10ª Feira dos municípios e 1ª Mostra de Iniciação Científica - FEMMIC Entre a escravidão e a liberdade: um estudo sobre cartas de alforria (Catu-Ba, 1878-1888) Caíque Antônio Alencar Carneiro1, Marcelo Souza Oliveira², Lucas Terra Nova Ramos1; Ariel Gondim Galdino1. 1 Estudantes do curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino médio do IF Baiano, campus Catu. Bolsistas em IC Jr (PROEX/IF BAIANO). Email: [email protected]; [email protected]; [email protected] 2 Orientador/Professor do IF Baiano, Campus Catu. Doutorando em História Social/UFBA. E-mail: [email protected]. PALAVRAS-CHAVE: Cartas de alforria; liberdade; escravidão; Catu. Introdução O uso de cartas de alforria para o estudo da historiografia da escravidão no Brasil tem se mostrado uma das mais ricas fontes de informação sobre o período da escravidão, pois nos mostra de maneira muito clara como se davam as relações entre escravos e senhores, além de nos fornecer uma rica fonte de estudo acerca das estratégias usadas pelos cativos para alcançarem a liberdade, podendo ser considerada, também, uma importante forma de resistência da população negra a esse processo histórico de exploração, já que muitos pesquisadores consideram que os movimentos de resistência não precisam necessariamente incluir atos violentos. Muitas dessas cartas que analisaremos possuem um caráter semelhante às alforrias analisadas por Kátia Mattoso, encontradas em Salvador, no século XIX. A pesquisadora ressalta o caráter ambíguo das cartas, que em, segundo ela, evidenciam “uma prática capaz de suscitar esperança e ilusões nos homens e mulheres que palmilharam um caminho mimado de armadilhas” (MATTOSO, 1972, p.181). A carta de alforria era um documento produzido no âmbito de relações privadas, sob condições que interessavam ao senhor, mas sem desconsiderar a ação dos escravos – no sentido de conduzir e convencer seu senhor para obter um resultado que lhes fosse favorável – constituindo-se, portanto, numa tática legal de dominação senhorial (CHALHOUB, 1990). Seguindo a mesma linha dos autores mencionados, o presente trabalho tem como finalidade, analisar aspectos desses documentos, que nem sempre são levados em conta nos livros de história tradicionais, como instrumentos de dominação e, ao mesmo tempo de negociação da liberdade de cativos sob o regime senhorial. Materiais e Métodos As atividades de pesquisa consistem basicamente, na organização e ordenamento dos documentos constantes no fórum do município de Catu. O trabalho de pesquisa consiste em seis etapas: 1-Fase dos tramites legais para que o Fórum de Catu libere as fontes para a pesquisa; 2 - Catalogação das cartas de alforria (já foi realizado, são 53 cartas de alforria no total, todas transcritas em livros constantes na Vara Civil do Fórum de Catu); 3-Compilação das fontes (14 cartas já foram transcritas, trata-se de um trabalho lento e cuidadoso, visto que a grafia dos textos é data do século XIX); 4-Sistematização das fontes e disponibilização para acervo virtual, para acesso da comunidade; 5-Análise das fontes e escritas de trabalhos científicos; 6 - Será traçado um rápido panorama histórico da comunidade catuense nas últimas décadas da escravidão, com o intuito de analisar as fontes sob um dado contexto histórico; anos de idade [...], eu a liberto pela diminuta quantia de cinqüenta mil réis, que a essa data recebi, e para que goze de agora em diante da sua liberdade, lhe mandei passar a este título irrevogável [...]”. (Carta de Liberdade de Joana, Crioula, Catu, 24 de abril de 1885). Aqui se pode observar uma série de fatos interessantes sobre a concessão da alforria da negra Joana. A primeira informação importante é que se trata de uma mulher e que tem idade por volta de quarenta e cinco anos. As estatísticas feitas em trabalhos de Kátia Queiroz Mattoso sobre o tema apontam que a maioria dos escravos libertos eram mulheres e geralmente apresentavam idade avançada sendo muitas vezes idosas (MATTOSO, 1972). Pode-se também notar que a carta foi concedida mediante o pagamento de uma quantia indenizatória de 50 mil réis, valor considerado irrisório pela proprietária, mas que suscita debates importantes sobre que tipos de atividades os escravos desenvolviam para acumular o suficiente e comprarem sua liberdade. Além dos fatos que estão explícitos por meio das palavras da proprietária, a carta contém, de modo implícito, características sobre a ideologia paternalista e manipuladora dos senhores de escravos. A escrava liberta por meio desse documento certamente já tinha muitos anos de serviço e se encontrava em idade pouco produtiva. É enfatizada também a ideia de que a escrava prestou bons serviços, prática muito constatada em diversas outras cartas, evidenciando que os senhores exigiam obediência e lealdade absoluta dos cativos aspirantes à alforria, trazendo à luz um caráter de dominação presentes no sistema de concessão de cartas de liberdade, inúmeras vezes usadas como instrumento de controle social. O fato de a escrava ter sido liberta em data religiosa denota a preocupação em fazer do ato de concessão da alforria uma atitude “cristã” de “bondade” para com o liberto, caracterizando mais um mecanismo de controle. A quantia em dinheiro é outro fato importante a ser levado em consideração, pois muito embora os cativos dedicassem uma vida inteira de trabalho aos seus senhores, em diversas situações, eram-lhes exigidos valores em indenizações. Apesar de todos os obstáculos, é evidente que esses escravos desenvolvessem estratégias para conquistar a confiança dos seus senhores e até buscarem meios econômicos de pagar por sua libertação, o que caracteriza as cartas como um importante espaço de disputa pela liberdade. Agradecimentos Resultados Parciais e Discussão A PROEX/IF Baiano, pelo financiamento do Projeto. Aos membros do Grupo de Estudo em História Local do IF-Catu. Uma alforria bastante representativa sobre trabalho que estamos desenvolvendo é a de Joana, crioula, escrava de certa senhora por nome Felipa de Barros, que transcrevemos nas linhas que se seguem: “Eu, Maria Felipa de Barros como uma prova de respeito e veneração que presto ao dia de hoje, em que a Igreja comemora a Sagrada Paixão e Morte de nosso senhor Jesus Cristo e atendendo aos bons serviços, que me tem prestado minha escrava Joana, crioula, com quarenta e cinco CHALOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. LIMA JUNIOR, Sérgio Augusto de. O preço da liberdade: As cartas de alforria da cidade de Sabará na última década de escravidão no Brasil (1878-1888). In: http://monografias.brasilescola.com/historia/o-preco-liberdadealforria-sabara.htm, acesso em 24 de julho de 2011, às 01h36minh. Referências Número do ISSN 2236-9848 para a publicação intitulada: "Anais Eletrônicos das 10ª Feira dos Municípios e 1ª Mostra de Iniciação Científica do IF Baiano Campus: "Ciências no cotidiano""Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia Baiano – Campus Catu MATTOSO, Kátia Queirós. A propósito das cartas de alforria, 17791850, In: Anais de História, nº 4, 1972, pp. 23-52. 25a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química - SBQ 2