Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 37
1806-4280/07/36 - 01/37
Arquivos Catarinenses de Medicina
ARTIGO ORIGINAL
Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores de
carcinoma basocelular diagnosticados no instituto de diagnóstico
anátomo-patológico em Florianópolis – SC de janeiro a fevereiro
de 2004
Luigi Benedet1 , Maria Fernanda Bastos1, José Francisco Teixeira2, Luis Fernando Miranda2, Renata Bolan3
Resumo
Fundamentos: Carcinoma basocelular (CBC) é o
tumor maligno cutâneo mais freqüente na população de
pele branca. É caracterizado por um crescimento lento e
baixa mortalidade, pois raramente desenvolve metástase.
A exposição à luz solar é o principal fator de risco
conhecido.
Objetivo: elucidar o perfil clínico e histopatológico
dos pacientes portadores de CBCs enviados ao Instituto
de Diagnóstico Anátomo-Patológico (IDAP), em
Florianópolis, no período de janeiro a fevereiro de 2004.
Métodos: trata-se de um estudo transversal de caráter
descritivo. O número de pacientes foi obtido no
laboratório de patologia através dos arquivos com o laudo
histopatológico e prontuários médicos. O instrumento de
coleta de dados foi o protocolo, sendo os dados
estatisticamente agrupados e registrados.
Resultados: foram encontrados 106 casos, sendo o
sexo feminino discretamente mais acometido. A faixa
etária dos pacientes de maior prevalência foi dos 50 aos
70 anos de idade. A localização preferencial foi a face. A
elastose solar estava presente na quase totalidade dos
casos e a lesão única prevaleceu sobre a lesão múltipla.
O tipo clínico mais comumente encontrado foi o nodular,
seguido pelo superficial. Quanto à histologia, o CBC
sólido circunscrito representou a maioria das lesões.
Conclusão: a população estudada apresenta
características semelhantes à de outras populações
descritas na literatura.
Descritores: 1. Câncer de pele;
2. Carcinoma basocelular,
3. Neoplasias cutâneas.
Abstract
Background: basal cell carcinoma (BCC) is the most
common form of the skin cancer in light-skinned
individuals. They grow slowly and rarely metastasize.
The sun exposure is the main risk factor.
Objective: To elucidate the clinicopathological
features of the patients with BBC in Florianopolis.
Methods: this is a descriptive study realized in
Florianopolis- Brazil included patients envied to the
Anatomy- Pathologic Diagnosis of Institute (APDI)
between January and February in 2004. The material
recorded has information of the medical handbook and
histological examination.
Results: There are incluiding 106 patients,
predominantly women; the average was 50-70 years old.
The face was the most common localization. The elastose
sun was present in the majority of the cases with main of
the unique lesions. The nodular BCC was the clinical
type most common; the superficial BCC was the second
type. The histologic examination showed wellcircumscribed solid BCC the most common subtype.
Conclusion: The patient included in the present study
had similar features with the literature.
Keywords: 1. Skin cancer;
2. Basal cell carcinoma;
3. Cutaneous neoplasms.
1
Médica Clínica Geral.
2
Professores do Curso de Medicina da UNISUL
3
Residente de Clínica Médica do HNSC, Tubarão,SC.
37
Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores
de carcinoma basocelular
38 Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007
Introdução
Neoplasia é definida como uma massa anormal de
tecido, onde ocorre uma proliferação celular exagerada,
irreversível e que persiste mesmo cessada a causa que a
provocou. Esta capacidade de se dividir de forma
autônoma, de se libertar dos controles de crescimento, é
a principal característica da célula neoplásica (1).
A pele é o maior órgão do corpo além de ser um local
que origina uma série de neoplasias malignas (2). Câncer
de pele é o crescimento anormal e descontrolado das
células que a compõem. Estas células se dispõem
formando camadas e, dependendo da camada afetada,
definem-se os diferentes tipos histológicos (1).
O carcinoma basocelular (CBC) é um tumor epitelial
maligno de crescimento lento originado nas células basais
da epiderme e nos apêndices cutâneos (3,4), forma-se por
deficiência na maturação e ceratização celular. Cresce e
penetra a derme formando uma massa nodular invasiva
(5)
, que raramente evolui para metástase. Sua malignidade
é local devido ao grande poder destrutivo, podendo levar
ao desfiguramento ou perda da função de estruturas
importantes, quando não tratado (6).
Caracteriza-se por ser um tumor que aparece por igual
em ambos os sexos, com pequeno predomínio dos valores
relacionados com história profissional, apresenta-se com
maior freqüência após 50 anos (7), com localização de
preferência em áreas de foto exposição, principalmente
cabeça e pescoço, sendo assim importante do ponto de
vista estético (3,4).
O câncer de pele não melanoma é o tipo de neoplasia
mais freqüente da população brasileira, sendo o
carcinoma basocelular o tipo histológico mais comum
das neoplasias cutâneas, podendo representar 65% do
total de casos (6). Nos Estados Unidos, constituem um
terço de todos os cânceres diagnosticados anualmente,
dos quais o carcinoma basocelular representa mais de
75%. É a doença maligna mais freqüente que pode
acometer os seres humanos ao longo de sua vida (8).
A incidência do câncer de pele tem experimentado
um considerável aumento em nível mundial,
fundamentalmente pela diminuição da camada de ozônio,
a maior exposição da população à radiação ultravioleta
e o aumento da expectativa de vida (8,9).
As causas são variadas, acredita-se que 90% dos
cânceres de pele não melanocíticos possam ser atribuídos
à exposição solar (10), sendo o CBC associado à exposição
de caráter acumulativo. Pode ser um problema de saúde
pública em áreas geográficas de intensa exposição à
38
radiação ultravioleta (11,12).
Outros fatores de risco para o desenvolvimento desta
neoplasia descritos na literatura são fatores fenotípicos,
história familiar, exposição a produtos químicos e
radioterapias, imunossupressão e algumas síndromes
genéticas hereditárias também apresentam uma maior
predisposição para o aparecimento desse tumor (13).
Quando detectado precocemente o CBC apresenta
altos percentuais de cura (11,13). Em alguns casos, porém,
existe recidiva desse tumor após a exérese. As razões
apontadas para essa ocorrência são várias, nem sempre
claramente conhecidas. Existem alguns estudos que
demonstram a relação com o local, extensão da lesão,
margens cirúrgicas comprometidas, dentre outras (14).
O tema de pesquisa surgiu a partir do interesse pela
área de Histopatologia. O conhecimento do alto índice
desse tipo de neoplasia em nossa região, bem como o
grande potencial de cura, chama atenção para estudar o
perfil desses pacientes.
Por ser uma neoplasia maligna de baixa mortalidade,
concede-se-lhe pouca importância, embora se esqueça
que existem casos com grande poder destrutivo,
ocasionando morbidade estética e funcional que levam à
incapacidade profissional e social.
Portanto, é importante reconhecer as formas iniciais
das lesões compatíveis com Carcinoma Basocelular,
assim como o perfil dos pacientes. Faz-se necessário
também o conhecimento do padrão da lesão, bem como
seu tamanho, localização, margens, entre outras
características, as quais são de grande importância para
escolha da conduta terapêutica ideal livre de recorrências.
Métodos
Foram estudados os registros de todos os indivíduos
portadores de carcinoma basocelular enviados ao
laboratório do IDAP – Instituto de Diagnóstico Anátomo
Patológico, no período de 01 de janeiro a 29 de fevereiro
do ano de 2004, em Florianópolis-SC. Foi considerado
como carcinoma basocelular aquele cujo resultado da
biópsia fosse histologicamente compatível com o tumor
maligno.
As fontes de dados foram do tipo secundária, coletada
a partir de anotações dos livros de registros do laboratório,
requisições dos exames e arquivos com laudos anatomopatológicos. O instrumento utilizado para a coleta de
dados foi o protocolo previamente confeccionado após
revisão da literatura. As informações contidas nos laudos
anátomo-patológico estavam registradas em banco de
Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores
de carcinoma basocelular
dados informatizados. Já as informações clínicas foram
coletadas das requisições dos exames e anotadas em
planilhas criadas para esse fim sendo posteriormente
digitadas em banco de dados no Epidata. Outras
informações foram retiradas diretamente das lâminas
histológicas.
As variáveis estudadas descrevem dados gerais do
paciente e dados do laudo anatomo-patológico, sendo
estas citadas: sexo, idade do paciente quando do
diagnóstico, data do diagnóstico, naturalidade,
procedência (cidade em que comunicou), profissão,
classificação clínica da lesão, tipo de biópsia realizada,
lesão primária ou recidiva, lesão única ou múltipla,
hipóteses diagnósticas, localização anatômica, tamanho
(extensão da lesão), presença de elastose, subtipo
histológico e margens cirúrgicas.
Os dados coletados através dos protocolos foram
digitados através do programa Epidata e analisados
através do programa Epinfo.
As variáveis quantitativas são descrita por medida de
tendência central e dispersão. As variáveis qualitativas
são descritas em números absolutos e proporções.
Este trabalho foi submetido e aprovado pela Comissão
de Ética em Pesquisa da Universidade do Sul de Santa
Catarina (CEP-Unisul). Para garantir o sigilo e preservar
os pacientes de qualquer identificação, seus nomes não
foram questionados.
Resultados
Entre os pacientes estudados, constatamos um total
de 117 lesões de CBC. Este resultado foi obtido a partir
de um mesmo paciente contendo lesão supra-numérica,
dos quais 57 (53,8%) eram do sexo feminino e 49 (46,2%)
correspondiam a pacientes do sexo masculino (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Distribuição da população estudada
segundo sexo.
Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 39
A idade variou entre 19 e 88 anos, com média de 58
anos e desvio padrão de 12,65. Apenas um paciente
apresentou-se com idade inferior a 30 anos, 19 deles
(17%) tinham de 31 a 50 anos, sendo que os pacientes
entre 50 e 70 anos de idade representavam a maioria
(62,3%), totalizando 66 pacientes. Acima de 70 anos,
registramos 21 pacientes (19,8%). (Gráfico 2).
Gráfico 2 - Distribuição da população estudada de
acordo com a idade ao diagnóstico.
A grande maioria dos pacientes era procedente de
municípios integrantes da região da grande Florianópolis,
sendo 49 de Florianópolis, 12 de palhoça, 4 de Biguaçu
e 2 de Santo Amaro da Imperatriz. Apenas 14 pacientes
residiam fora da região. Vinte e cinco não continham a
informação sobre naturalidade.
A variável profissão foi analisada de acordo com a
exposição solar a qual a mesma era submetida.
Encontramos uma maior prevalência naqueles sem grande
exposição solar, com 39%. Os demais resultados
referentes a esta associação podem ser observados no
Gráfico 3. Dentre as informadas, registramos profissões
bem variadas como taxista, psicólogo, professora,
bombeiro, policial, doméstica, agricultor, representante,
pescador, caminhoneiro, arquiteto, secretária, donas de
casa, comerciante, farmacêutico.
Gráfico 3 - Distribuição da população estudada de
acordo com a profissão.
39
Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores
de carcinoma basocelular
40 Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007
O diagnóstico diferencial das lesões de pele teve o
Carcinoma Basocelular (CBC) como suspeita clínica em
100% da amostra. Em alguns casos outros diagnósticos
diferenciais, além do CBC, também foram citados pelos
dermatologistas. Os mais comuns observados foram o
Carcinoma Espinocelular (CEC), doença de Bowen,
Ceratose Actínica, Ceratoacantoma, Nevo Melanocítico,
Nevo Intradérmico, Ceratose Seborréica.
A classe macroscópica de maior prevalência foi o
nódulo-ulcerativo com 55,6% (65 lesões) seguido do
superficial com 26,5% (31 lesões). Também foram
classificadas 13 CBC (11,1%) como sendo pigmentado
e 5 (4,2%) como esclerodermiforme.
As lesões eram únicas em 92,3% dos casos e múltiplas
- mais de uma lesão submetida ao exame anátomopatológico para um mesmo paciente - em outros 7,7%.
O Gráfico 6 demonstra a distribuição da população
estudada segundo o local anatômico da lesão. A face foi
o local do corpo mais comprometido com 45,3% dos
casos (53 lesões). O segundo local mais prevalente foi o
tronco, acometido em 21.3% (25 lesões). Também havia
lesões em membros superiores (17,4%), em região
cervical (5,9%), em couro cabeludo (4,2%) e em membros
inferiores (5,1%). Houve apenas 1 caso relatado na mão
e nenhum no pé.
Gráfico 6 - Distribuição da população estudada
segundo localização anatômica da lesão.
Gráfico 4 - Distribuição da população estudada de
acordo com o tipo de biópsia
Das 117 biópsias, 86 (73,5%) foram excisionais e 28
(23,9%) incisionais. Apenas 3 shaving (2,6%) foram
realizados (Gráfico 4).
Os tumores primários representavam 87, 2% das
lesões (num total de 102 CBCs), enquanto os recidivantes
foram 12,8% (15 lesões) (Gráfico 5).
Gráfico 5 - Distribuição da população estudada
segundo recidiva das lesões.
O Gráfico 7 agrupa as lesões segundo seu tamanho.
A maior parte da amostra estudada (41%) apresentou
lesões entre 0,5 e 1 centímetro de diâmetro em extensão.
O tamanho da lesão não foi mensurável em 25,7% dos
casos, dos quais foram justificados pelo
comprometimento dos bordos laterais ou pela realização
de biópsia incisional.
Gráfico 7 - Distribuição da população estudada
segundo tamanho da lesão agrupado.
40
Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores
de carcinoma basocelular
As margens cirúrgicas das peças analisadas estavam
livres do tumor em 87 lesões (73,8%) e visivelmente
comprometidas em 19 lesões (16,3%). Para onze delas
(9,9%), por estarem muito próximas às margens, não
houve registro no laudo anatomo-patológico. (Gráfico 8).
Gráfico 8 - Distribuição da população estudada de
acordo com as margens cirúrgicas.
Histologicamente, a prevalência de elastose solar foi
de 89,3%.
Quanto à classificação dos subtipos histológicos
registrada nos laudos, entre as 117 lesões, 61 eram CBCs
sólidos circunscritos (representando 51,9% da
população), 27 (23,1%) eram do tipo superficial,
enquanto 22 (19%) eram classificados como sólidos
infiltrativos. Os demais foram: 2 adenóides (1,7%) e
apenas 1 ceratótico (0,9%). Nenhum CBC tipo
esclerodermiforme foi encontrado. Quatro lesões (3,4%)
foram consideradas como CBC sem outras
especificações, ou seja não era uma amostra histológica
suficiente para que pudesse ser classificada (Gráfico 9).
Gráfico 9 - Distribuição da população estudada
segundo subtipo histológico.
Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 41
Discussão
Após a análise dos resultados, observa-se que a
população em questão apresenta características
semelhantes a outras populações estudadas e descritas
na literatura. Entre as questões que permearam a
concretização desta pesquisa, cita-se a dificuldade em
obter todas as informações necessárias para o
preenchimento dos protocolos. A maior dificuldade se
configura nas requisições dos exames, nos quais, nem
sempre, todos os dados são registrados.
O primeiro item avaliado foi o sexo, onde constatouse uma diferença sutil na incidência, com uma leve
predominância para o sexo feminino (54%).
De acordo com a literatura, o carcinoma basocelular
é um tumor que aparece por igual em ambos os sexos,
podendo apresentar um pequeno predomínio para o sexo
masculino, relacionado este fato com a história
profissional e social exercida pelos homens (7,13,15). Esse
padrão tem mudado nas últimas décadas, com maior
integração da mulher no mercado de trabalho e em
atividades antes consideradas masculinas. O que explica
o aumento da incidência no sexo feminino (3,16) .
Predominância observada nesse estudo.
A idade dos pacientes estudados, variou de 19 a 88
anos, com média de 58 anos, sendo a faixa etária de 50 a
69 anos a mais acometida. A incidência foi aumentando
proporcionalmente à idade, com decréscimo a partir dos
70 anos. Não que isso signifique uma diminuição do risco
a partir desta idade, mas que devemos considerar a
possibilidade de, simplesmente, haver um menor número
de indivíduos nesta faixa etária.
Segundo a literatura, de modo geral, todos concordam
que quanto maior a idade, maior o risco de desenvolver o
carcinoma basocelular. É o que afirmam autores como
Banfi, Carter e Sampaio. Todos referem a predominância
de lesões em pacientes acima de 40 anos de idade (2,3,6).
Casos em pacientes jovens (abaixo de 20 anos) são
exceções. Quando presentes geralmente estão associados
a algumas síndromes hereditárias, ou a exposição
prolongada aos raios solares pelas atividades recreativas
(2,16,17)
, o que pode explicar a presença de um paciente
com 19 anos neste estudo.
Dados quanto à profissão (ocupação) da população
estudada representaram o principal problema para este
estudo. Para 47 dos pacientes não constava no prontuário
à profissão exercida, dificultando a análise dessa variável.
As profissões mencionadas foram bastante diversificadas,
18 estavam relacionadas com grande exposição solar,
41
Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores
de carcinoma basocelular
42 Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007
enquanto em 41 profissões não havia relação com
exposição solar, não sendo a profissional o fator de risco.
É importante especificar que a grande maioria (67) dos
pacientes incluídos no presente estudo pertencem à região
da grande Florianópolis, localizada no litoral de Santa
Catarina-Brasil, com belas praias. Então, embora não
havendo o fator profissional para exposição solar,
podemos considerar fatores circunstanciais, ou lazer,
como responsáveis por esta exposição. Assim como
demonstrou Corona et al., em seu trabablho relacionando
exposição solar com incidência de CBC, demonstrando
ser o sol o fator de risco na etiologia do tumor (5,18),
também podemos considerá-lo para esta população
estudada.
Em relação aos diagnósticos diferenciais, além do
CBC foram citadas neste estudo: doença de Bowen,
carcinoma espinocelular, ceratose actínica, ceratose
seborréica, ceratoacantoma, nevo melanocítico e nevo
intradérmico. Diagnósticos estes também mais
comumente encontrados na literatura (19), que cita para o
CBC um amplo diagnóstico diferencial com outras
entidades clínicas cutâneas que assemelham-se , tanto
do ponto de vista clínico como histológico. A biópsia
com exame histopatológico pode descartá-las,
confirmando o diagnóstico definitivo (6,20).
A forma clínica das lesões apresentadas pelos
pacientes neste estudo foram classificadas em sua
maioria, como nódulo-ulcerativas, em uma proporção de
55,6% (65 das 117 lesões), enquanto a forma superficial
foi a classificação de 26,5% (31 lesões). Também foram
citadas as formas esclerodremiforme e pigmentada. Dados
estes confirmados com os existentes na literatura, que
descreve como sendo o CBC nódulo-ulcerativo a
classificação macroscópica mais comum,
aproximadamente 75% das lesões, seguido pelo
superficial correspondendo a 10% das lesões (6,21).
Histologicamente, o subtipo sólido representou a
maioria dos tumores (70% das lesões), principalmente o
sólido circunscrito correspondendo a 51,9% destes, com
menor incidência do sólido infiltrativo. O superficial foi
o segundo subtipo mais prevalente, com 23% das lesões.
As formas ceratótica e adenóide também foram
encontradas. As 4 lesões com diagnóstico de CBC sem
especificação, não foram classificadas pois o material
não foi suficientemente representativo para determinar o
subtipo histológico. Seqüência esta semelhante à referida
na literatura (22,23), que descreve em ordem decrescente
de freqüência os subtipos histológicos: sólido (54%),
superficial (17%), ceratótico (4% a 8%), adenóide (1%
42
a 7%), infiltrativo (7%) e esclerodermiforme com (1% a
2%).
Recorrências e recidivas do CBC já foram relatadas
em torno de 9,5%(5), 14,3%(8), 22%24) das lesões, que
depende de fatores como: tipo de tratamento realizado,
localização, subtipo histológico e tamanho do tumor (10,14).
Neste trabalho foram citadas 15 lesões (12,8%) como
sendo recidivantes, proporção semelhante à referida na
literatura.
O tamanho do tumor é descrito como um dos fatores
clínicos predisponente para a recidiva da lesão, observada
principalmente em lesões mais extensas (geralmente
superiores a 2,0 cm) (14). Na atual casuística, 29 (24,7%)
lesões mostraram-se inferiores a 0,5 cm, enquanto a
grande maioria dos pacientes(41%) apresentou lesões
entre 0,5 e 1,0 cm. Apenas 10 foram superiores a 1,0 cm
e 30 não puderam ser mensuradas por existir
comprometimento dos bordos ou pela realização de
biópsia incisional, impossibilitando esta prática. Não há
relatos na literatura quanto à predominância do tamanho.
Com relação ao tipo de biópsia realizada, 86 das 117
biópsias foram excisionais e 28 incisionais. Apenas 3
shaving foram realizados. A conduta com relação à
biópsia varia entre diferentes autores, não são citados
dados quanto à prevalência (6,20).
O carcinoma basocelular geralmente ocorre como
lesão única, apesar de apresentações com múltiplas lesões
não serem infreqüentes (15). Num estudo tipo série de casos
realizado na Colômbia, demonstrou que 80,8% dos
pacientes apresentavam uma única lesão, enquanto 19,2
% teriam múltiplas lesões (25). Freqüentemente as
múltiplas lesões estão associadas a síndromes hereditárias
ou a determinados subtipos histológicos que costumam
apresentar-se com mais de uma lesão (17). Em um total de
117 lesões desta pesquisa, quase a totalidade dos casos
(92,3%) eram únicas, o restante (7,7%) apresentavam
múltiplas lesões (em torno de 2 a 4 lesões por paciente).
Por apresentar correlação com estruturas pilosebáceas, a localização do CBC é quase exclusiva de
áreas que contém estas estruturas, o que é demonstrado
na literatura (Lever), sendo mais comumente encontrado
em face (principalmente nariz), tronco e pescoço (3,17).
Embora sua etiologia dependa da radiação ultravioleta,
sua localização não é exclusiva de áreas com máxima
exposição solar (16,26), isso pode ser explicado, em parte,
por fatores regionais, como densidade e o tipo dos
folículos pilo-sebáceos de cada área corpórea (16). Dessa
forma, como demonstra o gráfico 8, 53 (45,3%) dos
tumores localizaram-se na face, seguido pelo tronco com
Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores
de carcinoma basocelular
25 lesões (21,3%) e membros superiores (17,4%).
Também houve lesão em pescoço, couro cabeludo,
membros inferiores e mão. Dados estes condizentes com
a literatura.
Para que o tratamento seja adequado e se tenha certeza
de que toda lesão foi retirada, é importante a análise
minuciosa das suas margens. De acordo com um estudo
realizado em São Paulo, 70% das peças apresentaram
margens cirúrgicas livres de neoplasia e os 30% restantes
mostravam-se acometidos (27). Neste estudo, os dados
mostraram-se semelhante à literatura (27). Das lâminas
examinadas para esta pesquisa, 87 (73,8%) apresentavam
margens livres e 19 (16,3%) eram visivelmente
comprometidas. É importante salientar que desta última
citada, 5 eram de biópsias incisionais, o que justifica o
comprometimento marginal. Por apresentarem ninhos de
células tumorais muito próximas às margens, 11 (9,9%)
lesões foram classificadas como comprometimento
discutível, ou seja, sem um diagnóstico preciso. De
qualquer forma, sua ampliação cirúrgica deveria ser
considerada.
Analisando os laudos histopatológicos, percebe-se que
a prevalência de elastose solar em tecido adjacente é de
89,3% nos pacientes estudados. A elastose solar é uma
alteração do elástico do derma das partes do corpo
expostas à luz solar. Caracteriza-se por acentuado
aumento do componente elástico, formando massas
amorfas ou fibras grossas, fragmentadas e sem orientação
(28)
. Com isso, podemos afirmar que os pacientes
expunham-se à luz solar.
Conclusões
Demonstrou uma população com características
semelhantes à de outras populações:
• A média de idade foi de 58 anos, aumentando a
prevalência das lesões conforme aumenta a idade.
• A diferença entre o sexo não foi relevante.
• A profissão não foi determinante como fator de risco,
pois a maioria dos pacientes em cujas requisições havia
descrição, não apresentava relação com exposição solar.
• A face foi a localização anatômica mais
comprometida, sendo o tronco o segundo local mais
prevalente.
• A forma clínica predominante foi a de carcinoma
basocelular nódulo-ulcerativo, seguido pelo superficial.
• Quanto ao subtipo histopatológico, o sólido
circunscrito foi diagnosticado em maior quantidade.
• Para esta população, o tipo de biópsia excisional
Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007 43
foi a técnica mais realizada.
• As lesões primárias foram responsáveis pela maioria
dos casos, um pequeno número de lesões recidivantes foi
encontrado.
• Na quase totalidade dos casos, a lesão única foi
predominante. Quanto ao tamanho, a grande maioria não
ultrapassava 1,0 centímetro.
• Em relação às margens cirúrgicas, mais da metade
apresentavam-se livres de células neoplásicas, e em menor
número mostravam comprometimento expresso ou
discutível.
• Histologicamente observou-se elastose solar em
quase todos os tecidos adjacentes às lesões, podendo-se
concluir que o fator de risco exposição solar se fazia
presente nestes pacientes.
• O CBC estava presente como hipótese diagnóstica
em toda a amostra, sendo as outras hipóteses quando
citadas descartadas pelo exame anátomo-patológico.
• Dos 106 pacientes diagnosticados em dois meses, a
quase totalidade era natural de cidades integrantes da
região da grande Florianópolis.
Referências Bibliográficas:
1. Simone JV. Oncologia. IN: Goldman L, Bennett JC,
Eds. Cecil: tratado de medicina interna. 21. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000; 1140-48.
2. Banfi A, Bonadonna G, Molinari R. Neoplasias
cutâneas. Em: Manual de oncologia médica. La
Habana: Editorial Científico-Técnas 1986; 405-17.
3. Carter M, Lin A. Basal cell carcinoma. In: Fitzpatrick
TB, Eisen AZ, Wolf K. Dermatology in general
medicine. New York, MacGraw-hill 1993:840-7.
4. Restrepo HE, Franco A. Cancer morbidity and mortally
among the insured population of the Social Security
Institute of Antioquia, Cololmbia. Int J Epidemiol
1978; 7(3):285-91.
5. Swanson MW, Cloud G. A retrospective analysis of
primary eye cancer at the University of Alabama
1958-1988 Part 2: Eyelid tumors. J Am Optom Assoc
1991; 197:527-30.
6. Sampaio SAP, Rivitti EA, Dermatologia 2nd. São
Paulo: Artes Médicas, 2000.
7. Peñaranda E, Acosta A, Rueda X. Carcinoma
basocelular: conceptos actuales. Médicas UIS 2001;
15:67-74.
8. Ahmad I, Das Gupta. Epidemiology of basal cell
carcinoma and squamous cell carcinoma of the pinna.
J Laryng Otol 2001; 115:85-6.
43
Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores
de carcinoma basocelular
44 Arquivos Catarinenses de Medicina Vol. 36, no. 1, de 2007
9. Cummings SR, Tripp MK, Hermann NB. Approaches
to the prevention and control of skin cancer. Cancer
Metastasis Rev 1997; 16(3-4):309-27.
10. Miller SJ.biology of basal cell carcinoma (Part I). J
Am Acad Dermatol (Tokyo) 1979; 6:267-281.
11. Graffunder CM, Wyatt SW, Bewerse B, Hall I, Reilley
B, lee-Pethel R. Skin cancer prevention: the problem,
responses, and lessons learned. Health Educ Behav
1999; 26(3):308-16.
12. Geller AC, Cantor M, Miller DR, et al. The
Environmental Protection Agency’s National Sun
Wise School Program: sun protection education in
US school (1999-2000). J Am Acad Dermatol 2002;
46(5):683-9.
13. Acosta AE. Carcinoma basocelular. En: Guias de
práctica clínica en enfermedades neoplásicas.
Bogotá, Instituto Nacional de Cancerologia 2001;
15-31.
14. Karagas MR. Skin Cancer Prevention Study Group,.
Occurrence of cutaneous basal cell and aquamous
cell malignancies among those with a prior history
of skin cancer, J Invest Dermatol 1994; 102:10S13S.
15. Fridman RJ, Rigol DS, Nasso R, Dorf R. Carcinoma
basocelular y carcinoma epidermoide de la piel. Em:
Murphy Gp, Lawrence W, Lenhard RE. Oncologia
clínica. 2. ed. Washington, DC: Organización
Panamericana de la salud, 1996; 371-83.
16. Rook A, Wilkinson DS, Ebling FJG, Champion RH,
Burton JL, editors. Textbook of Dermatology. 4. ed.
Frome and London: Butler & Tanner, 1986;
3(3):2417-2423.
17. Lever WF. Histopatologia of Skin. In: Tumors and
cysts of the epidermis. 8 ed. Philadelphia: LippincottRaven, 1997; 719-731.
18. Corona R, et al. Risk Factors for Basal Cell
Carcinoma in a Mediterranean Population, Role of
Recreational Sun Exposure Early in Life. Archives
of Dermatology. 2001, sep; 137(9):1162-1168.
19. Derrick EK, Smith R, Melcher DH, Morrison EA,
Kirkham N, Darley CR. The use of cytology in the
diagnosis of basal cell carcinoma. Br Jdermatol
1994; 130:561-563.
20. Drake LA, Ceilley RI, Cornelison RL, Dobes WA,
Dorner W, Goltz RW, et al. Guidelines of Care for
Basal Cell Carcinoma. The American Academy of
Dermatology Committee on Guidelines of Care. J
Am Acad Dermatol 1992; 26:117-20.
21. Lynch PJ, Sams WM, editors. Principles and practice
44
of Dermatology. In: Premalignant and Malignant
Epithelial Tumores. 2. ed. New York: Churchill
Livingston Inc, 1996; 227-229.
22. Roenigk RK, Ratz JL et al. Trends in the presentation
and treatmente of basal cell carcinoma. J Dermatol
Surg Oncol 1986; 12:860-865.
23. Sexton M, Jones DB, Maloney ME, Histologic pattem
analysis of basal cell carcinoma. Study of a series
of 1039 consecutive neoplasm. J Am Acad Dermatol
1990; 23:1118-1126.
24.. Rowe DE. Carroll RJ, Day CL Jr: Long-term
recurrence rates in previously untreated (primary)
basal cell carcinoma: implications for patient followup. J Dermatol Surg Oncol 1989; 15(3):315-28.
25. Lópes RFR, Martínez LAD, Características clínicas
de los pacientes con carcinoma basocelular una série
de 305 casos. Faculdade de Medicina de
Bucaramanga 2002; 63-65.
26. Dubin N, Kopf AW: Multivariate risk score for
recurrence of cutaneous basal cell carcinomas. Arch
Dermatol 1983; 119(5):373-7.
27. Ishi LA, Pereira IC, Carcinoma Basocelular – Fatores
realacionados com a recidiva tumoral. Faculdade
de Medicina-Unesp 2004; 426-428.
28. Cintra. ML. Anatomia Patológica –
Dermatopatologia. FCM/Unicamp 2005.
(fcm.unicamp/Dep/Anatomia), 2005.
Endereço para Correspondência :
Renata Bolan
Rua Vidal Ramos, 80, CEP 88811525 - Criciúma – SC
E-mail: [email protected]
Download

Avaliação clínica e histopatológica dos pacientes portadores de