Nº 72 – jul. / ago. / set. de 2015 - ANO XVII
Associação de Deficientes Visuais e Amigos
Baixa visão
e o projeto
Bengala Verde
Editorial p. 2
ADEVA em exposição
no Conjunto Nacional
pág. 7
Parceiros
Cida é professora
de corpo e alma
pág. 6
Talentos
OPINIÃO
Editorial
Baixa visão e o projeto
Bengala Verde
Pessoas com baixa visão não são consideradas cegas, uma vez que elas têm resíduo visual. A diminuição
da sua capacidade de ver pode vir acompanhada de alteração do campo visual. Algumas pessoas com
baixa visão, por exemplo, enxergam como se olhassem por um tubo. Outras podem apresentar
uma grande mancha escura na parte central da visão ao tentar fixar um objeto, ou ainda
sofrerem de fotofobia na claridade ou cegueira noturna em condições de pouca iluminação.
O campo visual e a capacidade de leitura também variam bastante conforme cada caso.
A maioria das pessoas cegas e muitas com baixa visão usam bengala para se locomover
com autonomia. Ao se avistar alguém com uma bengala branca ou de qualquer outra
cor, logo se presume que ela é cega, isto é, que não enxerga nada.
Esta conclusão precipitada acaba por gerar situações constrangedoras e algumas
violentas, pois, por falta de informação ou preconceito, não se aceita que a pessoa com
baixa visão precise usar bengala se ela tem resíduo visual. Casos de agressão física já
ocorreram porque alguns indivíduos se sentem ludibriados, por exemplo, ao ceder
seu assento no ônibus e descobrir que o deficiente visual usand bengala não é
totalmente cego.
No sentido de amenizar estes problemas, o Grupo Retina São Paulo lançou,
em 2014, o projeto Bengala Verde. Criou-se uma bengala semelhante à branca,
mas de cor verde, e foi realizada, no dia 16 de maio de 2015, a “Caminhada
da Bengala Verde”, na av. Paulista, para a divulgação do projeto e conscientização da população.
A bengala verde facilitará a identificação da pessoa com baixa visão
e a expectativa é que seu uso, associado a um movimento maciço de
divulgação, promova melhor compreensão da sociedade, amenizando
um pouco o sofrimento desta parcela significativa da população. No
Brasil, mais de 6,5 milhões de indivíduos têm alguma deficiência
visual e, deste total, 6.056.654 têm baixa visão (Censo 2010).
Para mais informações sobre o projeto ou como adquirir a
bengala verde, o Grupo Retina São Paulo coloca à disposição
o telefone da sua sede: (11) 5549-2239, e seu e-mail:
[email protected]
Márcio Spoladore
Expediente
Jornalista responsável: Liane Constantino (MTb 15.185).
Colaboradores: Laercio Sant’Anna, Lothar Bazanella, Lúcia
Nascimento, Márcio Spoladore, Markiano Charan Filho, Miguel
Leça (fotos), Sidney Tobias de Souza. Correspondência: rua São
Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 - São Paulo (SP) telefones: 11 5084-6693/6695 - fax: 11 5084-6298 - e-mail:
[email protected] - site: www.adeva.org.br. Editoração gráfica:
Fernanda Lorenzo. Revisão: Célia Aparecida Ferreira. Fotolitos
2
e impressão: PR Artes Gráficas. Tiragem: 1.500 exemplares.
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.
Índice
Opinião|Editorial............................p. 2
Lazer|Estive lá e gostei!.............p. 3
Adeva|Em foco............................p. 4
Talentos...........................p. 6
Parceiros..........................p. 7
Mercado de Trabalho|Profissão:.........................p. 8
Esporte|Um direito de todos.........p. 9
Tecnologia|Convivaware....................p. 10
Na rede............................p. 11
Literatura|Distinto olhar...................p. 11
Espaço poético................p. 12
Mais!|Para seu lazer..................p. 12
LAZER
Estive lá e gostei!
A China faz parte do
cenário paulistano
Comida, Medicina e práticas milenares chinesas já têm seu lugar conquistado
Por Sidney Tobias de Souza | [email protected]
Recentemente, o Brasil comemorou o expressivo
aumento das parcerias de negócios com a China.
É de se esperar, portanto, que a presença chinesa
em nosso país seja cada vez maior. Mas já há algum
tempo encontramos traços da milenar cultura chinesa
aqui em São Paulo. E não é apenas no semblante da
população que imigrou para a nossa cidade.
Para o corpo e a mente
Diversos recursos da medicina chinesa já foram
adotados pelos brasileiros como terapias complementares à medicina ocidental, como o mochabustão,
a ventosa, a eletroterapia, a auriculoterapia e a
acupuntura.
Na busca de equilíbrio, relaxamento e do bom
funcionamento dos órgãos, muitas pessoas também
praticam, inclusive no parque do Ibirapuera, o tai chi
chuan, cujos princípios são perceber os significados de
“ter forma-sem forma” e “parada dentro do movimento-movimento dentro da parada”. Seus adeptos afirmam
que o tai chi chuan é ótimo para exercitar a mente,
uma vez que é preciso pensar antecipadamente nos
passos e movimentos a serem executados. Que tal
dar um pulinho no Ibira para conhecer esta prática
milenar chinesa? As aulas são gratuitas: às segundas-feiras, das 10h às 11h30 e às sextas-feiras, das 9h às
10h30, entrada pelo portão 5, na av. IV Centenário.
Idioma
Quer aprender uma língua que possui mais
falantes no mundo do que qualquer outra? Aprenda
o mandarim. O mandarim padrão, a língua oral oficial
da China, e seus oitenta mil caracteres, chamados de
hanzis, é ensinado em escolas
especializadas, como
a Chinbra-Centro
de Língua e Cultura
Chinesa, no bairro da
Vila Mariana.
Para praticar, você
terá à sua disposição
o Jornal Taiwanês,
um semanário de
oito páginas, editado
às quartas-feiras, com
distribuição gratuita nos
pontos de comércio do
bairro da Liberdade, ou
o Jornal Chinês para a América do Sul, vendido nas
bancas de jornais, principalmente da Liberdade, de
terça a sábado, com catorze páginas em média e uma
tiragem de quase 10 mil exemplares.
Cães de Fu
Apesar de o panda gigante
ser o animal mais usado pelos
chineses como um emblema
nacional, no ocidente, ainda
associamos a China à figura
do dragão, devido, em grande
parte, aos filmes de arte marcial e
à tapeçaria chinesa. Mas há outros
animais que simbolizam o país, como
os cães de Fu ou leões mitológicos, por exemplo. Eles
são símbolo de energia, vigilância e valor. Os cães de
Fu mostram-se em pares (daí o plural) e com o macho
tendo uma pata dianteira apoiada sobre uma esfera.
A Cidade Proibida, na China, tem vários casais de
cães de Fu como guardas e, aqui em São Paulo, eles
podem ser vistos adornando a entrada do edifício
China Trade Center da rua Pamplona, na Bela Vista.
Gastronomia
A culinária chinesa foi além dos pastéis e se
popularizou de vez no Brasil após ser oferecida em
caixinhas, com frango xadrez ou yakisoba entregues
em domicílio. Mas se você quiser uma comida chinesa
fora da caixa, em Sampa há ótimos restaurantes.
Sugestão? Aqui indicamos algumas: como entrada,
o famoso rolinho primavera, os dim sum (pasteizinhos
fritos ou cozidos no vapor), ou pequenas porções de
petiscos, as deliciosas lulas à dorê ou as almôndegas
de carne de porco e acelga, cozidas no molho de
soja. Para o prato principal, as costelas
suínas ao molho agridoce, ou o frango
empanado ao molho de gengibre,
camarões, mexilhões e vegetais; lula
refogada ao molho de gengibre e
ervilha-torta; risoto de camarão
com ovo e legumes; pato assado
com molho agridoce; pato frito ao
molho de soja, alho e gengibre, ou o
bom e original macarrão chinês. De
sobremesa, uma boa opção são as
frutas carameladas: maçã, abacaxi
ou as bananinhas.
Gostou? Então, reúna a família
e chame os amigos, pois todos
cabem em volta das grandes mesas redondas características dos restaurantes chineses. Fique tranquilo: as
porções são fartas e com bons preços.
3
ADEVA
Em foco
37 anos
Neste mês de agosto, a ADEVA comemora 37 anos de
trabalho em prol da capacitação da pessoa com deficiência
visual para o mercado de trabalho. Venha comemorar
conosco! Missa de Ação de Graças, na capela do Hospital
Santa Catarina, av. Paulista nº 200, dia 11 de agosto, às 19h.
Jantar no Bar Brahma, av. São João nº 677, Centro, dia 11
de novembro, a partir das 19h30.
Acesso
para Todos
O projeto Acesso para
Todos, criado pela ADEVA,
pelo escritório E-hipermídia
e pela Web2Business, oferece
consultoria e construção de
websites acessíveis segundo os
padrões da W3C, comunidade
internacional que estabelece
os padrões da web. Mais
informações no site http://
www.acessoparatodos.com.br/
Curso de teatro
Estão abertas as inscrições para a Oficina
de Teatro ADEVA dirigida a pessoas com e
sem deficiência visual. As aulas, gratuitas,
acontecem às segundas-feiras, das 17h30 às
19h, na rua São Samuel, 174, Vila Mariana.
Para mais informações, telefone 5084-6693
ou 5084-6695, de segunda a sexta-feira,
das 8h às 17h.
Participe!
Para colaborar com nossos projetos,
faça uma doação em dinheiro pelo sistema
PagSeguro no link http://www.adeva.org.
br/comocolaborar ou doe Cupons e Notas
Fiscais sem registro do CPF ou CNPJ. Para
a entrega dos Cupons, entre em contato
com Rosana pelo e-mail: rosana@adeva.
org.br ou pelos tels.: 11 5084-6693 / 6695.
Gráfica braille
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A gráfica da ADEVA oferece
serviços de impressão em braille e
em tipos ampliados de apostilas,
livros, cardápios, catálogos,
folhetos, holerites etc. para pessoas
físicas e jurídicas, em todo o
território nacional. Orçamentos
pelo e-mail: [email protected].
br ou pelos tels.: 11 5084-6693 /
6695 com Miguel Leça.
Nossa Festa Junina
A festança foi de arrasar. E foi festa junina, no dia 27 de junho, com muita dança e comilança.
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ADEVA
Talentos
A educação ocupa seu
tempo integralmente
Ensinar é fonte de alegria e conhecimento para a professora Cida
Por Lúcia Nascimento | [email protected]
Ensino, motivação, alegria,
aprendizado. Estas são algumas das
palavras que definem a pedagoga
Aparecida Alves de Oliveira, 51, e
que movem o seu trabalho como
professora universitária e de braille.
Desde 2014, ela é uma das colaboradoras da ADEVA, onde ensina o
sistema braille de escrita e leitura,
às segundas-feiras, das 13h30 às
15h30.
“Ouvi falar da ADEVA quando
trabalhava na URDV [Unidade para
Reabilitação de Deficientes Visuais];
nossos alunos comentavam sobre
seus cursos de informática, sobre
sua gráfica... Mas conheci mesmo a
ADEVA em junho do ano passado,
porque participei do projeto
ADEVA-Prefeitura de Barueri. Desde
então, ‘é só alegria’, como diz o
Francisco, instrutor de orientação e
mobilidade, meu colega de trabalho
neste projeto.”
Sua história
Aparecida Alves de Oliveira,
a professora Cida, tem baixa
visão causada por uma atrofia
óptica e miopia nos dois olhos. A
limitação visual não a impediu de
acreditar em um caminho vitorioso,
construído com estudo, trabalho
e determinação.
“Nasci na cidade de São Paulo,
mas passei a infância em São
Bernardo do Campo (SP).” Em 1996,
iniciou a carreira de educadora
no interior paulista, em Santa
Bárbara d´Oeste, ingressando no
curso de Magistério. Em 1999,
foi contemplada com uma bolsa
integral para o curso de Pedagogia
e voltou para São Paulo. Formou-se
pela Universidade São Marcos em
2003.
Certa de que ensinar era
sua missão, Cida fez três
pós-graduações: em educação
especial e tecnologias, em educação
a distância e em formação de
docentes para o ensino superior,
“atendendo também as exigências
educacionais do Ministério da
Educação, pois sou professora
na faculdade de Pedagogia da
Universidade Nove de Julho
(Uninove), onde ministro disciplinas
voltadas para a inclusão de pessoas
com necessidades especiais”.
Atualmente, Cida também é
mestranda na Uninove. O tema
da tese que espera defender até
o final de 2016 é o aluno de sala
de recursos multifuncional para
deficientes visuais. Seu campo
de pesquisa é a Escola Estadual
de Ensino Fundamental e Médio
(EEEFM) Professora Inah de Mello,
em Santo André, no ABC paulista.
Infância e família
“Minha infância foi marcada
pela baixa visão, pela obesidade,
por chacotas e dificuldades de
aprendizado. Era bem ‘levada’,
Jogo rápido com Aparecida Alves de Oliveira
Signo: Escorpião. | Cor: Lilás. | Hobby: Caminhar na praia ao final da
tarde ou no amanhecer. | Um filme: Titanic (1996). | Um livro: a Bíblia.
| Um estilo de música: Solo com violão. | Uma música: Magie d’amour,
de Jean Pierre Posit. | Cantora preferida: Joana. | Cantor: Guilherme
Arantes. | Sobre a deficiência: Limitação. | Religião:
Evangélica. | Deus: Orientador. | Amigos:
“Anjos”. | Amor: Liberdade. | Esporte
preferido: Futebol. | Time do coração: Corinthians. | Família:
União. | Um sonho: Doutorado
em Educação. | Uma frase:
Ouvir, ouvir, ouvir.
6
ADEVA
nunca fui uma aluna exemplar e
pouco aprendia, pois meus pais só
descobriram que eu era míope na
segunda série. Por sofrer gozações
(meus óculos eram fortes e eu era
muito gorda), usava minhas dores
de cabeça para enganar minha
mãe e justificar minhas ausências
na escola.”
“Hoje, apesar de ter orgulho de
cada uma das minhas conquistas,
devo admitir que a atenção e o
carinho da minha família me
ajudaram muito a superar os
problemas e a realizar o sonho de
ingressar na faculdade. Eles sempre
estiveram ao meu lado e se doaram
para que eu, aos 35 anos, fosse a
primeira da família a cursar uma
universidade. Por amor e gratidão,
sempre arrumo um tempinho para
meus familiares, mesmo que, às
vezes, sejam apenas algumas horas,
por conta das minhas inúmeras
atividades. E quero mencionar aqui
todos eles: meus pais, já falecidos,
o senhor Joaquim e a dona Irene,
minha irmã Silvia, meus filhos, o
Délio Fernando e a Mayara Helena,
e meus netos, o Rodrigo e o Íthalo.
Na ADEVA
“Meu trabalho na ADEVA é
muito gratificante, pois acredito
que uma aula é um degrau para
subirmos rumo às nossas conquistas
e à realização de nossos sonhos.”
Quase a totalidade dos seus alunos
– 99% – tem cegueira adquirida ou
baixa visão severa. “Suas histórias
marcam minha vida e me dão força
e ânimo para correr contra o tempo
e garantir minhas horas semanais
de trabalho junto deles.”
“Muitos chegam profundamente abalados, ‘perdidos’,
desesperados e com medo. A
ADEVA busca oferecer condições
de crescimento, participação e
socialização para todos que passam
por essa nova fase de suas vidas.
Se não trabalharmos em equipe,
nós pouco poderemos ajudá-los
e às suas famílias. Por esta e por
tantas outras razões é que tenho
orgulho de trabalhar com esta
equipe chamada ADEVA!”
Parceiros
O novo parceiro está
na “Ilha da Visão”
ADEVA e a empresa Iacocca se encontram
no Conjunto Nacional
Entre os dias 18 e 30 de agosto, a ADEVA estará apresentando
à população da cidade de São Paulo, na mostra “Ilha da Visão”,
sua história e o trabalho que desenvolve há 37 anos em favor das
pessoas com deficiência visual.
Nesta exposição, no piso térreo do Conjunto Nacional da
avenida Paulista, das 9h às 21h, os milhares de paulistanos que
diariamente circulam por lá poderão conhecer o sistema braille
de escrita e leitura, apreciar apresentações do Coral da ADEVA,
observar impressoras braille produzindo cardápios, folhetos,
apostilas etc. e viver uma experiência multissensorial dentro de
um túnel totalmente escuro, conduzidos por pessoas cegas, entre
outras atrações.
A “Ilha da Visão” é resultado da parceria entre a ADEVA e
a Iacocca Assessoria de Marketing Cultural, empresa com sede
em São Paulo (SP), http://www.iacocca.art.br/. “Atuamos há mais
de 30 anos com edição de livros, exposições de arte, eventos
culturais, assessoria de marketing e comunicação. Nesta área,
desenvolvemos também um trabalho de cunho social, divulgando
instituições focadas na alfabetização, na promoção de campanhas
de prevenção voltadas à saúde, na capacitação para o trabalho
e na inclusão”, esclarecem seus diretores, os jornalistas Valkiria e
Ângelo Iacocca.
“Foi por isso que contatamos a ADEVA e propusemos a divulgação,
em um espaço de grande visibilidade, do valioso trabalho que
esta instituição desenvolve há mais de três décadas e que ainda
é pouco conhecido do público em geral. O Conjunto Nacional
recebe, todos os dias, cerca de 35.000 visitantes, ou seja, um
milhão de pessoas passam por ali mensalmente.”
“As ações definidas em conjunto com a diretoria da ADEVA
pretendem, também, por meio de painéis, balcões de atendimento,
distribuição de folhetos e ações práticas e experimentais quebrar
tabus, mitos e combater o preconceito que envolve a cegueira”,
acrescenta Valkiria. “Convivo com dois primos que têm deficiência
visual e sei o que significa viver em uma sociedade essencialmente
focada na aparência.” 7
MERCADO de TRABALHO
Profissão: analista de sistemas
Tecnologia da Informação
é seu campo de trabalho
Alexandre é analista de sistemas e começou a programar com onze anos
Por Lúcia Nascimento | [email protected]
Alexandre Santos Costa, 36, nasceu com glaucoma.
“Tinha baixa visão até 2007, quando fiquei cego.” Este
fato, que poderia ter sido uma tragédia, foi o recomeço
da sua vida profissional.
O início e o meio
“Lido com computadores desde os nove anos,
com onze já sabia programar e, boa parte do meu
conhecimento, devo aos livros e à curiosidade.
Alexandre fez o primeiro curso de informática na
quarta série, quando ganhou uma bolsa de estudo de
uma linguagem de programação. “Dois anos depois,
aprendi a programar seguindo o manual do meu TK85
(computador nacional), um tecladinho com uma pecinha
de borracha que se ligava na televisão.” No início dos
anos 90, criou e instalou um programa para facilitar
a vida do seu pai na hora de fazer a declaração do
imposto de renda. “Ele, como todo mundo naquela
época, fazia tudo na ponta do lápis.”
Aos 14 anos, Alexandre aprendeu o sistema DOS
(Disk Operating System), seu primeiro contato com um
micro. “Foi quando aceitei o convite de um professor
do curso para montar uma filial da escola dele e dar
aulas de informática.” Mas, em 1998, “senti falta de
programar; então, recomecei a me especializar e a
trabalhar na área de sistemas”.
“Atuei na área de TI, em consultorias, atendendo
grandes clientes. Trabalhei também no Mercado
Eletrônico, na Marketing Ware e na Emphasys,
desenvolvendo sistemas internos e aplicativos para
web. Em 2005, eu e um sócio fundamos a Punto Info.
Prestamos serviços para a Pan America Health Office
(PAHO), um dos ‘braços’ da Organização Mundial da
Saúde (OM), por dois anos.”
A deficiência visual e a TI
“A área de TI ‘abraça’ o profissional com
deficiência visual, pois nos permite trabalhar de forma
independente e produtiva.” Mas, ao mesmo tempo,
é nela onde se emprega menos, porque as empresas
acreditam que a adaptação do ambiente de trabalho
precisa ser grande. “Muito pelo contrário, o profissional de TI com deficiência visual precisa apenas de
um leitor de tela para exercer suas funções. Eu uso o
NVDA, que é gratuito. Com ele, sou capaz de fazer
o que qualquer profissional de TI que enxerga faz.”
8
A conclusão
Alexandre recorreu à Lei de Cotas apenas quando
ficou cego. “Tinha me afastado do mercado de trabalho
por causa da perda de visão, quando soube que o
Itaú BBA estava contratando pessoas com deficiência.
Enviei meu currículo, passei por uma entrevista técnica,
fui contratado em 2008 e fiquei lá até 2013. Hoje,
trabalho como desenvolvedor do Banco Itaú.”
I Encontro Nacional de Profissionais
de Tecnologia da Informação
com deficiência visual
“Não tenho dados atualizados e precisos sobre
a quantidade de deficientes visuais que trabalham
na área de TI no Brasil, mas creio que o número é
pequeno. Penso que, a partir do próximo dia 29 de
agosto, este cenário pode mudar para melhor.”
Nesta data, na rua Estela, 268, na cidade de São
Paulo, acontece o I Encontro Nacional de Profissionais
de Tecnologia da Informação com Deficiência Visual
(ENTIDV), evento organizado por Alexandre, com o
apoio da Faculdade BandTec. O ENTIDV nasceu porque
“nos eventos técnicos que frequento desde 2011, notei
que acessibilidade era um tema pouco abordado e a
participação de profissionais com deficiência visual,
mínima. Senti como era importante a presença desses
profissionais para reciclagem, troca de ideias e, principalmente, para quebrar tabus e preconceitos”.
O Encontro não tem fins lucrativos e as inscrições,
gratuitas, podem ser feitas neste endereço http://
www.entidv.com.br/
ESPORTE
Um direito de todos
O cume é a meta
e o limite
Escalada também é esporte para todos
Por Sidney Tobias de Souza | [email protected]
Você já se imaginou subindo em uma parede rochosa ou em
um paredão?
Pois saiba que para realizar esta proeza você não precisa ser o
Homem Aranha. Basta praticar escalada, uma técnica desportiva
cujo objetivo é atingir o topo de uma parede rochosa, de um bloco
ou de um muro.
Fui apresentado a este esporte por meu amigo, o Otto Westin
(1963-2014), praticante de escalada esportiva apesar de ser cego.
Mas minha primeira prática aconteceu em uma feira de esportes
radicais. Se não fosse a dor nos braços que senti devido à falta de
técnica, eu teria chegado ao cume da parede.
Depois desta tentativa frustrada, pesquisei lugares para praticar
e descobri várias academias especializadas em escalada esportiva
indoor (em ambiente fechado) aqui em São Paulo. Os treinos para
iniciantes são em uma estrutura (parede) artificial feita em madeira
ou em betão, com diversos graus de dificuldades e inúmeras agarras
que permitem a escalada por toda sua extensão.
O básico imprescindível
Há três itens essenciais para desfrutar da prática
da escalada: (1) um equipamento confiável; (2) um
treino intensivo; e (3) bom senso. Confiança excessiva
atrapalha e a segurança é fundamental: capacete,
cadeirinhas e travas automáticas são indispensáveis.
Além deste equipamento, é necessário treino regular:
três sessões semanais é o ideal. Existem limites de
segurança que devem ser treinados constantemente.
Treinamento
O principal objetivo do treino é o desenvolvimento
da técnica, com subidas constantes pelas paredes,
sempre visando chegar ao topo. É importantíssimo
possuir boa condição física, alcançada por meio de exercícios
anaeróbicos e aeróbicos, que trabalhem tanto o equilíbrio como a
força muscular. Na escalada esportiva, muitas vezes, o praticante é
levado à exaustão - principalmente dos braços, que são os membros
mais acionados.
Alguns desportistas mais experientes, em um exercício de
desenvolvimento da técnica e de memorização, treinam de olhos
vendados. Portanto, deficientes visuais encontram bom suporte
para a prática da escalada.
No solo, a segurança para orientar o esportista se dá por meio
de comandos do tipo: “agarra ao meio-dia” ou “agarra às nove
horas”, uma referência direcional baseada no relógio analógico. Esta
comunicação também deve ser treinada, pois há termos técnicos que
devem ser assimilados para que a escalada seja agradável e segura.
Todo este esforço é recompensado, garantem os praticantes,
com uma sensação prazerosa de conquista de objetivo. Que tal
então experimentar escalar um paredão com os amigos? Se me
convidarem, eu vou!
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TECNOLOGIA
Convivaware
O Marco Civil da Internet
é para “pegar” ou não?
Aprovada e com projeção internacional, a Lei 12.965 já não é notícia
Por Laercio Sant’Anna | [email protected]
Aprovado na Câmara dos Deputados em 25 de
março de 2014, o Projeto de Lei nº 2.126/2011.6
tramitou pelo Senado e foi ratificado no dia 23 de
abril. Sancionado pela presidente Dilma Rousseff em
maio do mesmo ano, deu origem ao Marco Civil da
Internet, Lei nº 12.965.
Passado mais de um ano, se não fosse seu apelido,
“Constituição da Internet”, poucos saberiam do que
se trata esta Lei. Aliás, acredito que muita gente não
entende exatamente seu porquê.
A World Wide Web
Quando, em 25 de abril de 1989, o físico e
pesquisador britânico Tim Berners Lee apresentou
a primeira proposta da World Wide Web (WWW),
provavelmente, não imaginava estar oferecendo
ao mundo uma ferramenta que, em minha opinião,
faria parte do início de uma nova era na forma de
comunicação da humanidade. Isto porque, um dos
grandes diferenciais da Internet é justamente a liberdade
de expressão e a facilidade de acesso. Por meio das
redes sociais, pessoas de todas as classes e variadas
culturas têm as mesmas oportunidades de exposição
e manifestação.
Se essa característica serviu como mola propulsora
para o crescimento da Internet no mundo, também
trouxe problemas. Grupos poderosos e pessoas
influentes tentam manipular conteúdos e informações
em benefício próprio. Haja vista o ocorrido com o
governo brasileiro no caso da NSA, a Agência de
Segurança Nacional norte-americana que, com a
desculpa de se proteger de grupos terroristas, espionou
o e-mail e o celular da presidente Dilma.
10
O porquê da Lei
O Marco Civil da Internet estabelece princípios,
garantias, direitos e deveres dos usuários da Internet
no Brasil. Foi construído de forma colaborativa entre
governo e sociedade civil, utilizando a Internet como
plataforma de debate. O texto do projeto aborda
questões ligadas à privacidade, cuidado e backup de
dados, imparcialidade da rede, além da preocupação
com a função social que o ambiente digital deve ter,
especialmente na garantia da liberdade de expressão
e transmissão de conhecimento, além da imposição
de obrigações de responsabilidade civil aos usuários
e provedores.
Em outras palavras, estabelece quais são os direitos
e deveres de todos no uso da Internet. Até porque,
ao contrário do que se pensa, não é a ausência de
regras que torna a Internet um ambiente franqueado,
mas, sim, a existência de normas que defendem a livre
manifestação de ataques arbitrários e autoritários.
O Brasil ganhou notoriedade internacional por criar
uma lei que se propõe a regular o uso da Internet.
Contudo, o assunto é polêmico e, passado mais de
um ano, ainda existem pontos que geram discordância
e aguardam regulamentação. De qualquer maneira,
foi uma surpresa sua aprovação, pois ela contraria
interesses econômicos poderosos ao garantir direitos
aos cidadãos.
Seu futuro
Por enquanto, a “Constituição da Internet” parece ter
mais potencial na teoria do que na prática. No último
dia 31 de março, o Ministério da Justiça encerrou a
possibilidade de contribuição para sua regulamentação
no site http://participacao.mj.gov.br/marcocivil/. Agora,
as sugestões serão compiladas e a Presidente deve
regulamentar a Lei.
Mas algo que me deixa com a pulga
atrás da orelha. É que, diferentemente
do que ocorreu quando o projeto
estava indo à votação e a mídia
falava no tema, hoje, não se ouve
mais nada a respeito. Por que será
que o assunto está esquecido
pelos meios de comunicação?!
É do conhecimento de todos
que no Brasil temos leis que pegam
e leis que não pegam. Será?...
TECNOLOGIA
Na rede
LITERATURA
Distinto olhar
DDReader
Este aplicativo auxilia a leitura de livros digitais acessíveis
Daisy (formato de arquivo padrão aberto). Disponível
para download gratuito no Google Play.
https://play.google.com/store/apps/
details?id=org.daisylatino.ddreader&hl=pt-BR
Indeed
App de busca de empregos, com acesso a centenas de sites de empregos, empresas e agências de recrutamento,
com vagas em mais de 50 países e 28 idiomas. Disponível
para download gratuito no Google Play.
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indeed.android.jobsearch&hl=pt-BR
TellMyPhone
Direcionado a pessoas surdas ou com baixa visão, este
aplicativo faz a conversão de voz em texto em diversos
idiomas, inclusive em português. Disponível para download gratuito no Google Play.
https://play.google.com/store/apps/
details?id=appinventor.ai_arun_mehta.TellMyPhone
Nas águas
de março
Chovia muito. Águas de março fechando
o verão. As ruas estavam alagadas e a
enxurrada que transbordava das margens
da rua Vergueiro impedia qualquer tentativa
de travessia.
Eram seis e meia da tarde. Uma multidão
de paulistanos àquela hora voltava para
casa. Era essa também a minha intenção.
Parado na frente da entrada principal do
Centro Cultural São Paulo, eu estava na
calçada errada, pois o ponto do meu ônibus
ficava no lado contrário. Segurava a bengala
com uma das mãos, o guarda-chuva com
a outra e esperava alguém disposto a me
acompanhar na empreitada,
Depois de quase uma hora aguardando
um braço solidário, senti que os que
passavam por mim, antes ocupados
em se salvar do dilúvio, nem se davam
conta da minha necessidade. Com a
impaciência domesticada por 30 anos de
cegueira, me dispus a esperar a chuva
pelo menos amenizar para ter a ajuda de
um sobrevivente. Foi quando ouvi alguém
me perguntar:
- Quantos quilos o senhor pesa? Pergunta
estranha para aquele momento e lugar...
Mas respondi.
- Uns sessenta quilos.
No minuto imediato, me vi erguido do
chão por braços vigorosos. E, sem que eu
tivesse tempo para uma recusa ou qualquer
reação de protesto, fui levado até o outro
lado da rua... no colo.
Cheguei em casa com a roupa
encharcada, mas com os sapatos secos.
Liane Constantino | http://distintolhar.blogspot.com.br
11
LITERATURA
Espaço poético
Um dedo de trova
No passo com que se expande,
cada vez entendo menos,
como uma fome tão grande
tem pezinhos tão pequenos!
Antonio Oliveira
Eu faço agora um reparo,
embora você não faça:
– Se o nosso amor é tão caro,
por que brigamos de graça?
Cônego Telles (PR)
Diz a viúva ao ouvido,
explicando a gravidez:
“O fantasma do marido
me apareceu outra vez”.
A FELICIDADE
Ela veio bater à minha porta,
e falou-me, a sorrir, subindo a escada:
“Bom dia, árvore velha e desfolhada!”
E eu respondi: “Bom dia, folha morta!”
Entrou e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando, não importa!)
houve canções na ramaria torta
e houve bandos de noivos pela estrada...
Então, chamou-me e disse:
“Vou-me embora!
Sou a felicidade! Vive agora
da lembrança do muito que te fiz!”
E foi assim que, em plena primavera,
Só quando ela partiu contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz!
Guilherme de Almeida
Maria Reginato
Por Lothar Bazanella
MAIS!
Para seu lazer
Ilha da Visão
I ENTIDV
Assim Vivemos
A ADEVA estará em exp osição n o
Conjunto Nacional, mostrando o sistema braille de escrita e leitura, ensinando
orientação e mobilidade com o uso da
bengala, apresentando as impressoras
braille, seu Coral, oferecendo seus serviços e proporcionando aos visitantes uma
experiência multissensorial em um túnel
totalmente escuro guiados por pessoas cegas. De 18 a 30 de agosto, das 9h às
21h, de segunda a domingo, av. Paulista nº
2073 (piso térreo), Bela Vista, São Paulo
(SP). Grátis.
Evento inédito no Brasil, focado na inclusão de pessoas com deficiência visual na
área de Tecnologia da Informação (TI).
Sua meta é reunir os profissionais que já
atuam e os que desejam ingressar nesse
mercado de trabalho. Para participar, basta
preencher a ficha de inscrição em: http://
www.entidv.com.br/Inscricao/ Dia 29 de
agosto, Faculdade BandTec, r. Estela, 268,
São Paulo (SP), tel.: 5574-6844. Grátis.
O festival de cinema “Assim Vivemos” estará em cartaz no Centro Cultural Banco
do Brasil (CCBB) da cidade de São Paulo
em setembro e outubro. A 7ª edição do
festival apresentará os melhores filmes
produzidos no mundo sobre o tema da
pessoa com deficiência, oferecendo todos
os recursos de acessibilidade necessários
ao público com deficiência visual, auditiva
e motora. De 23 de setembro a 5 de outubro, rua Álvares Penteado nº 112, Centro,
tels.: 3113-3651 / 3113-3652. Grátis.
ADEVA - Associação de Deficientes Visuais e Amigos
Correspondência: rua São Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 São Paulo (SP) - e-mail: [email protected] - site: www.adeva.org.br
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