Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro 2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO PERFORMANCE DIFERENCIAL NOS ÚLTIMOS 10 MINUTOS DE JOGOS DE ANDEBOL - UM ESTUDO DAS EQUIPAS QUE PARTICIPARAM NO CAMPEONATO DA EUROPA 2012 Mestrando(a) José Alfredo Leite Amor Orientador(a) Ágata Cristina Marques Aranha Coorientador(a) João Pedro dos Santos Varejão Vila Real, Maio de 2013 UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO 2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO PERFORMANCE DIFERENCIAL NOS ÚLTIMOS 10 MINUTOS DE JOGOS DE ANDEBOL - UM ESTUDO DAS EQUIPAS QUE PARTICIPARAM NO CAMPEONATO DA EUROPA 2012 VILA REAL, 2013 Dissertação apresentada à UTAD, no DEP – ECHS, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física dos Ensino Básico e Secundário, cumprindo o estipulado na alínea b) do artigo 6º do regulamento dos Cursos de 2ºs Ciclos de Estudo em Ensino da UTAD, sob a orientação do(a) Professor(a) Ágata Cristina Marques Aranha. II Aos meus pais e irmãos III Agradecimentos A elaboração de uma dissertação de mestrado exige uma grande dedicação e uma entrega, que não teria sido realizada se não tivesse existido a participação a ajuda e o apoio de várias pessoas que me acompanharam ao longo das diversas fases. Assim, pretendo expressar os mais sinceros agradecimentos e reconhecimento a todos os que de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuíram e impulsionaram a realização deste trabalho, em especial: - à minha orientadora e co-orientador científicos, Prof. Dra. Ágata Aranha e Prof. João Varejão, respetivamente, pela orientação desta dissertação, pelo apoio e disponibilidade que sempre demonstraram, pela forma como ao longo desta caminhada me transmitiram o seu saber, que me permitiu abrir novos horizontes e alcançar novos conhecimentos; - ao Prof. Dr. Jaime Sampaio pela colaboração e ajuda no tratamento dos dados; - ao Teixeira pela sua grande ajuda, colaboração e disponibilidade revelada durante todo este percurso; - à Diana e à Fatinha pela ajuda e disponibilidade; -à Ana por tudo; - aos meus pais, José e Glória, pelo esforço e por toda a confiança que sempre em mim depositaram e por fazerem de mim a pessoa que sou hoje. Aos meus irmãos Margarida e Carlinhos. IV Resumo O desfecho final do jogo é um dos indicadores mais importantes do sucesso competitivo que expressa o resultado acumulado das diferentes prestações individuais dos jogadores ao longo do jogo. A partir de uma análise qualitativa e quantitativa do conjunto de comportamentos expressos pelos jogadores nas sequências ofensivas do jogo, pretendemos, após a recuperação da posse da bola, descrever a organização ofensiva das equipas realçando as variáveis que se associam à sua eficácia ofensiva nos últimos 10 minutos dos jogos, entendidos como um dos períodos mais críticos do jogo. O objetivo deste trabalho foi identificar a variação da performance das equipas em confronto entre equipas fortes com fortes; fortes com fracas e fracas com fracas e identificar o efeito da qualidade das equipas em confronto (equipas melhor ou pior classificadas no campeonato) na dinâmica da performance no jogo. Foi selecionada uma amostra dos jogos do Main Round do Campeonato Europeu de Andebol de 2012. Destes, foram estudados os últimos 10 minutos de jogo, onde se retiraram as situações de superioridade e inferioridade numérica. Consideraram-se os dois primeiros classificados de cada grupo do Main Round como sendo equipas fortes e os dois últimos como equipas fracas. Os resultados obtidos foram analisados com programa estatístico SPSS para Windows, versão 17.0 (SPSS Inc., Chicago, IL) e o nível de significância foi mantido em 5%. Concluiu-se que as melhores equipas preparam melhor as situações de finalização nos últimos 10 minutos dos encontros, através da circulação de bola com maior número de passes, em largura e profundidade, dando continuidade às ações, para finalizar na situação mais favorável. Palavras-chave: andebol, análise do jogo, último período, performance diferencial. V Abstract The game’s final outcome is one of the most important indicators of competitive success which expresses the result accumulated from the players’ different individual benefits throughout the game. From a qualitative and quantitative analysis of the behaviours set expressed by players’ offensive sequences in the game, we purpose after the recovery of the ball’s possession, describe the offensive organization of the teams highlighting the variables that are associated with their offensive effectiveness in the last 10 minutes of games defined as one of the most critical periods of the game. The aim of this work was to identify the change in performance between the teams clash in strong teams with strong ones, strong with weak and weak with weak and identify the effect of team quality in confrontation (better or worse ranked teams in the league) in dynamic performance in the game. It was selected a sample of the Handball European Championship Main Round games. Of these, the last 10 minutes of the game were studied, where numerical superiority and inferiority situations were withdrawn. There have been considered the top two of each group from the Main Round as being strong teams and the last two as weak teams. The results were analyzed using SPSS programme for Windows, version 17.0 (SPSS Inc., Chicago, IL) with 5% of significance level. It was concluded that the best teams prepare better the finishing situations in the last 10 minutes of the meetings, through the ball’s movement with the highest number of passes, in width and depth, by continuing the actions, in order to finalize in the most favorable situation. Key-words: handball, game analysis, last period, differential performance. VI Índice Geral Agradecimentos ............................................................................................... iv Resumo ............................................................................................................. v Abstract ............................................................................................................ vi Índice Geral .................................................................................................... vii Índice Geral de Figuras .................................................................................. viii Índice Geral de Tabelas ................................................................................. viii Lista de Abreviaturas ....................................................................................... ix 1. Introdução ............................................................................................... 2 1.1. Objetivo Geral ..................................................................................... 3 2. Revisão Literatura ................................................................................... 5 3. Metodologia .......................................................................................... 19 3.1. Amostra ............................................................................................. 19 3.2. Recolha e registo de imagens ............................................................ 19 3.3. Definição das variáveis em estudo .................................................... 19 3.4. Metodologia de observação .............................................................. 21 3.5. Procedimentos estatísticos ................................................................ 22 4. Apresentação e Discussão dos Resultados ............................................ 24 5. Conclusões ............................................................................................ 30 5.1. Recomendações para a investigação ................................................. 30 5.2. Recomendações para o treino ........................................................... 31 6. Bibliografia ........................................................................................... 33 VII Índice Geral de Figuras Figura 1 - Campograma do terreno de jogo utilizado no estudo. ....................... 20 Índice Geral de Tabelas Tabela 1 - Comparação dos valores médios das variáveis (TRA, NV1ªL, ALT1ª2ª L, NJ) em função dos fatores vitória x derrota e intervenção do Ponta e Pivô. Legenda: TRA – Tempo Realização do Ataque, NV1ªL – número de variações de corredor de jogo na 1ª linha, ALT 1ª2ª L – Alternância 1ª2ª Linha, NJ – Número de jogadores intervenientes. ................................................................................................ 24 Tabela 2- Comparação dos valores médios das variáveis (TRA, NV1L, ALT 1ª2ª L, NJ) em função dos fatores vitória x derrota. Legenda: TRA – Tempo Realização do Ataque, NV1ªL – número de variações de corredor de jogo na 1ª linha, ALT1ª2ª L – Alternância 1ª2ª Linha, NJ – Número de jogadores intervenientes. ............................... 26 VIII Lista de Abreviaturas ALT1ª2ªL - alternância de variação de passes entre a 1ª e a 2ª linha AR – ataque rápido CA – contra ataque CE – Campeonato da Europa CM – Campeonato do Mundo CN – Campeonato Nacional FPA – Federação Portuguesa de Andebol JDC - jogo desportivo coletivo MC – momentos críticos MEQ - melhores equipas NJ - número de jogadores NV 1ªL - número variações de passes na 1ª linha PB – posse de bola PEQ – piores equipas TRA - tempo de realização do ataque IX INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO 1. Introdução A identificação das ações individuais e coletivas que levam ao sucesso competitivo de uma equipa nos desportos coletivos constitui uma questão de extrema importância. Vários estudos realizados na área de análise do jogo procuram identificar as razões que conduzem as equipas à vitória ou derrota. O desfecho final do jogo é assim um dos indicadores mais importantes do sucesso competitivo que expressa o resultado acumulado das diferentes prestações individuais dos jogadores ao longo do jogo (Sampaio, 2000). Neste âmbito tem sido assumido que é possível estabelecer relações entre variáveis qualitativas inerentes ao jogo com o desfecho final dos encontros – vitória / derrota (Silva, 2000; McGarry, Anderson, Wallace, Hughes, & Franks, 2002; Vasconcelos, 2003; Varejão, 2004; Rodrigues, 2005; Prudente, 2006; Hughes & Bartlett, 2008; Gomes, 2008; Silva, 2008; Volossovitch, 2008; Lago, 2009; O’Donoghue, 2009; Tenga, Holme, Ronglan & Bahr, 2010; Pratas, 2011). A performance diferencial no Andebol torna-se assim fundamental para a qualidade dos processos de seleção de atletas, em métodos e meios de treino mais sofisticados aliados à procura de tendências de evolução do jogo, constituindo-se como um fator de desenvolvimento da modalidade. Da análise dos estudos realizados tem sido sublinhado como importantes os últimos minutos dos jogos, principalmente em contexto equilibrado, (Barreto, 1998; Kozar, Vaught, whitfield, Lord & Dye, 1994; Gomes, 1997; Ribeiro e Sampaio, 2001; Sampaio, Ferreira, Ibañez & Ribeiro, 2004; Ferreira, 2006; Vuleta, Milanovic, Grunic, & Ohnjec, 2007; Volossovitch, 2008). Acrescentam que é neste período temporal que se decide o resultado dos jogos equilibrados, o que justifica a pertinência da análise das ações associadas ao sucesso das equipas durante este período temporal. No entanto, os estudos que analisam o desempenho das equipas no final dos jogos de Andebol, associando-os ao resultado final do encontro ainda são escassos, sendo que em nenhum momento dos estudos é feita referência à variação de jogo na 1ª linha, 2ª linha e alternância entre a 1ª e 2ª linha. A resolução deste problema poderia ser mais facilitada com a aferição desta variância, com maior predominância nos momentos considerados como de maior influência para o resultado final dos encontros. 2 INTRODUÇÃO Nesse sentido, este estudo com equipas de nível mundial, no âmbito da performance diferencial, procura estudar a frequência e alternância de bola na 1ª linha, entre a 1ª e 2ª linha em função da qualidade das equipas (Melhores Equipas; Piores Equipas) e do resultado final da sequência ofensiva (finalização 1xGR ou situação de finalização desfavorável. Esta diferenciação poderá contribuir para um melhor entendimento acerca da estrutura ofensiva das equipas no que concerne à obtenção do objetivo coletivo das equipas, a vitória ou ainda os golos. O poder diferenciador destas variáveis poderá expressar uma tendência mais clara e uma direção mais precisa para o processo de preparação das equipas. 1.1. Objetivo Geral Face ao conjunto de questões anteriormente colocadas, os objetivos do presente estudo são: Identificar após a recuperação da posse de bola, o tempo de realização do ataque (TRA), o número variações de passes na 1ª linha (NV1ªL), a alternância de variação de passes entre a 1ª e a 2ª linha (ALT 1ª2ªL) realizados, intervenção do jogador ponta e pivô na sequência ofensiva e número de jogadores (NJ), em função da qualidade das equipas (Melhores Equipas-MEQ; Piores Equipas-PEQ) e do resultado final da sequência ofensiva (Remate Situação favorável e remate em situação desfavorável). Para o conjunto de objetivos anteriormente definidos foi levantada a seguinte Hipótese: Existem diferenças estatisticamente significativas nas variáveis de tempo de realização do ataque, variação do número de passes na 1ª linha, alternância entre 1ª e 2ª linha, número de jogadores envolvidos em função da qualidade das equipas e do resultado final da sequência ofensiva. 3 REVISÃO DA LITERATURA REVISÃO LITERATURA 2. Revisão Literatura O Andebol como jogo desportivo coletivo (JDC) tem evoluído face ao conhecimento científico produzido pelas ciências do desporto. Assim torna-se evidente a necessidade de obter informações minuciosas acerca das prestações individuais e coletivas dos jogadores de forma a melhor entender o jogo, a contribuir para uma orientação mais profícua das equipas durante a competição e aperfeiçoar o processo de treino (Corbellini, 2010). A função principal da análise do jogo centra-se no processo de avaliação da performance de forma a “contribuir para diferenciar as opiniões dos factos” (Garganta, 1998, p.8). Realça-se que a performance apresenta um caráter multidimensional, porque depende de fatores de várias ordens (físicos, psicológicos, sociais, técnico-táticos, etc.) e das relações que se estabelecem entre si. (Janeira 1994; Garganta, 1997; Lidor & Arnon, 1999; Maia, 1996). Estes indicadores, aliados à prestação dos jogadores/equipa, aos condicionalismos de ordem tática do próprio jogo, e à oposição adversária (Janeira, 1998) vêm reforçar a ideia de que a performance nos JDC é o resultado da interação e correlação de uma diversidade de fatores, os quais assumem diferentes graus de preponderância em função das diversas condicionantes (Silva, 2000). No entanto, são ainda escassos os estudos que associam o desempenho das equipas no decorrer do jogo de Andebol ao resultado final do encontro. (Vuleta et al., 2007; Oliveira, 2010; Casimiro, 2010; Teixeira, 2010). Este tipo de estudos em que alguns autores procuram relacionar os indicadores de jogo com o resultado final das equipas têm-se realizado maioritariamente no Basquetebol (Sampaio, 1997; Sampaio, 2000). Assim, Sampaio (1997) procurou identificar as variáveis do jogo (indicadores do jogo), que apresentam uma maior capacidade de discriminação a partir do indicador do produto final do jogo – o resultado final. Considerou três categorias de jogos definidas através da expressão do resultado final (jogos equilibrados, normais e desequilibrados) e foram analisados os dados estatísticos de 485 jogos do campeonato nacional da 1ª divisão. Vários estudos revelaram que na análise do jogo é muito importante considerar as variáveis contextuais (resultado corrente, equilíbrio do encontro, qualidade do adversário e local do jogo) que permitem compreender melhor os factores que influenciam a performance dos jogadores e das equipas (Sampaio, 1997; Janeira, 1998; 5 REVISÃO LITERATURA Oliveira da Silva, 2002; Rodrigues, 2005; Lago & Martín, 2007; Taylor et al., 2008; Lago, 2009; Pollard e Gómez, 2009; Lago, Casais, Dominguez, & Sampaio, 2010; Corbellini, 2010; Oliveira, 2010). Os fatores que têm influencia na vitoria / derrota num jogo que termina com dez golos de diferença podem ser distintos dos fatores que contribuem para a vitoria ou derrota num jogo que termina apenas com um golo de diferença. Assim, é importante dividir os jogos em equilibrados, desequilibrados e muito desequilibrados na análise da performance (Teixeira, 2010). No Andebol surgem cada vez mais estudos que refletem o equilíbrio do resultado do encontro na análise dos jogadores e das equipas (Taborsky, 1998a, 1998b; Silva, 2000; Volossovitch, 2003, 2008; Oliveira, 2010). Silva (2000) definiu como objetivos do seu trabalho: (i) identificar o menor lote de indicadores de jogo que diferenciassem as equipas vitoriosas das derrotadas e (ii) identificar o menor lote dos indicadores que diferenciassem as equipas (vitoria vs derrota) em jogos equilibrados (1-2 golos), jogos normais (3-5 golos) e jogos desequilibrados (≥ 6 golos). Analisou 287 jogos durante os Campeonatos Nacionais masculinos da 1ª divisão da Federação Portuguesa de Andebol (FPA) nas épocas desportivas de 1995/96 e 1996/97. O recurso à análise da função discriminante para o estudo das três categorias de jogos referidas, permitiu chegar a várias conclusões. Foi identificado um menor lote de indicadores que discrimina as equipas vitoriosas e derrotadas nas três categorias de jogos consideradas no estudo: jogos equilibrados – eficácia do guarda-redes e remates de 1ª linha, eficácia do guarda-redes a remates de 2ª linha e disciplina; jogos normais – eficácia do guarda-redes a remates de 1ª linha e eficácia de remate de 1ª linha; jogos desequilibrados – eficácia de remate de 1ª linha e eficácia de remate de 2ª linha. Os resultados sugerem que nos jogos equilibrados são os aspetos defensivos que assumem maior relevância enquanto nos jogos normais e desequilibrados existe equilíbrio entre aspetos defensivos e ofensivos. O autor comprovou que os aspetos defensivos têm maior influência no resultado final nos jogos equilibrados e que a eficácia do guarda-redes aos remates de 1ª linha é o indicador presente nas três categorias de jogos. Silva (2002), tentou (i) identificar o conjunto de indicadores da performance que melhor se associavam com a classificação final das equipas, e (ii) estabelecer um quadro de valores de referência para os diversos indicadores considerados. Foram estudadas equipas que participaram no Campeonato do Mundo (CM) Itália utilizando 43 6 REVISÃO LITERATURA indicadores. Comprovou a existência de 4 indicadores que mostravam forte correlação com a classificação final: (i) relação golos marcados/golos sofridos, (ii) eficácia guardaredes, (iii) eficácia de remate de 9 metros e (iv) percentagem de remates de contra ataque (CA). Mortágua (2003), estudou desde a recuperação da posse de bola, passando pelo desenvolvimento do ataque até à sua conclusão a organização ofensiva no jogo de Andebol com base na análise de variáveis tático-técnicas utilizadas no Futebol por Garganta (1997). O objetivo foi: (i) descrever as sequências ofensivas em função da sua duração, número de passes, número de jogadores envolvidos, número de variações de passe, número de contactos com a bola, número de variações de ritmo e número de interrupções; (ii) descrever o método de jogo ofensivo; (iii) descrever a frequência dos meios táticos utilizados no ataque e (iv) descrever a taxa de ocorrência de remates e a eficácia de finalização do ataque. A amostra utilizada foi composta por 570 sequências ofensivas, executadas por onze equipas participantes no Campeonato Nacional (CN) seniores masculinos da 1ª divisão, na época 1998/99 recolhidas em seis jogos. O autor concluiu que: (i) o método de jogo ofensivo que mais contribuiu para o desenvolvimento do processo ofensivo foi o ataque posicional; (ii) que a organização ofensiva das equipas portuguesas caracteriza-se por uma configuração descontínua e longa, não conseguindo evitar a interrupção do ataque por parte do adversário; (iii) pouca utilização dos CA e ataque rápido (AR), (iv) baixa eficácia absoluta e relativa, os remates foram preferencialmente realizados da 2ª linha ou entre a 1ª e a 2ª linha na zona central/lateral; (v) as ações táticas mais utilizadas nos meios táticos individuais foram os remates espontâneos e as fintas e nos meios táticos de grupo foram as desmarcações/assistências e progressões sucessivas. De facto, nas equipas que dão preferência ao CA os guarda-redes experientes através da colaboração com as defesas contribuem para o seu sucesso (Hoffman & Soubrane, 1999; Canayer & Verdon, 2000; Arvidsson et al., 2002; Gallet & Malfondet, 2002). Prudente (2006) concluiu que os padrões sequenciais associados ao sucesso das equipas foram as ações de cooperação dos guarda-redes e os defensores, a oposição dos adversários e a utilização de algumas ações táticas antes da finalização. No estudo de Silva (2008) concluiu-se que as equipas quando estão em desvantagem no marcador repõem a bola rapidamente após golo, as equipas vencedoras são as que usam em mais momentos esta estratégia e o desenvolvimento do ataque é 7 REVISÃO LITERATURA influenciado pela forma como se dá início á posse de bola. As equipas vitoriosas ajustam de forma mais eficaz a sua forma de agir às circunstâncias em que o jogo se desenrola, apresentando diferentes padrões de finalização; as diferenças entre as equipas vitoriosas e derrotadas na transição defesa-ataque revelam uma maior eficácia da recuperação defensiva das equipas vitoriosas, fruto de uma pressão exercida sobre o portador da bola; as equipas derrotadas e vitoriosas quando são confrontadas com um determinado sistema defensivo apresentam respostas diferentes. Para Czeryinsky (1993) a finalidade do ataque posicional é conseguir uma posição favorável para o remate mediante a utilização dos diferentes elementos de jogo. Grande parte das ações que ocorrem num jogo é de caráter posicional, o qual exige ao jogador uma grande preparação teórica e prática. Presentemente, verifica-se que as equipas utilizam as mudanças de sistema 3:3 para 2:4, causando uma maior mobilidade e dinâmica (Sevim & Taborsky, 2004; Garcia Herrero, 2002), procurando criar desequilíbrios na defesa adversária para aparecerem novos espaços que poderão ser aproveitados para finalizar. A entrada de um segundo jogador a pivô pode desencadear duas situações: o sistema ofensivo reequilibra-se e adota o posicionamento próprio do sistema 2:4 ou mantém a sua estrutura, passando a atuar com três jogadores na primeira linha e três na segunda linha ofensiva desta vez com 2 pivôs. De acordo com Teodorescu (1984) o sistema de jogo representa de uma forma geral a organização de uma equipa, a estruturação das ações dos jogadores no ataque e na defesa. Nestas ações é onde se estabelecem missões precisas e princípios de circulação e de colaboração no seio de um dispositivo previamente estabelecido. Segundo Garcia (1998) um sistema de jogo é caraterizado por uma disposição inicial (posições ocupadas pelos jogadores com base em formas geométricas simples) e por um funcionamento das relações entre os jogadores a partir da disposição inicial, sendo que o autor considera a relação entre os jogadores mais importante que as posições iniciais. Segundo este mesmo autor o sistema de jogo pode desenvolver-se de várias formas: se os jogadores se mantiverem nas mesmas posições, denominado jogo posicional (o que pressupõe domínio completo do posto específico); jogo circundante, se os jogadores trocarem de posto específico (obrigando os jogadores a dominar diferentes postos específicos); e igual ao anterior, mas variando as disposições geométricas de forma alternativa durante a mesma fase de jogo de ataque, o que provoca uma forma mais evoluída e um maior domínio técnico-tático – conceção do jogo dirigido. 8 REVISÃO LITERATURA Fernandez & Melendez-Falkowski (1988) consideram que o ataque possui 4 fases: contra-ataque (1ª vaga), AR (2ª vaga), organização do ataque e ataque dentro de um sistema organizado. Para estes autores a 1ª e a 2ª vaga do ataque são as fases mais eficazes do jogo, mas nem sempre é possível desenvolver estas ações por várias razões: o guarda-redes atacante coloca a bola em jogo demasiado tarde; alguns defensores pressionam de imediato a equipa que acabou de ganhar a posse de bola; a equipa defensora recupera os seus postos a tempo; o jogador que possui a bola considera que a situação do momento não é favorável para continuar com um elevado ritmo de jogo; ou ainda, perto do final do jogo, quando o resultado é favorável a equipa possuidora da bola. O ataque posicional engloba diferentes formas de ataque nos diferentes métodos de jogo a comportamentos adequados aos casos de assimetria numérica ou livres, até ao desenvolvimento de diferentes ações dentro dos sistemas e fases de ataque (Garcia, 1998), bem como a influência dos princípios técnicos e táticos do jogador, individualmente ou na cooperação entre vários jogadores (Trosse, 1993). De forma a poderem aumentar a eficácia ofensiva as equipas optam pelo ataque posicional, facto que, segundo Román (1996) confere mais segurança às ações ligadas à finalização. Com base nos trabalhos de Fernandez & Melendez-Falkowski (1988) o ataque dentro de um sistema organizado pressupõe que os objetivos individuais do jogo estabelecido, as ações estabelecidas para cada posto e sua inter-relação sejam cumpridos e que a sistemática de jogo com as suas coordenações correspondentes de acordo com os parâmetros previstos pelo treinador seja desenvolvida. As novas conceções vieram modificar o rígido jogo de ataque posicional, de jogadas com as trajetórias de passes e os percursos dos jogadores estabelecidos, e a finalização programada, o que evidencia uma mudança no comportamento dos jogadores, pelo que se procura atualmente o jogador com jogo inteligente, capaz de jogar em várias posições. É mesmo exigido que os jogadores sejam mais completos, capazes de assumir várias posições (Trosse, 1993). Este tipo de jogo necessita de uma utilização momentânea dos jogadores em postos específicos diferentes do que habitualmente ocupam, sendo esta capacidade uma aptidão necessária (Roman, 1996). Os jogadores mais experientes e inteligentes evidenciam-se por possuírem a aptidão referida por Roman (1996) de mobilidade ou versatilidade. Esta não se deve verificar apenas nos percursos mas também nas mudanças de funções. Estes jogadores mais versáteis distinguem-se dos demais devido às suas capacidades de antecipação: 9 REVISÃO LITERATURA evolução da relação de oposição, escolhas táticas mais adequadas e execução das operações correspondentes que lhe permitam desenvolver a capacidade de antecipação em tempo útil. Assim sendo, é possível compreender porque é que o ataque posicional apresenta frequentemente o sistema de jogo 3:3, como base para passagem a 2:4 (Bana, 1996; Landuré & Curelli, 1996; Silva, ). No ataque posicional esta transformação do sistema é frequente através da entrada a segundo pivô por parte dos jogadores que ocupam a posição de ponta ou central, com o objetivo comum de jogar com 2 pivôs (Czerwinski, 1991). No entanto, Czervinski (1993) apresenta sistemas ofensivos em 3 linhas com outras particularidades: 2:3:1, 2:2:2, 1:2:3. Este autor refere ainda o 2:0:4 ou 0:2:4 como variantes teóricas. Os dois sistemas de jogo referidos anteriormente são os mais utilizados e referenciados e por vezes nem surgem referências diretas aos sistemas de ataque (Germanescu, 1991; Notebom, 1990; Constantini, 1995), mas geralmente é considerado que o ataque se desenvolve a partir de um sistema 3:3 e em algumas situações passa ao sistema 2:4, mediante ações de circulação de jogadores antes da finalização, As referências aos sistemas 3:3 e 2:4 são quase universais, mas os princípios tradicionais associados já não condizem com a funcionalidade necessária. A proposta de Czervinski (1993) já referida mostra esta preocupação: os sistemas 2:1:3 e 1:2:3 podem traduzir uma diferenciação do jogador central na 1ª linha, sendo que este jogador pode jogar mais à frente ou atrás dos laterais, com funções diferentes, mantendo-se clara a ligação ao clássico 3:3; o sistema 2:2:2 realça a importância da amplitude dos pontas num sistema que apenas utiliza dois primeiras linhas. As propostas do 2:0:4 e 0:2:4, embora o autor considere serem modelos teóricos, assumem um conceito de profundidade distinto, por 3 linhas de ataque uma das quais sem ocupação embora o sistema clássico relacionado seja mesmo o 2:4. Em termos de propostas teóricas deverá ter validade um sistema 3:2:1, em que a utilização de dois pivôs e um ponta seja definida, o que não tem equivalência com nenhum dos sistemas clássicos. Apesar destas preocupações, entende-se que apenas se devem considerar os dois sistemas de jogo ofensivos 3:3 e 2:4, sendo dominante o primeiro visto que normalmente o segundo surge da circulação dos jogadores. O método de jogo que tem merecido mais importância é o ataque posicional, os restantes podem ou não ser utilizados, mas este tem de o ser, já que é a identidade do 10 REVISÃO LITERATURA próprio jogo. Embora também haja outros meios, que não envolvem a totalidade da equipa e que são habitualmente designados de meios táticos, os conceitos de jogo coletivo são fundamentais para o desenvolvimento do método de jogo ofensivo e, em particular, para o ataque posicional. É neles que o andebol tem sustentado o seu desenvolvimento (Trosse, 1993; Czervinski, 1993; Fonseca, 1999). Atualmente cada vez mais se desenvolvem falsas transformações dos jogadores de primeiras linhas, mas as formas mais usuais para se transformar o sistema de ataque são as entradas dos pontas e dos laterais para segundo pivô. Assim, a transformação de um ataque 3:3 a 2:4 tem como objetivos: fazer com que o sistema de ataque se adeque ao sistema defensivo da equipa, modificá-lo para provocar falhas na defesa e encontrar situações favoráveis de remate; criar situações de 1x1 com grande percentagem de eficácia; aumentar os espaços para a desmarcação dos pivôs ou para encontrar superioridade numérica; tentar criar aglomerações de defensores numa zona para aproveitar os espaços livres na zona contrária e provocando desta forma uma rotura no sistema defensivo inicial. O jogo com transformações faz com que a defesa ganhe largura e perca profundidade. Atendendo a que as linhas de passe entre a primeira e a segunda linha estão fechadas (devido à perda de profundidade da defesa) o objetivo da entrada a 2º pivô não tem de ser obrigatoriamente passar a bola a um dos pivôs, visto que a equipa atacante terá forçosamente de aplicar soluções rápidas, jogar com os pivôs e recorrer a um trabalho tático muito preciso. Nestes casos há que valorizar o remate à distância. Contudo, a não existência de um bom rematador de 1ª linha, implica que um dos pivôs sirva de ponto de apoio. O trabalho tático desenrola-se em torno disto (Garcia, 2000). Segundo Román (1992) a ênfase do jogo com transformações é aproveitar o desequilíbrio defensivo quando os defensores estão a trocar de oponentes o que ocorre nos instantes iniciais da transformação (3 ou 4 segundos). De forma a conseguir eficácia desejada, com a transformação realizada, é necessário que se procure rapidamente a finalização. É fulcral lembrar que a passagem do ataque 3:3 a 2:4 provoca não só desequilíbrios na equipa defensora, mas também no ataque. A eficácia diminui sempre que aumenta o tempo de jogo já transformado. Parafraseando Ribeiro (2005) e segundo alguns estudos é possível constatar que os espaços mais eficazes para a finalização que sucede a transformação são os 6 metros ou antes dos 9 metros e nunca na zona entre os 7-9 metros. Os espaços mais eficazes são os mais próximos à baliza, no caso de não haver transformação, ainda que com uma 11 REVISÃO LITERATURA menor frequência. A diferença entre a finalização no espaço anterior aos 9 metros, com ou sem transformação, é significativa a favor do jogo com 2 pivôs. O tempo de jogo é um fator não dissociado da ocorrência de momentos de jogo que requerem uma atenção particular. O comportamento da equipa é influenciado pelo tempo de jogo e, consequentemente, a performance desportiva poderá ser afetada. (Gruić, Vuleta, & Milanović, 2006; Hughes & Franks, 2004; Martín Acero & Lago, 2005; Ferreira, 2006; Volossovitch, 2008). O tempo, um dos elementos estruturais do jogo, impõe limites às ações que realizam os jogadores e as equipas. Estas limitações temporais referem-se à duração do jogo e às pausas na atividade das equipas, tal como às decisões dos jogadores quanto ao seu tempo de ação (Navarro e Jiménez, 1998). O desenvolvimento da ação de jogo nos desportos de equipa organiza-se com uma sequência rítmica e uma imposição temporal provocada pelo condicionamento das regras e que, em certos casos, depende das circunstâncias e dos momentos. A eficácia competitiva não depende somente da escolha e execução de uma ação apropriada às exigências da situação, mas também do tempo em que se realiza (Martín e Lago, 2005). Desta forma, o tempo constitui um elemento estrutural intimamente relacionado com o espaço, pois todas as ações desenvolvem-se em determinadas sequências espaço temporais. A resolução eficaz das situações de jogo está diretamente relacionada com a velocidade com que se encontra a solução do problema e a adequação dessa mesma solução às respetivas situações de jogo. (Mahlo, 1989). Neste sentido, a ação técnico-tática está interligada com o tempo, porque não só a utiliza como também joga estrategicamente com este fator utilizando variações na velocidade de execução em função dos adversários (Gréhaigne, 1992, 2001; Castelo, 1996). A eficácia das ações de jogo é beneficiada pela fluidez e a variabilidade do ritmo de atuação (jogo com máxima exigência temporal, sem exigência temporal, com alternância da exigência temporal rápido/lento – lento/rápido) (Navarro e Jiménez, 1998, 1999). Os jogadores e as equipas demonstram a sua competência desportiva nos JDC através do controlo voluntário da aceleração e desaceleração das ações tendo em conta as necessidades que apresenta a própria competição (Martín, e Vittori, 1997; Martín, Lago, Fernandéz, 1999; Lago, 2000). Em função do resultado (positivo ou negativo) em determinado momento de jogo, a aceleração/desaceleração do ritmo do mesmo é concomitantemente significativa nas situações de finalização do jogo. Assim sendo, é imperativo usar o tempo como uma variável estratégica de primeira ordem, seja nas 12 REVISÃO LITERATURA ações motoras individuais e coletivas (Navarro e Jiménez, 1998, 1999). Parafraseando Martín e Lago (2005) pode concluir-se que os jogos desportivos baseiam-se sobretudo numa luta constante pelo tempo, pela sua economia, visto que uma só ação pode ser fator determinante para o êxito. Em situações competitivas que envolvem limites temporais os acontecimentos de um determinado período do encontro podem ter influência decisiva no seu resultado final (Kaminsky, 1990; Baker, 2000; Ribeiro e Sampaio, 2003). Estes períodos de jogo ficaram intitulados de momentos críticos (MC) (McGuire, 1983; Hughes et al., 1998; McGarry, Anderson, Wallace, Hughes, Francks, 2002; Newell e Knight, 1989) ou perturbações. Para a identificação destes momentos, o resultado parcial do encontro deve-se sobremaneira ao desempenho da equipa analisado por unidades de tempo. (Volossovitch, 2008). Neste sentido, os analistas procuram detetar, interpretar e analisar as informações mais adequadas durante o decorrer do próprio jogo, visto que as perturbações inerentes ao mesmo, surgem através da interação das características, objetivos e conceitos de jogo de duas equipas em confronto (Silva, 2008). Os minutos finais dos jogos constituem-se como MC visto que será nestes instantes que se decidirá o resultado final (Newell & Knight, 1986; Bar-Eli, et al., 2000; Baker, 2000), nomeadamente nos jogos equilibrados1 (JE) (Barreto, 1998; Kozar, Vaught, Whitfiel, Lord & Dye, 1994, Gomes, 1997; Ribeiro e Sampaio, 2001; Sampaio, Ferreira, Ibañez & Ribeiro, 2004; Ferreira, 2006; Vuleta, ilanovic, Grunic & Ohnjec, 2007; Volossovitch, 2008; Oliveira, 2010; Teles, 2011). Atendendo a que todas as decisões do jogo, especificamente o seu resultado se centra sobretudo nestes instantes finais, justifica-se a importância da análise das ações associadas ao sucesso das equipas durante este mesmo período temporal. Esta análise será uma mais-valia pois remete-nos para um cabal conhecimento que permitirá uma informação adicional e profícua para uma melhor direção e condução dos processos de ensino e treino. De facto e como nos diz Baker (2000, p. 2) “quando os minutos finais chegam é necessário que os jogadores estejam preparados para os enfrentarem, cabendo esta tarefa aos treinadores”. 1 Jogos equilibrados - diferenças pontuais inferiores a 10 pontos (Gingerich, 1946; Kozar et al., 1994; Mendes, 1996). 13 REVISÃO LITERATURA No basquetebol, Kozar et al. (1993), consideraram os últimos cinco minutos de jogo como “critical games situations”. Os autores em questão avaliaram a pertinência dos lances livres nos últimos 5 minutos do encontro relativamente ao restante tempo de jogo, através do cálculo de pontos marcados nestes dois períodos. Os jogos foram divididos em dois grupos em função do equilíbrio no resultado final, considerando-se equilibrado o jogo que culminou com uma diferença pontual igual ou inferior a nove pontos. Este estudo permitiu tirar as seguintes ilações: i) em todos os jogos, os pontos marcados nos últimos cinco minutos representaram 35% da totalidade de pontos somados pelas equipas; ii) as equipas vitoriosas e derrotadas marcaram uma percentagem de pontos significativamente maior nos últimos cinco minutos do encontro; iii) o número de pontos marcados pelas equipas vencedoras pela conversão de lances livres, no último período de jogo, foi significativamente maior em detrimento das equipas vencidas, sendo que, esta diferença foi ainda mais significativa nos jogos equilibrados entre equipas bem e mal sucedidas. Os indicadores associados ao lance livre foram igualmente estudados e analisados por Gomes (1997) e os seus resultados vão ao encontro dos apresentados por Kozar et al. (1994). Ao analisar os jogos equilibrados, normais e desequilibrados de 56 encontros da Liga Portuguesa de Basquetebol da época 1996/1997, o autor dividiu a amostra em dois grupos, tendo em conta o resultado final (vitória ou derrota). As conclusões sugerem que: i) as equipas vencedoras apresentam uma eficácia superior no lance livre, em todas as categorias de estudo, comparativamente às equipas derrotadas; ii) o comportamento dos diferentes indicadores associados ao lance livre varia em função das categorias de jogo e iii) os treinadores deverão prestar especial atenção, aos jogos equilibrados onde os cinco minutos finais se constituem como um momento critico. O resultado final poderá ser influenciado pelos lances livres nos últimos minutos do encontro. Lorenzo (2005), em “Momentos Críticos en los Partidos de Baloncesto: Metodologia para Identificación y Análises de los Acontecimientos Precedentes” apresenta uma metodologia capaz de identificar as variáveis que contribuem para caracterizar os momentos críticos dos três jogos do play-off final da liga ACB 2002/2003. Concluiu que os períodos críticos do jogo ocorreram na segunda metade da partida, 3º e 4º período. Ribeiro e Sampaio (2001) estudaram os últimos cinco minutos de jogos equilibrados (diferença pontual não superior a dez pontos no último período) em 409 14 REVISÃO LITERATURA sequências de jogo da Liga Profissional de Clubes de Basquetebol (LPCB) de Portugal na época de 1997/2000. O principal objetivo do estudo era identificar quais os indicadores técnico-táticos que mais influenciam o desfecho final do encontro nas últimas posses de bola. Os autores chegaram à conclusão que os “roubos” de bola, os cortes para a bola, os ressaltos ofensivos e as situações de 1x1 são os indicadores que mais preponderância têm para o desenlace positivo do processo ofensivo no final do encontro. Em contrapartida, a duração da sequência ofensiva não se mostra como um indicador relevante. Na sequência do estudo anterior, Sampaio et al. (2004) aprofundaram a análise das sequências ofensivas nos últimos cinco minutos de jogo, em jogos equilibrados (nunca ultrapassando os 10 pontos diferenciais). Foram observadas 258 sequências ofensivas com desfecho positivo e 314 com desfecho negativo dos jogos da LPCB da época 1999-2002. Os autores estudaram a influência das variáveis contextuais nos últimos dez minutos do jogo, e propuseram um modelo de regressão múltipla para averiguar os resultados das cinco categorias eleitas: duração da posse de bola, jogadores envolvidos, ações conducentes ao desenlace da sequência ofensiva, particularidades da oposição e local do desfecho da posse de bola. As categorias que se apresentaram com valores significativos relativamente ao resultado da sequência ofensiva neste episódio do jogo foram os jogadores envolvidos, a ação técnico-tática realizada e o local do desfecho da posse de bola. Vuleta et al. (2007) examinaram a influência dos golos marcados em diferentes períodos de jogo no decorrer da partida de Andebol. Foi estimado o modelo de regressão linear simples que associava o número de golos marcados por cada período de 15 minutos ao resultado final do encontro. Os resultados do estudo indicam que os golos marcados no 1º e 2º período do encontro são determinantes para o resultado final. Embora o 4º período seja o mais produtivo ao nível da eficácia de remates para as equipas derrotadas (apresentam índices mais eficazes), verifica-se o terceiro e quarto período de jogo não influenciaram a diferença pontual final. No estudo de Oliveira da Silva (2005), o rendimento das equipas vitoriosas e derrotadas foi avaliado em 48 jogos do Campeonato da Europa (CE) de 2004. A amostra foi dividida em três categorias consoante a diferença pontual final: equilibrados (com a diferença igual ou inferior a dois golos), normal (três a cinco golos de diferença) e desequilibrados (diferença pontual superior a seis golos). As conclusões do estudo de Oliveira da Silva (2005), atestam o seguinte: i) em 75% dos jogos, ocorre pelo menos 15 REVISÃO LITERATURA um momento que influencia forçosamente o resultado final; ii) nos jogos equilibrados, os minutos finais constituíram-se como os mais decisivos para o desfecho do resultado final; iii) nos jogos normais, surgem momentos no decorrer jogo em que a relação vencedora/vencido fica decidido mais vezes na primeira parte dos jogos; iv) e nos jogos desequilibrados estes momentos ocorrem, maioritariamente, nos minutos iniciais dos jogos. Teles e Volossovitch (2008) analisaram os últimos dez minutos de jogo de 16 jogos equilibrados das fases finais dos CM (2003, 2005 e 2007) e CE (2004 e 2006) de seniores masculinos. Segundo os autores, o resultado final é estritamente condicionado pela eficácia das ações defensivas nos últimos minutos de jogo, estando significativamente relacionado com o sucesso da equipa; as equipas vitoriosas apresentam uma maior duração das frequências ofensivas, uma eficácia superior de remates em situações de ataque organizado e uma maior eficácia do guarda-redes; sendo que, as equipas derrotadas se mostraram mais eficazes (maior número de contraataques) na fase final do encontro (últimos 10 minutos). Volossovitch (2008) recolheu dados de 224 jogos de três CM de Seniores masculinos de 2001 (França - 71), 2003 (Portugal – 77) e Tunísia (2005 - 76). Ao analisar a eficácia por posse de bola, apurou que nos jogos equilibrados com reduzida posse de bola, a influência da eficácia ofensiva da equipa adversária, na probabilidade de marcar, aumenta significativamente no início de cada parte e no final da partida (últimas 5-6 posses de bola). Ao invés, nos jogos desequilibrados, é no final do encontro e nas segundas dez posses de bola da primeira parte que os resultados se revelam mais significativos. Oliveira (2010) estudou a interação do local, período de jogo e equilíbrio do encontro em 480 jogos da fase regular da Liga ASOBAL nas épocas 2007/2008 e 2008/2009. Os seus resultados permitiram verificar que as equipas marcam mais golos nos últimos cinco de cada parte. A análise, interpretação, informação do jogo têm evoluído para estudos focados nas interações entre indicadores da performance, procurando os momentos mais pertinentes para o resultado final do encontro. Neste sentido vários autores têm teorizado que o jogo passa por “fases psicológicas” sendo a última fase do encontro a mais crítica (Bar-Lei, et al., 1990). Os últimos 5 minutos parecem ser uma zona de perigo. Nesta fase do jogo, em que o 16 REVISÃO LITERATURA período temporal é escasso, um pequeno erro pode deitar tudo a perder e ser fatal para o resultado final do jogo, caso este esteja em aberto Knight e Newell (1989). A consulta e análise da literatura específica permite-nos afirmar que é pertinente analisar o desempenho das equipas nos últimos momentos do encontro para identificar os padrões de comportamento que conduzam as equipas à vitória. Tentamos assim, a partir da uma análise qualitativa e quantitativa do conjunto de comportamentos expressos pelos jogadores nas sequências ofensivas do jogo, após a recuperação da posse da bola, descrever a organização ofensiva das equipas realçando as variáveis que se associam à sua eficácia ofensiva nos últimos 10 minutos dos jogos, entendidos como um dos períodos mais críticos do jogo. O propósito deste trabalho foi identificar a variação da performance das equipas em confronto entre equipas fortes com fortes; fortes com fracas e fracas com fracas e identificar o efeito da qualidade das equipas em confronto (equipas melhor ou pior classificadas no campeonato) na dinâmica da performance no jogo. 17 METODOLOGIA METODOLOGIA 3. Metodologia 3.1. Amostra As competições de elevado nível são momentos privilegiados para proceder à observação e análise do comportamento dos jogadores e das equipas, sendo momentoschave para os treinadores, fornecendo informações úteis e podendo melhorar desta forma todo o processo de treino. Assim, e tendo em conta os pressupostos enunciados anteriormente, no presente estudo foi selecionada uma amostra dos jogos do Main Round do Campeonato Europeu de Andebol de 2012. Destes, foram estudados os últimos 10 minutos de jogo. Foram retiradas as situações de superioridade e inferioridade numérica. Consideramos os dois primeiros classificados de cada grupo do Main Round como sendo equipas fortes e os dois últimos como equipas fracas. Foram estudadas as sequências que não terminaram em golo entre as equipas que reuniram este tipo de condições. 3.2. Recolha e registo de imagens O recurso à observação indireta (vídeo) permite a reprodução fiel e precisa do desenrolar do jogo (Maia, 1995), manipulando a variável tempo e a repetição e pormenorização da observação, tantas vezes quantas as necessárias, sem as desvirtuar, permitindo minimizar eventuais erros na realização dos registos (Garganta, 1997). No presente estudo recorreu-se à observação sistemática de imagens videogravadas a partir de jogos transmitidos on-line. 3.3. Definição das variáveis em estudo As ações realizadas pelas equipas inscrevem-se numa lógica fundada em princípios da ação e regras de gestão, decorrentes de conceções e modelos de jogo, em relação aos quais pode ser aferida a coerência das ações dos jogadores. Na materialização das intenções através dos comportamentos táticos dos jogadores, as equipas, enquanto sistemas, revelam as suas formas peculiares de organização num contexto de confronto e cooperação (Riera, 1995; Garganta, 1997). As variáveis a observar a partir das sequências ofensivas foram: 1. Tempo Realização do Ataque (TRA) 19 METODOLOGIA Por TRA é considerado o período de tempo que medeia o início do processo ofensivo e a sua conclusão através de: (i) remate; (ii) golo; (iii) remate falhado; (iv) violação área ou falta de um opositor (v) falta atacante e (vi) Falha técnica. O tempo gasto em cada sequência ofensiva será contabilizado recorrendo ao cronómetro digital integrado no vídeo. Será registada, em relação a cada equipa, e para cada sequência ofensiva, o intervalo de tempo decorrido entre a tomada da posse de bola, por um dos seus jogadores, e que corresponde ao início da sequência ofensiva, e o momento da sua conclusão, pelo mesmo ou por outro, nessa mesma sequência. Se houver falta e a bola se mantiver na mesma equipa consideramos como sendo referente à mesma posse de bola. 2. Pontas Se os jogadores pontas intervieram tocando na bola na sequência ofensiva 3. Pivôs Se os jogadores pivôs intervieram tocando na bola na sequência ofensiva 4. Variações de passes na 1ª linha Número de passes entre os jogadores de 1ª linha nos corredores de jogo definidos no campograma. Figura 1 - Campograma do terreno de jogo utilizado no estudo. 20 METODOLOGIA 5. Alternância de passes entre a 1ª e a 2ª linha Número de passes entre os jogadores de 1ª e 2ª linha definidos no campograma. 6. Número de Jogadores (NJ) O observador deverá registar, em relação à equipa que ataca, o número de jogadores que contactam com a bola em cada sequência ofensiva observada. 3.4. Metodologia de observação No presente estudo foram observadas, registadas e analisadas as posse de bola (PB) em que não foi golo, desenvolvidas por ambas as equipas nos últimos 10 minutos dos encontros. A notação do início de uma PB teria início, no preciso momento em uma equipa ficasse na sua posse, por: (i) violação ou falta de um opositor; (ii) intercepção de um defensor; (iii) recuperação de um bloco Para que a validade da observação não fosse comprometida e também para que não fossem observados vários indicadores em simultâneo, diminuindo assim as dificuldades e imprecisões de registo (Maia, 1995), cada PB foi observada em três momentos sucessivos: 1. Saber se a equipa se encontrava a vencer, a perder ou empatada no início da sequência ofensiva; a forma de recuperação da posse de bola e NJ; 2. Verificar a interveniência ou não do ponta e do pivô, e o TRA; 3. Contabilizar as variações de passes na 1ª linha e a alternância de passes entre a 1ª e a 2ª linha. Sempre que se justificou, e no sentido de tornar mais válido o processo de observação, as imagens das PB em estudo foram passadas em movimento lento, e em alguns casos revistas, por forma a aumentar a acuidade sobre alguns pormenores e, consequentemente, minimizar a possibilidade de ocorrência de erros de observação (Garganta, 1997). Riera (1995) refere que é mais importante observar globalmente as ações da equipa, do que o comportamento individual de cada jogador. 21 METODOLOGIA 3.5. Procedimentos estatísticos Em primeiro lugar realizaram-se os procedimentos de estatística descritiva para calcular as médias e desvios-padrão de todos os indicadores de cada uma das equipas (vencedoras e perdedoras). Depois foram utilizadas Análises de Covariância onde a variável independente foi o desfecho final do jogo (i.e. vitória ou derrota) e as variáveis dependentes foram o TRA, NV1ªL, ALT1ª2ªL, NJ. Todos os modelos obtidos foram analisados retirando a influência do Ponta e Pivô (co variáveis). Todos os dados foram analisados com o SPSS2 para Windows, versão 17.0 (SPSS Inc., Chicago, IL) e o nível de significância foi mantido em 5% (p≤0,05). 2 Statistical Products and Service Solutions. 22 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4. Apresentação e Discussão dos Resultados Na literatura internacional não existem trabalhos que tenham medido o efeito alternância da posse de bola na primeira linha, e entre a primeira e segunda linha tendo em conta a participação dos jogadores pontas e dos pivôs, associado às vitórias e derrotas das equipas nos últimos 10 minutos dos jogos de alto nível de andebol. Tentaremos assim discutir os nossos dados com os estudos existentes nos últimos minutos dos encontros e outros que possam enriquecer e solidificar os resultados alcançados. Relativamente à análise do jogo, nos trabalhos em que foram utilizadas as mesmas variáveis, tentamos relacionar e discutir os mesmos. Tabela 1 - Comparação dos valores médios das variáveis (TRA, NV1ªL, ALT1ª2ª L, NJ) em função dos fatores vitória x derrota e intervenção do Ponta e Pivô. Legenda: TRA – Tempo Realização do Ataque, NV1ªL – número de variações de corredor de jogo na 1ª linha, ALT 1ª2ª L – Alternância 1ª2ª Linha, NJ – Número de jogadores intervenientes. VARIÁVEIS V/D PONTA PIVÔ TRA NV1ªL ALT1ª2ª L NJ TRA NV1ªL ALT1ª2ª L NJ TRA NV1ªL ALT1ª2ª L NJ F 10.0 7.53 2.35 2.45 8.12 2.96 3.21 16.43 18.41 16.97 3.81 34.23 P .002* .008* .130 .122 .006* .090 .078 .000* .000* .000* .056 .000* *p≤0,05 Os resultados da ANOVA - variável independente (vitória × derrota) revelaram para o TRA (F=10,0 p≤0,05) e NV1ªL (F=7,53 p≤0,05) diferenças estatisticamente significativas. Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas para as variáveis ALT1ª2ªL e NJ (F=2,35 p=n.s.) e (F=2,45 p=n.s.). Estes dados sugerem com significado estatístico a relevância do TRA e NV1ªL com valores referidos anteriormente, nos últimos 10 minutos dos jogos de alto nível de andebol. Em termos práticos, em situação de preparação das equipas em situação de treino, podem os treinadores optar por dar significado aos exercícios de ataque com continuidade e adoção de estratégias de controlo dos tempos para a finalização. 24 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Por outro lado, relativamente à co-variável (jogador ponta), os resultados da Anova revelaram efeito sem significado estatístico para a interação (F=2,96 p=n.s.) e (F=3,21 p=n.s.) NV1ªL e ALT1ª2ªL respetivamente. No entanto, o efeito simples do jogador ponta foi estatisticamente significativo para a interação (F=8,12 p≤0,05) (F=16,43 p≤0,05) TRA e NJ respetivamente. Podemos assim referir pelos dados recolhidos que quando o jogador ponta participou nas sequências ofensivas houve alterações significativas no TRA e NJ com sucesso. Talvez pelo facto do jogador ponta ocupar as zonas mais afastadas lateralmente da baliza, permite-lhe participando na organização do ataque dar mais largura ao mesmo, ocupando os vinte metros de largura do campo de andebol. Para a co-variável jogador pivô, os resultados da Anova revelaram efeito sem significado estatístico para a interação (F=3,81 p=n.s.) ALT1ª2ªL. No entanto, para a interação (F=18,41 p≤0,05; F=16,97 p≤0,05; F=34,23 p≤0,05) TRA, NV1ªL e NJ os resultados foram estatisticamente significativos. Podemos assim confirmar a relação que se estabelece nos últimos 10 minutos de jogo, em que a participação do jogador pivô parece ser fundamental para ajudar a desequilibrar por um lado a defesa adversária, mas por outro servir como apoio aos jogadores com bola. Interessante foi observar que a relação que não obteve significado estatístico foi a ALT1ª2ªL, o que até pode parecer estranho, sendo o pivô um jogador de 2ª linha. No entanto, fruto das observações realizadas, muitas das vezes o pivô colaborava nas ações coletivas do ataque mas saindo da 2ª linha e recebendo a bola na 1ª linha para depois se dar transformação do sistema ofensivo de 3:3 para 2:4. Ou seja, nos últimos 10 minutos dos jogos de andebol de alto nível, o jogador pivô também assume uma importância significativa na organização e preparação dos ataques das equipas. Santos (2012) refere que o jogador pivô surge com funções muito especiais em relação a outros atletas, sendo a sua função no jogo de importância decisiva na prestação competitiva da equipa. Também Herrero (2002), refere que 90% das transformações do sistema ofensivo3 que têm êxito ocorrem nos 8 primeiros segundos após a transformação, pelo que sugere que as equipas de alto nível estão desenhando esta forma de jogo aproveitando o desequilíbrio defensivo imediato. Refira-se que o autor encontrou estes 3 Transformar a distribuição dos jogadores no jogo de ataque. As formas mais habituais mediante as que se transforma o sistema de ataque são as circulações dos extremos e os desdobramentos das primeiras linhas. Transformar o sistema de ataque é um meio mediante o qual se alcança a eficácia do jogo ofensivo (Garcia, 2000). 25 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS resultados da análise de jogos completos e não dos últimos 10 minutos dos mesmos. No entanto, parece-nos que esta relação da utilização do pivô ou até mesmo do jogador ponta para as transformações do jogo de 3:3 para 2:4 pode assumir extrema relevância nos momentos finais dos jogos de andebol. Tabela 2- Comparação dos valores médios das variáveis (TRA, NV1L, ALT 1ª2ª L, NJ) em função dos fatores vitória x derrota. Legenda: TRA – Tempo Realização do Ataque, NV1ªL – número de variações de corredor de jogo na 1ª linha, ALT1ª2ª L – Alternância 1ª2ª Linha, NJ – Número de jogadores intervenientes. Vitória Derrota Variáveis Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão TRA 34.26 18.4 16.35 13.3 NV1ªL 11.89 8.3 5.35 5.35 ALT1ª2ªL 1.63 1.73 .68 1.13 NJ 5.26 1.50 4.08 1.40 A tabela 2 apresenta os resultados da média e desvio padrão das variáveis das variáveis TRA, NV1ªL, ALT1ª2ªL e NJ em função das vitórias e derrotas das equipas. Relativamente ao TRA, verificamos que a média estimada de 34,26±18,4 segundos está associada às vitórias nos encontros, enquanto TRA com média de 16,35±13,3 segundos se associam a derrotas (ver tabela 1), ou seja, valores estimados mais elevados de TRA estão associados às vitórias, enquanto valores mais baixos associam-se às derrotas. Estes dados podem sugerir que nos últimos momentos dos jogos, as equipas que vencem mais vezes optam por formas de ataque organizadas, garantindo durante esse tempo situações de finalização com sucesso. Mendes (1996) refere que uma equipa eficaz é aquela que consegue aproveitar o tempo de ataque e selecionar as melhores opções, em função da leitura das ações dos adversários. Parece-nos que as equipas cada vez mais definem as suas ações em função das circunstâncias de cada momento do jogo. Também na variável NV1ªL, os valores médios encontrados (11,89±8,3) foram superiores associados às vitórias, enquanto nas derrotas (5.35±5,35) foi o valor encontrado. Mais uma vez se sugere que nos momentos finais dos encontros e de acordo com os resultados encontrados por Volossovitch (2008), as melhores equipas 26 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS apresentam uma maior duração das frequências ofensivas. No seu estudo Volossovicht e Teles 2008, também concluíram que as equipas derrotadas nos últimos 10 minutos de jogos realizam maior número de contra-ataques, o que pelos dados que nós obtivemos de média no TRA e NV1ªL, podem também sugerir que as equipas que perdem, realizam ataques mais curtos nesta última fase do jogo e consequentemente menos variações de jogo na 1ª linha. Teles (2011) refere que nos últimos minutos dos encontros em contexto de equilíbrio ocorre uma menor percentagem de erros nos processos ofensivos, o que se traduz numa maior eficácia das sequências ofensivas. Podemos sugerir que as equipas que vencem, para melhor preparar os seus ataques sem falhas técnicas nos últimos 10 minutos dos encontros variam mais vezes a bola nos corredores de jogo, com intenção de utilizar toda a largura disponível. O conceito de continuidade é assim fundamental no jogo ofensivo atual (Sanchez & Rodriguez, 2002). Cuesta & Elzaurdia (2002) referem como aspetos importantes para a continuidade do jogo as inversões no sentido da circulação da bola. Cuesta & Elzaurdia (2002) sugerem para facilitar a continuidade controlar toda a zona eficaz e tratar globalmente a informação, valorizando os riscos e evitar faltas a favor que rompem a continuidade. Varejão (2004) concluiu no seu estudo, para a variável número de variações de corredor de jogo, que as melhores equipas realizam maior número de variações, o que vem de encontro aos resultados para a nossa variável em estudo (NV1ªL) mas para os últimos 10 minutos do jogo de andebol de alto nível. Esta variável parece diferenciar a qualidade das equipas pelo aproveitamento da continuidade do jogo, no que refere ao NV1ªL, bem como pela qualidade das ações que devem aumentar ou pelo menos manter a vantagem das ações precedentes e encadear-se com velocidade evitando ou dificultando ao máximo a capacidade de antecipação. Podemos também sugerir formas de trabalho em superioridade numérica e promover a finalização apenas em situação de um jogador contra o guarda-redes (1xGR). Na variável ALT1ª2ªL, as equipas que venceram realizaram em média 1,63± 1,73 variações com pontas ou pivô, enquanto as equipas que perdem 0,68±1,13. Mais uma vez sugerem os dados que a continuidade é assim fundamental para a obtenção do rendimento do jogo coletivo e do ataque posicional (Cuesta & Elzaurdia, 2002). Consideram ainda fundamental uma atividade sem bola que assegure apoios para garantir a fluidez do movimento de bola (utilização equilibrada das desmarcações 27 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS “ofensivas” e “defensivas”) e a melhoria da captação e tratamento da informação durante o jogo. Pode-se planear um apoio de um dos pivôs que sai a dar apoio (Garcia, 2000). Podemos entender que os apoios possam ser considerados os pontas e pivôs dando a largura e profundidade aos ataques. Se considerarmos que este tipo de trabalho é fundamental para as equipas de andebol, os nossos dados podem sugerir que para os momentos finais dos jogos assume ainda maior relevância. Relativamente ao NJ o valor encontrado associado às vitórias foi de 5,26±1,50, enquanto o valor associado às derrotas foi de 4,08±1,40. Mais uma vez os dados parecem sugerir claramente que nos últimos 10 minutos dos jogos de andebol de alto nível, as equipas optam por ataques mais cuidados procurando utilizar todos os corredores de jogo, dando largura ao mesmo, jogando em profundidade, utilizando as relações com a 2ª linha (pontas e pivôs). Knight e Newell (1989) no seu estudo concluíram que os últimos 5 minutos parecem ser considerados como uma zona de perigo. Nesta fase de jogo, em que o período temporal é escasso, um pequeno erro pode deitar tudo a perder e ser fatal para o resultado final, se este se encontrar em aberto. Parece-nos claro, tendo em conta os resultados do nosso estudo que as melhores equipas optam por preparar melhor as situações de finalização nos últimos 10 minutos dos encontros. Para isso, podem circular mais vezes a bola em largura e profundidade, optando pela continuidade das ações até encontrar a situação mais favorável para finalizar. A melhor utilização destes princípios pode ter aumentado o TRA, NV1ªL, ALT1ª2ªL e NJ durante as sequências ofensivas. Este conjunto de resultados sugere que se controlem estas variáveis no treino como forma de criar situações de finalização e medir o resultado das sequências ofensivas. A continuidade é assim fundamental para a obtenção do rendimento do jogo coletivo e do ataque posicional (Cuesta & Elzaurdia, 2002). 28 CONCLUSÕES CONCLUSÕES 5. Conclusões Após análise dos resultados concluiu-se que as melhores equipas preparam melhor as situações de finalização nos últimos 10 minutos dos encontros, através da circulação de bola com maior número de passes, em largura e profundidade, dando continuidade às ações, para finalizar na situação mais favorável. O conjunto de resultados encontrados parece marcar o elevado poder diferenciador das variáveis utilizadas e sugerir uma tendência na conceção, filosofia e preparação das equipas para os últimos 10 minutos dos jogos de andebol ao mais alto nível de competição. Mais especificamente, concluímos que: - Em virtude do maior tempo de realização do ataque (TRA) utilizado pelas equipas que vencem nos últimos 10 minutos dos jogos de alto nível de andebol, os treinadores devem nas partes finais dos treinos solicitar aos atletas uma maior preocupação com a procura das melhores situações de finalização. - Nos últimos 10 minutos dos jogos de andebol de alto nível como prevalecem TRA menos curtos, em que se verificam mais variações de corredor de jogo na 1ª linha, sugere-se uma melhor preparação dos ataques (que sendo mais prolongados, estão mais curtos e agressivos). - Face à importância do jogador pivô e ponta para o rendimento das equipas nos últimos minutos dos jogos de andebol, o trabalho entre a 1ª e 2ª linha, (incluindo esses jogadores) deve ser incrementado. 5.1. Recomendações para a investigação 1. Aumentar a amostra do estudo, de forma a obter um maior número de observações, que permitam aplicar procedimentos estatísticos mais complexos. 2. Incluir variáveis técnico-táticas relacionadas com o momento que antecede a finalização nos últimos 10 minutos de jogos equilibrados de alto nível de andebol. 30 CONCLUSÕES 5.2. Recomendações para o treino Os resultados encontrados no estudo permitem formular um conjunto de recomendações que podem ser relevantes para a organização do processo de treino: 1. Investir no tempo de treino em situações de pressão e fadiga, simulando os últimos períodos dos jogos utilizando para isso a parte final dos treinos; 2.Investir em estratégias para manter este último período de jogo competitivo entre as equipas nos treinos. 3. Investir no trabalho colaborativo entre 1ª e 2ª linha, mantendo a máxima largura do terreno de jogo (através dos jogadores pontas) bem como a relação em profundidade (com o jogador pivô). 4. Planificar e preparar as equipas mental, física, técnica, tática e psicologicamente para as exigências do treino em situações competitivas de equilíbrio nas fases finais dos treinos. 31 BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA 6. Bibliografia Arvidsson, M., Hylle, T., & Thomsen, A. (2002). Euro 2002/Denmark Qualitative Trend Analysis Selected Characteristics of Teams and Game Performance, EHF. Web: www.eurohandball.com. Baker, P. (2000). Coaching in the red Zone: The Crunch Time Factor. The BasketballHighway. www.bbhigway.com. Bana, P. (1996). Mondial masculin 1995: combinations tactiques. Approches du handball, 31, pp. 2-7. Bar-Eli, M., & Tractinsky, N. (2000). Criticality of game situations and decision making in basketball: an application on performance crisis perspective. Psychology of Sport and Exercise 1(1), pp. 27-39. Barreto, H. (1998). “Investigar” para melhor conhecer o jogo. O Treinador, 21, pp. 4446. Canayer, P., & Verdon, D. (2000). 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