UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI MICHEL TERUHIKO OHARA RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA SÂO PAULO 2006 2 MICHEL TERUHIKO OHARA RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia civil da Universidade Anhembi Morumbi Orientador: Prof. Dr. Sidney Lazaro Martins SÃO PAULO 2006 3 MICHEL TERUHIKO OHARA RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE ESTAÇÕES TRATAMENTO DE ÁGUA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia civil da Universidade Anhembi Morumbi Trabalho________________em: ___ de ___________de 2006. ______________________________________ Orientador: Professor Dr. Sidney Lazaro Martins ______________________________________ Banca: Professora Dr.ª Adir Janete Godoy dos Santos Comentários: ________________________________________________________ 4 Família e amigos Dedico este trabalho para a milha família que sempre me apoiou e compreendeu-me durante todo este tempo concedendo grandes incentivos nos instantes mais difíceis e à estrutura. Aos meus pais que plantaram no meu Coração a vontade de vencer e desenvolver, afinal esta vitória também são deles, aos amigos, que apoiaram nas horas mais difíceis, agradeço pela paciência e alegria que trazem a cada dia. aos meus colegas de sala que durante este período ajudaram para que hoje possa alcançar este objetivo em minha vida. E que nós sempre conservemos o espírito jovem e que cada um de nós possamos crescer com honestidade e honra. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço aos amigos e colegas de trabalho da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP, pela disponibilização de seus relatórios, contendo importantes considerações e informações que contribuíram para a elaboração deste trabalho. Também agradeço ao Professor Doutor Sidney Lazaro Martins pelo tempo e conhecimentos que me foi dedicado, onde me orientou e aconselhou-me para a elaboração deste projeto. 6 RESUMO Este trabalho visa mostrar a importância da engenharia civil para com o meio ambiente através do desenvolvimento e pesquisas de alternativas para soluções dos resíduos gerados nas Estações de Tratamento de Água – ETAs, onde são originados durante a remoção de material solubilizado e partículas em suspensão na água bruta. São ilustrados os processos de tratamento de água existente, os resíduos provenientes do processo de tratamento, os impactos ambientais, como são disponibilizados atualmente e as alternativas existentes para reciclagem ou disponibilização final desses resíduos. É mostrado no capítulo 6 um trabalho realizado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP em escala real de uma das alternativas mostradas no capítulo 5. Palavras Chave: Lodo; Resíduos; Estações de Tratamento de Água. 7 ABSTRACT This work shows how civil engineering is important for about to with the environmement the breeding and alternatives researches about to expedients of the remains generated at the water treatment season, where they are originated during the removal. They are illustrated the peace processes handling, the environmental impact, as a are made available the alternatives existing about to recycling closing he might give residue. As a showed in chapter work paid-up Company as of Basic Sanitation from Been as of they São Paulo – SABESP the one I know well into he climbs actual from a of alternatives showed at the capitulo 5. Key Words: Sludge, residue, water treatment season. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 5.1: Perfil de lodo ao longo de um decantador convencional .........................23 Figura 5.2: Limpeza manual de decantador convencional ........................................23 Figura 5.3: Decantador convencional transformado em decantador de alta taxa......24 Figura 5.4: Lavagem de filtros de uma ETA somente com água...............................26 Figura 5.5: Lavagem de um filtro com ar e água .......................................................26 Figura 5.6: Relação Mortalidade X Dias ....................................................................27 Figura 5.7: Esquema de um sistema de tratamento de água que utiliza centrífuga para desidratação de lodo .....................................................................31 Figura 5.8: Corte em perspectiva de uma centrífuga horizontal ................................33 Figura 5.9: Esquema de remoção de água por sistema sob pressão .......................35 Figura 5.10: Ilustração geral de Filtro-Prensa ...........................................................35 Figura 5.11: Esquema de funcionamento de um filtro-prensa de placas...................36 Figura 5.12: “Desidratação” esquemática em um leito de secagem..........................39 Figura 5.13: Esquema geral do sistema de Leitos de Secagem ...............................40 Figura 5.14: Esquema do leito (corte) .......................................................................40 Figura 5.15: Componentes do leito de secagem a vácuo .........................................42 Figura 5.16: Construção de leitos de secagem de tela em cunha.............................43 Figura 5.17: Mecanismos de desidratação em lagoas ..............................................43 Figura 5.18: Esquema geral do sistema de Lagoas de Lodo ....................................44 Figura 5.19: Seção da lagoa de Shoremont ..............................................................45 Figura 5.20: Situação da disposição final dos lodos das ETAs nos Estados Unidos 47 Figura 6.1: Fluxograma do processo de tratamento de água da ETA Cubatão ........56 Figura 6.2: Sistema de tratamento de lodos da ETA.3/CUBATÃO............................58 Figura 6.3: Fluxograma do processo de fabricação de tijolos ...................................60 Figura 6.4: Moldagem do bloco cerâmico na extrusora.............................................60 Figura 6.5: Corte do bloco cerâmico .........................................................................61 Figura 6.6: Empilhamento dos blocos nas vagonetas ...............................................61 Figura 6.7: Estufa de secagem..................................................................................62 Figura 6.8: Forno de queima de blocos cerâmicos....................................................62 Figura 6.9: Ensaio de compressão............................................................................65 9 LISTA DE TABELAS Tabela 5.1: Características físico-químicas dos lodos de decantadores das ETAs da RMSP ...............................................................................................28 Tabela 5.2: Vantagens e desvantagens do uso de leitos de secagem......................41 Tabela 5.3: Horas-homem/ano para operação e manutenção de lagoas..................45 10 LISTA DE QUADROS Quadro 5.1: Parâmetros de Caracterização de Lodos de ETAs................................29 Quadro 6.1: Resultados de ensaios de blocos cerâmicos com dosagem 1:8 ...........64 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas AESABESP Associação dos Engenheiros da Sabesp AWWARF American Works Association Research Foudation CETESB Companhia de Tecnologia do Estado de São Paulo DBO Demanda biológica de oxigênio DQO Demanda química de oxigênio ETA Estação de Tratamento de Água ETE Estação de Tratamento de Esgoto EUA Estados Unidos da América NTK Nitrogênio total PROSAB Programa de Pesquisas em Saneamento Básico RMSP Região Metropolitana de São Paulo SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SANEPAR Companhia de Saneamento do Estado do Paraná ST Solos totais STF Solos totais fixos STV Solos totais voláteis WPCE Walter Pollution Control Federation 12 LISTA DE SÍMBOLOS cm/s Centímetros por segundo kg/m² quilograma por metro quadrado L/m²/s Litros por metro quadrado por segundo L/s Litros por segundo m Metro m/s Metros por segundo m³/s Metros cúbico por segundo mg/L Miligrama por litro mm Milímetro t/d Tonelada por dia 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................15 2 OBJETIVOS.......................................................................................................17 2.1 Objetivo Geral ...............................................................................................17 2.2 Objetivo Específico ......................................................................................17 3 MÉTODO DO TRABALHO ................................................................................18 4 JUSTIFICATIVA ................................................................................................19 5 RECICLAGEM DOS LODOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA.20 5.1 Geração de Resíduos nas ETAs..................................................................20 5.1.1 Tipo de Decantador e Procedimento de Limpeza ........................................ 21 5.1.2 Lavagem dos Filtros - Procedimentos e Freqüências ................................. 25 5.2 Impactos Ambientais Gerados pelos Resíduos de ETAs .........................27 5.3 Caracterização e Propriedades Físico-Químicas dos Lodos das ETAs ..28 5.4 Desidratação de Lodo ..................................................................................29 5.4.1 Desidratação por Centrifugação...................................................................... 30 5.4.2 Desidratação por Filtração Forçada ............................................................... 34 5.4.2.1 Filtro-prensa ...................................................................................................... 34 5.4.2.2 Prensa Desagüadora ....................................................................................... 37 5.4.2.3 Filtro a Vácuo .................................................................................................... 37 5.4.3 Desidratação Natural por Leitos de Secagem e Lagoas de Lodo ............. 38 5.4.3.1 Leitos de Secagem........................................................................................... 39 5.4.3.2 Leitos de Secagem Alternativos..................................................................... 41 5.4.3.3 Lagoas de Lodo ................................................................................................ 43 5.5 Benefícios na Utilização dos Resíduos das ETAs .....................................46 14 5.6 Reciclagem e/ou Disposição dos Resíduos das ETAs..............................47 5.6.1 Disposição em Aterros Sanitários ................................................................... 47 5.6.2 Disposição em Estações de Tratamento de Esgotos - ETEs..................... 48 5.6.3 Reciclagem do lodo na Fabricação de Cimentos ......................................... 49 5.6.4 Reciclagem do lodo na Fabricação de Tijolos Cerâmicos .......................... 50 5.6.5 Disposição em Solo Comercial........................................................................ 50 5.6.6 Disposição no solo............................................................................................. 51 5.6.7 Reciclagem do lodo no Cultivo de Grama Comercial .................................. 51 5.6.8 Reciclagem do lodo na Compostagem .......................................................... 52 5.6.9 Reciclagem do lodo na Plantação de Cítricos .............................................. 52 5.7 6 Recuperação de Coagulantes .....................................................................53 RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA ETA CUBATÃO NA INDÚSTRIA CERÂMICA MÔNACO......................................................................................55 6.1 Processo de Tratamento da Água na ETA/Cubatão ..................................55 6.2 Tratamento dos lodos gerados no processo .............................................58 6.3 Descrição do Processo de Fabricação do Bloco Cerâmico .....................59 6.4 Propriedades Mecânicas dos Blocos .........................................................63 6.5 Custo .............................................................................................................65 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................67 8 CONCLUSÃO ....................................................................................................68 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................69 15 1 INTRODUÇÃO Desde a década de 1950, o destino dos resíduos das Estações de Tratamento de Água, denominado lodo de ETA, em todo o mundo eram lançados nos cursos d’água mais próximos às estações, mas está prática foi questionada devido aos riscos à saúde humana e aos impactos ao meio ambiente. A partir de 1.990 foram criados conjuntos de leis que regulamentam as descargas de poluentes aos meios aquáticos. Esta crescente preocupação tem gerado regulamentações que restringem ou proíbem esta forma de disponibilização (PROSAB, 2006). A busca por soluções economicamente e ambientalmente favoráveis ou vantajosas para o tratamento e disposição final do lodo de ETA continua sendo um desafio, principalmente para países em desenvolvimento, que confrontam severas restrições econômicas e onde os problemas sanitários exigem soluções emergenciais, conforme Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES (2006), mas o desafio se torna ainda maior quando nos deparamos pela falta de normalização para disponibilização deste resíduo (lodo de ETA). Segundo Giordani e Abreu (2004), as impurezas retidas no processo de potabilização das águas naturais captadas dos rios e os produtos químicos utilizados no tratamento originam o lodo das ETAs. Estes resíduos são originados na operação da lavagem de filtros e descarga de decantador. Pela norma NBR 10.004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004), os lodos são classificados como “resíduos sólidos”, portanto, devem ser tratados e disponibilizados conforme exigência dos órgãos reguladores. Todavia, em nosso país, estes resíduos são, em sua maioria, lançados nos cursos d’água, sendo raras as estações que possuem um sistema adequado de tratamento e disposição do lodo produzido. Ainda Giordani e Abreu (2004), face às novas exigências legais e com o advento da Lei 9.605/98, mais comumente chamada Lei de Crimes Ambientais, o não atendimento à legislação vigente faz com que as empresas de saneamento acumulem um passivo ambiental o que poderá acarretar por conseqüência uma 16 série de punições legais e transtornos aos responsáveis pelo funcionamento das ETAs e a solução para este passivo ambiental consiste na promoção da coleta, tratamento e correta destinação final dos lodos produzidos. Neste trabalho são apresentadas algumas alternativas para reciclagem e/ou disponibilização final dos lodos, tais como, Disposição em Estações de Tratamento de Esgotos – ETEs, Reciclagem na Incoporação na Fabricação de Cimentos, Disposição no solo, Reciclagem na Incorporação na Plantação de Cítricos, entre outros. Conhecendo as alternativas disponíveis para a disposição final do lodo de ETA, antes da definição da metodologia a ser adotada, deve ser realizado um estudo detalhado da viabilidade técnica, ambiental e econômica, tendo em vista o bom funcionamento do sistema a ser adotado. 17 2 OBJETIVOS O trabalho demonstra a importância da reciclagem dos resíduos das Estações de Tratamento de Água (ETAs). 2.1 Objetivo Geral Este trabalho descreve como são disponibilizados os resíduos das ETAs atualmente e como minimizar os seus impactos ambientais através de experiências e estudos realizados no Brasil e no Mundo. 2.2 Objetivo Específico O trabalho tem por objetivo principal indicar o papel da engenharia civil no âmbito de melhoria da qualidade de vida do homem e de todo meio ambiente, inclusive à vida aquática, através de estudos de viabilidade técnica e econômica, mostrar que é possível solucionar ou minimizar os impactos ambientais gerados pela disponibilização inadequada dos lodos de ETAs adotadas no Brasil e no Mundo, através da reciclagem desses resíduos. 18 3 MÉTODO DO TRABALHO O trabalho foi elaborado a partir de referências disponibilizadas e publicadas pelas pesquisas realizadas em parcerias com as Companhias de Saneamento do Estado de São Paulo (SABESP), nos trabalhos do Programa de Pesquisas em Saneamento Básico (PROSAB), da Associação dos Engenheiros da Sabesp – AESabesp, entre outras publicações. Foram pesquisados também vários artigos e publicações pertinentes ao tema na Internet. É utilizada também a norma NBR 10.004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004), o qual é responsável por classificar os resíduos sólidos em diferentes níveis de periculosidade, considerando possíveis riscos ambientais e à saúde humana, onde define e caracteriza que os resíduos gerados nas ETAs, denominados de lodos provenientes de tratamento de água, são “resíduos sólidos”, pertinentes ao tema a ser pesquisado. 19 4 JUSTIFICATIVA A Engenharia civil busca formas para garantir e suprir as necessidades “do homem”, tal como no fornecimento de água, geração de energia elétrica, meio de comunicação, etc., através da disponibilização destes recursos em sua “porta” o homem ganhou conforto, porém gerou problemas como os resíduos. Desta maneira, preocupado com os resultados obtidos com a experiência já vivenciada pela sociedade, onde as ações antrópicas do passado produziram vários impactos ambientais, chegando a custar muitas vidas nativas do meio ambiente, tal como: animais silvestres, pássaros e até mesmo a extinção da vida nos cursos d’água urbanos, por exemplo os rios Tietê e Pinheiros que cruzam o município de São Paulo. Então, com o principal objetivo, na melhoria da qualidade de vida do homem e respeitando e preservando os seres vivos e o meio ambiente, este trabalho será elaborado propondo soluções para os lodos das ETAs. 20 5 RECICLAGEM DOS LODOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA A indústria do abastecimento público de água utiliza o tratamento completo ou convencional, através dos processos de coagulação, floculação, decantação e filtração, transformando a água bruta “inadequada” para consumo humano, em água potável de acordo com o padrão de potabilidade, utilizando, para isso, processos e operações com produtos químicos, gerando os resíduos, denominados de lodos, conforme Cordeiro (1999). Os lodos de Estações de Tratamento de Água – ETAs, com grande freqüência são dispostos nos cursos de águas próximos às estações de tratamento, provocando grandes impactos para o meio ambiente e principalmente para a vida aquática, contudo embora que modestamente, é louvável a recente preocupação das companhias de saneamento e instituições de pesquisa brasileira com o destino de lodos de ETAs. Isto pode significar que o lodo está começando incomodar e que, portanto podemos estar caminhando, no sentido de resgatar a dívida ambiental provocada pelo lançamento diário ao nível de milhões de litros no meio ambiente. Segundo Azeredo, Rodrigues e Webwester (2002), estima que atualmente são gerados aproximadamente 90t/d de lodos nos municípios operados pela Sabesp e 500t/d na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, a base seca a 30%. 5.1 Geração de Resíduos nas ETAs É de suma importância à existência da ETA quando utilizado manancial superficial para o sistema de abastecimento público de água, e segundo Cordeiro (1999), atualmente é o sistema mais utilizado pelas companhias existentes. 21 A maioria das ETAs utilizam o sulfato de alumínio ou hidróxido de ferro como coagulantes e produzem, basicamente, como subprodutos do tratamento, lodos dos decantadores e águas de lavagens dos filtros. Além dos coagulantes, a presença de carvão ativado em pó, cal e polímeros é comum nos lodos gerados nas ETAs, além do tempo de permanência nos decantadores, conforme Tsutiya e Carvalho (2001). O sistema tradicional ou completo tem a função de retirar as partículas finas em suspensão e exigem operações unitárias de rápida mistura para dispersão do coagulante aplicado e câmaras de mistura lenta para a formação final do floco, assim para a clarificação da água é necessária a sua remoção, operação realizada nos decantadores, que são grandes tanques onde esse material sedimentado fica retido durante um certo período, desta forma, maior parte dos flocos ficam retidos nos decantadores e a outra parcela menor que não sedimentam é encaminhada aos filtros para a clarificação final. Dessa maneira a ETA produz água para abastecimento público e gera resíduos acumulados nos decantadores e água de lavagem dos filtros, conforme Cordeiro (1999). Os principais resíduos gerados na ETA são: • Água de lavagem dos filtros; • Lodos dos decantadores; • Rejeito de limpeza dos tanques de produtos químicos. 5.1.1 Tipo de Decantador e Procedimento de Limpeza Segundo Bernardo, Carvalho e Scalize (1999), as características operacionais e o seu tipo de decantador interferem diretamente no método de tratamento e de disposição dos resíduos líquidos, geralmente os decantadores convencionais (sem equipamento de extração de lodo) são limpos em intervalos de tempos de 1 a 4 meses de operação, dependendo da qualidade água bruta a ser tratada, gerando resíduos bem mais concentrados que os observados em decantadores de alta taxa ou convencionais com dispositivos de extração de lodo, os quais são limpos diariamente dependendo da qualidade da água bruta a ser tratada. 22 Ainda conforme Bernardo, Carvalho e Scalize (1999), o procedimento utilizado na limpeza dos decantadores também interfere na qualidade dos resíduos líquidos gerados, principalmente no que diz respeito à concentração de sólidos. A extração de lodo dos decantadores pode ser mecanizada (remoção intermitente ou contínua) ou manual. O emprego de equipamento para remoção de lodo é justificado quando a água bruta a ser tratada possui alta concentração de sólidos suspensos ou a elevada concentração de matéria orgânica, ou quando a matéria extraída é rapidamente degradada. Em ETAs relativamente de grande porte (em geral, com capacidade de tratamento de vazão maior que 1 m³/s), adicionalmente os decantadores são providos de dispositivos automáticos para a remoção de lodo. Os decantadores convencionais, que não possuem equipamentos de extração de lodo, são limpos quando se observa imenso arrastamento de flocos para as calhas de coleta de água decantada ou quando a fermentação do lodo causa o surgimento de odor desagradável e de bolhas que prejudicam a eficiência da unidade. Inicia-se com o esvaziamento do decantador e, em seguida, é realizada a lavagem do mesmo por jateamento de água sob pressão removendo o restante de lodo que permanece no fundo. No decantador convencional a formação de uma zona de turbilhonamento de pequenas bolhas de gás na superfície indica o início da fermentação. Se o operador não atentar para esse fenômeno e a fermentação prosseguir, haverá, além da produção de sabor e odor desagradável na água decantada, desprendimento de grandes placas de lodo na zona de decantação, deteriorando ainda mais a qualidade da água decantada, conforme descrito por Bernardo, Carvalho e Scalize (1999). A limpeza manual resulta na produção de resíduo líquido em bateladas, o que dificulta o gerenciamento do mesmo. A descarga contínua ou semi-contínua de lodo, além de permitir maior eficiência e controle do sistema de tratamento, se evita a ocorrência de condições anaeróbias. Dessa forma, o armazenamento do lodo por longo período, tendo em vista o aumento de sua concentração, não é recomendado. Nas figuras 5.1 e 5.2 são mostradas fotos de um decantador convencional, de escoamento horizontal, após sua limpeza manual. Foi demarcada na parede lateral a 23 altura do lodo depositado, observando-se que a maior quantidade de lodo é retida no primeiro terço médio da unidade (PROSAB, 2006). Figura 5.1: Perfil de lodo ao longo de um decantador convencional (PROSAB, 2006) Figura 5.2: Limpeza manual de decantador convencional (PROSAB, 2006) No entanto, no Brasil há muitas ETAs que tiveram seus decantadores convencionais modificados em unidades de alta taxa, mediante a instalação de módulos tubulares ou de placas planas paralelas em parte deles, sem ter sido construído um sistema 24 adequado para a remoção do lodo (figura 5.3). Como geralmente é diminuída a área de concentração do lodo e aumentada a vazão, há necessidade de paralisações periódicas para execução das limpezas (PROSAB, 2006). Figura 5.3: Decantador convencional transformado em decantador de alta taxa (PROSAB, 2006) 25 Na maioria das ETAs de ciclo completo no Brasil, segundo levantamento efetuado por Cordeiro em 1993, a limpeza dos decantadores é feita manualmente, por meio de jatos de água. O local de disposição desses resíduos é quase sempre um curso d’água próximo a ETA e o período de tempo entre limpezas sucessivas em um mesmo decantador variou de 20 a 180 dias. A remoção por meio de descarga de fundo nos decantadores de alta taxa contendo poços de lodo, segundo Bernardo, Carvalho e Scalize (1999), a duração de descarga depende da qualidade do resíduo descartado, que é visualmente observada pelo operador. Tal procedimento pode interferir nas características dos resíduos, visto que é uma comparação muito subjetiva. 5.1.2 Lavagem dos Filtros - Procedimentos e Freqüências A lavagem de filtros, segundo Bernardo, Carvalho e Scalize (1999), geralmente é realizada em intervalos de 12 a 48 horas, com duração de 4 a 15 minutos e taxa de aplicação de água da ordem de 10 a 15 L/m²/s, dependendo do método de lavagem. Ainda conforme Bernardo, Carvalho e Scalize (1999), a concentração de sólidos suspensos da água de lavagem de filtros varia muito durante tal procedimento, sendo relativamente baixo no início, aumenta depois de 1 a 3 minutos e, após atingir um pico, diminui gradativamente até o final. O filtro é considerado limpo quando se observa a ausência de flocos e clarificação na água de lavagem. As características desses resíduos dependem, dentre outros fatores, da periodicidade e dos métodos das lavagens, conforme descrito por Bernardo, Carvalho e Scalize (1999). Usualmente, a lavagem dos filtros, somente com água, consiste na aplicação de uma vazão no sentido ascensional, que causa expansão do meio granular e libera o material sólido retido na camada filtrante, resultando um resíduo líquido com concentração de sólidos que pode variar de 50 a 300 mg/l, em condições normais de operação. A matéria sólida nos resíduos é formada por flocos remanescentes da decantação (argilas muito finas, hidróxido de ferro ou alumínio, 26 matéria orgânica, entre outros.), podendo também ser resultante da oxidação do ferro ou manganês. Na figura 5.4 são mostradas fotos da lavagem de um filtro de uma ETA, somente com água, cuja duração é da ordem de 10 minutos e, na figura 5.5, tem-se fotos mostrando a lavagem com ar-água. 4 minutos após o início da lavagem 4 minutos após o início da lavagem Figura 5.4: Lavagem de filtros de uma ETA somente com água (PROSAB, 2006) Aplicação de ar Final da aplicação do ar Lavagem com água Final da lavagem com água Figura 5.5: Lavagem de um filtro com ar e água (PROSAB, 2006) 27 5.2 Impactos Ambientais Gerados pelos Resíduos de ETAs Os mananciais de águas superficiais estão sujeitas à contaminação por formas naturais quando utilizadas, em decorrência da ação da água sobre as rochas e também por ações humanas sobre o meio, através da aplicação de fertilizantes, pesticidas e disposição de resíduos industriais, entre outras formas. Essas substâncias poderão estar presentes nos resíduos gerados, portanto este aspecto tem grande importância (CORDEIRO, 1999). Quando utilizado sulfato de alumínio como coagulante no processo de tratamento da água, conforme Cordeiro (1999) os resíduos dos decantadores têm em sua composição grandes concentrações de alumínio, e quando esse material é lançado sem nenhum tipo de tratamento em rios com baixa velocidade ou lagos, poderá causar problemas, principalmente na camada bentônica desses locais. Ainda segundo Cordeiro (1999), os estudos realizados por Lamb e Bailey, descritos por Cornwell, tiveram por objetivo determinar os efeitos agudos e crônicos, utilizando lodos resultantes do sulfato de alumínio sobre T.dissimilis, que é representativo da família dos chironomídeos, os quais são organismos que ocupam porção significativa da camada bentônica, sendo importante na alimentação dos peixes. Através desse estudo pode ser observada que a taxa de mortalidade dessas espécies aumenta com o aumento das dosagens de lodo, conforme ilustrada na figura 5.6. “Acredita-se que pode ocorrer aumento na concentração de metais tóxicos no bentos, além disso, pode se ter à inibição no movimento de pupas”. Figura 5.6: Relação Mortalidade X Dias (PROSAB, 2006) 28 Segundo Roberto & Abreu, descrito por Cordeiro (1999), “os fatores biológicos, químicos e físicos que alteram as condições ambientais, predispondo os peixes a enfermidades diversas, tornando-os fracos, suscetíveis às infestações e podendo levá-los à morte, são tidos como enfermidades ecológicas”. 5.3 Caracterização e Propriedades Físico-Químicas dos Lodos das ETAs Os lodos gerados nos decantadores e filtros das ETAs, podem ter suas características bastante variadas, dependendo principalmente das condições apresentadas pela água bruta, dosagens e produtos químicos aplicados, forma de limpeza dos decantadores, entre outros (CORDEIRO, 1999). A tabela 5.1 mostra algumas características físico-químicas dos lodos de decantadores das ETAs operadas pela SABESP na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, conforme Tsutiya e Carvalho (2001). Observando-se os resultados dos parâmetros apresentados, mostraram-se muito variados, evidenciando a diversidade das ETAs, confirmando a afirmação de Cordeiro (1999). Tabela 5.1: Características físico-químicas dos lodos de decantadores das ETAs da RMSP Teodoro Parâmetro Guaraú A.B.V Rio Claro Rio Grande Alumínio (mg/kg) 65.386 7.506 6.690 83.821 123.507 95.541 Cobre (mg/kg) 23 1.109 14.833 25 2.791 <5 Ferro (mg/kg) 32.712 281.508 449.774 32.751 41.259 30.080 152 86 150 42 46 38 Manganês (mg/kg) 3.146 1.684 6.766 136 5.181 453 Sódio (mg/kg) 6.609 1.027 41.482 563 3.222 433 Zinco (mg/kg) 59 57 75 47 145 68 Organoclorados (ppb) ND 0,02 0,02 - - ND Carbamatos (ppb) ND 8,4 ND - - ND 24.957 17.412 14.486 11.043 5.518 10.692 Fluoreto (mg/kg) Sólidos totais (mg/l) Fonte: Tsutiya e Carvalho – 2001 Ramos Alto Cotia 29 Ainda segundo Cordeiro (1999), devido a está diversificação mostra-se necessário o equacionamento do problema de forma quase individualizada. Segundo Tsutiya e Carvalho (2001), a caracterização final do lodo deve estar relacionada à alternativa de disposição final desejada, e não apenas na caracterização dos parâmetros estabelecidos pela NBR 10.004, onde classifica os lodos de decantadores como “resíduos sólidos”. A American Walter Works Association Research Foundation – AWWARF (1999) caracteriza os lodos de ETAs no estudo da viabilidade para sua utilização benéfica, apresentado no Quadro 5.1. Quadro 5.1: Parâmetros de Caracterização de Lodos de ETAs Parâmetros Unidade Parâmetros Unidade Potássio mg/kg Nitrogênio amoniacal mg/kg Cor Nitrogênio nitrato/nitrito mg/kg Textura Cálcio mg/kg Físicos Concentração de sólidos % Teor de umidade % Carbonato de cálcio Granulometria % Metais Limite de liquidez % sólidos Radionuclídios Limite de plasticidade % sólidos Orgânicos kg/m³ Toxicidade Massa específica Peso específico Coliformes totais Retração pH % Ruptura por cisalhamento Químicos Nutrientes Nitrogênio total mg/kg Fósforo total mg/kg Fonte: AWWARF (1999) 5.4 Desidratação de Lodo Como os resíduos têm características e freqüências de descarga distintas, acabam influenciando no processo de tratamento ou “desidratação”. A desidratação ou remoção de parcela de água do lodo tem por objetivo a redução do volume, 30 conseqüentemente, diminuição de custo no transporte para a destinação final do lodo. Para definir o tipo de sistema a ser utilizado depende de vários fatores, tal como: área necessária para implantação, custo do terreno, distância da estação até o destino final, condições climáticas, custo dos equipamentos, operação, preparo de recursos humanos para operação, necessidade de condicionamento, entre outros. A redução do volume dos rejeitos das ETAs pode ser realizado com a remoção da água livre e nos interstícios dos sólidos, e os métodos de remoção de água são diversas, tal como: nos sistemas naturais através dos Leitos de Secagem e Lagoas de Lodo e nos sistemas mecânicos através dos Filtros-prensa, Prensa Desaguadora, Centrífugas e Filtros a Vácuo (CORDEIRO, 1999). Deve-se ressaltar que nos países como Bélgica, Holanda, Alemanha, Estados Unidos e África do Sul, vem desenvolvendo sistemas inovadores, e segundo Corweel & Koopers, descritos por Cordeiro (1999), “podem se tornar alternativas no futuro para a remoção de águas de lodos de ETAs”. Dentre estes podem ser citados: • Filtro-prensa de diafragma; • Filtro-prensa tubular; • Sistema Hi-Compact; • Sistema Compactor; • Microfiltração; • Sistema de aquecimento-degelo; • Filtro-prensa contínuo de alta pressão. 5.4.1 Desidratação por Centrifugação Segundo Reali, Patrizzi e Cordeiro (1999), a centrifugação é uma operação de separação de fases que ocorre pela ação do campo de forças centrífugo que surge quando se rotaciona um recipiente cilíndrico (tambor) contendo as fases que se 31 deseja separar, como, por exemplo, o lodo originado em ETAs e ETEs. No caso do lodo, quando o cilindro é submetido a altas rotações, as partículas mais densas (sólidos) são rapidamente impulsionadas na direção da parede interna do tambor, onde são acumuladas e, dessa forma, separadas da fase líquida. É mostrado, na figura 5.7 um esquema ilustrativo com sistema de desidratação de lodo de ETA utilizando centrífuga. Este esquema refere-se a um exemplo de sistema de remoção de água do lodo em uma ETA convencional, envolvendo as seguintes etapas: • Clarificação por sedimentação e aproveitamento da água de lavagem dos filtros da ETA. Nesse exemplo, os sedimentos dos tanques de clarificação por sedimentação são reunidos aos lodos descartados dos decantadores da ETA; • Espessamento dos lodos provenientes das descargas dos decantadores e dos tanques de clarificação da água de lavagem dos filtros e após o espessamento do lodo (por flotação ou gravidade), este é encaminhado para a (s) centrífuga (s), na (s) qual (is) ocorre a desidratação final; • A torta produzida após a centrifugação é encaminhada para disposição final, e o líquido drenado é retornado aos tanques de clarificação da água de lavagem de filtros ou descartado na rede de esgoto. Figura 5.7: Esquema de um sistema de tratamento de água que utiliza centrífuga para desidratação de lodo (PROSAB, 2006) 32 Os três tipos de centrífugas mais comuns em ETAs, são as centrífugas de disco com eixo vertical, centrífugas com tambor não perfurado de eixo vertical e centrífugas decantadoras de eixo horizontal, conforme Reali, Patrizzi e Cordeiro (1999). Todos os três tipos operam segundo o princípio de remoção de uma suspensão, escoando através delas sob influência de campos centrífugos geralmente na faixa de 1.000 a 6.000 vezes a força da gravidade. A principal diferença entre os três tipos é o método com que os sólidos são coletados e descarregados do tambor. As centrífugas decantadoras de eixo horizontal ou somente centrífugas decantadoras, são os mais utilizados para desidratação de lodos. Essas centrífugas consistem essencialmente em um tambor cilíndrico horizontal sem perfurações, quando rotacionado, promove a separação acelerada dos sólidos e sua acumulação em sua parede interna. Esses sólidos são arrastados continuamente para uma das extremidades do cilindro por meio de uma rosca que transporta helicoidalmente (rosca sem fim) disposta internamente ao cilindro. Esse cilindro possui a forma cônica convergente na região de descarga dos sólidos, permitindo que a rosca de transporte se movimente para que a massa de sólidos seja separada com a camada de líquido existente no interior de tambor, percorrendo um pequeno trecho “seco” antes de ser descarregada para fora da centrífuga, (PROSAB, 2006). A figura 5.8 ilustra os principais componentes internos e externos de centrífugas decantadoras em corte e em perspectiva com eixo horizontal com alimentação do lado oposto da saída dos sólidos (PROSAB, 2006). As centrífugas de discos é utilizada nos diversos processos industriais, nos quais se tenham suspensões contendo baixas concentrações de partículas finas. Nesses equipamentos, a vazão afluente é distribuída entre diversos canais estreitos formados por diversos discos cônicos superpostos (PROSAB, 2006). Quanto às centrífugas com tambor não perfurado de eixo vertical a alimentação é feita pelo fundo do tambor e os sólidos são acumulados na parede interna do tambor rotativo, enquanto o efluente clarificado verte pelo topo do mesmo. Esse equipamento é capaz de separar uma ampla faixa de tamanho de partículas. Porém, como a mesma não possui dispositivos para a descarga contínua dos sólidos 33 acumulados, a operação requer interrupções periódicas para a remoção desse material (PROSAB, 2006). Figura 5.8: Corte em perspectiva de uma centrífuga horizontal (PROSAB, 2006) Contudo, basicamente os quatro principais parâmetros técnicos de grande interesse para quem utiliza as centrífugas decantadoras, são: • Grau de clarificação do líquido centrifugado; • Capacidade de processamento da centrífuga e potência da mesma; • Grau de hidratação da torta produzida; • Dosagem requerida de condicionadores químicos (usualmente polímeros). Porém, segundo Reali, Patrizzi e Cordeiro (1999), não é possível generalizar acerca do melhor tipo de polímero, fazendo-se necessário que, para cada caso, sejam realizados ensaios de centrifugação para determinação de qual o melhor tipo de polímero e respectiva dosagem ótima. 34 5.4.2 Desidratação por Filtração Forçada Os sistemas mecânicos para a desidratação por filtração forçada exigem menores áreas de implantação em relação às de desidratação natural por leitos de secagem e lagoas de lodo. Os sistemas mecânicos, segundo Cordeiro (1999), têm por característica a utilização de pressões diferentes da pressão atmosférica para auxiliar a remoção da água livre presente nos lodos. Desta forma, nesse aspecto mostra-se à necessidade de custos adicionais de implantação, operação e manutenção. Porém deve-se estudar de forma ampla, no sentido de conhecer as possibilidades de aplicação desses métodos. 5.4.2.1 Filtro-prensa Segundo Cordeiro (1999), o sistema de filtro-prensa para remoção de água de lodos funciona de forma intermitente. O lodo é introduzido em câmaras, onde “telas” (mantas) filtrantes estão alojadas. Por meio da aplicação de pressões diferenciais, inicia-se a compressão do material sobre o meio filtrante, fazendo com que seja removido, formando-se na câmara uma mistura com teor elevado de sólidos, usualmente denominado de “torta”. O sistema filtro-prensa envolve basicamente duas operações: a primeira é aplicação da pressão sobre a massa (lodo) e a segunda consiste na filtração da água contida na massa. Na figura 5.9 é ilustrado um esquema desse fenômeno. Os filtros-prensa de placas são constituídos por uma estrutura metálica que tem como guia uma viga e pode ser superior ou lateral, onde as placas são colocadas. É um sistema que têm funcionamento em batelada, onde as câmaras são preenchidas com o lodo e a parte móvel do filtro provoca a compressão, de tal maneira que se inicia a formação da torta com a retirada do filtrado através de cada câmara. Na 35 figura 5.10 é ilustrado um esquema geral do filtro-prensa de placas (PROSAB, 2006). Figura 5.9: Esquema de remoção de água por sistema sob pressão (PROSAB, 2006) Figura 5.10: Ilustração geral de Filtro-Prensa (PROSAB, 2006) À medida que as tortas de lodo vão se formando no interior das câmaras, a pressão de alimentação aumenta, mantendo constante o fluxo. Essa pressão aumenta gradativamente até atingir um valor máximo. A pressão de operação dos filtros varia de 2 a 15 bar (aproximadamente 2 a 15 MPa), podendo chegar, em certos casos, a até 20 bar. Essa pressão deve ser fixada em função do tipo de lodo e do teor de sólidos que se deseja na torta. A espessura da torta depende da filtrabilidade do lodo, (CORDEIRO, 1999). 36 No projeto de filtro-prensa a escolha do tipo de tecido é um fator importante, uma vez que o tecido promove influência direta na eficiência da operação. Tal como, a abertura da trama e a espessura do filamento devem ser bem adaptadas ao tamanho da partícula que se deseja reter, conforme ilustrado na figura 5.11, (CORDEIRO, 1999). Figura 5.11: Esquema de funcionamento de um filtro-prensa de placas. (CORDEIRO, 1999) Ainda conforme Cordeiro (1999), um sistema típico de filtro-prensa inclui: sistema de recebimento e armazenagem do lodo, sistema de transferência do lodo, sistema de preparo e dosagem de produtos químicos, sistema de condicionamento do lodo, sistema de alimentação do filtro-prensa, sistema de filtração e compressão do lodo, sistema de transporte da torta e sistema de lavagem dos tecidos. A adição de produtos químicos ao lodo, tal como, cloreto férrico e cal, sulfato ferroso e cal, sulfato férrico e cal e polieletrólitos (polímeros sintéticos), segundo Cordeiro (1999), visa principalmente melhorar as condições de filtrabilidade do mesmo e a possibilidade de formação de um floco mais compacto. 37 5.4.2.2 Prensa Desagüadora O filtro-prensa de correia foi desenvolvido no início da década de 1960, esse equipamento funciona com o lodo sendo introduzido entre duas correias, em que uma delas é o meio filtrante. Estas deslocam-se entre roletes que promovem a compressão de uma esteira ou correia sobre a outra, provocando a drenagem do líquido (PROSAB, 2006). A operação envolve três etapas básicas em seu funcionamento, onde a primeira é o condicionamento do afluente, a segunda é uma drenagem gravitacional e a terceira é a compactação do lodo, por meio de forças de compressão. O sistema de desidratação, segundo Cordeiro (1999), utiliza galpão fechado de construção simples, bomba de alimentação de lodo, equipamento de preparo e dosagem de floculante (quando necessário), correia transportadora de lodo, painel de alimentação, água com pressão de 0,4 a 0,6 MPa e ar comprimido com pressão de 0,7 MPa. 5.4.2.3 Filtro a Vácuo O funcionamento dos filtros a vácuo baseia-se em um tambor posicionado horizontalmente dentro de uma caixa que contém o lodo. A superfície do tambor é dividida em setores que servem de suporte para o meio filtrante. A pressão negativa é aplicada em cada setor por meio de tubos internos e a superfície do tambor é envolvida com o meio filtrante (manta) através do qual a água é drenada para o tambor, passando através do lodo. Os sólidos são depositados sobre a manta e removidos por raspadores para fora do sistema, conforme Cordeiro (1999). A seleção do filtro a vácuo é efetuada a partir do conhecimento do ciclo de operação, da quantidade total de sólidos a secar e a obtida após a filtragem em kg/m²*h de área de filtragem, por hora de operação. A tela filtrante pode ser 38 constituída de diversos materiais, tais como tecido de algodão, lã, fibras sintéticas, fios plásticos, etc. Esse meio filtrante é um dos principais parâmetros a ser considerado no sistema, (CORDEIRO, 1999). Para a instalação da filtração a vácuo inclui: bombas para vácuo, entradas para os produtos químicos, filtros a vácuo, tanque de recuperação, bomba para o filtrado, correia para transporte da massa e receptor da massa. As dimensões variam de 1,0 a 3,6 metros de diâmetro e de 0,9 a 6,0 metros de comprimento, dependendo do tipo de equipamento. A sua eficiência é influenciada por diversos fatores, tais como, concentração de sólidos na torta, temperatura, demanda de água, eficiência de clarificação, tempo de secagem e operação a vácuo (PROSAB, 2006). Segundo Cordeiro (1999), vários autores têm demonstrado restrições à utilização destes equipamentos para remoção da água de lodos resultantes da coagulação com sulfato de alumínio. Krausaukas relatou essa limitação. Fulton enfatizou a natureza gelatinosa dos lodos de ETAs, sendo necessário o condicionamento dos mesmos. Nielsen et at, mostraram maior custo operacional desses sistemas em relação aos outros e a necessidade de altas dosagens de polímeros, além de problemas com o meio filtrante. 5.4.3 Desidratação Natural por Leitos de Secagem e Lagoas de Lodo A remoção natural de água livre de lodos gerados em decantadores de ETAs e ETEs tem sido utilizada há alguns anos. Em regiões onde as condições climáticas mostram-se favoráveis e há disponibilidade física, a aplicação desse método pode reduzir impactos ambientais, diminuindo o volume de despejos, possibilitando o reuso da água livre e minimizando perdas (CORDEIRO, 1999). Desta forma, podemos dizer que os sistemas naturais para remoção de água livre de lodos de ETAs podem ser de grande aplicação no Brasil. Esse fato se deve principalmente pelas condições climáticas apresentadas no país (PROSAB, 2006). 39 5.4.3.1 Leitos de Secagem Os leitos de secagem são constituídos pelo método mais utilizado para “desidratação” de esgotos sanitários nos EUA (Estados Unidos da América), onde praticamente dois terços (2/3) das estações utilizam esse método (PROSAB, 2006). Na figura 5.12 é mostrado o esquema geral do sistema de Leitos de Secagem. Vêm sendo realizadas pesquisas desde 1.990 para a remoção de água dos lodos em leitos de secagem, quando se verificou que lodos digeridos desidratavam-se mais rapidamente dos lodos brutos. Figura 5.12: “Desidratação” esquemática em um leito de secagem (PROSAB, 2006) Os dados de projeto, no entanto, são muito empíricos e somente há pouco tempo é que tem sido estudada com mais efetividade, em termos de engenharia. Esses sistemas caracterizam-se por serem multifásicos, envolvendo algumas etapas, conforme ilustradas na figura 5.13 (PROSAB, 2006). Ainda segundo Cordeiro (1999), os leitos de secagem são constituídos por tanques rasos, com duas ou três camadas de areia com granulometria diferente e cerca de 30 cm de espessura. O sistema completo é composto por camada suporte, meio filtrante e sistema drenante, conforme ilustrado na figura 5.14 e essa camada suporte tem por finalidade manter a espessura do lodo uniforme, facilitar a remoção manual do lodo e evitar a formação de buracos devido à movimentação de funcionários sobre o leito. 40 Figura 5.13: Esquema geral do sistema de Leitos de Secagem (PROSAB, 2006) Figura 5.14: Esquema do leito (corte) (PROSAB, 2006) Deve ser caracterizado o filtrado através do leito, pois pode possuir valores elevados de DQO, metais, cor e turbidez. No entanto, a possibilidade de retorno à entrada da ETA e o reuso do drenado é fator fundamental. Os tubos que transportam os lodos para os leitos de secagem devem ser dimensionados para trabalharem com velocidade de 0,75 m/s (PROSAB, 2006). Na tabela 5.2, demonstra algumas vantagens e desvantagens do uso de leitos de secagem (PROSAB, 2006). 41 Tabela 5.2: Vantagens e desvantagens do uso de leitos de secagem. Vantagens Desvantagens Baixo custo inicial quando o custo da Necessidade de maior área. terra é baixo. Pequena necessidade de operação. Necessidade de trabalhar com lodo estabilizado. Baixo consumo de energia. Seu projeto tem necessidade de conhecimento sobre o clima. Pouca necessidade de utilização Remoção do lodo seco exige trabalho condicionante químicos. intensivo. Alta concentração de sólidos. Fonte: PROSAB, 2006 5.4.3.2 Leitos de Secagem Alternativos Os sistemas de leitos de secagem alternativos podem ser de duas formas: • Leitos de Secagem a Vácuo • Leito de secagem de tela em cunha O primeiro utiliza pressões negativas para ativar a operação de drenagem. O sistema é composto por laje de fundo em concreto armado, camada de brita, membrana filtrante apoiada sobre a camada de brita, paredes divisórias e retentoras, sistemas de tubulações, comportas de alimentação, bomba de vácuo e bomba de remoção de filtrado. É mostrado na figura 5.15 o esquema do sistema sugerido pela Walter Pollution Control Federation – WPCE (1983), conforme descrito por Cordeiro (1999). O lodo é introduzido sobre o leito filtrante em camadas de 30 a 50 cm. A aplicação da pressão é realizada com valores de 0,3 a 8,4 mH 2 O , mantida no poço de sucção e sob o meio filtrante. O filtrado removido é mantido no poço de acumulação até determinado nível em que a bomba de acionamento entrará em funcionamento automático. 42 Ainda segundo Cordeiro (1999), a partir do momento em que a torta sobre o leito começa a fissurar e o vácuo passa a se perder, o sistema gerador de pressão é desligado. Esse sistema pode ser vantajoso para lodos gerados em locais com pequena disponibilidade de área para implantação de secagem de resíduo e estações que produzem pouco lodo. Por meio dessa sistemática podem ser utilizados polímeros para condicionamento do lodo. Figura 5.15: Componentes do leito de secagem a vácuo (WPCE, 1983) Para o segundo caso, chamado de leito de secagem de tela cunha, são construídos por tanques retangulares rasos e impermeáveis. O fundo é formado por um septo de tela em cunha, como ilustrado na figura 5.16. O fundo falso é vedado e o controle do drenado é realizado através de uma válvula de gaveta (CORDEIRO, 1999). Desidratando lodos de origem sanitária e industrial, na Inglaterra e nos EUA nos últimos 30 anos, esse sistema tem sido utilizado com sucesso. Os leitos de secagem de tela em cunha podem “desidratar” 2,4 a 4,9 kg/m² de matéria por ciclo de operação, segundo WPCE (1983), descritos por Cordeiro (1999). Considerando-se um período de 24 horas, o sistema pode atingir teor de solos de até 12%. A 43 utilização desse mecanismo tem sido recomendado para ETEs de pequeno porte com vazões de até 20 l/s. Figura 5.16: Construção de leitos de secagem de tela em cunha (WPCE, 1983) 5.4.3.3 Lagoas de Lodo Outro método a ser utilizado para a remoção de água quando o custo da terra for baixo é o de lagoas de lodo. Nas figuras 5.17 e 5.18 são ilustrados o mecanismo de desidratação em lagoas e o esquema geral de Lagoas de Lodo, respectivamente. Este sistema parecido ao dos leitos de secagem, onde a desidratação ocorre em três fases: drenagem, evaporação e transpiração (PROSAB, 2006). Figura 5.17: Mecanismos de desidratação em lagoas (PROSAB, 2006) Segundo Cordeiro (1999), têm mostrado em algumas experiências que a drenagem é independente da profundidade da lagoa, no entanto, a evaporação é o principal 44 fator para a desidratação. As lagoas constituem-se em método bastante popular nos EUA, tanto para os lodos de ETEs e ETAs, podem ser naturais ou artificiais, sendo construídas por meio de diques ou escavações. São grandes as áreas necessárias e o custo da terra é um dos fatores essenciais na definição do método. Figura 5.18: Esquema geral do sistema de Lagoas de Lodo (PROSAB, 2006) O projeto de lagoas de lodo inclui: sistema de tubulações de entrada de lodo e saída do decantado, sistema de bombeamento (se necessário) e equipamento para remoção mecânica de lodo. Apesar de existirem lagoas que atingem 3,0 m de profundidade, recomenda-se que a profundidade das lagoas varie de 0,7 a 1,4 m (CORDEIRO, 1999). São vários os fatores que devem ser avaliados nos critérios de projeto, segundo Cordeiro (1999), podendo ser citados: clima, permeabilidade do subsolo, características do lodo, profundidade da lagoa e área superficial. Quanto ao clima, devem ser analisados a precipitação (índices pluviométricos, distribuição anual e sazonal), temperaturas extremas e taxa de evaporação (média anual e flutuações anuais e sazonais), onde a permeabilidade do subsolo deve possuir valores moderados, variando de 0,00042 a 0,00140 cm/s, e o nível de água do lençol freático deverá estar no mínimo 50 cm acima do fundo da lagoa ou de acordo com as legislações locais. 45 Os trabalhos envolvidos na operação e manutenção das lagoas incluem: aplicação de lodo, remoção periódica do sobrenadante, remoção periódica dos sólidos e reparos no talude. Segundo U.S.ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY – USEPA (1979) descrito por Cordeiro (1999), os tempos para operação e manutenção variam de acordo com aplicação de sólidos (recomenda-se que se utilize de 36 a 39 Kg de sólidos por m³, devendo estar prevista duas células, no mínimo, para facilitar a estocagem do lodo), podendo ser avaliados na Tabela 5.3. As áreas ocupadas pelas lagoas podem ser duas ou três vezes maior que a dos leitos de secagem de mesma capacidade. Tabela 5.3: Horas-homem/ano para operação e manutenção de lagoas. Sólidos secos Operação Manutenção Total 100 30 55 85 1.000 55 90 145 10.000 120 300 420 50.000 450 1.500 1.950 aplicados (Ton/ano) Fonte: USEPA (1979) Na figura 5.26, pode se analisar as curvas de isoconcentrações, mostrando que o adensamento natural faz com que a variação de concentração de sólidos cresça da superfície para o fundo de 1,7% a 10% (PROSAB, 2006). Figura 5.19: Seção da lagoa de Shoremont (PROSAB, 2006) 46 Este sistema de lagoa para remoção de água de lodos de ETA é desenvolvida na ETA - Alto Tietê (Taiaçopeba), na Região Metropolitana de São Paulo. Essa estação foi inaugurada em 1991, entrando em operação com sistema de recuperação de água de lavagem e lagoas para “desidratação” de lodos. O sistema não funcionou adequadamente em função das características do tamanho de partículas do lodo e do clima da região. 5.5 Benefícios na Utilização dos Resíduos das ETAs Com as Legislações cada vez mais restritivas, altos custos associados à disposição de lodos em aterros, e aumento das dosagens de produtos químicos nos processos de tratamento de água, têm aberto novos desafios para os pesquisadores e técnicos na busca de soluções mais econômicas para o tratamento e disposição final de lodos de ETAs, através da disposição benéfica e do tratamento de lodos criando oportunidades para o aumento de receita e principalmente, redução de custos e de impactos ambientais gerados pelas empresas de saneamento básico de todo o mundo. Segundo Tsutiya e Carvalho (2000), os usos benéficos mais utilizados ou de maior potencial de utilização para o Estado de São Paulo são: diposição no solo, fabricação de cimento, fabricação de tijolos, cultivo de grama comercial, solo comercial, plantações de cítricos e compostagem. O lodo poderá ser utilizado também para a melhoria da sedimentabilidade em águas de baixa turbidez, recuperação de coagulantes e controle de H 2 S . Além das utilizações benéficas citadas, muitas vantagens tem sido observadas, quando os lodos de ETAs são lançados em redes coletoras de esgotos ou diretamente nas estações de tratamento de esgotos. No capítulo 5.6 Incorporação e/ou Disposição dos Resíduos das ETAs, serão relatados de forma resumida algumas das alternativas aqui mostradas. Na figura 5.20 é ilustrada as soluções adotadas nos Estados Unidos em porcentagem para a disposição de lodos de ETAs. 47 Outros; 7% Descarga em Corpo Hídrico; 11% Disposição em Rede de Esgoto; 24% Agricultura; 25% Aterro (Municipal); 20% Aterro Exclusivo; 13% Figura 5.20: Situação da disposição final dos lodos das ETAs nos Estados Unidos (AWWARF, 1999) 5.6 Reciclagem e/ou Disposição dos Resíduos das ETAs As alternativas para o uso benéfico do lodo são diversas, trazendo vantagens econômicas, transformando em larga escala, resíduos em recursos, minimizando os impactos gerados nos cursos d’águas pelos lodos de ETAs. Neste capítulo estão descritas algumas alternativas resumidamente como se reciclar ou disponibilizar esses resíduos “indesejáveis”. 5.6.1 Disposição em Aterros Sanitários Para se disponibilizar os resíduos das ETAs nos aterros sanitários é necessário se realizar os ensaios para a classificação do lodo de acordo com a norma ABNT NBR 10.004, onde classifica os lodos como resíduos sólidos inerte ou não-inerte, perigoso ou não perigoso. Mas cabe ressaltar que para esta disponibilização envolve altos custos transporte da ETA até o aterro sanitário, conforme Guerra et al. (2005). 48 5.6.2 Disposição em Estações de Tratamento de Esgotos - ETEs A descarga de lodo de ETAs em coletores de esgotos e encaminhados para as estações de tratamento de esgotos sanitários – ETEs é comumente realizada em todo o mundo. Normalmente são observados alguns efeitos positivos, tais como controle de H 2 S , aumento da eficiência dos decantadores primários e da remoção dos fósforos. Quando a descarga é feita em valores menores que 150 a 200 mg/L, efeitos negativos ao processo biológico não são observados de maneira geral, mas observa-se aumento de eficiência nos decantadores primários da ETE, e conseqüentemente, o volume de lodo produzido nos decantadores primário é maior, quando os lodos são decantados separadamente, conforme Tsutiya e Carvalho (2001). A produção de lodos nas ETEs quando são adicionados 200 mg/l de lodos de ETAs, é aproximadamente duas vezes maior. No caso de ETEs que não possuem decantadores primários, o sistema de lodos ativados terá que ser operado com maior concentração de sólidos suspensos e uma sobrecarga pode ocorrer nos decantadores secundários (PROSAB, 2006). Quando lançados em ETEs os lodos que contém alumínio e ferro, são observados maiores eficiências na remoção de fósforo. No entanto, os sólidos dissolvidos presentes nos lodos de ETAs, em determinadas concentrações podem inibir o processo biológico de tratamento de esgotos. A determinação deste efeito não é simples de ser realizado. Uma carga de choque inicial de um composto tóxico pode inibir o processo biológico, porém, com vários compostos, os microrganismos podem se adaptar e ajustar à presença de um determinado composto tóxico. De acordo com as vazões afluentes da ETE, uma boa prática é equalizar a descarga, para que as concentrações de compostos potencialmente tóxicos permaneçam constantes, conforme Azeredo, Rodrigues e Webwester (2002). Para evitar qualquer efeito não desejado ao sistema de tratamento de esgotos à toxidade do lodo ao sistema biológico de tratamento, bem como, as conseqüências 49 desta descarga à qualidade e a produção dos lodos de ETEs, devem ser analisadas. Quando a remoção de lodos de ETAs dos decantadores for efetuada de forma contínua, a descarga nos sistemas coletores de esgotos pode ser realizada diretamente. Entretanto, se essa remoção for feita em regime de batelada, faz-se necessário um tanque equalizador, antes da descarga do lodo no sistema coletor de esgotos, conforme Tsutiya e Carvalho (2001). As águas de lavagens de filtros pelas grandes vazões, concentradas em pequenos períodos, antes de sua descarga em redes coletoras, normalmente são seguidas de tanques de equalização e também sempre que possível devem ser realizadas quando o coletor estiver transportando grandes vazões, de modo a propiciar velocidade suficiente para evitar a deposição de sólidos. De maneira geral, problemas de deposição de sólidos não são observados com velocidade mínima de 0,8 m/s ou concentração de sólidos menor que 3%. 5.6.3 Reciclagem do lodo na Fabricação de Cimentos A utilização de lodos de ETAs na fabricação de cimento Portland é realizada com sucesso por empresas de saneamento como Metropolitan Water, LA, CA e a Tulsa OK. Os materiais comumente utilizados na fabricação do cimento Portland são calcário, xisto e argila. O calcário corresponde à cerca de 70 a 80% do material bruto, porém contém baixas concentrações de sílica, ferro e alumínio. Para solucionar esta deficiência, são adicionados argila, xisto, minério de ferro e bauxita. Os lodos de ETAs que utilizam coagulantes durante o processo de tratamento, normalmente contêm todos esses elementos que são adicionados durante o processo de fabricação do cimento, e por isso, o lodo é introduzido no processo de fabricação de cimento na fase de pré homogeneização das matérias primas. O teor de sólidos necessários para esta aplicação é de no mínimo 50%. As principais características, de lodos de ETAs, que comprometem a qualidade do produto ou até mesmo, inviabilizam na fabricação do cimento são: a presença de 50 altas concentrações de matéria orgânica, ântracito ou carvão ativado, sulfato, permanganato de potássio e metais pesados. A presença de óxidos de potássio e de sódio no lodo diminui significativamente as concentrações de álcali no cimento produzido. Altas concentrações de álcali no cimento, causam expansão e fissuras em estruturas de concreto. 5.6.4 Reciclagem do lodo na Fabricação de Tijolos Cerâmicos As características físicas e químicas de lodos de ETAs são muitas vezes similares às características dos materiais utilizados na fabricação de tijolos, pois apresentam propriedades físicas e químicas similares à argila natural e xisto utilizados na produção de tijolos. Para prevalecer e viabilizar a sua aplicação neste processo, os lodos mais indicados, são compostos de argilas, silte, areia, coagulantes e matéria orgânica removidos durante o tratamento de água, porém com a presença de cal no lodo, por outro lado, compromete a qualidade do tijolo produzido, inviabilizando a sua aplicação (TSUTIYA e CARVALHO 2001). Este assunto será mais detalhado no estudo de caso. 5.6.5 Disposição em Solo Comercial O lodo de ETA tem sido utilizado para substituir alguns dos componentes tipicamente utilizados na produção de solos comerciais, tais como, perlita (para aeração), calcário (para ajuste de pH), areia (peso) e argila bentonítica (agente tampão). Além dessas vantagens, o lodo de ETA é utilizado para melhoria estrutural do solo, ajuste de pH, adição de traços de minerais, aumento da capacidade de retenção de água e melhoria das condições de aeração do solo. Normalmente, este uso requer lodo com concentração de sólidos de 40 a 60%, conforme descrito por Azeredo (2002). 51 Os lodos de ETAs, também, vem sendo utilizados na fabricação de adubos orgânicos, para aumento de peso. Uma outra aplicação que vem merecendo destaque é a sua utilização como solo suporte para germinação de sementes, conforme Tsutiya e Carvalho (2000). 5.6.6 Disposição no solo A aplicação de lodos de ETAs em solos agrícolas traz alguns benefícios, tal como: melhoria estrutural do solo; ajuste de pH; adição de traços de minerais; aumento da capacidade de retenção de água e melhoria das condições de aeração do solo. Porém, têm demonstrado em estudos que o lodo de ETAs, quando aplicado ao solo agrícola, apresenta tendência de reagir e indisponibilizar à planta, o fósforo presente no solo. Além disso, a fototoxicidade do alumínio pode ser um problema em solos com pH acima de 6,5. Muitos consideram que, as baixas concentrações de matéria orgânica e de nutrientes nos lodos de ETAs tornam desinteressante sua aplicação no solo, conforme Tsutiya e Carvalho (2001). 5.6.7 Reciclagem do lodo no Cultivo de Grama Comercial A aplicação de lodos de ETAs no cultivo de gramas, aumenta a aeração e a capacidade de retenção de líquido no solo, e também, fornece nutrientes adicionais às plantas. O cultivo de grama comercial inclui: grama para jardinagem, campos para atividade esportiva, parques, cemitérios e jardinagem de rodovias, e normalmente é realizada em cinco etapas: preparação do solo, semeadura, crescimento da grama, colheita e transporte, conforme Tsutiya e Carvalho (2001). Os lodos de ETAs podem ser aplicados na fase líquida ou após a desidratação segundo Tsutiya e Carvalho (2001). O lodo líquido pode ser aplicado tanto na fase de preparação do solo como na fase de crescimento, enquanto que o lodo desidratado “torta” pode ser aplicada somente na fase de preparação do solo. 52 Ainda conforme Tsutiya e Carvalho (2001), estudos pilotos de demonstração, devem ser conduzidos para determinação da dosagem de aplicação adequada, levando em conta o acúmulo de metais no solo, a absorção de nutrientes, bem como, o teor de sólidos para aplicação líquida do lodo, para que na fase de preparação do solo, não exceda a umidade adequada, e para que na fase de crescimento, os sólidos não cubram as folhas prejudicando a fotossíntese. 5.6.8 Reciclagem do lodo na Compostagem Atualmente, estão sendo realizadas pesquisas, para o uso de lodos de ETAs em compostagem, utilizando-se o sistema em leiras, juntamente com restos vegetais, resíduos sólidos domésticos e biossólidos. A adição de lodos de ETAs na compostagem, tem mostrado benefícios como, ajuste de umidade, fornecimento de traços de minerais, ajuste de pH e também, servindo como material para o aumento do volume de composto. 5.6.9 Reciclagem do lodo na Plantação de Cítricos Segundo Tsutiya e Carvalho (2001), nos Estados Unidos, os solos onde são cultivadas as plantas cítricas, como laranja e limão, normalmente, tem deficiência de ferro. Para o crescimento das culturas de cítricos é vital a presença ferro e pode ser suprido através da aplicação no solo de lodos de ETAs. Entretanto, é necessário que no processo de tratamento se utilize o sulfato férrico como coagulante. Ainda segundo Tsutiya e Carvalho (2001), algumas ETAs nos Estados Unidos, substituíram o sulfato de alumínio por sulfato férrico de alta pureza para atender a essa condição, para que o lodo possa ser utilizado em fazendas de cítricos, aumentando significativamente seu valor comercial. A aplicação do lodo de ETA tem se mostrado tão eficiente quanto outros produtos comerciais, normalmente utilizados para provisão de ferro ao solo. 53 Porém para a aplicação do lodo desidratado em culturas agrícolas, deverá ser determinada a dosagem de aplicação através de um projeto piloto, para evitar a contaminação do solo por metais pesados. 5.7 Recuperação de Coagulantes A recuperação de coagulantes presentes nos lodos de ETAs podem ser realizadas de várias formas: via ácida, via alcalina, extração com solventes orgânicos e extração com quelantes. Alguns países do hemisfério norte utilizam a recuperação de coagulantes, via ácida em grande escala, conforme Gonçalves et al. (1999), descrito por Tsutiya e Carvalho (2001). O processo de recuperação de coagulantes consiste basicamente na solubilização das espécies de ferro e alumínio que possuem o potencial de coagulação. Como os hidróxidos presentes nos lodos de ETAs variam de 35 a 50% dos sólidos, além das vantagens referentes a economia de produtos químicos, a recuperação de coagulantes, reduz significativamente o volume e melhora as características do lodo produzido (TSUTUYA e CARVALHO, 2001). A solubilização envolve equações de equilíbrio entre o precipitado com as espécies solúveis, para diferentes condições de pH. O lodo, na maioria dos casos é exposto a pH inferiores a 2 ou superiores a 10. O alumínio pode ser solubilizado na sua totalidade (100%) em pH 2, teoricamente. Porém a porcentagem do alumínio recuperado irá depender da eficiência do processo de desidratação do lodo. Segundo a AWWARF (1987), descrito por Tsutiya e Carvalho (2001), a eficiência de recuperação de alumínio nas ETAs de Richmond e de Montgomery, na Carolina do Norte, chega a 94%, e a qualidade do coagulante recuperado, é significativamente melhor à qualidade do coagulante adquirido no mercado. O controle de outras espécies, como metais pesados e compostos orgânicos, tanto no lodo quanto na água tratada, é imprescindível, uma vez que a solubilização de 54 hidróxidos pode disponibilizar à fase líquida outras espécies nocivas à saúde humana, segundo Tsutiya e Carvalho (2001). 55 6 RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA ETA CUBATÃO NA INDÚSTRIA CERÂMICA MÔNACO Este trabalho foi realizado na ETA Cubatão de propriedade da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - SABESP, tendo em vista estudar em escala real durante dois meses, tanto no que se refere à produção de lodo como na confecção dos blocos cerâmicos e envolveu a participação de técnicos da indústria cerâmica, sendo o possível receptador dos lodos de ETA, dos órgãos ambientais, tal como a Secretária do Meio Ambiente – SMA e Companhia de Tecnologia do Estado de São Paulo – CETESB, responsáveis pelo licenciamento e pela fiscalização das atividades minerarias e de ETAs, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e da própria SABESP, conforme descrito por Sampaio et al. (2002). 6.1 Processo de Tratamento da Água na ETA/Cubatão O processo de tratamento da água é realizado pelo sistema convencional, composto pela coagulação, floculação, decantação, filtração, desinfecção, fluoretação e correção do pH. A estrutura em questão é formada basicamente por uma câmara de mistura rápida, seis módulos de tratamento compostos de floculador, decantador e filtro, um reservatório apoiado para lavagem de filtros, duas casas de química e uma área para estocagem de produtos químicos líquidos (SABESP, 2002). Este sistema possui duas captações, a mais antiga, capta água diretamente do rio Cubatão próxima a ETA e a mais recente, também situada no rio Cubatão, a aproximadamente 1 km à montante, capta água do rio através da barragem SubÁlvea, em seguida a água vai da captação para a ETA por gravidade (SABESP, 2002). A água bruta, proveniente das captações, ao entrar na ETA é submetida à caixa de areia composta por três unidades com as seguintes dimensões: 20 m de 56 comprimento; 5,1 m de largura; e 2,9 m de altura, em seguida é recalcada pela Estação Elevatória de Água Bruta – EEAB, composta de 11 unidades de bombeamento, até a caixa de mistura, logo após a passagem pela caixa de areia. Nesta caixa, são adicionados cal e cloreto férrico. O tempo de detenção hidráulico é de 18 segundos, com vazão de 4,0 m³/s. A caixa de mistura possui as seguintes dimensões: 10,5 m de comprimento; 2,0 m de largura; 3,5 m de altura útil; 0,5 m borda livre e 73,5 m³ de volume útil (SABESP, 2002). Segundo Sampaio et al. (2002), imediatamente a montante da caixa de mistura, na tubulação de recalque de água bruta, é adicionado o ácido fluorsilícico e, imediatamente a jusante, na tubulação de saída, é adicionado o cloro. Todas as dosagens são efetuadas somente na água bruta, uma vez que não existe um ponto único de saída de água tratada. Após a passagem pela câmara de mistura, a água coagulada vai para os seis módulos de tratamento, por uma tubulação com 1500mm de diâmetro, por gravidade. Esta tubulação é dotada de seis derivações com 600mm de diâmetro que alimentam um canal de água coagulada, situado na frente dos floculadores existentes. A figura 6.1 ilustra o fluxograma da ETA Cubatão. Figura 6.1: Fluxograma do processo de tratamento de água da ETA Cubatão (SABESP, 2002) 57 Ainda conforme Sampaio et al. (2002), a ETA.3/Cubatão possui seis floculadores ligados a seis decantadores. Cada floculador é formado por quatro câmaras semelhantes operando em série, interligadas por passagens inferiores e superiores alternadas. Os floculadores possuem as seguintes dimensões: 16,35 m de comprimento; 13,60 m de largura; e 3,56 m de altura. Cada uma das quatro câmaras de cada floculador é dotada de um misturador de eixo vertical do tipo turbina, com polias escalonadas que permitem o ajuste do gradiente de velocidade transferido à água em três valores diferentes. Os decantadores de formato retangular, de fluxo longitudinal, com limpeza manual. Possuem cortinas de madeira, bocais na entrada e calhas vertedoras para a coleta de água decantada na saída. Os decantadores possuem as seguintes dimensões: 50,30 m de comprimento; 18,30 m de largura; e 4,85 m de altura; e a limpeza de cada decantador é realizada, em média, de 40 a 45 dias. O procedimento de limpeza consiste de esgotamento do decantador e floculador anexo, seguido de remoção do lodo restante com jatos de água com mangueiras (SABESP, 2002). Os seis decantadores são ligados a 12 filtros do tipo rápido por gravidade, com leito filtrante de antracito e areia sobre camada suporte de pedregulho. Cada filtro é formado por duas câmaras de filtração com as seguintes dimensões: 15,20 m de comprimento; 3,80 m de largura; 57,0 m² de área de filtração; e 1274 m² de área total de filtração; e os filtros são lavados a cada 12 horas, onde o sistema de lavagem é em contra corrente auxiliada por lavagem superficial do tipo fixa. A água de lavagem em contra corrente é fornecida por um reservatório apoiado, situado ao lado dos filtros. O volume útil do reservatório é de 1300 m3. Este reservatório é abastecido por três conjuntos moto-bombas situados no sub-solo da casa de química. A sucção é feita a partir do reservatório de água tratada, situado sob os filtros (SABESP, 2002). 58 6.2 Tratamento dos lodos gerados no processo Segundo Sampaio et al. (2002), os lodos gerados no processo de tratamento de água da ETA/CUBATÃO têm sua origem nos decantadores e filtros por ocasião das suas lavagens, onde a água de lavagem dos filtros é bombeada para um tanque de decantação e em seguida o lodo é adensado. Os lodos provenientes dos decantadores são bombeados para o tanque de estocagem juntamente com os lodos adensado provenientes da lavagem dos filtros e é nesse tanque que ocorre adensamento por gravidade dos lodos acumulados. A figura 6.2 apresenta um fluxograma do processo de tratamento de lodos da ETA. EEAB Caixa Floculador Extravazora EE Água Decantadores Lavagem Filtros Tanques de Decantação Reservatório Estação Elevatória de Lodo Casa de Desidratação Figura 6.2: Sistema de tratamento de lodos da ETA/CUBATÃO (SABESP, 2002) Os lodos adensados no tanque de estocagem de lodos são removidos pelo fundo do tanque e bombeados para as máquinas desaguadoras. Nesse momento é adicionado polímero, previamente preparado, para auxiliar no processo de desidratação, onde é realizada em 4 unidades de filtros prensas de esteira e em 59 seguida encaminhada a uma caçamba receptora para disposição final, conforme descrito por Sampaio et al. (2002). Ainda segundo Sampaio et al. (2002), de acordo com o Projeto da SEREC, de reformulação da fase sólida de tratamento, foi informado pela operação da SABESP que a produção de lodos da ETA/CUBATÃO é de 40 a 60 toneladas de massa úmida por dia. O projeto executivo considerou um mínimo de 12,73 ton/dia até um máximo de 26,89 ton/dia expresso como base seca, o que corresponde a 70,72 ton/dia a 149,39 ton/dia de lodo na base úmida. 6.3 Descrição do Processo de Fabricação do Bloco Cerâmico Segundo Sampaio et al. (2002) de acordo com informações do proprietário, a Cerâmica Mônaco processa em torno de 250 t de argila por dia. A matéria prima utilizada para fabricação do bloco cerâmico é argila e uma pequena adição de carvão coque. A argila é procedente de jazida da própria Cerâmica Mônaco, situada a uma distância de 12 quilômetros da fábrica. A argila, de três tipos, é extraída por tratores de esteira, misturada e deixada em repouso ao ar livre, por um período de 3 meses. Após esse período, a argila é transportada, por caminhões, até o pátio da fábrica, onde permanece armazenada por alguns dias. A figura 6.3 mostra um fluxograma de processo de fabricação de tijolos. A partir do pátio da fábrica, a argila é recolhida por trator e despejada em uma tremonha de dosagem e junto com a argila é feita uma pequena dosagem de carvão coque para auxiliar na queima para aumentar a temperatura dos tijolos, onde a sua dosagem na Cerâmica Mônaco é de aproximadamente 2,4% da massa da mistura (SAMPAIO et al. 2002). Ainda conforme Sampaio et al. (2002), a mistura é movimentada através de esteiras transportadoras até a máquina extrusora. Durante esse transporte, passa por outras máquinas misturadoras, onde se pode adicionar água quando a massa estiver muito seca. Na extrusora, a massa é prensada através do molde, resultando num feixe 60 contínuo com o formato do tijolo que é cortado em blocos por fios de arame. A figura 6.4 mostra o filete contínuo do bloco cerâmico saindo da extrusora, e a figura 6.5 mostra a máquina de corte dos blocos. Figura 6.3: Fluxograma do processo de fabricação de tijolos (SAMPAIO et al, 2002) Figura 6.4: Moldagem do bloco cerâmico na extrusora (SAMPAIO et al, 2002) 61 Figura 6.5: Corte do bloco cerâmico (SAMPAIO et al, 2002) Os blocos cortados são transportados e empilhados em vagonetas transportadoras, que são transferidas para a estufa de secagem, onde permanecem por 48 horas e a temperatura nesse ambiente atinge 100ºC, conforme descrito por Sampaio et al. (2002). A figura 6.6 mostra a transferência dos blocos cortados para a vagoneta e a figura 6.7 mostra o interior da estufa de secagem. Figura 6.6: Empilhamento dos blocos nas vagonetas (SAMPAIO et al, 2002) 62 Figura 6.7: Estufa de secagem (SAMPAIO et al, 2002) Após a secagem na estufa os blocos são transferidos para o forno de queima, onde são empilhados de forma a preencher todo o seu interior. Este processo de queima é realizado durante 30 horas no forno fechado e atinge uma temperatura de 900ºC. O combustível utilizado é madeira picada. Sua queima se dá através de um queimador, que é posicionado em um bocal na parede do forno (SAMPAIO et al. 2002). É ilustrado na figura 6.8 uma vista externa do forno em processo de queima. Figura 6.8: Forno de queima de blocos cerâmicos (SAMPAIO et al, 2002) 63 Quando se termina o período de queima segundo Sampaio et al. (2002), os tijolos permanecem dentro do forno por mais 24 horas para resfriamento. O resfriamento é realizado pela circulação de ar através dos mesmos. Esse ar aquecido é transferido para a estufa de secagem para aproveitamento de energia. Após o resfriamento, os tijolos são retirados do forno e transferidos para o pátio de estocagem e expedição. O processo de fabricação dos blocos cerâmicos, desde a alimentação de argila até a retirada dos blocos do forno, leva em torno de 7 dias. 6.4 Propriedades Mecânicas dos Blocos Segundo Sampaio et al. (2002), foram coletadas amostras a cada lote de blocos cerâmicos fabricados para a realização dos seguintes ensaios: • Determinação das dimensões em blocos cerâmicos estrutural e vedação; • Determinação do desvio em relação ao esquadro e planeza das faces; • Determinação da absorção de água; • Determinação da resistência à compressão. Os blocos cerâmicos para alvenaria fabricados com adição de lodo devem obedecer às especificações estabelecidas na norma ABNT NBR 7171, onde são classificados como blocos de vedação, com as seguintes dimensões: 11,5 x 14 x 24 centímetros (SAMPAIO, 2002). Apresentaram trincas e rachaduras após secagem e queima, além de acentuada retração dimensional os blocos cerâmicos fabricados com adição de lodo nas proporções 1:4 (uma parte de lodo para 4 partes de argila) e 1:5. As dimensões finais ficaram inferiores às especificadas pela norma ABNT NBR 7171. Por essas razões os blocos não foram encaminhados para ensaios mecânicos, conforme descrito por Sampaio et al. (2002). Não apresentaram retração dimensional significativa os blocos fabricados com adição de lodo nas proporções 1:8 e 1:10. As dimensões finais ficaram dentro dos 64 limites estabelecidos pela norma ABNT NBR 7171. Os resultados dos ensaios realizados com blocos na proporção 1:8, bem como dos ensaios realizados com blocos sem a adição de lodo, estão apresentados no quadro 6.1 (SAMPAIO et al. 2002). Quadro 6.1: Resultados de ensaios de blocos cerâmicos com dosagem 1:8 Especificação Bloco com lodo Bloco sem NBR 7171 Dosagem 1:8 lodo 1,0 (mínimo) 2,3 2,3 8 a 25 19,1 19,1 Comprimento (mm) 240 239,3 239,2 Largura (mm) 115 112,1 110,7 Altura (mm) 140 137,7 135,4 e1 (superior) 7 (mínimo) 5,1 5,4 e2 (lateral) 7 (mínimo) 5,7 5,8 e3 (interna) 4,9 4,9 e4 (interna) 5,0 4,9 Ensaio de Compressão (MPa) Absorção de água (%) Verificação dimensional Espessura das paredes (mm): e5 (lateral) 7 (mínimo) 5,5 5,6 e6 (inferior) 7 (mínimo) 5,8 6,5 3 1 1 Face A (mm) 3 0 1 Face B (mm) 3 0 1 Desvio de esquadro - média (mm) Planeza das faces - média: Fonte: Sampaio et al. (2002) Enquanto que os blocos fabricados com dosagem de lodo de 1:10 possuíam reentrâncias nas paredes laterais externas, conforme Sampaio et al. (2002), os blocos cerâmicos fabricados com dosagem de lodo de 1:8 possuíam paredes laterais 65 externas planas. Essa diferença se deve à forma de extrusão utilizada no processo de moldagem do bloco. Ainda conforme descrito por Sampaio et al. (2002), os blocos com as reentrâncias nas paredes externas, com e sem a adição de lodo, apresentaram baixa resistência à compressão, enquanto que os blocos com paredes externas planas apresentaram resistência à compressão acima dos valores especificados pela norma NBR 7171, ou seja, o formato da parede externa do bloco cerâmico teve grande importância na resistência mecânica à compressão. A figura 6.9 apresenta o bloco cerâmico com parede lateral externa plana, sendo submetido ao ensaio de compressão. Figura 6.9: Ensaio de compressão (CERÂMICA MÔNACO, 2002) 6.5 Custo O custo para disposição final dos lodos de ETAs em aterros sanitários pode variar bastante, depende, entre outros fatores, da existência de aterros na região, dos seus custos e da distância entre o local de geração e o da disposição final. Segundo Sampaio et al. (2002), foi encontrada para a Região Metropolitana de São Paulo uma média de 50 a 100 Reais por tonelada. Na ETA Taiaçupeba os preços para transporte e disposição final dos lodos variam de 49 a 76 Reais por tonelada. 66 Um recente acordo foi firmado entre a ETA Cubatão e a Cerâmica Mônaco, para transporte e incorporação do lodo na fabricação de tijolos. Nesse acordo, a ETA Cubatão vai pagar 35 Reais por tonelada de lodo para a Cerâmica Mônaco, que se encarregará do transporte e reciclagem na fabricação de tijolos por dois meses. Ou seja, este custo será de 29 a 54% do custo previsto na ETA Taiaçupeba para transporte e disposição final em aterro sanitário (SABESP, 2002). Atualmente o lodo da ETA Cubatão está sendo destinado para o aterro sanitário do Guarujá, sendo pago o transporte deste lodo para o aterro. Não está sendo pago o custo de disposição final no aterro, devido a um acordo com a Prefeitura. No entanto, estas medidas estão em caráter provisório, não representando a solução definitiva de disposição final do lodo da ETA Cubatão (SABESP, 2002). 67 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização dos lodos das ETAs como matéria-prima representa uma solução ambiental e economicamente adequada para disposição final destes resíduos, abrindo novos caminhos e desafios em busca de uma melhor alternativa, contribuindo também para a sustentabilidade dos sistemas de tratamento de água. Os estudos de reciclagem ou disposição final dos lodos de ETAs devem ser realizados individualmente caso a caso, devido às características particulares de cada instalação, desta forma, verificar a melhor alternativa a ser adotada no sistema, de modo a verificar a compatibilidade entre os materiais, clima, logística, espaço físico para implantação do projeto, entre outros. No estudo de caso relatado, conforme Sampaio et al. (2002), foi realizado um estudo detalhado de todos os processos envolvidos para o estabelecimento de dosagens mais adequadas para a realização de reciclagem do lodo da ETA Cubatão na indústria Cerâmica Mônaco de modo a não comprometer as características físicas e mecânicas dos blocos produzidos. Ainda segundo Sampaio et al. (2002), neste estudo, se verificou que havia uma compatibilidade entre os dois materiais quanto às suas características do lodo da ETA Cubatão e da argila da Cerâmica Mônaco, esperando-se então que não houvesse maiores interferências no processo produtivo, bem como nas características finais dos blocos processados, conforme apresentado no quadro 6.1. Quanto aos custos de destinação final do lodo de ETA Cubatão na indústria Cerâmica Mônaco, incluindo o transporte, conforme relatado estão em torno de 29 a 54% dos custos praticados pelos aterros sanitários, representando uma viabilidade econômica desta prática. 68 8 CONCLUSÃO A busca de soluções para o tratamento e disposição final de lodos de ETA’s, economicamente viáveis e ambientalmente vantajosas, continua sendo um desafio, com muita polêmica e não normalizado. Desta maneira, é fundamental a criação e estruturação de um comitê com o objetivo em colocar estes problemas em pauta que há tanto tempo se arrasta pela história. Portanto, reunir e envolver técnicos e a comunidade científica das diversas áreas, tal como, engenharia civil, química, biologia, geologia, etc., para pesquisar e estudar as formas de disponibilização em função dos processos de tratamento existentes e dos resíduos gerados. 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental; 23° Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Disponível em: http://www.sanepar.com.br/ Acesso em: 05 jun. 2006 ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 10.004/2004 ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 7171. AWWARF. Commercial Aplication and Marketing of Water Plant Residuals. American Water Works Association Research Foundation, 1999. AWWARF. Water Treatment Plant Waste Management. American Water Works Association Research Foundation, 1987. AZEREDO, N.; RODRIGUES, V.; WEBWESTER, A.; Lodo de ETA – Problema com Solução, XIII Encontro Técnico da Aesabesp – 2002. 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