Nº 72 – jul. / ago. / set. de 2015 - ANO XVII Associação de Deficientes Visuais e Amigos Baixa visão e o projeto Bengala Verde Editorial p. 2 ADEVA em exposição no Conjunto Nacional pág. 7 Parceiros Cida é professora de corpo e alma pág. 6 Talentos OPINIÃO Editorial Baixa visão e o projeto Bengala Verde Pessoas com baixa visão não são consideradas cegas, uma vez que elas têm resíduo visual. A diminuição da sua capacidade de ver pode vir acompanhada de alteração do campo visual. Algumas pessoas com baixa visão, por exemplo, enxergam como se olhassem por um tubo. Outras podem apresentar uma grande mancha escura na parte central da visão ao tentar fixar um objeto, ou ainda sofrerem de fotofobia na claridade ou cegueira noturna em condições de pouca iluminação. O campo visual e a capacidade de leitura também variam bastante conforme cada caso. A maioria das pessoas cegas e muitas com baixa visão usam bengala para se locomover com autonomia. Ao se avistar alguém com uma bengala branca ou de qualquer outra cor, logo se presume que ela é cega, isto é, que não enxerga nada. Esta conclusão precipitada acaba por gerar situações constrangedoras e algumas violentas, pois, por falta de informação ou preconceito, não se aceita que a pessoa com baixa visão precise usar bengala se ela tem resíduo visual. Casos de agressão física já ocorreram porque alguns indivíduos se sentem ludibriados, por exemplo, ao ceder seu assento no ônibus e descobrir que o deficiente visual usand bengala não é totalmente cego. No sentido de amenizar estes problemas, o Grupo Retina São Paulo lançou, em 2014, o projeto Bengala Verde. Criou-se uma bengala semelhante à branca, mas de cor verde, e foi realizada, no dia 16 de maio de 2015, a “Caminhada da Bengala Verde”, na av. Paulista, para a divulgação do projeto e conscientização da população. A bengala verde facilitará a identificação da pessoa com baixa visão e a expectativa é que seu uso, associado a um movimento maciço de divulgação, promova melhor compreensão da sociedade, amenizando um pouco o sofrimento desta parcela significativa da população. No Brasil, mais de 6,5 milhões de indivíduos têm alguma deficiência visual e, deste total, 6.056.654 têm baixa visão (Censo 2010). Para mais informações sobre o projeto ou como adquirir a bengala verde, o Grupo Retina São Paulo coloca à disposição o telefone da sua sede: (11) 5549-2239, e seu e-mail: [email protected] Márcio Spoladore Expediente Jornalista responsável: Liane Constantino (MTb 15.185). Colaboradores: Laercio Sant’Anna, Lothar Bazanella, Lúcia Nascimento, Márcio Spoladore, Markiano Charan Filho, Miguel Leça (fotos), Sidney Tobias de Souza. Correspondência: rua São Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 - São Paulo (SP) telefones: 11 5084-6693/6695 - fax: 11 5084-6298 - e-mail: [email protected] - site: www.adeva.org.br. Editoração gráfica: Fernanda Lorenzo. Revisão: Célia Aparecida Ferreira. Fotolitos 2 e impressão: PR Artes Gráficas. Tiragem: 1.500 exemplares. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. Índice Opinião|Editorial............................p. 2 Lazer|Estive lá e gostei!.............p. 3 Adeva|Em foco............................p. 4 Talentos...........................p. 6 Parceiros..........................p. 7 Mercado de Trabalho|Profissão:.........................p. 8 Esporte|Um direito de todos.........p. 9 Tecnologia|Convivaware....................p. 10 Na rede............................p. 11 Literatura|Distinto olhar...................p. 11 Espaço poético................p. 12 Mais!|Para seu lazer..................p. 12 LAZER Estive lá e gostei! A China faz parte do cenário paulistano Comida, Medicina e práticas milenares chinesas já têm seu lugar conquistado Por Sidney Tobias de Souza | [email protected] Recentemente, o Brasil comemorou o expressivo aumento das parcerias de negócios com a China. É de se esperar, portanto, que a presença chinesa em nosso país seja cada vez maior. Mas já há algum tempo encontramos traços da milenar cultura chinesa aqui em São Paulo. E não é apenas no semblante da população que imigrou para a nossa cidade. Para o corpo e a mente Diversos recursos da medicina chinesa já foram adotados pelos brasileiros como terapias complementares à medicina ocidental, como o mochabustão, a ventosa, a eletroterapia, a auriculoterapia e a acupuntura. Na busca de equilíbrio, relaxamento e do bom funcionamento dos órgãos, muitas pessoas também praticam, inclusive no parque do Ibirapuera, o tai chi chuan, cujos princípios são perceber os significados de “ter forma-sem forma” e “parada dentro do movimento-movimento dentro da parada”. Seus adeptos afirmam que o tai chi chuan é ótimo para exercitar a mente, uma vez que é preciso pensar antecipadamente nos passos e movimentos a serem executados. Que tal dar um pulinho no Ibira para conhecer esta prática milenar chinesa? As aulas são gratuitas: às segundas-feiras, das 10h às 11h30 e às sextas-feiras, das 9h às 10h30, entrada pelo portão 5, na av. IV Centenário. Idioma Quer aprender uma língua que possui mais falantes no mundo do que qualquer outra? Aprenda o mandarim. O mandarim padrão, a língua oral oficial da China, e seus oitenta mil caracteres, chamados de hanzis, é ensinado em escolas especializadas, como a Chinbra-Centro de Língua e Cultura Chinesa, no bairro da Vila Mariana. Para praticar, você terá à sua disposição o Jornal Taiwanês, um semanário de oito páginas, editado às quartas-feiras, com distribuição gratuita nos pontos de comércio do bairro da Liberdade, ou o Jornal Chinês para a América do Sul, vendido nas bancas de jornais, principalmente da Liberdade, de terça a sábado, com catorze páginas em média e uma tiragem de quase 10 mil exemplares. Cães de Fu Apesar de o panda gigante ser o animal mais usado pelos chineses como um emblema nacional, no ocidente, ainda associamos a China à figura do dragão, devido, em grande parte, aos filmes de arte marcial e à tapeçaria chinesa. Mas há outros animais que simbolizam o país, como os cães de Fu ou leões mitológicos, por exemplo. Eles são símbolo de energia, vigilância e valor. Os cães de Fu mostram-se em pares (daí o plural) e com o macho tendo uma pata dianteira apoiada sobre uma esfera. A Cidade Proibida, na China, tem vários casais de cães de Fu como guardas e, aqui em São Paulo, eles podem ser vistos adornando a entrada do edifício China Trade Center da rua Pamplona, na Bela Vista. Gastronomia A culinária chinesa foi além dos pastéis e se popularizou de vez no Brasil após ser oferecida em caixinhas, com frango xadrez ou yakisoba entregues em domicílio. Mas se você quiser uma comida chinesa fora da caixa, em Sampa há ótimos restaurantes. Sugestão? Aqui indicamos algumas: como entrada, o famoso rolinho primavera, os dim sum (pasteizinhos fritos ou cozidos no vapor), ou pequenas porções de petiscos, as deliciosas lulas à dorê ou as almôndegas de carne de porco e acelga, cozidas no molho de soja. Para o prato principal, as costelas suínas ao molho agridoce, ou o frango empanado ao molho de gengibre, camarões, mexilhões e vegetais; lula refogada ao molho de gengibre e ervilha-torta; risoto de camarão com ovo e legumes; pato assado com molho agridoce; pato frito ao molho de soja, alho e gengibre, ou o bom e original macarrão chinês. De sobremesa, uma boa opção são as frutas carameladas: maçã, abacaxi ou as bananinhas. Gostou? Então, reúna a família e chame os amigos, pois todos cabem em volta das grandes mesas redondas características dos restaurantes chineses. Fique tranquilo: as porções são fartas e com bons preços. 3 ADEVA Em foco 37 anos Neste mês de agosto, a ADEVA comemora 37 anos de trabalho em prol da capacitação da pessoa com deficiência visual para o mercado de trabalho. Venha comemorar conosco! Missa de Ação de Graças, na capela do Hospital Santa Catarina, av. Paulista nº 200, dia 11 de agosto, às 19h. Jantar no Bar Brahma, av. São João nº 677, Centro, dia 11 de novembro, a partir das 19h30. Acesso para Todos O projeto Acesso para Todos, criado pela ADEVA, pelo escritório E-hipermídia e pela Web2Business, oferece consultoria e construção de websites acessíveis segundo os padrões da W3C, comunidade internacional que estabelece os padrões da web. Mais informações no site http:// www.acessoparatodos.com.br/ Curso de teatro Estão abertas as inscrições para a Oficina de Teatro ADEVA dirigida a pessoas com e sem deficiência visual. As aulas, gratuitas, acontecem às segundas-feiras, das 17h30 às 19h, na rua São Samuel, 174, Vila Mariana. Para mais informações, telefone 5084-6693 ou 5084-6695, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Participe! Para colaborar com nossos projetos, faça uma doação em dinheiro pelo sistema PagSeguro no link http://www.adeva.org. br/comocolaborar ou doe Cupons e Notas Fiscais sem registro do CPF ou CNPJ. Para a entrega dos Cupons, entre em contato com Rosana pelo e-mail: rosana@adeva. org.br ou pelos tels.: 11 5084-6693 / 6695. Gráfica braille 4 A gráfica da ADEVA oferece serviços de impressão em braille e em tipos ampliados de apostilas, livros, cardápios, catálogos, folhetos, holerites etc. para pessoas físicas e jurídicas, em todo o território nacional. Orçamentos pelo e-mail: [email protected]. br ou pelos tels.: 11 5084-6693 / 6695 com Miguel Leça. Nossa Festa Junina A festança foi de arrasar. E foi festa junina, no dia 27 de junho, com muita dança e comilança. 5 ADEVA Talentos A educação ocupa seu tempo integralmente Ensinar é fonte de alegria e conhecimento para a professora Cida Por Lúcia Nascimento | [email protected] Ensino, motivação, alegria, aprendizado. Estas são algumas das palavras que definem a pedagoga Aparecida Alves de Oliveira, 51, e que movem o seu trabalho como professora universitária e de braille. Desde 2014, ela é uma das colaboradoras da ADEVA, onde ensina o sistema braille de escrita e leitura, às segundas-feiras, das 13h30 às 15h30. “Ouvi falar da ADEVA quando trabalhava na URDV [Unidade para Reabilitação de Deficientes Visuais]; nossos alunos comentavam sobre seus cursos de informática, sobre sua gráfica... Mas conheci mesmo a ADEVA em junho do ano passado, porque participei do projeto ADEVA-Prefeitura de Barueri. Desde então, ‘é só alegria’, como diz o Francisco, instrutor de orientação e mobilidade, meu colega de trabalho neste projeto.” Sua história Aparecida Alves de Oliveira, a professora Cida, tem baixa visão causada por uma atrofia óptica e miopia nos dois olhos. A limitação visual não a impediu de acreditar em um caminho vitorioso, construído com estudo, trabalho e determinação. “Nasci na cidade de São Paulo, mas passei a infância em São Bernardo do Campo (SP).” Em 1996, iniciou a carreira de educadora no interior paulista, em Santa Bárbara d´Oeste, ingressando no curso de Magistério. Em 1999, foi contemplada com uma bolsa integral para o curso de Pedagogia e voltou para São Paulo. Formou-se pela Universidade São Marcos em 2003. Certa de que ensinar era sua missão, Cida fez três pós-graduações: em educação especial e tecnologias, em educação a distância e em formação de docentes para o ensino superior, “atendendo também as exigências educacionais do Ministério da Educação, pois sou professora na faculdade de Pedagogia da Universidade Nove de Julho (Uninove), onde ministro disciplinas voltadas para a inclusão de pessoas com necessidades especiais”. Atualmente, Cida também é mestranda na Uninove. O tema da tese que espera defender até o final de 2016 é o aluno de sala de recursos multifuncional para deficientes visuais. Seu campo de pesquisa é a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Professora Inah de Mello, em Santo André, no ABC paulista. Infância e família “Minha infância foi marcada pela baixa visão, pela obesidade, por chacotas e dificuldades de aprendizado. Era bem ‘levada’, Jogo rápido com Aparecida Alves de Oliveira Signo: Escorpião. | Cor: Lilás. | Hobby: Caminhar na praia ao final da tarde ou no amanhecer. | Um filme: Titanic (1996). | Um livro: a Bíblia. | Um estilo de música: Solo com violão. | Uma música: Magie d’amour, de Jean Pierre Posit. | Cantora preferida: Joana. | Cantor: Guilherme Arantes. | Sobre a deficiência: Limitação. | Religião: Evangélica. | Deus: Orientador. | Amigos: “Anjos”. | Amor: Liberdade. | Esporte preferido: Futebol. | Time do coração: Corinthians. | Família: União. | Um sonho: Doutorado em Educação. | Uma frase: Ouvir, ouvir, ouvir. 6 ADEVA nunca fui uma aluna exemplar e pouco aprendia, pois meus pais só descobriram que eu era míope na segunda série. Por sofrer gozações (meus óculos eram fortes e eu era muito gorda), usava minhas dores de cabeça para enganar minha mãe e justificar minhas ausências na escola.” “Hoje, apesar de ter orgulho de cada uma das minhas conquistas, devo admitir que a atenção e o carinho da minha família me ajudaram muito a superar os problemas e a realizar o sonho de ingressar na faculdade. Eles sempre estiveram ao meu lado e se doaram para que eu, aos 35 anos, fosse a primeira da família a cursar uma universidade. Por amor e gratidão, sempre arrumo um tempinho para meus familiares, mesmo que, às vezes, sejam apenas algumas horas, por conta das minhas inúmeras atividades. E quero mencionar aqui todos eles: meus pais, já falecidos, o senhor Joaquim e a dona Irene, minha irmã Silvia, meus filhos, o Délio Fernando e a Mayara Helena, e meus netos, o Rodrigo e o Íthalo. Na ADEVA “Meu trabalho na ADEVA é muito gratificante, pois acredito que uma aula é um degrau para subirmos rumo às nossas conquistas e à realização de nossos sonhos.” Quase a totalidade dos seus alunos – 99% – tem cegueira adquirida ou baixa visão severa. “Suas histórias marcam minha vida e me dão força e ânimo para correr contra o tempo e garantir minhas horas semanais de trabalho junto deles.” “Muitos chegam profundamente abalados, ‘perdidos’, desesperados e com medo. A ADEVA busca oferecer condições de crescimento, participação e socialização para todos que passam por essa nova fase de suas vidas. Se não trabalharmos em equipe, nós pouco poderemos ajudá-los e às suas famílias. Por esta e por tantas outras razões é que tenho orgulho de trabalhar com esta equipe chamada ADEVA!” Parceiros O novo parceiro está na “Ilha da Visão” ADEVA e a empresa Iacocca se encontram no Conjunto Nacional Entre os dias 18 e 30 de agosto, a ADEVA estará apresentando à população da cidade de São Paulo, na mostra “Ilha da Visão”, sua história e o trabalho que desenvolve há 37 anos em favor das pessoas com deficiência visual. Nesta exposição, no piso térreo do Conjunto Nacional da avenida Paulista, das 9h às 21h, os milhares de paulistanos que diariamente circulam por lá poderão conhecer o sistema braille de escrita e leitura, apreciar apresentações do Coral da ADEVA, observar impressoras braille produzindo cardápios, folhetos, apostilas etc. e viver uma experiência multissensorial dentro de um túnel totalmente escuro, conduzidos por pessoas cegas, entre outras atrações. A “Ilha da Visão” é resultado da parceria entre a ADEVA e a Iacocca Assessoria de Marketing Cultural, empresa com sede em São Paulo (SP), http://www.iacocca.art.br/. “Atuamos há mais de 30 anos com edição de livros, exposições de arte, eventos culturais, assessoria de marketing e comunicação. Nesta área, desenvolvemos também um trabalho de cunho social, divulgando instituições focadas na alfabetização, na promoção de campanhas de prevenção voltadas à saúde, na capacitação para o trabalho e na inclusão”, esclarecem seus diretores, os jornalistas Valkiria e Ângelo Iacocca. “Foi por isso que contatamos a ADEVA e propusemos a divulgação, em um espaço de grande visibilidade, do valioso trabalho que esta instituição desenvolve há mais de três décadas e que ainda é pouco conhecido do público em geral. O Conjunto Nacional recebe, todos os dias, cerca de 35.000 visitantes, ou seja, um milhão de pessoas passam por ali mensalmente.” “As ações definidas em conjunto com a diretoria da ADEVA pretendem, também, por meio de painéis, balcões de atendimento, distribuição de folhetos e ações práticas e experimentais quebrar tabus, mitos e combater o preconceito que envolve a cegueira”, acrescenta Valkiria. “Convivo com dois primos que têm deficiência visual e sei o que significa viver em uma sociedade essencialmente focada na aparência.” 7 MERCADO de TRABALHO Profissão: analista de sistemas Tecnologia da Informação é seu campo de trabalho Alexandre é analista de sistemas e começou a programar com onze anos Por Lúcia Nascimento | [email protected] Alexandre Santos Costa, 36, nasceu com glaucoma. “Tinha baixa visão até 2007, quando fiquei cego.” Este fato, que poderia ter sido uma tragédia, foi o recomeço da sua vida profissional. O início e o meio “Lido com computadores desde os nove anos, com onze já sabia programar e, boa parte do meu conhecimento, devo aos livros e à curiosidade. Alexandre fez o primeiro curso de informática na quarta série, quando ganhou uma bolsa de estudo de uma linguagem de programação. “Dois anos depois, aprendi a programar seguindo o manual do meu TK85 (computador nacional), um tecladinho com uma pecinha de borracha que se ligava na televisão.” No início dos anos 90, criou e instalou um programa para facilitar a vida do seu pai na hora de fazer a declaração do imposto de renda. “Ele, como todo mundo naquela época, fazia tudo na ponta do lápis.” Aos 14 anos, Alexandre aprendeu o sistema DOS (Disk Operating System), seu primeiro contato com um micro. “Foi quando aceitei o convite de um professor do curso para montar uma filial da escola dele e dar aulas de informática.” Mas, em 1998, “senti falta de programar; então, recomecei a me especializar e a trabalhar na área de sistemas”. “Atuei na área de TI, em consultorias, atendendo grandes clientes. Trabalhei também no Mercado Eletrônico, na Marketing Ware e na Emphasys, desenvolvendo sistemas internos e aplicativos para web. Em 2005, eu e um sócio fundamos a Punto Info. Prestamos serviços para a Pan America Health Office (PAHO), um dos ‘braços’ da Organização Mundial da Saúde (OM), por dois anos.” A deficiência visual e a TI “A área de TI ‘abraça’ o profissional com deficiência visual, pois nos permite trabalhar de forma independente e produtiva.” Mas, ao mesmo tempo, é nela onde se emprega menos, porque as empresas acreditam que a adaptação do ambiente de trabalho precisa ser grande. “Muito pelo contrário, o profissional de TI com deficiência visual precisa apenas de um leitor de tela para exercer suas funções. Eu uso o NVDA, que é gratuito. Com ele, sou capaz de fazer o que qualquer profissional de TI que enxerga faz.” 8 A conclusão Alexandre recorreu à Lei de Cotas apenas quando ficou cego. “Tinha me afastado do mercado de trabalho por causa da perda de visão, quando soube que o Itaú BBA estava contratando pessoas com deficiência. Enviei meu currículo, passei por uma entrevista técnica, fui contratado em 2008 e fiquei lá até 2013. Hoje, trabalho como desenvolvedor do Banco Itaú.” I Encontro Nacional de Profissionais de Tecnologia da Informação com deficiência visual “Não tenho dados atualizados e precisos sobre a quantidade de deficientes visuais que trabalham na área de TI no Brasil, mas creio que o número é pequeno. Penso que, a partir do próximo dia 29 de agosto, este cenário pode mudar para melhor.” Nesta data, na rua Estela, 268, na cidade de São Paulo, acontece o I Encontro Nacional de Profissionais de Tecnologia da Informação com Deficiência Visual (ENTIDV), evento organizado por Alexandre, com o apoio da Faculdade BandTec. O ENTIDV nasceu porque “nos eventos técnicos que frequento desde 2011, notei que acessibilidade era um tema pouco abordado e a participação de profissionais com deficiência visual, mínima. Senti como era importante a presença desses profissionais para reciclagem, troca de ideias e, principalmente, para quebrar tabus e preconceitos”. O Encontro não tem fins lucrativos e as inscrições, gratuitas, podem ser feitas neste endereço http:// www.entidv.com.br/ ESPORTE Um direito de todos O cume é a meta e o limite Escalada também é esporte para todos Por Sidney Tobias de Souza | [email protected] Você já se imaginou subindo em uma parede rochosa ou em um paredão? Pois saiba que para realizar esta proeza você não precisa ser o Homem Aranha. Basta praticar escalada, uma técnica desportiva cujo objetivo é atingir o topo de uma parede rochosa, de um bloco ou de um muro. Fui apresentado a este esporte por meu amigo, o Otto Westin (1963-2014), praticante de escalada esportiva apesar de ser cego. Mas minha primeira prática aconteceu em uma feira de esportes radicais. Se não fosse a dor nos braços que senti devido à falta de técnica, eu teria chegado ao cume da parede. Depois desta tentativa frustrada, pesquisei lugares para praticar e descobri várias academias especializadas em escalada esportiva indoor (em ambiente fechado) aqui em São Paulo. Os treinos para iniciantes são em uma estrutura (parede) artificial feita em madeira ou em betão, com diversos graus de dificuldades e inúmeras agarras que permitem a escalada por toda sua extensão. O básico imprescindível Há três itens essenciais para desfrutar da prática da escalada: (1) um equipamento confiável; (2) um treino intensivo; e (3) bom senso. Confiança excessiva atrapalha e a segurança é fundamental: capacete, cadeirinhas e travas automáticas são indispensáveis. Além deste equipamento, é necessário treino regular: três sessões semanais é o ideal. Existem limites de segurança que devem ser treinados constantemente. Treinamento O principal objetivo do treino é o desenvolvimento da técnica, com subidas constantes pelas paredes, sempre visando chegar ao topo. É importantíssimo possuir boa condição física, alcançada por meio de exercícios anaeróbicos e aeróbicos, que trabalhem tanto o equilíbrio como a força muscular. Na escalada esportiva, muitas vezes, o praticante é levado à exaustão - principalmente dos braços, que são os membros mais acionados. Alguns desportistas mais experientes, em um exercício de desenvolvimento da técnica e de memorização, treinam de olhos vendados. Portanto, deficientes visuais encontram bom suporte para a prática da escalada. No solo, a segurança para orientar o esportista se dá por meio de comandos do tipo: “agarra ao meio-dia” ou “agarra às nove horas”, uma referência direcional baseada no relógio analógico. Esta comunicação também deve ser treinada, pois há termos técnicos que devem ser assimilados para que a escalada seja agradável e segura. Todo este esforço é recompensado, garantem os praticantes, com uma sensação prazerosa de conquista de objetivo. Que tal então experimentar escalar um paredão com os amigos? Se me convidarem, eu vou! 9 TECNOLOGIA Convivaware O Marco Civil da Internet é para “pegar” ou não? Aprovada e com projeção internacional, a Lei 12.965 já não é notícia Por Laercio Sant’Anna | [email protected] Aprovado na Câmara dos Deputados em 25 de março de 2014, o Projeto de Lei nº 2.126/2011.6 tramitou pelo Senado e foi ratificado no dia 23 de abril. Sancionado pela presidente Dilma Rousseff em maio do mesmo ano, deu origem ao Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965. Passado mais de um ano, se não fosse seu apelido, “Constituição da Internet”, poucos saberiam do que se trata esta Lei. Aliás, acredito que muita gente não entende exatamente seu porquê. A World Wide Web Quando, em 25 de abril de 1989, o físico e pesquisador britânico Tim Berners Lee apresentou a primeira proposta da World Wide Web (WWW), provavelmente, não imaginava estar oferecendo ao mundo uma ferramenta que, em minha opinião, faria parte do início de uma nova era na forma de comunicação da humanidade. Isto porque, um dos grandes diferenciais da Internet é justamente a liberdade de expressão e a facilidade de acesso. Por meio das redes sociais, pessoas de todas as classes e variadas culturas têm as mesmas oportunidades de exposição e manifestação. Se essa característica serviu como mola propulsora para o crescimento da Internet no mundo, também trouxe problemas. Grupos poderosos e pessoas influentes tentam manipular conteúdos e informações em benefício próprio. Haja vista o ocorrido com o governo brasileiro no caso da NSA, a Agência de Segurança Nacional norte-americana que, com a desculpa de se proteger de grupos terroristas, espionou o e-mail e o celular da presidente Dilma. 10 O porquê da Lei O Marco Civil da Internet estabelece princípios, garantias, direitos e deveres dos usuários da Internet no Brasil. Foi construído de forma colaborativa entre governo e sociedade civil, utilizando a Internet como plataforma de debate. O texto do projeto aborda questões ligadas à privacidade, cuidado e backup de dados, imparcialidade da rede, além da preocupação com a função social que o ambiente digital deve ter, especialmente na garantia da liberdade de expressão e transmissão de conhecimento, além da imposição de obrigações de responsabilidade civil aos usuários e provedores. Em outras palavras, estabelece quais são os direitos e deveres de todos no uso da Internet. Até porque, ao contrário do que se pensa, não é a ausência de regras que torna a Internet um ambiente franqueado, mas, sim, a existência de normas que defendem a livre manifestação de ataques arbitrários e autoritários. O Brasil ganhou notoriedade internacional por criar uma lei que se propõe a regular o uso da Internet. Contudo, o assunto é polêmico e, passado mais de um ano, ainda existem pontos que geram discordância e aguardam regulamentação. De qualquer maneira, foi uma surpresa sua aprovação, pois ela contraria interesses econômicos poderosos ao garantir direitos aos cidadãos. Seu futuro Por enquanto, a “Constituição da Internet” parece ter mais potencial na teoria do que na prática. No último dia 31 de março, o Ministério da Justiça encerrou a possibilidade de contribuição para sua regulamentação no site http://participacao.mj.gov.br/marcocivil/. Agora, as sugestões serão compiladas e a Presidente deve regulamentar a Lei. Mas algo que me deixa com a pulga atrás da orelha. É que, diferentemente do que ocorreu quando o projeto estava indo à votação e a mídia falava no tema, hoje, não se ouve mais nada a respeito. Por que será que o assunto está esquecido pelos meios de comunicação?! É do conhecimento de todos que no Brasil temos leis que pegam e leis que não pegam. Será?... TECNOLOGIA Na rede LITERATURA Distinto olhar DDReader Este aplicativo auxilia a leitura de livros digitais acessíveis Daisy (formato de arquivo padrão aberto). Disponível para download gratuito no Google Play. https://play.google.com/store/apps/ details?id=org.daisylatino.ddreader&hl=pt-BR Indeed App de busca de empregos, com acesso a centenas de sites de empregos, empresas e agências de recrutamento, com vagas em mais de 50 países e 28 idiomas. Disponível para download gratuito no Google Play. https://play.google.com/store/apps/details?id=com. indeed.android.jobsearch&hl=pt-BR TellMyPhone Direcionado a pessoas surdas ou com baixa visão, este aplicativo faz a conversão de voz em texto em diversos idiomas, inclusive em português. Disponível para download gratuito no Google Play. https://play.google.com/store/apps/ details?id=appinventor.ai_arun_mehta.TellMyPhone Nas águas de março Chovia muito. Águas de março fechando o verão. As ruas estavam alagadas e a enxurrada que transbordava das margens da rua Vergueiro impedia qualquer tentativa de travessia. Eram seis e meia da tarde. Uma multidão de paulistanos àquela hora voltava para casa. Era essa também a minha intenção. Parado na frente da entrada principal do Centro Cultural São Paulo, eu estava na calçada errada, pois o ponto do meu ônibus ficava no lado contrário. Segurava a bengala com uma das mãos, o guarda-chuva com a outra e esperava alguém disposto a me acompanhar na empreitada, Depois de quase uma hora aguardando um braço solidário, senti que os que passavam por mim, antes ocupados em se salvar do dilúvio, nem se davam conta da minha necessidade. Com a impaciência domesticada por 30 anos de cegueira, me dispus a esperar a chuva pelo menos amenizar para ter a ajuda de um sobrevivente. Foi quando ouvi alguém me perguntar: - Quantos quilos o senhor pesa? Pergunta estranha para aquele momento e lugar... Mas respondi. - Uns sessenta quilos. No minuto imediato, me vi erguido do chão por braços vigorosos. E, sem que eu tivesse tempo para uma recusa ou qualquer reação de protesto, fui levado até o outro lado da rua... no colo. Cheguei em casa com a roupa encharcada, mas com os sapatos secos. Liane Constantino | http://distintolhar.blogspot.com.br 11 LITERATURA Espaço poético Um dedo de trova No passo com que se expande, cada vez entendo menos, como uma fome tão grande tem pezinhos tão pequenos! Antonio Oliveira Eu faço agora um reparo, embora você não faça: – Se o nosso amor é tão caro, por que brigamos de graça? Cônego Telles (PR) Diz a viúva ao ouvido, explicando a gravidez: “O fantasma do marido me apareceu outra vez”. A FELICIDADE Ela veio bater à minha porta, e falou-me, a sorrir, subindo a escada: “Bom dia, árvore velha e desfolhada!” E eu respondi: “Bom dia, folha morta!” Entrou e nunca mais me disse nada... Até que um dia (quando, não importa!) houve canções na ramaria torta e houve bandos de noivos pela estrada... Então, chamou-me e disse: “Vou-me embora! Sou a felicidade! Vive agora da lembrança do muito que te fiz!” E foi assim que, em plena primavera, Só quando ela partiu contou quem era... E nunca mais eu me senti feliz! Guilherme de Almeida Maria Reginato Por Lothar Bazanella MAIS! Para seu lazer Ilha da Visão I ENTIDV Assim Vivemos A ADEVA estará em exp osição n o Conjunto Nacional, mostrando o sistema braille de escrita e leitura, ensinando orientação e mobilidade com o uso da bengala, apresentando as impressoras braille, seu Coral, oferecendo seus serviços e proporcionando aos visitantes uma experiência multissensorial em um túnel totalmente escuro guiados por pessoas cegas. De 18 a 30 de agosto, das 9h às 21h, de segunda a domingo, av. Paulista nº 2073 (piso térreo), Bela Vista, São Paulo (SP). Grátis. Evento inédito no Brasil, focado na inclusão de pessoas com deficiência visual na área de Tecnologia da Informação (TI). Sua meta é reunir os profissionais que já atuam e os que desejam ingressar nesse mercado de trabalho. Para participar, basta preencher a ficha de inscrição em: http:// www.entidv.com.br/Inscricao/ Dia 29 de agosto, Faculdade BandTec, r. Estela, 268, São Paulo (SP), tel.: 5574-6844. Grátis. O festival de cinema “Assim Vivemos” estará em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) da cidade de São Paulo em setembro e outubro. A 7ª edição do festival apresentará os melhores filmes produzidos no mundo sobre o tema da pessoa com deficiência, oferecendo todos os recursos de acessibilidade necessários ao público com deficiência visual, auditiva e motora. De 23 de setembro a 5 de outubro, rua Álvares Penteado nº 112, Centro, tels.: 3113-3651 / 3113-3652. Grátis. ADEVA - Associação de Deficientes Visuais e Amigos Correspondência: rua São Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 São Paulo (SP) - e-mail: [email protected] - site: www.adeva.org.br Nossos Parceiros