Valor Econômico, 24/11/2011
Estudo mostra que mais governos adotam regime contábil de competência
Por Fernando Torres | De Nova York
Um sistema de contabilidade pública baseado no regime de competência e mais
transparente não teria evitado a atual situação de crise das dívidas soberanas
europeias, mas poderia ter antecipado os sinais sobre os problemas. Essa é a avaliação
de Thomas Müeller-Marqués Berger, líder global da área de contabilidade do setor
público da Ernst & Young. "Seria muito ambicioso dizer que não haveria crise. Mas
estou convencido de que os passos [para tratar da questão] teriam sido tomados
antes. E talvez a profundidade do problema fosse menor", disse ele ao Valor em
entrevista por telefone.
Na Europa, tanto a Grécia como a Alemanha usam sistema contábil de caixa para
apresentar suas contas, enquanto Reino Unido, França e Suíça, entre outros, adotam o
modelo de competência.
Berger apresenta hoje em Brasília um estudo inédito da Ernst & Young que aponta um
processo internacional de migração de sistemas contábeis públicos do regime de caixa
para o de competência. Nesse segundo sistema, os lançamentos são registrados
quando os eventos ocorrem, independentemente da data em que há a transação
financeira. Assim, o compromisso futuro de um país pagar o déficit do seu sistema de
previdência, por exemplo, entra como dívida desde hoje, ainda que o desembolso
ocorra ao longo dos anos.
Foram pesquisados 33 países que informaram tanto sobre a existência ou não de
planos de mudança de sistema como também as razões para isso. O estudo, divulgado
com exclusividade ao Valor, mostra que 16 desses países usam regime de caixa, mas
11 deles planejam abandoná-lo.
O Brasil, que faz parte da amostra, adotará as chamadas Ipsas, que são as normas
internacionais de contabilidade do setor público, a partir de 2012, em um processo
liderado pelo governo federal e que será seguido por Estados e municípios. As Ipsas,
baseadas em competência, seguem um modelo parecido com o IFRS, do setor privado,
com a pretensão de se tornar a linguagem única e global da contabilidade para os
governos.
O executivo da Ernst & Young diz que ficou surpreso ao notar que os planos de adoção
de um sistema contábil baseado no regime de competência independem da crise atual.
O lado positivo disso, diz ele, é que talvez os governos tenham simplesmente notado a
vantagem desse outro sistema. Uma visão pessimista, no entanto, é a de que os países
podem ainda não ter aprendido as lições da crise.
A pesquisa mostra que, ao contrário do Brasil, boa parte dos países não migrará
diretamente para as Ipsas, usando um sistema contábil próprio (dentro do regime de
competência) durante um período de transição. Segundo Berger, a falta de
conhecimento sobre as Ipsas e o custo de treinamento pode explicar essa
opção.
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