Extract from O vento assobiando nas gruas by L ídia Jorge (published 2002)
As duas irmãs desabraçaram-se. De repente, paredes e móveis desapareceram.
Preenchendo o espaço, de ponta a ponta, ali estava ele, Afonso Leandro, na sua roupa
branca, formulando a mesma pergunta, directo, rápido, a querer saber duma assentada
o que tinha acontecido, como se não soubesse. Ângela Margarida encarou o irmão.
Ofendida.
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³8PDPHUGD´± YROWRXHOHDUHSHWLU³6HHXHVWDYDHP&hipre com a Isabel,
FRPRpTXHHXSRGLDVDEHU"´± continuou Afonso, dando um passo em frente, um
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Podem dizer-PH"´
A irmã reconsiderou.
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tivéssemos tomado conhecimento dias antes. Só que não havia avião. Nem de Cancun
para nós, nem tão-pouco das Canárias para a Gininha, aqui a dois passos. Quer no
meu caso quer no dela, pura e simplesmente, não havia avião. Essa gente das agências
diz que pensa em tudo, mas ao primeiro sinal de emergência, volta-se à Idade da
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começando também ele a atravessar o living, de lá para cá, e de cá para lá,
encontrando-se no percurso agitado com a tia Ângela Margarida. Gininha, também ela
levantada. As duas irmãs espantadas com o espanto dele.
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Hospital, melhorou, e em vez de a devolverem ao Lar, vieram entregá-la, só que os
funcionários nem tinham o nome dela correcto nem encontraram a casa. Andaram por
aí perdidos. Enquanto estavam parados, já de noite, lá nas Bombas de Gasolina,
deixaram as portas dDDPEXOkQFLDHVFDQFDUDGDV«´
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³(VWiSURYDGRTXHDQdou aqueles dois quilómetros por seu próprio pé. Percebes?
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