Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 37 1806-4280/07/36 - 01/37 Arquivos Catarinenses de Medicina ARTIGO ORIGINAL Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores de carcinoma basocelular diagnosticados no instituto de diagnóstico anátomo-patológico em Florianópolis – SC de janeiro a fevereiro de 2004 Luigi Benedet1 , Maria Fernanda Bastos1, José Francisco Teixeira2, Luis Fernando Miranda2, Renata Bolan3 Resumo Fundamentos: Carcinoma basocelular (CBC) é o tumor maligno cutâneo mais freqüente na população de pele branca. É caracterizado por um crescimento lento e baixa mortalidade, pois raramente desenvolve metástase. A exposição à luz solar é o principal fator de risco conhecido. Objetivo: elucidar o perfil clínico e histopatológico dos pacientes portadores de CBCs enviados ao Instituto de Diagnóstico Anátomo-Patológico (IDAP), em Florianópolis, no período de janeiro a fevereiro de 2004. Métodos: trata-se de um estudo transversal de caráter descritivo. O número de pacientes foi obtido no laboratório de patologia através dos arquivos com o laudo histopatológico e prontuários médicos. O instrumento de coleta de dados foi o protocolo, sendo os dados estatisticamente agrupados e registrados. Resultados: foram encontrados 106 casos, sendo o sexo feminino discretamente mais acometido. A faixa etária dos pacientes de maior prevalência foi dos 50 aos 70 anos de idade. A localização preferencial foi a face. A elastose solar estava presente na quase totalidade dos casos e a lesão única prevaleceu sobre a lesão múltipla. O tipo clínico mais comumente encontrado foi o nodular, seguido pelo superficial. Quanto à histologia, o CBC sólido circunscrito representou a maioria das lesões. Conclusão: a população estudada apresenta características semelhantes à de outras populações descritas na literatura. Descritores: 1. Câncer de pele; 2. Carcinoma basocelular, 3. Neoplasias cutâneas. Abstract Background: basal cell carcinoma (BCC) is the most common form of the skin cancer in light-skinned individuals. They grow slowly and rarely metastasize. The sun exposure is the main risk factor. Objective: To elucidate the clinicopathological features of the patients with BBC in Florianopolis. Methods: this is a descriptive study realized in Florianopolis- Brazil included patients envied to the Anatomy- Pathologic Diagnosis of Institute (APDI) between January and February in 2004. The material recorded has information of the medical handbook and histological examination. Results: There are incluiding 106 patients, predominantly women; the average was 50-70 years old. The face was the most common localization. The elastose sun was present in the majority of the cases with main of the unique lesions. The nodular BCC was the clinical type most common; the superficial BCC was the second type. The histologic examination showed wellcircumscribed solid BCC the most common subtype. Conclusion: The patient included in the present study had similar features with the literature. Keywords: 1. Skin cancer; 2. Basal cell carcinoma; 3. Cutaneous neoplasms. 1 Médica Clínica Geral. 2 Professores do Curso de Medicina da UNISUL 3 Residente de Clínica Médica do HNSC, Tubarão,SC. 37 Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores de carcinoma basocelular 38 Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 Introdução Neoplasia é definida como uma massa anormal de tecido, onde ocorre uma proliferação celular exagerada, irreversível e que persiste mesmo cessada a causa que a provocou. Esta capacidade de se dividir de forma autônoma, de se libertar dos controles de crescimento, é a principal característica da célula neoplásica (1). A pele é o maior órgão do corpo além de ser um local que origina uma série de neoplasias malignas (2). Câncer de pele é o crescimento anormal e descontrolado das células que a compõem. Estas células se dispõem formando camadas e, dependendo da camada afetada, definem-se os diferentes tipos histológicos (1). O carcinoma basocelular (CBC) é um tumor epitelial maligno de crescimento lento originado nas células basais da epiderme e nos apêndices cutâneos (3,4), forma-se por deficiência na maturação e ceratização celular. Cresce e penetra a derme formando uma massa nodular invasiva (5) , que raramente evolui para metástase. Sua malignidade é local devido ao grande poder destrutivo, podendo levar ao desfiguramento ou perda da função de estruturas importantes, quando não tratado (6). Caracteriza-se por ser um tumor que aparece por igual em ambos os sexos, com pequeno predomínio dos valores relacionados com história profissional, apresenta-se com maior freqüência após 50 anos (7), com localização de preferência em áreas de foto exposição, principalmente cabeça e pescoço, sendo assim importante do ponto de vista estético (3,4). O câncer de pele não melanoma é o tipo de neoplasia mais freqüente da população brasileira, sendo o carcinoma basocelular o tipo histológico mais comum das neoplasias cutâneas, podendo representar 65% do total de casos (6). Nos Estados Unidos, constituem um terço de todos os cânceres diagnosticados anualmente, dos quais o carcinoma basocelular representa mais de 75%. É a doença maligna mais freqüente que pode acometer os seres humanos ao longo de sua vida (8). A incidência do câncer de pele tem experimentado um considerável aumento em nível mundial, fundamentalmente pela diminuição da camada de ozônio, a maior exposição da população à radiação ultravioleta e o aumento da expectativa de vida (8,9). As causas são variadas, acredita-se que 90% dos cânceres de pele não melanocíticos possam ser atribuídos à exposição solar (10), sendo o CBC associado à exposição de caráter acumulativo. Pode ser um problema de saúde pública em áreas geográficas de intensa exposição à 38 radiação ultravioleta (11,12). Outros fatores de risco para o desenvolvimento desta neoplasia descritos na literatura são fatores fenotípicos, história familiar, exposição a produtos químicos e radioterapias, imunossupressão e algumas síndromes genéticas hereditárias também apresentam uma maior predisposição para o aparecimento desse tumor (13). Quando detectado precocemente o CBC apresenta altos percentuais de cura (11,13). Em alguns casos, porém, existe recidiva desse tumor após a exérese. As razões apontadas para essa ocorrência são várias, nem sempre claramente conhecidas. Existem alguns estudos que demonstram a relação com o local, extensão da lesão, margens cirúrgicas comprometidas, dentre outras (14). O tema de pesquisa surgiu a partir do interesse pela área de Histopatologia. O conhecimento do alto índice desse tipo de neoplasia em nossa região, bem como o grande potencial de cura, chama atenção para estudar o perfil desses pacientes. Por ser uma neoplasia maligna de baixa mortalidade, concede-se-lhe pouca importância, embora se esqueça que existem casos com grande poder destrutivo, ocasionando morbidade estética e funcional que levam à incapacidade profissional e social. Portanto, é importante reconhecer as formas iniciais das lesões compatíveis com Carcinoma Basocelular, assim como o perfil dos pacientes. Faz-se necessário também o conhecimento do padrão da lesão, bem como seu tamanho, localização, margens, entre outras características, as quais são de grande importância para escolha da conduta terapêutica ideal livre de recorrências. Métodos Foram estudados os registros de todos os indivíduos portadores de carcinoma basocelular enviados ao laboratório do IDAP – Instituto de Diagnóstico Anátomo Patológico, no período de 01 de janeiro a 29 de fevereiro do ano de 2004, em Florianópolis-SC. Foi considerado como carcinoma basocelular aquele cujo resultado da biópsia fosse histologicamente compatível com o tumor maligno. As fontes de dados foram do tipo secundária, coletada a partir de anotações dos livros de registros do laboratório, requisições dos exames e arquivos com laudos anatomopatológicos. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o protocolo previamente confeccionado após revisão da literatura. As informações contidas nos laudos anátomo-patológico estavam registradas em banco de Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores de carcinoma basocelular dados informatizados. Já as informações clínicas foram coletadas das requisições dos exames e anotadas em planilhas criadas para esse fim sendo posteriormente digitadas em banco de dados no Epidata. Outras informações foram retiradas diretamente das lâminas histológicas. As variáveis estudadas descrevem dados gerais do paciente e dados do laudo anatomo-patológico, sendo estas citadas: sexo, idade do paciente quando do diagnóstico, data do diagnóstico, naturalidade, procedência (cidade em que comunicou), profissão, classificação clínica da lesão, tipo de biópsia realizada, lesão primária ou recidiva, lesão única ou múltipla, hipóteses diagnósticas, localização anatômica, tamanho (extensão da lesão), presença de elastose, subtipo histológico e margens cirúrgicas. Os dados coletados através dos protocolos foram digitados através do programa Epidata e analisados através do programa Epinfo. As variáveis quantitativas são descrita por medida de tendência central e dispersão. As variáveis qualitativas são descritas em números absolutos e proporções. Este trabalho foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina (CEP-Unisul). Para garantir o sigilo e preservar os pacientes de qualquer identificação, seus nomes não foram questionados. Resultados Entre os pacientes estudados, constatamos um total de 117 lesões de CBC. Este resultado foi obtido a partir de um mesmo paciente contendo lesão supra-numérica, dos quais 57 (53,8%) eram do sexo feminino e 49 (46,2%) correspondiam a pacientes do sexo masculino (Gráfico 1). Gráfico 1 - Distribuição da população estudada segundo sexo. Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 39 A idade variou entre 19 e 88 anos, com média de 58 anos e desvio padrão de 12,65. Apenas um paciente apresentou-se com idade inferior a 30 anos, 19 deles (17%) tinham de 31 a 50 anos, sendo que os pacientes entre 50 e 70 anos de idade representavam a maioria (62,3%), totalizando 66 pacientes. Acima de 70 anos, registramos 21 pacientes (19,8%). (Gráfico 2). Gráfico 2 - Distribuição da população estudada de acordo com a idade ao diagnóstico. A grande maioria dos pacientes era procedente de municípios integrantes da região da grande Florianópolis, sendo 49 de Florianópolis, 12 de palhoça, 4 de Biguaçu e 2 de Santo Amaro da Imperatriz. Apenas 14 pacientes residiam fora da região. Vinte e cinco não continham a informação sobre naturalidade. A variável profissão foi analisada de acordo com a exposição solar a qual a mesma era submetida. Encontramos uma maior prevalência naqueles sem grande exposição solar, com 39%. Os demais resultados referentes a esta associação podem ser observados no Gráfico 3. Dentre as informadas, registramos profissões bem variadas como taxista, psicólogo, professora, bombeiro, policial, doméstica, agricultor, representante, pescador, caminhoneiro, arquiteto, secretária, donas de casa, comerciante, farmacêutico. Gráfico 3 - Distribuição da população estudada de acordo com a profissão. 39 Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores de carcinoma basocelular 40 Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 O diagnóstico diferencial das lesões de pele teve o Carcinoma Basocelular (CBC) como suspeita clínica em 100% da amostra. Em alguns casos outros diagnósticos diferenciais, além do CBC, também foram citados pelos dermatologistas. Os mais comuns observados foram o Carcinoma Espinocelular (CEC), doença de Bowen, Ceratose Actínica, Ceratoacantoma, Nevo Melanocítico, Nevo Intradérmico, Ceratose Seborréica. A classe macroscópica de maior prevalência foi o nódulo-ulcerativo com 55,6% (65 lesões) seguido do superficial com 26,5% (31 lesões). Também foram classificadas 13 CBC (11,1%) como sendo pigmentado e 5 (4,2%) como esclerodermiforme. As lesões eram únicas em 92,3% dos casos e múltiplas - mais de uma lesão submetida ao exame anátomopatológico para um mesmo paciente - em outros 7,7%. O Gráfico 6 demonstra a distribuição da população estudada segundo o local anatômico da lesão. A face foi o local do corpo mais comprometido com 45,3% dos casos (53 lesões). O segundo local mais prevalente foi o tronco, acometido em 21.3% (25 lesões). Também havia lesões em membros superiores (17,4%), em região cervical (5,9%), em couro cabeludo (4,2%) e em membros inferiores (5,1%). Houve apenas 1 caso relatado na mão e nenhum no pé. Gráfico 6 - Distribuição da população estudada segundo localização anatômica da lesão. Gráfico 4 - Distribuição da população estudada de acordo com o tipo de biópsia Das 117 biópsias, 86 (73,5%) foram excisionais e 28 (23,9%) incisionais. Apenas 3 shaving (2,6%) foram realizados (Gráfico 4). Os tumores primários representavam 87, 2% das lesões (num total de 102 CBCs), enquanto os recidivantes foram 12,8% (15 lesões) (Gráfico 5). Gráfico 5 - Distribuição da população estudada segundo recidiva das lesões. O Gráfico 7 agrupa as lesões segundo seu tamanho. A maior parte da amostra estudada (41%) apresentou lesões entre 0,5 e 1 centímetro de diâmetro em extensão. O tamanho da lesão não foi mensurável em 25,7% dos casos, dos quais foram justificados pelo comprometimento dos bordos laterais ou pela realização de biópsia incisional. Gráfico 7 - Distribuição da população estudada segundo tamanho da lesão agrupado. 40 Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores de carcinoma basocelular As margens cirúrgicas das peças analisadas estavam livres do tumor em 87 lesões (73,8%) e visivelmente comprometidas em 19 lesões (16,3%). Para onze delas (9,9%), por estarem muito próximas às margens, não houve registro no laudo anatomo-patológico. (Gráfico 8). Gráfico 8 - Distribuição da população estudada de acordo com as margens cirúrgicas. Histologicamente, a prevalência de elastose solar foi de 89,3%. Quanto à classificação dos subtipos histológicos registrada nos laudos, entre as 117 lesões, 61 eram CBCs sólidos circunscritos (representando 51,9% da população), 27 (23,1%) eram do tipo superficial, enquanto 22 (19%) eram classificados como sólidos infiltrativos. Os demais foram: 2 adenóides (1,7%) e apenas 1 ceratótico (0,9%). Nenhum CBC tipo esclerodermiforme foi encontrado. Quatro lesões (3,4%) foram consideradas como CBC sem outras especificações, ou seja não era uma amostra histológica suficiente para que pudesse ser classificada (Gráfico 9). Gráfico 9 - Distribuição da população estudada segundo subtipo histológico. Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 41 Discussão Após a análise dos resultados, observa-se que a população em questão apresenta características semelhantes a outras populações estudadas e descritas na literatura. Entre as questões que permearam a concretização desta pesquisa, cita-se a dificuldade em obter todas as informações necessárias para o preenchimento dos protocolos. A maior dificuldade se configura nas requisições dos exames, nos quais, nem sempre, todos os dados são registrados. O primeiro item avaliado foi o sexo, onde constatouse uma diferença sutil na incidência, com uma leve predominância para o sexo feminino (54%). De acordo com a literatura, o carcinoma basocelular é um tumor que aparece por igual em ambos os sexos, podendo apresentar um pequeno predomínio para o sexo masculino, relacionado este fato com a história profissional e social exercida pelos homens (7,13,15). Esse padrão tem mudado nas últimas décadas, com maior integração da mulher no mercado de trabalho e em atividades antes consideradas masculinas. O que explica o aumento da incidência no sexo feminino (3,16) . Predominância observada nesse estudo. A idade dos pacientes estudados, variou de 19 a 88 anos, com média de 58 anos, sendo a faixa etária de 50 a 69 anos a mais acometida. A incidência foi aumentando proporcionalmente à idade, com decréscimo a partir dos 70 anos. Não que isso signifique uma diminuição do risco a partir desta idade, mas que devemos considerar a possibilidade de, simplesmente, haver um menor número de indivíduos nesta faixa etária. Segundo a literatura, de modo geral, todos concordam que quanto maior a idade, maior o risco de desenvolver o carcinoma basocelular. É o que afirmam autores como Banfi, Carter e Sampaio. Todos referem a predominância de lesões em pacientes acima de 40 anos de idade (2,3,6). Casos em pacientes jovens (abaixo de 20 anos) são exceções. Quando presentes geralmente estão associados a algumas síndromes hereditárias, ou a exposição prolongada aos raios solares pelas atividades recreativas (2,16,17) , o que pode explicar a presença de um paciente com 19 anos neste estudo. Dados quanto à profissão (ocupação) da população estudada representaram o principal problema para este estudo. Para 47 dos pacientes não constava no prontuário à profissão exercida, dificultando a análise dessa variável. As profissões mencionadas foram bastante diversificadas, 18 estavam relacionadas com grande exposição solar, 41 Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores de carcinoma basocelular 42 Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 enquanto em 41 profissões não havia relação com exposição solar, não sendo a profissional o fator de risco. É importante especificar que a grande maioria (67) dos pacientes incluídos no presente estudo pertencem à região da grande Florianópolis, localizada no litoral de Santa Catarina-Brasil, com belas praias. Então, embora não havendo o fator profissional para exposição solar, podemos considerar fatores circunstanciais, ou lazer, como responsáveis por esta exposição. Assim como demonstrou Corona et al., em seu trabablho relacionando exposição solar com incidência de CBC, demonstrando ser o sol o fator de risco na etiologia do tumor (5,18), também podemos considerá-lo para esta população estudada. Em relação aos diagnósticos diferenciais, além do CBC foram citadas neste estudo: doença de Bowen, carcinoma espinocelular, ceratose actínica, ceratose seborréica, ceratoacantoma, nevo melanocítico e nevo intradérmico. Diagnósticos estes também mais comumente encontrados na literatura (19), que cita para o CBC um amplo diagnóstico diferencial com outras entidades clínicas cutâneas que assemelham-se , tanto do ponto de vista clínico como histológico. A biópsia com exame histopatológico pode descartá-las, confirmando o diagnóstico definitivo (6,20). A forma clínica das lesões apresentadas pelos pacientes neste estudo foram classificadas em sua maioria, como nódulo-ulcerativas, em uma proporção de 55,6% (65 das 117 lesões), enquanto a forma superficial foi a classificação de 26,5% (31 lesões). Também foram citadas as formas esclerodremiforme e pigmentada. Dados estes confirmados com os existentes na literatura, que descreve como sendo o CBC nódulo-ulcerativo a classificação macroscópica mais comum, aproximadamente 75% das lesões, seguido pelo superficial correspondendo a 10% das lesões (6,21). Histologicamente, o subtipo sólido representou a maioria dos tumores (70% das lesões), principalmente o sólido circunscrito correspondendo a 51,9% destes, com menor incidência do sólido infiltrativo. O superficial foi o segundo subtipo mais prevalente, com 23% das lesões. As formas ceratótica e adenóide também foram encontradas. As 4 lesões com diagnóstico de CBC sem especificação, não foram classificadas pois o material não foi suficientemente representativo para determinar o subtipo histológico. Seqüência esta semelhante à referida na literatura (22,23), que descreve em ordem decrescente de freqüência os subtipos histológicos: sólido (54%), superficial (17%), ceratótico (4% a 8%), adenóide (1% 42 a 7%), infiltrativo (7%) e esclerodermiforme com (1% a 2%). Recorrências e recidivas do CBC já foram relatadas em torno de 9,5%(5), 14,3%(8), 22%24) das lesões, que depende de fatores como: tipo de tratamento realizado, localização, subtipo histológico e tamanho do tumor (10,14). Neste trabalho foram citadas 15 lesões (12,8%) como sendo recidivantes, proporção semelhante à referida na literatura. O tamanho do tumor é descrito como um dos fatores clínicos predisponente para a recidiva da lesão, observada principalmente em lesões mais extensas (geralmente superiores a 2,0 cm) (14). Na atual casuística, 29 (24,7%) lesões mostraram-se inferiores a 0,5 cm, enquanto a grande maioria dos pacientes(41%) apresentou lesões entre 0,5 e 1,0 cm. Apenas 10 foram superiores a 1,0 cm e 30 não puderam ser mensuradas por existir comprometimento dos bordos ou pela realização de biópsia incisional, impossibilitando esta prática. Não há relatos na literatura quanto à predominância do tamanho. Com relação ao tipo de biópsia realizada, 86 das 117 biópsias foram excisionais e 28 incisionais. Apenas 3 shaving foram realizados. A conduta com relação à biópsia varia entre diferentes autores, não são citados dados quanto à prevalência (6,20). O carcinoma basocelular geralmente ocorre como lesão única, apesar de apresentações com múltiplas lesões não serem infreqüentes (15). Num estudo tipo série de casos realizado na Colômbia, demonstrou que 80,8% dos pacientes apresentavam uma única lesão, enquanto 19,2 % teriam múltiplas lesões (25). Freqüentemente as múltiplas lesões estão associadas a síndromes hereditárias ou a determinados subtipos histológicos que costumam apresentar-se com mais de uma lesão (17). Em um total de 117 lesões desta pesquisa, quase a totalidade dos casos (92,3%) eram únicas, o restante (7,7%) apresentavam múltiplas lesões (em torno de 2 a 4 lesões por paciente). Por apresentar correlação com estruturas pilosebáceas, a localização do CBC é quase exclusiva de áreas que contém estas estruturas, o que é demonstrado na literatura (Lever), sendo mais comumente encontrado em face (principalmente nariz), tronco e pescoço (3,17). Embora sua etiologia dependa da radiação ultravioleta, sua localização não é exclusiva de áreas com máxima exposição solar (16,26), isso pode ser explicado, em parte, por fatores regionais, como densidade e o tipo dos folículos pilo-sebáceos de cada área corpórea (16). Dessa forma, como demonstra o gráfico 8, 53 (45,3%) dos tumores localizaram-se na face, seguido pelo tronco com Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores de carcinoma basocelular 25 lesões (21,3%) e membros superiores (17,4%). Também houve lesão em pescoço, couro cabeludo, membros inferiores e mão. Dados estes condizentes com a literatura. Para que o tratamento seja adequado e se tenha certeza de que toda lesão foi retirada, é importante a análise minuciosa das suas margens. De acordo com um estudo realizado em São Paulo, 70% das peças apresentaram margens cirúrgicas livres de neoplasia e os 30% restantes mostravam-se acometidos (27). Neste estudo, os dados mostraram-se semelhante à literatura (27). Das lâminas examinadas para esta pesquisa, 87 (73,8%) apresentavam margens livres e 19 (16,3%) eram visivelmente comprometidas. É importante salientar que desta última citada, 5 eram de biópsias incisionais, o que justifica o comprometimento marginal. Por apresentarem ninhos de células tumorais muito próximas às margens, 11 (9,9%) lesões foram classificadas como comprometimento discutível, ou seja, sem um diagnóstico preciso. De qualquer forma, sua ampliação cirúrgica deveria ser considerada. Analisando os laudos histopatológicos, percebe-se que a prevalência de elastose solar em tecido adjacente é de 89,3% nos pacientes estudados. A elastose solar é uma alteração do elástico do derma das partes do corpo expostas à luz solar. Caracteriza-se por acentuado aumento do componente elástico, formando massas amorfas ou fibras grossas, fragmentadas e sem orientação (28) . Com isso, podemos afirmar que os pacientes expunham-se à luz solar. Conclusões Demonstrou uma população com características semelhantes à de outras populações: • A média de idade foi de 58 anos, aumentando a prevalência das lesões conforme aumenta a idade. • A diferença entre o sexo não foi relevante. • A profissão não foi determinante como fator de risco, pois a maioria dos pacientes em cujas requisições havia descrição, não apresentava relação com exposição solar. • A face foi a localização anatômica mais comprometida, sendo o tronco o segundo local mais prevalente. • A forma clínica predominante foi a de carcinoma basocelular nódulo-ulcerativo, seguido pelo superficial. • Quanto ao subtipo histopatológico, o sólido circunscrito foi diagnosticado em maior quantidade. • Para esta população, o tipo de biópsia excisional Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 43 foi a técnica mais realizada. • As lesões primárias foram responsáveis pela maioria dos casos, um pequeno número de lesões recidivantes foi encontrado. • Na quase totalidade dos casos, a lesão única foi predominante. Quanto ao tamanho, a grande maioria não ultrapassava 1,0 centímetro. • Em relação às margens cirúrgicas, mais da metade apresentavam-se livres de células neoplásicas, e em menor número mostravam comprometimento expresso ou discutível. • Histologicamente observou-se elastose solar em quase todos os tecidos adjacentes às lesões, podendo-se concluir que o fator de risco exposição solar se fazia presente nestes pacientes. • O CBC estava presente como hipótese diagnóstica em toda a amostra, sendo as outras hipóteses quando citadas descartadas pelo exame anátomo-patológico. • Dos 106 pacientes diagnosticados em dois meses, a quase totalidade era natural de cidades integrantes da região da grande Florianópolis. Referências Bibliográficas: 1. Simone JV. Oncologia. IN: Goldman L, Bennett JC, Eds. Cecil: tratado de medicina interna. 21. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000; 1140-48. 2. Banfi A, Bonadonna G, Molinari R. Neoplasias cutâneas. Em: Manual de oncologia médica. 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