ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA ORÇAMENTÁRIA
AULA 04: ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DE CURTO PRAZO
TÓPICO 04: ANÁLISE E DIMENSIONAMENTO DO CAPITAL DE GIRO
4.1 ASPECTOS GERAIS DA ANÁLISE E DIMENSIONAMENTO DE
CAPITAL DE GIRO
A análise da liquidez envolve basicamente o conhecimento da
capacidade financeira de uma empresa em liquidar seus diversos
compromissos passivos nos prazos pactuados. Para essa finalidade, foram
utilizados diversos indicadores operacionais de avaliação da liquidez, como
lIQUIDEZ CORRENTE, LIQUIDEZ SECA, GIRO DO ESTOQUES, etc. Estas
medidas financeiras procuraram explicar e qualificar essa capacidade de
pagamento da empresa.
Não obstante sua importância e uso generalizado, esses indicadores não
costumam fornecer informações mais conclusivas a respeito de determinada
evolução na posição financeira corrente e esperada da empresa, omitindo
principalmente as efetivas necessidades de investimento em capital de giro.
Uma importante metodologia de estudo da posição de equilíbrio de uma
empresa é aquela baseada na distinção de seus ativos e passivos circulantes
em itens operacionais (ou cíclicos) e financeiros (ou erráticos).
Além de proporcionar uma avaliação mais analítica da posição
financeira da empresa, o critério permite, ainda, de maneira relativamente
simples e dinâmica, identificar as efetivas necessidades de capital de giro da
empresa, ou seja, o volume de investimento operacional em giro adequado
ao equilíbrio financeiro.
Este método, que descreve e avalia a estrutura financeira das empresas,
é mais conhecido por NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO.
Apesar de grande parte dos conceitos adotados pelo modelo não ser
nova, é importante que se ressalte o caráter dinâmico da análise, em
confronto com a posição mais estática das medidas financeiras mais
convencionais.
ATIVOS E PASSIVOS OPERACIONAIS (CÍCLICOS), FINANCEIROS E PERMANENTES
Para o processo de avaliação das necessidades de capital de giro, é
indispensável que se quantifique, a partir da estrutura patrimonial da
empresa, os grupos classificados como circulante operacional, circulante
financeiro e permanente (não-cíclico). A Figura seguinte ilustra os principais
valores patrimoniais e financeiros que compõem cada um desses grupos.
ATIVO CIRCULANTE FINANCEIRO
O ativo circulante financeiro, de natureza volátil, é formado sem
apresentar necessariamente um vínculo direto com o ciclo operacional da
empresa. Não denota, por conseguinte, qualquer comportamento
preestabelecido, variando mais estreitamente em função da conjuntura e
do risco de maior ou menor liquidez assumido pela empresa.
ATIVO CIRCULANTE OPERACIONAL
O ativo circulante operacional é composto de valores que mantêm
estreita relação com a atividade operacional da empresa. Estes elementos
são diretamente influenciados pelo volume de negócios (produção e
vendas) e pelas características das fases do ciclo operacional (condições de
recebimentos das vendas e dos pagamentos a fornecedores, prazo de
estocagem etc.). Os ativos circulantes operacionais devem manter
coerência com o ciclo operacional da empresa, de forma que o volume dos
investimentos nestes itens seja representativo de suas necessidades de
investimento em capital de giro.
INVESTIMENTO FIXO
O investimento fixo (ativo permanente) inclui os direitos a receber da
empresa à longo prazo e o ativo permanente propriamente dito. São
valores inscritos tipicamente como de longo prazo (não circulantes).
PASSIVO CIRCULANTE FINANCEIRO
O passivo circulante financeiro inclui as dívidas da empresa junto a
instituições financeiras e outras obrigações que também não apresentam
nenhuma vinculação direta com sua atividade operacional. Alterações que
venham a ocorrer no volume de atividade ou nas fases operacionais não
repercutem diretamente sobre o passivo financeiro, refletindo, estas
variações basicamente sobre os elementos cíclicos (ativos e passivos).
PASSIVO CIRCULANTE OPERACIONAL
O passivo circulante operacional representa as obrigações de curto
prazo identificadas diretamente com o ciclo operacional da empresa. As
características de formação dessas contas são similares as do ativo
circulante operacional definido anteriormente, representando as dívidas de
funcionamento (operacionais) da empresa.
PASSIVO PERMANENTE
O passivo permanente compõe-se das fontes de financiamento a longo
prazo próprias (patrimônio líquido) e de terceiros (exigibilidades), cuja
importância no equilíbrio financeiro de uma empresa é financiar
necessidades permanentes de recursos.
LEITURA COMPLEMENTAR
Leia o texto "Necessidades de Investimento em Capital de Giro e
Saldo de Disponível" e perceba que a necessidade de investimento em
Capital de Giro é um elemento relevante para a condução equilibrada das
contas circulantes para uma empresa.(clique aqui para abrir) (Visite a aula
online para realizar download deste arquivo.)
CÁLCULO DE NECESSIDADES DE INVESTIMENTO EM CAPITAL DE GIRO A
PARTIR DO CICLO FINANCEIRO
Você reconhece que a Necessidade de Investimento em Capital de Giro é
um elemento bastante relevante para a condução equilibrada das contas
circulantes para uma empresa. Entendendo de outra forma, a NIG é a
quantidade adicional de recursos em giro que a empresa deve reunir por
fontes alternativas (não-operacionais). Assim, podemos concluir que o
mesmo tem uma ligação direta com os ciclos de uma empresa.
Ao se estudar o ciclo financeiro, observa-se ainda a existência de um
período em que a atividade operacional da empresa demanda uma
necessidade permanente de recursos, de maneira a cobrir a parte dos
investimentos operacionais não financiada pelos respectivos passivos. É
exatamente esta demanda líquida de financiamento (ativo circulante
operacional menos passivo circulante operacional) que se denomina,
conforme se demonstrou, necessidade de investimento em capital de giro
(NIG). Assim sendo, a NIG é dimensionada a partir do ciclo financeiro da
empresa.
EXEMPLO
Para ilustrar seu desenvolvimento, admita hipoteticamente as
seguintes informações fornecidas pela empresa do ramo de alimentos
BUFALO referentes há um ano, conforme consta abaixo.
Notas: INFORMAÇÕES ADICIONAIS DO ANO
Vendas= R$85.000
Custo do Produto Vendido (CPV) = R$ 32.000
Matérias-prima consumidas no ano=R$ 8.300
Compras realizadas no ano = R$75.000
Despesas Operacionais Incorridas no ano = R$11.000
A partir destas informações básicas, pode-se elaborar a seguinte
fórmula genérica de cálculo da necessidade de investimento em capital
de giro em número de dias:
NIG = (PME + PMF + PMV + PMC) - (PMPF + PMPD)
Onde:
NIG – Necessidade de Investimento em Capital de Giro
PME – Prazo Médio de Estocagem de Matéria-prima
PMF – Prazo Médio de Fabricação
PMV – Prazo Médio de Vendas
PMC – Prazo Médio de Cobrança
PMPF – Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores
PMPD – Prazo Médio de Pagamento das Despesas Operacionais
Os prazos de cada fase do ciclo financeiro e de pagamento das despesas
operacionais são apurados a seguir: ( -- Para informações quadrimestrais, as
expressões a seguir devem ser multiplicadas por 120 dias. Para dados
mensais, por 30.)
PRAZO MÉDIO DE ESTOCAGEM DAS MATÉRIAS-PRIMAS - PME
A matéria prima representa a quantidade em estoques e o consumo de
matéria prima, neste caso, representa a quantidade consumida no período.
PRAZO MÉDIO DE FABRICAÇÃO - PMF
A identidade aqui apresentada pressupõe que a agregação de valor irá
ocorrer no início do processo produtivo. Caso a agregação de valor
aconteça uniformemente ao longo da produção, faz-se necessário
multiplicar a expressão por dois. De modo semelhante, admitiu-se que não
ocorreu variação no estoque de produtos acabados, assumindo que o custo
de produtos elaborados corresponde ao custo de produtos vendidos.
• PRAZO MÉDIO DE VENDA - PMV
PRAZO MÉDIO DE VENDA - PMV
Os produtos acabados são os que se encontram nos estoques. O custo
dos produtos vendidos são os custos alocados aos produtos
comercializados. Há algumas distorções do uso do Custo de Produtos
Vendidos, pois estes só representam os produtos comercializados, não
levando em consideração o custo dos produtos em estoques.
PRAZO MÉDIO DE COBRANÇA (PMC) OU RECEBIMENTO (PMR)
PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO A FORNECEDORES - PMPF
As compras devem ser fornecidas pela contabilidade, pois o mesmo
não é encontrado nos demonstrativos financeiros da empresa, o que
dificulta a análise de investidores e analistas financeiros.
PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO DAS DESPESAS OPERACIONAIS - PMPD
A tabela a seguir resume os ativos e passivos circulantes operacionais da
Cia. BUFALO em unidades monetárias em dias
Graficamente, o ciclo financeiro da Cia. BUFALO é demonstrado na
figura a seguir.
CICLO FINANCEIRO DA CIA. BUFALO
Pelo ciclo financeiro, é demonstrado que nos primeiros 87 dias a
empresa investe em matéria-prima, ou seja, mantém estes materiais
estocados por quase três meses à espera de serem consumidos pela
produção. A Cia. aplica recursos por mais 28 dias no processo de
produção. Do 115º dia até o 178º dia, a empresa investe recursos nos
produtos acabados, os quais permanecem estocados em média 63 dias
antes de serem vendidos. A partir do 178º dia, mais investimentos são
demandados visando cobrir os 42 dias de prazo de pagamento
concedido a seus clientes.
Operacionalmente, a empresa se financia por 72 dias, que
representa o prazo médio de pagamento concedido por seus
fornecedores. Observe ainda que a empresa liquida suas despesas
operacionais, também, em prazo médio de 72 dias.
Por permanecer mais tempo demandando recursos (220 dias) em
relação aos financiamentos concedidos em sua atividade operacional,
o ciclo financeiro líquido da Cia. BUFALO é positivo, atingindo 148
dias. Em outras palavras, a Cia. BUFALO, dadas suas características
operacionais e volume de atividade, carecem de 148 dias de
financiamento em seu ciclo de caixa, que deverão ser cobertos por
outras fontes de fundos. Observe que estes 148 dias representam a
necessidade líquida de financiamento, considerando que em seu
cômputo foi deduzido o prazo de pagamento a fornecedores (PMPF).
Acrescenta-se ainda
calculada para 148 dias
parâmetro de maneira a
monetárias. O parâmetro
que a necessidade de financiamento
precisa estar relacionada com algum
se apurar um resultado em unidades
de comparação geralmente adotado é o
volume de vendas, que serve de base comum para converter os vários
prazos operacionais. Diante dos prazos operacionais calculados, podese afirmar que a Cia. BUFALO necessita, em média, de 220 dias de
suas vendas para financiar seus investimentos operacionais em capital
de giro. Seu passivo operacional financia, conforme se demonstrou, 72
dias destas necessidades. Logo, restam 148 dias de vendas a serem
financiadas por outras fontes de recursos. Esta é, em outras palavras, a
necessidade de investimento em capital de giro (NIG) da empresa,
determinada basicamente a partir de seu volume de vendas e prazos
do ciclo financeiro (de caixa).
No entanto, o ciclo financeiro, descrito na Figura anterior, não é
rigorosamente uma linha reta. Possui, em verdade, um
comportamento segmentado, que cresce à medida que os custos e
despesas vão-se acumulando em cada fase operacional. O
financiamento proveniente do passivo circulante operacional, por seu
lado, é fixo, não incorporando os acréscimos verificados nas várias
fases operacionais: estocagem - venda - cobrança.
FONTES DAS IMAGENS
Responsável: Prof. Sérgio César de Paula Cardoso
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
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