizadas em outubro de 1990 resultaram em um Congresso Nacional de perfil bem mais conservador para a legislatura que se iniciaria em 1991, ano em que chegou ao plenário, o projeto – substitutivo Jorge Hage da LDB. No entender de Saviani, “dir-se-ia que, de uma concepção socialista que marcava a proposta inicial, as transformações operadas ao longo da tramitação na Comissão de Educação da Câmara deram ao texto aprovado o caráter de uma concepção socialdemocrata”. (Saviani, 2000, p.195) Sob a presidência de Collor de Mello, entra na pauta do dia a necessidade da reforma do Aparelho do Estado visando redefini-lo “em decorrência do processo de globalização, que teria reduzido a autonomia dos Estados na formulação e implemento de políticas” (Silva Jr e Sguissardi, 2001, p.28). Enfrentando muitas dificuldades para sua inclusão na ordem do dia para que fosse apreciado, o projeto-substitutivo recebeu 1.263 emendas, retornando às Comissões Técnicas para exame das emendas e novo relato, tarefa que coube à deputada Ângela Amin (PDS-SC). Seu relatório, apreciado em maio de 1992, incorporou várias emendas, em especial aquelas que atendiam aos interesses dos grupos privados, dando um caráter conservador a LDB. (Saviani, 2000, p.196) No segundo semestre de 1992, o impeachment por corrupção do presidente Collor ocupou todo o espaço político, tendo o projeto da LDB retomado o andamento, somente após a posse de Itamar Franco. Em novembro de 1992, iniciou-se no Plenário da Câmara dos Deputados a votação do projeto da LDB, acompanhado dos relatórios das três Comissões, embora não tivessem sido por elas aprovados: Comissão de Educação, Cultura e Desporto, Comissão de Constituição, Justiça e RedaRevista Integralização Universitária ção e Comissão de Finanças e Tributação. Finalmente, em maio de 1993, chegou-se à aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto-substitutivo da Lei de Diretrizes e Bases Nacional, seguindo o mesmo para o Senado Federal, quando foi designado o senador Cid Sabóia (PMDB-CE) como relator. O substitutivo apresentado por Sabóia preservava a estrutura do projeto aprovado pela Câmara, incorporando alguns aspectos do Projeto de LDB de autoria de Darcy Ribeiro, que deu entrada na Comissão de Educação do Senado em maio de 1992. O parecer de Sabóia foi aprovado pela Comissão de Educação do Senado em novembro de 1994 e encaminhado ao Plenário do Senado em dezembro do mesmo ano. (Saviani, 2000, p. 156) No governo de Fernando Henrique Cardoso, a Reforma do Estado foi intensificada. Nessa ótica o governo federal transformou a Secretaria de Administração Federal em Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado – MARE, sob o comando de Bresser Pereira. Para esse ministro, a reforma era condição “de um lado, da consolidação do ajuste fiscal do Estado brasileiro e, de outro, da existência no país de um serviço público moderno, profissional, voltado para o atendimento dos cidadãos”. (Pereira apud Silva Jr e Sguissardi, 2001, p.28) Na concepção de Bresser Pereira, as universidades se enquadrariam no núcleo de “serviços não-exclusivos do Estado ou competitivos”, devendo transformar-se em “organizações sociais23 , ou seja, em entidades que celebrem um contrato de gestão com o Poder Executivo e contem com a autorização do parlamento para participar do orçamento público”. (Silva Jr e Sguissardi, 2001, p.312) Para Marilena Chauí (2000, p.2156), posicionar a universidade no setor de prestação de serviços, - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Entende-se ��������������������� por “organizações sociais”, as entidades de direito privado que, por iniciativa do Poder Executivo, obtém autorização legislativa para celebrar contrato de gestão com esse poder, e assim ter direito à dotação orçamentária. (Silva Jr e Sguissardi, 2001, p.45) 23 28 indica uma eclipse da idéia de direito social e explica, por exemplo, por que volta à baila a tese do ensino público pago com a idéia de que assim justiça seja feita, pois os ricos devem pagar pelos pobres, ������������������� Desde o surgimento (século XIII europeu), a universidade sempre foi uma instituição social, isto é, uma ação social, uma prática social fundada no reconhecimento público de sua legitimidade e de suas atribuições, num princípio de diferenciação, que lhe confere autonomia perante outras instituições sociais, e estruturada por ordenamentos, regras, normas e valores de reconhecimento e legitimidade internos a ela (...)Com as lutas sociais e políticas dos últimos séculos, com a conquista da educação e da cultura como direitos, a universidade tornou-se também uma instituição social inseparável da idéia de democracia e de democratização do saber: seja para realizar essa idéia, seja para opor-se a ela, a instituição universitária não pôde furtar-se à referência à democracia como idéia reguladora, nem pôde furtar-se a responder, afirmativa ou negativamente, ao ideal socialista. (Chauí, 2000, p.217) 24 �������������������� Assessor-chefe para educação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) 25 La enseñanza superior las lecciones derivadas de la experiência (1995) 26 afastando-se da concepção da educação como um direito de todos, mas sim, como “um direito dos ricos e uma benemerência para os pobres”. Ao transformar a universidade em uma prestadora de serviços, “a universidade perde a idéia e a prática da autonomia, pois esta, agora, se reduz à gestão de receitas e despesas”, além de transformar-se em um “órgão da administração indireta, gerador de receitas e captador de recursos externos”, distanciando-se da sociedade, seu princípio de ação e regulação. Em suma, a reforma do Estado propõe passar a universidade da condição de instituição social24, para a de organização social, convertendo o seu “produto” (o saber) em mercadoria e passando a ser administrada segundo as mesmas “normas e os mesmos critérios com que se administra uma montadora de automóveis ou uma rede de supermercados” (Chauí, 2000, p.218), ou seja, da função clássica de socialização e de reprodução de conhecimentos e reprodução cultural mais ampla, para o papel específico de formar capacidades e competências produtivas”. (Frigotto, 1998, p.3) Nessa lógica o governo federal busca claramente articular as finalidades da universidade aos preceitos neoliberais, ao conceber a Universidade como uma organização empresarial, subserviente à lógica do mercado, além de induzir à falsa tese de que “formação profissional que desenvolvem competências exigidas pelo mercado garantem empregabilidade” (Frigotto, 1998, p.4), termo que ganhou espaço nos anos 90, transferindo as responsabilidades do campo privado, onde se exercem as competências exclusivas do capital, para o terreno público, como se a educação fosse elemento definidor do poder político e econômico. Segundo Cláudio Moura Castro25 , a educação não determina a política econômica, que tem lógica própria para promover o desenvolvimento e criar empregos; “a educação tem de se ajustar a isso. Se o mercado não absorver determinado curso, este deve fechar. Deve haver total subserviência do ensino profissional ao mercado de trabalho”. (Castro, 2000, p.35) A posição de Moura Castro é consoante com a cartilha para a reestruturação da educação superior na América Latina editada pelo BM26. Para Catani e Oliveira o atual perfil da educação superior na América Latina revela “o alto grau de subordinação dos países em relação às orientações dos organismos multilaterais, particularmente do Banco Mundial”, cujas orientações são no sentido de estabelecer vínculos efetivos entre o ensino superior e os setores produtivos. (Catani e Oliveira, 1999, p.9; Catani e Oliveira, 2002, p.87) No Brasil, a aliança centro-direita que conduziu Fernando Henrique à presidência em 1994, favoreceu uma nova ofensiva conservadora no texto da LDB, expressa quando o senador Beni Veras (PSDB-CE) apresentou requerimento solicitando o retorno do projeto de LDB à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. O relator senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ), em seu parecer datado de março de 1995, alegou todo o tipo de inconstitucionalidade inviabilizando tanto o projeto oriundo da Câmara, como o texto de Cid Sabóia. Imediatamente, Darcy Ribeiro apresentou substitutivo próprio que logrou fosse aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Uma vez aprovado pelo Senado o projeto retornou à Câmara dos Deputados em fevereiro de 1996, na forma de Substitutivo Darcy Ribeiro, já na sua versão final incorporadas algumas emendas que visavam atenuar o mal-estar que a “manobra regimental” acarretara. Dez meses depois, o relator designado deputado José Jorge (PFL-PE) apresentou seu relatório, que, sem vetos, Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 29 foi à sanção presidencial. Assim, em 20 de dezembro de 1996 foi promulgada a nova Lei de Diretrizes e Bases Nacional, lei n° 9.394. (Silva Jr e Sguissardi, 2001, p.54) 8 Considerações finais O Brasil ficou fora do processo civilizatório por mais de trezentos anos enquanto Colônia, constituído de um imenso território formado por pessoas sem acesso a escolas, jornais, livros e bibliotecas. A independência não modificou de imediato o modelo colonial ruralista de imensos latifúndios povoados de analfabetos, ficando difícil uma concepção de universidade que alimentasse o espírito criativo e inovador do homem. Nesse contexto nasceu a primeira universidade brasileira: um agregado de institutos de ensino, sem uma unidade, sem um projeto acadêmico. Embora o capitalismo industrial deflagrado na década de 30 tenha feito a sociedade pressionar o poder público por um sistema de educação superior, somente a tomada de consciência pela elite paulista da falta de quadros políticos com formação científica na sociedade, falta essa deflagrada pelo fracasso da revolução Constitucionalista, abriu as portas para a instalação de instituições que oferecessem um campo de cultura e de preparo indispensável para uma eficiente atuação na vida social. Mais uma vez, a sociedade, embora beneficiada, foi refém dos interesses dos mandatários. Vários foram os momentos em que a sociedade brasileira se deparou com barreiras nos rumos a educação, ora por questões ideológicas, ora por interesses em cooptar aliados a um projeto políticoeconômico. Nesse último foco, podem ser citados os governos autoritários de Vargas e dos militares na década de 60, sem esquecer a reforma do estado promovida na década de 90, que culminou com a Lei de Diretrizes e Bases promulgada em 1996, cujo texto genérico, abriu espaço para as Revista Integralização Universitária reformas que a sucederam via decretos e portarias, constituindo-se na moldura jurídica adequada para as propostas do MARE e do MEC. (Silva Jr e Sguissardi, 2001, p.54) Finalizando, cabe destacar que a trajetória do projeto da lei nº 9.394 e seu desfecho evidenciam a prevalência, no âmbito educacional, da vontade política sobre as necessidades e aspirações da população em geral e da comunidade ligada à educação, em particular. 9. Referências BELTRÃO, Cláudia. Alma Mater: a autonomia na origem da universidade. Revista ADUFPB – JP. Seção Sindical do Andes – SN, n.02, outubro de 1997. BIANCHETTI, Roberto G. Modelo neoliberal e políticas educacionais. 3 ed. 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Palavras-Chave: Docência da Educação Superior - Saberes Pedagógicos Competência Pedagógica Ensino Superior Abstract: The present article discuss the appropriation of the pedagogic knowledge by the superior education professor as tissing the plot of their former route as a professor. In this discuss points the difficulties and the possibles alternatives for the construction of the pedagogic competence of this professional – technician and professor; it raises questions about the concepts of competence and pedagogic competence. The study metodologic for the construction of this discuss was the bibliographyc revision about the subject. It presents yet considerations for the Superior Education Institutions to appropriate of this necessity of improving their professors, building or broadening their pedagogic knowledge. Key-Words: Superior Education Teaching, Pedagogic Knowledges, Pedagogic Competence, Superior Education Revista Integralização Universitária 1 Introdução A Educação Superior passa hoje por grandes mudanças acompanhando os avanços tecnológicos globais. Em termos docentes tem-se, atualmente, militando em sala de aula das Instituições de Ensino Superior (IES) profissionais competentes em suas áreas de atuação profissionais, com domínio pleno dos saberes científicos pertinentes. No entanto, esses docentes estão sendo desafiados a construíremse enquanto “profissionais docentes”. Isto significa comprometerem-se com uma (nova) profissão que tem teoria própria, bem como características e procedimentos específicos. As recentes reformas no ensino brasileiro, especialmente na Educação Superior, trazem inovações sobre as quais a comunidade acadêmica tem discutido, buscando compreendê-las, analisá-las e avaliá-las com o objetivo de encontrar os meios mais adequados para implementálas. Em linhas gerais, as discussões têm ocorrido em torno de alguns conceitos que ganham força e que, historicamente, provocam polêmicas em razão das inúmeras tendências, correntes e visões que os interpretam diversificadamente. No conjunto desses conceitos, merece ser problematizada a questão das competências. Considerando que ainda não se tem no Brasil um tradicional acúmulo de pesquisa sobre os saberes docentes e que vive-se um momento de hegemonia do projeto neoliberal no campo educacional, algumas questões colocam-se como desafiadoras, assim, a questão da docência ultrapassa os processos de sala de aula. - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Mestre em Educação Brasileira (UFG); Pedagoga (UFG); Licenciada em História (UCG). Professora da Faculdade Católica do Tocantins. Área de Conhecimento: Formação de Professores [email protected]. br 1 34 O presente artigo visa discutir a construção da competência pedagógica deste profissional – professor da educação superior, técnico e docente – por meio de uma breve revisão bibliográfica sobre o tema, com especial atenção aos conceitos de competência e competência pedagógica. 2 Docência na Educação Superior Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), artigos 61 a 68 e Decreto 3.276, de 6 de dezembro de 1999. 2 O docente da educação superior vivencia, atualmente, uma dicotomia no exercício de suas atividades, pois, se de um lado lhe é cobrado uma competência científica que coincide com ser um profissional renomado em sua área de conhecimento, com relativo sucesso em sua área profissional, que é buscado pelas IES justamente no afã de que este ensine aos acadêmicos a serem tão bons profissionais como ele; por outro lado cobra-se deste profissional uma competência pedagógica, pois o paradigma “quem sabe, automaticamente sabe ensinar”, não é mais válido nas IES que estão em busca da qualidade do e no processo ensino aprendizagem. Todos esses fatores somam-se à separação das atividades de ensino e pesquisa e ao predomínio da lógica disciplinar em detrimento de uma prática interdisciplinar; bem como ao atual impacto que a revolução tecnológica vem causando sobre a produção e socialização do conhecimento na educação superior, aliado à globalização e à versão social-econômica neoliberal, afinal, é voz corrente que as funções de produzir e socializar conhecimentos não estão mais restritas ao locus das instituições educativas, pois conforme Pimenta e Anastasiou (2002) as ações pedagógicas ocorrem na sociedade em geral, ampliando-se o entendimento de que estamos diante de uma sociedade genuinamente pedagógica. Ao utilizar o termo educação superior caracteriza-se um momento da vida educacional que é mais amplo que apenas ensino, pois ao transcender a busca pelo desempenho e o rendimento, passa-se a almejar significados mais vastos da formação acadêmico-profissional, ao mesmo tempo coloca-se em questão a responsabilidade social das IES. Assim, o desafio de exercer o magistério superior apresenta alguns determinantes, dentre eles a construção de uma nova competência que deve ser resultado de uma síntese possível – mas ainda desejada – entre os saberes científicos e os saberes pedagógicos. Para iniciar a presente discussão ressalta-se que, no Brasil, não existe uma formação específica exigida para atuar como docente na Educação Superior, não estando o magistério deste nível regulamentado sob forma de um curso específico como nos demais níveis2. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) aponta: Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas. Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por universidade com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de título acadêmico. A legislação, ao admitir que tal docente seja preparado em cursos de pósgraduação não especifica o caráter pedagógico dos mesmos. Por outro lado, há a exigência legal (para autorização, credenciamento e reconhecimento de cursos e instituições) que as IES tenham um mínimo de 30% de seus docentes titulados na pós-graduação stricto sensu, apontando para o fortalecimento desta como o locus privilegiado de formação do docente da educação superior. Portanto, a realidade da educação superior brasileira hoje é que a maioria das IES, sejam essas Universidades, Centros de Ensino Superior, Faculdades ou demais instituições; possuem corpo docente composto por um conjunto de profissionais de áreas diversas que, em sua imensa Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 35 maioria, não tiveram formação inicial ou continuada para o exercício da docência, isto é, não possuem conhecimento científico para lidar com a complexidade do processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual cada um é o único responsável a partir do momento que ingressa na sala de aula como docente. A princípio, a formação inicial (graduação ou tecnologia) deste profissional e mesmo a formação continuada (especialização, mestrado e doutorado) não funcionam como preparação docente – mesmo as Licenciaturas abordam o magistério para crianças e adolescentes, sem mencionar a andragogia3 – não proporcionando a este profissional oportunidade de conhecer e discutir elementos teóricos e práticos relativos à questão do ensino e da aprendizagem de jovens e adultos, bem como competência pedagógica e profissão docente. Por falta deste referencial teórico e prático que lhe forneça uma postura atualizada e pertinente da ação docente, o professor da educação superior seleciona de sua própria experiência como aluno, e mesmo como professor, ações docentes ou metodológicas que considera adequadas e passa a reproduzi-las em sala de aula, assim, a prática cotidiana passa a ser valorizada como lugar de construção de saberes. Agindo assim, este docente acaba por desconsiderar os elementos constitutivos da categoria profissional do magistério: ideais, metas, idiomas pedagógicos, regulamentações profissionais, códigos, entidades de classe... enfim, elementos essenciais para exercer com sucesso e competência uma profissão. Assim sendo, mesmo trazendo para a instituição excelência em conhecimento científico das diversas áreas de conhecimento e atuação “... não há garantia de que a mesma [excelência em conhecimento técnico e científico] tenha igual peso na construção do significado, dos saberes, das competências, dos compromissos e das habilidades referentes à docência.” Revista Integralização Universitária (ANASTASIOU, 2002, p.174) Pois esses profissionais devem ser conscientes de que ... a partir do momento em que assumem uma sala de aula, a docência passa a ser uma profissão, uma nova profissão que dependerá dos saberes da área (...) mas também dos saberes próprios à profissão de professor. Os estudos e pesquisas que fazemos nas especializações, mestrados e doutorados possibilitam o aprofundar de nossas áreas de pesquisa, nem sempre coincidentes com a área pedagógica...” (ANASTASIOU, 2002, p.175) (grifos da autora) Pode-se afirmar, portanto, que o processo de ser docente, bem como a efetivação de uma profissão ficam entregues à própria sorte, especialmente se considerar a dificuldade do professor em se perceber como parte do problema, pois se ele possui o conhecimento científico (conteúdo/saber) não lhe preocupa não possuir o método (saber fazer) restando-lhe uma técnica sem competência. Não se está aqui defendendo a supremacia do pedagógico, ao contrário, é necessário deixar claro a defesa do primado do conteúdo específico sobre o conteúdo pedagógico, pois, concordando com Candau A competência básica de todo e qualquer professor é o domínio de conteúdo específico. Somente a partir deste ponto é possível construir a competência pedagógica. Esta afirmação não implica a relação temporal de sucessão, e sim de uma articulação epistemológica. É a partir do conteúdo específico, em íntima articulação com ele, que o tratamento pedagógico deve ser trabalhado. (1997, p.46) Ao pensar na lógica que articula saberes: conteudista e pedagógico, devese visualizar o saber docente como proveniente de duas fontes – conhecimento do conteúdo e conhecimento pedagógico. (TARDIFF, LESSARD e LAHAYDE, 1991) Efetivar uma profissão é caracterizar-se com a identidade profissional desta - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 A partir de 1970 , Malcom Knowles trouxe a tona as idéias plantadas por Linderman. Publicou várias obras, entre elas “The Adult Learner - A Neglected Species” (1973), introduzindo e definindo o termo Andragogia - A Arte e Ciência de Orientar Adultos a Aprender. Daí em diante, muitos educadores passaram a se dedicar ao tema, surgindo ampla literatura sobre o assunto. (http://www. rau-tu.unicamp.br/nourau/ead/document/ ?view=2) A Andragogia significa, portanto, “ensino para adultos”. Um caminho educacional que busca compreender o adulto desde todos os componentes humanos, e decidir como um ente psicológico, biológico e social. Busca promover o aprendizado através da experiência, fazendo com que a vivência estimule e transforme o conteúdo, impulsionando a assimilação. (http://www.andragogia. com.br). 3 36 e há saberes da profissão docente distintos dos de outras profissões e que os processos de formação se concretizam em saberes profissionais. A profissionalidade docente, de acordo com Sacristán, é “... a afirmação do que é específico na ação docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor” (1995, p.65). Afinal, são os traços, os aspectos profissionais edificados em relação ao trabalho docente que identificam, ou que caracterizam profissionalmente o docente. Muitos profissionais da educação superior justificam sua pouca intimidade com as questões pedagógicas (ensino e aprendizagem) pelo fato de serem pesquisadores, no entanto, ao ver-se as IES como instituições sociais4 verifica-se que ao exercer a pesquisa o professor deve perceber que o produto desta ação deve ser socializado no ensino, pois o compromisso docente vai além da reprodução de saberes já instituídos, por mais técnicas e atuais que essas informações possam ser. Libâneo5 chama a atenção para o conceito de “conteúdo” CHAUÍ (2001) indica que a universidade enquanto instituição social é aquela que se caracteriza como ação social e prática social, pautando-se na idéia de um conhecimento guiado por suas próprias necessidades e lógica, tanto no que se refere à descoberta e invenção, quanto à transmissão desse conhecimento. 5 Entrevista de Libâneo, concedida por e-mail a alunos do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, em maio de 1999. 4 ... conteúdos são os conhecimentos sistematizados, selecionados das bases das ciências e dos modos de ação acumulados pela experiência social da humanidade e organizados para serem ensinados (...); são habilidades e hábitos, vinculados aos conhecimentos, incluindo métodos e procedimentos de aprendizagem e estudo; são atitudes e convicções envolvendo modos de agir, de sentir e de enfrentar o mundo. (1999, s/p.) Conclui-se, assim, que o saber (conteúdos/ciências), no processo de ensino e aprendizagem, está diretamente relacionado ao método (saber fazer). A ciência pós-moderna, ancorada na teoria da complexidade aponta-nos que os saberes científicos precedem novas fronteiras do pensar. Já os saberes pedagógicos indicam a necessária parceria com os alunos na ação docente, partindo do senso comum como elemento germinador de análises possíveis, respeitando e identificando o pensamento do estudante como ponto de partida, permitindo o avanço dessa visão inicial e ainda não-elaborada. Quando o aluno apreende – com a colaboração do mediador – um novo paradigma de leitura da realidade, o mesmo elabora ou amplia seu universo conceitual e aceita-se como elemento do processo. Faz-se necessário ir além, deixar o aluno aprender autonomamente, garantindo-lhe um processo de pensamento crítico, (re) construtor de soluções para novos e velhos problemas. Como fazer essa transição? Muitas vezes, como professor não se associa a responsabilidade do ensinar ao aprender do aluno. Isto é, o professor executa a ação de ensinar conforme ele acredita ser a maneira mais pertinente, no entanto não se debruça a estudá-la cientificamente. “Da mesma forma que é preciso a apropriação dos saberes científicos para o crescente domínio quanto em cada área, é necessário a apropriação dos saberes pedagógicos para o exercício competente da docência.” (ANASTASIOU, 2002, p.185) 3 Conceituando Competências As competências surgem como um dado novo no idioma pedagógico, razão pela qual cabe uma aproximação maior a esse conceito. A educação superior é precedida dos ensinos fundamental e médio, aos quais se atribui a garantia de que o aluno adquira uma formação comum para o exercício da cidadania e a inserção no mundo do trabalho ou em estudos posteriores, podendo-se concluir que as competências deste nível [superior] devem contar com, pelo menos, uma base de conhecimentos gerais e de habilidades cognitivas que dêem ao educando condições mínimas de compreender os processos produtivos e as relações sociais neles incluídas, para poder obter êxito na sua vida profissional. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 37 Em um primeiro olhar essa lógica parece perfeita, mas ao levar-se em conta que a mesma foi produzida no contexto dos anos 1990, caracterizado pela crise estrutural do capitalismo, pela globalização e pela reordenação das profissões, entre outras mudanças no mundo do trabalho, cabe compreendê-la mais atentamente no quadro das reformas educacionais marcadas pelas recomendações dos órgãos internacionais de financiamento da economia brasileira. Na verdade, essa crise produziu o que os sociólogos do trabalho chamam de desemprego estrutural, resultado da entrada maciça da tecnologia nos processos de trabalho, provocando uma tendência crescente de transferir um número cada vez maior de trabalhadores para uma reserva silenciosa, onde eles são protegidos, mas ao mesmo tempo, colocados fora de ação. As reformas educacionais que sustentam a tese de valorização das competências parecem fortalecer e legitimar a via da responsabilidade do aluno/cidadão em desenvolver suas habilidades, suas atitudes e seus saberes garantindo sua autonomia e a flexibilidade entre outros atributos. A adaptação a essa nova forma de organização do mundo do trabalho e de inserção laboral, acaba por formar trabalhadores que atendem à lógica de reprodução e de acumulação flexível do capital. O uso do conceito de competência é bastante familiar em nossa sociedade e seu emprego sempre se deu em referência às pessoas que têm uma qualidade especial para resolver situações complexas e fazer com perfeição determinada coisa, afinal, quem não se recorda do famoso dito popular: “Quem não tem competência não se estabelece...”. A discussão atual sobre competências traz com ela significados que, do ponto de vista da compreensão do que seja uma pessoa competente, incluem habilidades cognitivas bem desenvolvidas, capacidade para julgar, habilidades motoras às quais podem ser agregadas Revista Integralização Universitária habilidades artísticas, literárias e mesmo científicas, e assim por diante. No entanto, no campo da educação estabelece-se uma ampla discussão sobre o conceito, pois o mesmo encontra-se mergulhado em diferentes tendências (tecnicista, comportamentalista, sociocrítica); correntes (australiana, canadense, inglesa, francesa); visões de mundo (positivista, crítica); teorias de aprendizagem (condutivista, construtivista) e abordagens das relações sociais de trabalho, questões relativas a conflitos e hierarquia de poder, confirmando a polissemia que o cerca. A questão central desse debate encontra-se nas novas relações de trabalho, resultado dos avanços tecnológicos e das rápidas alterações no mundo laboral, que têm requerido formação adequada dos sujeitos sociais de modo que se ajustem às exigências de inserção profissional. Ao falar-se em competências profissionais trata-se de formar indivíduos que desenvolvam suas potencialidades de forma integral: com domínio de conhecimentos; com habilidades cognitivas para reconverter sua qualificação em outra, dependendo da demanda de novas funções; com capacidade para conviver em grupo, sensível às diferenças interpessoais; com capacidade para avaliar novas situações enfrentando-as com criatividade. Portanto, o centro do debate está na relação trabalho-educação, na qual, segundo Ramos, situa-se a competência como uma “nova mediação” (2001, p.24) ou uma “mediação renovada”(RAMOS, 2001) pela acumulação flexível do capital. Em outras palavras, na medida em que o capital procura, de modo cada vez mais rápido, encontrar novas formas de acumulação, colocam-se para as IES desafios de formar sujeitos com competências para “... assimilar informações e utilizálas em contextos adequados, interpretando códigos e linguagens e servindo-se dos conhecimentos adquiridos para a tomada de decisões autônomas e socialmente relevantes”. (MEC, 2000 apud LOPES, 2001, p.7) - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 38 Para Ramos (2001), as mudanças no mundo do trabalho têm provocado a requalificação dos trabalhadores inseridos no centro da produção capitalista, que hoje está a exigir conhecimentos e atitudes diferentes das qualificações formais do tipo taylor-fordista, resultando na desqualificação de alguns setores operários, no aparecimento do trabalho temporário, parcial e subcontratado e na superqualificação de outros setores. Aponta ainda que as características tendenciais do mundo produtivo podem ser definidas pela: a) flexibilização da produção; b) reestruturação das ocupações; c) multifuncionalidade e polivalência dos trabalhadores; d) valorização dos saberes dos trabalhadores para além das prescrições, normas e formalizações. Como conseqüências dessas características, surgem questões nos campos acadêmico, socioempírico e teórico-filosófico. No campo acadêmico, são retomados os debates sobre a validade das teses de desqualificação, polarização e requalificação dos trabalhadores. No campo socioempírico, cabe a pergunta se ainda vale o conceito de qualificação como estruturante de relações, acesso e permanência no trabalho. E, finalmente, no campo teórico-filosófico indaga-se como ficam as subjetividades do trabalhador, “... motivado para resgatar sua autonomia nas novas formas do trabalho...” (RAMOS, 2001, p. 38), ao mesmo tempo ainda “... aprisionado pelo conteúdo do trabalho parcelarizado e submetido às necessidades de reprodução do capital?”. (RAMOS, 2001) O conceito de competência situa-se nesse campo de indefinições, correspondendo a uma resposta possível a essas indagações e cumprindo diferentes papéis segundo a ótica das diferentes correntes que o interpretam e o utilizam como eixo formador do novo cidadão. É, portanto, um conceito em construção, e como tal encontra-se sob suspeita, até porque, segundo Perrenoud, “... essa moda simultânea da mesma palavra em campos variados esconde interesses parcialmente diferentes”. (1999, p.13) No campo das profissões, por exemplo, existem, segundo Oliveira (2000), três tipos de competências: a) competências para lidar com as pessoas; b) competências para lidar com a informação; c) competências para lidar com a tecnologia. No campo da educação em geral, o conceito forjado no campo do trabalho retorna ao espaço da formação, retraduzindo perfis de empregos e normas de formação, segundo Stroobants (1997), e sintetiza-se no “trio” de saberes: a) saber; b) saber-fazer; c) saber-ser. Os saberes, referidos aos conhecimentos (gerais e profissionais) necessários à formação; o saber-fazer, relativo às noções adquiridas na prática (tarefas, regras, procedimentos etc.); o saber-ser, englobando uma série de qualidades pessoais (ordem, método, precisão, rigor, polidez, autonomia, imaginação, iniciativa, adaptabilidade etc.). Entre autores brasileiros, que procuram articular as relações educativas com as relações no mundo do trabalho, o conceito de competência ganha força, em especial no campo da formação profissional, tanto para grupos que o defendem quanto para grupos que a ela se contrapõem, afirmando que competência atualiza a noção de qualificação ajustando-se às novas formas de organização do capital para mais rapidamente valorizá-lo (FERRETTI, 1997); ou ainda que ela seja o rejuvenescimento da teoria do capital humano, porque imprime à qualificação uma conotação produtivista (FRIGOTTO, 1995). E mais aqueles que consideram que há um deslocamento conceitual, da qualificação para Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 39 as competências (RAMOS, 2001), uma vez que a qualificação sempre ordenou as relações sociais de trabalho e as educativas, em movimento permanente de atualização. A competência pode resgatar uma compreensão essencialista do trabalho, cujo centro, ao invés de ser o posto de trabalho, desloca-se para o sujeito abstraído das relações sociais. Na verdade, o que se quer demonstrar é que o conceito está referido, fundamentalmente, à formação profissional e mesmo assim ainda traz controvérsias, muitas delas aparentemente insuperáveis. Por exemplo, Ropé e Tanguy (1997) afirmam que a noção de competência, muito associada às noções de desempenho e de eficiência na economia, no trabalho, na educação e na formação, tende a substituir outras noções anteriormente hegemônicas nas esferas da educação (os saberes e o conhecimento) e do trabalho (qualificação), mas defendem que, pelo seu caráter extensivo e duradouro, recai sobre ela o papel de testemunho de nossa época. Na medida em que a esfera educativa é transpassada pela esfera do trabalho, a noção de competência, mantida a autonomia das esferas citadas, faz o nexo entre elas e torna-se referência para organizar a formação profissional. É desse modo que as competências chegam, segundo Kuenzer (2000), no Brasil à educação superior antes de se ter clareza suficiente sobre sua utilização, mais para atender às formalidades legais do que propriamente para instaurar uma pedagogia das competências. Essas observações são úteis para que se possa compreender o trajeto do significado de competência desde sua origem no mundo do trabalho até sua inserção no campo educativo, resultando no que hoje representa um dos nós da educação. Em uma outra linha de pensamento, mais voltada para a responsabilidade da educação superior no desenvolvimento de competências para enfrentar o mundo de hoje e o de amanhã, encontra-se PerRevista Integralização Universitária renoud (1999), no qual pode-se encontrar uma proximidade com os conceitos da teoria da ação comunicativa, em uma perspectiva cultural. Perrenoud (1999) considera que a ascensão do conceito de competência nos tempos atuais deve-se a uma espécie de “contágio” de que a educação padece, resultado da apropriação dessa noção pelo mundo do trabalho inserido “... na corrente dos valores da economia de mercado, como gestão dos recursos humanos, busca da qualidade total, valorização da excelência, exigência de uma maior mobilidade dos trabalhadores e da organização do trabalho.” (1999, p.12) Gonczi (1996) acrescenta que no conceito de competência existe igualmente uma dimensão psicológica (destinatária da psicologia cognitivista) que se une com alguns dos aspectos dessas dimensões filosóficas na formação do indivíduo competente. Assim, a competência dos indivíduos deriva da posse de uma série de atributos (conhecimento, valores, habilidades e atitudes) que se utiliza em diversas combinações para executar tarefas ocupacionais. Uma possível síntese dessas abordagens, do ponto de vista das relações pedagógicas, aponta que se deve situar na vertente que trata as competências na perspectiva da formação humana integral, com absoluta clareza de que essa formação não se esgota nos domínios cognitivos, afetivos e psicomotores. Nela está incluída a questão do poder, que não cabe discutir neste espaço em razão dos objetivos previamente definidos e pela série de questões que essa dimensão levanta. Assim, concebem-se competências dentro de certos limites (RAMOS, 2001): nem autonomia, nem adaptação. 4 Competência Pedagógica A relação do docente da educação superior não se reduz à transmissão de conhecimentos já constituídos, então, a prática passa a ser “... expressão de múltiplos - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 40 saberes, incorporados em âmbitos, tempos, espaços de socialização diversos”. (LELIS, 2001, p. 53) A competência pedagógica é vislumbrada na “... demarcação de um novo idioma pedagógico na consciência de que a prática profissional está marcada por uma trama de histórias, culturas que ultrapassam a dimensão pedagógica stricto sensu”. (LELIS, 2001, p. 53) Diante de todas as mudanças apontadas, o perfil do professor da educação superior se altera de especialista para mediador da aprendizagem, colocando na pauta do dia as competências básicas para se realizar a docência. Ao se falar em competência pedagógica existem quatro grandes eixos: a) o processo ensino e aprendizagem; b) concepção e gestão de currículo; c) compreensão de relações interpessoais; d) teoria e prática básica de tecnologia educacional. De acordo com Guimarães (2004) a grande complexidade e os novos desafios postos à atividade docente conduzem ao entendimento de que esta não é uma atividade para amadores e diletantes. Cabe aqui uma ressalva sobre a apropriação dos termos Pedagogia e Competência Pedagógica. Reconhece-se hoje a presença do pedagógico na sociedade, havendo uma extrapolação da educação formal para âmbitos não formais. No entanto, num movimento inverso, há uma confusão em relação à Pedagogia. A Pedagogia enquanto ciência tem como objeto de estudo a educação enquanto prática social, construindo uma teoria pedagógica. Assim compreendida, a Pedagogia – enquanto campo teórico da prática educacional que não se restringe à didática da sala de aula nos espaços escolares, mas está presente nas ações educativas da sociedade em geral –, possibilita que as instituições e os profissionais cuja atividade está permeada de ações pedagógicas se apropriem criticamente da cultura pedagógica para compreender e alargar a sua visão das situações concretas nas quais realizam seu trabalho, para nelas imprimir a direção de sentido, a orientação sociopolítica que valorizam, a fim de transformar a realidade. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p.66) Pode-se afirmar que tal apropriação crítica é a aquisição da competência pedagógica. No entanto, a competência não é um dado externo ao indivíduo e sim um processo de construção situado histórica e socialmente. Na edificação da competência pedagógica tem função relevante o significado social que o docente atribui a si mesmo e à educação como um todo. Constitui-se também de ... um processo epistemológico que reconhece a docência como campo de conhecimentos específicos configurados em quatro grandes conjuntos: os conteúdos das diversas áreas do saber (...) e do ensino; os conteúdos didático-pedagógicos, diretamente relacionados ao campo da atividade profissional; os conteúdos relacionados a saberes pedagógicos mais amplos do campo teórico da prática educacional; os conteúdos ligados à explicitação no sentido da existência humana individual, com sensibilidade pessoal e social. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p.78-9) Para compreender-se como tal (docente da educação superior), o mesmo deve proceder uma leitura crítica da prática social de ensinar confrontando a realidade existente, as iniciativas tomadas perante o sucesso e perante o enfrentamento do fracasso, tomando a ação como referência de onde se parte e para onde se volta. É o que Nóvoa (1992) denomina de reflexibilidade crítica sobre as práticas de (re)construção permanente da identidade docente. Essa confrontação das ações diárias de sala de aula com a produção teórica pedagógica acaba por impor a revisão de práticas e das teorias que as subsidiam num “moto contínuo” de pesquisa da prática, busca de teoria e transformação. Esse movimento amplia a consciência do professor sobre a prática de sala Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 41 de aula e a educação superior como um todo. 5 Considerações Finais No exercício cotidiano da docência, o professor da educação superior deve passar a agir como o faz enquanto pesquisador: observar-se como docente, levantar e delimitar problemas, buscar referencial teórico que o subsidie no avanço da solução dos problemas detectados, testar, buscar soluções... enfim: fundamentar-se. A relação hoje necessária entre os saberes científicos e pedagógicos passa pela análise dos saberes das experiências vividas nas instituições de ensino, nas salas de aula, tomando-as como ponto de partida e chegada da reflexão e da construção processual como profissional docente. (ANASTASIOU, 2002, p.186) É urgente que as IES que trazem para seus quadros professores de áreas diversas de conhecimento se dêem conta da complexidade da formação e da atuação conseqüentes deste profissional, necessitando de um protagonismo da instituição quanto à capacitação pedagógica docente, pois o investimento na formação pedagógica do professor da educação superior é um ponto de partida que apresenta possibilidades de melhoria da profissionalidade e de um significado diferente para a profissionalização e o profissionalismo docentes, bem como possibilidade para a ressignificação da sua identidade profissional especialmente nesse contexto recheado em mudanças de natureza variada. Para tecer a trama do percurso formativo dos professores da educação superior é preciso que as IES valorizem o trabalho docente, dotando-os de perspectivas de análise que acabem por ajudá-los a compreender os contextos históricos, sociais, culturais e organizacionais onde se dá a atividade docente. Vale lembrar que valorizar a atividade docente significa ainda rever e modificar socialmente a precariedade da carreira docente. Revista Integralização Universitária 6 Referências ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos. Construindo a docência no ensino superior: relação entre saberes pedagógicos e saberes científicos. In: ROSA, Dalva E. Gonçalves; SOUZA, Camilo de (orgs.). Didática e práticas de ensino: interfaces com diferentes saberes e lugares formativos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. CANDAU, V. M. F. Universidade e formação de professores: que rumos tomar? In: ______ (org.). Magistério, construção cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1997. CHAUÍ, Marilena. Escritos sobre a universidade. São Paulo: Editora da Unesp, 2001. FERRETTI, Celso João. Formação profissional e reforma do ensino técnico no Brasil: anos 90. Educação & Sociedade, Campinas, v. 18, n. 59, p. 225-269, ago. 1997. FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e crise do capitalismo real. São Paulo: Cortez, 1995. GONCZI, Andrew. 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Os professores face ao saber: esboço de uma problemática do saber docente. In: Dossiê: Interpretando o trabalho docente. Teoria & Educação, n. 4, Porto Alegre: Pannônica, 1991, p. 215 – 233. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 43 GESTÃO Ecoturismo no Brasil: uma proposta de desenvolvimento e sustentabilidade Claudia Nolêto Maciel Luz1 Resumo: O turismo é considerado o maior dos movimentos migratórios da história da humanidade e caracteriza-se por sua taxa de crescimento constante. O Brasil tem um excelente potencial turístico: algumas praias consideradas as melhores do mundo, sol quase o ano inteiro, flora e fauna esplêndidas, riquíssimo folclore e um povo, por tradição, hospitaleiro. Mesmo diante de tal riqueza, participa apenas de uma parcela no mercado turístico mundial e lentamente, o mercado interno ainda é necessário melhorar a infra-estrutura específica e geral. A indústria do turismo, atualmente, é a atividade que representa os índices mais elevados da expansão no contexto econômico mundial. O ecoturismo, na indústria de turismo e viagens, apresenta-se no momento como uma importante alternativa de desenvolvimento econômico sustentável, desde que, utilizando de forma racional os recursos naturais sem comprometer a sua capacidade de renovação e a sua conservação. No contexto global do turismo, o Ecoturismo é o segmento que apresenta maiores índices de expansão, resultando no incremento gradativo de ofertas e demandas por destinos ecoturísticos. Palavras-chaves: ecoturismo, desenvolvimento, sustentabilidade, conservação, qualidade de vida. Abstract: The tourism is considered the largest of the migratory movements of the humanity’s history and it is characterized by its growth rate constante.O Brazil he has an excellent tourist potential: some improve beaches of the world, sun almost the whole year, flora and fauna splendid, rich folklore and a people, for tradition, hospitable. This position, just participates of a portion in the world tourist market and slowly, it stimulates the internal maRevista Integralização Universitária rket, of which is necessary to improve the specific and general infrastructure. The industry of the tourism, now, is the activity that represents the elevated indexes of the expansion in the world economic context. The ecoturism, in the industry of tourism and trips, comes in the moment as an important alternative of maintainable economic development, since, using in a rational way the natural resources without committing its renewal capacity and its conservation. In the global context of the tourism, ecoturism is the segment that presen ts larger expansion indexes, resulting in the increment gradative of offers and demands for destinies ecoturism. Key-words: ecoturism, development, susteinability , conservation, life quality. Ecoturismo, um neologismo “ecologicamente correto” criado por Hector Ceballos no início da década de 80 e simpático às Ongs, segundo um grupo multidisciplinar formado por representantes de entidades governamentais e não-governamentais, que, em agosto de 94, a convite dos Ministérios do Meio Ambiente e da Indústria, Comércio e Turismo, analisou e estabeleceu bases para um decreto para orientar a política e o programa brasileiro de Ecoturismo, deve ser entendido como: Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bemestar das populações envolvidas. Ecoturismo é também compreendido popularmente como turismo “natural”, indo além da simples observação, propiciando ao viajante um entendimento ecológico do meio ambiente natural. - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Graduada em Administração de Empresas pela Universidade de Brasília – UnB, Pós- graduada em Administração Rural e o Negócio Agrícola pela Fundação Universidade do Tocantins – UNITINS e Doutoranda em Economia e Empresa pela Universidade de Ilhas Baleares – UIB. 1 44 O Ecoturismo deve: •promover e desenvolver turismo com bases cultural e ecologicamente sustentáveis; •promover e incentivar investimentos em conservação dos recursos culturais e naturais utilizados; •fazer com que a conservação beneficie materialmente comunidades envolvidas, pois somente servindo de fonte de renda alternativa estas se tornarão aliadas de ações conservacionistas; •ser operado de acordo com critérios de mínimo impacto para ser uma ferramenta de proteção e conservação ambiental e cultural. O ecoturismo é considerado como sendo “um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”. (Barros II e La Penha, 1994). O conceito de ecoturismo deve envolver a viagem para áreas naturais relativamente tranqüilas e não contaminadas, com o objetivo de estudar, apreciar e desfrutar o ambiente natural dessa área. Trata-se de viagem responsável em que se conservam os ambientes naturais e se sustenta o bem-estar da população local. Conforme Brandon (1996), ecoturismo é um termo de uso bastante disseminado em nossos dias, mas que raramente é definido. Muitas vezes é usado de maneira intercambiável com outros termos como turismo suave, turismo alternativo, turismo responsável e turismo da natureza. Segundo o mesmo autor, ecoturismo significa simplesmente que a principal motivação para a viagem é o desejo de ver ecossistemas em seu estado natural, sua vida selvagem assim como sua população nativa. O ecoturismo é um recente produto de tangibilidade potencial econômico so- cial e seu desenvolvimento poderá propiciar a divulgação do patrimônio ambiental à população brasileira e, também, de outras nações que queiram conhecê-lo. O impacto teórico do ecoturismo é bem conhecido. Os custos potenciais são a degradação do meio ambiente, as injustiças e instabilidades econômicas, as mudanças socioculturais negativas. Os benefícios potenciais são a geração de emprego para as pessoas que vivem próximas a essas áreas e a promoção de educação ambiental e de conscientização sobre a conservação. (Lindberg e Hawkins, 1993, p.34). A atividade do ecoturismo deve abranger, em sua conceituação, a dimensão do conhecimento da natureza, a experiência educacional interpretativa, a valorização das culturas tradicionais locais e a promoção do desenvolvimento sustentável. O crescente envolvimento da sociedade nas questões ambientais, pressionando governos e instituições para o estabelecimento de requisitos cada vez mais rígidos quanto ao impacto ambiental à implantação de empreendimentos, aliado a uma crescente busca do homem por uma relação mais íntima e freqüente com a natureza, recomenda a não restrição do conceito de ecoturismo, de forma a acompanhar a dinâmica deste segmento. A atividade de ecoturismo passa, atualmente, por uma transição de “produto turístico” para um “conceito de viagem”, sendo que os componentes da definição podem vir a ser integralmente absorvidos por outros segmentos ou atividades do turismo, que talvez hoje não sejam considerados ecoturísticos, mas cuja evolução deve ser incentivada. De acordo com o Mckercher (1997), o gestor de projeto de ecoturismo deveria ter conhecimento dos seguintes assuntos que serão fundamentais para o desenvolvimento com sucesso de seu trabalho: •Planejamento de negócio: muitas pessoas envolvidas em temas de ecoturismo reclamam porque reconhecem que quando começaram a trabalhar na área Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 45 não tinham conhecimento o bastante como planejar e organizar um negócio. É preciso conhecimento de administração financeira, investigação de mercados e uma grande dose de paciência para com a burocracia; •Marketing: muitos operadores de turismo sabem criar um produto, mas não sabem vendê-lo. Para desenvolver estratégias deste tipo, precisa-se de conhecimento de marketing em geral, desenvolvimento de um bom produto, estabelecimento de um preço apropriado, como também saber fazer a promoção nos lugares precisos; •E também ter algumas qualidades específicas para saber trabalhar com o público, tais como: procura de pessoal apropriado, bom tratamento aos clientes, entre outros; •Por último, aptidões pessoais para desempenhar esse trabalho: paciência, coragem, habilidades para saber administrar as pessoas, afinidade com as áreas naturais, etc. Segundo Myers (1984), os ecoturistas preferem grupos pequenos e serviço personalizado, tendem a ser entusiastas de atividades ao ar livre, viajam muitas vezes em duplas ou sozinhos e são viajantes freqüentes e experientes. Eles geralmente aceitam condições diferentes das existentes em seus domicílios mais do que outros tipos de turistas. As acomodações de luxo, alimentação e a vida noturna são muito menos importantes para esse grupo do que vivenciar as condições locais, provar os costumes e os alimentos locais. (ABEL, 1992, p.12). Desse modo, o ecoturismo é mais do que uma simples atividade de lazer. É um estilo de viagem, que reflete e promove uma determinada orientação não só em relação à viagem, mas também a estilos de vida, comportamentos e filosofias. (...) O crescimento pessoal em termos emocionais, espirituais e intelectuais parece ser o resultado esperado da viagem ecoturística para a maioria desses viajantes. (RODRIGUES, 1997, p.84) Revista Integralização Universitária De acordo com o mesmo autor, tendo em conta que a problemática ambiental coloca em destaque a questão do espaço, do território, da paisagem, a atividade turística aparece como a que apenas "consome" paisagem/espaço/território, sem, aparentemente, "destruir" esses lugares, o que justificaria apontá-la como sustentável. O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades” (Wced, 1987). A proteção e a administração ambiental são essenciais para o desenvolvimento sustentável. De acordo com Ruschmann (2000) os princípios do Desenvolvimento Turístico Sustentável são: •Sustentabilidade ecológica: assegura que o desenvolvimento é compatível com a manutenção dos processos ecológicos essenciais, diversidade biológica e os recursos biológicos; •Sustentabilidade social e cultural: assegura que o desenvolvimento e o controle das pessoas sobre suas próprias vidas são compatíveis com a cultura e os valores das pessoas atingidas pelo desenvolvimento, aumentando e fortalecendo a identidade da comunidade; •Sustentabilidade econômica: assegura que o desenvolvimento é economicamente eficiente e que os recursos são geridos de forma que suportem gerações futuras. •O conceito de turismo sustentável foi desenvolvido para evitar os riscos que a condução inadequada da atividade pode provocar no meio ambiente. O turismo sustentável, segundo Krisppendor (1988), é visto como a perfeita triangulação entre as destinações (seus hábitats e habitantes), os turistas e os prestadores de facilidades para os visitantes. (...) o turismo sustentável procura adequar aos interesses de cada um dos parceiros do triân- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 46 gulo, minimizando as tensões e buscando um desenvolvimento a longo prazo, pelo equilíbrio entre o crescimento econômico e as necessidades de conservação do meio ambiente. •Apesar de alguns autores se mostrarem reservados, não há dúvidas de que o ecoturismo apresente aspectos positivos quanto à questão do turismo sustentável. O ecoturismo: •Traz benefícios econômicos para a população local e pode ser fonte de renda para projetos de preservação; •Tende a se dar numa escala muito pequena e cuidadosamente gerenciada; •Envolvem turistas bastante conscientes dos riscos potenciais do turismo e que, na pior das hipóteses, devem se comportar de forma mais sensível do que outros turistas; •Aumenta a conscientização dos problemas inerentes ao turismo devido à sua experiência em primeira mão com as questões relativas à sustentabilidade. Segundo Harry e Spink citado por Ruschmann (2000) o planejamento é uma atividade que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos propostos. Ele tem por objetivo o aprovisionamento de facilidades e serviços para que uma comunidade atenda seus desejos e necessidades ou, então o desenvolvimento de estratégias que permitam a uma organização comercial visualizar oportunidades de lucro em determinados segmentos de mercado. O planejamento de uma organização comercial (privada) tem como objetivo principal o lucro, que pode ser medido objetivamente, ao passo que os órgãos públicos não visam a lucros, e seus resultados não podem ser medidos por indicadores quantitativos. Diante da amplitude e da variedade das ações de cada um dos setores, a abordagem deste estudo se concentra no planejamento turístico nas organizações públicas que, para alcançar seus objetivos, necessitam da colabora- ção das empresas privadas, atuando direta ou indiretamente no desenvolvimento da atividade. No turismo cabe ao Estado zelar pelo planejamento e pela legislação necessários ao desenvolvimento da infraestrutura básica que proporcionará o bemestar da população residente e dos turistas. Além disso, deve zelar pela proteção e conservação do patrimônio ambiental (natural, cultural e psicossocial) e criar condições que facilitem e regulamentem o funcionamento dos serviços e equipamentos nas destinações, necessários ao atendimento das necessidades e dos desejos dos turistas, geralmente, a cargo de empresas privadas. Entende-se o planejamento como um processo que consiste em determinar os objetivos de trabalho, ordenar os recursos materiais e humanos disponíveis, determinar os métodos e as técnicas aplicáveis, estabelecer as formas de organização e expor com precisão todas as especificações necessárias para que a conduta da pessoa ou do grupo de pessoas que atuarão na execução dos trabalhos seja racionalmente direcionada para alcançar os resultados pretendidos. No turismo, o plano de desenvolvimento constitui o instrumento fundamental na determinação e seleção das prioridades para a evolução harmoniosa da atividade, determinando suas dimensões ideais, para que, a partir daí, possa-se estimular ou restringir sua evolução. O planejamento turístico não se refere apenas especificamente à divulgação e ao desenvolvimento do setor, embora estes sejam aspectos importantes. O turismo deve ser integrado a processos de planejamento mais amplos a fim de promover determinadas metas de melhoria ou maximização econômica, social e ambiental que possam ser atingidas por meio do desenvolvimento turístico adequado. É clara e evidente a crescente importância da área de serviços para o mundo. O aumento de populações urbanas, a descoberta de novas tecnologias, a cons- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 47 cientização do consumidor diante de seus direitos, a busca por melhor qualidade de vida, são fatores que influenciam diretamente para que ocorra esse avanço. Parte-se, atualmente, do pressuposto que o setor de serviços também necessita de direção, controle e, principalmente, planejamento para que não ocorra a temida queda de produtividade, pois a competitividade neste setor é feroz. A dificuldade maior em controlar serviços decorre de sua intangibilidade. Os serviços não são palpáveis ou mensuráveis, mas sim, sentidos, o que torna complicada a padronização de seus resultados. Dos serviços prestados por uma empresa depende a sua imagem frente ao consumidor e como não são passíveis de serem patenteados, irão requerer do administrador estratégias criativas que garantam suas inovações. Inovação, essa é a palavra-chave. O mercado atual requer das empresas, principalmente diferenças, algo novo e surpreendente, que cause impacto, que chame atenção do cliente e o faça tornar-se satisfeito. O marketing é um dos ramos estratégicos de serviços mais importantes para que ocorram inovações nessa área. Uma das funções básicas do marketing em serviços é comunicação com o cliente, através da publicidade e propaganda. É esta comunicação que irá criar expectativas nos consumidores, que irá impulsionar suas necessidades e desejos pelo serviço prestado pela empresa. Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, que congrega as maiores empresas multinacionais do setor, o mercado turístico como um todo: •Em 1991 empregou 183 milhões de pessoas. •Em 1994, com crescimento de 10,6% passou a oferecer 204 milhões de empregos (um em cada nove trabalhadores do mundo). Revista Integralização Universitária •De 1985 a 1993, apesar da recessão mundial, o número de turistas que empreendeu viagens internacionais passou de 380 para 500 milhões. •A Organização Mundial de Turismo estimava que esse número atingisse 661 milhões no ano 2.000. •Excetuando o setor de transportes, os ganhos financeiros provenientes do turismo internacional, cresceram de US$ 18 bilhões (1970) para US$ 324 bilhões (1993). •A indústria do turismo apresenta elevados índices de crescimento econômico mundial. Movimenta cerca de US$ 3,5 trilhões anualmente. Na última década, teve crescimento de 57%. Dentro deste contexto, o ecoturismo é o segmento que mais cresce. Verifica-se, assim, que o turismo se impôs nos últimos anos como um recurso comercial de expressiva importância, disputando com o petróleo a primazia do mercado mundial. Em 1995, o Brasil recebeu apenas 1,7 milhões de turistas que representaram 0,3% dos 534 milhões de turistas no mundo. Considerando-se que o ecoturismo representa 10% do mercado turístico, o ecoturismo brasileiro participa com 0,03%; um número medíocre para um país de mega diversidade e que possui a maior biodiversidade do mundo e 5,7% de toda a área terrestre do planeta. A conscientização da sociedade relativamente às questões ambientais tem contribuído para o crescimento da demanda por atividades ecoturísticas. De fato, a forte percepção mundial acerca da necessidade urgente de proteção e recuperação dos recursos naturais, disseminadas principalmente pelos meios de comunicação, acaba por influenciar a escolha dos destinos e roteiros a serem programados. A oferta de destinos ecoturísticos depende, no entanto, da existência de áreas de elevado valor ecológico e cultural, da maneira como estas áreas são geridas, - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 48 da existência de infra-estruturas adequadas e da disponibilidade de recursos humanos capacitados.“Países que oferecem destinos ecoturísticos adequados, obtêm valores significativos de divisas com seus parques nacionais”. (OMT, 1993. p.6-7): •O Quênia obteve em 1988 com o turismo, que é a atividade que mais rende divisas para o país, US$ 400 milhões. •Em Ruanda, os turistas que desejam ver os gorilas do Parque Nacional dos Volcans despendem, anualmente, US$ 1 milhão em ingressos e de US$ 2 a 3 milhões em outros gastos. •Nos países desenvolvidos, o ecoturismo é uma atividade ainda mais vantajosa: o sistema de parques nacionais dos Estados Unidos, considerado como a maior rede de atração turística natural do mundo, recebeu mais de 270 milhões de visitantes em 1989; os parques estaduais receberam 500 milhões de visitantes. Para a América Latina, onde o ecoturismo começa a despontar, a atividade é de extrema importância para os esforços de promoção do desenvolvimento econômico e social. O adequado aproveitamento dos variados ecossistemas existentes, ainda pouco explorados, propiciará a abertura de novas alternativas econômicas e a conseqüente melhoria das condições de vida das populações diretamente envolvidas, além de reduzir alguns dos impactos negativos causados pelo turismo tradicional. O Brasil tem um grande potencial, representado pela própria natureza, por sua geografia contrastante, pelo clima e pela alegria de seu povo. Por isso, a EMBRATUR considera o ecoturismo como o setor econômico com maiores perspectivas de desenvolvimento nos próximos anos, razão pela qual preocupa-se com a necessidade de implantação de novos mecanismos destinados a facilitar e estimular o investimento privado. No entanto, para que o ecoturismo possa efetivamente constituir uma es- trutura sólida, acessível e permanente, é preciso que esteja alicerçado de forma a acomodar adequadamente as peculiaridades de cada ecossistema e de cada traço da cultura popular brasileira. A tomada de consciência a respeito da degradação do meio ambiente levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a convocar uma grande conferência de países - membros, com a colaboração de cientistas no sentido de estudar o fenômeno; foi a Reunião de Estocolmo (Suécia), realizada em 1972, também conhecida como ECO-72. Nos primeiros anos da década de 1970 se observou um esforço internacional em defesa da ecologia. A multiplicação de pesquisas, estudos, publicações sobre os temas da ecologia fixou diversos neologismos, marcando uma área de estudo que, além de interdisciplinar e, portanto muito diversificada, procurava definir balizas para seu desenvolvimento, com a urgência que a situação parecia exigir. Agribusiness ou Agriecologia, Área de Proteção ambiental (APA), Bem Livre, Biomassa, Chuva Ácida, Chuva de Sementes, Desenvolvimento Sustentado ou Eco-desenvolvimento, Empate, Fumante Passivo, Povos da Floresta, Reserva Extrativista, Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), derivado do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), e outros são neo-significantes, cujo uso foi divulgado a partir do movimento em defesa do meio ambiente iniciado na década referida e que tomou grande impulso na década de 1980. Além disso, outros significantes passaram a freqüentar textos jornalísticos, conversas no dia-a-dia, debates de todo tipo e também os meios acadêmicos. A procura de novas alternativas tem marcado a segunda metade dos anos 80 e o início da década de 1990: aspira-se por uma tecnologia limpa, que não degrade o meio ambiente e conserve as condições ideais da casa de todos, para as futuras gerações. Embora os impactos do turismo so- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 49 bre o ambiente natural e artificial, construídos pelo homem, tenham sido reconhecidos há muito tempo, a ação real de sua existência demorou bastante para chegar. Parte do problema pode ter sido a falta de conhecimento da relação complexa entre turismo e o meio ambiente, assim como, a falta de coordenação entre política de desenvolvimento e a ambiental. A questão dos impactos do turismo sobre o meio ambiente começou a ser pesquisada mais intensamente a partir do início da década de 80, quando o turismo intensificou-se. Apesar de ter ocorrido razoável progresso, o conhecimento dos complexos processos envolvidos deixou muito a desejar. A política ambiental foi fragmentada, dirigida para problemas específicos como, entre outros, poluição da água e qualidade do ar. Isso ocorreu devido não só a fragmentação administrativa, mas também ao período de tempo necessário para a incorporação de abordagens integradas à gestão ambiental, relacionada com ecossistemas totais e não com aspectos limitados da qualidade ambiental. Adicionalmente, a conservação ambiental foi vista em oposição à política de desenvolvimento. Assim, a qualidade ambiental foi considerada como algo à parte do desenvolvimento econômico e social. Recentemente, passou a prevalecer uma visão mais ampla e integrada da política de desenvolvimento, associando este conceito ao de proteção ambiental. A conceituação de desenvolvimento sustentado (WCED, 1987) assinala essa mudança de perspectiva. Uma política global de sustentabilidade, em que a conservação do meio ambiente está estreitamente relacionada com a eficiência econômica e a justiça social, ganhou ampla aceitação. Esta visão engloba esforços para associar a proteção ambiental às políticas de desenvolvimento do turismo. A questão da sustentabilidade em turismo tornou-se prioritária na Europa, embora muitos dos problemas envolvidos Revista Integralização Universitária já tivessem sido bastante debatidos no contexto do turismo mundial, principalmente sob as perspectivas social, cultural e econômica. O quinto programa de ação sobre o meio ambiente da União Européia, intitulado “Rumo à Sustentabilidade”, classificou o turismo como um dos setores prioritários (CEC, 1993). O turismo sustentável pode ser interpretado do ponto de vista setorial, de acordo com a meta básica, como a viabilização da atividade turística, mais na linha da sustentabilidade econômica do turismo. Como o foco de interesse é a atividade de turismo, a ênfase de tal estratégia implicará o fortalecimento, a melhoria da qualidade e mesmo o encontro do diferencial do produto turístico, com freqüência dependente de soluções e inovações organizacionais e tecnológicas. Alguns dos instrumentos de política utilizados nesse contexto são: investimentos em infra-estrutura visando aumentar a capacidade e melhorar os serviços; programas de modernização funcional e estética de complexos turísticos; provisão para novas instalações, como salas para congressos, parques aquáticos e outros. Destaca-se aqui, enfaticamente, que todas as preocupações devem, na verdade, convergir para a oferta de um produto turístico final atrativo nos mercados regional, nacional e internacional, representada por processo de comercialização que tenha qualidade e seja competitivo com relação às tarifas de transporte, alojamento e serviços. Outra linha de interpretação tem por base a ecologia como visão socio-cultural e política, acentuando notavelmente a necessidade do turismo ecologicamente sustentável. Trata-se de abordagem preservacionista em que a prioridade é dada à proteção dos recursos e dos ecossistemas naturais. No contexto da gestão ambiental, algumas das atividades de turismo geralmente identificadas como “leves” são aceitas como complementares e não-pertubadoras ao meio ambiente natural. A questão pode ser abordada de - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 50 ângulo ligeiramente diferente como desenvolvimento sustentável do turismo, ou seja, a necessidade de assegurar a viabilidade da atividade de turismo a longo prazo, reconhecendo a necessidade de proteger certos aspectos do meio ambiente. Esta abordagem, essencialmente baseada em perspectiva econômica, reconhece a qualidade ambiental como importante fator de competitividade e que, como tal, deverá ser protegida. A proteção estendese para além daqueles aspectos ou dimensões da qualidade ambiental diretamente envolvida no desenvolvimento e no marketing do produto turístico, já que tal produto deve apresentar sempre melhor qualidade e maior competitividade para satisfazer um mercado em contínua mudança e expansão. Outra abordagem baseia-se no desenvolvimento econômico ecologicamente sustentável. Nela o turismo integra uma estratégia global do desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade é definida considerando a totalidade do sistema- ser humano/meio ambiente. Sob essa perspectiva, a conservação ambiental é meta tão importante quanto à de eficiência econômica e a de justiça social para a geração de empregos, a distribuição de renda e a melhoria da qualidade de vida. As políticas de turismo estão integradas nas políticas sociais, econômicas e ambientais, mas não as precedem. Esta constitui uma abordagem mais equilibrada e integrada, mais próxima do pensamento contemporâneo sobre o turismo, delimitados em concentrações geográficas com diferencial interativo e completo e estruturados com relação à sua comercialização global para a concorrência final nos mercados consumidores. Uma profunda reflexão sobre o imperativo de compatibilizar desenvolvimento com preservação ambiental é, contudo, inadiável. Nesse sentido, a recessão que se abateu sobre o Brasil oferece, pelo menos, a vantagem de uma pausa de tempo para repensar o nosso modelo de de- senvolvimento, em vez de simplesmente retomá-lo sobre as bases tradicionais de indiferença quanto ao impacto ambiental do progresso. Uma política de desenvolvimento econômico socialmente justo e economicamente sustentável deveria, pois, basearse em: •Profunda reorientação dos investimentos públicos na infraestrutura de transportes e de energia do país, privilegiando as formas de energia menos poluentes e mais eficazes em bases termodinâmicas e os meios de transporte de massa e, entre estes, os mais eficientes em termos de dispêndio de energia e de ocupação de ruas e estradas; •Política tributária e de tarifas de energia que incentivem o consumo mais racional de energia tanto na área industrial quanto na agrícola, e bem assim o uso mais eficaz da infraestrutura de transportes; •Prioridades na política de estímulo à pesquisa tecnológica, aos trabalhos no campo do desenvolvimento de materiais e de processos produtivos poupadores de energia e de matérias-primas; •Recuperação da qualidade do ar e das águas comprometidas por modelo de desenvolvimento ecologicamente inadequado. Uma política que, além de preservar recursos naturais e o equilíbrio ecológico, dentro de nossas fronteiras, tornar-nos-ia ao mesmo tempo, mais competitivos nos mercados internacionais. E que nos daria, por acréscimo, condição de poder passar a cobrar, como é de nosso fundamental interesse, o exercício, pelas demais nações ricas ou pobres de suas respectivas responsabilidades econômicas. O desenvolvimento sustentado constitui um desafio especial para a região amazônica na medida em que o Brasil nela se defronta com um teste decisivo da sua capacidade de exercer sua soberania sobre aquela imensa região de que constitui Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 51 a metade do nosso território. Não há como aceitar a tese descabida de uma limitação de nossa soberania, sob a alegação de que os recursos florestais e da biodiversidade na região constituiriam um “patrimônio da humanidade”, e de teses não comprovadas sobre as conseqüências do esquentamento do clima tropical. Considerando que o ecoturismo é uma tendência em termos de turismo mundial que aponta para o uso sustentável de atrativos no meio ambiente e nas manifestações culturais, devemos ter em conta que somente teremos condições de sustentabilidade caso haja harmonia e equilíbrio no “diálogo” entre os seguintes fatores: resultado econômico, mínimos impactos ambientais e culturais, satisfação do ecoturista (visitante, cliente, usuário) e da comunidade (visitada). Analisando-se o maior atrativo ecoturístico brasileiro - a Amazônia, sabemos que os principais problemas sociais que lá vêm ocorrendo, simultaneamente a um acentuado processo de degradação ambiental, são decorrentes do confronto entre duas formas de uso: a “tradicional” e a “moderna”. A forma “tradicional” na qual os diferentes grupos sociais (povos da floresta: seringueiros, caboclos, indígenas, etc) vivem em estreita relação com a natureza, praticando o extrativismo da borracha, a coleta da castanha, a caça e a pesca artesanais de subsistência, revelou-se capaz de manter o equilíbrio ecológico. Já o “moderno”, adotado intensamente nos últimos 40 / 50 anos, difere do “tradicional”, tanto na sua relação com o uso do solo, onde prevalece a especulação imobiliária, quanto ao processo produtivo que tem na exploração maciça dos recursos naturais (madeira, garimpo, etc) seu principal objetivo. O Ecoturismo para ser sustentável deve buscar o modelo “tradicional” de extrativismo de nosso patrimônio natural e cultural. A indústria do turismo e viagens é líder mundial em movimentação de recursos e geração de empregos e isto depende Revista Integralização Universitária de uma gestão sustentada dos patrimônios natural e cultural. Como um segmento do turismo surge o ecoturismo, sendo este considerado um dos mais inteligentes instrumentos de viabilização econômica para o gerenciamento correto dos recursos naturais, oferecendo uma alternativa digna de conquistar seu sustento e uma vida melhor, ao mesmo tempo em que assegura às gerações futuras o acesso aos legados da natureza. O ecoturismo configura-se no momento como uma importante alternativa de desenvolvimento econômico sustentável, utilizando racionalmente os recursos naturais sem comprometer a sua capacidade de renovação e sua conservação. Neste segmento, diversos nichos de mercado são identificados, como por exemplo, a observação de aves, safari fotográfico, a observação da flora, dentre outras atividades. Se por um lado ainda pairam muitas reticências e hesitações sobre o ecoturismo, novos segmentos e oportunidades têm sido detectados a partir do uso mais freqüente da internet como via de acesso às informações e ao intercâmbio entre produtores e consumidores. Uma tendência começou a se firmar nos últimos anos da década de 90, com os turistas procurando reunir dados sobre locais para onde viajar, estabelecimentos para hospedagem e alimentação, além de opções de entretenimento. Percebendo esse direcionamento do mercado, é necessária a adaptação desse modo operacional incorporando a internet como meio de comunicação e comercialização, até sob pena de ameaça da continuidade dessa atividade, porque a tendência é que o ecoturista chegue cada vez mais próximo a fonte, ou seja, contatando-se com pessoas e instituições cada vez mais próximas do destino que deseja visitar. Outra oportunidade adveio da queda de disponibilidade financeira decorren- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 52 te dos problemas enfrentados pelo sistema monetário brasileiro, com a desvantagem da moeda frente ao dólar. Os turistas passaram a procurar opções mais econômicas de turismo, através de pacotes de menor duração. Não há diferenciação legal entre o turismo tradicional e o ecoturismo. Este caracteriza-se pela postura ética dos empresários, profissionais e turistas, valorizando os patrimônios natural e cultural como foco de interesse pela adequada interpretação ambiental desse patrimônio, respeitando as comunidades locais, envolvendo economicamente essas comunidades, respeitando as condições naturais (conservação do ambiente) e promovendo a interação educacional. Proporcionar ao turista que ele incorpore para sua vida o que aprende em sua visita, gera consciência para a preservação da natureza e do patrimônio histórico-cultural. A rapidez do avanço tecnológico, a evolução dos transportes e o progresso das comunicações possibilitam a redução das distâncias de maneira notável, permitindo que mais pessoas se desloquem para qualquer parte do mundo em questão de horas. Existem cada vez mais turistas procurando novas atividades, querendo aprender, desejando participar de novos entretenimentos e práticas esportivas, buscando conhecer o modo de vida nas áreas que visitam. O ecoturismo se caracteriza pela valorização do patrimônio natural e cultural como foco de interesse do visitante e pela adequada interpretação ambiental desse patrimônio. O ecoturismo exige uma postura diferenciada do turista. Existem algumas condições básicas a serem analisadas para que a atividade possa se desenvolver com êxito: respeito às comunidades locais; envolvimento econômico efetivo das comunidades locais; respeito às condições naturais, levando-se em consideração a conservação do meio ambiente; intera- ção educacional, a garantia que o turista incorpore para sua vida o que aprende em sua visita, gerando consciência para a preservação da natureza e do patrimônio histórico/cultural/étnico. De acordo com informações fornecidas pelo IEB o mercado ecoturístico no Brasil corresponde a mais de meio milhão de pessoas que praticam o ecoturismo. Mesmo como atividade econômica recente, o ecoturismo deve empregar no Brasil, diretamente, mais de 30 mil pessoas, através de pelo menos 5 mil empresas e instituições privadas. Para a Organização Mundial do Turismo, enquanto o turismo cresce 7,5% ao ano, o ecoturismo cresce mais de 20%. Estima-se que o ecoturismo represente 5% do turismo mundial, devendo na próxima década alcançar 10%. No Brasil, o ecoturismo é discutido desde 1985. No entanto, nem os esforços governamentais, nem os privados foram suficientes para ultrapassar as barreiras entre a teoria e a prática do ecoturismo. Pontificam-se entre essas barreiras a ausência de consenso sobre a conceituação do segmento, a falta de critérios, regulamentações e incentivos que orientem empresários, investidores e o Governo, no estímulo e na exploração do potencial das belezas naturais e valores culturais disponíveis, ao mesmo tempo em que promova a sua conservação. Em conseqüência, o ecoturismo praticado no Brasil é uma atividade ainda desordenada, impulsionada pela oportunidade mercadológica, deixando de gerar os benefícios sócio-econômicos e ambientais esperados e comprometendo o conceito e a imagem do produto ecoturístico brasileiro nos mercados interno e externo. É o mercado que definirá questões aparentemente simples nas decisões para elaboração de roteiros, por exemplo, o tempo de duração da viagem e dos passeios, a abordagem e o enfoque dado a determinado atrativo. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 53 De acordo com a EMBRATUR (1991), no Brasil não existem roteiros ecoturísticos que ofereçam saídas regulares com mais de oito dias de duração para o mesmo Estado. Tal fato é conseqüência do tempo médio de férias do ecoturista, uma semana para usufruir um pacote turístico. Destaca-se que mesmo destinos muito ricos em atrativos, e que possuem capacidade para roteiros mais longos, apresentam produtos diferenciados em módulos de sete ou oito dias. Em contrapartida, o ecoturista estrangeiro não vai se deslocar de grandes distâncias e com elevados custos de transporte aéreo para permanecer um tempo reduzido no país escolhido. Ao consultar os catálogos de empresas internacionais de oferta de produtos ecoturísticos, descobre-se que nos mercados externos usualmente são utilizados roteiros de duas ou três semanas de duração. Os impactos negativos e positivos que poderão advir da atividade de ecoturismo estão, a princípio, relacionados a danos potenciais ao meio ambiente e à comunidade e, por outro lado, aos benefícios sócio-econômicos e ambientais, esperados a nível regional e nacional. Com efeito, a fragilidade dos ecossistemas naturais, muitas vezes, não comporta um número elevado de visitantes e, menos ainda, suporta o tráfego excessivo de veículos pesados. Por outro lado, a infra-estrutura necessária, se não atendidas normas pré-estabelecidas, pode comprometer de maneira acentuada o meio ambiente, com alterações na paisagem, na topografia, no sistema hídrico e na conservação dos recursos naturais florísticos e faunísticos. A falta de guias turísticos especializados já é tida como uma das maiores carências do mercado. Um guia de ecoturismo precisa ser muito bem preparado. O visitante quer aprender a história do lugar, o tipo de fauna e flora e conhecer as lendas da região. Revista Integralização Universitária O alojamento das populações locais se configura, também, como outro risco, pois a presença de operadores, quase sempre sem nenhuma relação orgânica com a região, pode gerar novos valores incompatíveis com os comportamentos locais, ocasionando conflitos de ordem cultural e de outras ordens. O turismo envolve um número muito grande de pessoas. A renda que provém e circula com o turismo beneficia as populações e movimenta, consideravelmente, a economia da região de onde ele é desenvolvido. As comunidades muito mais do que meros beneficiários desta atividade são na verdade atores importantíssimos do processo, como elementos que podem ser integrados ao desenvolvimento do ecoturismo, começando pelo estágio preliminar de planejamento até a sua implementação e operação, ficando sempre atentos para superar o desafio de envolverem-se integralmente num sério compromisso com a natureza e com a responsabilidade social. Sendo assim, a questão central a ser tratada diz respeito à capacitação e inserção das comunidades no processo de desenvolvimento ecoturístico. Devese dedicar muita atenção à solução desse problema que, por envolver elementos humanos e culturais não depende exclusivamente de recursos financeiros. A capacitação se faz necessária, tanto nas esferas governamentais dos municípios e do Estado, quanto para os moradores das cidades receptivas. O planejamento em todos os níveis é fundamental para a implantação do ecoturismo como elemento impulsionador do desenvolvimento regional e na melhoria da qualidade de vida dos moradores da localidade envolvida. Identificou-se que a maioria dos municípios estudados apresenta problemas econômicos devido à inexistência de atividades produtivas consolidadas. Acredita-se que o ecoturismo poderá promover o incremento dos processos sociais e agregar valores aos pro- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 54 dutos regionais, disponibilizando novas oportunidades às comunidades. Porém, para se consolidarem, exigirão mudanças de mentalidade, de métodos organizacionais e de visão econômica. Referências ABELL, Derek F. Defining the Bussiness: the Starting Point os Strategic Planning. Englewood ���������� Chiffs: Prentice-Hall, 1992. BARROS II, S. 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RUSCHMANN, Doris Van de Meene. �������� Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. Campinas: ������������������������ Papirus, 2000. WCED. Our Common Future. Oxford / Nova York: Oxford University Press, 1987. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 55 GESTÃO Análise dos impactos de um sistema de avaliação de desempenho aos colaboradores internos de uma organização Roseli Vieira Pires1 Rubia Mara Martins Peixoto2 Resumo: O objetivo do presente trabalho consiste em analisar os impactos que a avaliação de desempenho adotado em uma organização causa nos colaboradores internos. Para isso, foi elaborada, primeiramente, a evolução histórica da avaliação, evidenciando conceitos e necessidades que as empresas sentiram de avaliar seus colaboradores. Em seguida, é apresentada a avaliação dentro da organização pesquisada, é o sistema de avaliação. Após, discorremos sobre a avaliação, vimos nesse momento, os aspectos ligados à prática de feedback. Procuramos demonstrar neste trabalho, que no sistema de avaliação de 360 graus é importante ter um grande entendimento por parte dos colaboradores, enfim, que os impactos são grandes e o papel da empresa é de grande importância, pois é dela a responsabilidade de estabelecer parâmetros para que o processo de avaliação tenha sucesso junto aos colaboradores da empresa. Palavras-Chaves: Desempenho. Avaliação. Competitividade. Produtividade. Organizações. Abstract: The objective of the present work consists of analyzing the impacts that the evaluation of performance adopted in an organization, they cause in the internal collaborators. For this, it was elaborated, first, the historical evolution of the evaluation, evidencing concepts and necessities that the companies had felt to evaluate its collaborators. After that, the evaluation inside of the searched organization is presented, is the evaluation system. After, we discourse on the evaluation, we demonstrate at this moment, on Revista Integralização Universitária aspects to the practical one of feedback. We look for to demonstrate in this work, that in the system of evaluation of 360 degrees is important, to have a great agreement on the part of the collaborators, at last, that the impacts are great and the paper of the company is of great importance, therefore is of it the responsibility to establish parameters for the evaluation process has success next to the collaborators of the company. Key - Words: Performance; Evaluation; Competitiveness; Productivity; Organizations. 1 Introdução A avaliação de desempenho assume um papel fundamental nas organizações nos dias de hoje. Diante das mudanças dos ambientes empresariais, exigências dos clientes, concorrência agressiva e margem de lucros reduzidos, as empresas devem atuar de forma pró-ativa buscando um melhor posicionamento no mercado. Isso se dá através de uma valorização dos colaboradores internos. A empresa objeto deste estudo atua em um mercado, que nos últimos anos, tornou-se altamente competitivo. No passado, possuía uma situação estável e dominante, enquanto que no presente trabalha com a instabilidade e fortes concorrentes. Diante disso, a empresa vem adotando uma gestão mais orgânica, buscando capacitar seus colaboradores internos, e principalmente avaliando seus desempenhos, possibilitando assim, um aumen- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Roseli Vieira Pires – Mestre em Desenvolvimento Organizacional – FACECAMG, Coordenadora e Professora do Curso de Administração – Instituto Aphonsiano de Ensino Superior. Email:roselipires@ brturbo.com.br Fone-(62) 3505-1913 1 Rúbia Mara M. Peixoto – Graduada em Administração pelo Instituto Aphonsiano de Ensino Superior. Email: [email protected] 2 56 to na produtividade e maior competitividade. 2 Avaliação de desempenho Em todas as circunstâncias e momentos será avaliado tudo o que acontece ao nosso redor. A avaliação do desempenho é também fato corriqueiro nas organizações. É por intermédio da avaliação do que ela produz que a organização consegue reciclar-se, oxigenar-se e sobreviver em ambientes turbulentos e mutáveis. As várias práticas de avaliação do desempenho não são novas. Desde que uma pessoa deu emprego à outra, seu trabalho passou a ser avaliado em termos de relação entre custo e benefício. Mas as organizações sempre se defrontam com a necessidade avaliar os mais diferentes desempenhos: financeiros, operacionais, técnicos, vendas e marketing. Como está a qualidade dos produtos, a produtividade da empresa, o atendimento ao cliente. E principalmente, como está o desempenho humano. Afinal são as pessoas que dão vida à organização. Elas constituem a mola-mestra da dinâmica organizacional. Na moderna organização não há mais tempo para remediar um desempenho humano, precisa ser excelente em todos os momentos para que a organização tenha competitividade para atuar e sair-se bem no mundo globalizado de hoje, mas para isso é preciso muito empenho. A Avaliação de Desempenho certamente é a que apresenta maior eficiência e eficácia para a organização, mas desde que adequadamente adaptadas às particularidades e cultura das pessoas e das organizações. 2.1 O SURGIMENTO DA NECESSIDADE DE AVALIAR Existia uma preocupação que estava em obter aumento na produtividade por meio da eficiência da máquina. Nesta abordagem as organizações tiveram grande sucesso, conseguiram resolver as questões relacionadas à máquina, mas referen- te às questões relacionadas ao homem no trabalho nada foi feito, pois com o sucesso que estavam tendo no momento com o desenvolvimento das máquinas, achavam que era o suficiente. Acreditava-se que o homem era parte integrante da máquina motivado somente por incentivos financeiros, esquecendo seu lado motivacional. Segundo Silva, O objetivo básico da administração científica era incrementar a produtividade do trabalhador por meio de uma análise científica sistemática do trabalho do empregado...Na primeira metade do século XX, surgiu o movimento das relações humanas que foi um esforço combinado do teórico e prático, para fazer os gerentes mais sensíveis ás necessidades dos empregados. (2000, p.121 e 199) A valorização do ser humano passa a ser um novo enfoque à escola das relações humanas, onde a forma de ver o colaborador, de obter resultados e a preocupação passou da máquina para o homem e se verificou que o aumento da produção estava condicionado com a satisfação do colaborador que passou a ser tratado como um ser integrante da organização. A partir dessa abordagem começou a haver mudanças na forma de tratar os colaboradores, surgiram vários estudos sobre como conhecer e medir o potencial das pessoas. Este enfoque está embasado em aspectos motivacionais, psicológicos e comportamentais dos indivíduos, com isso as organizações com visão no futuro compreenderam a grande importância dos recursos humanos no desenvolvimento organizacional. 2.2 CONCEITO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO A avaliação tem como principal objetivo analisar o desenvolvimento do colaborador, promovendo um melhor crescimento pessoal e profissional. Avaliar o desempenho de um colaborador não está ligado somente ao estímulo salarial, mas Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 57 ao desenvolvimento individual e organizacional possibilitando através da mensuração do desempenho tomar decisões quanto a promoções, ajustes salariais e treinamentos para o alcance dos resultados. Para Chiavenato, A avaliação ou administração de desempenho é um método que, visa, continuamente, estabelecer um contrato com os colaboradores referente aos resultados desejados pela organização, acompanhar os desafios propostos, corrigindo os rumos, quando necessário, e avaliar os resultados conseguidos. (1997, p.337) Para avaliar o desempenho do colaborador é necessário analisar vários indicadores, tais indicadores de desempenho estão relacionados com o esforço individual. É um instrumento que visa medir a competência do colaborador. A avaliação é um processo que se inicia com o planejamento e termina com a comparação entre o executado e o planejado. Deve ser considerada como uma função estratégica pelas organizações e o ponto de partida para o progresso, buscando melhoria para o desempenho dos colaborados e crescimento organizacional. O homem é um ser que possui necessidades, desejos e sentimentos que precisam ser considerados e analisados, pois influenciam o comportamento e o desempenho dos colaboradores da organização. O colaborador no processo de avaliação de seu potencial terá a oportunidade de conhecer seus pontos fortes e fracos, e de tomar ações para melhorar o seu desempenho se necessário. O “feedback” irá proporcionar o retorno sobre o trabalho desenvolvido e funcionará como guia para ações futuras. 2.3 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO Segundo chiavenato (2004), a avaliação de desempenho, é um meio, um método, uma ferramenta, e não um fim Revista Integralização Universitária em si mesmo. É um meio para obter dados e informações que possam ser registrados, processados e canalizados para a melhoria do desempenho humano nas organizações. Muitas vezes, pode servir de base às políticas de promoção das organizações. O processo é efetuado periodicamente, normalmente com caráter anual, e consiste na análise objetiva do comportamento do avaliado no seu trabalho e posterior na comunicação dos resultados. Tradicionalmente compete aos superiores avaliarem os seus subordinados, estando à avaliação sujeita ao desempenho atual, formas de melhorar o desempenho no futuro e metas de carreira em um longo prazo. Existem alguns métodos tradicionais que poderão ser utilizados para avaliar desempenho, esses métodos variam de uma organização para outra, pois cada organização tende a construir seu próprio sistema para avaliar. Os principais métodos tradicionais de avaliação do desempenho são: Métodos da Escala Gráfica; Método de incidentes críticos; Método de escolha forçada; Método de Pesquisa de Campo; Método de Comparativo; Método de Frases Descritivas e o Método de 360 graus. Existem diversos métodos de avaliar o desempenho, tanto nos aspectos relacionados com a própria avaliação e com as prioridades envolvidas, quanto na sua mecânica de funcionamento, pois há uma tendência de cada organização ajustar os métodos as suas peculiaridades e necessidades. As novas tendências em avaliação do desempenho, segundo Chiavenato (2004), é que, a era da informação trouxe dinamismo, mudança e competitividade. A única alternativa de sobrevivência das organizações nesse contesto é buscar a excelência sustentada, pois a excelência é a base da lucratividade, muitas organizações têm como objetivo estar sempre em busca, mas para isso acontecer muitas empresas vem utilizando a redução de níveis hierárquicos, onde traz a aproximação dos chefes com os subordinados, - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 58 com isso vem trazendo novas tendências na avaliação do desempenho humano. É de grande importância que o colaborador precise estar motivado para apresentar planos, propor correções e sugerir novas idéias. 2.3.1 Desvantagens dos sistemas tradicionais Muitas das metodologias de avaliação apresentam vícios de julgamento que evidenciam sua precária objetividade, provocando efeitos negativos. A subjetividade do processo pode ser atribuída a várias causas: julgamento, avaliadores, processo, política da organização e inflexibilidade do método. Para Chiavenato, Os métodos tradicionais de avaliação do desempenho apresentam certas características ultrapassadas e negativas...A preocupação atual é desenvolver métodos capazes de dirigir os esforços das pessoas para objetivos e metas que sirvam ao negócio da empresa e aos interesses individuais das pessoas na melhor forma possível de integrar objetivos organizacionais e objetivos Individuais... (1999, p.200). Existe também o erro de julgamento, que é uma das causas freqüentes da subjetividade da avaliação. Pode existir um erro constante, em que o avaliador tende a avaliar exageradamente alto ou exageradamente baixo, ou ainda a classificar todos os colaboradores de igual forma. Pode dar-se um erro de viés, em que uma característica do colaborador, por ser avaliada demasiado alta, influencia a apreciação global. O julgamento não meditado por parte do avaliador, provocado por pressa, aversão à discriminação, ou outros motivos, penaliza os colaboradores injustamente avaliados. E pode ocorrer o erro de prestígio, em que o avaliador tende a dar importância a determinadas características, fugindo ao peso dos parâmetros estabelecidos. Nem sempre o avaliador está presen- te para observar o comportamento dos colaboradores, fato que pode provocar uma desigualdade injusta de avaliações. Um dos pontos fortes que vem apresentando grande efeito nas avaliações é a política da organização, em muitas organizações a avaliação de desempenho é apenas um mero ritual, sendo considerada uma perda de tempo. Muitas avaliações ocorrem desigualdades e injustiças, pois um pequeno fato que ocorre com um colaborador, tira a credibilidade de todo o processo e gera desmotivação. Existem também os efeitos negativos quanto a questão da periodicidade da avaliação de desempenho. Poderá ajustá-la também em casos de promoções, adequação do indivíduo ao cargo, ajuste salarial ao bom desempenho e outros, ou seja, a avaliação deve ser um processo contínuo na vida da organização. Na realidade atual caracterizadas pelas contínuas mudanças de padrões de comportamento pessoal, profissional, cultural e organizacional, para manter sua competitividade as organizações necessitam reformular seus modelos e práticas de gerenciamento de desempenho. 2.4 A AVALIAÇÃO POR COMPETÊNCIAS Esta avaliação por competências é a primeira etapa para mudança, onde consiste na reformulação do papel dos colaboradores no sistema de avaliação. O colaborador irá fazer uma auto-avaliação, onde será identificado não apenas seus pontos fracos, mas seus pontos fortes e seus potenciais. As organizações nestes últimos tempos vêm buscando talentos humanos que antes nunca foram tão assediados e valorizados quanto nesta década. Afinal o que é mais vantajoso? Investir naqueles que já estão engajados na cultura e nos empreendimentos em andamento, que têm potencial para ir mais além? Ou contratar mais pessoas para ocupar as funções Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 59 novas e cargos vagos? É evidente que em algumas ocasiões, injetar “sangue novo” pode ser tão saudável quanto estratégico para a efetivação de mudanças. Porém, torna-se cada vez mais comum reconhecer os méritos dos colaboradores que se destacam no dia-a-dia de trabalho e darlhes a oportunidades para ampliar seu campo de desafios. O resultado vem com a motivação das pessoas e no aumento do nível de competitividade da organização que valoriza o potencial de suas equipes. A idéia chave para a avaliação por competência é a de que o colaborador sabe ou pode aprender a identificar suas próprias competências, necessidades, pontos fortes, pontos fracos e metas. Desta forma, ele é a pessoa mais capaz de determinar o que é melhor para si. O papel dos superiores e da área de RH passa a ser o de ajudar o colaborador a relacionar seu desempenho às necessidades e à realidade da organização. As organizações e pessoas, lado a lado, têm um processo contínuo de troca de competências. De um lado a empresa transfere seu patrimônio para as pessoas, enriquecendo-as e preparando para enfrentar novas situações profissionais e pessoais, dentro ou fora da organização, e dando continuidade às pessoas ao desenvolver sua capacidade individual, transferem para a organização seu aprendizado, dando um potencial para o mercado. No ponto de vista de Graminia (2002), é possível pensar na avaliação de desempenho por competências como um poderoso meio de identificar os potenciais dos colaboradores, melhorar o desempenho da equipe e a qualidade das relações dos colaboradores e superiores, assim como estimular os colaboradores a assumir a responsabilidade pela excelência dos resultados pessoais e empresariais, pois, são as pessoas que ao colocarem em prática suas qualidades junto ao patrimônio de conhecimentos da organização, concretizam as competências organizacionais com grande sucesso. Revista Integralização Universitária A Gestão por Competências é uma ferramenta que identifica as competências essenciais, as habilidades e conhecimentos determinantes da eficácia profissional e também as lacunas de qualificação do colaborador para tarefas específicas e fornece recursos para aperfeiçoar suas capacidades. Para implantar o sistema de gestão por competências, o primeiro passo é definir as competências técnicas, conceituais e as interpessoais, dentro de cada função. É importante salientar que definir competência não é definir tudo aquilo que o colaborador faz, mas determinar quais capacitações devem ser fomentadas, protegidas ou diminuídas. A implantação desta avaliação toma por base as competências pessoais, é imprescindível que tenhamos consciência da agilidade, mobilidade e inovação que as organizações precisam para lidar com as mudanças constantes, ameaças e oportunidades emergentes que são um fator real, ou seja, um risco que toda organização passa a ter quando entra no mercado competitivo, onde as organizações deverão competir não mais apenas mediante aos produtos, mas por meio de competências, buscando atrair e desenvolver pessoas. 2.5 FALHAS MAIS COMUNS EXISTENTES NOS SISTEMAS DE AVALIAÇÕES Para Lucena (1992), o ambiente organizacional está repleto de contradições, paradoxos e ambigüidades, que acabam prejudicando qualquer que seja o sistema que venha a ser implantado para a avaliação de desempenho, pois, falhas existem em qualquer lugar. Estas falhas podem ser ajustadas de acordo com a visão crítica que deverá vir desde o método implantado na organização, a gerência e o funcionário que estarão sendo avaliados, como exemplos citados abaixo: •Não comprometimento da Alta Administração - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 60 •Despreparo gerencial para administrar pessoas •Retorno dos Resultados da Avaliação de Desempenho •Desempenho e Mérito. 2.6 A AVALIAÇÃO COMO FENÔMENO NATURAL A valorização e o estudo da percepção humana em seu estágio inicial valorizaram o mundo exterior do indivíduo como foco do processo perceptivo. Esta é uma tendência humanística embasada em princípios que se preocupam com os aspectos motivacionais, psicológicos e comportamentais dos indivíduos. Em estudos realizados com o ser humano, foi percebido que a influência do repertório psicológico, ou seja, das experiências vividas, emoções, condições intelectuais e motivações sobre a sua percepção do mundo, o homem tem um caráter eminentemente individual, apesar de algumas de suas características serem passíveis de generalização para todo ser humano. Para Bergamini e Beraldo, Entender como o homem conhece o mundo, como organiza esse conhecimento e como o utiliza, tem sido uma preocupação que tanto os filósofos como os psicólogos têm tentado, ao longo do tempo, resolver. (1988, p.14). Então pode-se dizer que, o ciclo do processo perceptual entre as pessoas se fecha com a elaboração de uma teoria sobre a personalidade do outro. Isso, na verdade, é nada mais, nada menos que atribuir-lhe um valor. Avaliar o outro em função dos nossos padrões é, portanto, um comportamento natural e típico do ser humano. Trata-se de uma realização que precisa ser vivida com muita arte. Trata-se da construção pelo indivíduo de sua própria escala de valores. Trata-se do desenho específico que cada um vai fazendo, durante sua existência, a partir do modelo de sua matriz de identidade. 2.7 AVALIANDO O DESEMPENHO HUMANO NO TRABALHO O valor humano do colaborador na organização deve envolver uma qualidade de vida que traga alguns fatores que possa vir a ter um resultado onde, satisfaça tanto o colaborador quanto a organização. Esses fatores podem ser: condições de trabalho com segurança; remuneração e benefícios adequados; supervisão competente; feedback quanto ao desempenho no trabalho; oportunidades para aprender e crescer no emprego; possibilidade de promoção etc., todos esses fatores geram satisfação ao colaborador e o mesmo produzindo com satisfação o crescimento organizacional é sem dúvida surpreendente. Segundo, Bergamini e Beraldo, A organização pode ser entendida como uma realidade social, integrada por diferentes pessoas, que se comportam realizando atividades, isto é, trabalham, no sentido de produzir um resultado final comum, ou seja, atingir os objetivos do empreendimento. (1988, p.31) Para a organização e o colaborador o produto dessa relação custo x benefício para ser satisfatório, só é possível fazer uma analise, mediante a utilização de instrumentos que permitam avaliar, com razoável precisão, o quanto, organização e colaborador, estão obtendo de gratificação, ou seja, será um método de avaliação que possa trazer resultados para ambas as partes. Avaliar o desempenho das pessoas no trabalho implica conseqüentemente, conhecer a dinâmica comportamental própria de cada um, o trabalho a ser realizado e o ambiente organizacional em que essas ações se passam, ou seja, o ponto central desse processo é o desempenho profissional do avaliado naquela função ou tarefa que lhe foi atribuída. 2.8 ESTIMATIVAS DE DESEMPENHO A Avaliação de Desempenho nas organizações é um processo que busca au- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 61 xiliar na estruturação de uma visão mais objetiva do potencial de cada colaborador, com isso buscando a estimativa de aproveitamento do potencial individual das pessoas no trabalho e, por isso, do potencial humano de toda a empresa. Para Bergamini e Beraldo, Raramente, no entanto, se conseguirá tirar todo o proveito que a avaliação de desempenho pode oferecer a uma empresa, se não examinarmos com cuidado o levantamento do potencial das pessoas, feito através dos testes e inventários psicológicos. (1988, p. 34). Um dos momentos principais para dar início ao conhecimento do potencial do colaborador é no momento do processo de admissão ao trabalho, é como se fosse a matéria-prima para a fabricação de um produto com qualidade, onde deverão ser analisados os fatores que mais se agregam ao cargo pré destinado. O levantamento do potencial das pessoas se verifica não só em termos quantitativos, ou seja, o quanto o indivíduo pode render no trabalho, mas também em termos qualitativos. O que o comportamento do individuo poderá trazer futuramente a empresa como bom resultado, seja ele quanto à qualidade do serviço e o rendimento que proporcionará a empresa, pois, quando se tem um colaborador qualificado, sucessivamente seu produto será de qualidade. Tudo isso poderá ser analisado no momento da admissão, através de testes avaliativos, psicotécnicos e entrevistas, onde se torna um processo de admissão que visa alcançar os objetivos pretendidos conforme a necessidade da organização e também trazendo ao colaborador um plano de carreira satisfatório ao desempenho que venha adquirir. 2.9 A EFICIÊNCIA E EFICÁCIA DE DESEMPENHO Para a organização, os fatores que definem a eficiência e a eficácia estão sendo o fator chave para a mudança de seus Revista Integralização Universitária resultados, pois, não basta apenas ser eficiente, deve ser eficaz também. Sendo a eficiência produto do grau de adequação e qualidade com que uma pessoa realiza determinada atividade ou tarefa, e a eficácia está relacionada ao fato de a pessoa fazer o que tem que ser feito, apresentando conseqüentemente o resultado esperado. Para Bergamini e Beraldo, O desempenho eficiente é, portanto, aquele que atende em alto grau às manifestações dos traços de personalidade, utilizados adequadamente na realização de uma tarefa... surgiu a possibilidade de atentar para que as pessoas produziam, ou seja, para o resultado em si, e não mais a forma com que atingiam o resultado em questão. (1988, p. 37) A Avaliação de Desempenho, enquanto processo de julgamento sistemático de pessoas, pode-se dizer, utilizouse predominantemente desse enfoque ao longo do tempo, trazendo a melhoria da qualidade, onde supõe que as pessoas devam ser melhoradas continuamente, tanto o seu lado profissional como pessoal, isto é, dar continuidade ao que o colaborador tem de eficiente e eficaz. Para que um sistema de avaliação de desempenho tenha sucesso em uma organização, é preciso que se recoloque a questão da valorização humana no centro da organização, pois nenhuma organização poderá oferecer produtos/serviços de qualidade se seus colaboradores não tiverem um nível de qualidade de vida, ou ambiente de trabalho adequado. 2.10 BENEFÍCIOS DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO A avaliação de desempenho traz muitos benefícios à organização, deve ser vista como um instrumento valioso, mas é preciso para isso fazer romper as amarras, superar os desafios e tirar o máximo de proveito desta ferramenta. A avaliação de desempenho é uma das ferramentas primordiais que ajuda a - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 62 melhorar os resultados dos recursos humanos dentro da organização tornando-se essencial e necessário para o planejamento estratégico de uma organização. Ao planejar a organização precisa é necessária a visão generalista e comprometida com o indivíduo. Para Chiavenato, Um programa de avaliação do desempenho, quando bem planejada, coordenado e desenvolvido, normalmente traz benefícios a curto, médio e longo prazo. Os principais benefícios são geralmente: o indivíduo, o gerente, a organização e a comunidade. (2004, p.264). A organização ao implantar um programa de avaliação de desempenho deve estar pronta para receber várias mudanças, e muitas dessas são benéficas, em que cada um ganha ao ser avaliado e avaliador, pois é um grande desafio à organização, e dependerá de muitas para que tudo ocorra dentro do planejado, pois sob condições adequadas, a avaliação de desempenho é um caminho para a busca da excelência nas organizações. 3 Método de avaliação utilizado na organização pesquisada 3.1 A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NA ORGANIZAÇÃO A organização pesquisada adota atualmente para avaliação de desempenho, onde entende que a avaliação de desempenho deva seguir alguns conceitos e objetivos através do sistema de avaliação de 360º. 3.1.1 Avaliação de 360º Por conta das pressões advindas da competitividade após os anos 90, várias empresas têm buscado alternativas ou modelos de avaliação de desempenho mais condizentes com as atuais necessidades organizacionais e do público interno. Percebe-se, claramente, a necessi- dade de propiciar um ambiente de trabalho mais desafiador e estimulador, descentralizando e delegando responsabilidades, melhorando os sistemas de remuneração e propiciando benefícios flexíveis. Para fazer frente às expectativas organizacionais, procuram-se, assim, pessoas com certo grau de autoconhecimento pessoal e profissional e que possuam competência interpessoal, atuando de maneira assertiva em suas relações de trabalho. É bem pouco provável que uma pessoa consiga obter autoconhecimento pessoal e profissional, bem como a habilidade da assertividade, se não receber feedback a respeito de seu comportamento na empresa, ou seja, sobre o que faz de correto e sobre os pontos em que necessita de ajustes. Nesse contexto, faz-se necessário criar instrumento para auxiliar a pessoa a se reposicionar, e a organização optou como método de avaliar seus colaborados a Avaliação 360º que poderá servir para atingir este objetivo. Entende-se por Avaliação de Desempenho 360º aquela que pressupõe uma comparação entre a percepção dos pares no trabalho, do superior imediato, dos subordinados diretos, clientes, fornecedores e a percepção que o ocupante do cargo tem de si mesmo no exercício das atividades, fechando, assim, um círculo de 360º. A Avaliação 360º é um processo no qual um indivíduo é avaliado por seu superior, pelos pares, por si próprio (autoavaliação) e algumas vezes até por clientes. Após o desenho da pesquisa, que é feito baseado nos valores e cultura da organização, ela será aplicada tanto ao avaliado quanto aos outros colaboradores da equipe selecionada (para cada avaliado), e deve ser respondida dentro de critérios de muita honestidade e respeito. Após a análise pelo profissional responsável pela compilação de dados, inicia-se a sessão de feedback, onde cada participante tomará conhecimento da sua avaliação, que consiste na auto-avaliação, o resultado apurado nos questionários e um relatório Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 63 individual, que demonstra os resultados da sua auto-percepção e a percepção externa. 3.1.2 Abordagem metodológica A avaliação de desempenho atualmente aplicada aos colaboradores tem como objetivo adicionar valor para todos os membros da organização. Portanto, um método de avaliação e desempenho bem aplicado deve identificar e dar prioridade a todas as atividades importantes destinadas a atingir objetivos da organização. A pesquisa metodológica é o estudo que se refere a instrumentos de captação ou de manipulação da realidade. Está, portanto, associada a caminhos, formas, maneiras, procedimentos para atingir determinado fim. Construir um instrumento para avaliar o grau de descentralização decisória de uma organização é exemplo de pesquisa metodológica. A aplicação do questionário segundo Roesch (1999) é como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc., Onde deverá ser objetivo limitado em extensão e estar acompanhado de instruções esclarecendo a sua finalidade e facilitando o seu preenchimento, podendo ser perguntas abertas, fechadas ou de múltiplas escolhas. A escolha pelo formato do preenchimento será de acordo com o campo de pesquisa a ser avaliado, onde irá perceber qual o modelo poderá lhe trazer resultados reais e mais concretos. 3.1.3 Coleta de dados Como instrumento de coleta de dados utilizou-se um questionário fechado com 12 questões, sendo, o procedimento mais utilizado para se obter informações e garantindo o anonimato dos entrevistados, deixando-os à vontade para responRevista Integralização Universitária derem as indagações. Pois o questionário é um dos métodos de coletas mais livre para exprimirem suas opiniões sobre o que vem ocorrendo no dia a dia da organização e que muitos temem ser rejeitados ou que poderiam colocá-las em situações desagradáveis, caso apresente de forma direta. Quanto ao pré-teste, sua aplicação teve como objetivo evidenciar possíveis falhas na redação do questionário, tais como: complexidade das questões, imprecisão na redação, desnecessidade das questões, constrangimentos ao informante e exaustão, assegurando assim a validade do instrumento de coleta de dados na pesquisa aplicada. 4 Diagnóstico do estudo realizado na organização do processo de avaliação O sistema de avaliação de desempenho sempre esteve presente no processo evolutivo da humanidade, é o que a empresa vem também buscando desde sua criação. O ser humano está constantemente sendo avaliado pelos membros da sociedade. Na organização, é um processo presente e de grande importância para a vida dos colaboradores e do futuro da organização, é uma preocupação que a empresa vem demonstrando. O principal objetivo da avaliação é promover ao colaborador um melhor crescimento pessoal e profissional, isto não está ligado somente a estímulo salarial, mas ao desenvolvimento individual e organizacional. Percebe-se que a empresa tem a preocupação em estar sempre buscando a melhoria para a satisfação do colaborador, apesar de que nos últimos semestres, vem deixando a desejar esta qualidade que antes era vista de outra forma pelos colaboradores, ou seja, existe a desmotivação dos colaboradores em se tratando de avaliação de desempenho. A avaliação de desempenho que a empresa, atualmente utiliza é o método 360º, está sendo aplicada uma vez ao ano, - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 64 onde muitas vezes deixa a desejar, o ideal seria que as avaliações ocorressem ao final de cada semestre para que o desempenho dos membros pudesse ser constantemente melhorado, acarretando, com isso, progresso e melhoria de desempenho. Ao pesquisar sobre o grau de satisfação do sistema de avaliação e desempenho aplicado na empresa, percebe-se que é necessário realizar um maior preparo e conscientização dos colaboradores. É necessário deixar de forma clara que, toda avaliação é um processo para estimular ou julgar o valor, a excelência, as qualidades de algumas pessoas. Com isso o objetivo de avaliar cada membro da empresa de modo que possam ser vistos defeitos e virtudes em seu trabalho e, desta forma, o avaliado poderá melhorar seu desempenho para o período seguinte ao da Avaliação. No que diz respeito às condutas com pior avaliação, o avaliado deve concentrar-se num ou dois dos itens com pontuação mais baixa e neles focar o seu plano de ação. A partir daí, a empresa deve facilitar os recursos para a formação e desenvolvimento necessários. Para referir aos objetivos da melhoria devem-se considerar três aspectos: •Objetivos de desenvolvimento (por exemplo, resolução de problemas); •Critérios de sucesso (por exemplo, reconhecimento do meu chefe da melhoria da qualidade das decisões); •Estratégias de desenvolvimento (acompanhamento, leitura,...). A empresa vem buscando com a avaliação 360º um maior desenvolvimento individual dos colaboradores, e através dos resultados obtidos das avaliações individuais propõe através do próprio colaborador e seus pares planos de ação para que seja alcançado o desenvolvimento do colaborador. Percebe-se que o recurso humano precisa estar mais presente na aplicação da avaliação, pois, este é um fator chave para que a avaliação seja um produto de qualidade no resultado final para a organização, é necessário fazer cumprir as regras da avaliação, seja no cumprimento de prazos da entrega de resultados, na aplicação da avaliação, deve buscar a motivação para a realização da avaliação. O envolvimento de todos os colaboradores é um dos fatores principais para desenvolvimento da organização e também um dos mais complexos. Pela análise do questionário aplicado notou-se que existem planos de ação claros e objetivos que colaboram com o desenvolvimento do potencial do colaborador, mas que precisa ser melhorada a forma de ser aplicado. A avaliação de Desempenho pressupõe crescimento e crescimento pressupõe entendimento entre as pessoas, a responsabilidade pela avaliação, ainda que formalmente assumida pelo gerente, na verdade, é de todos na organização. É um ponto a ser desenvolvido na empresa, pois esta avaliação dos desempenhos após o plano de ação lançado fica na maioria das vezes sem uma gestão para acompanhá-lo. Isso significa que tanto o avaliador como o avaliado deve estar habilitado para se responsabilizarem de receber e dar feedback um ao outro sobre seu desempenho. Só assim haverá desenvolvimento e emergência da potencialidade individual das pessoas. A seleção dos avaliadores na empresa é muito importante porque a aceitação da informação depende da credibilidade das fontes. Por isso, os avaliadores são no geral pessoas que exercem o mesmo cargo e conhecem suficientemente bem o trabalho do avaliado e as condições em que ele as desempenha. E todos que participam do dia a dia do avaliado são seus avaliadores As respostas obtidas no questionário aplicado nos mostram que a maioria dos entrevistados se sente mais à vontade Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 65 em ser avaliado do que avaliar. Isso demonstra uma fragilidade no que diz respeito ao crescimento da equipe e sim um crescimento mais individual, nos mostra ainda que as pessoas não estão totalmente inseridas no processo de feedback, talvez por receio de estarem “prejudicando” um colega de trabalho. Isso seria mais facilitado se o feedback fosse transmitido no cotidiano. Conhecendo o avaliado a importância de seus pontos fortes e as dificuldades que ocasionam seus pontos a desenvolver; sabendo que pode contar com o supervisor e a empresa no sentido de melhor aproveitar os primeiros e suprimir os segundos, sentirá maior segurança e ânimo para uma vida de trabalho orientada à auto-realização e à utilização tão integral quanto possível de suas potencialidades. Tendo em vista o resultado do questionário aplicado podemos assegurar que os entrevistados em sua maioria reconhece que adquire uma melhoria com o feedback, um dos pontos fracos que vem apresentando na empresa é a falta de feedback, os colaboradores se sentem mais seguros ao receber o feedback. Com a pesquisa realizada percebese que a avaliação de desempenho que está sendo aplicada na empresa, não vem tendo o valor de importância que deveria, pois um ponto a desenvolver é a questão da periodicidade da avaliação, apesar de ser tradicionalmente anual, não existe um período para avaliar como estão sendo praticados e alcançados os planos de ações estabelecidos, ou seja, se estão cumprindo de acordo com o que ficou estabelecido, ficando esta analise somente para a próxima avaliação, onde muitas vezes o colaborador já nem lembra mais o que ficou para ser desenvolvido e melhorado. É necessário realizar treinamento que irá proporcionar o crescimento pessoal do colaborador, também deixa maior avanço na organização, pois o colaborador necessita de desejos e sentimentos que precisam servir de estímulos para Revista Integralização Universitária produzir o esperado e ter uma evolução profissional. Percebe-se que a organização tem forte tendência na valorização do ser humano, pois envolve uma qualidade de vida que lhes proporciona alguns fatores que trazem também benefícios/resultados onde ambas as partes ficam satisfeitas, onde os fatores apresentados são remuneração e benefícios adequados, condições de trabalho com segurança e oportunidades para aprender, mas que, no entanto precisa colocar em prática essas tendências. O investimento no ambiente de trabalho e no indivíduo torna-se fator primordial para o desenvolvimento organizacional, é o que o recurso humano da empresa vem buscando desenvolver. Há pouco tempo atrás foi realizada uma pesquisa de Clima Organizacional, onde foi enviada a todos os colaboradores para responderem a um questionário com perguntas fechadas, onde citavam vários fatores. Com essa iniciativa a empresa identifica o nível de satisfação de toda sua população interna com relação a vários fatores de impacto no dia-a-dia da empresa. Isto é o inicio da percepção coletiva das pessoas a respeito das dimensões que impactam a satisfação da empresa. 5 Considerações Finais Esta pesquisa limitou-se à coleta de dados do sistema de avaliação de desempenho adotado na organização pesquisada, onde a análise do relacionamento da avaliação 360º com prática de feedback apresentam limitações. É importante mencionar que a coleta de dados baseou-se nas de 30 funcionários da empresa, na área de operações da empresa objeto deste estudo. A organização é vista perante o mercado como uma organização séria, cheia de qualidades e valores. Mas nos últimos tempos vem percebendo que a motivação está em baixo nível, seus valores huma- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 66 nos não vêm se aplicando como deveria. Mas também houve uma mudança de presidência e vários diretores, foi onde ocorreram várias mudanças que vieram a causar esta desmotivação, ou seja, as pessoas na maioria das vezes não estão totalmente preparadas para mudanças. Pode-se afirmar que o elemento humano é o recurso que exige um grande investimento, mas que também quando bem aplicado, tem maior retorno em termos de produção qualificada no trabalho. Investir no valor humano é investir em um bem durável. 6 Referências BERGAMINI. Cecília Whitaker. BERALDO, Deobel Garcia Ramos. Avaliação desempenho humano na empresa. 4ª Edição, São Paulo: Editora Atlas, 1988. CARVALHO, Antonio Vieira de; NASCIMENTO, Luiz Paulo do. Administração de Recursos Humanos. V.1. São Paulo: Pioneira, 1998. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 6ª.edição. São Paulo: Makron Books, 1993. ____________. Recursos Humanos. Edição Compacta. 4ª.edição São Paulo: Atlas, 1997. ____________. Teoria Geral da Administração. Edição Compacta. São Paulo: Atlas, 1999. ____________. Recursos Humanos 8ª Edição. São Paulo, Editora Atlas, 2004. GRAMINA, M.R. Modelo de Competências e Gestão dos Talentos. São Paulo: Editora Pearson Education, 2002. LUCENA, Maria Diva da Salete. Avaliação de Desempenho. São Paulo: Editora Atlas, 1992. ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projeto de estágio e de pesquisa em Administração. 2º Edição. São Paulo: Atlas, 1999. SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2000. VERGARA, Sylvia Constant. Projeto e relatórios de Pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2000. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 67 GESTÃO Competitividade no setor de análises clínicas: um estudo Survey na cidade de Natal-RN Dany Geraldo Kramer Cavalcanti e Silva1 Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior2 Bianca Caroline da Cunha Germano3 RESUMO: Este estudo objetiva identificar e caracterizar itens de competitividade no setor de análises clínicas da cidade do Natal. Uma pesquisa tipo survey, exploratória e descritiva foi realizada utilizandose um questionário como principal fonte de coleta de dados, aplicado a 82 laboratórios de análises clínicas, com instrução para o responsável técnico responder, obtendo-se uma taxa de retorno de 53,65%, ou seja, 44 questionários respondidos. Os resultados mostraram que os principais itens de competitividade apontados pelos entrevistados foram o preço, qualidade no serviço, localização do laboratório e ações sociais. As ações ambientais apresentaram-se como promissoras no intuito de melhoria da competitividade dos laboratórios. Palavras-chaves: Laboratórios; competitividade; estudo survey, Natal/RN; análises clínicas. Abstract: This study aims to identify and to characterize items of competitiveness in the clinical analyses sector of the Natal City. A research type survey, exploratory and descriptive, was accomplished, being used a questionnaire as main source of data collection, applied to 82 laboratories of clinical analyses, with instruction for the technical responsible to answer, being obtained a return rate 53,65%, in other words, 44 answered questionnaires. The results showed that the principal items of competitiveness pointed for the interviewees were the price, service quality, laboratory location and social actions. The environmental actions came as proRevista Integralização Universitária Walter Romero Ramos e Silva Júnior4 Sérgio Marques Júnior5 Aurean de Paula Carvalho 6 mising in the intention of improvement of the laboratories competitiveness. Key words: laboratories; competitiveness; survey study, Natal/RN; clinica analyses. 1 Introdução Os laboratórios de análises clínicas podem ser definidos como instituições da área de saúde de apoio ao diagnóstico, baseando suas atividades em técnicas científicas, cobrindo todos os aspectos de investigação, inclusive a interpretação de resultados e conselhos adicionais (PLEBANI, 2002). Eles podem prestar serviços a níveis nacionais, regionais ou locais de forma diversificada, seja associada a outras instituições de saúde ou isoladamente. Entre os ramos de atividades citam-se a hematologia, microbiologia, histopatologia, bioquímica, parasitologia e imunologia com o manuseio de diferentes materiais biológicos e químicos. Itens que contribuem para a geração de resíduos perigosos de variada composição, natureza (química, física e infecciosa) e volume. (WHO, 1997; SILVA e outros, 2003) Semelhante a outros setores de serviços o ramo de análises clínicas enfrenta uma crescente competitividade, como citado por Silva e outros (2003, p.1) e Beebe (2006), principalmente nas cidades de maior porte nas quais existem uma maior concentração destes estabelecimentos. Para Kupfer (2002), a competitividade pode ser definida como a capacidade de a empresa formular e implementar estra- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Universidade Federal do Maranhão – Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia – Imperatriz – MA. [email protected]. 2 Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Natal, Brasil. 3 Instituto Nacional de Seguridade Social INSS. 4 Programa de PósGraduação de Ciências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –UFRN. 5 Programa de Pós-Graduação de Engenharia de Produção – Universidade Federal do Rio Grande do Norte –RN. 6 Mestrando do Programa de Pós – Graduação em Engenharia Agrícola – UFCG. 1 68 tégias de concorrências que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado. Visando contornar esta problemática os administradores dos laboratórios de análises clínicas podem desenvolver diversas estratégias e ações, como exemplificado por alguns autores a seguir. Oliveira e Proença (2002) citam a adoção de contratos de comodato para equipamentos, no sentido de aumentar a produtividade, reduzindo o tempo de prestação do serviço e associação às clínicas médicas, parcerias que aumentam a eficiência da organização reduzem custos nestes estabelecimentos. Beep (2006) faz referências semelhantes, citando a necessidade de melhorias gerenciais otimizando processos e reduzindo custos, melhorando desta forma, o desempenho operacional do laboratório. Karkotli (2002), por sua vez, mostra a importância do gerenciamento voltado para o marketing social, onde as empresas devem estar atentas às exigências dos consumidores e às mudanças no mercado, de forma a adotar ações e processos socialmente seguros e de credibilidade, tornando esta política um grande fator competitivo para empresas. Pasquali (2002) relaciona a importância de um sistema de qualidade para os laboratórios de análises clínicas e defende que o escopo da organização juntamente com todas as pessoas envolvidas na prestação do serviço conheça o seu processo, identifique as necessidades de seus clientes e promova o alinhamento dos processos a fim de atender estas necessidades e garantir o atendimento contínuo dos mesmos. O autor cita ainda que a qualidade do serviço seja um item essencial, pois dele dependem a competitividade, a confiança e o sucesso das estratégias de marketing. Cuadrado e outros (2006) citam a automação laboratorial como itens importantes para as atividades laboratoriais, contribuindo para redução de erros nas análises e maior credibilidade dos resultados. Geffen e Judd (2005) citam que as instituições devem ter ações pró-ativas na formulação de novas idéias e ações, buscando maior eficiência de seus sistemas e conseqüente ganho de competitividade. Devendo para tanto desenvolver as seguintes ações prévias: •monitorar e entender a ciência e tecnologias de seu setor de atuação; •monitorar e entender seu mercado de atuação, necessidades dos consumidores, incluindo-se mudanças no setor (desafios sócio-políticos, mudanças na legislação, etc); •Identificar novas idéias implantadas; •Rever conceitos, baseado na avaliação integral de seu potencial. Ricos e outros (2004) citam três fazes crucias para o desempenho dos laboratórios de análises clinicas; a pré-analítica que incluem a coleta, o transporte e o manuseio adequado da amostra; a fase analítica, que envolve o processo de investigação da amostra e a fase pós-analítica que inclui auto-avaliação laboratorial, processamento e liberação dos resultados. Durante todo o processo a não observação de itens básicos de gerenciamento do processo pode determinar o bom ou mau desempenho do laboratório de análises clínicas. Os itens citados anteriormente podem influenciar não apenas na competitividade da organização, mas permite a redução de acidentes de trabalho bem como a redução de riscos ao meio ambiente uma vez que, falhas e desperdícios podem ser reduzidos, minimizando processos trabalhistas, ambientais e civis, além da melhoria da relação entre instituição, comunidade e funcionários. Tendo-se em vista a variedade de itens que podem influenciar na competitividade no setor de análises clínicas, buscou-se através deste estudo identificá- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 69 los e caracterizá-los no setor da cidade do Natal-RN, sob a ótica dos responsáveis técnicos de nível superior destes laboratórios. 2 Metodologia da pesquisa de campo 2.1 Delineamento da pesquisa A pesquisa pode ser caracterizada como exploratória e descritiva do tipo survey, pois este tipo de estudo visa à obtenção de dados ou informações sobre as características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população alvo por meio de instrumento de pesquisa, normalmente um questionário. (FREITAS e outros, 2000; GIL, 1991; SILVA e outros) 2.2 População e amostra Para se atingir o objetivo desta pesquisa optou-se por estudar os Laboratórios de Análises Clínicas da Cidade do Natal, Estado do Rio Grande do Norte - Brasil, onde existem 108 laboratórios de análises clínicas registrados no Conselho Regional de Farmácia do RN, variando quanto à complexidade, localização e atividades desenvolvidas, tamanho e categoria de gestão. de escala do tipo Likert, onde são aplicadas questões de onze pontos, cuja qualificação das respostas possíveis era variável em função de cada questionamento aplicado. (CHIAMENTI, 2003) As variáveis deste estudo somaram 21 no total, sendo separadas por grupos de forma a facilitar a pesquisa, sendo estes: gestão estratégica (GE) e perfil (PERFIL). A Tabela 01 apresenta as variáveis, as descrições das variáveis e os grupos a que pertencem. Após recolhimento dos questionários, os dados foram tabulados seguidos da análise descritiva e exploratória dos valores absolutos e dos percentuais obtidos, objetivando apresentar a percepção dos entrevistados sobre os fatores de competitividade no setor estudado, abordando na forma de tabelas e gráficos baseados em dados da amostra coletada, considerando os vários atributos e suas dimensões. Tabela 1: Variáveis utilizadas no estudo 2.3 Instrumento de coleta de dados O principal instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário constituído de perguntas do tipo “fechada” (uma única resposta entre várias opções possíveis) formuladas em um modelo do tipo “escala”, ou seja, aquelas que devem ser analisadas dentro de um tipo de escala de mensuração, pois as prioridades variam de acordo com o posicionamento do entrevistado. Nesta proposta, foram utilizadas questões Revista Integralização Universitária 2.4 Etapas da pesquisa O trabalho foi desenvolvido em duas etapas, a primeira com levantamento - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 70 e confirmação dos dados, a segunda com um teste piloto em cinco laboratórios de análises clínicas escolhidos aleatoriamente, seguida da distribuição e posterior coleta dos questionários junto à população estudada. 3 Resultados e discussões Dentre os 108 laboratórios que correspondem ao universo da pesquisa, foram encontrados aptos a responderem os questionários 68 unidades, sendo os demais, 40 laboratórios, desconsiderados por apresentarem o mesmo técnico responsável ou com dados incondizentes com a lista inicial. Contudo, foram encontrados durante a pesquisa de campo 14 laboratórios aptos a serem pesquisados que não se encontravam na lista do CRF/RN, totalizando amostra de 82 laboratórios. Destes, 44 responderam o questionário, com posterior recolhimento, e obtenção de uma taxa de retorno de 53,65%. Os laboratórios de análises clínicas foram caracterizados quanto ao número de exames/mês que realizam, sendo em sua maioria, realizando não mais que 2000 exames/mês como ilustra a Figura 1. Figura 1: Freqüência dos entrevistados referente ao número de exames/mês realizados nos laboratórios em que trabalham. Os entrevistados foram caracterizados quanto à faixa etária, sexo, profissão, tempo de formado e de atuação na empresa, renda salarial e números de exames/ mês realizados em seus laboratórios. A maioria dos entrevistados foram do sexo feminino (61,4%) e com faixa etária acima dos 40 anos (46,5%). Quanto à profissão, 43 deles foram farmacêuticos bioquímicos e apenas um com outra profissão. Embora, os entrevistados apresentem uma faixa etária acima dos 40 anos, a maioria trabalha em seus Laboratórios de Análises Clínicas a menos de 05 anos e têm menos de 10 anos de formado. As variáveis pertencentes ao grupo de gestão estratégica somaram 11, tendose questionados os entrevistados, a princípio, referente ao grau de competição no setor de análises clínicas natalense, seguidas de avaliação de itens pertencentes aos laboratórios (preço, propaganda, credibilidade, qualidade do serviço, ações de proteção ambiental, nome, estabilidade financeira, localização, ações sociais e imagem) quanto a sua importância em influenciar a decisão de um cliente em escolher um laboratório para realizar seus exames médicos. Quando questionados sobre o grau de competição no setor de análises clínicas de Natal, 49,9% dos entrevistados consideraram-no como de competição agressiva ou muito agressiva, caracterizando este ramo de atividade como bastante competitivo (Figura 2). Figura 2: Freqüência dos entrevistados com relação ao grau de competição no setor de análises clínicas. Entre os itens que apresentam importância em influenciar os clientes na escolha de um laboratório, a qualidade do serviço e a credibilidade do laboratório Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 71 foram apontadas como os principais, seguidos dos itens ações sociais, localização do laboratório e preço, conforme ilustra a Figura 3. Figura 3: Freqüência dos entrevistados com relação ao item preço, localização do laboratório, credibilidade, qualidade do serviço e ações sociais em influenciar clientes. Os itens qualidade e credibilidade foram tratados de forma conjunta, mostrando comportamentos similares, uma vez que a qualidade no serviço tende a minimizar os erros e falhas contribuindo para o aumento da credibilidade do laboratório e conseqüentes satisfações do cliente. Já a localização do laboratório, foi citada como de extrema importância, mostrando que a comodidade e facilidade de acesso ao serviço são importantes para atrair clientes no setor, do ponto de vista dos entrevistados, aspecto semelhante apontado por Ricos e outros (2004). Entre outros aspectos importantes para influenciar clientes estão as ações sociais dos desenvolvidas pelos laboratórios. Item apontado por Silva e outros (2003) como importante para melhoria da imagem da instituição que foi observado neste estudo. em influenciar escolha de clientes 46,6% apontaram-no como importante, como ilustrado na figura 4. Figura 4: Freqüência dos entrevistados com relação aos itens nome do laboratório e facilidade de pagamento em influenciar clientes. Relativo ao item propaganda, apenas 25,6% dos entrevistados opinaram como item importante, podendo influenciar o cliente na hora de realizar seus exames médicos. As ações de proteção ambiental tiveram percentual de importância próximo ao item propaganda, sendo apontada por 27,3% destes, embora não tendo uma grande relevância quanto o item qualidade no serviço, mostrou-se importante para estratégias dos laboratórios, e capaz de se tornar um dos principais itens de competitividade do setor, uma vez que permite complacência com legislações e normas, exigências de fornecedores e clientes (Figura 5), conforme citado por Silva e outros (2003). Relativo à estabilidade financeira do laboratório, a maioria dos entrevistados não a considera item importante para influenciar clientes. Referente à imagem do laboratório, os entrevistados opinaram sobre este item de forma heterogênea, sendo para um pequeno percentual deles um item importante (Figura 5). Relativo ao nome do laboratório, apenas 38% dos entrevistados, citou-o como importante para influenciar escolhas de clientes. Quando questionados sobre a importância da facilidade de pagamentos de exames oferecidos pelos laboratórios Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 72 CHIAMENTI, A. M. M. Gestão ambiental na agricultura: um estudo sobre fatores associados à conscientização ambiental em estudantes de uma escola agrotécnica. Dissertação. (Programa de Engenharia de Produção). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 120p. 2003. CRF/RN – Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Norte. Base de dados sobre Laboratórios de Análises Clínicas, 2003. Figura 5 Freqüência dos entrevistados com relação aos itens imagem do laboratório, propaganda, ação de proteção ambiental e estabilidade financeira do laboratório em influenciar clientes. 4 Conclusões Pôde-se constatar que o preço, qualidade do serviço, ações sociais e localização do laboratório foram apontados como itens mais importantes para influenciar clientes na hora de escolher uma instituição do setor para realizar seus exames médicos. Mostrou ainda que a questão sócio-econômica tem grande influência sobre o cliente na cidade do Natal. Estratégias voltadas a estes itens podem ser exploradas visando ganho de mercado, entretanto, pode-se investir em outros itens, como citado por Geffen e Judd (2005), observando novas tendências, como as práticas de proteção ambiental de forma a melhorar a imagem da instituição junto ao setor em que atua, buscando-se eficiência ambiental, gerencial e econômica passiveis de serem alcançadas com estas práticas. Portanto, conclui-se que os fatores qualidade e preço citado pelos entrevistados estão condizentes com o apontado por outros estudos para o setor, embora demais itens possam ser explorados para melhoria da imagem da empresa e da competitividade com conseqüente benefício sócio-econômico e ambiental. 5 Referências BEEBE, J. L. Public Health and Clinical Laboratories: Partners in the Age of Emerging Infections. Clinical ������������������������������������������ Microbiology Newsletter Vol. 28, N. 02, 2006, Vol. 28, No. 2, 2006. CUADRADO, M. U., CASTRO, M. D. L. DE AND GÓMEZ-NIETO, M.A.. ���������������� Object-oriented techniques for design and development of standard software solutions in automation and data management in analytical chemistry TrAC Trends in Analytical Chemistry, Volume 25, Issue 1, , Pages 66-76, January 2006. FREITAS, H.; OLIVEIRA, M.; SACCOL, A. Z.; MOSCAROLA, J. O método da pesquisa survey. Revista de Administração da USP. V 35, n 3, pp 105-112, 2000. 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Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Foto: Roberto Carlos 75 GESTÃO Levantamento sócio-econômico e cultural do assentamento Pericatu localizado no município de Pium-To Glenda Feitosa da Silva 1 Alan Kardec Elias Martins 2 Iracy Coelho de Menezes Martins 3 Resumo: Diante dos problemas gerados pela implantação de assentamentos rurais sem que se tenha realizado estudos sobre as características da área e sua adequação para fins agropecuários, entende-se que além de efetuar mudanças na política de reforma agrária que implemente a formação de novas unidades é ainda de suma importância o estudo dos assentamentos já existentes. Assim foi realizado neste trabalho o levantamento sócio-econômico e cultural do assentamento Pericatu, município de Pium, Tocantins, com posterior análise da sua atual situação, almejando que tais resultados possam ser usados para subsidiar políticas que visem melhorar a vida dos produtores assentados. Palavras chave: assentamento rural, planejamento, meio ambiente e Pericatu. Abstract: Before of the problems generated for the implantation of small farm without if it has carried through studies on the characteristics of the area and its adequacy for farming ends, one understands that beyond effecting changes in the politics of agrarian reform that implements the formation of new units it is still of utmost importance the study of the existing nestings already. Thus it was carried through in this work the partnereconomic and cultural survey of the Pericatu nesting, city of Pium, Tocantins, with posterior analysis of its current situation, longing for that such results can be used to subsidize politics that they aim at to improve the life of the seated producers. Key-words: small farm, planning, environment end Pericatu. Revista Integralização Universitária 1 Introdução A extrema importância de se concretizar a reforma agrária é fartamente evidenciada pelos resultados que propiciou, em todos os países onde ocorreu, ao longo da história. Embora conduzidas de diferentes maneiras, nas diferentes épocas e nos diferentes ambientes, todas as reformas agrárias levaram à expansão no número de ocupações produtivas no meio rural, à consolidação de tecidos sociais articulados, à melhoria das condições de vida, à ampliação dos investimentos públicos nas áreas sociais, à modernização das legislações, ao fortalecimento dos direitos do cidadão comum, à autonomia cultural e à dinamização econômica das regiões onde ocorreram (MELGAREJO, 2001). O desenvolvimento da política agrária no Brasil é ainda caracterizado como lento e burocrático. Até que todo o processo de apropriação seja realizado legalmente, é concedido aos trabalhadores rurais o direito de habitar e usar para fins agropecuários áreas que já foram desapropriadas. Formam-se então conjuntos de lotes pré-demarcados pelo INCRA (Instituto de Colonização e Reforma Agrária), para onde são remanejados agricultores que reivindicaram uma porção de terra para trabalhar. Na maioria dos casos esse é o procedimento para o estabelecimento dos chamados assentamentos rurais que se tornam ponto de partida de demandas, levando à afirmação de novas identidades e interesses ao surgimento de formas organizativas internas e externas. Devido à maneira pelas quais são formadas, grande parte dessas unidades - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 ¹ Graduanda do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Tocantins – UFT ² Professor Doutor da Faculdade Católica do Tocantins – FACTO ³ Professora Doutora da Universidade Federal do Tocantins - UFT 76 enfrentam inúmeras dificuldades. Segundo Carvalho e Callado (2000) as principais são: a sustentabilidade financeira da reforma agrária, pois ela depende, exclusivamente, dos recursos públicos orçamentários e a inexistência de infra-estrutura mínima nos assentamentos, embora haja previsão que o INCRA deveria proporcionar, nos projetos, pelo menos estrada de acesso, abastecimento de água para consumo humano e eletrificação. Assim a falta de recursos para que essas medidas sejam aplicadas é uma calamidade que atinge assentamentos em todo o Brasil. Segundo o SIPRA – Sistema de Informação de Projetos de Reforma Agrária (2006) o estado do Tocantins possui cerca de 300 (trezentos) unidades, e o município de Pium localizado ao oeste do estado tem em seus limites sete desses assentamentos, entre eles o Assentamento Pericatu, objeto de estudo deste trabalho, onde foi definido o perfil sócio econômico e cultural dos assentados com objetivo de que o mesmo possa ser usado para implementação de demais projetos que almejem de maneira local e estratégica a melhoria da qualidade de vida dos assentados. 2 Material e métodos 2.1 Localização Geográfica da área de estudo O Projeto de Assentamento Pericatu (P.A.P.) foi criado por meio da portaria INCRA SR-26 n° 031/98, está situado entre as coordenadas 49°15’54,40”e 49°29’6,19” de longitude oeste e entre 10°6’33,01” e 10°17’27,86” de latitude sul, no município de Pium, na região Centro-Oeste do Estado do Tocantins, a 43 km da sede da área urbana, sendo interligado pela TO-354 (Transjavaés) e, posteriormente, por 10 km de estrada vicinal não pavimentada. Está distante 166 km da capital Palmas. Com uma área de aproximadamente 6.742.0013 ha, fazendo parte do campo de abrangência da APA do Cantão. 2.2 Obtenção de dados e informações O assentamento Pericatu está localizado a cerca de 40 km do centro urbano da cidade de Pium. Devido essa proximidade julgou-se necessário obter informações também sobre este município, por corresponder a área de influência da unidade de pesquisa. E para a obtenção de informações de aspectos sócio-econômicos do município, realizou-se visita a Prefeitura Municipal de Pium nas Secretarias de Agricultura e Educação e Cultura, onde foram entrevistadas a Secretária de Agricultura e a Coordenadora da Secretaria de Cultura. Além de levantamentos de dados junto a outros órgãos como o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e secretarias estaduais. E para o levantamento de dados relativos ao assentamento visitou-se o INCRA – TO, onde foi disponibilizada a Planta da área de estudo, a unidade de Palmas do Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins - RURALTINS, a qual possibilitou o acesso ao Projeto de Desenvolvimento do Assentamento (PDA), e a unidade do RURALTINS de Pium, responsável pela assistência ao assentamento, além de entrevistas no local de pesquisa com o Presidente da Associação dos Assentados, Lúcio Sousa Andrade. 3 Resultados e discussão 3.1 Perfil sócio-econômico e cultural da área de influência A área de influência do Assentamento Pericatu é a cidade de Pium, com uma superfície de 10.017 km², que está localizado na Mesorregião Ocidental Geográfica do Tocantins e Microrregião do Rio Formoso. Limita-se, ao norte, com os municípios de Caseara e Marianópolis do Tocantins; a leste, com os municípios Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 77 de Chapada da Areia, Pugmil e Nova Rosalândia; ao sul, com os municípios de Lagoa da Confusão e Cristalândia; e a oeste, com os Estados do Mato Grosso e Pará (Ilha do Bananal). A sede do município está situada na latitude de 10º44’25” N e longitude de 49°18’22” W, a uma altitude de 249m em relação ao nível médio do mar, distando 119 km de Palmas, capital do Estado do Tocantins. Segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2000, Pium conta com uma população de 5.539 habitantes, dos quais 3.193 vivem na área urbana e 2.346, na rural, sua densidade demográfica é de 0,55 hab/ km². O município tem perdido população, provavelmente em função dos sucessivos desmembramentos de seu território, registrando uma taxa de crescimento no período 1991/2000 de 21% na zona urbana e de (-)164,87% na zona rural. A renda nominal, média mensal das pessoas com rendimento, responsáveis pelos domicílios particulares é R$ 425,55(quatrocentos vinte e cinco reais e cinqüenta cinco centavos), o Índice de Desenvolvimento Social – IDS1 é 0,52. Sua economia é fundamentada na agropecuária, o Município de Pium detém 73,% (362.762 ha) da área produtiva utilizada por pastagens, sendo 27% (34.405 ha) plantadas e 73% (228.357 ha) constituídas por pastagens naturais. Aproximadamente 20% da área produtiva do município (99.630 ha) é composta de matas nativas. De acordo com um levantamento realizado recentemente pela Secretaria Municipal de Agricultura o município possui: 170.683 cabeças de gado; 538 produtores com rebanho; 552 propriedades rurais; 295 pequenos produtores; 129 médios produtores; 51 grandes produtores; 7 assentamentos agrícolas e 1 comunidade rural. O último registro do IBGE, quanto a produção agrícola e as culturas exisRevista Integralização Universitária tentes, no município foi o fechamento da safra 2004/2005. Seus números estão demonstrados na tabela abaixo: Tabela 1: Produção agrícola do município de Pium – TO, safra 2004/2005. Quanto aos aspectos culturais a cidade de Pium tem tradição cultural de fabricar peças artesanais, com destaque para a lapidação de quartzo, o crochê, o bordado à mão, a pintura em tecidos, a tapeçaria e a cestaria com a utilização de jornais também são freqüentes. Dentre as festas mais tradicionais está a do aniversário da cidade, celebrado com uma semana de festejos até o dia 23 de julho, dia da emancipação do município, junto a esse evento realiza-se também a Feira Agropecuária, onde em sua abertura ocorre a Cavalgada, muito apreciada pelos moradores. Acontecem ainda as festas do Divino e a da Padroeira da cidade Nossa Senhora do Carmo, em 16 de julho, precedida de novena e quermesses até o dia da festa e o sábado cultural evento realizado uma vez ao mês no centro antigo da cidade (centro cultural), Praça do Garimpeiro, com shows regionais e exposição de artesanatos. 3.2 Perfil sócio-econômico e cultural do Assentamento Pericatu Há no projeto de assentamento Pericatu, aproximadamente 90 famílias, a mé- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 78 dia de membros por família é 4 (quatro) pessoas, chegando sua população a um total de aproximadamente 360 habitantes, que residem em casas de alvenaria localizadas na agrovila do assentamento. As formas de organização local são em torno da igreja evangélica e da Associação dos Pequenos Produtores do Projeto de Assentamento Pericatu. A associação foi criada em outubro de 1998, seu primeiro presidente foi o Sr. Bento Batista da Silva. Atualmente o Presidente é o morador Lúcio Sousa Andrade. A estrutura de apoio do assentamento é constituída por: um galpão onde estão algumas máquinas usadas por eles no beneficiamento dos produtos ali cultivados; a casa da antiga sede (Figura 1), local que atualmente é utilizado para realização das aulas da escola de 1° grau; a casa de farinha construída recentemente com forno, prensa, triturador, descaroçador e peneira. São também de propriedade do assentamento dois tratores e um caminhão, que em função do prolongado tempo de uso encontram-se em situação precária. Figura 1: casa da antiga sede da Fazenda Pericatu, atualmente funciona a escola do assentamento Pericatu, município de Pium – TO. A rede elétrica é um bem que atende a praticamente todos os moradores da agrovila, existindo ainda alguns postes que fazem a iluminação de poucas ruas. A água para consumo é proveniente de poços artesianos e ainda da caixa d’água instalada a pouco tempo, entretanto na época de estiagem é comum sua escassez, faltando água até mesmo para realização das tarefas diárias. Na extensão da agrovila que é de 84,6880 ha, existe apenas um orelhão. Como citado anteriormente o assentamento possui apenas escola de 1° grau, assim a prefeitura oferece transporte (ônibus) para as crianças que freqüentam aulas na cidade. Esse veículo é também utilizado como meio de transporte pelos moradores e a prefeitura ainda disponibiliza outros carros ou caminhões para transporte da produção com a condição de que o combustível seja pago pelo usuário. Os moradores do assentamento Pericatu tem acesso à saúde por meio da Unidade Móvel de Saúde com uma equipe composta por médico e dentista que realizam visita uma vez por mês. A área na qual está inserido o assentamento é classificada segundo o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) do estado, como Área de uso de média intensidade para produção, recomendada para pecuária semi-intensiva e/ou silvicultura. Esta classificação relaciona entre outras características o tipo de solo da área, concrecionário de baixa fertilidade, pluviosidade, longo período de estiagem (seca), que inicia no mês de maio e se estende até inicio do mês de setembro e recursos hidrológicos que estão diretamente ligados ao regime de chuvas. Diante disso para que o solo seja utilizado com fins agrícolas é necessário adotar uma forma de produção buscando práticas tecnológicas, havendo a necessidade de aplicação de corretivos agrícolas para a melhoria da fertilidade do solo. Quanto à pecuária é recomendada que seja observada a condição das pastagens, colocando um número de cabeças por hectare que não venha comprometer seu uso adiante, em função da degradação, que pode ocorrer devido à fragilidade do solo. Entretanto a falta de estrutura financeira não permite o manejo adequado do solo, dificultando o desenvolvimento eco- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 79 nômico da unidade limitando suas atividades a pecuária extensiva e a agricultura, cultivando principalmente mandioca, milho, abacaxi e arroz, sendo que esse último é apenas de subsistência. No sistema de cultivo são utilizadas máquinas agrárias somente no gradeamento da terra, as outras etapas como, por exemplo, o plantio é realizado manualmente, assim como a adubação necessária, visto o tipo de solo. É importante ressaltar que eles não fazem uso da prática do fogo, e foi reconhecida uma preocupação quanto a esse aspecto, já que a associação também não recomenda este tipo de ação. A água utilizada na agricultura é oriunda de pequenas represas construídas pelos produtores em seus lotes, algumas delas em consórcio, sendo as duas maiores de uso coletivo. Com a instalação da Casa de Farinha realizada pelo RURALTINS em convênio com outras organizações, incentivou-se a produção da mandioca (Figura 2) que hoje é exercida por cerca de 30 famílias, as quais são associadas na produção da farinha. Esse produto possui atualmente um preço de mercado equivalente à R$ 50,00 (cinqüenta reais) a quarta, que corresponde à aproximadamente 35 quilos, vendida na região. Porém segundo informações da unidade do RURALTINS de Pium, a produção da mandioca está abaixo da média estadual, colhendo cerca de apenas oito toneladas por hectare, em função do tipo de solo, do curto espaçamento entre as fileiras e da presença de cupins. Figura 2: Aspectos do plantio de mandioca em um dos lotes do assentamento Pericatu, município de Pium – TO. Revista Integralização Universitária De acordo com relato do presidente da associação, em segundo lugar no quesito de produção aparece o abacaxi com valor variando de R$ 0,25 (vinte e cinco centavos) a R$0,60 (sessenta centavos), o mercado para esse produto se estende além dos municípios vizinhos, pois por meio de intermediários o abacaxi é vendido até mesmo para os estados de Minas Gerais e São Paulo. A produção do milho é relativamente pequena se comparado com a mandioca e o abacaxi, ainda assim é tido como produto comercial e é vendido aos moradores das cidades próximas, por um preço que varia de R$15,00 (quinze reis) a R$25,00 (vinte e cinco reais) sacas de 60 quilos. A criação de gado é uma atividade econômica adotada recentemente por alguns donos de lotes, em sistema extensivo, seu mercado é principalmente o de venda pra recria. A mão-de-obra utilizada no assentamento é de seus proprietários, porém alguns prestam serviços em fazendas da região. Ainda que exista um empenho da maioria dos produtores em produzir e fazer uso da terra, o assentamento tem seu fluxo migratório marcado pela rotação de proprietários em 10 dos 90 lotes, o que atrapalha o desenvolvimento de atividades de cooperação e desencadeia conflitos internos. Essa variação ocorre por causa da repassagem de terras, o que é intransigente e deveria ser fiscalizado pelo órgão público responsável. Atualmente a assistência técnica ao assentamento é de responsabilidade da unidade da RURALTINS – unidade de Pium, porém segundo o presidente da associação, o atendimento não é freqüente. Quando da elaboração do PDA foram identificadas pelo menos 5 organizações de cunho público, privado e não – governamental, que de alguma forma desempenhavam projetos envolvendo o assentamento, contudo com a conclusão das atividades hoje a unidade recebe apoio principalmente da prefeitura, que entre outros - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 80 subsídios fornece veículos e recentemente realizou a recuperação de parte das vias de acesso. Considerando a devida importância para qualquer comunidade, de se ter atividades culturais e/ou recreativas as quais colaboram para a promoção da qualidade de vida dos moradores, o assentamento Pericatu dispõe de opções de lazer comum a uma pequena organização rural, com a realização da festa junina que acontece anualmente, eventuais festas em um bar da agrovila, jogos de futebol, e utilização da represa para recreação e pesca. Assim muitos dos assentados freqüentam as festas que ocorrem no município de Pium, por sua vez é notória por parte da população piunense uma boa aceitação quanto a esse compartilhamento. 4 Conclusão O Assentamento Pericatu, com quase 10 anos de implantação enfrenta problemas que impedem seu desenvolvimento econômico e social. Considerando estudos realizados anteriormente percebe-se que os impedimentos de ordem econômica ainda permanecem como a falta de recurso para correção do solo, falta de estradas e a distância dos centros consumidores, entretanto viu-se entre os proprietários de lotes o despertar para atividade pecuária que se mostre como uma outra alternativa de uso da terra. Dentre as principais causas dos problemas acima relacionados, está a predominância de solos do tipo concrecionário na área do assentamento, relatada pelo Incra, 2002. Esta categoria de solo não é recomendada para agricultura em função da sua baixa fertilidade e do seu elevado teor de acidez, exigindo altos investimentos em práticas de correções que supram essa deficiência. As condições precárias de manejo se agravam nos lotes que estão localizados no noroeste do assentamento, já que não possuem estradas que cheguem até eles, e na época de chuva os mesmos alagam, ficando indisponíveis para qualquer uso. Portanto além dos problemas decorrentes da falta de recurso financeiro e assistência técnica por parte do órgão responsável, o assentamento ainda se depara com fatores ambientais não favoráveis. No âmbito social ocorreram algumas melhorias, como a implantação de rede elétrica e o funcionamento da escola de 1ºgrau, porém a assistência à saúde ainda é considerada insuficiente já que acontece apenas mensalmente e o assentamento não dispõe de uma unidade permanente e nem de pessoas que possam auxiliar em casos de emergência. Existem ainda problemas relacionados ao fornecimento de água em função da indisponibilidade de rede de distribuição. Se a análise de alguns aspectos dos assentamentos revela dimensões promissoras, no que se refere à melhora da infraestrutura, ficou evidente a precariedade da sua situação, indicando, por um lado, uma insuficiente intervenção do Estado no processo de transformação fundiária e, por outro, forte continuidade em relação à precariedade material que marca o meio rural brasileiro. Dessa forma espera-se que este estudo possa subsidiar outros projetos engajados no propósito nobre de promover melhorias para essa unidade rural. E para que problemas dessa ordem não continuem acontecendo é evidente a necessidade de que o estabelecimento de assentamentos como o Pericatu seja efetuado de forma estruturada, demarcando as áreas de preservação ambiental e garantindo o suprimento de material básico para o estabelecimento das residências e infra-estrutura, recomenda-se ainda o monitoramento das áreas onde foram realizados, para que alguns erros por ventura cometidos possam ser corrigidos a tempo de não prejudicar as famílias ali instaladas. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 81 5 Referências CARVALHO, J. I. L.; CALLADO, A. A. C. Reforma Agrária – Uma Nova Visão. Disponível em: < http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano/zipados/carvalho.pdf >. Acesso em: jul. 2006. IBGE – Unidade estadual do IBGE em Tocantins. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola: fechamento da Safra 2004/2005 junho e julho/2005. Palmas, 2005. INCRA - Instituto Nacional de colonização e Reforma Agrária-Sede Regional do Tocantins. Plano de Desenvolvimento do Assentamento Pericatu. Palmas, 2002. MELGAREJO, L. O desenvolvimento, a reforma agrária e os assentamentos – Espaço para contribuição de todos. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.2, n. 4, out/dez de 2001. Disponível em: < http://www.emater.tche.br/docs/agroeco/revista/ ano2_n4/revista_agroecologia_ano2_num4_parte14_artigo.pdf >. Acesso em: jul.2006. SIPRA – Sistema de Informação de Projetos e Reforma Agrária. INCRA. Palmas, 2006. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Foto: Roberto Carlos 82 Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 83 GESTÃO “Remuneração: do tradicional ao estratégico” Paulo César Romão Bomfim1 Resumo: O presente artigo tem como objetivo abordar as mudanças ocorridas referente ao processo de remuneração, salientando os seguintes assuntos: Sistemas Tradicionais de Remuneração, Remuneração Estratégica, Sistema de Remuneração Estratégica e Participação nos Lucros ou Resultados à Luz da Legislação. Foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica, apresentando a contribuição de alguns renomados autores que enfatizam a importância da evolução desse processo; para tanto, contribuindo com suas idéias e conceitos em consonância com um cenário voltado para a inovação e conseqüentes mudanças; ressalta também as características e necessidades de aperfeiçoamento dos Sistemas Tradicionais de Remuneração, reforçando a idéia do acompanhamento desses sistemas junto às transformações ocorridas nas empresas quanto ao contexto e a estratégia organizacional. Observa-se que o grande segredo no que diz respeito ao sistema de remuneração é peculiar a cada empresa, havendo necessidade de se avaliar a cultura, o negócio e a estratégia, apontando para qual tipo de pessoa está se referindo, para então adotar programas de remuneração dinâmicos e que evoluem à medida que o empregado ou colaborador progride. Palavras-chave: remuneração, estratégia, organização, recursos humanos. Abstract: The present article has as objective to approach the changes happened regarding the remuneration process, pointing out the following subjects: Traditional systems of Remuneration, Strategic Remuneration, System of Strategic remuneration and Participation in the Profits or Results to the Light of the Legislation. It was developed through he/she researches bibliographical, presenting the contribuRevista Integralização Universitária tion of some renowned authors that emphasize the importance of the evolution of that process; for so much, contributing with yours ideas and concepts in consonance with a returned scenery for the innovation and consequent changes; it also stands out the characteristics and needs of improvement of the Traditional systems of Remuneration, reinforcing the idea of the accompaniment of those systems close to the transformations happened in the companies with relationship to the context and the strategy organization. It is observed that the great secret in what says I respect to the remuneration system it is peculiar to each company, having need to evaluate the culture, the business and the strategy, pointing for which person type he/she is referring, for then to adopt programs of dynamic remuneration and that develop as the employee or collaborator progresses. Key-words: remuneration, strategy, organization, human resources. 1 Introdução Nos últimos anos, diante de pressões competitivas crescentes, os administradores foram procurando modernizar suas empresas. Administrar passou a ser parecido com surfar, aproveitando ao máximo cada onda de inovação gerencial para atingir patamares superiores de desempenho. Alguns olham com restrições para essa sucessão de novidades; porém, a verdade é que o momento de transformação que as empresas estão vivendo tem exigido dos administradores soluções rápidas e criativas e se, em muitos casos, o remédio pode provocar amargos efeitos colaterais, não há como negar que, de um jeito ou - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Graduado em Administração de Empresas (Universidade Estácio de Sá – UNESARJ), Pós-graduando em Gestão e Planejamento de Recursos Humanos (Faculdade Católica do Tocantins), Fiscal de Aviação Civil – DAC. 1 84 de outro, as empresas têm evoluído para modelos mais eficazes de gestão. Segundo Coopers e Lybrand (1997, p.81), “basta olhar ao redor para ver que as pesadas estruturas hierárquicas estão desaparecendo. Em seu lugar estão surgindo estruturas mais enxutas e flexíveis, nas quais cresce a autonomia dos grupos e dos indivíduos”. Dentro desse contexto de evolução e mudança, um dos mais importantes sistemas de apoio, o sistema de remuneração, parece não estar acompanhando o ritmo das transformações. A maioria das empresas, entre elas aquelas mais inovadoras, continua utilizando sistemas tradicionais de remuneração, baseado em cargos e funções. Vale ressaltar que não é apenas a remuneração que deve mudar, é claro. Em muitas empresas há uma crescente consciência da necessidade de repensar totalmente as formas tradicionais de fazer as coisas, uma revolução no local de trabalho. O enxugamento e as demissões, que são características tão proeminentes da paisagem corporativa, não podem mais ser vistos como soluções para problemas econômicos de curto prazo; pelo contrário, apelam para uma transformação fundamental na forma de pensar sobre trabalho e remuneração. De acordo com Flannery (1997, p.23), “dentre esses conceitos tradicionais que começam a ser abandonados, está a visão do trabalho de uma perspectiva gerencial científica, que o divide em suas respectivas partes e depois divide essas partes em especialidades e subespecialidades”. Isto quer dizer na prática que o departamento de recursos humanos tradicional continua a ser utilizado em muitas empresas. Dentro desse departamento há geralmente um departamento de benefícios e dentro do departamento de benefícios há subespecialistas, que lidam com benefícios de saúde, de aposentadoria e remuneração. Na pressa de mudar, muitas empresas desprezaram ou utilizaram mal o que poderia ser uma de suas mais eficazes ferramentas: a remuneração. Não importa que a remuneração possa ser uma força essencial no apoio à mudanças. O fato subsiste e, em muitas empresas, a remuneração tem sido largamente ignorada. Essa negligência, em grande parte, pode ser considerada culpada por não se compreender a mudança do papel dos salários e de seu impacto sobre as pessoas. Em face disso a remuneração não é apenas negligenciada, é também mal compreendida e freqüentemente mal aplicada; completamente fora de sincronia com os demais valores e processos da empresa. O motivo é claro: embora as empresas tenham sofrido mudanças drásticas, as estratégias para atribuir, administrar e implementar a remuneração estiveram, até recentemente, congeladas no tempo. Como resultado, a remuneração não está mais alinhada com a estrutura organizacional da empresa, sua cultura de trabalho, seus valores e sua estratégia de negócio, todas em evolução. Somente agora as pessoas estão começando a perceber que o salário no atual cenário de mudanças organizacionais deve Ter um papel muito mais significativo que no passado. O salário não pode mais ser visto como mera despesa e custo de fazer negócios, mas como um investimento intimamente ligado ao sucesso de um longo prazo da empresa. Uma estratégia de remuneração eficientemente projetada e cuidadosamente alinhada com certeza não tornará todos os funcionários felizes e satisfeitos, nem eliminará todos os problemas comportamentais de uma empresa. Essa estratégia, no entanto, auxiliará muito na melhora de desempenho e dos resultados. 2 Metodologia A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste artigo consistiu na adoção do método descritivo e a técnica utilizada foi de pesquisa bibliográfica em livros e internet como fontes de consulta sobre o tema. A natureza da pesquisa foi Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 85 qualitativa, tendo em vista a intenção de mostrar a evolução e mudança no contexto do sistema de remuneração, uma vez que se faz necessário o acompanhamento do ritmo das transformações ocorridas no cenário empresarial. A análise dos dados se deu em torno da interpretação de dados, onde foram observadas características relevantes através da comparação das informações obtidas, tendo sido elaborado relatório final de forma descritiva. 3 Desenvolvimento conceitual 3.1 Sistemas Tradicionais de Remuneração A maioria das empresas ainda aplica exclusivamente sistemas tradicionais de remuneração, baseados nas descrições de atividades e responsabilidades de cada função. Segundo Coopers e Lybrand (1997, p.83), A utilização de instrumentos como descrições de cargos organizacionais e planos de cargos e salários permite a muitas dessas empresas atingir a um patamar mínimo de estruturação na gestão de seus recursos humanos. Entretanto, quando aplicados a essa condição com a exclusão de outras formas, esses sistemas podem tornar-se destoante em relação às novas formas de organização do trabalho e ao próprio direcionamento estratégico da empresa. De acordo com Coopers e Lybrand (1997, p.8), os sistemas tradicionais de remuneração possuem as seguintes características: inflexibilidade, conservadorismo e divergência. 1 – Inflexibilidade: os sistemas tradicionais de remuneração tendem a tratar coisas diferentes de forma homogênea. Eles não consideram comumentemente as peculiaridades de empresas ou funções. 2 - Conservadorismo: os sistemas tradicionais reforçam a estrutura burocrática, privilegiando as ligações hierárquicas em detrimento do foco nos processos críticos e no cliente. Revista Integralização Universitária 3 - Divergência: os sistemas tradicionais não consideram a visão de futuro e a orientação estratégica da organização, dificultando a convergência de esforços para objetivos comuns. Apesar de todos os problemas aqui apontados, os sistemas tradicionais de remuneração podem ser aperfeiçoados. Muitas das desvantagens e dificuldades apontadas podem ser contornadas. Uma abordagem moderna da remuneração tradicional deve procurar: alinhamento do esforço individual com as diretrizes organizacionais; a orientação para o processo e para resultado; e o desenvolvimento contínuo do indivíduo. Conforme ressalta Flannery (1996, p.22), “não que as estratégias salariais tradicionais – programas que funcionaram tão bem por tanto tempo – tenham subitamente se virado contra nós. O que mudou foram os valores organizacionais, as culturas de trabalho e as estratégias de negócio”. Embora tenham sido largamente desprezados, mudanças drásticas nas regras empresariais tornaram ineficazes as estratégias tradicionais de remuneração. Atualmente espera-se que os empregados trabalhem em equipes e não individualmente. Espera-se que continuem aprendendo novas habilidades e assim papéis mais amplos, que corram mais riscos e assumam mais responsabilidades pelos resultados. Considerando que cada empresa e setor se encontrem passando por um conjunto específico de mudanças, Flannery (1996, p.24) destaca pelo menos seis que são comuns a quase todas as empresas. São elas: “tecnologias em rápida expansão, concorrência global crescente, demanda crescente por competências e capacidades individuais e empresariais, maiores expectativas dos clientes, ciclos cada vez mais curtos e mudanças nos requisitos pessoais”, entretanto, a forma como as empresas reagem a essas grandes mudanças varia de acordo com suas metas - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 86 e estratégias de negócio e com as mudanças que estão exercendo a maior “pressão” dentro de seu ambiente. Mas examinando cuidadosamente as estruturas, culturas e valores verá que de modo geral há quatro áreas primárias que as empresas focalizam com o objetivo de alcançar os resultados desejados. Essas quatro áreas de foco ou ênfase são: tecnologia, foco no cliente, flexibilidade e confiabilidade. A remuneração funcional, em sua forma tradicional, é reflexo de certa maneira de pensar a gestão dos negócios e dos recursos humanos. Essa maneira é adequada para determinado contexto estratégico e para alguns modelos de estrutura. Em um mundo com mudanças aceleradas, porém, talvez seja um risco alto demais manter um sistema desse tipo que apresenta uma série de contradições com as práticas gerenciais emergentes. 3.2 Sistemas de Remuneração Estratégica Como já mencionado, as profundas transformações que as empresas vêm sofrendo exigem novos sistemas de remuneração. Em ambientes caracterizados por formas modernas de organização de trabalho – como multifuncionalidade e poucos níveis hierárquicos – não faz sentido recompensar a contribuição individual ou coletiva apenas com base em descrições de atividades e definição de responsabilidades. Interessante resposta foi dada pelo Sr. Carlos Monnerat Rocha, presidente do Grupo de Permuta e Informações Salariais (GRUPISA/Rio), alguns dias antes da 9ª edição do Congresso Nacional de Remuneração. Ao ser indagado sobre o porquê da área de remuneração ter que passar por constantes mudanças, o Sr. Carlos afirmou que “o atual contexto empresarial, após a globalização, está e estará em constante mudanças, essa é a única certeza que temos. E isso reflete nos sistemas de gestão de pessoas e principalmente em remune- ração, pois trata-se da contra-partida que é sagrado na vida das pessoas”. Conforme afirma Coopers e Lybrand (1997, p.89), “a questão central é transformar a visão usual da remuneração como fator de custo em visão da remuneração como fator de aperfeiçoamento da organização, como impulsionador de processos de melhoria e aumento de competitividade”. A remuneração estratégica se torna uma ponte entre indivíduos e a nova realidade das organizações e ocorre de duas maneiras: 1 – No sentido de considerar todo o contexto organizacional, ou seja, de levar em conta as grandes categorias que dão forma e conteúdo à empresa, que são: a estratégia, a estrutura e o estilo gerencial. Além disso, a concepção de um sistema de remuneração estratégica parte não somente do que a empresa é hoje, mas também considera o que ela deseja ser amanhã (sua visão de futuro), e; 2 – À medida que os indivíduos passam a ser remunerados de acordo com o conjunto de fatores que afeta sua contribuição para o sucesso do negócio: características pessoais, características do cargo e vínculo com a organização. Além das atividades e responsabilidades, o projeto de um sistema de remuneração estratégica também considera: conhecimentos, habilidades, competências, desempenho e resultados. A remuneração estratégica é também um catalisador para a convergência de energias na organização. Segundo Coopers e Lybrand (1997, p.90) “à medida que o sistema de remuneração é alinhado ao contexto e à estratégia da empresa, constitui fator de harmonização de interesses, ajudando a gerar consenso e atuando como alavanca de resultados”. O Sistema de Remuneração é uma combinação equilibrada de diferentes formas de remuneração. Conforme afirmam Coopers e Lybrand (1997, p.90-1) Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 87 “a multiplicidade de formas de remuneração tem crescido devido à necessidade de encontrar maneiras criativas para aumentar o vínculo entre as empresas e seus funcionários”. As formas básicas, entretanto, mantém-se as mesmas, podendo ser classificadas em alguns grupos: 1 – Salário indireto: compreende benefícios e outras vantagens. A grande tendência neste caso é a flexibilização dos benefícios. Na forma mais tradicional, os benefícios variam de acordo com o nível hierárquico. Na forma mais flexibilizada, cada colaborador escolhe o “pacote” de benefícios de acordo com suas necessidades e preferências, com base nas alternativas disponíveis. A flexibilização minimiza o investimento da empresa em benefícios, proporcionando alocação mais racional de recursos em aumento de valor percebido pelo colaborador. 2 – Remuneração por habilidades ou por competências: é determinada pela formação e capacitação dos funcionários. Essas formas deslocam o foco do cargo ou função para o indivíduo. Os blocos de habilidades ou competências passam a determinar a base da remuneração. Essas formas também se aplicam preferencialmente a organizações que passaram por grandes processos de mudanças e adotam estruturas baseadas em grupos multifuncionais. Segundo SILVA (1996, p. 71), “engessar as pessoas nos cargos se torna inadequado, pois se o nível de contribuição é diferente de pessoa para pessoa, diferente também deveria ser a remuneração”. 3 – Remuneração variável: é vinculada a metas de desempenho dos indivíduos, das equipes ou da organização. Inclui a participação nos lucros e a remuneração por resultados. Conforme afirma Resende (1991, p.67), “há necessidade de melhorar o padrão dos salários, mas a única saída Revista Integralização Universitária que se apresenta não só como viável, mas também como oportuna, é a da remuneração variável baseada em ganhos de produtividade”. Tal fato justifica-se tendo em vista as limitações, dificuldades e peculiaridades da solução via salário nominal, distribuição de lucros imposto por lei e expansão dos benefícios. Havendo retomada do desenvolvimento dos negócios e empreendimentos, parte do problema deverá ser resolvido naturalmente, mas de maneira lenta. Cabe aos administradores de recursos humanos e de remuneração fazerem a sua parte, encontrando formas ou fórmulas de intensificar a prática da remuneração variável nas organizações. Vive-se a era da descontinuidade e, por isso, impõe-se adequar a remuneração aos ciclos da economia e aos custos e resultados das empresas. Os programas de remuneração variável propiciam mais justiça em relação à contribuição das pessoas e incentivam maior comprometimento e envolvimento delas com resultados da empresa. 4 – Participação acionária: é vinculada a objetivos de lucratividade da empresa e utilizada para reforçar o compromisso de longo prazo entre empresa e colaboradores. É algumas vezes utilizada como alternativa à participação nos lucros e a remuneração por resultados. 5 - Alternativas Criativas: incluem prêmios, gratificações e outras formas especiais de reconhecimento. Essas formas têm sido utilizadas com grande freqüência como apoio no esforço de construir um ambiente organizacional caracterizado pela convergência de esforços e energias voltadas para o atendimento de objetivos estratégicos. 3.2.1 Participação nos Lucros ou Resultados a Luz da Lei Com relação à participação nos lucros ou resultados que podem também ser incluídos no tópico que trata sobre - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 88 remuneração variável, segundo Corrêa (1999, p.23), “em nosso ordenamento jurídico, vem sendo previsto na Lei maior a Constituição Federal de 1946. Figurando também na Lei maior de 1967; a questão da participação nos lucros ou resultados encontra-se no atual texto da Constituição Federal de 1988, no art. 7º, inciso XI”. Corrêa (1999, p.23) descreve, “a Constituição Federal de 1988 trouxe importante alteração em relação aos textos anteriores, ao desvincular da remuneração dos empregados o benefício proporcionado pela participação nos lucros ou resultados”. No que tange à participação nos lucros ou resultados, essa matéria foi regulamentada por medida provisória, vale ressaltar que a medida tem força de lei e dessa forma elenca alguns tópicos importantes: 1 - Obrigatoriedade: em seu artigo 2º, obriga todas as empresas a convencionar com seus empregados, por meio de comissão por eles escolhida, integrada ainda por um representante indireto pelo sindicato dos trabalhadores, da respectiva categoria, a forma de participação daqueles em seus lucros ou resultados. 2 – Encargos e Tributos: em seu art 3º, explicita a não incidência de nenhum encargo social e trabalhista sobre os valores recebidos a título de participação, por este não complementar a remuneração ou salário devido a qualquer empregado, não constituindo, assim, base de incidência de encargo trabalhista ou previdenciário, nem se aplicando o princípio da habitualidade. 3 - Periodicidade: a periodicidade mínima permitida para a formação do montante a distribuir, a título de participação nos lucros ou resultados, é de seis meses, sendo vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores, em periodicidade inferior a um semestre. 4 – Critérios e Condições de Pagamento: os instrumentos resultantes da negociação deverão conter regras claras e objetivas quanto à forma de distribuição, sua participação, período de vigência, prazos para revisão, mecanismos de aferição do cumprimento do que foi acordado, sugerindo como critério e condição para a apuração da participação que se utilizem índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa, bem como programa de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. 5 – Comissão de Trabalhadores e Negociação: tudo tem que ser negociado. Na mesa de discussão, sentam-se de um lado os empresários e do outro a comissão de trabalhadores, constituída pelos representantes dos empregados e ainda um representante indicado pela entidade sindical representativa dos trabalhadores. 4 Conclusão Não há dúvida de que a remuneração deveria ter um papel importante no apoio aos valores organizacionais, estratégias de negócio e culturas de trabalho, todos em mutação. Uma estratégia de remuneração eficaz, embora freqüentemente desprezada, pode ser crucial para utilizar satisfatoriamente as forças da mudança e fazer a empresa avançar. No entanto, o segredo não é descobrir a mais recente, a mais inovadora ou mesmo a mais mecanicamente eficiente dessas soluções salariais. O segredo é primeiro avaliar a cultura da empresa e então alinhá-la com suas metas estratégicas: que tipos de pessoas ela quer? O que a empresa quer que eles façam? Somente após a empresa selecionar essas pessoas e identificar as metas e responsabilidades que delas se espera, poderá delinear programas de recompensas que proporcionem apoio e estímulo – não tendências ou modas - nos programas salariais dinâmicos, capazes de evoluir e mudar à medida que a empresa progride e se transforma. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 89 Acredita-se firmemente que a solução para a remuneração não reside em abandonar a antiga abordagem padronizada em favor de uma nova. Para serem vitoriosas, as empresas devem ter abordagens dinâmicas que misturem o conhecimento de remuneração desenvolvidos nos últimos 50 anos com as abordagens de ataque mais recentes. Mas antes, é preciso ajustar os programas de remuneração com suas necessidades, metas e culturas em transformação. A maioria dos empresários já reconheceram que, com a implantação do Plano Real e a abertura econômica trazendo a globalização da economia, a concorrência aumentou drasticamente e só tende a sobreviver quem realmente puder oferecer produtos ou serviços com qualidade e os preços competitivos. Esses objetivos não são alcançados num passo de mágica. É de extrema importância, sobretudo, motivar os funcionários, transformando cada empregado em cúmplice, na luta pela sobrevivência. A participação nos lucros ou resultados surge como modelo mais evoluído de relacionamento entre capital e trabalho. Pois, além de incentivar os funcionários a entrar na luta por maior eficiência, qualidade, corte de desperdícios e obtenção de melhorias de curto, médio e longo prazo, tornando-os parceiros do crescimento continuado da empresa; também os consumidores finais têm a ganhar com a entrega de melhores produtos e serviços. RESENDE, Ênio J. Cargos, Salários e Carreira: Novos Paradigmas Conceituais e Práticos. São Paulo: Summus, 1991. SALÁRIOS E BENEFÍCIOS, Congresso enfoca remuneração, Boletim RH Maio 2005, disponível em< http//www.rh.com.br.> Acesso realizado em 06 mai. 2005. SILVA, Fernando Antônio, Administrando Pessoas: reflexões do cotidiano de um executivo de recursos humanos. São Paulo: Negócios, 1996. 5 Referências CORRÊA, Waldir Evangelista. Participação nos lucros ou resultados: uma metodologia Inteligente Aplicável. São Paulo: Atlas, 1999. COOPERS & LYBRAND, Equipe. Coordenador: Vicente Picarelli Filho. Remuneração por Habilidades e Competências. São Paulo: Atlas, 1997. FLANNERY, Thomas P. Pessoas, Desempenhos e Salários: as mudanças na forma de remuneração nas empresas. Tradução Bazán Tecnologia e Lingüística. São Paulo: Futura, 1997. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Foto: Kleiber Arantes 90 Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 91 GESTÃO A importância da qualidade da informação para as organizações Suzana Gilioli da Costa Nunes1 Resumo: a Revolução da Qualidade em produtos e serviços já está consolidada e bastante difundida em todos os tipos de empresas. Mas, muito se tem ainda para conquistar no campo das informações. Perdas incalculáveis ocorrem o tempo todo devido à má qualidade da informação que é utilizada pelas empresas. Considerando-se a importância da qualidade para a empresa em todas as suas áreas e atividades, e a preocupação, cada vez maior, em satisfazer o cliente, é necessário que as empresas comecem a dar maior importância às informações que fluem dentro da empresa e que são utilizadas no seu dia-adia. O artigo discute a preocupação atual das empresas em relação à Qualidade da Informação. Palavras-Chaves: Produtos e Serviços; Cliente; Qualidade da Informação. Abstract: the Quality Revolution at products and services is consolidated and enough publish at all kind of companies . but, there are a lot to conquest at information area. Incalculables loss are present all the time due to the bad quality of information utilized by the companies. If the importance of the quality for the company is considered at all areas an activities, and the increasing preoccupation to satisfy the client, it is necessary that the companies start to give more importance to the information that runs in the company and are used day by day. The article discuss the present trouble of the companies about the information quality. Key-Words: Products and Services; Client; Information Quality. 1 Introdução O movimento da qualidade no Brasil cresceu nos últimos anos com a adesão de empresas de todos os setores, indepenRevista Integralização Universitária dentemente do seu tamanho e da origem do seu capital. Hoje, qualidade é um conceito importante para todos os segmentos da sociedade, os quais a definem de diversas maneiras. Temos números que demonstram a busca pela Gestão da Qualidade pelas Empresas. Por outro lado, a informação é uma ferramenta de gestão, imprescindível para a rotina e tomada de decisões na empresa. Sem informações não é possível se ter uma gestão eficiente. Mas será que as organizações estão preparadas para lidar com um volume cada vez mais significativo de informações? Esta preocupação com a Qualidade se estende também às informações? A união desses dois conceitos será o tema desse estudo. Na busca dessas respostas, fez-se uma Revisão Bibliográfica dos conceitos envolvidos e buscou-se analisar o estado atual de estudos sobre o assunto. 2 Conceito de qualidade Para início do estudo, é necessário conceituar o termo “qualidade”. Não se conhece nenhuma definição curta que mereça a aprovação de todos os especialistas sobre o que significa qualidade. A palavra qualidade tem então, vários significados. Tecnicamente, qualidade é definida na norma NBR ISO 8402:1994 como “a totalidade de características de uma entidade que lhe confere a capacidade de satisfazer as necessidades explícitas e implícitas”. Paladini (1990, p.26) comenta que o fato de existirem diversas abordagens e, por decorrência, muitos conceitos de qualidade, não se constitui entrave à sua compreensão, embora cause alguns conflitos quando de sua aplicação prática. Na maioria dos casos, isso ocorre porque as áreas da empresa têm visão parcial da questão. - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Mestre em Gestão da Qualidade Total – UNICAMP, Coordenadora e Professora da Católica do Tocantins e da Universidade Federal do Tocantins. 1 92 Já Juran (1990, p.16) diz que 3 Conceito de informação chegar a um acordo sobre o que se entende por qualidade não é simples. (O dicionário traz cerca de uma dúzia de definições). Para os gerentes, nenhuma definição sucinta é realmente precisa, mas uma dessas definições obteve larga aceitação: qualidade é adequação ao uso. A globalização revolucionou o mundo e os padrões, e a informação passou a ser considerada um capital poderoso, equiparando-se aos recursos de produção, materiais e financeiros. O que tem sido relevante é a mudança fundamental no significado que a informação assume na nova realidade mundial de uma sociedade globalizada: agora a informação não é apenas um recurso, mas o recurso. A aceitação desta idéia a coloca como recurso-chave de competitividade efetiva, de diferencial de mercado e de lucratividade nessa nova sociedade. A importância da informação para as organizações é universalmente aceita, constituindo, senão o mais importante, pelo menos um dos recursos cuja gestão e aproveitamento estão diretamente relacionados com o sucesso desejado. A informação também é considerada e utilizada em muitas organizações como um fator estruturante e um instrumento de gestão. Portanto, a gestão efetiva de uma organização requer a percepção objetiva e precisa dos valores da informação e do sistema de informação. É importante tratar com grande rapidez as informações. Oferecer informações agrupadas de maneira inteligente e em tempo hábil pode significar a diferença entre o ganho e a perda de cliente e mercado. Basicamente, a informação tem duas finalidades: para conhecimento dos ambientes interno e externo de uma organização e para atuação nestes ambientes (CHAUMIER, 1986). Saracevic (1999) ressalta que informação tem uma variedade de conotações em diferentes campos. Em alguns campos, incluindo a ciência da informação, a noção de informação está geralmente associada a mensagens. Nesse sentido, existe um grande número de interpretações que são assumidas em diferentes abordagens teóricas e práticas para o tratamento da informação. Barreto (1996) define o termo informação da seguinte maneira: estruturas Sobre esta definição de qualidade dada por Juran, Paladini (1997, p.16) comenta: Provavelmente, não se conseguirá definir qualidade com tanta propriedade e com tão poucas palavras. Deste conceito surge um fato concreto: apesar da variedade muito ampla de conceitos com a qual é definida, entendida ou praticada, a qualidade deve ser sempre definida de forma a orientar-se para seu alvo específico: o consumidor. Para se definir qualidade de modo que seja útil na administração, reconhecese a necessidade de incluir na avaliação as verdadeiras exigências do “cliente” - suas necessidades e expectativas. Qualidade então, é simplesmente o atendimento das exigências do cliente e isso tem sido expresso de muitas maneiras por outros autores: a) “adequação à finalidade ou uso” (JURAN, 1990); b) “a totalidade dos aspectos e características de um produto ou serviço, importantes para que ele possa satisfazer as necessidades exigidas ou implícitas” BS – 4778, 1987 (ISO 8402, 1994) – Vocabulários da Qualidade: Parte I – Termos Internacionais; c) “a qualidade deve ter como objetivo as necessidades do usuário, presentes e futuras” (DEMING, 1990); d) “o total das características de um produto e de um serviço referentes a marketing, engenharia, manufatura e manutenção, pelas quais o produto ou serviço, quando em uso, atenderá às expectativas do cliente” (FEIGENBAUM, 1994); e) “conformidade com as exigências”. (CROSBY, 1992) Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 93 significantes com a competência de gerar conhecimento no indivíduo, em seu grupo, ou na sociedade. Trata-se de um conceito muito interessante, devido à profundidade e abrangência alcançadas. O objetivo principal da informação é informar. Muitas empresas hoje se esquecem disso, preocupando-se muito mais com a tecnologia que com a informação em si. Informação são dados dotados de relevância e propósito. Para que seja entendido esse conceito, recorre-se à distinção entre dados, informação e conhecimento, que leva a compreensão da informação como parte da evolução de um processo, como mostra a Tabela: Quadro 1 – Comparação entre dados, informação e conhecimento. Algumas definições foram dadas também por Karl Albrecht (1999, p.108) em seu artigo “A 3ª Revolução da qualidade”: a) Dados: átomos de matéria-prima a ser trabalhada pelo homem. É o nível simbólico irredutível, no qual a codificação alfanumérica permite transportar a matéria-prima de um lado para outro, como tantos grãos ou sacos de arroz. Os dados são inertes. São granulares. Podem ser armazenados e transportados a despeito de seu significado. b) Informação: disposição dos dados de modo que faça sentido, criando padrões e ativando significados na mente das pessoas. São as palavras, as ilustrações e os sons, em lugar de grãos de dados. As Revista Integralização Universitária informações são dinâmicas. Existem no nível da percepção humana. c) Conhecimento: conteúdo de valor agregado do pensamento humano, derivado da percepção e manipulação inteligente das informações. Os conhecimentos são transcendentes. Existem apenas na mente do pensador. São a base de ações inteligentes. A administração informacional envolveu quatro “fluxos” de informação em uma organização moderna: a) informação não-estruturada; b) capital intelectual ou conhecimento; c) informação estruturada em papel; d) informação estruturada em computadores. A mais utilizada pelas empresas e a estudada neste trabalho é a “informação estruturada em computadores”. Conforme Davenport (1998), a importância do envolvimento humano aumenta à medida que se evolui por esse processo dados-informaçãoconhecimento. A informação só será útil para a empresa se for bem administrada. A informação e o conhecimento das pessoas da organização são as fontes mais valiosas para gerar uma vantagem competitiva no mercado globalizado. O gerenciamento informacional é um conjunto estruturado de atividades que incluem o modo como as empresas obtêm, distribuem e usam a informação e o conhecimento. Davenport (1998) descreve o processo de gerenciamento da informação da seguinte forma: Figura 1 – Processo de Gerenciamento da informação. Fonte: adaptado de Davenport (1998). - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 94 Eduardo Amadeu (2000), em seu artigo, diz que o ponto principal é perceber a informação pertencendo a dois domínios. No primeiro deles, ela deve atender às necessidades de uma pessoa ou de um grupo. Nesse caso, a disponibilização da informação deve satisfazer os seguintes requisitos: a) ser enviada à pessoa ou ao grupo certo; b) na hora certa e no local exato; c) na forma correta. O segundo domínio é o da organização, que introduz questões a respeito da determinação do valor da informação. Nesse contexto, o valor da informação está relacionado ao seu papel no processo decisório. custos, rapidez no processo de tomada de decisão. O uso de recursos computacionais ainda deve assegurar que: a) os dados primários são corretamente coletados e armazenados; b) o processamento dos dados está adequado às necessidades da organização; c) os resultados fornecidos colaboram com o crescimento da organização. d) os resultados fornecidos estão aptos a formarem a base necessária para apoiar o processo decisório; e) acrescenta melhorias nos controles administrativos e organizacionais. 4 Sistemas de informação Dentro dos estudos da Ciência da Informação, a Qualidade já é ponto importante há algum tempo. Prova disso foi a realização de um seminário em Copenhagem-Dinamarca, em 1989, promovido pelo Nordic Concil for Scientific Information and Research Libraries (Nordinfo), no qual destacou-se sua importância para os praticantes da ciência da informação. Diante da necessidade de pesquisa para este artigo, foi verificada grande escassez de bibliografia para este tema. Foi de grande contribuição a leitura de um artigo publicado por Nehmy e Paim (1998), com título “A desconstrução do conceito de ‘qualidade da informação’”. Neste artigo os autores fazem um estudo bastante aprofundado sobre esse conceito, relatando dificuldades encontradas, vagueza da noção, salientando a importância de maiores estudos sobre o tema. No artigo vários autores manifestam-se em relação à dificuldade de conceituação do tema: a) Ginman (1990, p.18) ratifica essa percepção quando diz: “Não há definição geralmente aceita sobre qualidade da informação. Para muitas pessoas o conceito tem aspectos vagos e subjetivos”. b) Wagner (1900, p.69), propõe-se Por Sistema da informação (SI) considera-se o sistema de organização responsável pela recolha, tratamento, armazenamento e distribuição da informação relevante para a organização, com o propósito de facilitar o planejamento, o controle, a coordenação, a análise e a tomada de decisão ou ação em qualquer tipo de organização. É um determinado tipo de sistema que possui um processo de captação de dados que são submetidos a um processamento que resultam em uma série de informações de saídas. Um Sistema de Informações não está, necessariamente, relacionado com o uso de computadores. Para Djalma de Pinho (2002), Sistemas de Informações Gerenciais (SIG) é o processo de transformação de dados em informações que são utilizadas na estrutura decisória da empresa, proporcionando, ainda, a sustentação administrativa para otimizar os resultados esperados. Podese ter um SI eficiente utilizando meios manuais. O uso de tecnologias e recursos computacionais poderão proporcionar as seguintes vantagens: confiabilidade das informações, vantagens competitivas, aumento da produtividade, redução de 5 Qualidade da informação Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 95 a realizar um balanço dos estudos teóricos sobre qualidade da informação e faz a seguinte declaração: Há um problema de terminologia. O valor da informação e não a qualidade é o conceito preferido como se vê em valor de uso da informação, valor agregado da informação e valor de troca da informação. De outro lado, o uso do termo ‘qualidade da informação’ é escasso na literatura. Nehmy e Paim (1998) reuniram comentários e impressões de alguns autores, conceituando o termo, citados a seguir. Marchand (1990) identifica cinco tendências de definição do conceito na literatura: abordagem ‘transcendente’; abordagens baseadas ‘no usuário’, ‘no produto’, e na ‘produção’; abordagem da ‘qualidade como um dos aspectos do valor’. As duas grandes linhas de pensamento dominantes na ciência da informação são: vertente que enfatiza o produto (informação enquanto coisa) e a centrada no usuário (abordagem subjetiva). Detalhando os conceitos propostos por Marchand, tem-se: a) Abordagem ‘transcendente’: tende a perceber o valor da informação como absoluta e universalmente reconhecido. b) Abordagem ‘baseada no produto’: é compreendida pelo autor como a abordagem que tende a ver a qualidade da informação em termos precisos e identificáveis, sendo seus atributos passíveis de serem mensurados e quantificados. c) Abordagem ‘baseada no usuário’: entram em jogo, no julgamento da excelência, as particularidades individuais. Assim, os tipos e fontes de informação que mais satisfizessem o usuário seriam as consideradas de melhor qualidade. d) Abordagem ‘baseada na produção’: tende a ver quase sempre a qualidade como adequação a padrões estabelecidos de necessidade de informação do consumidor. Desvios em relação aos padrões significariam redução da qualidade da informação. Revista Integralização Universitária e) Abordagem da ‘qualidade como um dos aspectos do valor’: toma a qualidade enquanto um dos atributos do valor. Conforme Marchand, as cinco abordagens da qualidade da informação oferecem somente uma visão parcial e por vezes vaga dos elementos básicos da qualidade da informação. Em uma tentativa de superar as limitações destas abordagens, sugere uma tipologia da qualidade da informação, desagregando o conceito em oito dimensões inter-relacionadas: valor real, características suplementares, confiança, significado do tempo, relevância, validade, estética e valor percebido. Em todos os modelos propostos, foram verificados problemas teórico-metodológicos a permear a questão da qualidade da informação. Dilermando Piva (1998), em seu artigo, cita a grande importância da boa qualidade das informações no mundo empresarial. Salienta ainda, que quanto mais dependente de informação uma empresa se torna, maior deve ser a garantia de uma boa qualidade dessas informações. Com isso, as empresas precisam avaliar as informações periodicamente. De acordo com Bio (1996) as informações gerenciais de qualidade caracterizam-se por ser: a) Comparativas: especialmente quando as informações refletem a comparação dos planos com a execução. No entanto, quando não é viável tal tipo de comparação (planejado x real), é melhor alguma forma de comparação que possa ao menos refletir tendências: por exemplo, comparações com períodos anteriores (mês, ano etc.). b) Confiáveis: informações completamente distorcidas podem ser mais prejudiciais do que a falta completa de informações. O usuário precisa acreditar na informação para se sentir seguro ao decidir. c) Geradas em tempo hábil: Uma informação, especialmente, se voltada para o controle, deve estar tão próxima do acontecimento quanto for possível, para que haja tempo para efetuar as correções - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 96 cabíveis no planejamento ou na execução. d) De nível de detalhe adequado: As informações devem aparecer num nível de pormenores adequado ao nível do usuário, sem apresentar nada de irrelevante e tampouco um grau de síntese excessivo com relação ao seu interesse. e) Por exceção: ressaltar o que é relevante, destacar as exceções. Karl Albrecht (1999), em seu artigo, salienta a importância da qualidade da informação. Mais que isso, diz que já se passou ou passando pela revolução da qualidade de produtos e serviços. Esta continuará acontecendo, mas outra que está a caminho é a revolução da qualidade da informação. Destaca a importância de se unir forças para melhorar essa qualidade. Um dos pontos bastante destacados por Albrecht é em relação aos custos elevadíssimos resultantes dos defeitos ou erros de manipulação das informações. A redução de custos relativos à informação poderia apresentar uma grande oportunidade de aumento no retorno do investimento de várias empresas. O autor cita ainda diversos exemplos que ilustram as conseqüências da má qualidade da informação: a) 120 mil americanos morrem todos os anos por erro de diagnóstico, tratamento ou medicamento. Quem sabe o custo real desse problema de qualidade da informação? b) Scanners instalados em pontosde-vendas em milhares de supermercados, lojas de departamento e várias outras lojas registram preços incorretos com uma freqüência que varia de 1% a 3%, em virtude de erros na base de dados ou defeitos do scanner. Isto significa milhões de registros de preços errados e outros tantos milhões de dólares perdidos. c) 25% dos contribuintes norte-americanos que telefonam para a Receita Federal do EUA (IRS) pedindo informações, recebem informações erradas a respeito das regras da declaração de impostos e, possivelmente, fazem sua declaração de acordo com as instruções que lhe são dadas. O custo dessa falha de informação é incalculável. O descaso com as informações muitas vezes fazem parte de nosso dia-a-dia. Recebem-se e passam-se informações incorretas todos os dias. O quanto se perde com isso? É necessário que sejam reduzidas a produção indisciplinada e duplicação de informações. Karl Albrecht (1999) propõe um processo de quatro fases para empresas que queiram se comprometer seriamente com a Garantia da Qualidade da Informação: a) Avaliação: identificação dos problemas críticos e oportunidades relativas à qualidade da informação. Envolve uma revisão sistemática e uma análise de todos os principais processos do negócio, incluindo o comportamento do funcionário com relação à informação, à identificação de atividades de alto custo ou alto volume e à estimativa do custo da qualidade da informação. b) Priorização da mudança: Seleção dos problemas e oportunidades relativos à qualidade da informação que darão maior retorno aos recursos investidos para abordá-los. Incluem-se aí sistemas de computação, fluxos de processo, práticas de trabalho e desenvolvimento de habilidades necessárias dos funcionários. c) Redesenho e “retreinamento”: alteração de sistemas, processos e práticas, bem como auxílio às pessoas que os usam para aprender e capitalizar as melhorias. Esse estágio pode também propiciar benefícios e redução de tempo do ciclo. Muitas intervenções envolverão a participação de funcionários, bem como treinamento e convencimento para apoiar novos padrões de comportamento com re- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 97 lação à informação. d) Reintegração: tornar menos perceptíveis as ligações e os limites entre os vários processos de negócio. Esse é processo sem fim, que abrange o enxugamento, a simplificação e a integração dos processos e comportamentos para alinhá-los cada vez mais com a meta do negócio. Termina seu artigo exaltando que “os prejuízos reais causados à economia de todos os países por causa de informações errôneas ou falhas nos processos são, em última análise, imponderáveis”. 6 Considerações finais No presente artigo foi apresentado um fator de extrema importância para a determinação do sucesso ou fracasso de uma empresa: a informação. Nos tempos atuais, a quantidade de informações está aumentando rapidamente. Mas, muitas vezes, em muitas empresas, a qualidade dessa informação não é preocupação primordial. A utilização de informações sem qualidade traz para as empresas inúmeros problemas, dos mais simples aos mais catastróficos. Uma das principais conseqüências é em relação à imagem e à confiabilidade da empresa no mercado em que atua. É necessário que as empresas se preocupem com as informações que fluem de dentro de seus departamentos, pois são instrumentos de trabalho e devem também passar por uma Revolução da Qualidade. Pelo estudo feito, pode-se considerar que pouco se tem estudado sobre Qualidade da Informação. Muito se tem falado sobre Qualidade de Produtos e Serviços, porém a Qualidade da Informação, devido à sua importância, é um campo aberto para um estudo mais detalhado e abrangente. Ainda tem-se uma grande carência, tanto em relação a empresas que se preocupam com esse campo, tanto em relação a estudos que aprofundem melhor esse tema. Revista Integralização Universitária 7 Referências ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Gestão da qualidade e garantia da qualidade - Terminologia. NBR ISO 8402, dez./1994. ALBRECHT, Karl. A 3ª revolução da qualidade. Revista HSM Management, n. 17, ano 3, p.108, nov./dez., 1999. BARRRETO, Aldo de A. A eficiência técnica e econômica e a viabilidade de produtos e serviços de informação. Disponível em < http://www. alternex.com.br/~aldoibct/pesquisa/ >. Acesso 10 mar. 1996. BIO, Sérgio Rodrigues. Sistemas de informação: um enfoque gerencial. ����������������������� São Paulo; Atlas, 1996. BONOMA, Thomas V. Case Research in Marketing: Opportunities, Problems, and Process. Journal of Marketing Research, Vol XXII, May, 1985. CHAUMIER, J. Systemes d’information: marché et technologies. Pariss: Enterprise Moderne, 1986. CROSBY, Philip B. Qualidade é investimento: a arte de garantir a qualidade. 5. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1992. DAVENPORT, Thomas H. 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Francisco Ferreira Dantas Filho1 Magna Sueli Barros Dantas2 Resumo: Neste trabalho foi estudado o desempenho de um reator anaeróbio de fluxo ascendente com manta de lodo (UASB) no tratamento de líquido lixiviado advindo de processos de bioestabilização de resíduos sólidos de origem vegetal, conjuntamente com esgotos domésticos, ambos os substratos, provenientes da cidade de Campina Grande - PB. O experimento foi instalado e monitorado nas dependências da Estação Experimental de Tratamento Biológico de Esgotos Sanitários (EXTRABES) da Universidade Federal da Paraíba, localizado no bairro do Tambor, na cidade de Campina Grande. O reator UASB com capacidade de 600 L, vazão de 1440 L/dia e TDH de 10 horas se manteve em operação por um período de 170 dias proporcionando uma carga orgânica volumétrica específica variando de 2,3 a 4,62 kg /m3.dia. O experimento foi realizado em três fases. Verificou-se, durante o experimento, a eficiência de remoção de matéria orgânica (DQO) de 70, 73 e 72% durante as três fases. Os resultados mostraram que a alcalinidade a bicarbonato da mistura (esgotos mais lixiviado) é suficiente para manter o sistema tamponado, não ocorrendo, portanto, colapso do reator, e o pH manteve-se próximo de 7. Portanto, tratar líquido lixiviado com esgotos domésticos utilizando reator tipo UASB é uma prática, técnica e economicamente viável, podendo contribuir para a redução dos impactos sociais e ambientais, originados da disposição inadequada de resíduos sólidos e líquidos. Palavras-chave: Esgoto doméstico, líquido percolado, reator UASB. Abstract: In this work it was studied the Revista Integralização Universitária performance of a upflow anaerobic sludge blanket in the treatment of liquid happening percolate of processes of bio-stabilization of solid residues typically vegetables jointly with domestic sewers, both substrata, coming of the city of Campina Grande - PB. The experimental system was installed and monitored at the Experimental Station for Biological Treatment of Sanitary Sewages (EXTRABES) of Federal University of Paraíba, located at Tambor, Campina Grande. The reactor UASB with capacity of 600 L, flow of 1440 lite rs / day and hydraulic retention time of 10 hours stayed in operation for a period of 170 days with a specific organic volumetric loading varying from 2,3 to 4,62 kg /m3.dia. The experiment was accomplished in three phases. During the experiment, the efficiency of removal of organic matter (COD) of 70, 72 and 73 % during the three phases, as well as the other parameters. The results showed that the alkalinity to bicarbonate of the mixture (sewers more percolate) it is enough to maintain the system stable, not happening, therefore, collapse of the reactor, and the pH stayed close of 7. Therefore, to treat liquid percolate with domestic sewers using reactor type UASB is a practice, technical and economically viable, could contribute to the reduction of the social and environmental impacts, happening of the inadequate disposition of solid and liquid residues. Key Words: Domestic sewers, liquid percolate, reactor UASB. 1 Introdução O crescente processo de urbaniza- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Doutorando em Química - UnB. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA UFPB/UEPB(2003), Pós graduação em estudo político e estratégico (ADESG), Graduado em Química –UEPB. 1 Magna Sueli Barros Dantas. Mestranda em contabilidade Ambiental, Especialista em gestão de custo, Bacharel em Ciências Contábeis,. Professora da Faculdade Católica -TO 2 100 ção nas cidades brasileiras, as mudanças de hábitos da sociedade contemporânea e o desenvolvimento tecnológico, entre outros, têm contribuído sobremaneira para o crescente consumo de bens e produtos, conseguindo aumentar assustadoramente, nesses últimos trinta anos, a taxa de geração dos resíduos sólidos urbanos nas pequenas, médias e grandes cidades brasileiras. Esses resíduos gerados vêm causando impactos negativos ao meio ambiente, destacando-se a poluição das águas superficiais e subterrâneas, devido à produção de percolado advindo dos lixões e aterros sanitários. O líquido percolado, gerado do processo de bioestabilização anaeróbia dos resíduos sólidos contém, geralmente, produtos da decomposição do material orgânico, tais como: ácidos voláteis, material amoniacal, sólidos dissolvidos, além de metais pesados e outros constituintes tóxicos. A cidade de Campina Grande, localizada no Planalto da Borborema no Estado da Paraíba, com uma população de 360 mil habitantes, produz diariamente cerca de 200 toneladas de resíduos sólidos urbanos. Desse total, uma fração é coletada regularmente e disposta em lixões (assim denominado por falta de condições sanitárias mínimas exigidas pela NBR 84/9 da ABNT, 1984). A outra fração não coletada é disposta em terrenos baldios, canais e vazadouros, proporcionando assim a contaminação dos solos e, sobretudo dos recursos hídricos, constituindo uma ameaça à saúde pública. (Lopes, 2000) Numa cidade média do nordeste do Brasil, um habitante produz diariamente cerca de 500 gramas de resíduos sólidos urbanos e 100 litros de esgotos. Uma prática ecologicamente sustentável será tratar conjuntamente os resíduos sólidos e líquidos numa mesma estação de tratamento. Dos 500 gramas de resíduos urba- nos produzidos, um quarto se apresenta na forma de matéria orgânica (125g), desta fração 30% corresponde à DQO. Teoricamente esta DQO (40g) submetida a tratamento anaeróbio produziria cerca de 10 gramas de metano e cinco litros de líquido percolado gerados do próprio processo de bioestabilização. Assim sendo, faz-se necessário buscar alternativas tecnológicas de baixo custo para o tratamento do líquido percolado produzido na bioestabilização anaeróbia da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos, que geram produtos indesejáveis. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo tratar o líquido percolado gerado na degradação dos resíduos orgânicos, juntamente com esgotos sanitários. 2 Material e métodos O sistema de tratamento constituise de duas unidades: a primeira compreende de um reator anaeróbio de Batelada, que trata a fração orgânica putrescível dos resíduos sólidos urbanos, gerando percolado. A Tabela 1 apresenta as características deste reator. Tabela 1 : Características físicas e operacionais do reator de batelada. Já para a segunda unidade tem-se um reator tipo UASB, com capacidade unitária de 600 litros, fabricado totalmente em resina de poliéster, reforçado com fibra de vidro com espessura mínima de 1,5mm e equipado com aletas para o separador de fases, e suporte metálico, conforme mostra a Figura 1. As principais características físicas e operacionais do reator UASB estão apresentadas na Tabela 2. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 101 Tabela 2: Características físicas do reator UASB Para a alimentação do reator UASB utilizou-se líquido percolado advindo da primeira unidade (reator anaeróbio em batelada que trata o material orgânico putrescível). O efluente produzido era encaminhado para um tanque de equalização que recebia esgotos sanitários e líquido percolado. A mistura era bombeada para o reator UASB, através de bomba peristáltica. A vazão aplicada foi de 1440 litros por dia para todas as fases do trabalho. Para o controle operacional do processo de digestão anaeróbia, durante o período de monitoramento do reator, acompanharam-se os seguintes parâmetros: alcalinidade total e a bicarbonato, ácidos voláteis, temperatura e carga aplicada (Formas de nitrogênio e DQO). As duas determinações iniciais foram efetuadas pelo método de Kapp (1998), os demais parâmetros foram determinados pelo APHA (1995). Figura 1: Representação esquemática do reator UASB Revista Integralização Universitária O reator UASB foi inoculado com 200 L de lodo anaeróbio advindo do reator UASB que tratava esgotos sanitários. O lodo apresentava concentração de 60mg/L de ST com 65% de Sólidos Voláteis Totais. O reator foi monitorado por um período de 170 dias, dividido em três fases distintas. Como o reator UASB dependia da produção de percolado do primeiro reator, as fases foram determinadas em função do reator de batelada. Na partida do reator UASB a carga aplicada foi de 2,3 Kg DQO / m³. dia. Como a carga dependia da produção do percolado, à medida que o tempo passava diminuía a concentração do líquido percolado, chegando aos setenta dias a uma carga de apenas 0,62 kg DQO / m³, caracterizando assim a primeira fase. Similarmente foram determinadas as fases seguintes, conforme especificado na Tabela 3. Tabela 3: Fases, períodos de operação e carga aplicada. 3 Resultados Na Tabela 03 são apresentados os valores médios e o desvio padrão dos parâmetros: alcalinidade total e a bicarbonato, ácidos voláteis, DQO, DBO5, sólidos voláteis e sólidos sedimentáveis de vinte, dezoito e dez determinações da primeira, segunda e terceira fases, respectivamente, de operação do reator UASB, durante 170 dias monitorado à temperatura variando de 25 a 34 ºC . Os sólidos voláteis totais (SVT) afluentes, nas três fases de operação, mantiveram-se na média 720, 890 e 930 mg. L-1, respectivamente (Tabela 3). Estes valores são de duas a três vezes maiores do que a concentração dos sólidos voláteis de esgoto forte apresentados por Metcalf & Eddy, 1997. - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 102 Já com relação aos sólidos voláteis efluente, estes permaneceram na média de 270, 290 e 286 mg. L-1. Valores similares foram encontrados por Sousa (2000) tratando esgotos sanitários em reator UASB com tempo de detenção hidráulica de 6 horas.. _ Tabela 03 - Valores médios ( x ) desvio médio ( ) de 20, 18 e 10 determinações de parâmetros durante as três fases de operação do reator. AT: alcalinidade total; AB: alcalinidade a bicarbonato 4 Estabilidade Operacional do reator UASB Os parâmetros que foram monitorados durante o período de operação do reator UASB foram: pH , temperatura, alcalinidade total e a bicarbonato e concentração de ácidos graxos voláteis, sendo estes parâmetros indicativos da estabilidade operacional. Já com relação à carga orgânica foram determinados: demanda química de oxigênio e demanda bioquímica. Na digestão anaeróbia, durante o catabolismo fermentativo, alguns requisitos são necessários para que o processo ocorra adequadamente. Nesse sentido, no experimento usou-se esgoto sanitário para que se mantivesse um pH próximo do neutro, que é um requisito fundamental, pois o pH interfere na taxa de crescimento das bactérias que participam na digestão anaeróbia. Figura 2: Comportamento do pH afluente e efluente, durante o período de operação do reator. A Figura 2 apresenta o valor médio do pH afluente e efluente a cada dez dias de operação do reator UASB. Observa-se que durante a primeira fase de operação o pH manteve-se em torno de 7,0 e o efluente produzido apresenta pH variando de 7,2 a 7,7. Já no início da segunda fase, com carga de 3,07 kg.m-3.dia-1 , o pH afluente se manteve próximo a 6,5 e o efluente um pouco abaixo de 7,0. Finalmente na última fase, quando o reator UASB foi operado com maior carga, o pH afluente decresceu nos primeiros dias mantendo-se durante quase toda a fase com pH maior que 7,0. De uma forma geral, durante as três fases nas proporções de 1, 5 e 10% do líquido percolado na mistura com esgotos, o pH se manteve próximo de 7, valor este considerado favorável para as bactérias acetogênicas e metanogênicas. (Gujer e Zehnder, 1983) A grande quantidade de esgotos sanitários usados na mistura garante um pH ideal para evitar um colapso do reator. As populações de bactérias presentes no reator devem ser mantidas no sistema de forma que, à medida que ocorre a geração de ácidos voláteis na mesma velocidade, esses produtos formados sejam utilizados pelas bactérias metanogênicas hidrogenotróficas e acetotróficas (Moosbrugger e outros, 1993; van Haandel e Lettinga, 1994; Chernicharo, 1970). Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 103 Uma outra vantagem da presença de esgotos na mistura utilizada é a capacidade de tamponamento, os esgotos sanitários mantêm os sistemas carbônico (CO2-HCO3--CO3-2), amônia, fosfato, sulfato e ácidos graxos voláteis, resistentes à variação de pH. A Figura 03 apresenta o comportamento da concentração afluente e efluente de alcalinidade a bicarbonato durante as três fases de monitoramento do reator UASB. Observa-se que a alcalinidade a bicarbonato afluente se manteve na média de 323 e 311 mg CaCO3 /L na primeira e segunda fases, respectivamente, passando a 393 mg CaCO3 /L na terceira fase. A concentração de bicarbonato mantém um pH muito favorável para digestão anaeróbia. O sistema carbônico apresenta uma alta capacidade de tamponamento. Nestas condições, num reator anaeróbio, as espécies carbonato, hidróxido e próton hidrogênio aparecem em menor concentração do que o íon bicarbonato. Por outro lado, ocorre um aumento de alcalinidade no efluente produzido. deve-se à alcalinidade produzida no próprio reator, bem como àquela contida na água de abastecimento da cidade de Campina Grande, que se mantém geralmente em torno de 250 mg CaCO3 /L. Com relação aos ácidos graxos voláteis, observa-se na Tabela 3 que a concentração efluente manteve-se na média de 76, 102 e 60 mg HAc / L , na primeira, segunda e terceira fases, respectivamente. No início de cada fase, ocorreu um aumento na concentração efluente de ácidos, provavelmente devido ao aumento da carga volumétrica aplicada. No entanto, cerca de vinte dias após, ocorria decaimento tornando-se assim uma concentração baixa de ácidos voláteis (60 a 102 Hac/L), significa dizer que a atividade metanogênica era garantida não havendo acúmulo de ácidos. Esse comportamento, indica uma boa eficiência do processo de digestão, pois o reator apresentava uma alta capacidade de transformar o acetato, gás hidrogênio e gás carbônico em metano. 5 Remoção de Matéria Orgânica Figura 3: Alcalinidade a bicarbonato afluente e efluente, durante as três fases de operação do reator UASB Para a eficiência de remoção da matéria orgânica, utilizou-se a DQO como parâmetro, determinando-se o valor afluente e efluente. Observa-se na Figura 4 que na primeira fase de operação do reator a eficiência manteve-se na média de 70% , mantendo-se 73 e 72% nas segunda e terceira fases, respectivamente. Observa-se na Figura 03 que durante a primeira fase de operação a concentração de bicarbonato efluente se manteve na média de 460 mg CaCO3 /L crescendo na segunda para 506 e para 625 mg CaCO3 /L na terceira fase (Tabela 3). A alta alcalinidade efluente apresentada (Figura 3) Pessin e outros (2000) operando reator tipo UASB obtiveram eficiência de remoção um tanto similar, no entanto, a carga orgânica aplicada foi bem menor (0,48 kg/m 3 dia).Segundo os autores, a taxa de carregamento orgânico no caso do percolado pode variar de 0,8 a 10 kg/ m 3 dia. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 104 CHERNICHARO, C. A. L. Reatores anaeróbios: princípios de tratamento biológico de águas residuárias. Belo ������������������������������ Horizonte: Ed. UFMG, s/d. GUJER, W. e ZEHNDER, A. J. B. ����������� Conversion processes in anaerobic digestion. Wat. Sci. Tech., v.15, p..127-167,����� 1983 Figura 4: Comportamento da DQO afluente e efluente, durante o período de operação do reator UASB 6 Conclusões Tratar conjuntamente líquido percolado com esgotos domésticos em reator anaeróbio de fluxo ascendente com manta de lodo pode se tornar uma promissora alternativa tecnológica. A eficiência de remoção de matéria orgânica expressa na forma de DQO manteve-se, na média de 70% na primeira fase, 73 e 73% nas segunda e terceira fases, respectivamente. A alcalinidade a bicarbonato no afluente durante todo o período de operação do reator UASB variou de 311 a 393 mg CaCO3 /L, mantendo-se na média de 342 mg CaCO3 /L, indicando que a mistura (líquido percolado e esgotos sanitário) apresenta boa capacidade de tamponamento. Durante todo o período de monitoramento não ocorreu colapso do sistema, o valor do pH sempre se manteve na faixa ideal para a digestão anaeróbia. 7 Agradecimentos LOPES, W. S Biodigestão Anaeróbia de Resíduos Sólidos Urbanos Inoculados com Rúmen Bovino. 103f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – PRODEMA: Universidade Federal da Paraíba /Universidade Estadual da Paraíba, 2000. MOOSBRUGGER, R. E; WENTZEL, M. C; loewenthal, r. e; EKAMA, G. A and MARAIS, G. V. R._ Alkalinity measurement part 3 – a 5 point titration method to determine the carbonate and SCFA weak acid/bases in aqueous solution containing also known concentration of other weak acid/bases. ��������������������� Water SA, Cape Town, South Africa. v.19, n 1, p.29–40, 1993.. OLIVA, L. C. H._ Tratamento de esgotos sanitários com reator anaeróbio de manta de lodo (UASB) protótipo, desempenho e respostas dinâmicas às sobrecargas hidráulicas.. 218f. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1997. PESSIN, N; BRUSTOLIN; FIUKLER. Determinação da eficiência de tratabilidade de reatores biológicos para atenuação de carga orgânica presente no chorume proveniente de aterros sanitários In: Simpósio Luso-brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Porto Seguro, Ba, 200p. 1496-1503, ABES, Rio de Janeiro. SOUSA, F. P. de_ Influencia da relação entre a área e a profundidade sobre o desempenho de reatores anaeróbios de fluxo ascendente com manta de lodo (UASB).. 103f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Centro de Ciências e Tecnologia, Universidade Federal da Paraíba, 1999. Os autores deste trabalho agradecem o apoio financeiro concedido pela FINEP/PROSAB para a realização deste trabalho e do CNPq pela concessão das bolsas de pesquisas. 8 Referências APHA, AWWA, WPCF – Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. ��� 18 ed. Washington, 1995. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 105 DIREITO O período jurídico oitocentista na órbita das academias Brasileiras Armando Soares de Castro Formiga1 Resumo: O artigo aborda, sob a perspectiva da Historiografia do Direito, a formação do Periodismo Jurídico no Brasil, que emergiu a partir de 1843 e atuou como importante elo no florescer da cultura jurídica oitocentista. Os jornais e revistas jurídicos se desenvolveram de diversas formas, em especial, na órbita das Academias de Direito. Primeiro em São Paulo e Recife; mais tardiamente no Rio de Janeiro, Ouro Preto, Belo Horizonte e Salvador. Palavras-chave: História do Direito; Periodismo Jurídico; Ensino Jurídico no século XIX. Abstract: This paper shows, under the historiographical perspective of the Law, aspects of the periodic scientific jurisprudential movement that emerged in Brazil in 1843. These publications really supported the early Brazilian juridical culture and allowed it to expand. Newspapers and magazines had several editorial lines, but specifically here, it will be identified the academic production a priori in Sao Paulo and Recife; and later in Rio de Janeiro, Ouro Preto, Belo Horizonte and Salvador. Key-Words: - Law Historiography; Scientific Judicial Periodic; Brazilian Law Schools in 19th Century. 1 Introdução A incursão da Católica do Tocantins, ao apostar na elaboração de uma publicação científica medrada do seio acadêmico, induz-nos imediatamente a rememorar a marcante trajetória do florescer do periodismo jurídico oitocentista. Neste artigo encontram-se catalogados os periódicos que nasceram nas entranhas das Faculdades de Direito (ou orbitaram esse universo letrado) nas cinRevista Integralização Universitária co últimas décadas do século XIX. Antevendo o futuro, as empoeiradas páginas de nossa Revista poderão embevecer o curioso investigador duma época vindoura. Aqui, ele aferirá a produção científica incentivada pela Instituição neste início de milênio. Nos últimos anos, o interesse pelo periodismo jurídico arrebatou novos pesquisadores. No mofo, nas traças e na poeira dos velhos jornais e revistas, investigadores buscam o fluido para azeitar novas perspectivas nos estudos jus-historiográficos. O italiano Paolo Grossi (1997), pioneiro e grande incentivador das investigações posteriores realizadas sobre o tema, afirmara que a história das revistas restitui a complexidade do Direito Moderno; a complexidade do cultural; a complexidade da substância. Ao dissertar sobre as publicações científicas dirigidas ao Direito, na centenária Universidade de Coimbra, Portugal, Armando Formiga (2005) catalogou os periódicos jurídicos editados no Brasil do século XIX e que foram lançados por associações, pela iniciativa privada, pelas Faculdades, pelos acadêmicos e pelos Tribunais2. O autor brasileiro, antes de redigir a dissertação sobre o periodismo jurídico no Brasil do século XIX, procurou o escritor Luís Bigotte Chorão (2002), jurista que esmiuçou o movimento jus-periodista oitocentista em Portugal. O então mestre lisboeta cordialmente ajudou a traçar o curso que deveria ser percorrido; em especial o cariz metodológico. Para satisfazer os objetivos da investigação, Chorão insistiu que não bastaria a mera individualização dos títulos da imprensa jurídica – seguida da narrativa das histórias par- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 É Mestre em Ciências Jurídico-Históricas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Portugal; Professor da disciplina de História do Pensamento Jurídico, no Curso de Direito da Faculdade Católica do Tocantins; Consultor da Assembléia Legislativa do Estado do Tocantins; Advogado; Administrador de Empresas; Jornalista. 1 As pesquisas foram efetuadas com base nos seguintes acervos: Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro; Biblioteca da Fundação Joaquim Nabuco, Recife; Biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo, São Paulo; Biblioteca do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre; Biblioteca da Faculdade de Direito de Coimbra, Coimbra, Portugal; Biblioteca Nacional, Lisboa, Portugal. 2 106 Inicialmente, um Congresso Constituinte foi instaurado e depois dissolvido pelo Imperador. Pedro I terminou por impor uma Constituição que retratava suas idéias. 3 ticulares de cada periódico. Esta opinião ele já havia consignado em sua obra: “A finalidade que temos em vista é a de apurar as diferentes expressões da influência exercida na cultura jurídica [...] pelo movimento periodístico analisado” (CHORÃO, 2002). Seria necessário construir um imprescindível vetor do estudo que considerasse a biografia ou bio-bibliografia dos protagonistas ligados aos diversos projetos editoriais analisados. Antes de encarar o teclado e o ecrã do computador, a missão do investigador tupiniquim incluiria o levantamento de todos os periódicos que circularam no século XIX, distinguindo as publicações originariamente jurídicas das que mesclavam outros segmentos do jornalismo, como o material tipicamente processual da Justiça. Em seguida, era preciso enxergar todos os atores e personagens envolvidos diretamente na produção periódica, identificando o contributo de cada personagem no processo de formação da emergente tradição jurídica brasileira. De fato, a história dos periódicos jurídicos associa-se significativamente à infância jurídico-cultural brasileira. O Brasil oitocentista foi alinhavado por inúmeras mudanças, em especial, no quadro jurídico nacional. Neste terreno fértil, o jurisperito brasileiro afirmou-se pela escrita e pela cultura, ao deitar às páginas das revistas especializadas escritos que espelhavam a inquietude daqueles tempos. O pensamento como “balão de ensaio”, que via nos periódicos o laboratório perfeito para experimentar idéias, testar fórmulas doutrinais inéditas, polemizar fatos e, principalmente, revelar novos atores; personagens heterogêneos da nascente classe dos intelectuais brasileiros, integrada por magistrados, advogados, burocratas, lentes, acadêmicos, políticos, escritores e até poetas. Como fonte jus-historiográfica, o abundante campo de trabalho estava pronto a despertar. Das páginas dessas publicações, projetou-se o extraordinário desempenho coadjuvante exercido pela produção periodista no medrar jurídicocultural brasileiro. Alguns aspectos históricos precisam ser amarrados. A elaboração da primeira Constituição sinalizou o desabrochar duma cultura jurídica verdadeiramente brasileira. Com a instalação da Constituinte, o imperador foi alertado para a necessidade de estimular a instrução pública, mormente a superior3. Mesmo com a intenção programática consignada na primeira carta política brasileira, três anos se passariam entre a promulgação do texto constitucional imposto por Pedro I (1824) e a edição da Lei que instituiu os Cursos de Ciências Sociais e Jurídicas de Olinda e São Paulo (1827). Outra pilastra importante na formação jurídico-cultural remete ao estabelecimento do Instituto dos Advogados Brasileiros (1843), “um desdobramento quase natural, por assim dizer, dos cursos de Direito. É inquestionável que os fundadores desta entidade, desde há primeira hora, aspiravam à autonomia corporativa, inspirados na cultura jurídico-francesa, em especial na da Ordre des Avocats”. (GUIMARÃES, 2003) Curiosamente, as primeiras ações tomadas pela entidade estavam umbilicalmente ligadas ao nascimento do periodismo jurídico brasileiro. A proposta formal para a criação do IAB partiu do conselheiro Francisco Alberto Teixeira de Aragão, ministro do STJ, que fez publicar na Gazeta dos Tribunaes (1843) – primeiro periódico jurídico nacional – um manifesto que propunha a fundação de uma Associação de Advogados. A partir de então, a Gazeta passou a divulgar com freqüência os fatos e as obras do recém-instaurado Instituto dos Advogados. Ao longo do século XIX, a imprensa jurídica adolesceu paralemente ao fortalecimento institucional da máquina burocrático-estatal, na medida em que surgiam e desapareciam inúmeras novas publicações. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 107 2 O periodismo jurídico O século XIX reuniu todos os fatores favoráveis ao crescimento do periodismo no mundo – quer generalista, quer especializado. Economicamente, foi no oitocentos que a tecnologia aplicada à fabricação do papel e à manufatura de impressoras (cada vez mais rápidas) permitiu às tipografias desenvolverem uma linha de produção mais eficaz. Com o liberalismo, a censura prévia diminuira, dando espaço à liberdade de expressão; um princípio já consignado em algumas Constituições políticas. Em França e nos Estados Unidos, o jornalismo obteve um crescimento vertiginoso. No Brasil, o regente João autoriza a implantação da Imprensa Régia (1808). O aparecimento do periodismo especializado – nomeadamente nas áreas das ciências sociais, medicina e engenharia – impulsionou a disseminação da produção intelectual, cultural e científica, num fluxo desvairadamente dinâmico, polêmico, instantâneo e quase-imediato. O pensamento jus-filosófico do século XIX consolidou o império das leis e dos códigos, contrapondo à Escola Histórica do Direito, liderada por Savigny. Com o aparecimento dos primeiros periódicos jurídicos, os jurisconsultos passaram a pulverizar seus escritos, impregnados pelo frescor do atual, afruntando o fértil caleidoscópio doutrinário dessa época. Além do doutrinal, era preciso dar publicidade aos julgados; divulgar as leis; comentar os códigos; enfim, expor-criticar-apoiar novas teorias. Na nova óptica do jurista, o tempo passou a medir-se em termos mais curtos e exigentes. Defronte de um legislador tomado de vertigem empreendedora, o jurista tornou-se ansioso e sôfrego de informações precisas e actuais [e] quanto menor fosse o intervalo de periodicidade, maior seria a garantia de actualidade. (MARCOS, 2002) É impossível desassociar a evolução das Ciências Jurídicas do papel importante exercido pelo periodismo juríRevista Integralização Universitária dico, em especial, no Brasil oitocentista, que procurava estabelecer uma identidade cultural no campo do Direito. Segundo Chorão (2002), a história dos periódicos jurídicos constitui a história da cultura de um povo: “Milhares de páginas impressas permitem-nos a descoberta de valores e ideais, projectos, influências e leituras, teoria e prática, personalidades e itinerários individuais e institucionais, intelectuais e cívicos”. Por sua vez, o italiano Paolo Grossi (1997) observa que os periódicos jurídicos vivem no tempo, refletindo com a límpida nitidez o sentido de um itinerário, o qual, precisamente com a longitude de uma linha ininterrupta, evidencia com clareza a estabilidade, as variações e as revoluções desse mesmo itinerário. O estudo das revistas e jornais jurídicos atende objetivamente a dois planos: (a) contrariar os prejuízos de visões monoliticamente dogmáticas; (b) fundamentar sínteses futuras que permitirão traçar novos entendimentos do Direito e da realidade histórica, à luz das revelações que este estudo proporciona, em função do carácter notadamente analítico, atento aos detalhes, às particularidades e a considerar fatores extrajurídicos. Na Europa, o fenômeno do periodístico brota no final do século XVIII, precisamente na França. Servem de referência Journal des Causes Célèbres (1773), Gazette des Tribunaux (1786) e Jurisprudence de la Cour de Cassation (1791). No entanto, a grande influência inicial foi marcada pelas publicações jurídicas germânicas: Friedrich Carl Von Savigny iniciou a edição do periódico Zeitschrift für geschichtliche Rechtwissenschaft (1815), juntamente com K. F. Eichhorn e T. F. L. Goschen. Em 1820, é lançado o Archiv der Gesellschaft für aeltere deutsche Geschichtskunde, seguido por Zeitschrift für deutsche Recht (1820). Paralelamente aos lançamentos germânicos, o italiano Bartolomeo Belli deu ao prelo a Raccolta delle più importanti - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 108 decisioni dei Suprimi Tribunali de contenziosa (1816), seguido do Repertorio generale di giurisprudenza dei Tribunali Romano (1817), publicado até 1861. Fundado por Giuseppe Maria Regis, o Diario Forense Universale circulou pela primeira vez em 1823; já Annali di giurisprudenza (1839) foi editado pela Sociedade Toscana de Jurisconsultos. Dos ���������������������� primórdios do jusperiodismo hispânico, podemos anotar as iniciativas da Gaceta de los Tribunales (1834); Anales Administrativos (1834); Boletín de Jurisprudencia y Legislación, Crónica Jurídica (1839); La Universidad y El Foro (1843/1845); El Foro Nacional; e Revista General de Legislación y Jurisprudencia. Em Portugal, a vitória liberal permitiu algumas condições favoráveis ao surgimento de iniciativas com este cariz. Em Lisboa, Porto e Braga, os profissionais do Direito se organizam em associações de classe. No seio da Sociedade Jurídica de Lisboa surgiu o primeiro periódico do gênero (CRUZ, 1975). A codificação chegara a Portugal de forma marcante e as revistas jurídicas se atrelaram ao imediatismo do fato atual; o leitor passava a consumir informação e exigir uma periodicidade maior. Esta demanda somente começaria a ser suprida com o aparecimento de importantes publicações – distintas pela longevidade das iniciativas – como a Revista de Legislação e de Jurisprudência (1868), O Direito (1868) e – anos depois – a Revista dos Tribunaes (1882). Estes periódicos experimentaram uma organização sólida, a qual os transportou pelo tempo adiante. 3 O movimento periodista no Brasil No começo do Segundo Reinado foi lançado, no Rio de Janeiro, o primeiro periódico jurídico brasileiro: A Gazeta dos Tribunaes (1843), porta-voz do conselheiro Francisco Alberto Teixeira de Aragão no projeto que ele capitaneou de criação do Instituto dos Advogados Brasileiros (1843). Nas páginas da Gazeta, Aragão sugeriu a criação de uma entidade que facilitasse, quando fosse oportuno, o advento da Ordem dos Advogados. A Gazeta dos Tribunaes, lançada em janeiro, atuaria verdadeiramente como “abre alas” no processo de criação do IAB (1843). Foi nesta fase, estigmatizada pelos Gabinetes liberais, que se registra o aparecimento dos primeiros jornais jurídicos. Foi também nesta época que começou a articulação em prol de uma codificação civil brasileira, com a contratação do jusrisconsulto Augusto Teixeira de Freitas. Os periódicos editados nas duas décadas seguintes ao número inaugural da Gazeta dos Tribunaes, do ponto de vista editorial, apresentavam um conteúdo acanhado, típico das gazetas. Respeitáveis revistas de caráter doutrinal somente apareceriam nos idos de 1862, com o lançamento dos primeiros números da Revista do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, órgão oficial do Instituto dos Advogados Brasileiros (semente da OAB), e da Revista Jurídica, de José da Silva Costa e José Carlos Rodrigues. No quadro político do Alto Segundo Reinado, jovens idealistas lançaram o Manifesto Republicano e cobravam mais intensamente o fim da escravidão. Nesta época, importantes publicações começaram a circular. Traziam, além da doutrina, comentários às decisões jurisprudenciais e inseriam os diplomas legislativos mais relevantes. Destacaram-se Gazeta Jurídica (1873) e O Direito (1873). Ao todo, Formiga (2005) catalogou 52 periódicos jurídicos, editados entre 1843 e 1900. Destes, 23 originam na órbita das Academias de Direito. Com o advento da República, o regime promoveu imediatamente significativas reformas na estrutura do Poder Judiciário, criando os Tribunais Superiores Estaduais – com sede nas capitais dos Estados – e a Justiça Federal. No plano educacional, uma nova legislação permitiu a implantação de Faculdades Livres, dando Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 109 novos rumos ao Ensino Superior. Como reflexo das mudanças, dois novos formatos editoriais se consolidaram: (a) as revistas científicas acadêmicas e (b) as revistas de cunho exclusivamente jurisprudencial; segmento aberto com a implantação dos Tribunais Superiores nos Estados. A reforma do Ensino Superior de Benjamin Constant obrigou as Congregações das Academias de Direito a produzirem revistas científicas. Assim surgiram, na década de noventa, dentre outras, a Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife, Revista da Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais, Revista da Faculdade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro. Nomes como Clóvis Beviláqua e Sylvio Rodrigues abraçaram os projetos das publicações acadêmicas. Na evolução periodismo jurídico brasileiro destaca-se ainda a produção originada nos corredores das Faculdades. As publicações estudantis que orbitaram inicialmente os Cursos de Recife e de São Paulo apresentavam-se como verdadeiros laboratórios e exercitavam o pensamento dos pretensos jurisconsultos; nomes que se estampariam daí por diante na literatura, nos Tribunais e nos palanques políticos. 4 Títulos originados nas academias Eis os títulos catalogados. Dentre os 23 periódicos jurídicos acadêmicos relacionados com base na pesquisa de Formiga (2005), é possivel identificar as publicações (a) que nascerram do fervor estudantil; (b) que resultaram da iniciativa programática das Faculdades; (c) que surgiram por força das reformulações de Benjamin Constant. a) Ensaio Philosophico Pernambucano Periódico Scientifico e Litterario (Recife, 1857) - No cerne do academismo pernambucano, três anos depois da transferência da Faculdade de Olinda para o Recife, surgiu o Ensaio Philosophico Pernambucano – Periódico Scientifico e Litterario. Circulou, embora sem consRevista Integralização Universitária tante periodicidade (entre 1857 e 1859), impregnado pelo debate que seguia uma tónica assumidamente filosófica; aliás, como aparecia anunciado na primeira edição: “Não faltam escriptores conteporaneos que reconheçam no tempo em que vivemos a mais profunda e irresistível tendência para o materialismo. O Ensaio Philosophico Pernambucano [...] é um franco, porêm solemne protesto contra a materialidade da epocha”. A publicação tinha como redatores Laurentino Moreira de Carvalho e Pergentino Saraiva Araújo Galvão. b) Revista Acadêmica – Jornal de Sciencias e de Litteratura (Recife, 1858) - Publicada quinzenalmente e “dirigida por uma Associação de Acadêmicos” matriculados na Faculdade de Direito do Recife, circulou – no ano de 1858 – a Revista Acadêmica: Jornal de Sciencias e de Litteratura4. A produção editorial foi capitaneada por José Joaquim Tavares Belfort, com a colaboração de José Júlio de Albuquerque Barros e Francisco Franco de Sá. É inquestionável a função experimental (até mesmo laboratorial) que este gênero de publicação exercia na atividade acadêmica. Este exercício intelectivo estudantil refletiria sensivelmente na futura produção jurídico-literária de cada integrante do corpo redatorial, a exemplo do que aconteceu com Tavares Belfort. c) Revista da Academia de São Paulo – Jornal Scientifico, Jurídico e Histórico (São Paulo, 1859) – Dentre os periódicos editados pelos acadêmicos do Largo de São Francisco, inclui-se a Revista da Academia de São Paulo – Jornal Scientifico, Jurídico e Histórico, que circulou de forma meteórica entre abril e agosto de 1859. Na segunda edição, sobressai o artigo escrito pelo então estudante José Vieira Couto de Magalhães, “Apontamentos sobre o methodo dos Allemaes no estudo da jurisprudência”. d) Annaes do Ensaio Acadêmico (São Paulo, 1862) – “O vasto mundo - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Dizia o texto de apresentação: “Legar, aos vindouros, provas irrefragáveis do estado dos povos passados, insinuar-lhes os progressos da sciencia, apresentar-lhes quadro, onde possam elles ver pintados em todo o brilho os grandes feitos dos heroes, as maravilhas da arte, fazer-lhes finalmente a narração do que a intelligencia ha concebido e a mão do homem executado: tal é em resumo o grande fim que a imprensa se impõe e que chega a completar satisfatoriamente. A Revista Acadêmica é o symbolo de nossa adhesão ao progresso; e ainda que as nossas producções sejam na actualidade destituídas de mérito, temos todavia a fundada esperança de que [...] poderão um dia ser lidas e merecer louvores a nossa infadigável perseverança.” 4 110 O ilustre Ruy Barbosa terminou a graduação na Academia de São Paulo. 5 Disse Sacramento Blake: “Desde sua entrada para o collegio em que estudara os primeiros rudimentos da língua pátria, revelou a mais bella e robusta intelligencia, e mais tarde um verdadeiro génio para a poesia, em que não seria inferior a Gonçalves Dias, nem ao que mais alto subisse nesse ramo da litteratura, si não morresse tão joven”. Estudou Humanidades na Baía; iniciou o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade do Recife, mudando para São Paulo depois, “mas não chegou a formar–se por fallecer no quarto anno do dito curso. (BLAKE, 1893). “O número avultado de caixotes no vapor Santa Maria chamou a atenção do estudante Adriano Fortes Bustamante, que aportou em Santos a 12 de março de 1868. Ali mesmo, a bordo, outro tripulante, o acadêmico Sancho de Barros Pimentel, informava-lhe tratar-se de Ruy Barbosa, grande estudante que vinha de Pernambuco, para cursar o terceiro ano da Academia de São Paulo; assim como Castro Alves, passageiro do mesmo vapor. Inscreveram-se juntos Castro Alves e Ruy Barbosa no curso jurídico, aquele sob Nº. 25 e este Nº. 26”. (MARTINS; BARBUY, 1999) 6 da verdade não conhece as columnas de Hércules. Os Annaes hoje se apresentam pedindo lugar ao lado dos seus irmãos de Imprensa acadêmica. Quer as luctas das palavras unir os exercícios de Imprensa”. Assim estava escrito no texto de apresentação dos Annaes do Ensino Acadêmico, periódico que brotou nos corredores da Faculdade de Direito de São Paulo, entre os anos de 1862 e 1863. Naquele ano, a Associação Estudantil Ensaio Acadêmico resolveu lançar seu órgão oficial. A opção dos redatores não seria outra: enveredar pelo abundante caminho da doutrina. Esta iniciativa acadêmica, assumidamente doutrinal, teve vida efémera, no entanto, marcante pela qualidade dos textos depositados em suas páginas. e) Revista Mensal do Ensaio Jurídico – Jornal Acadêmico (Recife, 1863) – Apareceria, em 1863, a Revista Mensal do Ensaio Jurídico, “orgam da Associação Acadêmica Ensaio Jurídico”, que na primeira edição apresentou seu programa: “Intimamente compenetrados da grande importância dessas considerações, alguns alumnos desta Faculdade, verdadeiros amantes da sciencia que cultivam, veneradores sinceros da grave missão que os aguarda, determinaram-se a fundar, com o nome de Ensaio Jurídico, uma associação cujo único e exclusivo fim é da discussão de questões jurídicas, pela tribuna e pela Imprensa, e mais particularmente, no exercício da prática do processo criminal”. O quadro de redatores incluía os então acadêmicos Fellipe Franco de Sá, José Augusto Galvão Pires, Milciades Ferreira da Silva, Frederico Martinho de Araújo, João Alves Mergulhão (no futuro, um brilhante criminalista) e Antônio Martiniano Lapemberg (maranhense que se destacou como causídico). f) Faculdade do Recife – Jornal Acadêmico (Recife, 1863) – Mais uma publicação recifense que foi criada e dirigida pelo estudante José Fiel de Jesus Leite: Faculdade do Recife – Jornal Aca- dêmico. O periódico, editado entre maio e agosto de 1863 pelos alunos quintanistas Faculdade de Direito, não passou do oitavo número. Coube ao doutor Pedro Autran da Matta Albuquerque, lente da Academia pernambucana, minutar o texto de apresentação do tablóide. Curiosamente, o periódico relacionou o nome de todos os formados pela Faculdade pernambucana, de 1832 a 1862. Em destaque os ilustres Eusébio de Queirós Coutinho Mattoso da Câmara, Ruy Barbosa5, Clóvis Beviláqua, Augusto Teixeira de Freitas, Francisco Tavares Benevides, Benedicto Marques da Silva, Francisco Xavier Pereira de Brito Júnior e Francisco de Mello Coutinho de Vilhena. O jornal também listou os alunos matriculados na Academia em 1863. g) O Futuro – Periódico Scientifico e Litterario (Recife, 1864) – Mais uma publicação acadêmica que teve vida efêmera: O Futuro – Periódico Scientifico e Litterario, porta-voz dos anseios da mocidade que reunia estudantes brilhantes como Antonio Castro Alves6, Luiz Ferreira Maciel Pinheiro, Aristides Augusto Milton e António Alves de Carvalhal. Apareceu em 1864 nos corredores da Faculdade do Recife. Dentre os textos analisados, encontra-se o “Manifesto Abolicionista”, de autoria do então acadêmico paraibano Maciel Pinheiro. Na área jurídica, destacam-se escritos doutrinais como “Direito Público: Soberania e Poder”, cuja autoria não é identificada. Estrapolando o jus-periodismo, vale a pena considerar a resenha “Impressões da leitura das poesias de A. A. de Mendonça”, assinada por Castro Alves. h) Jornal do Ensaio Literário (Recife, 1864) – Outro exercício do periodismo jurídico emanado da inquietude estudantil dos pernambucanos que, apesar do título, dedicava-se à publicação de artigos jurídico-doutrinais, em especial, relacionados ao Direito Constitucional. O tablóide teve como redatores Antônio dos Passos Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 111 Miranda, José Nicolao Tolentino de Carvalho e José Elysio de Carvalho Couto. Circulou meteóricamente, entre 1864 e 1865. i) Revista Acadêmica de Sciencias e Lettras (Recife, 1876) – A revista salélite da Faculdade de Direito do Recife foi publicava mensalmente em cadernetas de 56 páginas, formando no final de cada ano lectivo um “bello volume de 400 páginas”, com título e índice. Ao folhear o tablóide estudantil, avista-se artigos exclusivamente de cunho doutrinal, a exemplo de “Os princípios da Economia Política”, do quintanista Jeronymo Muniz Ferrão de Aragão; “Centralisação administrativa”, assinado por Augusto Borburema; “Fica revogado o reconhecimento do filho natural, feito em testamento roto, quer pela agnação do posthermo preterido, quer por outro testamento solemnimente feito?”, de José Joaquim Seabra Júnior; “A mulher autorisada pelo marido a commerciar, pode independente de autorisação especial, contractar uma sociedade? 7”, por Pedro Leão Velloso Filho, aluno do quarto ano; “O Direito Público moderno reconhece aos Estados um Direito de propriedade sobre os mares? Quaes os limites d’esse Direito?”, de autoria do acadêmico João Henrique Vieira da Silva; “A Lei Falcidia e o senatusconsulto trebelliano vigoram entre nós?8”, do quintanista; e, por último, “Da escravidão entre os romanos”, por Antônio Amazonas d’Almeida. No boletim de atualidades, Pedro Paulo Amaral relatou o movimento acadêmico na Faculdade de São Paulo, fazendo referências à Álvares de Azevedo, Castro Alves, Fagundes Varela e Martins Cabral, “glórias de nossas lettras”. Ele escreve também sob o efervescente jornalismo na Academia do Recife, nos idos de 1876. j) A Estrea – Revista Scientífica e Litterária dos Acadêmicos do 1º Anno (Recife, 1876) – A publicação estudantil distribuiu-se a 1º de junho de 1876 e tinha o corpo redatorial formado por Júlio Revista Integralização Universitária Cezar Leal, José Maria de Albuquerque Mello, Manoel do Nascimento Castro e Silva, Manoel Antero de Medeiros Furtado e Manoel do Remo Melo. “Pelo princípio moral de confraternização e particularmente pelos estreitos laços de consócios na sciencia do Direito, os estudantes do primeiro anno procuram exprimir, por estas breves palavras, a estima e a consideração que tributam aos companheiros escolares”, anunciava o texto introdutório do periódico quinzenal. Os artigos apresentados pelo tablóide acadêmico mostravam a verdura típica dos alunos do primeiro ano. l) Ensaio Jurídico e Litterário (Recife, 1878) - “Surgindo hoje à luz da publicidade, o Ensaio Jurídico e Litterario não pode esquivar-se aos estylos jornalísticos”. Assim apresentou-se o periódico, impresso quinzenalmente a partir de 1o de maio de 1878. Tratava-se de mais uma tentativa jornalística capitaneada pelos intrépidos acadêmicos recifenses; um exercício passageiro que encerraria velozmente. De fato, não passou da terceira edição. Desse “ensaio jurídico-literário”, listamos os integrantes do corpo editorial: Tarquinio de Souza Filho, Pedro de Queiros, António Augusto de Vasconcelos, Virgílio Brígido, J. Augusto de Souza e Gil Amora. Ao folhear as páginas do Ensaio, os artigos enveredam pela Filosofia do Direito (“Considerações sobre a lei”, texto de Tarquinio de Souza Filho), Direito Civil (“Os actos praticados contra a determinação da lei, envolvem nullidade, ainda quando esta não venha expressa?”, por Pedro Queirós) e Direito Natural (“Propriedade Litteraria”, de autoria de Augusto de Vasconcelos). m) Direito e Lettras – Revista Acadêmica do Atheneu Jurídico Litterario (São Paulo, 1878) – Por iniciativa dos alunos da Faculdade de Direito de São Paulo, foi distribuída, em agosto de 1878, Direito e Lettras – Revista Acadêmica do Atheneu Jurídico Litterario. O periódico dividia-se em duas partes: a jurídica, sob - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 7 w Lembrava o autor: “É um princípio geral de Direito Civil, que a mulher casada, mesmo maior, não pode, qualquer que seja o regimen do casamento, contractar sem que preceda autorisação do marido”. 8 Afirma o articulista: “Na falta de legislação expressa, devemos recorrer ao Direito Romano, e admittir as suas prescripções, enquanto de accordo com a bôa razão, como declara a Lei de 18 de agosto de 1769”. 112 “A bella reforma, que há de ficar como vestígio luminoso da passagem de Benjamin Constant pelo Governo, quaesquer que sejam os pontos fracos e as lacunas que possam descobrir nella a crítica philosofica, há de ser fecunda em bons resultados, principalmente, porque fará diffundirem-se noções exactas sobre o conjunto das sciencias que nos fornecem os elementos da synthese objectiva do mundo, e por que despertará estímulos mentaes para as investigações scientificas. Não queremos fazer, agora, crítica nem apologia à reforma; queremos simplismente dizer que ella encerra elementos poderosos para o levantamento da mentalidade brazileira e que, entre esses elementos, occupa logar saliente a creação de uma revista acadêmica em cada uma das escholas federaes de ensino superior. A Revista Acadêmica é essencialmente jurídica, ou se preferirem, jurídico-social. Seu campo, no entanto, é assas vasto, porque não só o Direito está intimamente relacionado com muitas sciencias, como depende de outras, além de que o quadro das que se ensinam na Faculdade já é bastante largo, e de que as questões fundamentaes se apoiam, em regra, nas generalidades da sciencia propedêutica do Direito, como sejam a Psychologia que elle é um ramo”. 9 Diz o professor: “Um dos pontos em que a reforma de Benjamin Constant demonstra um espírito liberal e adiantado, é sem dúvida, o que se refere à creação da cadeira de Medicina Legal, lacuna sensível e que por si só conserva na retaguarda dos programmas da Faculdade de Direito do Recife”. 10 responsabilidade de Tristão da Fonseca; a literária, capitaneada por Affonso Celso Júnior. De todos os artigos publicados na revista, um texto desperta especial atenção: o acadêmico Tristão da Fonseca relacionou os autores e os compêndios adotados pela Faculdade naqueles anos. Assim, é saber que, no primeiro ano, os estudantes assistiam às aulas de Direito Natural (cadeira leccionada por dois lentes; um preferia seguir a “Theoria Transcendental do Direito”, o outro o “Eccletismo Catholico”), Direito das Gentes (Teoria de Fiore) e Direito Romano (Compêndio de Warnkænig, considerado “notável” pelos alunos). No segundo ano, os alunos tinham contato com o Direito Constitucional (debruçavam-se na obra de Pimenta Bueno, “predominantemente a eschola conservadora”) e Direito Eclesiástico (o Compêndio de Vilella Tavares, “que seguia em regra o autor, excepto a Theoria Ultramontana não adoptada pelo lente, que professa[va] a eschola gallicana”). Ao chegar ao terceiro ano, era a vez de estudar o Direito Civil (que incluía uma recapitulação do Direito Romano, “Theoria das Pessoas”, a Lei do Elemento Servil, a Locação de Serviços e o Direito de Família – “com base na obra do Dr. Lafayette”) e Direito Criminal (a doutrina era voltada à Escola de Bhenthan; o código estudado com base na obra de Braz Florentino, cujo “o mérito do nosso legislador é tão conhecido, que inútil torna-se declaral-o”). No quarto ano, os acadêmicos estudavam o Direito Comercial (as explicações apareciam de acordo com o Código Comercial; a doutrina de Vidari era aplicada para compreensão do instituto das Letras de Câmbio) e o Direito Civil (o programa incluía: Direito das Coisas; Posse, com base nas Escolas de Savigny e Ihering; Testamentos, de acordo com Gouvêa Pinto; e o Compêndio do doutor Tiago de Loureiro). Quando quintanistas, eles aprendiam Direito Administrativo (com base no Compêndio do conselheiro Furtado), Prática (Compêndio do conselheiro Ramalho) e Economia Política (Compêndio do senhor Pedro Autran, “professando-se a Escola Moderna de Macleod”). n) Gazeta Acadêmica de Sciencias e Lettras (Recife, 1879) – Em maio de 1879, surge a Gazeta Acadêmica de Sciencias e Lettras. Acadêmicos de todos os anos integravam o corpo redatorial. Do primeiro ano, Costa Maia; do segundo ano, Alfredo Raposo Barradas, Domingos Felippe de Souza Leão e Urbano Santos da Costa Araújo; do terceiro ano, J. M. C. Muniz Freire, J. Homem de Siqueira Cavalcanti e Virgílio Gordinho; do quarto ano, Artur Leal Ferreira e Manoel do Nascimento Castro e Silva; dentre os quintanistas, António Ibyapina e João B. de Mello Peixoto. o) Ihering – Folha Jurídica e Philosophica (São Paulo, 1882) - Coube ao então acadêmico Washington Badaró, na qualidade de redator-chefe, simultaneamente com outros alunos da Faculdade paulistana (Lamounier Godofredo, Braz Arruda, Constantino Paletta e Nogueira Jaguaribe), lançar o periódico Ihering – Folha Jurídica e Philosophica. p) Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife (Recife, 1891) – Recaiu sobre professores Clóvis Beviláqua, José Izidoro Martins Júnior, Adelino Luna Freira Filho, António de Siqueira Carneiro da Cunha e José Joaquim de Oliveira Fonseca a responsabilidade pela edição do primeiro volume da Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife, distribuída em 1891. As palavras iniciais de Beviláqua delinearam os objetivos do periódico oficial da Academia recifense9. Verdadeiramente, o jurisconsulto aparece como o timoneiro da Revista Acadêmica, cuja presença assegurou a qualidade do conteúdo. Foram dele os textos de destaque, reunidos no primeiro volume, como “Contribuições para a História do Direi- Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 113 to” e “Applicação do methodo comparativo ao estudo do Direito”. O segundo número da Revista Acadêmica (1892) publicou o Parecer emitido pela Congregação, sobre os bens patrimoniais das ex-princesas (Isabel e Leopoldina), em resposta ao pedido do Ministério do Interior. Em artigo, o doutor Adelino Filho externou sua opinião sobre a demanda: “Julguei que a questão não era de puro domínio do Direito Civil, por não se tratar de um caso commum da vida social, garantido pelo Direito; mas antes de um instituto público-jurídico, que tinha como causa occasional um daqueles casos – o casamento”. A seção de Doutrina reunia textos de Beviláqua (“Algumas observações sobre o Direito Autoral”, “Breves noções de legislação comparada sobre o divórcio”, “Apontamentos sobre a evolução de alguns regimens de bens entre cônjuges” e “Sobre a nova theoria da responsabilidade”); de José Joaquim de Oliveira Fonseca (“Recurso à pronúncia, em crime inafiançável, estando o reo solto”); de Adelino Filho (“A medicina legal na Faculdade de Direito do Recife10”); e de Phaelante da Câmara (“Tobias Barreto de Menezes: seu carácter, seu talento, seus escriptos e principalmente os seus estudos jurídicos”). A resenha biográfica foi dedicada ao livro de Tobias Barreto, Estudos de Direito (1892), publicação esta dirigida originalmente por Sylvio Romero. Em 1993, a Revista trazia o projeto de Código Penal, que se encontrava na Câmara dos Deputados, detalhado pela exposição de motivos; um primoroso trabalho que analisou cada título da pretensa Lei. Um texto de Vieira de Araújo, em 1894, questionava a sucessão dos bens vagos (questionando se pertenceriam aos Estados ou à União), tomando como base a Constituição e a Legislação comparada. Com a implantação do federalismo republicano, e na falta de uma codificação atualizada, o Brasil viveu uma fase marRevista Integralização Universitária cada pelo conflito de competências entre a União e as unidades federativas11. “Agora que de novo se agita no parlamento nacional a idéa de se dotar finalmente o Brazil com um Código Civil, é natural que todos os que estremecem a pátria brazileira e os que se interessam pelo desenvolvimento do Direito façam votos pela crystallisação dessa idéa em realidade”. Assim, Beviláqua abriu a edição de 1896. Do número editado no ano seguinte, destaca-se a doutrina de Tito Rosas ao abordar a Teoria da Evolução em “Applicações do Darwinismo no Direito12”. O último número da Revista Acadêmica editado no século XIX foi o de 1898. Nos anos seguintes (1899, 1900), a preciosa publicação que fluía da inesgotável fonte de conhecimento dos lentes pernambucanos não foi ao prelo; retornaria somente em 1901 (“Ano IX”), sem fazer qualquer referência à interrupção. No século XX, circulou até 1995, quando foi descontinuada pela Faculdade. q) Revista da Academia de Direito da Bahia (Salvador, 1892) – Na vaga dos periódicos acadêmicos oficiais que surgiram nas Faculdades brasileiras, foi editada a Revista da Academia de Direito da Bahia (1892), oriunda dos lentes da Faculdade baiana, cuja instalação se deu um ano antes. O professor doutor José Augusto de Freitas capitaneou a Comissão Redatora, constituída também por Sebastião Pinto de Carvalho, Manoel Joaquim Saraiva, Affonso Castro Rabello e Firmino Lopes de Castro. No primeiro volume, merece destaque o artigo do doutor Affonso Rabello (“Esboço da Evolução Conceptual do Direito”), que criticava com grande elevação a teoria metafísica e a teologia do Direito. r) Revista Acadêmica da Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 1892) – Eis o texto introdutório da Revista Acadêmica da Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro, lançada em 1892; um ano após a implantação da Academia: - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Escreveu Vieira de Araújo: ���������������������� “A República exige imperiosa e urgentemente que o Congresso Nacional vote o projecto de Código Civil de Coelho Rodrigues; [...] não temos jurisprudência nacional em ramo algum do Direito para transformar pelo Direito Costumeiro moderno as antiqualhas do Direito Civil portuguez e nem a tarefa é fácil, tanto que até os últimos dias da monarchia abolida, revivião na opinião de nossos institutos de governo da metrópole, incompatíveis com as insti-tuições constitucionaes representativas. Antes das obras de Teixeira de Freitas, pouco se animavão a atacal-os de frente”. 11 No texto, ele observou: “Em nome da sciencia, não se ergue hoje o venábulo da crítica para ferir directamente a Theoria da Evolução. A sciencia ainda não se illuminou convenientemente”. 12 114 A Revista Acadêmica representa um punhado de esforços de estudantes da Faculdade Livre de Direito, que pensam que a fundação de um jornal em uma Academia é de grande necessidade para que os alumnos possam se exercitar, quer dissertando sobre theses da matéria cujo estudo se dedicam, quer dando publicidade aos trabalhos litterarios, preparando-se assim para melhor desempenhar a posição social que procuram alcançar. As 16 páginas do tablóide reuniam artigos doutrinais assinados pelos lentes Fausto Cardoso (“O regímen parlamentar no Brazil”) e Paula Ramos (“O final de uma Lição de Direito Penal: Theoria de Lombroso, Ferri, De Garafolo e Sergi”). s) Revista da Faculdade de Direito de São Paulo (São Paulo, 1893) – Na linha do periodismo jurídico academicista, a Revista da Faculdade de Direito de São Paulo iniciou as atividades na última década do século XIX. “Em sua sessão de 26 de abril do corrente anno, deliberou a Congregação dos Lentes da Faculdade de Direito de São Paulo iniciar a publicação de sua revista official”. Foi assim que, em 1893, o primeiro número da Revista saiu do prelo. O êxito do periódico assegurou fosse editado até hoje, 113 anos depois. Integravam a primeira “Commissão de Redacção” os doutores Brazilio Augusto Machado de Oliveira, João Mendes de Almeida Júnior, Manoel Pedro Villaboim, Alfredo Moreira de Barros Oliveira Lima e o desembargador Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho. Já nos primeiros anos, a Revista cumpria os objetivos estatutários propostos e expostos na resolução que a criou, trazendo impressos textos de Brazilio Machado (“Regímen Hypothecario: Casos de renúncia tácita”), Frederico Abranches (sobre o “Litis contestatio” a luz da romanística), Manoel Pedro Villaboim (a dissertar sobre o Direito Administrativo), Alfredo Lima (“Constituição ou Carta Constitucional”), e Almeida Júnior (“Estudos da Prática Forense”). t) Imprensa Acadêmica (Ouro Pre- to, Minas Gerais, 1893) – De Ouro Preto, então capital de Minas Gerais, apareceu Imprensa Acadêmica, periódico quinzenal que tinha no corpo redatorial Gomes Lima, Carvalho Britto e Alfredo Guimarães. “Muito grato ficamos aos collegas pelo modo lisonjeiro com que nos têm recebido, o que é realmente um poderoso incentivo que nos anima a superar as difficuldades na sustentação de nossa empresa”, comentou o redator, ao abrir a quarta edição. O jornal voltava-se aos artigos doutrinais e aos boletins informativos do dia-a-dia dos acadêmicos na Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas Gerais. u) Revista da Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas Geraes (Ouro Preto, 1894) – Proclamada a República, a antiga capital mineira, Ouro Preto, ganhou a Faculdade Livre de Direito (1892). Na aplicação do Decreto que regulou o Ensino Superior, foi editada a Revista da Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas Geraes, periódico jurídico-científico impresso a partir de 1894. O primeiro número da Revista trazia um editorial assinado pelo doutor Affonso Pena. Em seguida, a parte doutrinal consignava os artigos “Antiguidades Romanas”, de Raymundo Correia, insigne poeta que demonstrou um lado multifacetado nesse escrito jurídico; “Legislação de Minas”, de Bernardino de Lima; “Hygiene nas Sciencias Sociaes”, do doutor A. Catão; “Liberdade”, texto do doutor Sabino Barroso Mello Franco; e o “Esboço do Código de Processo Criminal”, produzido pelo lente Levino Ferreira Lopes.“É incontestável o valioso repositório de estudos jurídicos traçados com alta maestria, esta Revista da Faculdade jurídica de Minas Geraes; o número de 1895 não discrepa do anterior, quanto à importância do trabalho, excedendo-se, porém, vantajosamente quanto ao lavor typographico”, elogiou copiosamente Clóvis Beviláqua, ao comentar a publicação mineira, em nota divulgada no órgão Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 115 oficial da Academia pernambucana. Com a transferência da capital, a Revista foi continuada em Belo Horizonte e perdurou no século XX. v) Revista Acadêmica (Rio de Janeiro, 1894) – Os acadêmicos que integravam o Grêmio dos Estudantes da Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro lançaram um órgão oficial, a Revista Acadêmica, em junho de 1894. O inquestionável teor jurídico era assegurado pela atenta Comissão de Redação, formada por Raul Pederneiras, Paranho da Silva e Ernani Torres. Coube a Sylvio Romero assinar o texto introdutório (“A Nova concepção do Direito no Brasil13”). O ilustre professor iniciou o escrito lembrando que foi ele o primeiro a pregar no Brasil a nova concepção do Direito no Brasil, teorizada magnanimamente por Rudolf Von Ihering. No editorial que abria a edição de junho de 1895, Franca Carvalho defendeu a estrutura das Faculdades Livres: “Felizmente Benjamin Constant, [...] uma das mais puras e brilhantes personalidades da República, suspendeu e [...] assegurou, em sua maior plenitude, a liberdade do ensino e a freqüência facultativa nos Cursos Superiores”. x) Revista Jurídica (Rio de Janeiro, 1895) – Órgão dos estudantes da Faculdade de Sciencias Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, a Revista Jurídica foi distribuída a partir de maio de 1895. O texto introdutório da Revista Jurídica relatava as atividades de comemoração do aniversário da Faculdade, implantada em maio de 1882. A estrutura editorial reunia artigos de doutrina e um boletim informativo. Na parte doutrinal, apareciam artigos de grandes jurisconsultos, ao lado dos textos dos estudantes. Enaltecemos os trabalhos de Sylvio Romero (“Philosophia do Direito”), de J. C. de Souza Bandeira (“O Estado: suas funções e órgãos”), de James F. Darcy (“O Divórcio”), e de Bandeira de Melo (“A inviolabilidade do Ministro Estrangeiro e suas immunidades de jurisdicção”). O terceiro ano da Revista (1897) Revista Integralização Universitária marcou uma nova fase da publicação. A nova Comissão Redatora era integrada pelos acadêmicos Prudente de Moraes Filho, Octávio Monteiro da Silva, Carlos Naylor Júnior, Fausto Augusto dos Santos e Cândido de Oliveira Filho. z) Revista da Faculdade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 1899) - A Faculdade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro foi fundada em 1891. Sem obedecer, de imediato, às exigências do mesmo diploma legal que permitiu sua criação, o periódico científico da academia somente foi editado oito anos depois. A Revista da Faculdade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro foi impressa pela primeira vez em setembro de 1899, apresentando o seguinte texto preambular: “É este o primeiro número. Difficuldades várias andavam a obstar o seu apparecimento. Seu alvo é publicar [...] contribuições quaesquer com que os senhores lentes [...] entendam de discutir e elucidar os pontos do vasto programma [...] com a máxima liberdade de espírito. A arena aí está”. Em 1900, Sylvio Romero ganhou definitivamente espaço na redação (ao lado de Frederico Augusto Borges e Nilo Peçanha) e passou a comandar o periódico. O nome de Romero ficou diretamente ligado à Revista, numa interação que rendeu bons frutos no conteúdo editorial. A Revista circulou ainda em 1901; depois de 1908 a 1916. 5 Considerações Finais À luz da História do Direito, fica cada vez mais reconhecida a importância desempenhada pelas revistas e pelos jornais jurídicos editados no século XIX. Além de constituir uma maneira discursiva tão viva no oitocentos, esses periódicos representam uma fonte privilegiada na compreensão das instituições, da jurisprudência, da doutrina e da legislação daqueles tempos. O estudo dos periódicos como fonte histórica do Direito é relativamente recente. Brota a partir dos trabalhos desenvolvi- - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Consigna Romero: “É uma prioridade que ouso reivindicar, por ter sido facto publicamente acontecido numa defesa de these, que se tornou célebre perante a Faculdade jurídica do Recife [...] O absoluto chamava-se, às vezes, natural. O bello absoluto, o bem absoluto, a verdade absoluta, a justiça absoluta, o Direito Natural, a religião natural eram as expressões correntes para significar a idéa typica, a essência do bello, da verdade, do Direito e da religião”. 13 116 dos por Paolo Grossi (na Itália) e AndréJean Arnaud (na França). Em Portugal, o assunto foi abordado nos anos sessenta do século XX por Guilherme Braga da Cruz14, mas obteve um refino destacável na investigação de Luís Bigotte Chorão. O assunto permanecia inédito no Brasil. Coube a Armando Formiga (1995) identificar, catalogar e revirar todas as publicações jurídico-científicas oitocentista. O pesquisador constatou a curiosa relação entre o movimento periodista brasileiro e a emergência da cultura jurídica nacional. A dinâmica produção legislativa no florescer da jovem nação luso-americana contou com o papel singular do movimento periodista jurídico, que – além de revelar nomes e difundir idéias – pulverizou no país-continente as bases para consolidação da justiça e de um Direito caracteristicamente brasileiro. No Direito, a capacidade laboral dos juristas brasileiros esteve também estampada nas páginas dos periódicos. Gazetas, jornais e revistas jurídicas que, verdadeiramente, atuaram como coadjuvantes nesse processo de formação da cultura brasileira, inclusive na atmosfera acadêmica. GROSSI, Paolo. ANZOATEGUI, Victor Tau (Org). La Revista Jurídica en la Cultura Contemporanea. Buenos Aires: Ediciones Ciudad Argentina,389 p. , 1997. GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. A Casa de Montezuma. In: BAETA, Herman Assis (Org.). História da Ordem dos Advogados do Brasil. O IAB e os Advogados do Império. Volume 1. Brasília: OAB Conselho Federal, 2003. 242 p. MARCOS, Rui de Figueiredo. A Fundação do Boletim da Faculdade de Direito e o Periodismo Jurídico em Coimbra. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra. Volume Comemorativo. p. 11 – 43 , 2002. MARTINS, Ana Luiza; Barbuy, Heloisa. Arcadas: História da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco: 1827–1997. São Paulo: Melhoramentos/Alternativa,341 p. , 1999. 6 Referências BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. 7 volumes. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 18931902. CHORÃO, Luís Bicotte. O periodismo jurídico português do século XIX, páginas de história da cultura nacional oitocentista. Lisboa: Imprensa Nacional, 401 p. , 2002. Diz o pesquisador: “É este também o modo melhor de os vivos avivarem na memória a lição que devem a quem os precedeu e tomarem nova consciência da responsabilidade que lhes cabe na prossecução duma obra que receberam como herança sagrada e que lhes cumpre transmitir aos que vierem depois de si”. (����������� CRUZ, 1975) 14 CRUZ, Guilherme Braga da. A Revista de Legislação e Jurisprudência, Esboço de sua História. Volume 1. Coimbra: Coimbra Editora, 882 p., 1975. FORMIGA, Armando Soares de Castro. O periodismo jurídico no Brasil do século XIX: a importância do movimento periodista no florescer da cultura jurídica nacional. Dissertação (Mestrado em Ciências Jurídico-Históricas) – Universidade de Coimbra, Coimbra,242 p. , 2005. Revista Integralização Universitária - v.1, n.1 - Abril/Setembro de 2007 Provisão Gráfica e Editora Ltda 104 Sul, conjunto 3, lote 2 Palmas, Tocantins www.provisao.net [email protected] (63) 3212 9500