UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA CENTRO DE HUMANIDADES CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS MESTRADO ACADEMICO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE PATRÍCIA DE PONTES TEIXEIRA LIMA ALHADEF PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O CONSELHO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE AQUIRAZ FORTALEZA – CEARÁ 2012 2 PATRÍCIA DE PONTES TEIXEIRA LIMA ALHADEF PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O CONSELHO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE AQUIRAZ Dissertação submetida ao Curso de Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Políticas Públicas e Sociedade. Orientação: Prof. Dr. Horácio Frota FORTALEZA – CEARÁ 2012 3 A397p Alhadef, Patrícia de Pontes Teixeira Lima Participação e controle social: um estudo de caso sobre o conselho municipal de assistência social de Aquiraz / Patrícia de Pontes Teixeira Lima Alhadef . – 2012. 179f. : il. color., enc. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Humanidades, Curso de Mestrado Acadêmico em Política Pública e Sociedade, Fortaleza, 2012. . Orientação: Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota. 1. Estado e democrácia. 2. Participação e controle social. 3. Conselhos. I. Título. CDD: 361 4 PATRÍCIA DE PONTES TEIXEIRA LIMA ALHADEF PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O CONSELHO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE AQUIRAZ Dissertação submetida ao Curso de Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Políticas Públicas e Sociedade. Orientação: Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota APROVADA EM: ______/_______/_______ BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Prof. Dr. Horácio Frota (Orientador) Universidade Estadual do Ceará ___________________________________ Profa. Dra. Rejane Bezerra Andrade Universidade Estadual do Ceará __________________________________ Dra. Georgia Patrícia Guimarães dos Santos Universidade Federal do Ceará 5 Á Isabel, por me ensinar que o êxito não é resultado do acaso, mas da insistência em seus objetivos. Larissa e Fernanda... tudo de sempre! 6 AGRADECIMENTOS Durante estes dois últimos anos muitas pessoas participaram da minha vida. Dentre estas, algumas se tornaram especiais, seja academicamente ou pessoalmente; e seria difícil não mencioná-las. Agradeço a todos os professores do Curso de Ciências Políticas e do Mestrado Acadêmico, que me ensinaram para além do que se pode ver. À Profª. Dr.ª Rejane Bezerra, pelo incentivo, paciência e disponibilidade durante a realização deste estudo. Obrigada pela atenção, amizade e dedicação ao longo deste período. Ao Prof. Dr. Horácio Frota, pela confiança. Ao Prof. Dr. Josênio Parente, por todas as colocações feitas no momento da qualificação, sem as quais essa dissertação, não seria “essa dissertação”. À Professora Geórgia Patrícia, pelas contribuições. A Deus! Aos meus Avós, Patrício e Isabel (in memórian). Sei que teriam orgulho. Á minha mãe, Isabel, tudo sempre, em todas as horas! Ao meu Pai, Júlio Cesar. As minhas filhas, Larissa e Fernanda, pedaços de mim, sempre compreensivas. Às minhas Irmãs, Júlia e Isabella, companheiras de sonhos. Aos meus tios, Verônica, Ruth, Patrício e Otacílio, pelo apoio constante. À Lúcia Macêdo Sales, por ter me apresentado à Aquiraz. Bianca Garcia, Claudia Pontes, Conceição Passos, Lídia Freitas, Katyuscya Arraes, Sabrina Maia pela amizade e pelo apoio na pesquisa. Aos Conselheiros Municipais de Aquiraz, pela disponibilidade. À FUNCAP, pelo apoio financeiro, com a manutenção da bolsa de auxílio. Aos colegas da turma de Ciências Políticas da Unifor e do Mestrado Acadêmico da UECE, especialmente ao futuro Dr. João Paulo Bandeira de Souza, pelas reflexões, críticas e sugestões recebidas. Às amigas de longe, que sempre “perto”, acompanham ainda que de modo virtual cada passo deste trabalho. 7 “É espantoso como a história se perde entre nós! A cada nova geração é como se houvesse um corte com relação ao passado e tudo estivesse permanentemente começando. Como eterno 'país do futuro', tendemos sempre a buscar negar nosso passado (que nos envergonha) e a querer construir algo radicalmente diferente” (AZEVEDO, Ricardo. Apresentação. In: AZEVEDO, Ricardo; MAUÉS, Flamarion (org.). Rememória: entrevistas sobre o Brasil do século XX. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1997:8). A dimensão “perigosa” do controle social se inicia pelo equívoco conceitual. 8 RESUMO Esta dissertação discute o Tema: Participação e controle social: um estudo de caso sobre o conselho municipal de assistência social de Aquiraz. Orienta-se na busca de respostas para uma questão central: Os conselhos municipais de assistência social cumprem com sua responsabilidade de participação e controle social conforme os determinantes da Política de Assistência Social? A abrangência em Aquiraz foi determinada por sua importância histórica, particularidades e vida própria. No esteio dos problemas locais, duas hipóteses orientaram a busca de repostas, a saber: “a política de assistência social não apresenta avanços significativos na construção da cidadania no município de Aquiraz, por diferentes fatores, sendo um agravante, o despreparo dos (as) conselheiros(as) para o cumprimento da responsabilidade que lhes cabe na defesa do interesse público”. Outra hipótese levantada foi a de que “os conselheiros enfrentam grandes limitações ao exercício imparcial de suas funções, a começar pelo desconhecimento do seu próprio papel na defesa dos interesses do público da assistência social.” A seleção do estudo de caso convergiu para a aplicabilidade da pesquisa bibliográfica, documental e de campo, utilizando-se de questionário para orientar entrevistas realizadas com uma amostra de 24 conselheiros representando o universo de 72 atores sociais que no período compreendido entre 2005 até 2010 assumiram essa função. No primeiro capítulo, discute-se a consolidação do capitalismo, o confronto entre Estado e sociedade; a redemocratização e a participação social em períodos distintos da história até a realidade democrática contemporânea. No segundo, a trajetória histórica da assistência social entra em cena em suas práticas assistencialistas até atingir o status de política pública. A terceira parte deste estudo analisa a construção histórica da democracia no Estado do Ceará, e culmina esboçando reflexões sobre o Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz, identificando-se o perfil dos conselheiros, suas concepções teóricas e a dinâmica de funcionamento deste conselho oferecendo referências para a compreensão de como se efetivam as disputas e debates em torno da definição das prioridades municipais. Os achados elencados ao longo deste estudo permitem afirmar as hipóteses a principio levantadas, considerando-se que a capacidade dos conselheiros em participar e exercitar o controle social da política mostrou-se limitada, o que compromete a autonomia destes na formulação e na proposição de ações que fomentem a transformação da realidade local. No que concerne às condições objetivas dispensadas pelos gestores municipais aos conselheiros para o exercício de suas responsabilidades identificou-se que a eles tais condições não foram garantidas. PALAVRAS-CHAVES: Estado e Democracia, Participação e Controle Social, Conselhos de Políticas Públicas. 9 ABSTRACT This dissertation addresses the theme Participation and Social Control: a case study about the municipal council of social assistance of Aquiraz. It goes after answers to a central question: do the municipal councils of social assistance fulfill their responsibility of participation and social control according to the determining factor of the Social Assistance Politics? The scope in Aquiraz has been determined by its historical importance, its particularities and its life of its own. As a result of the local problems, two hypotheses guide the search for answers: “the social assistance politics does not show significant advances in the construction of citizenship in the town of Aquiraz for different reasons, and an aggravating circumstance is the unpreparedness of the counselors for the fulfillment of their responsibility in the defense of the public interest.” Another hypothesis considered is that “the counselors face great limitations to the impartial execution of their jobs, beginning with the lack of knowledge of their role in the defense of the interests of the public of social assistance.” The selection of the case study pointed towards the applicability of the bibliographical research, documental and in the field, by use of questions to direct the interviews made with 24 counselors that represented the universe of 72 social actors that, in the time period between 2005 and 2010, took this job. In the first chapter, the consolidation of capitalism is discussed, the confrontation between state and society, the redemocratization and social participation in different time periods until the present democratic reality. In the second, the historical course of social assistance is displayed, with its assistencialist acts until reaching the status of public politics. The third part of this study analyses the historical construction of democracy in the state of Ceará and ends with reflections about the Municipal Council of Social Assistance of Aquiraz, with the identification of the counselors’ profile, their theoretical conceptions and the working dynamics of this council with references to the understanding of the disputes and debates around the definition of municipal priorities. The discoveries pointed out throughout this study allow us to affirm the hypothesis mentioned in the beginning, considering that the capacity of the counselors in participating and implementing the social control of the politics has shown itself to be limited, which compromises their autonomy in the formulation and proposition of actions that promote the transformation in the local reality. In relation to the objective conditions given by municipal managers to the counselors for the implementation of their responsibility, it has been identified that these conditions have not been guaranteed to them. KEYWORDS: State and democracy, Social participation and control, counsels for public politics. 10 LISTA DE QUADROS 1 SOBRE O PERFIL DOS CONSELHEIROS Quadro 1. Período de Mandato dos Conselheiros …................................................... 155 Quadro 2. Sobre o Local de Residência dos Conselheiros …...................................... 155 Quadro 3. Sobre o Local de Trabalho Atual …............................................................. 155 Quadro 4. Sobre o Tempo que Trabalha / Trabalhou em Aquiraz …........................... 155 Quadro 5. Sobre a faixa etária dos conselheiros …..................................................... 156 Quadro 6. Identidade do Conselheiro Segundo o Gênero …....................................... 156 Quadro 7. Grau de Instrução dos Conselheiros …...................................................... 156 Quadro 8. Disponibilidade de Tempo -Frequência dos Conselheiros nas Reuniões … 156 Quadro 9 . Atualmente é Conselheiro em Aquiraz? …................................................. 157 Quadro 10. Sobre o Tempo de Duração do Mandato ….............................................. 157 Quadro 11. Participa de outros Conselhos? …........................................................... 157 2 CONCEPÇÕES TEÓRICAS Quadro 12. O Que Entende Por Controle Social? ….................................................... 158 Quadro 13. O que Entende Por Participação? …......................................................... 159 Quadro 14. O que é Ser Conselheiro? …..................................................................... 160 Quadro 15. Quais as Atribuições do Conselheiro? ….................................................. 161 Quadro 16. Conheço a Rede Socioassistencial do Município? …............................... 162 Quadro 17. Opinião sobre a Política Municipal de Assistência Social de Aquiraz …... 162 Quadro 18. Conhece os Critérios de Concessão de Benefícios Eventuais? …............ 163 3 A PRÁTICA DO CONSELHEIRO Quadro 19. Exerceu a Presidência / Vice Presidência? …............................................ 164 Quadro 20. Como foi Definida a Sua Participação no CMAS de Aquiraz? …............... 164 Quadro 21. Com que frequência participava das Reuniões do CMAS de Aquiraz? ….. 164 Quadro 22. Costumava Emitir Opiniões nas Reuniões do CMAS de Aquiraz? …......... 164 Quadro 23 Minha Opinião era Levada em conta na hora da Tomada de Decisões 11 pelo Colegiado do CMAS de Aquiraz? …...................................................................... 165 Quadro 24. Questões Relativas à Atribuições Específicas do Conselheiro …............. 166 Quadro 25. Acompanhava os Registros no Livro de Atas? …..................................... 166 Quadro 26. Realizava o Controle da PMAS? …........................................................... 167 Quadro 27. Acompanhei e Controlei a Execução da PMAS de Aquiraz? …................ 168 Quadro 28. Minha Participação como Conselheiro Interferiu para a Conquista de Avanços na PMAS de Aquiraz? …............................................................................... 168 Quadro 29. Acompanha o Trabalho da Gestão Atual do CMAS de Aquiraz? …......... 169 Quadro 30. De que Maneira Acompanha o Trabalho da Atual Gestão? …................ 169 4 SOBRE A GESTÃO DO CMAS DE AQUIRAZ Quadro 31. Condições objetivas do CMAS de Aquiraz …......................................... 170 12 SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO 1 ESTADO E SOCIEDADE: RESGATE HISTÓRICO EM DIMENSÕES PLURAIS .......................................................................................................... 13 1.1 O confronto Estado e sociedade ….............................................................. 1.2 A redemocratização e a participação social no Brasil ….............................. 1.3 A realidade democrática do Brasil contemporâneo .................................... 23 31 42 2 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL.................................. 53 2.1 O assistencialismo frente à questão social no Brasil.................................... 2.2 A assistência social como política pública ................................................... 2.3 Participação e construção da cidadania no Brasil ....................................... 53 62 67 3 O CENÁRIO EXPERIMENTAL DA REPRESENTATIVIDADE DOS CONSELHOS: PRESSUPOSTOS E ATITUDES EM FOCO ............................ 79 20 3.1 A construção histórica da democracia no Estado do Ceará ........................ 3.2 Poder local, representação e territorialidade: Reflexões sobre o Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz-Ce ................................................. 3.3 Conselhos e conselheiros: Participação e controle social por/para quem? 3.3.1 O perfil dos conselheiros municipais de assistência social de Aquiraz 3.3.2 Concepções teóricas ................................................................................ 3.3.3 A prática do conselheiro ........................................................................... 3.3.4 Sobre a gestão do Conselho Municipal De Assistência Social de Aquiraz ….................................................................................................... 79 86 95 100 104 110 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... REFERÊENCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ APÊNDICE A – Quadros................................................................................... APÊNDICE B – Roteiro para Pesquisa de Campo......................................... ANEXO A .......................................................................................................... 125 132 155 172 178 119 13 INTRODUÇÃO Os conselhos municipais de assistência social cumprem com sua responsabilidade de participação e controle social, conforme os determinantes da Política de Assistência Social? Essa é a questão central que orienta o desenvolvimento deste estudo, o qual se delineia com o objetivo de analisar a dinâmica da participação e controle social, no interior do Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz-Ceará, a partir das seguintes hipóteses: “a política de assistência social não apresenta avanços significativos na construção da cidadania no município em foco, por diferentes fatores, sendo um agravante, o despreparo dos(as) conselheiros(as) para o cumprimento da responsabilidade que lhes cabe, na defesa do interesse público”. Outra hipótese levantada foi a de que: “os conselheiros enfrentam grandes limitações ao exercício imparcial de suas funções, a começar pelo desconhecimento do seu próprio papel, na defesa dos interesses do público da assistência social”. O Município de Aquiraz foi escolhido para referenciar este estudo, devido à sua importância histórica para o Estado do Ceará. Povoado inicialmente pelos índios potiguara e jenipapo kanydé, e, posteriormente pelos portugueses, religiosos e militares, que vieram habitar esta região, para a catequização dos índios e a proteção do território contra invasões espanholas. Aquiraz possui uma área de 482.8 Km², o que representa 0,32% da área total do Estado. Por estar localizado a 21 Km da capital Fortaleza, possui particularidades e vida própria, ao tempo em que é quase uma extensão desta. Tais peculiaridades, no que concerne à realidade histórica e sua proximidade da capital, justificam a escolha deste, e não de outro município para a área de abrangência deste estudo. No esteio dos problemas sociais vivenciados pela população de Aquiraz, e, observando-se que a Política de Assistência Social supostamente se efetiva “para quem dela necessitar”, outros questionamentos motivaram a realização desta pesquisa. Interessava identificar os requisitos essenciais, para que um ator social viesse a assumir a missão de conselheiro(a), visto que a tais sujeitos compete, 14 dentre outras funções, deliberar sobre os interesses da população e exercitar o controle social da gestão desta política. Se, por um lado, os representantes do governo, em geral, são indicados aleatoriamente e não possuem autonomia para manifestar-se contrariamente aos interesses dos gestores, por outra via, não há isenção dos representantes da sociedade civil dentro dos conselhos, porque muitos deles estão comprometidos com o poder público, numa relação de dependência, pelo custeio municipal de programas, projetos ou outras ações desenvolvidas pelas entidades que representam. Considerando que o processo de participação, no interior dos conselhos, configura-se como uma forma específica de ação representativa, discute-se, com base em uma investigação de caso, a existência de um conjunto único de variáveis presentes e atuantes em todos eles, cujas convergências e similaridades podem vir a fundamentar a base de um modelo explicativo generalizável, para a compreensão destes processos de participação. Em caso de não confirmação de similaridades, busca-se identificar as especificidades locais, que atuariam de forma a determinar a dinâmica própria, empiricamente observada. Este estudo desconsidera a definição que naturaliza a emergência das ações representativas, e adota a perspectiva de que o ato representativo é sempre resultado de um complexo processo de construção social, o qual envolve uma intervenção ativa dos indivíduos e grupos em um campo de oportunidades e limites estruturalmente dados. A seleção dos instrumentos e procedimentos metodológicos convergiu para a aplicabilidade da pesquisa bibliográfica, documental e de campo, adotandose, para tanto, a compreensão de Fachin (2001), sobre o conceito de método, cuja escolha deve estar baseada em dois critérios básicos: a natureza do objeto ao qual se aplica e o objetivo que se tem em vista no estudo. O interesse investigativo por conhecer a dinâmica com que os conselheiros(as) da assistência social no município de Aquiraz exercitam suas funções, convergiu para o desenvolvimento de uma análise qualitativa. Tomou-se por referência a perspectiva do estudo de caso, considerando-se suas vantagens 15 para desvelar o problema e questões levantadas, sem, no entanto, descuidar de suas fragilidades, que concorrem para influenciar o pesquisador a ressaltar evidências equivocadas, em direção a conclusões questionáveis. A definição de Yin (1989), que destaca o estudo de caso como inquietação empírica, que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto de vida real, mostrou-se particularmente útil ao objeto de estudo desta pesquisa, visto que suas fragilidades foram minimizadas pelo cuidado em assegurar a qualidade e a validade de seus resultados. No primeiro capítulo deste estudo, discute-se a consolidação do capitalismo; o confronto entre Estado e sociedade; a redemocratização e a participação social em períodos distintos da história, até a realidade democrática contemporânea. Em seguida, o foco deste estudo se volta para as origens da assistência social no Brasil. Discute-se o período onde as práticas eram realizadas, com base nos preceitos da caridade e da filantropia, enquanto compromissos do Estado para com o povo empobrecido, e toda a trajetória vivenciada no início da década de 1980, no tocante ao alargamento do Estado de Direito, inaugurando a luta pelo fim da prática assistencialista. Enquanto marco legal, a Constituição Federal de 1988 redefiniu e qualificou a assistência social como Política de Seguridade Social, em seu artigo 194, com parâmetros de prestação de serviços e atendimentos às populações. Posteriormente, no artigo 204, ressaltou a importância da descentralização políticoadministrativa e da participação da sociedade nos processos e instâncias de discussão dos temas inerentes a tal política. Um longo processo de lutas e esforços foi empreendido, até que se chegasse a um determinante oficial da Política de Assistência Social, tendo sido a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS – Lei Nº 8.742), sancionada pelo então Presidente da República, Itamar Franco, aos 07 de dezembro de 1993. A LOAS propõe um rompimento com a tradição assistencialista da cultura política do Brasil que, desde meados do descobrimento, desenvolvia-se por meio de 16 trocas e favoritismos de poucos, em detrimento de muitos. A nova lei busca dar fim aos acordos e atos paternalistas, oriundos do fazer político brasileiro em distintas épocas. Seus determinantes devem, portanto, convergir progressivamente para a formulação de políticas públicas e diretrizes, focadas no atendimento ao cidadão em situação de pobreza, independente de seus laços de sangue ou de amizade. A nova configuração da Política de Assistência Social enquanto direito, suscita o fim do assistencialismo enquanto dádiva ou benesses paternalistas, que visavam unicamente exercer o controle social sobre os grupos marginalizados. De acordo com Barbosa (1991), tais atos eram meramente eleitoreiros e usados enquanto meio de obter legitimação e apoio político. O fim da prática da assistência social, enquanto favor, é legalmente postulado e sua concepção determina que esta é direito do cidadão e dever do Estado, tratando-se de uma política de seguridade social não contributiva, que deve prover os mínimos sociais, através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. Tais determinantes legais (LOAS), nortearam um processo de transição que visava repartir competências da União, com os demais entes da Federação, para uma prática política mais eficaz, fundada em novos paradigmas de controle e participação. A terceira parte deste estudo analisa a construção histórica da democracia no Estado do Ceará. Discute conceitos de poder local, representação e territorialidade, esboçando reflexões sobre o Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz. A prática do controle social, através dos conselhos de assistência social, está amparada no conceito de descentralização, que pressupõe, por um lado, a redistribuição dos espaços de exercício de poder – ou dos objetos de decisão – isto é, das atribuições inerentes a cada esfera de governo e, por outro, a redistribuição dos meios para exercitar o poder, ou seja, os recursos humanos, financeiros e físicos (UGA, 1991). 17 Considerando-se as competências do CMAS de Aquiraz, de exercitar o controle social, as experiências de atuação dos seus conselheiros são analisadas na busca dos significados, limites e possibilidades de sua atuação, enquanto representantes de um segmento da sociedade: os usuários da Política de Assistência Social, que residem no referido município. De acordo com Melo (1995), “a participação é uma variável que depende de fatores e arranjos políticos institucionais, que exacerba o poder das instituições em detrimento da vontade particular”. Sem minimizar a importância das experiências individuais de participação, este estudo apresenta uma reflexão sobre o modo como ocorre a dinâmica da participação, no Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz. Isto pressupõe o entendimento do conselho enquanto grupo de pessoas, com interesses e representações distintas, que possuem uma mesma função e objetivo, buscando compreender como suas ações, representativas refletem na política local. Com foco na participação dos conselhos na gestão pública, este estudo discute os impactos e efeitos institucionais do exercício do controle social, por meio de um conselho municipal, e, centra-se na identificação e análise dos fatores explicativos da atuação representativa dos segmentos da sociedade civil e governamentais, em canais de participação direta na gestão pública. A adoção desta perspectiva de análise apresentou uma série de obstáculos. Inicialmente, o objeto que constitui a base empírica deste estudo – a participação social, vivenciada pelo Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz – apresenta-se como algo relativamente recente. Tal Conselho foi criado pela Lei municipal N° 079, de 14 de novembro de 1995. Mesmo assim, este estudo identifica e descreve a dinâmica da participação, deliberação e controle social, no período compreendido entre os anos de 2005 a 2010. Outra dificuldade prática se deu pelo fato de alguns conselheiros empossados em 2005 (ano base deste estudo), não mais participarem da gestão municipal e, mesmo tendo sido consultados sobre o interesse em compor o quadro de referências para esta pesquisa, não manifestaram-se favoráveis, sob os mais 18 diferentes argumentos, deixando uma lacuna na composição da amostra inicialmente pensada. Outra restrição foi constatar que, na representação da sociedade civil, os nomes das entidades e de seus representantes repetem-se, nas sucessivas eleições, o que sugere falta de interesse das demais entidades que integram a rede socioassistencial do município, ou mesmo, a dominação daquelas que se colocam no processo eleitoral, não abrindo espaços para a participação de novos atores sociais locais. Buscando desvendar os significados do controle social exercido pelo CMAS de Aquiraz, este estudo identifica o perfil dos conselheiros e a dinâmica de funcionamento deste conselho, oferecendo referências para a compreensão de como se efetivam as disputas e debates, em torno da definição das prioridades municipais. Os fundamentos teóricos sobre o papel do conselheiro de políticas públicas e a sua incorporação, como elemento constitutivo do cotidiano do exercício do controle social (ABREU, 1999; DAGNINO, 1995; AVRITZER; 1999, BORDENAVE, 1998, dentre outros) não se coadunam com os discursos que parecem dispensar o esforço de análises empíricas, metodológicas e metódicas. Observou-se, com este estudo, limitações enfrentadas pelos conselheiros no que tange à familiaridade com os temas discutidos, especialmente quando a questão trata da definição de prioridades, considerando-se o conhecimento sobre a rede socioassistencial do município, a participação na elaboração da Política de Assistência Social e o próprio exercício do controle social. Tais considerações estão fundamentadas nas diretrizes da Política Nacional de Assistência Social, que norteia as análises sobre a participação e o controle social destes conselheiros. A partir dos elementos expostos, desenvolve-se esta dissertação nos capítulos que se seguem, onde os conceitos centrais são discutidos em temáticas sequenciais e complementares, culminando com o relato analítico da experiência de campo, onde a fala dos conselheiros apresenta-se na íntegra. Os discursos mais 19 representativos quantitativamente são analisados, a partir da fundamentação teórica selecionada, numa abordagem qualitativa dos seus significados. 20 1 ESTADO E SOCIEDADE: RESGATE HISTÓRICO EM DIMENSÕES PLURAIS Inicia-se, com este capítulo, uma jornada de estudos e reflexões sobre diferentes momentos históricos, vividos nos contornos das sociedades ocidentais, em que a produção do conhecimento filosófico clássico, sobre a vida social, referenda a busca de compreensão da realidade brasileira presente, onde os conceitos de Estado e sociedade articulam-se às noções de democracia, emancipação popular, capitalismo e cidadania em suas contradições e confrontos, cujos impasses fundamentam a leitura sobre a construção histórica dos conselhos de políticas públicas no Brasil. O advento do século XIX concretiza a transição do sistema feudal para o capitalismo, e, as mudanças provocadas no processo de produção e no modo de trabalho impactam diretamente nas relações sociais, que reorganizam a sociedade, adequando-a ao modo capitalista e dividindo-a entre os que detêm e os que não possuem meios de produção. Evidencia-se, nesse processo, o caráter antagônico das relações capitalistas, de dominação econômica, política e social, baseado na manutenção do mando e do poder. A venda da força de trabalho, exercida por aquela parte da sociedade que não possui os meios de produção, faz com que o trabalhador não reconheça a exploração a que está submetido, porém, chega um momento em que este percebe que está sendo explorado, e, daí, surgem os conflitos de classe. No decorrer do capitalismo, vários tipos de enfrentamento a diferentes formas de exploração vão se revelando, de acordo com a capacidade de organização dos operários que, através de associações e sindicatos, dão vida aos movimentos pela independência. De acordo com a teoria marxista, quando o trabalhador descobre que seus interesses são divergentes dos da classe dominante, tem início o processo de formação da consciência de classe, por meio do qual, os operários começam a reagir de forma não pacífica às condições impostas pela consolidação do capitalismo. A teoria marxista mostra a importância do processo de formação da consciência de classe, por meio da qual, o trabalhador descobre que seus interesses 21 são divergentes dos interesses da classe dominante, e passa a não aceitar as condições impostas pela consolidação do capitalismo. Diante das contradições, resultantes desta consolidação ao longo do século XIX, afirma-se que “toda propriedade exclusiva, é baseada na miséria e no trabalho forçado do povo; forçado não pela lei, mas pela fome” (BAKUNIN, 1992, p.6). Em face das condições de vida e de trabalho da classe dos trabalhadores, as diferenças sociais se tornaram agudas, produzindo resistências distintas em diversos lugares do mundo. Destacam-se o movimento de escravos e religiosos, na Baixa Idade Média, movimentos camponeses e servis, que fizeram com que na Europa, por aproximadamente 400 anos, ocorressem insurreições camponesas e revoltas. Tais movimentos se alastraram, rompendo os laços de lealdade, culminando com a derrocada do sistema feudal e surgimento da Idade Moderna, que trouxe consigo movimentos de mercadores e comerciantes, que protagonizaram a Revolução Industrial e a transição para o sistema capitalista de produção. A consolidação do capitalismo, na Idade Contemporânea, destaca os movimentos operários contra as precárias condições de vida nas fábricas e nas cidades. De acordo com Marx: “Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência” (MARX, 1845, p.108). A exploração do trabalhador, com jornadas excessivas de trabalho e péssimas condições de sobrevivência, revela uma das faces mais perversas do capitalismo. Alguns segmentos de trabalhadores, em lugares e momentos diversos, começam a insurgir contra as explorações sofridas. As lutas, a princípio mais isoladas, por melhores salários e redução de jornada de trabalho, pouco a pouco, tornam-se mais frequentes e organizadas. A primeira manifestação de resistência foi o “Movimento Ludita”, no qual operários ingleses, inspirados em Ned Ludd, deram início à destruição das máquinas, responsabilizadas como a causa da situação de miséria dos trabalhadores. O governo reagiu violentamente, com perseguições e até condenações à morte. Também na Inglaterra, houve a segunda grande manifestação dos trabalhadores. Denominada de “Movimento Cadista”, eclodiu em 22 1930, resultando na criação da Associação dos Operários, que passou a organizar greves, passeatas e comícios, com vistas a pressionar o parlamento inglês para inserir uma representação política do proletariado junto a este poder. Entretanto, a “Carta do Povo” foi recusada pelo governo, que esvaziou esse movimento em 1848 (RIBEIRO, 2005). Neste mesmo ano, foi publicado o Manifesto Comunista de Karl Marx e Engels, apontando novos caminhos para os trabalhadores e orientando a classe proletária para a luta. Após longo processo de conflitos, o movimento operário foi enfraquecido, e, chegou ao final do século XIX, tendo claro seu papel de sujeito de transformações sociais, abandonando a condição de passividade e agindo de maneira reivindicatória. A valorização das experiências efetivas, de reivindicação e conscientização dos trabalhadores, ajuda a compreender a construção histórica dos movimentos sociais que fomentaram a participação. No caso brasileiro, os avanços observados em alguns momentos da história, estiveram vinculados aos interesses do capitalismo internacional, demonstrando que na divisão internacional do trabalho, este país vivenciou a condição de subalternidade, em relação aos mais desenvolvidos, submetendo seu povo a uma situação de opressão. Constata-se que, nos três séculos de colonização portuguesa, não foi propiciado ao povo brasileiro as bases para um desenvolvimento industrial futuro, e os movimentos sociais deste período tinham como objetivo combater a opressão econômica e política, exercida pela metrópole (ABREU,1999). A independência do Brasil, proclamada aos 7 de setembro de 1822, beneficiou a aristocracia rural, que garantiu a manutenção de seus interesses econômicos e persistiu respondendo aos movimentos de resistência com opressão. A “Cabanagem”, movimento ocorrido no Pará, entre os anos de 1835 a 1840, e a “Balaiada”, no Maranhão, de 1838 a 1841, são exemplos do poder desta aristocracia, que exterminava, sem piedade, aqueles que clamavam por melhorias, promovendo, posteriormente, um verdadeiro esmagamento destes movimentos revolucionários, que apresentavam forte conteúdo libertador e representavam uma ameaça constante à ordem escravocrata vigente. A aristocracia rural manteve sua 23 estabilidade política, resultando, de acordo com Faria (1993), numa estrutura social formada por uma classe dominante, composta de senhores de escravos e terras, uma classe média de militares, profissionais liberais, funcionários públicos e pequenos produtores agrícolas e por uma classe baixa, composta pela maioria esmagadora da população, representada pelos escravos, trabalhadores semi livres, colonos e assalariados, que eram ignorados em seus direitos mais essenciais, estando sujeitos à dominação das oligarquias agrárias conservadoras. Os movimentos de Canudos (1893 – 897), e do Contestado (1912 – 1916), marcaram a forma como seriam tratadas as reivindicações nos anos seguintes, demonstrando a capacidade de resistência da população excluída e explorada. Behring (2003) afirma que as mudanças sociais, oriundas deste longo processo de lutas foram, em parte anuladas, com a globalização da economia, ocorrida a partir da década de 1990, e que a reversão deste quadro é possível, porém exige coragem, participação, mobilização popular para além do voto, diálogo e vontade política, sendo a conquista de direitos, resultado de lutas empreendidas por movimentos populares, um caminho para a efetivação da participação social e reconhecimento de direitos. A partir de tais reflexões, este estudo avança nas discussões históricas sobre o confronto entre Estado e sociedade civil, considerando-se que o tema é pertinente e relevante, para elucidar o objeto de estudo delimitado nesta dissertação. 1.1 O confronto entre Estado e sociedade No horizonte temporal de evolução histórica, a linguagem política é sempre influenciada pela visão de mundo dominante em diferentes sociedades. Entretanto, quando o foco de análise se volta para a compreensão das relações entre Estado e sociedade, a correlação de forças antagônicas adquire noções valorativas, que ressaltam um permanente confronto, balizado por interesses distintos, como se um e outro não estivessem confirmados a uma mesma realidade. 24 Uma análise das relações entre Estado e sociedade civil, retomada pela leitura clássica dedicada ao assunto, norteia a linguagem política contemporânea para a compreensão da realidade histórica, que baliza noções explicativas do cenário brasileiro. Thomas Paine (1776), em sua exaltação sobre os direitos do homem, adverte que a sociedade é criada por necessidades e o Estado pela maldade humana. Em sua concepção, o homem é naturalmente bom enquanto o Estado é invenção humana, necessária para o emprego das leis civis impostas com a coação, onde os indivíduos regulam suas próprias relações recíprocas, orientados por seus interesses em prejuízo do direito público ou político. O Estado é entendido como comando superior para o exercício do poder coativo (BOBBIO, 2009). A expressão “sociedade civil”, em sua concepção clássica, pode ser analisada sob diversas identificações. Quando se fala de “sociedade civil” na acepção não estatal, apela-se para a doutrina jusnaturalista em sua defesa de que, antes do Estado existem várias formas de associações, formadas por indivíduos entre si para a satisfação dos seus mais diversos interesses. A tais associações, o Estado se superpõe para regulá-las, sem vetar ou impedir seu desenvolvimento. A identificação histórica da sociedade civil, em seu estágio “pré- estatal”, adquire conotação axiologicamente positiva, passando a indicar o lugar onde se manifestam todas as instâncias de modificação das relações de dominação e onde se formam os grupos, que lutam pela emancipação do poder político e adquirem forças qualificadas como “contra-poderes”. Por outra via, do ponto de vista do Estado, a sociedade civil, em sua capacidade de renovação, pode constituir-se como elemento desagregador do projeto político estatal. A sociedade civil, em sua perspectiva “anti-estatal”, representa o ideal de sociedade da dissolução do poder político estatal. Essa é a concepção de Gramsci, desenvolvida em seus ideais característicos de todo o pensamento marxista sobre a extinção do Estado, descrito como “reabsorção da sociedade política pela sociedade civil” (BOBBIO, 2009, p.37). 25 Ao desenvolver as noções de sociedade civil em seus estágios: não estatal, pré-estatal, e anti-estatal, Bobbio (2009) propõe uma aproximação ao conceito de sociedade civil, definindo-a como “o lugar onde surgem e se desenvolvem os conflitos econômicos, sociais, ideológicos e religiosos” (BOBBIO, 2009, p.34). Em tais situações, o Estado teria o dever de resolver os conflitos, usando de mediação ou repressão. Tal pensamento, trazido para a análise contemporânea, pode ser compreendido na dinâmica onde os sujeitos do conflito incorporam a sociedade civil, ou seja: as classes sociais, os grupos, os movimentos, as associações, as organizações representativas e de classes, os grupos de interesse, as associações de vários gêneros com finalidades sociais e indiretamente políticas, os movimentos de defesa de direitos civis, dentre outros. No debate contemporâneo sobre a teoria sistêmica da sociedade global, a sociedade civil é compreendida como o movimento que gera demandas, exigindo respostas do sistema político. Nessa lógica, o contraste entre ambos corresponderia exatamente à capacidade da sociedade civil de formular suas demandas, em correspondência direta à capacidade do Estado de respondê-las adequadamente, e em tempo hábil. A governabilidade das sociedades complexas não escapa das análises clássicas, que ensejam a dicotomia entre Estado e sociedade civil. Bobbio (2009) adverte que uma sociedade torna-se tanto mais ingovernável, quanto mais aumentam as demandas da sociedade civil, e não amplia-se a capacidade estatal de respostas a tais demandas, gerando-se a crise de ingovernabilidade e, por sua via, a crise de legitimidade. Pelo exposto, entende-se que quando uma grave crise ameaça a sobrevivência de um sistema político, a solução dos conflitos só pode ser encontrada na sociedade civil buscando-se novas áreas de consenso. A expressão “sociedade civil” guarda, em si, a influência da literatura marxista no debate político contemporâneo. Seu significado, em Marx (1845), é descrito no prefácio de sua obra “Para a Crítica da Economia Política”, quando 26 declara sua convicção, de que as instituições jurídicas e políticas tinham suas raízes nas relações materiais de existência, cujo conjunto é incorporado por Hegel sob o termo “sociedade civil”. Marx (1845) faz da sociedade civil o lugar das relações econômicas e, a partir desta compreensão, volta seu olhar sobre o homem, independente, unido a outro homem apenas pelo vínculo do interesse privado e da necessidade natural inconsciente. Enquanto em Marx, o momento da sociedade civil coincide com a base material, para Gramsci o momento da sociedade civil é superestrutural. Em Marx, a sociedade civil corresponde a um conjunto de relações econômicas constitutivas da base material. Para Gramsci, a sociedade civil é a esfera na qual agem os aparatos ideológicos, que buscam exercer a hegemonia e, através da hegemonia, obter o consenso (BOBBIO, 2009). Uma leitura sobre o conceito de sociedade civil encontra fundamentos também em Rousseau (1754), em sua obra “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos das Desigualdades entre os Homens”. Nela, o significado de sociedade civil, como sociedade civilizada, não exclui que esta seja também, mesmo que de forma embrionária, uma sociedade política diferente do estado de natureza, embora na forma corrupta do domínio dos fortes sobre os fracos, dos ricos sobre os pobres, dos espertos sobre os ingênuos. O pensamento de Rousseau (1754) converge para uma forma de sociedade política, da qual o homem deve sair para instituir a República fundada sobre o contrato social, isto é, sobre o acordo paritário de cada um com todos os demais. Como se pode observar, na construção histórica clássica o conceito de sociedade civil tem vínculos com uma variedade de significados. No debate contemporâneo, o vínculo entre Estado e sociedade civil permanece. A ideia de que a sociedade civil é uma contradição do Estado se insere na prática cotidiana. Vale lembrar que, em Maquiavel, o Estado não se confunde com a sociedade civil. Quando este autor refere-se ao Estado, ressalta o poder que este 27 exerce sobre os habitantes de determinado território e das estratégias que alguns homens se utilizam para adquiri-lo ou conservá-lo. Por outra via, as reflexões seculares em torno do Estado vão convergir para o resgate do pensamento de Aristóteles, como primeira forma embrionária da “pólis” e início da concepção política. No Leviatã, de Hobbes (1651), em seu capítulo sobre as sociedades parciais, é apresentada uma exemplificação correspondente a uma teoria do Estado. A teoria política de Hegel, apresentada nos Princípios de Filosofia do Direito (1821), entende que o Estado se insere no tratado sobre as corporações, típicas sociedades parciais e com fins particulares no sentido tradicional. No percurso da história e da construção das ideias, aos poucos a sociedade, nas suas várias articulações, se insere no contexto do Estado. Mesmo que este seja considerado como um aparato coativo, nele, um setor da sociedade exerce o poder, tanto que hoje, nas concepções mais atuais da Ciência Política, o Estado é compreendido como um subsistema, com respeito ao sistema político e social. A contraposição entre governantes e governados, na tradição de Maquiavel, tem como temas centrais a arte de bem governar, as virtudes, habilidades ou capacidades que se exigem de um bom governante, as várias formas de governo, as formas de tirania, dentre outros paradigmas. O que comporta nas discussões contemporâneas, das relações entre Estado e sociedade civil, é justamente a condição de liberdade e autonomia dos cidadãos. As discussões presentes já não se limitam, por exemplo, ao poder do Estado, mas avançam para compreender o direito do cidadão em se contrapor às leis injustas. O mérito do Estado é avaliado na medida em que garante direitos, o que se fundamenta nas “Declarações Internacionais dos Direitos Humanos”, onde solenemente se anuncia que o governo é para o indivíduo e não o contrário. A partir de então, as reflexões sobre as relações entre o Estado e a sociedade passam a adquirir sentidos e valores renovados. 28 O conceito de Estado se impôs, através de “O Príncipe” de Maquiavel (1513), como organização de um grupo de indivíduos sobre um território, em virtude de um poder de comando. O conceito de sociedade civil não é menos ambíguo que o conceito de Estado. Na verdade, uma leitura sobre as mais diferentes concepções clássicas, modernas e contemporâneas, que articulam esses dois conceitos, deixam pistas para a compreensão de que ambos se deslocam, a depender do contexto histórico em que foram pensados. Sem esgotar as diferentes concepções sobre as bases que delineiam reflexões, sobre as relações entre Estado e sociedade civil, vale aqui considerar o entendimento sobre a legitimidade, na medida em que se consagra como prérequisito para a obediência, que só é devida ao comando do poder legítimo. É justamente sob a concepção de legitimidade, que os movimentos de resistência se assentam ou se levantam na realidade contemporânea, assumindo o direito de apoiar ou reprovar determinadas posturas, manifestando-se contra injustiças, na busca de formas de sociedades mais justas. Sob o viés das teorias positivistas, abre-se o caminho para a tese de que apenas o poder efetivo é legítimo. Nessa perspectiva, uma autoridade de fato constituída é o governo legítimo. “O ordenamento jurídico e a comunidade constituída por tal ordenamento, é um Estado no sentido do Direito Internacional, na medida em que este ordenamento é, em seu conjunto, eficaz.” (BOBBIO, 2009, p. 92). Nessa perspectiva, um ordenamento permanece legítimo, até que a ineficácia avance ao ponto de tornar provável ou previsível a eficácia de um ordenamento alternativo. O debate de Luhmann (1972), sobre o poder legítimo do Estado, concorre para a compreensão de que tal legitimidade é efeito da aplicação de certos procedimentos instituídos, para produzir decisões vinculatórias, a exemplo das eleições políticas, onde os próprios sujeitos participam, embora conforme regras estabelecidas. 29 Sob o enfoque do pensamento jurídico, o Estado é definido a partir dos elementos que o constituem: o povo, o território e a soberania. Nesse prisma, o Estado é um ordenamento jurídico, destinado a exercer poder soberano em determinado território, ao qual estão subordinados os sujeitos que nele habitam. No cenário contemporâneo, os Estados existem numa verdadeira sociedade de Estado, suas relações são balizadas internamente pelos vínculos entre governantes e governados e, externamente, nos limites impostos pelas relações firmadas entre os próprios Estados. Nessa perspectiva, quanto mais um Estado se fortalece internamente, mais se torna emancipado, nas relações exteriores com outros Estados. Essa relação de forças internas do Estado, e seus reflexos no exterior, foi observada por Montesquieu (1748) em seu elogio à república federativa, e a sua capacidade de resistência às potências estrangeiras. O processo de democratização do Estado tornou necessária a agregação das demandas provenientes da sociedade civil. Vale lembrar, que muitos são os elementos necessários para distinguir formas diferenciadas de Estado, especialmente no que se refere às relações entre a organização política e a sociedade, ou às diversas finalidades que o poder político busca, em diferentes épocas históricas, e nas mais diferentes sociedades. Aqui interessa destacar a forma do Estado Representativo, por ser este o modelo contemporâneo do Estado Brasileiro. Tal Estado se afirma como resultado de um compromisso de seus governantes com o poder de resistência de um povo (BOBBIO, 2009). O desenvolvimento do Estado Representativo se processa concomitantemente ao alargamento dos direitos políticos, e pelo reconhecimento do sufrágio universal. Para tanto, são formados os partidos políticos organizados. Tal sistema representativo divide o poder do Estado entre partidos e, nele, os sujeitos não são mais indivíduos singulares, e sim grupos organizados. O voto se estabelece para cumprir um princípio constitucional, segundo o qual, no Estado Representativo os sujeitos politicamente relevantes são os indivíduos singulares e não os grupos. 30 Mas o voto desses indivíduos passa a ter valor puramente formal, porque apenas ratifica decisões tomadas em outras instâncias. O Estado Representativo, tal como se veio estruturando ao longo dos últimos séculos, constitui-se no modelo ideal em diferentes interpretações. Interessa, no contexto deste estudo, compreender o Estado Representativo no sistema capitalista, tal como verifica-se no caso brasileiro, cuja sociedade acomoda-se à democratização das estruturas de poder sem, no entanto, deixar de evoluir em suas forças antagônicas, mesmo diante das crises de governabilidade, ou crise do Estado Democrático, que não consegue corresponder às demandas da sociedade. Fala-se também, da crise do Estado Capitalista, que já não consegue dominar o poder dos grandes grupos de interesses entre si. Enfim, o debate contemporâneo sobre a crise do Estado retoma a ideia da necessidade de se pensar em um novo “contrato social”, para dar vida a uma nova concepção de Estado. Afinal, é possível questionar se no debate contemporâneo ainda seria pertinente discutir a relação entre o Estado e a sociedade civil, quando se observa, por exemplo, todo o aparato legal que dá origem ao funcionamento dos conselhos de políticas públicas no Brasil, como resultante do pacto democrático, contido na Constituição Federal de 1988. Esta questão é atualizada nos próprios contornos em que a representação do Estado se alinha, nas divergências da composição representativa da sociedade civil organizada. A dinâmica das relações entre Estado e sociedade civil, organizada tal como se manifesta cotidianamente nesses conselhos, revela que este debate está longe de ser concluído, exatamente por coexistir num contexto de profundas transformações, contradições e conflitos que exige correlações de forças, onde as figuras do cidadão protegido pelo Estado se confunde, muitas vezes, com a do mesmo cidadão, que se insere no corpo administrativo do Estado, ou mesmo daquele que se insere no entorno da participação ativa em associações, organizações distintas da sociedade civil ou outras entidades e passa a postular sua representatividade, seja por interesse individual, seja por envolvimento com causas coletivas, não existindo neste cenário, uma noção explicativa única e absoluta, 31 capaz de dar conta de tamanha complexidade. Para melhor compreender tal dinâmica, este estudo passa a discutir aspectos da participação social no Brasil contemporâneo. 1.2 A redemocratização e a participação social no Brasil Na transição do Estado Escravista ao Estado Burguês moderno, o Brasil passou a considerar que todo indivíduo, nascido no território nacional, era declarado cidadão. Seria, então, previsível que se implantassem mecanismos de limitação da participação política efetiva, isto porque qualquer extensão da participação política provocaria, não apenas incômodos operacionais ou cisões políticas no seio da classe dominante, mas também o perigo da subversão, por via institucional da ordem vigente (SAES, 2001). Carvalho (2002) lembra que na década de 1870, a participação eleitoral chegara a 11% da população total, o que equivalia a 13% da população livre, para depois descer a 2,2%, em plena fase inicial do período republicano brasileiro (1894). Da análise destes dados, mencionado autor conclui que, da passagem do Império à República, o Brasil teria sofrido uma considerável regressão no plano da cidadania política. O aspecto central do processo político brasileiro, no período do Império, era a exclusão eleitoral da classe explorada fundamental, o que significava a ilegitimidade da incorporação dos seus interesses ao processo decisório imperial, justamente dessa classe da comunidade política, a qual se deveria estender a participação, porém não era isto que acontecia. A cidadania política brasileira, em termos legais, foi formulada logo após a Revolução Política Burguesa de 1888 – 1891, por uma declaração constitucional de direitos políticos, contendo aspectos avançados (sufrágio masculino adulto, sem restrições censitárias) e aspectos restritivos (negação do voto do analfabeto e não proclamação oficial da legitimidade do voto feminino). A esse respeito, Saes (2001) considera que essa combinação exprime o projeto de cidadania política, defendido 32 pelo segmento democrático-liberal brasileiro (representado pela classe média abolicionista e republicana), cuja ação política visava garantir a eventual tentativa de imposição de um sistema eleitoral censitário ao Estado burguês nascente e, por outro lado, refletia a luta pela hegemonia política da classe dominante, que mantinha a classe média revolucionária controlada. Destaque-se que, a entrada do café brasileiro no mercado internacional viabilizou um progresso na diferenciação interna do sistema de classes sociais no país, fazendo emergir uma classe média economicamente separada das classes dominantes e a consolidação de uma burguesia mercantil, destacada da classe fundiária. E mais, o movimento da economia causou o movimento do sistema de classes sociais, onde se enraizaram novos projetos políticos para o Brasil, que coexistiram em equilíbrio durante alguns anos, mas já se encontrando dissociados, por ocasião das primeiras revoluções republicanas (SAES, 2001). A conversão de todos os indivíduos, independente de sua condição socioeconômica em verdadeiros cidadãos, integrava o projeto central dos republicanos radicais. Este projeto foi derrotado pelas chamadas “oligarquias” (compostas pelos proprietários fundiários e burguesia mercantil-exportadora), e mesmo a ditadura militar, implantada por Floriano Peixoto, não contribuiu na execução do ideal republicano, persistindo a constante manipulação eleitoral das massas, que foi se reproduzindo na história brasileira. O período de 1930 a 1964 foi marcado pela crise, destruição e reestruturação da cidadania política no Brasil. A revolução de 1930 levou à perda, por parte do capital mercantil exportador, do controle sobre o aparelho do Estado central, convergindo para uma crise da hegemonia. Tal situação não promoveu reviravoltas constantes, mas representou o fim do atendimento prioritário aos interesses do comércio de exportação e implicou no estabelecimento industrial brasileiro. A burguesia industrial se revestiu, neste período de 1930 a 1964, das características de uma burguesia interna, e o empresariado tendeu a oscilar politicamente, obrigando a burocracia estatal a assumir uma política com vistas a 33 obter apoio político das classes trabalhadoras, criando uma legislação fabril e o reconhecimento dos direitos sociais. Mesmo com a concessão de direitos, por parte da burguesia industrial brasileira e do Estado, o processo de conquista foi, em parte, frustrado, pois a criação de um sindicalismo rigidamente controlado pelo Estado e, por isso mesmo, sem força para atuar na construção de uma experiência partidária de massa de caráter independente, reduziu amplamente as possibilidades de atuação dos trabalhadores. Segundo Saes (2001), a cidadania política passou, no período de 1930 a 1964, por três estágios: o da crise, o da destruição e o da reestruturação da cidadania política. O primeiro estágio começou com a revolução de 1930 e, se encerrou, com a instauração do Estado Novo (1937). Logo após a vitória do movimento político-militar de 1930, os segmentos da classe média urbana, que haviam se envolvido no processo revolucionário, dividiram-se entre duas grandes propostas de (re)construção da cidadania política no país: a concretização da cidadania política “liberal-burguesa” autêntica e a instauração de um modelo alternativo de cidadania política, a cidadania orgânica. Essa divergência se resolveu de modo conciliado no Código Eleitoral de 1932 e na Constituição Federal de 1934, mediante a adoção de um sistema misto de representação política (SAES, 2001). Este sistema misto de representação política permitia que na Câmara dos Deputados coexistissem representantes, eleitos pelo sufrágio universal, e representantes de classes e profissionais, indicados por sindicatos ou associações, o que é considerado uma evolução da cidadania política, graças à instauração da justiça eleitoral, do voto secreto, do voto feminino, fatores intimamente relacionados com a margem da liberdade e, a força política, conquistada pela classe média na fase inicial da crise após a revolução de 1930. Tal circunstância concorreu para que, nem as antigas classes dominantes tivessem força política suficiente, para preservar integralmente a antiga democracia oligárquica (devendo submeter-se taticamente ao reformismo liberal da classe média), nem a burguesia industrial tivesse força política 34 suficiente para se opor à representação da classe defendida pelo movimento tenentista, por meio de órgãos políticos (SAES, 2001). Foi no início do século XX que se tornaram comuns os movimentos pela conquista do poder político. O fim da Segunda Grande Guerra Mundial, em 1945, alterou o cenário internacional, com a divisão do mundo em dois blocos políticomilitares, liderados pelas potências emergentes: Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS). O esforço de ampliação da influência dos EUA implicou no estímulo à penetração da cultura deste povo, reforçado pela prosperidade econômica que difundia no mundo ocidental, o espírito otimista e esperançoso de um novo modo de vida, onde o consumo de bens alterava o comportamento de parte da população que habitava os grandes centros urbanos. Modificava-se a paisagem, formas livres e funcionais ocupavam o lugar de decorações adornadas, materiais plásticos e fibrosos tornavam-se mais práticos e acessíveis e, a chamada sociedade urbano-industrial, se consolidava, sustentada por uma política desenvolvimentista, que se aprofundaria ao longo da década. No Brasil, a queda do Estado Novo, ocorrida nos fins de 1945, promoveu a restauração do regime democrático e da cidadania política, com a integração das classes trabalhadoras urbanas à política social e o aumento da participação política, através da ampliação do eleitorado, reduzindo-se, por essa via, a importância do controle dos coronéis sobre o voto das populações rurais. De acordo com Saes (2001), a presença da justiça eleitoral impôs limitações à influência dos chefes locais, na condução do processo eleitoral nessas áreas e, de modo correlato, aumentou a importância do clientelismo urbano. A consolidação da sociedade de massas no Brasil trouxe a expansão dos meios de comunicação e da publicidade. Produtos tornavam-se populares, fotonovelas, cinema e teatro. O otimismo e a esperança implicavam em alterações profundas no modo de vida da população em todo o mundo, permitindo o consumo e ampliando o “desejo de transformar a realidade de um país subdesenvolvido, de retirá-lo do atraso, de construir uma nação realmente independente” (KORNIS, 2012, p.01). 35 O entusiasmo pela construção do novo implicou no surgimento de vários movimentos nos campos artísticos e culturais, que valorizavam o elemento nacional e popular, reforçando o espírito nacionalista da época, com a crença nas possibilidades de desenvolvimento do país. Imerso no debate em torno da necessidade de modernização econômica, política, social e cultural, o Brasil dos anos de 1950 buscava alternativas que permitissem a superação do passado colonial, marcado pela exploração e estagnação, vislumbrando a necessidade de afirmação de sua autonomia, pelo processo de industrialização e fortalecimento econômico. Aos intelectuais brasileiros do período coube a missão de sistematizar um pensamento nacional desenvolvimentista, e, um projeto educacional, que deveria guiar e fundamentar a ação estatal. Em meados de 1950, os movimentos que buscavam a modernização do país foram adquirindo visibilidade, através da realização de manifestações em espaços públicos impulsionados, principalmente, pelas comunidades eclesiais de base. No fim da década de 1950, o capitalismo estava integrado ao Brasil e, neste contexto econômico, as forças políticas envolvidas no processo de industrialização estavam diante do dilema de romper, ou não, com a propriedade fundiária e promover uma reforma agrária distributiva, capaz de engendrar um novo mercado de consumo. Foi neste contexto histórico, marcado pelo fim da transição do capitalismo no Brasil, e pelo surgimento do interesse do capital estrangeiro em se internacionalizar nas economias periféricas, que se situou o regime militar, que ao longo de vinte anos promoveria, de modo persistente, a concentração e a centralização do capital industrial e bancário e a supressão da cidadania política. “O grupo militar tendo assumido o controle do aparelho do Estado, buscou, não a supressão absoluta, mas o confinamento da cidadania política” (SAES, 2001, p. 20). A forte repressão policial marcou a década de 1960 e as reivindicações por educação, moradia e melhores condições de vida. Eram os anos de guerra fria entre os aliados dos Estados Unidos e da União Soviética, os países de terceiro mundo viviam acelerados processos de urbanização e modernização da sociedade. 36 No Brasil, partidos e movimentos de esquerda buscavam a valorização da ação, como forma de mudança da sociedade e os ideais de Marx e Che Guevara inspiravam o modelo de “homem novo”, idealizado no autêntico homem do povo, com raízes rurais, supostamente não contaminado pela modernidade urbana capitalista, o que permitiria uma alternativa de modernização que não implicasse no fetichismo da mercadoria, no consumo desenfreado e na desumanização. A questão da identidade nacional era discutida e buscava-se a ruptura com o subdesenvolvimento, com base na intervenção do Estado. Em escala mundial, o período ficou conhecido pelos traços do romantismo revolucionário, que difundia a liberação sexual aliada ao desejo de renovação, a fusão entre a vida pública e privada, ação em detrimento da teoria, ânsia de viver o momento, padrões irregulares de trabalho e várias circunstâncias, que permitiram e incitaram inúmeras revoluções de cunho libertário nacional, marcadas pelo ideário socialista. De acordo com Ridenti: O êxito militar dessas revoluções é essencial para entender as lutas políticas e o imaginário contestador nos anos 1960: havia exemplos vivos de povos subdesenvolvidos que se rebelavam contra as potências mundiais, construindo pela ação as circunstâncias históricas das quais deveria brotar o homem novo. Especialmente a vitória da revolução cubana, no quintal dos Estados Unidos, era uma esperança para os revolucionários na América Latina (RIDENTI, 2008, p. 03). Os movimentos revolucionários do fim da década de 1960 colocavam em xeque o modelo soviético de socialismo, considerado por muitos como acomodado à ordem internacional, e, incapaz de levar às transformações necessárias para se chegar ao comunismo, colocaria em cena o “homem novo”. Ainda que inspirador de partidos comunistas do mundo todo, o modelo soviético de socialismo só viria a ruir, definitivamente, com a desagregação da União Soviética e a queda do Muro de Berlim, em 1989. As lutas pela emancipação nacional e o distanciamento do modelo soviético pareciam abrir alternativas libertadoras terceiro-mundistas para a humanidade. Tais alternativas seriam posteriormente acusadas de mascarar os conflitos de classe na sociedade brasileira, especialmente a partir dos anos de 1970, quando a visão do terceiro-mundismo brasileiro passou a ser analisada como sendo 37 uma exaltação das lutas de camponeses e operários que se colocavam na cena política. De acordo com Pécaut: O suposto delírio nacional-popular organizado em torno do Estado, não teria sido "apanágio de uma minoria ávida de transformar seu 'saber' em 'poder'; apoiava-se, num sentimento difundido em muitos setores sociais. O privilégio concedido à 'libertação nacional' não tinha, então, valor algum de álibi visando a evitar a luta de classes; muito simplesmente, o Brasil vivia a hora do advento do Terceiro Mundo" (PÉCAUT, 1990, p.180). O desenvolvimento acelerado da mercantilização das sociedades fez com que a década de 1960 ficasse conhecida como a era da comercialização, e a guerra do Vietnã, promovida pelos Estados Unidos, mostrava a face monstruosa desta sociedade, fazendo surgir movimentos de protesto, resistência e mobilização em todo o planeta, especialmente no ano de 1968. No Brasil, além dos fatores internacionais, foram principalmente os aspectos da política nacional que marcaram as lutas de esquerda. O processo de democratização política e social e a crescente mobilização popular, pelas chamadas “reformas de base”, que deveriam permitir a distribuição equitativa da riqueza e o acesso à cidadania, foi interrompido pelo golpe militar de 1964, paralisando as crescentes reivindicações de classes, que buscavam participar ativamente da vida política (RIDENTI, 2008). A vitória dos golpistas, em abril de 1964, representou o fim do sonho brasileiro revolucionário. A formação de correntes de opinião difusa, dentre o seguimento de esquerda, expunha a necessidade urgente da constituição de uma vanguarda realmente revolucionária, capaz de romper com o imobilismo e que partisse para a luta armada contra a força bruta do governo. Em outubro de 1965, por imposição do regime militar, a política brasileira passou a ser bipartidarista: de um lado, a Aliança Renovadora Nacional, (ARENA) constituía-se como partido da situação e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) apresentava-se como oposição construtiva, sendo calado pelos golpistas sempre que necessário. Porém, foi fora do campo institucional, desmantelado pela repressão, que surgiu uma série de grupos de guerrilheiros, cuja principal fonte de recrutamento estava no único movimento de massas capaz de se rearticular nacionalmente nos 38 primeiros anos pós 1964 – o estudantil. Apesar de divergências sobre o caráter da revolução brasileira (que para alguns seria nacional e democrática e para outros, socialista) estes guerrilheiros lançavam-se em significativos protestos de rua, defendendo que somente um governo popular, ou mesmo socialista, possibilitaria a retomada do desenvolvimento. De acordo com Ridenti: O caráter antidemocrático da ditadura civil-militar, iniciada com o movimento de 1964, agravou-se nos anos posteriores à edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o "golpe dentro do golpe", em 13 de dezembro de 1968. Com ele, os setores militares mais direitistas - que haviam patrocinado uma série de atentados com autoria oculta, sobretudo em 1968 - lograram oficializar o terrorismo de Estado, que passaria a deixar de lado quaisquer pruridos liberais, até meados dos anos 1970. Agravava-se o caráter ditatorial do governo, que colocou em recesso o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas estaduais, passando a ter plenos poderes para: cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos dos cidadãos, demitir ou aposentar juízes e outros funcionários públicos, suspender o habeas corpus em crimes contra a segurança nacional, legislar por decreto, julgar crimes políticos em tribunais militares, dentre outras medidas autoritárias. Paralelamente, nos porões do regime, generalizava-se o uso da tortura, do assassinato e de outros desmandos. Tudo em nome da segurança nacional, indispensável para o desenvolvimento da economia, do posteriormente denominado milagre brasileiro (RIDENTI, 2008, p.136,137). A vitória da ditadura sobre as esquerdas brasileiras, e os rumos dos eventos políticos internacionais propiciaram o fim da capacidade imaginativa da revolução social e, de modo paralelo, levaram a sociedade brasileira a uma modernização conservadora, onde a “socialização da cultura frustrou-se antes da realização da esperada revolução” (RIDENTI, 2008, p.138), garantindo a continuidade do modelo vigente, onde o poder político seria lenta e gradualmente transferido para a democracia, a ser executada pelas classes dominantes. Nos anos de 1970, a luta pelo voto direto e pela abertura democrática, promovida durante o Governo Geisel (1974-1978), evidenciava o esforço modernizador que a ditadura esboçava desde a década passada. Surgiam as grandes redes de TV, com programação em busca da integração e segurança do território brasileiro. A sociedade brasileira foi adquirindo nova feição e adaptando-se à nova ordem. De acordo com Antunes (1995), apesar do arrocho salarial empregado no pós-1964, os anos de 1970 trouxeram uma expansão qualitativa do 39 emprego urbano e uma elevada diversificação da estrutura ocupacional, aumentando consideravelmente os postos de trabalho mais qualificados e bem remunerados e possibilitando a contenção de reformas sociais, “contudo, o Censo Demográfico de 1980 revelaria notável piora nos níveis de distribuição de renda e considerável aumento do emprego informal” (ANTUNES, 1995, p. 595). O início dos anos de 1980 foi marcado no Brasil pelas manifestações pelas “Diretas Já”, demonstrando que os movimentos sociais apresentavam questões teóricas complexas, que alteravam a forma de sociabilidade e valores da sociedade brasileira. A situação econômica no país apresentava-se bastante complicada. Endividado e submetido à política fiscal norte americana, que obrigava os países devedores a implantar políticas macroeconômicas de ajuste fiscal, corte de gastos públicos e forçado pelo capital internacional, o Brasil estatizou a dívida externa, minando as bases financeiras do Estado e reduzindo a capacidade de investimentos financeiros. Antes da questão da extensão da cidadania, devido às contradições do sistema capitalista, as lutas urbanas no Brasil foram se construindo enquanto campo de investigação de diversos autores, e, pelo menos até a metade dos anos de 1980, estes movimentos continuaram impulsionados, através da luta pela redemocratização, visto que o governo Figueiredo mantinha alguns instrumentos legais de repressão como por exemplo, a Lei de Segurança Nacional. O movimento dos trabalhadores no início dos anos de 1980, encontravase enfraquecido, grande parte em função da derrota na greve do ABC paulista, instaurando uma situação de preservação de empregos. A nova política salarial viria a quebrar a relação existente entre o sindicalismo emergente e sua base composta de assalariados. À medida que as reivindicações de cunho econômico passam a ser atendidas, tornam-se mais difíceis as mobilizações trabalhistas, pois ao indexar salários, o Estado brasileiro conseguiu amenizar o impacto inflacionário e dissolver a capacidade e disposição do movimento reivindicatório (ANTUNES, 1995). Diante da situação política e econômica da década de 1980, e apesar do discurso governamental de Figueiredo, que prometia a abertura lenta, gradual e segura, a repressão aos movimentos de trabalhadores nestes anos foi rigorosa e 40 não se alterou muito até 1985, quando uma parcela significativa dos intelectuais de oposição comprometeu-se com a Nova República, iniciando um processo político que evoluiu até os dias atuais. De acordo com Kowarick (2007, p. 25) “Os movimentos urbanos constituem tema que só recentemente ganhou maior envergadura de pesquisa, sem que tenha deixado de ser extremamente polêmico do ponto de vista interpretativo”. Por conter questões extremamente complexas, o caráter das lutas desenvolvidas pelos movimentos sociais, tem seus significados discutidos, e questiona-se: até que ponto, um sistema de dominação e apropriação de riquezas, altamente excludente, pode ser realmente por eles combatido? Uma característica básica das lutas sociais e políticas levadas adiante pelas classes populares urbanas estaria na sua oposição radical ao Estado. Tal colocação, que seria reintroduzida e contestada por estudos posteriores, já havia sido, durante a década de 70, formulada por autores estrangeiros, entre os quais Manoel Castells, que teve e tem enorme influência na produção latino-americana, bem como por autores brasileiros que pensaram os movimentos urbanos a partir de um quadro mais global de transformação da nossa sociedade (KOWARICK, 2007, p. 22). Em 1978 teve início o lento processo de redemocratização brasileiro. A eleição do General Figueiredo para Presidente da República se desenrolou num clima de crise institucional e de enorme ilegitimidade política. A escolha, aprovada pelo parlamento de forma arbitrária, acirrou os antagonismos dentro do círculo dominante, fazendo eclodir, neste mesmo ano, a primeira grande greve, após 10 anos de ferrenha repressão sobre a classe operária. Foi o início de uma série de greves que fortaleceram os movimentos urbanos, reivindicando melhorias diversas, expressando uma contestação à ordem instituída. O papel dos movimentos urbanos, no processo de redemocratização do país, suscita as mais variadas interpretações acerca do peso das camadas populares para a transformação social e política. Uma breve análise sobre os ciclos da cidadania política brasileira sugere uma evolução na participação política, que configura um salto qualitativo na consciência popular traduzida, de acordo com Bresser Pereira (1996), no deslocamento de um universo ideológico feudal para um universo ideológico burguês, ou seja, passou-se de um comportamento político de constrangimento, 41 pelo dever de lealdade pessoal, a um comportamento político livre. Nesse contexto, a participação era entendida como vantagem a ser utilizada em função dos interesses pessoais. Sem desprezar o significado das reivindicações e lutas urbanas, alguns estudiosos consideram que os alicerces do sistema autoritário brasileiro se autodestruiu por problemas internos e pelos desacertos que ocorreram no interior dos grupos dominantes. Nas palavras de Souza (1991, p. 39): "embora concorde com outras análises que a abertura foi em grande parte um processo promovido pelas elites, também concordo que os movimentos sociais tiveram um impacto na situação política". Esse pensamento é compartilhado por Matos: É difícil sustentar a hipótese segundo a qual as mobilizações populares tenham levado a uma democratização do Estado autoritário, posto que suas finalidades sociais e o controle de sua aplicação escapam totalmente ao âmbito de ação dos movimentos sociais (MATOS, 1998, p. 236). Estes autores não negam a relevância dos movimentos sociais enquanto expressão de uma identidade, que se desenvolve no seio da sociedade brasileira, e levantam questões sobre os impactos das reivindicações e das ações, uma vez que estas ocorrem de modo fragmentado, não atingindo o âmago do poder do Estado. Os estudos de Souza (1991) e Matos (1998) sugerem que os movimentos sociais apresentam um alcance político limitado, na medida em que, nas suas esferas específicas de reivindicação, não chegam a influenciar o aparato do Estado, mostrando-se, portanto, incapazes de construir um espaço de debates e de ação. A questão da participação política, no processo de abertura democrática no Brasil, é um tema que está longe do consenso, revela interpretações teóricas diversas e diferentes posições políticas quanto ao alcance e à forma como se deu a ação das camadas populares e sua influência. Até pouco tempo, tinha-se a convicção de que a participação, efetivada pela via dos mecanismos de consulta popular, negociação e formulação de consensos poderia interferir no crescimento econômico, dificultando a tomada de decisões e burocratizando ainda mais o Estado. De modo gradativo, este pensamento foi sendo transformado e os processos participativos foram convertendo-se em condições estratégicas para a 42 viabilidade do desenvolvimento sustentável e a formulação de políticas, especialmente na área social. Em 05 de outubro de 1988, reunidos na Assembleia Nacional Constituinte, foi promulgada a Constituição Cidadã. Resultado de um movimento histórico de mobilização da sociedade brasileira, instituiu o arcabouço jurídico que permitiu a consolidação do regime democrático no Brasil, estabelecendo um conjunto de direitos sociais, em resposta a um longo e conflituoso processo de mobilizações sociais e políticas, numa trajetória que buscou ampliar o envolvimento dos atores sociais nos processos decisórios. Inaugura-se uma nova forma de expressão de interesses e de representação de demandas e atores junto ao Estado, com a implementação de políticas sociais, em resposta às demandas em torno da descentralização e da democratização do Estado Brasileiro. A participação social passou a representar um elemento estruturante do sistema brasileiro, e sua análise oferece elementos fundamentais para o debate atual sobre políticas públicas, seja no que se refere à institucionalização e execução, seja quanto ao enfrentamento das questões sociais. A participação política pressupõe uma relação de poder que não se pode e nem se deve limitar ao embate Estado x sociedade civil, mas sim entre os sujeitos do próprio processo. Esta participação, se não for qualificada e orientada para a decisão, perde o significado. Sem esgotar todas as análises sobre os confrontos entre o Estado e a sociedade civil, este estudo converge para a abordagem mais específica, tomada como objeto desta pesquisa: a perspectiva da redemocratização brasileira pós golpe de 1964, como destaque para reflexões acerca da participação e do controle social, enquanto vias de acesso ao fortalecimento democrático. 1.3 Realidade democrática no Brasil contemporâneo A recente democratização brasileira, a partir dos anos de 1980, e sua realidade histórica, considerada a partir de seus marcos legais é o tema que se 43 articula, com a produção deste texto. Discutem-se as repercussões do movimento democrático, incentivado após a condução do Estado para a formação dos conselhos de políticas públicas e, mais especificamente, na consolidação do Conselho de Assistência Social e em seu esteio, todo o movimento convocatório de participação popular nessas instâncias, onde a representação da sociedade civil organizada é investida do poder deliberativo de controle social. A travessia que os brasileiros vivenciam, desde então, é o cenário dos desafios de construção democrática, onde o apelo político ao desenvolvimento sócio econômico da nação em padrões de sustentabilidade, o enfrentamento à pobreza, desigualdades e injustiças, são temas permanentes nos sucessivos discursos. Tais reflexões exigem considerar a moderna teoria da democracia, fonte que norteia uma análise crítica da realidade contemporânea, que se delineia no quadro brasileiro. Marx (1859) defendia a ideia de que a infraestrutura seria a base determinante da superestrutura das sociedades, mas a história de colonização brasileira parece contrariar este pensamento, invertendo a lógica marxista, cuja formação do Estado, implantado e construído a partir de um modelo importado de Portugal, configurou-se como entidade anterior à própria formação da sociedade local, onde tribos indígenas foram sendo dizimadas ou aculturadas. O Estado no Brasil Colônia cria a sociedade, seja por meio da concessão de terras, pela via das “Capitanias Hereditárias”, seja pela criação de uma “aristocracia rural”, ou ainda pela concessão de créditos para empreendimentos comerciais, originários da formação de burguesias locais, como também por meio da criação de inúmeros empregos públicos, ocupados por uma classe média de origem estatal (ROUQUIÉ, 1984). As primeiras relações entre Estado e sociedade no Brasil apontam para a formação de um Estado de estrutura dominante, em relação à sociedade que articula em seu entorno, os demais subsistemas do sistema social nacional (FERRAZ, 1993). Tudo começa e termina em função dos determinantes do Estado, que organiza poderes legais, sociais e econômicos. Por outra via, reproduz um 44 sistema cultural e social fundado nos costumes, valores e ideias que se organizam e são disseminadas em função do prestígio atribuído pelo Estado. A configuração estatal do Brasil Colônia vai tomando forma e organiza, em torno de si, a sociedade desigual, não só por viabilizar a formação de grupos privilegiados, como por ignorar ou exterminar os grupos indígenas primitivos, e explorar os descendentes de escravos africanos, gerando-se a partir de então, todo um cenário de injustiças e desigualdades, configurando uma sociedade desarticulada e desorganizada, onde a dominação do patrimonialismo é alicerçada. Por esses caminhos, o Estado brasileiro ao longo da história local de todo o século XX, protagonizou mudanças estruturais sob o imobilismo de uma sociedade dependente que, em raros momentos episódicos, rebelou-se nas figuras emblemáticas de seus patriotas, quase sempre na condição de heróis derrotados. Os estudos de Araújo (2000) sobre as características do Estado brasileiro, no período compreendido entre 1920 até 1980, destacam seu caráter desenvolvimentista, conservador, centralizador e autoritário. Observa que a tradição de assumir muito mais o objetivo do crescimento econômico, em detrimento da proteção social ao conjunto da sociedade, é simbólico do Estado “fazedor” e não “regulador”. Na opinião deste autor, o Estado regulador exige diálogo entre governo e sociedade civil e o Brasil não tem esta tradição. O Estado “regulador”, embora mais tímido que o Estado “realizador”, também se revelava, na era Vargas, para intervir e regular a relação trabalho x capital. Na industrialização, o operariado vai surgindo e Vargas se mostra presente com a legislação trabalhista e a determinação do salário mínimo. O Estado centralizador e autoritário é emblemático da história brasileira, na longa ditadura do período Vargas, e depois acomoda-se, ao longo do Golpe Militar de 1964, por mais de vinte anos de ditadura, deixando no contexto da vida social uma tradição de apatia, frente ao domínio dos determinantes governamentais. A dominação tradicional que a bibliografia define como “patrimonialista” no caso brasileiro é questionada por Sorj (2000). Para este autor, se o Estado Brasileiro fosse somente patrimonialista, o país estaria condenado ao atraso, o que 45 as altas taxas de crescimento do século XX não confirmam. Tal situação converge para que Sorj (2000) faça uso do termo “neopatrimonialismo”, para identificar a realidade brasileira, uma vez que o termo originalmente utilizado por Weber estaria associado às formas típicas de dominação tradicional, sendo mais apropriado ao caso brasileiro identificá-lo como “neopatrimonialista”, tal como empregado por Schawartznian (1988), porque captura melhor a dimensão do processo de modernização do Estado, que combinou a manutenção de estruturas tradicionais com estruturas modernas, resultando na criação de subsistemas políticos, no qual convivem o moderno e o tradicional. As formações políticas de herança ibérica configuraram, no Brasil, um modelo de “colonização da exploração”, tal como sugere Ribeiro (2005). Nesse modelo, um conjunto de riquezas produzidas no País escoava para fora. No caso brasileiro, de relacionamento entre Estado e sociedade civil, observa-se um amálgama de cidadania e consequentemente de democracia, que subverteu a lógica proposta por Marshall (2008), em que os direitos civis ampliariam as liberdades individuais, dando vazão aos direitos políticos de participação na esfera política, e estes, à ampliação dos direitos sociais, como aconteceu no exemplo inglês. Ao contrário, o Brasil vivenciou uma inversão dessa trilogia, tal como observa Carvalho (2003): os direitos sociais vieram primeiro, depois os políticos e, por fim, os civis. Tal inversão deixou, para o Brasil, uma tradição em que os direitos sociais são compreendidos como regalias concedidas pelo Estado, gerando-se uma espécie de “estatania” que fortalece o Poder Executivo, em detrimento de outras instituições como o Parlamento, e, sobretudo, desarticulando o poder de pressão da sociedade sobre o Estado e minando as possibilidades de emancipação política do povo em geral. A esses fatores soma-se a herança imperial, que impôs ao sistema social brasileiro as características centralizadoras do poder nas mãos do governo central, que não foram de todo eliminadas do imaginário popular e da cultura política local, que em seu pacto federalista contrasta com o modelo norte americano de federalismo, onde predominam as colônias de povoamento, nas quais as riquezas 46 produzidas permaneciam e eram distribuídas entre seus habitantes, diferente do que se verificou no Brasil. Historicamente, desigualdade e pobreza estiveram presentes na realidade brasileira, em contraste com o crescimento econômico. De modo geral, o crescimento econômico tem sido anunciado como estratégia para o enfrentamento à pobreza, em razão da crença de que o aumento da produtividade faz crescer o emprego, e por consequência, os salários, prevalecendo essa tendência em detrimento da adoção de políticas, com capacidade para distribuição de renda mais equitativa. Esse perfil de desigualdades traduz a maneira como o Estado brasileiro tradicionalmente conduziu suas políticas públicas de desenvolvimento econômico, em detrimento da perspectiva social. Ao promover seu projeto de industrialização, financiou, protegeu, criou alíquotas e produziu insumos básicos. A esse respeito, como destaca Araújo (2000), a partir dos anos de 1990 o projeto neoliberal orientou as ações do Estado Brasileiro e as estatais foram sendo privatizadas, com taxa de retorno lento. O projeto neoliberal brasileiro, em suas particularidades, investiu em grandes ações, todas onerosas, para viabilizar que o setor produtivo privado se tornasse mais rentável. Os anos de 1990 anunciavam grandes mudanças na economia mundial, como também as crises do mundo socialista e capitalista. Mesmo os grandes países apresentavam taxas de crescimento reduzidas e taxas de investimentos modestas. Na América Latina, em geral, e no Brasil em especial, experimenta-se em meio às grandes mudanças mundiais, o regime político democrático que oficialmente se estabelece a partir da Constituição Federal de 1988. Para Huntigton (1994), no mundo contemporâneo as possibilidades da democracia emergem como ondas sucessivas e intercaladas por ondas reversas. Esse cientista político identifica que a terceira onda democratizadora teve seu início com a Revolução dos Cravos, em abril de 1974, em Portugal, espalhando-se pelo continente europeu e latino-americano. Para a comunidade acadêmica tornou-se 47 necessário pensar as possibilidades da democracia, em diferentes realidades históricas e, em especial, no Brasil. Convém destacar que não existe uma uniformidade entre cientistas sociais e políticos, sobre a dinâmica em que se anuncia a democracia brasileira, coexistindo diferentes enfoques em torno da questão. As teorias da modernização, desenvolvidas após a segunda grande guerra mundial, entendiam que este processo iria culminar com a democracia. O crescimento econômico, a urbanização, a melhoria dos níveis educacionais, bem como da saúde das populações, aliadas a uma visão de futuro, tenderiam a edificar sociedades democráticas. Acreditavam que as estruturas condicionariam os processos de mudanças políticas e sociais (NUN, 1994). Entretanto, as teorias da modernização que entusiasmaram a intelectualidade latino-americana, não lograram êxito. No caso brasileiro, entre os anos de 1950 e 1960, o processo de modernização, que prometia paz e prosperidade, culminou com o regime autoritário de 1964 (MOISÉS, 1995). Nessa linha de raciocínio, também evidenciou-se que o fraco desempenho da economia brasileira, na década de 1980, não provocou um recuo da democracia, que no período evoluía em suas concepções, contradizendo a teoria da modernização. O enfoque da relevância dos atores políticos vem se contrapor a explicação das possibilidades democráticas, pela via da modernização. Mesmo considerando as condições econômicas da transição à democracia que estavam na base do processo histórico brasileiro, essa vertente considerou que a passagem do autoritarismo para a democracia dependeria, basicamente, da capacidade de as lideranças políticas mais expressivas do país aproveitarem ao máximo as oportunidades do contexto político da época para decidirem no sentido de levarem o Brasil à democracia (MOISÉS, 1995). Com base em tais argumentos, a retomada da democracia no Brasil não seria linear, apresentando-se num suceder de fatos e acontecimentos previsíveis, pela dimensão econômica. Ao contrário, no Brasil as negociações políticas 48 convergiam para o caminho institucional, isto é, o calendário eleitoral parlamentar como via gradativa para a redemocratização. Compreende-se, a partir desta leitura, que o processo de mudança política no Brasil não se deu de forma bipolar entre o regime e a oposição, mas envolveu uma complexa trama de relações em que, tanto as lideranças do regime autoritário, quanto as lideranças da oposição, tiveram um papel importante na articulação dos caminhos de implementação da democracia no país. A construção democrática brasileira, analisada sob o prisma da transição entre regimes políticos, envolve um complexo processo, no qual algumas suposições são consideradas. A primeira suposição é a de que o Brasil poderia ser considerado um país em mudança, em transição para a democracia. Depois, essa tendência se desdobraria em estágios sequenciais: primeiro ocorrendo a abertura, depois o colapso do regime para, em seguida, ser declarada a democracia formal (leis e regras), quando posteriormente seria transformada em democracia substantiva (ganhos sociais e econômicos). A terceira suposição é a de que as eleições serviram para alargar a participação política e a responsabilidade democrática do Estado em relação à sociedade. Outra suposição defendia a ideia de que a transição seria uma decisão das elites políticas e, finalmente, a quinta suposição defendia que os processos de democratização estariam redesenhando as instituições do Estado. (CAROTHERS, 2002). Todas essas suposições foram negadas pela experiência histórica e nessa direção, valendo-se da advertência de que a construção democrática não é tarefa exclusiva das elites políticas, mas também depende de fatores estruturais, retomam-se as teses sobre novos aspectos. No que se refere à dimensão estrutural da transição, Samuel de Huntington (1994), da Universidade de Harvard, em seu livro “A Terceira Onda” retomou análises que enfatizavam a dimensão econômica da democracia. A centralidade de sua análise tende na busca de uma correlação entre riqueza e democratização, embora saliente que fatores econômicos não sejam determinantes 49 para promover a democratização, sugere que eles produzem impacto significativo. Sua argumentação vai demonstrar a existência de uma correlação positiva entre a riqueza e a democracia, enfatizando sua permanência a longo prazo, para que seja propiciada a democratização. Utilizando-se da variável Produto Nacional Bruto (PNB), Huntington (1994) constatou que, dos 24 países de “alta renda” (segundo dados do Banco Mundial), 21 eram democráticos, enquanto entre os 24 países, classificados como “pobres”, apenas 02 tinham experiência com a democracia, e, entre os 53 países de “renda média”, 23 eram democracias, e 25 não democracias. A partir de tal leitura, o autor conclui que a transição para a democracia nos países ricos já aconteceu; nos países em desenvolvimento médio, anunciam-se as possibilidades democráticas e nos países pobres, viver a democracia é impossível. Huntington (1994) destaca as condições infraestruturais que favorecem a democracia e, nessa perspectiva, no Brasil, o desenvolvimento econômico patrocinado pelo regime militar autoritário dos anos de 1970 teria, ironicamente, criado as condições para a sua própria superação nos anos de 1980, ao modernizar o país. Huntington (1994) acredita que as crises do petróleo, na década de 1970, tiveram importante papel na produção das crises dos sistemas autoritários, porque o mau desempenho dos governos, no gerenciamento das crises, levou à perda de legitimidade do regime autoritário. Salienta, ainda, outros aspectos explicativos da “terceira onda” de democratização: a mudança da doutrina da igreja católica, que a partir do Concílio do Vaticano II, entre 1963 e 1965, passou a apoiar a Democracia; o incentivo norte americano, a partir de 1974, com sua política de direitos humanos e o fenômeno dos efeitos demonstrativos, que exportaram modelos de democratização, por meio das redes de comunicação. Sobre essa questão, Linz e Stepan (1999) defendem também que quanto mais interligado for um grupo de países, mais será possível uma transição bem sucedida para os demais. O espírito do tempo ou momento histórico, sendo democrático, influenciaria alternativas neste sentido. Enfim, se “fatores estruturais 50 fazem a democracia possível, as lideranças políticas podem torná-la concreta” (MOISÉS, 1995, p.49). Max Weber (1919) já havia anunciado, em seus escritos, que não se pode falar em “monocausualidades”, ou seja, afirmar-se que um dado fenômeno só pode ser explicado por uma única causa. Há diferentes aspectos que podem contribuir para explicar um fenômeno. Seguindo-se essa lógica, os estudos contemporâneos sobre democracia no Brasil, podem recorrer às reflexões de Moisés (1995), em sua proposta para uma explicação do que chama “maximalismo” e “minimalismo”. A perspectiva “minimalista” parte do pressuposto de que a democracia é possível, sob condições mínimas. Nessa lógica, não seriam necessários prérequisitos econômicos, sociais ou mesmo culturais para a democracia, e sim, que ela dependeria basicamente da escolha dos atores envolvidos, dos seus pactos e de certas regras. Apostando nos atores políticos, Moisés (1995) sugere que a escolha democrática não se dá por terem a democracia como um valor em si, mas por observarem ser a democracia a melhor forma de sobreviver politicamente. Por outra via, a perspectiva “maximalista” parte do pressuposto de que a democracia não é possível sob condições mínimas, e que as condições econômicas, sociais, culturais e políticas exercem importante condicionamento sobre a viabilidade democrática. Moisés (1995) vai além, ao afirmar que a democracia só se efetiva se os governos forem dotados de mecanismos que lhes dêem autoridade para criar instituições, que sejam respaldadas por atitudes e comportamentos democráticos das massas. No Brasil dos últimos vinte anos, experimentou-se avanços significativos em relação à democracia. De fato, houve uma modernização das instituições no país, um crescimento econômico e um refinamento de suas leis, voltadas à garantia de direitos dos cidadãos. Todavia, percebe-se a existência de uma precária funcionalidade da lei, isto é, das regras fundamentais para a democracia. A própria Constituição Federal de 1988 está recheada de leis que nunca saíram do papel, quer seja no que diz respeito às liberdades individuais, à ordem econômica ou mesmo em relação às questões sociais. 51 O antropólogo Roberto Damatta (1987) afirma, a respeito das discrepâncias entre o Brasil legal e o Brasil real, alertando para o distanciamento entre o Estado e a sociedade e para uma forma particular de “navegação social”, onde o “jeitinho brasileiro” é, na verdade, uma correspondência entre o social, que permanece alienado de suas próprias conquistas, apelando para os velhos vícios do apadrinhamento, do pistolão ou de um “jeitinho” de burlar as leis. Nessa ordem das coisas, no Brasil democrático, as pessoas em geral não são tratadas como cidadãos, mas conforme o pertencimento ou não, a determinado círculo social. Assim, para além da dimensão legal e institucional, ainda se faz necessária uma mudança na cultura política da sociedade como um todo, para que seja enfim, viabilizada a democracia. O conceito de democracia inercial é usado por Baquero (2005) para referir-se à realidade democrática brasileira. Para este autor, há no país uma modernização das instituições políticas, uma evolução das leis e das regras, entretanto, pouco ou nada o Brasil evolui na dimensão social. Em sua explicação sobre a democracia inercial, o dito autor observa que no Brasil as políticas econômicas não favorecem as massas excluídas; destaca a existência de uma cultura híbrida, que institucionaliza um comportamento de resignação e hostilidade com a política, traduzindo-se numa cultura de desconfiança generalizada do povo em relação à política e também nas relações interpessoais da base da sociedade. As mais recentes discussões sobre a emancipação humana, na democracia, tem postulado o desenvolvimento do capital social. A este respeito, Putman (2000) sugere uma necessidade de práticas sociais, normas e relações de confiança entre os cidadãos, bem como sistemas de participação e associação que estimulem a cooperação. A relação entre democracia e capital social, segundo esse autor, estaria no nível de confiança que se estabelece na base de uma nação, o que também promove o desenvolvimento econômico. Nessa linha de raciocínio, o economista Fukuyama (1996) observa que os países com grande destaque no cenário internacional como os EUA, o Japão e a 52 Alemanha, desfrutam também de alto índice de capital social. Isso significa confiança entre as pessoas e explica o predomínio de grandes empresas nesses países como a Toyota, a Ford, a Siemens, dentre outras que inovam em tecnologia, aprimoram as relações de trabalho, qualificam seu pessoal e garantem a harmonia essencial ao desenvolvimento. Todo esse processo de confiança entre pessoas (independente de ocuparem postos na indústria, comércio ou gestão estatal) não se verifica no Brasil. Para a maioria da população o “jeitinho brasileiro” prevalece, as leis “não pegam” e as coisas se resolvem por meio de pistolões em esfera pública. Nesse cenário, é difícil fortalecer elos de confiança e, por isso, o Brasil não acumula estoque de capital social. Para efeitos deste trabalho, a participação social no campo das políticas sociais será analisada a partir da dimensão institucionalizada, nos espaços de debate, deliberação e controle das políticas públicas da área da assistência social. O capítulo que se segue, está dividido em três seções. A seção seguinte trata da trajetória da assistência social, desde quando compreendida como ato assistencialista eleitoreiro até seu status de política pública, abordando o processo de transformação ocorrido na sociedade, no que tange à formulação, gestão, implementação e controle desta política, apontando características, potencialidades e tensões. Em seguida, destacam-se os marcos legais de construção da assistência social enquanto política pública e o redesenho do Estado, que visa a presença da sociedade em face das políticas sociais. Na terceira e última seção desta fase, aborda-se a dimensão da participação no processo decisório das políticas sociais, com destaque para as condições que historicamente desafiam a prática da participação social no Brasil, como requisito emancipatório. 53 2 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Este capítulo concentra reflexões sobre as condições históricas em que foram efetivadas as práticas assistencialistas no Brasil. Esgotada tal reflexão, este estudo prossegue, focalizando as bases legais que fundamentam a institucionalização da assistência social como política pública, evoluindo para um último debate sobre a base conceitual das categorias “participação” e “controle social”, nas quais se assenta toda a discussão que atravessa o terceiro capítulo, onde a prática efetivada pelo Conselho Municipal de Assistência Social de AquirazCE, entra em cena com suas peculiaridades que, articuladas as concepções teóricas em destaque neste estudo, são, enfim, analisadas. 2.1 O assistencialismo frente à questão social no Brasil A prática da assistência constitui-se um fenômeno antigo, que remonta aos primórdios dos tempos da Idade Média, quando os males sociais já atingiam enormes proporções e a pobreza era entendida como algo natural. “A distância do conhecimento científico permitia que os homens buscassem soluções para seus problemas no imaginário e nas superstições” (VIEIRA, 1977, p.30). O advento do Cristianismo fez com que a caridade fosse entendida como uma consequência do amor divino e, através de postulados bíblicos, a Igreja Católica tomou para si encargos beneficentes, administrando obras de caridade e fazendo surgir congregações, como corporações de ofício e confrarias, com fins de caridade e prática assistencialista. Quando se pensa na questão da assistência atrelada à realidade brasileira, é coerente levar em conta a questão das capitanias hereditárias e da luta pela sobrevivência, em condições desiguais, desde o princípio da colonização do país. A base da sociedade colonial brasileira estava na exploração agráriaeconômica, em meio a uma população de índios, negros e escravos mestiços, que viviam sob a dependência de seus senhores rurais e reproduziram, já nos primeiros 54 séculos da história do Brasil, as desigualdades que ainda persistem nos dias atuais. Desde o início manifestou-se, entre os governantes, o interesse em manter a situação de dependência e exploração, o que permitiu que esta cultura fosse mantendo-se ao longo do tempo. Em 1922, com a independência do Brasil de Portugal, começaram a surgir os primeiros contornos de urbanização e industrialização, embora prevalecesse o modelo fundado no patriarcalismo arcaico e as relações fundadas no mando do senhoril rural. A prática das obras sociais, neste período, era exercida de forma caritária e precária. As crianças abandonadas eram recolhidas nas Santas Casas de Misericórdia e a ajuda era, muitas vezes, exercida pela Igreja de modo pontual (SOUZA, 1991). O fim da escravidão trouxe outro problema à sociedade brasileira, pois milhões de escravos alforriados não tinham as mínimas condições de sobrevivência fora das asas de seus exploradores e a classe dominante do período seguia, aproveitando-se desta parcela da população, gerando cada vez mais dependência e relações de exploração paternalista. O advento da República trouxe o Federalismo, o sistema presidencialista e a independência dos Poderes, bem como a separação do Estado da Igreja. Tal realidade fez com que diversas congregações religiosas passassem a atuar, ainda que de forma ineficiente, no campo social. Supostamente, a hierarquia baseada no nascimento e na tradição familiar, viria a ser substituída gradativamente pela forma republicana e democrática, fundada no talento pessoal e no mérito (SOUSA, 1998). Nos primeiros anos do século XX, a instauração do regime capitalista e a industrialização, agravaram a alienação das forças de trabalho e a marginalidade da população escrava, que encontrava-se desprovida de conhecimentos e de condições básicas para se inserir no mercado que se expandia. A pobreza se expandia no país, e não tinha visibilidade. A classe política ignorava suas causas e repercussões e não a considerava como expressão da questão social. Quando a pobreza se insinuava como questão para o Estado era, de imediato, enquadrada como “caso de polícia”, e tratada no interior de seus aparelhos 55 repressivos. Os problemas sociais eram mascarados e ocultados, enquanto a pobreza era tratada como disfunção pessoal dos indivíduos (SPOSATI, 1987). Tal percepção condicionava os modelos de atendimento, em geral em asilos ou internação de indivíduos pobres ou miseráveis. A assistência se mesclava com as necessidades de saúde e, por este equívoco, verificava-se a assistência focada no binômio de ajuda médico-social. Os organismos da rede de solidariedade social mantinham a compreensão da assistência como um ato de benevolência e de caridade para com o próximo. A partir da crise mundial do capitalismo, o Estado reposiciona-se frente à sociedade. Insere-se na relação capital trabalho. No caso brasileiro, tal inscrição é fundamental para a acumulação, consolidação e expansão do capital. Por outra via, o Estado passa a assumir responsabilidades pelas condições de vida da população, quando em 1923, a Lei Eloi Chaves (Lei nº 4682) criava a Caixa de Aposentadoria e Pensões para os funcionários e, em 1930, o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio é criado para fiscalizar, ordenar e controlar as ações junto às forças de trabalho. Progressivamente a assistência começa a se configurar, tanto como uma esfera programática de ação governamental para a prestação de serviços, quanto como mecanismo político para amortecimento de tensões sociais. O serviço social foi implantado no Brasil, em São Paulo, em 1936 pelo Centro de Estudos e Ação Social. Por esse tempo, a problemática operária era uma preocupação social deste centro, que entendia a formação social como reação católica. O serviço social foi, na sua gênese, marcado pela ausência de legitimidade junto à população que seria sua clientela, caracterizando-se mais como uma imposição do Estado, que como demanda legítima da coletividade. A assistência não passava de benemerência, oferecida voluntariamente pela solidariedade de poucos e, neste contexto, a profissão do serviço social era pensada como contraponto ao apostolado voluntário. 56 A concepção histórica do serviço social como ação profissional para a superação do assistencialismo, da dependência, da sujeição, terminou por identificála como ação positiva para o rompimento da dependência e compromisso com a liberdade. Por longo tempo, a prática profissional do serviço social limitou-se, no entanto, à busca de soluções de situações-problemas, de casos individuais ou, quando muito, de grupos ou segmentos da população de baixa renda. Nessa lógica, os insucessos da ação social passaram a ser compreendidos como uma deficiência técnica do desempenho profissional (YAZBECK, 1980). Tal pressuposto acabou por favorecer uma visão ingênua da profissão. Após a criação do Centro de Estudos e Ação Social em 1936, a assistência se reveste de maior racionalidade, introduzindo serviços sociais de maior alcance sem perda, no entanto, de sua característica básica: sentido do benefício ou da benevolência, só que, a partir de então, institucionalizada sob o controle do Estado. Nesse contexto, a ação dos novos profissionais da assistência social coincide com o período ditatorial do Estado Novo, instalado com o Golpe de 1937 de Getúlio Vargas. Em 1938, o Decreto-Lei nº 525 institui a organização nacional de serviço social, como modalidade de serviço público, através do Conselho Nacional de Serviço Social, vinculado ao Ministério da Educação e Saúde. A criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), em 1938, representa a primeira tentativa de regulação e fomento público, no âmbito da assistência social no país. “Sua importância deve-se principalmente à preocupação do Estado com a centralização e organização das obras assistenciais públicas e privadas, cuja fiscalização ficou sob sua responsabilidade a partir de 1943” (BRASIL, 2010, p. 33). O CNSS estava vinculado ao Ministério da Educação e Saúde, e era formado por pessoas ligadas a atividades filantrópicas, indicadas e nomeadas pelo Presidente da República, tendo como principais funções: a organização do plano nacional de serviço social, englobando os setores públicos e privados; sugerir 57 políticas sociais a serem desenvolvidas pelo governo e opinar sobre a concessão de subvenções e auxílios governamentais às entidades privadas. Na análise de Raul de Carvalho (1981), poucos foram os resultados práticos deste Conselho, caracterizado “mais pela manipulação de verbas e subvenções como mecanismo de clientelismo político” (idem, 1981, p. 59). O início da década de 1930 no Brasil foi marcado pela criação das leis trabalhistas e da previdência social, refletindo a preocupação do governo em dar suporte ao desenvolvimento industrial. A partir de 1940, os direitos e políticas de cunho social começaram a ser discutidos entre governo e sociedade civil, como forma de enfrentamento da questão social. O Estado implementou políticas de caráter compensatório e criou organismos, para a prestação de serviços às camadas mais pobres da sociedade, como uma forma de manter a ordem social. A assistência social no Brasil teve sua origem fortemente arraigada nos preceitos da caridade e da filantropia, enquanto compromisso do Estado para com o povo empobrecido. Na década de 1940, a criação da Legião Brasileira de Assistência (LBA) foi um dos primeiros ensaios, no tocante ao alargamento do Estado de Direito. Funcionava como a grande instituição, de onde provinham os recursos e as orientações para os programas relativos às creches, assistência social geral e assistência às crianças, deficientes e idosos. Todas as intervenções estatais, voltadas ao enfrentamento da pobreza, foram marcadas pela intenção de criar e manter a dependência dos beneficiários, com conotações clientelistas, fixadas pelo favor, expressando uma matriz cultural oligárquica, onde os interesses do capital sempre foram privilegiados, em detrimento dos demais. A LBA assegurava estatutariamente sua presidência às primeiras damas da República, representando a simbiose entre a iniciativa privada e a pública, a presença da classe dominante enquanto poder civil e a relação benefício / caridade x beneficiário / pedinte, conformando a relação básica entre Estado e a classe subalternizada (SPOSATI, 1987). Depois da LBA, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) é inaugurado, em 1942, como um complexo de medidas assistenciais e educativas 58 necessárias à adequação da força de trabalho às necessidades da Indústria, que começava a expandir-se. O progresso social, compreendido como dever do Estado, passa a orientar as ações do serviço social, que se voltam para o discurso da promoção social gerando-se, a partir de então, uma certa dicotomia entre assistência e promoção social. A assistência social passa a ser compreendida como as atividades de pronto-socorro social, de ajuda material ou financeira, destinadas às populações com problemas agudos de subsistência, em geral desenvolvidos por voluntários ou auxiliares sociais. Tais atividades passam a ser questionadas pelos profissionais de serviço social, tanto por seu caráter paliativo e clientelístico, quanto pelas limitações que apresentavam à afirmação do assistente social como profissional. A academia formadora dos quadros profissionais do serviço social rejeita a assistência e, na década de 1950, adquire visibilidade o movimento de reconstrução teórica, coincidente ao período do pós-guerra, quando o Brasil buscava a libertação do colonialismo, o enfrentamento ao comunismo e as tentativas de expansão do capitalismo internacional, momento este, que exigia a ampliação das políticas sociais. Nesse período, as atividades de promoção social passam a absorver a prática e a teoria dos profissionais de serviço social, creditando às mesmas, expectativas de desenvolvimento social para a concretização do Estado do Bem Estar Social. Por outro lado, o populismo é reforçado como forma política de legitimação do poder e comando da chamada burguesia nacional, apoiado na adesão da massa trabalhadora, adesão essa que se afirmava mediante a concessão antecipada de benefícios. No discurso governamental, a assistência adquire nova amplitude. Além dos programas de pronto-socorro social, destinados aos pobres e miseráveis, começa a incorporar os programas de “Desenvolvimento Comunitário”, idealizados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Tais programas eram destinados às 59 comunidades e regiões brasileiras, que apresentavam problemas de “estagnação econômica” (FALEIROS, 1981). Os referidos programas destinavam-se a romper o ciclo de dependência e provocar a integração de indivíduos e grupos no mercado de trabalho. É nesse período que surgem os programas de alfabetização de adultos, formação de mãode-obra, formação social e desenvolvimento comunitário. Somente mais tarde, tais atividades foram compreendidas em seus propósitos de ascensão do modo de produção capitalista. Em suas determinantes, estes programas promoviam atendimento tutelado e ilusório para trabalhadores em potencial, que eram minimamente qualificados para o mercado que se expandia. Nesse contexto, as políticas sociais eram definidas por organismos internacionais (ONU, Aliança para o Progresso, dentre outros) sendo financiadas por fundos estrangeiros, e orientadas no sentido de fortalecimento do Estado do Bem Estar Social. O início da década de 1960 é marcado por um movimento de contradependência e denúncia dos modelos e programas importados: as propostas de reforma de base orientam a elaboração e realização dos programas sociais nacionais. O método de Paulo Freire (1962) é incorporado aos programas de alfabetização de adultos, como também na educação de base e aos programas de desenvolvimento comunitário e ligas camponesas na zona rural. As propostas desenvolvimentistas do período estimulam o sentimento nacionalista e a consciência de país terceiro mundista. Tal sentimento foi incorporado por segmentos progressistas da sociedade, estimulando o surgimento das pautas das esquerdas nacionalistas. O conhecimento da realidade nacional implicava rechaçar os modelos de ação, incorporados até então, para as experiências encontradas pelas Revoluções cubana e chilena, implicando reposicionamento das práticas dos assistentes sociais. O serviço social, nos meados dos anos de 1960, começa a explicitar o conteúdo político de sua prática, pela via do Movimento de Reconceituação do Serviço Social. Tal movimento depara-se com o golpe militar de 1964, quando 60 instala-se a era do planejamento do serviço social brasileiro, enquanto as políticas públicas retomam um enquadramento transnacional. O Estado tecnocrático pós-64 usa o planejamento como técnica de consenso social. O profissional de formação técnica é apresentado como representante fiel do Estado e conhecedor das necessidades e interesses das classes subalternizadas, mantendo-as como objeto passivo dos “benefícios” que ilusoriamente lhe são dispensados gratuitamente pelo Estado (COVRE, 1983). A exclusão das classes subalternizadas, das decisões que lhes dizem respeito, e a ampliação da capacidade de intervenção governamental, que o Estado ditatorial adquire no pós-64, reforça o caráter assistencial das políticas sociais, como também, possibilita que interesses de outros segmentos sociais e diferentes setores empresariais passem a deter amplo espaço de manobra, através da intermediação estatal. Ao recriar programas de assistência social, o Estado apela para obter apoio do regime, despolitizando a organização dos trabalhadores e tratando a questão social pela via da articulação entre repressão e assistência. A repressão se faz sentir, especialmente, na desmobilização social, na desarticulação dos instrumentos de pressão (a exemplo da imprensa) e de defesa de classes populares. A apreensão do uso do mecanismo combinado “repressão – assistência”, não se deu de imediato para os assistentes sociais. A saída “hegemônica pela racionalidade do planejamento e pela teorização científica” do fim da década de 1960 e início dos anos de 1970, condicionaram o serviço social brasileiro a uma forma de inserção no Estado Tecnocrático (SPOSATI, 1987). A superação da desigualdade, através de programas de promoção social alicerçados na racionalidade técnica, que buscavam a ascensão social da força de trabalho, como também das políticas sociais oferecidas pelo Estado, que propunham a igualdade de oportunidades, foi se caracterizando cada vez mais como ilusórias para as “saídas” do serviço social. Essas “saídas” foram se esvaindo na consolidação do modelo econômico brasileiro, voltado para os interesses do capitalismo transnacional. Tal modelo implicava no achatamento salarial dos 61 trabalhadores e provocou maior empobrecimento da população: de um lado, elevam as desigualdades sociais e, por outro, as demandas para o Estado, na busca de estratégias capazes de conter a questão social. No final dos anos de 1970 e início da década de 1980, a leitura marxista da sociedade capitalista, a partir da vertente althusseniana, em que se apoiavam vários estudiosos do serviço social, contribuiu para que os assistentes sociais brasileiros fizessem uma leitura progressista da prática e terminassem por caracterizá-la como fadada à reprodução ideológica dos interesses do capital (YAZBEK, 1987). A consciência da ineficácia das políticas sociais, atreladas a um Estado comprometido com um processo de expansão capitalista monopolista, principalmente como resultado da conjuntura de luta que se instala no país, a partir dos movimentos sociais, levam os profissionais do serviço social a revisões de suas próprias ações. O III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em 1979, é um marco histórico para a Política de Assistência Social: os congressistas repudiam a Comissão de Honra no Congresso, substituindo-a pelo trabalhador espoliado. A presença de lideranças sindicais no encerramento é divisor de águas da assistência social, com os poderes instituídos. Como principais medidas relativas à política social pós-75, destacam-se o processo de unificação das instituições previdenciárias, através da criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), ocorrendo a progressiva exclusão da representação dos trabalhadores na gestão da Previdência Social e a extensão da cobertura previdenciária à quase totalidade da população urbana e parte da população rural. O fortalecimento das políticas sociais se dá pela expansão dos organismos estatais, a exemplo da criação do Sistema Financeiro da Habitação, no Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), do Conselho de Desenvolvimento Social e a instituição do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS). 62 A centralização, que se opera em tais instituições, é excludente em relação a qualquer possibilidade da população e de suas organizações participarem decisoriamente. O poder central exclui, igualmente, à participação nas esferas estaduais e municipais (SILVA, 1984). Após essas considerações, resta lembrar que a negação do assistencialismo, por parte dos profissionais do serviço social, vem sendo uma luta travada contra o discurso simbólico do poder, que via de regra, se utiliza da condição de pobreza prevalecente no país, para mover as massas na direção do consenso eleitoral. Superar a leitura fetichizada do assistencialismo, como prática do serviço social, é movimento que vai além da questão profissional. Enquanto mecanismo histórico, presente nas políticas sociais brasileiras, o assistencialismo revela-se em sua versão contemporânea, revestido de novos contornos de discurso emancipatório, e cujos determinantes passam a ser foco de análise do próximo ensaio que se delineia neste estudo. 2.2 A assistência social como política pública A Constituição Federal de 1988 alterou o status da assistência social, transformando-a em política pública e integrando-a a um sistema de seguridade, que visa promover mudanças significativas no modo de operar e agir, garantindo principalmente, o fim do caráter assistencialista e a inserção de novas maneiras de atuar, viabilizando a impessoalidade e o enfrentamento do caráter politiqueiro e clientelista, ensejado na prática. Como já se fez referência, uma longa trajetória foi percorrida, até que a assistência social fosse regulamentada e reconhecida como política pública de caráter universal. Em seu primeiro parágrafo único, a Constituição Federal de 1988 destaca a importância do cidadão, ao afirmar que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. No decorrer do texto constitucional, são definidas formas de participação popular, em cada uma das esferas de poder. No Legislativo, os cidadãos podem participar por meio do voto em 63 eleições, referendum, plebiscitos, podem propor legislação por iniciativa popular e o encaminhamento de denúncias de irregularidades ao Tribunal de Contas da União (TCU). No Poder Judiciário, a participação pode ocorrer por meio dos júris populares, com a finalidade de julgar crimes dolosos contra a vida e pelo direito de proposição de ação popular, para anular atos lesivos ao patrimônio público. Na esfera do Poder Executivo, a participação instituída juridicamente acontece através dos conselhos e comitês de políticas públicas, havendo, ainda, a possibilidade de apresentar denúncias de irregularidades, perante a Controladoria Geral da União (CGU). No que tange à questão social, a CF/88 representa um marco na reorientação da assistência social, que passa a ser definida como direito do cidadão e dever do Estado, inserindo-se com a saúde e a previdência no tripé da Seguridade Social. A assistência social, como política de proteção social, trouxe uma nova situação para o Brasil, por significar a garantia a “todos” que “dela necessitam”, e sem contribuição prévia à provisão desta proteção. Segundo Di Giovanni (1998, p. 10), “entende-se por proteção social, as formas institucionalizadas que as sociedades constituem para proteger parte, ou conjunto de seus membros”. Deve garantir a segurança da sobrevivência, de acolhida e convivência familiar. Com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), em 1993, essa política foi regulamentada, delineando-se um novo modelo de entendimento dos direitos e concepções, afastando-se a prática assistencialista. Correspondendo aos determinantes constitucionais, de acordo com o primeiro artigo da LOAS, a assistência social é “política não contributiva de proteção social básica e especial, para atender às necessidades de acolhida, convívio, autonomia, rendimento, equidade, travessia de segmentos sociais vulneráveis e riscos sociais e pessoais, que impeçam a autonomia e o protagonismo” (artigo 1, da LOAS). Indica programas contínuos e benefícios, promovendo um redesenho da assistência social, que passa a ser entendida como política de enfrentamento à pobreza, direcionada aos que dela necessitam, por serem incapazes de acessar bens, serviços e direitos. 64 Para Carvalho (2002, p. 73): “A LOAS representa uma mudança fundamental na concepção da assistência social, como política de seguridade social, passando a constituir-se em salvaguarda da sociedade civil, contra as manipulações e práticas de corrupção e clientelismo político”. Em consonância com o disposto na LOAS, Capítulo II, Seção I, artigo 4º, a Política Nacional de Assistência Social rege-se pelos princípios da supremacia ao atendimento às necessidades sociais, sobre as exigências de rentabilidade econômica; universalização dos direitos sociais, tornando o usuário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; respeito à dignidade do cidadão, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantia de equivalência de atendimento e divulgação ampla dos recursos e programas oferecidos e dos critérios para sua concessão. É, portanto, uma política pública, que se ocupa em prover a sociedade para o enfrentamento de suas fragilidades, sendo política de atenção e defesa de direitos. Demo (2004) observa que, além de significar direito à sobrevivência, a assistência social não se configura, por si só, enquanto estratégia de enfrentamento e resolução de desigualdades sociais, uma vez que o enfrentamento à pobreza requer a introdução de componentes voltados para processos emancipatórios, fundados na cidadania organizada dos interessados e não como objetos manipulados necessários à manutenção do assistencialismo. O processo democrático, que levou ao reconhecimento da assistência social enquanto política, registra uma série de reformas institucionais que perpassaram pela extinção de órgãos e entidades representativas do Governo Federal e adequação de instâncias estaduais e municipais para o exercício de um novo modelo, que propõe principalmente a co-responsabilização dos entes da federação na execução da política e na divisão de recursos, amparada nas normas sobre Finanças Públicas, Capítulo II, da Constituição Federal de 88 (arts. 165 a 169); na Lei nº 4.320/1964, que estabelece normas específicas sobre elaboração e 65 organização orçamentária e na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei complementar nº 101, de 2000). O modelo de execução da Política de Assistência Social pressupõe a descentralização dos serviços, de modo que os municípios e estados executem, de forma direta, os serviços da assistência. Para tanto, vem sendo feitos investimentos na capacitação de gestores, técnicos e conselheiros, modernização de equipamentos e mobilização da sociedade civil organizada, o que representa um convite à participação na elaboração dos planos e concentração de esforços, no sentido de fomentar uma nova relação entre governo e sociedade, através do incentivo às parcerias e às ações conjuntas, na perspectiva do desenvolvimento econômico com justiça social. Para se alcançar a tão sonhada “justiça social”, além das iniciativas registradas inicialmente, foram desenvolvidos esforços, no sentido da criação de conselhos, planos e fundos (estaduais e municipais de assistência social) e intensificados programas nas áreas de geração de renda, qualificação profissional, capacitação das organizações sociais, voltados à priorização da família, crianças e adolescentes, privilegiando o estabelecimento de parcerias e a descentralização, como estratégia para garantir a qualidade dos serviços prestados, a fim de melhorar a situação de pobreza da população. A primeira década do século XXI promoveu o reconhecimento de diversos direitos de categorias formadoras da sociedade (crianças, idosos, mulheres, pessoas com deficiência, povos tradicionais, dentre outros) e observa-se um crescimento dos gastos públicos com a implementação de políticas sociais, o que reflete uma assimilação de técnicas e procedimentos para a prestação eficaz dos serviços socioassistenciais. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004) foi criada por decisão do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), por intermédio da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), sendo apresentada ao Conselho Nacional de Assistência Social em junho de 2004, tendo sido amplamente divulgada e discutida, em todos os estados brasileiros, em encontros e 66 seminários idealizados para garantir um debate descentralizado e participativo. Foi aprovada por unanimidade, expressando a materialidade do conteúdo da assistência social, como pilar do Sistema de Proteção Social Brasileiro, no âmbito da Seguridade Social. A PNAS representa uma tentativa de transformar em ações, os pressupostos elencados na Constituição Federal de 1988 e da LOAS, por meio de definições que norteiam a implementação da Política de Assistência Social, “criando uma nova agenda de cidadania para o Brasil, buscando incorporar as demandas da sociedade, no que tange à responsabilidade política” (LOPES, 2010, p. 24). A gestão da política, proposta através da PNAS, pauta-se no pacto federativo, que detalha as atribuições e competências dos três níveis de governo na provisão das ações socioassistenciais, em conformidade com o preconizado na LOAS e na Norma Operacional Básica (NOB), a partir das indicações e deliberações das conferências e dos demais espaços de discussão, negociação e pactuação da Política de Assistência Social. A perspectiva para a assistência social representa um avanço para a política de proteção social, ainda que seja uma política limitada, vez que “é para os que dela necessitam”. A assistência deve, de acordo com a NOB, “aportar quem, quantos, quais e onde estão os brasileiros demandatários de serviços e atenções de assistência social”, configurando uma situação onde não se dispõe de imediato, da análise da incidência desta política na realidade brasileira. Sugere, então, que a nova configuração da assistência deve dar continuidade ao inaugurado pela CF/88 e pela Lei Orgânica da Assistência, de 1993, pautada na dimensão de “incluir os invisíveis”, enquanto parte de uma situação social coletiva, observando as desigualdades e disparidades numa visão social de proteção e reconhecimento dos riscos e vulnerabilidades e de quais recursos se dispõe para o enfrentamento de determinada situação (PNAS, 2004, p. 30, 31). A nova configuração da Política de Assistência Social propõe uma visão social, capaz de entender que a população tem “necessidades, mas que deverá desenvolver suas próprias capacidades” [...] “assim uma análise da situação não pode ser só das ausências, mas também das presenças até mesmo como desejos 67 em superar a situação atual” uma visão social capaz de identificar forças e não fragilidades que as diversas situações da vida possua (PNAS/ NOB/SUAS, 2005, p. 15). A Lei Orgânica da Assistência Social assume dimensões que extrapolam preocupações com o atendimento qualitativo e quantitativo das necessidades básicas dos cidadãos, introduzindo novas formas de gestão, redefinindo ações e competências no âmbito das instâncias de poder. O aprimoramento gradativo da gestão da Política de Assistência Social contou com diretivas que apontavam uma nova lógica de gestão, exigindo o aprofundamento de sua concepção com o alargamento das responsabilidades dos entes federados, na implementação de um Sistema Único que pressupõe novos mecanismos de gestão e técnicas, capazes de “viabilizar o monitoramento e a avaliação e instituir o controle social, a ser exercido por todos os setores da sociedade pressupondo um exercício democrático” (PNAS/ NOB/SUAS, 2005, p.16). A construção da Política leva em conta a matricialidade na família. De acordo com a NOB “... leva em conta três vertentes de proteção social: as pessoas, as suas circunstâncias e, dentre elas, seu núcleo de apoio primeiro, isto é, a família. A proteção social exige a capacidade de maior aproximação possível do cotidiano da vida das pessoas, pois é nele que os riscos e vulnerabilidades se constituem” (PNAS/ NOB-SUAS, 2005, p.16). É partindo deste princípio que a assistência social passa a relacionar as pessoas / famílias a seus territórios e o município passa a constituir-se de fato como importante, sendo este o cenário da vida comum. O município, enquanto menor escala administrativa governamental, passa a ter territorializações intra-urbanas e a análise, através da unidade intra-familiar, ganha equipamentos e núcleos para o atendimento da realidade a partir das necessidades. O Brasil apresenta um dos maiores índices de desigualdade do mundo, quaisquer que sejam as medidas utilizadas (PNAS/NOB-SUAS, 2005). A Política Nacional de Assistência Social se configura necessariamente na perspectiva socioterritorial, tendo mais de 5.500 municípios brasileiros em suas referências 68 privilegiadas de análise e prevê, na caracterização destes, a presença de metrópoles. Estes municípios passam a receber os investimentos de recursos públicos necessários para a execução da Política de Assistência Social. De acordo com as informações do Tesouro Nacional, considerando somente o financiamento público nas ações de assistência social no Brasil, em 2002 foram investidos R$ 9,9 bilhões de recursos públicos nos municípios. Em 2003, este número saltou para 12,3 bilhões e os Estados ampliaram em 10% as despesas com assistência social. A União ampliou sua participação, enquanto os demais entes da federação diminuíram sua participação (PNAS/ NOB-SUAS, 2005, p. 25). As diretrizes propostas na organização da assistência social, enquanto Política Pública, tal como previsto na Constituição Federal de 1988 e na LOAS, determinam a descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como as entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações, em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e características sócio-territoriais locais (PNAS/ NOB-SUAS, 2005, p. 33). Como política transversal, a assistência social estabelece direitos e prerrogativas sociais, com vistas a garantir os mínimos sociais a todos os brasileiros. Conceituando os mínimos sociais (BRANT, 2000, p. 29) adverte que esse padrão “está diretamente relacionado ao patamar civilizatório alcançado por determinada sociedade, acrescido das condições socioeconômicas, políticas e culturais”. Observa também, que esses mínimos sociais não são imutáveis, tendem a mudar pela ação coletiva dos cidadãos, pelo avanço da ciência, pelo grau e perfil das produções econômicas e pelas forças políticas. Interferem, portanto, nos padrões dos mínimos sociais, fatores abrangentes, não se limitando às condições de sobrevivência dos indivíduos, mas também, às garantias de exercício da cidadania a que todos os cidadãos têm direito (LOPES, 2008). Assim compreendida, a assistência social, constitui-se em política de longo alcance, na medida em que a sociedade humana termina por criar exclusões e vulnerabilidades, e as heterogeneidades dos seres 69 humanos geram necessidades especiais. A esse respeito os estudos de Demo consideram: Além de significar direito à sobrevivência digna para os grupos vulnerabilizados, incapazes de se auto-sustentar, não se configura, por si só, estratégia de enfrentamento e resolução de desigualdades sociais. O combate à pobreza requer a introdução de outros componentes da política social, voltados para processos emancipatórios (DEMO, 2004, p. 48). No processo político democrático, os avanços e conquistas na área da assistência social são significativos, entretanto, convive-se com um duplo fenômeno, onde no plano jurídico-institucional, há o reconhecimento da assistência, enquanto política pública dimensionada enquanto direito do cidadão e dever do Estado e no plano da intervenção estatal, apesar dos esforços até então desenvolvidos, o Brasil pouco progrediu na diminuição das desigualdades. Quando o município torna-se a instância legítima para problematização e equacionamento dos problemas vivenciados percebe-se que, quanto mais próximo da comunidade se efetivam as decisões políticas, maior é a participação e o comprometimento das pessoas na busca de soluções para questões concretas. A gestão da Política de Assistência Social, norteada pelo Sistema Descentralizado e Participativo se organiza por um conjunto de instâncias de gestão, de negociação, consenso e deliberação. Silva (2002) identifica que várias razões dificultam a prática dos preceitos da descentralização na gestão da política de assistência social, e cita as “raízes históricas, falta de comando único, redução da descentralização a simples repasse de serviços e recursos, sem transferência de poder decisório” (SILVA, 2002, p. 4). A consolidação da assistência social, como política pública de direitos, exige o enfrentamento de diversos desafios, dentre os quais a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e sua reestruturação orgânica. Partindo das considerações de Silva (2002) convém refletir acerca de algumas questões, destacando-se a participação e o controle social, o que não se efetiva somente por decisão legal e com a existência e funcionamento dos conselhos. 70 2.3 Participação e construção da cidadania no Brasil A participação e o controle social constituem-se temas imprescindíveis para a compreensão da dinâmica processual de constituição da cidadania no Brasil. Os dois conceitos relacionados, concentram as possibilidades de fundamentar a compreensão da realidade que se pretende aprofundar neste estudo, no que se refere à prática dos conselheiros de assistência social. A participação tem se revelado como o caminho natural para o homem exprimir sua condição inata de realizar, afirmar-se a si mesmo e atuar na natureza, em busca do atendimento às suas necessidades básicas, a própria reprodução material da vida. Como afirma Bordenave: “(...) Apesar de ser uma necessidade básica, o homem não nasce sabendo participar. A participação é uma habilidade que se aprende e se aperfeiçoa. Isto é, as diversas forças e operações que constituem a dinâmica da participação devem ser compreendidas e dominadas pelas pessoas” (BORDENAVE, 1998, p. 46). Por ser recorrente em sociedades democráticas, o tema da participação social, para uma melhor contextualização, exige, em princípio, a demarcação do contexto social, econômico e político-institucional. Assim, para o caso brasileiro, toma-se como base o período do final dos anos de 1980 até os dias atuais, fase denominada de “Brasil Contemporâneo”, por ter como referência dois marcos na história nacional: o processo de redemocratização no país e sua concretização na Constituição Federal de 1988 e o processo de inserção do Brasil na economia globalizada. O primeiro, como expressão de lutas sociais, oficializa mudanças no Estado brasileiro, mais especificamente nas alterações no modo de operar e de se relacionar com a sociedade civil, fortalecendo o poder local. E o segundo, contraditoriamente, restringindo a relação Estado x sociedade, negando direitos conquistados, principalmente com relação ao mundo do trabalho, restringindo políticas sociais, desarticulando e fragilizando mecanismos de democratização dessas políticas. De acordo com Carvalho: 71 “(...) tendo como consequência a existência de uma dinâmica contraditória na própria atuação do Estado - um avanço no plano jurídico-institucional com um sistema de proteção social mais universalista e igualitário x uma crescente restrição e desestruturação no plano da ação estatal, com políticas de caráter seletivo e residual” (CARVALHO, 2002, p. 48). Ainda com altos índices de exclusão social, somente com profundas mudanças nas relações Estado x sociedade é possível vislumbrar, no Brasil, um desenvolvimento traduzido em efetiva melhoria das condições de vida da população, tendo como pressupostos a inclusão na pauta política, a participação da sociedade civil na formulação e implementação de políticas públicas, não transferindo o que compete ao Estado para outras instâncias e entendendo a importância do controle social sobre a gestão pública. Para tanto, Bordenave (1998) sugere ser necessário que as instituições públicas quebrem paradigmas na sua forma de gestão. Muitas apresentam resquícios autoritários e não conscientes das mudanças necessárias, no trato da coisa pública e da relação com seus clientes (principal foco de sua atuação). Perdem a dimensão estratégica de desenvolvimento sustentável, e terminam por utilizar práticas de participação concedida e/ou manipulação. Tal comportamento apenas contribui para a fragilização do processo de consciência política, necessária à construção de um país, com elevação da autoestima e sentimento de pertencimento/nacionalidade. Nesse sentido, torna-se imperativo disseminar o sentido e a importância da participação em todas as dimensões da sociedade. Por outro lado, ainda no entender de Bordenave (1998), cabe à sociedade civil assumir o seu papel, cada vez mais de forma consciente, o que somente será possível com o exercício de participação constante, mais efetiva e menos instrumental, mais ativa e menos passiva. Partindo da microparticipação à macroparticipação. Esse estágio exige uma atitude individual e coletiva, para que se possa responder: quem sou e qual o meu papel na sociedade? Que país se almeja? Que contribuição se pode oferecer? Isso facilitará o desencadeamento de um processo de construção e permanente reconstrução nacional, tendo como referência a modernidade. 72 Considerando a estrutura social do país, estratificada em classes sociais e com interesses antagônicos, onde a grande maioria sobrevive em condições de pobreza, termina por dificultar a participação, que somente é verdadeiramente construída numa relação entre iguais, um dos princípios da autogestão. É na autogestão que se encontra o mais alto grau da participação, na qual o grupo determina seus objetivos, escolhe os meios e estabelece os controles pertinentes, sem referência a uma autoridade externa (BORDENAVE, 1998). Como consta nos ensaios teóricos de Morais (1986), as coisas são feitas por homens e mulheres adequadamente organizados, tendo como pressuposto a participação. Neste sentido, precisam vivenciar experiências concretas de participação social, entendida por Longo (2008), como capacidade do grupo ou organização, de intervir na produção de bens e serviços, usufruto, ou gestão política. A qualidade da participação se eleva quando as pessoas conhecem a realidade e aprendem a refletir, a superar contradições reais ou aparentes, a exercitar a dialógica, a antecipar consequências e a distinguir efeitos de causas. Assim, o processo vai se qualificando na superação de conflitos. Ou seja, aprendese na chamada práxis, na interação da prática com teoria, colocando-as a serviço da coletividade. Na concepção de Dallari (1983), as decisões políticas refletem sobre a vida e os interesses de todos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos considera a participação política um direito fundamental de todos os indivíduos, assim, faz-se necessária uma vontade individual e coletiva, para fazer valer a legislação pertinente, buscando ampliar cada vez mais os espaços de participação social. Neste sentido, a definição de políticas e programas e as prioridades de investimentos, ainda que sob a responsabilidade do poder público, devem resultar de uma ação conjunta entre governo e sociedade, na busca de alternativas e soluções que venham a se adequar melhor às necessidades da coletividade. Existem, no país, inúmeras instituições públicas governamentais e não governamentais, que passam por reestruturação jurídica e administrativa, com 73 revisão de procedimentos e formas de atuação e experimentam formas de gestão que vão ao encontro do estreitamento e do fortalecimento das relações com a sociedade. Isso indica uma mudança de visão, ao perceberem a importância da participação como um imprescindível recurso gerencial, para uma ação mais eficiente, eficaz e efetiva. Entretanto, muito há que se avançar nesse sentido. De acordo com Teixeira (2004), a criação e/ou ampliação de espaços públicos, que possibilitem o aumento da participação social, para o fortalecimento das relações entre o Estado e a sociedade, na busca de um bem comum, ainda é um dos aspectos desafiadores em nosso país. Assim sendo, observando as diferentes formas de participação da sociedade brasileira, constatam-se alguns avanços, seja através dos conselhos setoriais, dos planejamentos participativos e orçamentos participativos. Bordenave (1998, p. 29) considera que “o chamado planejamento participativo, quando implantado por órgãos oficiais, frequentemente não é mais que um tipo de participação concedida e, às vezes, faz parte da ideologia necessária para o exercício do projeto de direção da classe dominante”. Entende-se que é um processo em construção e que participação implica em transformação da cultura político-institucional brasileira, um processo sistemático e desafiador, que exige determinação e controle social eficaz. As teorias discutidas ao longo deste estudo, fundamentam o entendimento de que, de modo histórico, no Brasil a legalidade de um direito não garante sua prática, disseminação e apropriação. Norberto Bobbio (2009) destaca que um elemento fundamental da democracia é a “regra da maioria”. Aqueles que são chamados a decidir, têm que ser colocados diante de alternativas reais, e terem condições de escolher entre uma e outra (direitos de liberdade de opinião, expressão e associação). Para este autor, a exigência de publicidade dos atos do governo é importante, não apenas para permitir ao cidadão conhecer os atos de quem detém o poder, e assim controlá-los, porque “a publicidade é uma forma de controle, um expediente que permite distinguir o que é lícito e o que não é” (BOBBIO, 2009, p. 48). 74 A crise do Estado e o agravamento da questão social, fomentaram a luta pela emancipação e pela democratização no Brasil. A busca por novos espaços de participação da sociedade civil consubstanciou-se, entre outros aspectos, pela definição no texto constitucional de instrumentos ativadores da publicização na formulação e na gestão de políticas públicas (RAICHELIS, 2000). Estimulou-se a definição de mecanismos de transferência de parcelas de poder, do Estado para a sociedade civil, e foram induzidas mudanças substantivas na dinâmica dessas relações. A política social, como estratégia de Estado, começa a ser implementada no contexto da emergência do capitalismo monopolista, como mecanismo de enfrentamento das sequelas da questão social. Acreditando não ser possível abordar o processo histórico brasileiro, sem apresentar, ainda que de modo relativamente sumário, o conceito de cidadania política, recorre-se a Marshall (2008), que a define como sendo a participação do povo, indivíduos que compõem a sociedade, no exercício do poder político. Segundo este autor, esta participação se concretiza como exercício efetivo, por parte do povo, do direito de escolher seus governantes. De acordo com Saes (2001), a definição de cidadania política, apresentada por Marshall (2008), é limitada por não propor instrumentos conceituais, vez que a participação do povo, no exercício do poder político, é “mais que uma realidade ou uma possibilidade, uma magnífica alegoria, que reproduz o princípio de funcionamento reivindicado e proclamado, porém não cumprido pelas instituições políticas capitalistas” (SAES, 2001, p. 3). De acordo com Gaetano Mosca (2003), a cidadania política contemporânea se reduz ao exercício por parte das massas, “de uma influência periférica e marginal, sobre os agentes tomadores das macrodecisões políticas” (MOSCA, 1997, p. 48). Saes (2001), considerando a definição de Mosca (1997, p.49) de que “o exercício da cidadania política pelas massas é insuscetível de revolucionar a natureza do poder político dentro da sociedade capitalista”, levanta o seguinte questionamento: a cidadania política não seria uma ilusão, pelo menos dentro dos limites da sociedade capitalista? 75 Considerando que não há como responder de modo simples a esta questão, Saes (2001) toma como base a estrutura econômica capitalista e ilustra que a relação capital – trabalho assalariado não se reproduz numa sociedade onde não esteja implantada a noção de “sujeito-direito” que nas palavras do autor, corresponde ao reconhecimento por parte do Estado, de que todos os agentes da produção – proprietários ou trabalhadores – são sujeitos individuais de alguns direitos essenciais, sem os quais não se celebram acordos ou contratos (liberdade de ir e vir e manifestar livremente sua vontade, bem como capacidade de se apropriar de bens ou de si mesmo e de fazer valer contra terceiros esta capacidade). Não sendo os direitos dos sujeitos ilusórios, representam prerrogativas reais, de duras conquistas da luta travada entre as classes, adquirindo uma aparência universalista e igualitária e produzindo um efeito ideológico de cidadania, que, de acordo com Saes (2001) representa o sentimento de que a concessão de prerrogativas reais equaliza todos os indivíduos, o que alimenta o ideal de igualdade. De acordo com Carvalho (2002), as liberdades políticas apresentam aspectos reais por permitirem às classes exercerem influências sobre o processo de tomada de decisões, e também por produzirem um efeito ideológico de sentimento generalizado de igualdade política entre os membros de uma nação. A análise da evolução da cidadania política no Brasil perpassa pelo exame crítico das considerações de José Murilo de Carvalho (2002). Para esse autor, o padrão defendido por Marshall (2008) é o normal para a instauração progressiva da cidadania na sociedade contemporânea e analisa a política da sociedade brasileira detectando a presença constante de anomalias no processo de implantação e de desenvolvimento da cidadania neste país. A primeira anomalia consiste na existência de uma defasagem permanente entre os direitos declarados e os efetivamente exercidos, o que ele chama de contradição persistente entre o “país legal” e o “país real”. A segunda anomalia consistiria numa inversão constante da ordem normal de implantação de direitos e cita como exemplo a instauração de liberdades políticas no Brasil Império que ocorre de maneira paradoxal com a escravidão, que negava as liberdades civis elementares a escravos e homens 76 pobres. Afirma ainda que a alternância de períodos democráticos e ditatoriais na história política do Brasil fez com que o direito à participação passasse por avanços e recuos que fizeram com que importantes direitos sociais fossem muitas vezes concedidos à titulo compensatório o que gera uma “anômala instauração de direitos sociais e políticos” (CARVALHO,2002, p.29). Numa tentativa de explicação das anomalias atribuídas à participação e concessão de direitos no Brasil, Carvalho (2002) reflete sobre as causas históricas deste desvio e recorre ao tema da carência relativa de lutas populares pela conquista de direitos e atribui à cultura política ibérica que transmitiu ao Brasil, desde a colonização, “um ideal de comunidade paternalista, no qual não há lugar para a luta pela conquista de direitos, substituída pela distribuição de favores por parte dos de cima e pela manifestação de lealdade ou gratidão por parte dos de baixo” (CARVALHO, 2002, p.10). Luis Carlos Bresser Pereira considera que o desenvolvimento do capitalismo ocasiona a desconcentração de quatro atributos que conferem poder aos grupos sociais: a força, a riqueza, a hegemonia ideológica e o conhecimento técnico e organizacional. Segundo este autor, esta desconcentração de recursos engendrada pelo capitalismo é indispensável à instauração efetiva de direitos políticos e a consequente implantação de regimes democráticos. Sugere uma clara defasagem entre a evolução da política de países de capitalismo avançados e a de países capitalistas periféricos (Brasil e outros da América Latina): enquanto os primeiros alcançaram a cidadania política e o regime democrático na primeira metade do século XX, os últimos só chegaram a esse patamar na segunda metade deste mesmo século, e essa defasagem parece exprimir o atraso dos países periféricos no plano do desenvolvimento do capitalismo e da participação cidadã (BRESSER PEREIRA, 1996). De acordo com SAES (2001, p. 8) “a concentração e a centralização do capital têm como subproduto o aumento da capacidade de pressão das classes sobre o Estado, o que pode refletir-se na conquista de direitos” mais precisamente, considera que “a evolução da cidadania política é parte do processo de 77 desenvolvimento do capitalismo numa formação social [...] ela é influenciada pela dimensão econômica e também exerce influência sobre a mesma” (SAES, 2001, p.8). A configuração específica desse processo evolutivo tem influência direta na radicalização, ou não, da luta popular pelos seus direitos, incorporação da democracia e da cidadania política. De acordo com Saes (2001) o advento de uma democracia representativa, ou de uma ditadura, pode ser influenciado pela atuação popular. Como determinante para a busca das causas históricas da concretização de um certo padrão de evolução da cidadania política no Brasil, Saes (2001) afirma que duas características fundamentais devem ser consideradas: a instauração dos direitos políticos no Brasil entre 1891 e 1988 apresentaram limitações específicas, em que se configura um quadro, onde seria esperar demais que a cidadania política pudesse ser instrumento institucional de instauração do poder político da maioria social. A evolução da cidadania política no Brasil, além de ter apresentado limitações de caráter específico, foi realizada de modo instável e intermitente, o que distancia o Brasil de países onde a instauração da cidadania se delineou após rupturas institucionais radicais, como um longo processo evolutivo, sem recuos ou sobressaltos (o que não quer dizer, sem lutas sociais), como a Inglaterra ou alguns países da Europa do Norte (SAES, 2001). Com a aprovação da CF/88 abriu-se a possibilidade de as classes trabalhadoras desenvolverem práticas de participação e controle social de modo institucionalizado, configurando-se um quadro histórico favorável à restauração da eficácia prática do exercício do direito ao voto, experiências de caráter massivo e independente. Os governos civis, da década de 1990, fortaleceram uma nova hegemonia política, pela reestruturação do setor público, enfraquecendo a burguesia do Estado, mediante o programa de privatizações. As inovações trazidas com o advento da CF/88 evidenciam a participação popular formal, através dos conselhos em todas as esferas. Para discutir esta participação, torna-se oportuno a este estudo conceituar os conselhos com base na 78 normativa nacional, e avançar nas análises das experiências vivenciadas pelos conselheiros do CMAS de Aquiraz-CE, estudo que se desenvolve no capítulo que se segue. 79 3 O CENÁRIO EXPERIMENTAL DA REPRESENTATIVIDADE DOS CONSELHOS: PRESSUPOSTOS E ATITUDES EM FOCO O objetivo deste texto é situar, com base na análise de diferentes momentos históricos, como vem se processando as relações entre Estado e sociedade civil no Ceará e suas repercussões para o delineamento da realidade presente no cenário local. Tal perspectiva alinha-se a questões políticas, econômicas, culturais e sociais, onde os aspectos relacionados às desigualdades, à pobreza e ao enfrentamento desta problemática adquirem relevância. Destacam-se as formas assistencialistas, que dominaram o fazer político local por longo tempo e a ultrapassagem formal pelas vias legais de conquistas democráticas, ensejadas a partir da Constituição de 1988, quando a Política de Assistência Social entra em cena, delimitando novos horizontes para o enfrentamento do processo de exclusão que, por longo tempo, limitou possibilidades concretas para a transformação da realidade excludente, cujas marcas persistem (PINHEIRO, 2002). 3.1 A construção histórica da Democracia no Estado do Ceará A incorporação do território cearense ao projeto colonial português deuse, de modo tardio, com as primeiras tentativas de Pero Coelho de Sousa em 1603, depois com Martim Soares Moreno e, por último, com a chegada dos holandeses, depois de mais de 150 anos de conquista do litoral pernambucano. A Capitania do Ceará não despertava o interesse dos colonizadores, que só se lançaram para desbravar suas terras, no momento em que a expansão da produção açucareira passou a disputar terreno com a pecuária e, também, ao tempo em que as possibilidades de ascensão social, pela propriedade de terras do sertão, foram anunciadas com a doação da Carta de Sesmaria, entre 1679 até 1710 (PINHEIRO, 2002). A ocupação da capitania do Ceará se deu com a submissão de sua população indígena, tendo sido marcada pelo conflito entre nativos que defendiam 80 seus territórios, enquanto os colonizadores queriam “limpar a terra” para que o gado pastasse livremente. Sendo assim, o avanço da pecuária implicava na prisão ou mesmo extermínio dos índios, para a garantia da liberdade do gado, que no período representava o interesse mercantil (Ib id, 2002). A resistência armada dos povos nativos do Ceará prevaleceu de 1679, com a doação das Sesmarias, até 1713, quando uma confederação dos povos indígenas invadiu a Vila de Aquiraz, então capital da capitania do Ceará. Delineava-se uma sociedade marcadamente patriarca, onde o poder pessoal dos proprietários de terra adquiria relevância. No início do século XIX, a economia pecuária no Ceará entra em crise, dando lugar à produção do algodão, matéria prima ambicionada pela indústria têxtil inglesa que se expandia no período. Nesse contexto, as terras adequadas para a produção do algodão (Uruburetama, Baturité e a Vila de Fortaleza) foram palco de disputa pelo interesse mercantil que representavam no momento (Oliveira, 2002). As Vilas de Aquiraz e Fortaleza foram criadas pelo interesse de estratégia militar, porque o Ceará era ponto de apoio para a conquista do Maranhão, portanto, não havia da parte dos colonizadores, outros interesses que animassem maiores investimentos para o desenvolvimento de tais vilas. Entre 1817 e 1824 ocorreram os primeiros movimentos de caráter republicano no Ceará. Sem negar a importância de tais movimentos, registra-se que não promoveram alterações na estrutura social vigente, marcadamente escravista e latifundiária, mantendo-se a garantia do poder dos proprietários de terras aliados ao setor comercial nascente (Ib. Id., 2002). A expansão da produção algodoeira necessitava de força de trabalho, e, como os proprietários locais não tinham recursos suficientes, para a compra de mais escravos, começaram a recorrer à população pobre usando de violência para obrigálos ao trabalho pesado. O período de 1824 até 1845 foi marcado por profunda crise. O algodão, que era o principal produto de exportação, perdeu força comercial devido ao fechamento do mercado inglês. O comércio nascente e os grandes proprietários de 81 terras, que viviam da exploração do trabalho escravo e dos pobres, entraram em decadência, apesar das iniciativas do governo da época, sob o comando do Padre José Martiniano de Alencar (1834-1837 e 1840-1841). Em 1850 ocorre o fim do tráfico internacional de escravos, e o período marca a transição do trabalho escravo para o trabalho livre em todo o Brasil. Na província do Ceará, apesar do trabalho escravo ter tido participação secundária, a lei regulamentadora de acesso à terra beneficiou grandes proprietários, porque oferecia instrumentos legais para garantir-lhes o domínio sobre a população pobre (OLIVEIRA, 2002). Em 1858, o Presidente da Província criou a Companhia dos Trabalhadores do Ceará, uma organização militarizada, com seções em todas as vilas, com a missão de alistar todas as pessoas, na faixa etária de 14 aos 45 anos, sem ocupação regular, numa reedição da legislação contra a vadiagem (PINHEIRO, 2002). O convencimento da população pobre, para aderir ao trabalho manual, foi assumido pela Igreja Católica que, com seus missionários, percorria terras do Nordeste, para convencer os pobres a se submeter ao trabalho disciplinado, sob a condição de morador. Outro aspecto relevante na história do Ceará, foi a repercussão política da Abolição da Escravatura, mesmo considerando-se que a classe dominante de proprietários de terras tinha domínio e controle sobre a situação. Na verdade, o contingente de escravos no Ceará era reduzido e insignificante, representando apenas 4,4% da população total, conforme o primeiro censo nacional de 1872. O século XIX, analisado sob o olhar de Bezerra de Menezes (2002), sobre os documentos disponíveis, atestam uma saga cujos condicionamentos geográficos, etnográficos e econômicos conduziram a história sociopolítica, por uma trilha marcada pela seca no sertão, o criatório de gado, o plantio de algodão, a coragem, a força e a violência, o crime e o sangue, o sacrifício e o misticismo de um povo ousado, que teria enfrentado primitivos ocupantes, dando lugar à formação de uma gente mesclada (BEZERRA DE MENEZES, 2002). 82 As sequelas da escravidão, a pobreza, as desigualdades e o isolamento de povos indígenas do meio rural cearense, não foram superadas e a submissão da economia local, a cultura oligárquica desligada dos valores das grandes massas adentravam à história que circunscreve a realidade do Estado do Ceará no decorrer do século XX (OLIVEIRA,2002). A travessia, percorrida para atingir o atual estágio de desigualdades socioeconômicas no Ceará, como já se fez referência, tem antecedentes históricos. Em 1824, Fortaleza foi elevada à categoria de cidade, apresentando, no período, uma ascensão econômica pela evolução da lavoura algodoeira, estimulada pela procura internacional e também pelas modificações técnicas do sistema de transportes marítimos, o que gerou forte movimento comercial no Porto do Mucuripe. Evidenciam-se, por esse tempo, as primeiras condições para o surgimento do setor industrial no Estado, com a instalação de algumas fábricas a partir de 1920. As estradas de ferro, transitando entre a cidade e o sertão, levavam ao campo a propaganda ilusória dos centros urbanos. O sertanejo cearense, desiludido com o fraco desempenho da pecuária e da agricultura local, começa a migrar para a Capital, Fortaleza ou outros destinos, em busca de trabalho na indústria ou no comércio, mas para a grande maioria, o trabalho permanece uma ilusão: o desemprego, o agravamento da situação de pobreza dentre outras dificuldades ampliam as situações de violência e exclusão. A partir da década de 1950, criam-se organismos tais como: SUDENE, BNB e CHESF, todos eles com a missão de alterar o processo migratório campo x cidade, apresentando soluções para a fixação do homem no campo, cujas medidas mais frequentes se davam pela construção de açudes públicos, para minimizar os efeitos das secas. No entanto, tais açudes, em maioria, foram construídos nas propriedades dos latifundiários, desprotegendo o sertanejo pobre das adversidades do clima, gerando-se por esse tempo, a chamada “indústria das secas” (OLIVEIRA, 2002). 83 Nos anos de 1960, os incentivos fiscais criados pela SUDENE estimulam a aceleração do processo de industrialização no Ceará, entretanto, o setor agrícola preserva características tradicionais. Em períodos de grandes estiagens de chuvas e sucessivas secas, o processo migratório se mostra como alternativa de sobrevivência para muitos. Tal como no restante do país, o Ceará vivencia, de 1964 até 1970, o período da ditadura militar, com os governos autoritários dos chamados “coronéis”. Na transição democrática, no início dos anos de 1980, o governo civil de Gonzaga Mota evidencia o verdadeiro caos econômico no Estado, onde a maioria de seus “apadrinhados políticos” tinha um emprego público, muito embora não prestassem nenhum serviço ao governo local. Como resultante dessas concessões, o Banco do Estado do Ceará entrou em processo de falência, e os servidores públicos passaram a enfrentar dificuldades, porque o salário não tinha calendário fixo. Sem fundos no orçamento estadual, para cumprir compromissos com a folha de pagamento dos servidores, o governo lançou as “gonzaguetas” (cheques sem fundo emitidos pela gestão pública), que eram negociados pelos servidores com comerciantes para pagamento posterior. Entre 1978 até 1986 um grupo de “jovens empresários” se sucederam na presidência do Centro Industrial do Ceará – CIC e assumiram papel político relevante, privilegiando bandeiras tais como: o combate à relação promíscua entre empresários e o Estado e a dependência financeira fiscal, provocada por tal relação, bem como o combate à falta de eficiência, que tal dependência gerava no comportamento empresarial; o combate às elites tradicionais locais e aos compromissos estabelecidos por essas elites, de onde derivava o clientelismo político local. O enfrentamento à realidade fiscal-financeira, que predominava no governo estadual; a abertura política do país, o combate à queda do salário real, à pobreza e aos problemas sociais. Tais propostas fizeram nascer, no interior do Grupo de Jovens Empresários, o viés político “social-democrático” que, mais tarde, em 1990, possibilitou o ingresso deste grupo no Partido da Social Democracia 84 Brasileira (PSDB), sob o comando do então governador Tasso Jereissati (VERGARA, 2004). Sintonizados com ideias de vanguarda, os jovens empresários do Ceará transformaram o CIC num grande fórum de debates sobre os problemas políticos sociais e econômicos locais. Aliados ao grupo dos oito (Ermírio de Morais, Paulo Villares, Paulo d´Arrigo, Laerte Setúbal e Jorge Gerdau) assinaram, em 1978, o Documento dos Empresários, onde faziam uma análise da situação política no campo social do país (MARTINS, 1993). Nesse movimento, engajaram-se nas campanhas pelas “Diretas Já”, e apoiaram a candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República. A partir do fortalecimento político dos Jovens Empresários do Ceará, em 1986, contra os coronéis pelo poder do governo estadual, o nome de Tasso Jereissati foi indicado para a representação do Grupo, na defesa de um projeto político, representado pelo “movimento pró-mudanças” (AMARAL FILHO, 2004). Em 1987, a população do Ceará elege Tasso Jereissati sob o slogan “Governo das Mudanças” e o compromisso de superar valores deformados de clientelismo e o protecionismo às oligarquias locais. O novo governo afirma o compromisso com o enfrentamento à miséria, enfatiza o empenho de estruturar uma base econômica forte, estabelecendo metas setoriais estratégicas para a construção do Complexo Industrial Portuário do Pecém; Aeroporto de Fortaleza; a Rota Turística do Sol Poente, dentre outras iniciativas infra-estruturais. As medidas administrativas implementadas no Ceará, desde 1987, se caracterizavam por serem uma proposta de modernização política, que configuravam um novo paradigma nas relações entre o Estado e a Sociedade Civil. Estas mudanças tiveram repercussões internas, com a melhoria da performance financeira do Estado. Segundo dados do Instituto de Pesquisas e Estratégias Econômicas do Ceará (IPECE), o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado cresceu 127,99% no período de 1986 a 2000, correspondendo a uma taxa média anual de 5,65% (NETO CISNE, 2004). 85 Em abril de 2002, o Ceará foi o maior empregador industrial do Nordeste, o que reflete resultados da política de atração de novos incentivos para o Estado (IBGE/PNAD, 2002). A ampla reforma do Estado, promovida pelo “Governo das Mudanças”, gerou grande insatisfação entre os servidores públicos locais, porque os “apadrinhados” dos antigos governos militares acumulavam até três empregos públicos sem, de fato, contribuírem para a gestão do Estado. O governo de estilo “empresarial” promoveu ajustes nas contas públicas e colocou o Estado na rota do desenvolvimento. Nos governos que se seguem (Ciro Gomes, a volta de Tasso Jereissati, Lúcio Alcântara e o atual governo Cid Gomes) a inclusão social, como eixo articulador para o desenvolvimento local, é a base dos sucessivos discursos políticos. O enfrentamento aos desafios da pobreza e miséria buscam materialização na mudança dos padrões de gestão pública. Essas propostas diferem da tradicional intervenção assistencialista, junto a grupos vulneráveis, quando a distribuição eventual de cestas básicas ou outros benefícios, eram moeda de troca pelo voto dos desvalidos. Apesar de todos esses esforços é importante considerar que a caracterização da pobreza no Estado do Ceará envolve um conjunto de privações históricas, culturais, políticas, sociais e econômicas, onde carências múltiplas de alimentação, habitação, educação e saúde concorrem para um quadro desafiador. Com uma população de 7,4 milhões de habitantes, o Estado do Ceará é geograficamente dividido em 184 municípios, onde mais de 50% da população sobrevive em situação de pobreza. Dados do IBGE/PNAD de 2002, mostram que, além da distribuição desigual de riqueza, o Ceará apresenta renda familiar baixa, equivalente a apenas 56,4% da renda nacional. Nas áreas urbanas, a renda média mensal é de R$ 263,00 (duzentos e sessenta e três reais) e esse valor é mais que o dobro da renda média dos trabalhadores que residem nas áreas rurais. Destaca-se que, apenas 60% dos 86 trabalhadores rurais do Ceará possuem rendimento monetário, sendo ainda muito comum o esquema de parcerias (meeiros) e produção para o próprio consumo (FALCÃO, 2004). A população da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) cresceu, a uma taxa muito mais elevada do que qualquer outra região do Estado, com uma média anual de 3,23%, enquanto que nas regiões costeiras, como é o caso do município de Aquiraz, verificou-se o segundo maior crescimento, com média anual de 1,40%. Tal crescimento se deu também em termos do mercado de trabalho concentrado à RMF, onde 58,9% das oportunidades de ocupação e dão no setor industrial e 52,2% no setor de serviços (FALCÃO, 2004). Nesses termos, a manutenção de elevadas taxas de pobreza no Ceará, não obstante o crescimento econômico verificado nas duas ultimas décadas, pode ser considerada uma consequência dos efeitos históricos, combinados com os desequilíbrios nas estruturas espacial e econômica, visto que o interior do Estado tem mostrado limitada capacidade para potencializar desenvolvimento econômico equilibrado, com investimentos no desenvolvimento social. Por outra via, a redução contínua dos investimentos na agricultura não estimulou a permanência do homem no campo, o que gerou processo de urbanização desordenado com aglomerações de favelas estendendo-se pelos quatro cantos da capital. Parafraseando a atual presidenta da República do Brasil, não se pode falar sobre democracia em um país onde reina a pobreza, a miséria e os extremos da desigualdade. É com esse sentimento, que este estudo avança para o próximo tema, onde o cenário do município de Aquiraz é focalizado, na dinâmica das representações do Estado e da sociedade civil local, no contexto do Conselho Municipal de Assistência Social. 3.2 Poder local, representação e territorialidade: Reflexões sobre o Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz-Ce 87 A sociedade brasileira contemporânea começa a mostrar sinais de inquietação pela dissonância entre o discurso político democrático e a repressão vivenciada por grandes contingentes, que no país permanecem vivendo situações de extrema pobreza, com deterioração da qualidade de vida, ameaçada pelos altos índices de violência, aumento do desemprego, dentre outros males sociais, observados em pleno cenário de crescimento econômico. Existe um amplo e recente consenso, em torno do qual não é qualquer tipo de crescimento que gera desenvolvimento, o que vem sendo enfatizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), há mais de uma década. As desigualdades sociais se transformaram em desigualdades de cidadania, impedindo o exercício dos direitos básicos, e deixando os cidadãos mais pobres, como fácil presa do clientelismo e patrimonialismo, além de reduzir a capacidade de participação e controle social. No caso do Brasil e do Ceará, a presença da corrupção é um mecanismo complementar, de grande importância na geração das desigualdades sociais (VERGARA, 2004). Faria (1993) adverte que a superação das desigualdades sociais afeta o conjunto das políticas públicas mas, sobretudo, exige a alteração dos equilíbrios de poder e das regras do jogo entre os diferentes atores sociais, e, para tanto, sugere a reforma institucional. As desigualdades territoriais foram anunciadas como o principal desafio da nova Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), portanto, focar o olhar para os fatores internos, os condicionantes locais presentes no município de Aquiraz-Ce é exercício que se pretende desenvolver a partir de então, nele situando os achados de uma pesquisa de campo, onde os conselheiros municipais de assistência social figuram como atores sociais qualificados, para apresentar referências importantes sobre a participação e controle social, na dinâmica das relações em que o Estado e a sociedade civil se esbarram, para negociações 88 voltadas à garantia dos direitos da população pobre que reside no município, sendo esta, a parcela legalmente legitimada como público da política de assistência social. Aquiraz constitui-se atualmente, dentro da classificação nacional, enquanto município de médio porte, executor de uma política descentralizada e habilitada pela Comissão Intergestora Bipartite (CIB-Ce), o que significa dizer que o município coordena seu próprio Sistema de Assistência Social, sendo responsável pela execução das ações e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos no seu âmbito de atuação, a ele cabendo ainda, a organização da rede de prestação de serviços socioassistenciais, em pactuação com o Estado e o Governo Federal, na constituição e fortalecimento da rede de proteção social (PLANO DE AÇÃO, 2007). Aquiraz foi a primeira capital do Ceará, perdendo essa posição para Fortaleza em 1799. Criada por ordem régia, em 13.02.1699, a Vila de São José de Ribamar do Aquiraz disputou, durante muitos anos, a liderança política do Estado com Fortaleza. O Município de Aquiraz pertence à Região Metropolitana de Fortaleza, sendo o quarto em extensão territorial e o quinto em número de habitantes, limita-se ao norte com o Oceano atlântico, Fortaleza e Eusébio, ao Sul com os municípios de Horizonte, Cascavel e Pindoretama, a leste com o oceano atlântico e a oeste com os municípios do Eusébio, Itaitinga e Horizonte (IBGE/Iplance – Projeto Arquivo Geográfico Municipal). Abrange três unidades geoambientais: planície litorânea, planície flúviomarinha e tabuleiro pré-litorâneo. Sua diversidade ambiental é composta de dunas, vegetação pioneira da caatinga litorânea, manguezais banhados por rios, margeados por carnaubais, que formam a fisionomia típica do estuário. O clima é tropical quente sub-úmido, com temperatura média de – máxima 36º C e mínima de 28º C (FUNCEME/INMET). Apresenta uma pluviometria variando de 1.379 mm/ano, até 900 mm/ano. Está totalmente inserido na bacia hidrográfica do Rio Pacoti. As potencialidades físicas e naturais destacam o município como território de significativo valor histórico, paisagístico, ambiental e cultural. 89 A beleza das praias, o potencial hídrico, vegetal e de solos, atraiu a ocupação do território, hoje correspondente aos seus limites municipais. A vocação turística é confirmada pelo patrimônio ambiental e histórico. 30 km de litoral são constituídos por diversas praias conhecidas nacionalmente, como Porto das Dunas, Prainha, Presídio, Iguape, Barro Preto e Batoque. Um dos grandes atrativos de Aquiraz, a faixa litorânea, é responsável pelas altas taxas de expansão imobiliária da região. Um dos principais problemas está no uso ligado a atividades de veraneio, o que faz com que os loteamentos e casas sejam muitas vezes ocupados por estrangeiros. A partir dos anos de 1990, a atividade turística passou a se orientar pela intenção de fazer de Aquiraz, um município capaz de atrair investimentos e equipamentos de grande porte, para servir de âncora à atividade turística nacional e internacional e movimentar a vida econômica da comunidade local, com a geração de empregos. Diversos conflitos foram travados no contexto fundiário do litoral, que culminaram com o litígio jurídico entre a comunidade local e empresários, que tentavam investir e construir em áreas como o Batoque, que tornou-se propriedade da União, sendo atualmente gerida pelo IBAMA. Aquiraz é um município de extremos e complementaridade. Em sua faixa litorânea observa-se de um lado, a base local (leste – representada pela Reserva Extrativista do Batoque), lutando pela preservação e manutenção das características locais, enquanto que no Porto das Dunas (oeste), as premissas do desenvolvimento com base na inserção econômica do capital internacional. De acordo com a Secretaria Estadual de Turismo, Aquiraz possui hoje o maior parque hoteleiro do Ceará. A produção agrícola municipal é montada em bases tradicionais, sendo o cultivo de frutas e cultura de subsistência, uma importante parte da produção municipal. É destaque ainda, a criação bovina, suína e equina. A produção avícola ocupa a primazia em arrecadação de ICMS, sendo responsável pela absorção do maior número de empregados do setor e fonte de alimentação local. A atividade 90 extrativa do município resume-se à produção da cera de carnaúba e a extração de lenha, usada como fonte de geração de energia. O setor secundário concentra indústrias de bens de consumo, especialmente de bebidas e castanhas. É no setor terciário que está concentrada a maior parcela do PIB de Aquiraz, em especial no setor de serviços, que contribui com 52,01%, principalmente nas atividades ligadas ao turismo receptivo. No setor terciário, os vínculos mercantis são fortes com o município de Fortaleza, para onde escoa a produção agrícola e artigos industrializados, importando desta, produtos manufaturados. Atualmente o município prepara-se para ser sub-sede da copa de 2014 e algumas ações vem sendo fomentadas, no sentido de preparar a população para atender melhor ao turista, investindo ainda, em parceria com o Governo Federal e Estadual, na ampliação da estrada que corta o município. Aquiraz é atualmente administrada pelo senhor Edson Sá, que foi prefeito de Eusébio, em 1966 e no ano 2000. Em 2004, ele não disputou as eleições no município do Eusébio, quebrando a sequência de reeleições, e, em 2008 foi eleito, em primeiro turno, prefeito de Aquiraz pelo PMDB, com 18.650 votos (Tribunal Regional Eleitoral do Ceará – Secretaria de Tecnologia da Informação: Resultados Eleitorais – Eleições Municipais 2008 – 1º turno – 05/10/2008). A assistência social em Aquiraz, na perspectiva de implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), iniciou sua reestruturação em 2005 com a habilitação do município e medidas de adequação inerentes à adesão. Neste período, foram empossados 08 gestores da Política do Trabalho e Assistência Social no Município, com a missão de consolidar o SUAS, conforme os preceitos estabelecidos na LOAS. Para executar as ações da Política de Assistência Social, o município conta com equipamentos públicos, integrantes da estrutura organizacional da Secretaria do Trabalho e Ação Social (STAS): 04 CRAS – Centro de Referência da Assistência Social; 01 CREAS – Centro de Referência Especializado da Assistência Social; Projeto ABC; Casa dos Conselhos; Cozinha Comunitária, Casa do Cidadão, 91 dentre outros. Em consonância com os preceitos constitucionais e com a NOB/SUAS, executa atividades de Proteção Social Básica, Proteção Social Especial, Segurança Alimentar e Transferência de Renda. A Rede Socioassistencial privada passa a integrar o SUAS, não somente como prestadora complementar de serviço, mas como co-gestora e corresponsável pela garantia de direitos sociais dos usuários da assistência social, na perspectiva da reafirmação do SUAS e do rompimento com qualquer conceito de assistência social que não seja sua compreensão como política pública. A rede é composta pela iniciativa pública, em parceria com as entidades da sociedade civil, com as quais a STAS de Aquiraz, através da Casa dos Conselhos, desenvolve um trabalho de assessoramento e acompanhamento, convidando-os à participação e ampliando parcerias com agentes financiadores. Através do Plano Plurianual de Assistência Social trienal, considerado instrumento político de discussão entre o governo e a sociedade civil, propõe “Desenvolver a Política de Assistência Social, em consonância com o SUAS e demais legislações pertinentes, de forma integrada às políticas setoriais, com a finalidade de combater as vulnerabilidades sociais e desenvolver as potencialidades das famílias” (PLANO PLURIANUAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE AQUIRAZ, 2004-2007-2010, p.39). E considera em seus objetivos específicos a implantação de um sistema de informações, monitoramento e avaliação da política de assistência social, que funcione em articulação com o Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz. Considera ainda, que este Conselho deverá ser consolidado, enquanto instância máxima de controle social, propondo seu assessoramento ao CMAS de Aquiraz, a fim de subsidiar tecnicamente a tomada de decisões do colegiado. Com uma densidade demográfica de 125,79 hab./km², o município de Aquiraz apresenta uma população de 67.265 habitantes, segundo estimativas do IBGE/2007, distribuída em nove distritos administrativos: Sede, Jacaúna, Justiniano de Serpa, Camará, Patacas, Tapera, Caponga da Bernarda, João de Castro e Assis Teixeira, sendo 34.620 homens e 32.645 mulheres, ocupando uma área total de 480,97 Km². 92 A base de dados do Cadastro Único de Aquiraz, referenciada no mês de dezembro de 2010, contabiliza um total de 13.342 mil famílias com cadastros ativos e 53.416 mil indivíduos cadastrados. Do total de famílias, 8.235 figuram como beneficiárias do Programa Bolsa Família. A distribuição dos beneficiários dos programas de transferência de renda, por faixa etária, mostra que 11.819 compreendem a idade de 01 mês incompleto até 12 anos incompletos; 11.499 de 12 a 18 anos; 30.055 de 19 anos completos e 1.427 a partir de 67 anos completos. Ressalta-se, também, que em dezembro de 2009 o sexo feminino configura-se entre o maior número de pessoas cadastradas, 52,9% e o sexo masculino 41,1%. Quanto à renda observou-se que 13.172 domicílios apresentam renda familiar média inferior a 01 salário mínimo; 170 domicílios possuem renda familiar média a partir de 01 salário mínimo, evidenciando-se a condição de pobreza entre expressiva parcela da população local. Os dados relativos à situação no mercado de trabalho revelam, no que tange aos beneficiários dos programas de transferência de renda, que 8.142 são assalariados, com Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada. 4.581 são assalariados, sem Carteira de Trabalho assinada; 84 autônomos, com previdência social; 2.655 autônomos, sem Previdência Social; 6.119 são aposentados e 31.835 se enquadram em outras situações. Considerando-se o conjunto de todos os beneficiários ocupados, verificase que a ocupação mais representativa é de empregado doméstico, com 7.488 ocupações, dos quais a grande maioria é composta por mulheres chefes de família. Em seguida, aparece trabalho agrícola polivalente (7.349); servente (3.702); faxineiro (3.291); tecelão de rendas e bordados (1.468); lavadeira (1.149); costureira (1.021); avicultor (829); pedreiro (431); garçom (420); gari (319) e lixeiro (226) (Dados do Cadastro Único de Aquiraz – Dez, 2010). Procedendo-se à análise quanto ao tipo de moradia das famílias inseridas no Cadastro Único, tomando-se como base as informações de dezembro de 2009, constata-se que 12.713 beneficiários residem em casa e 42 em cômodos. Sobre o 93 tipo de construção dos imóveis, os dados indicam que 12.558 são de tijolo/alvenaria, 102 de madeira e 98 de adobe. Com relação à situação dos imóveis, verifica-se ainda, que 2.952 são cedidos, 756 alugados, 24 invadidos, 17 arrendados, 5 financiados e 9.883 próprios. Com relação aos serviços públicos de fornecimento de água e iluminação pública, existem 7.850 domicílios com abastecimento por meio de poço/nascente e 34 por carro pipa. A iluminação residencial se dá por meio de relógio próprio, com fornecimento terceirizado pela companhia estadual – 11.087, enquanto que 491 domicílios compartilham o abastecimento, 968 não possuem luz, utilizando vela e lampião como meio de iluminação. No que se refere ao tratamento de água, de acordo com informações do Cadastro Único, em 2.234 residências se dá por meio de coloração; 8.014 por meio de filtração; 384 consomem água após fervura e 2.835 domicílios sem qualquer tipo de tratamento. O esgotamento sanitário, feito por meio da rede pública, abrange 1.057 domicílios (dos inscritos no Cadastro Único). 7.072 utilizam fossa rudimentar; 3.969 fossa séptica; 1.210 céu aberto e 141, vala. No que concerne ao lixo, os dados do Cadastro Único de dezembro de 2009 revelam que 8.814 domicílios são atendidos pela coleta pública; 3.599 fazem a queima dos resíduos; 899 enterram; 422 despejam a céu aberto; 77 dão outro destino ao lixo. Sobre as condições das moradias dos beneficiários da Política de Assistência Social, registrados no CADÚNICO, as construções necessitam de apoio do Estado, haja vista a precariedade de boa parte delas, seja nos materiais utilizados, seja pela falta deles, ou pelo número de cômodos incompatíveis com o número de moradores. No tocante ao perfil educacional, cabe ressaltar a necessidade de se planejar e executar ações promotoras da elevação dos níveis de escolaridade e de capacitação profissional dos beneficiários dos programas sociais, tendo como referencial, o preceito da intersetorialidade preconizada pela Política Nacional de 94 Assistência Social, buscando maior articulação e parceria entre as áreas de educação e trabalho. O número de pessoas no CADÚNICO, com até a quarta série do ensino fundamental completo, é de 43.377, o que representa, em termos percentuais 79% do total da base de dados, referente a dezembro de 2009. O nível de escolaridade, nos dias atuais, é fator de grande relevância nas condições e possibilidade de inclusão social, notadamente no mercado de trabalho, mesmo em ocupações ou negócios autônomos, no segmento do empreendedorismo. Os dados relativos aos perfis de educação de Aquiraz permitem avaliar os desafios e metas a serem alcançados, notadamente quanto aos baixos níveis de escolaridade dos beneficiários cadastrados no CADÚNICO, que associado à falta de qualificação profissional, dificulta a inclusão via promoção do emprego, haja vista os dados de escolaridade dos beneficiários dos programas de transferência de renda. Em sua estratégia gerencial, a Prefeitura de Aquiraz estruturou um espaço para funcionamento dos conselhos municipais (Casa dos Conselhos), garantindo, secretaria executiva, equipamentos e outros insumos necessários ao ordenamento das ações, tendo implantado calendário mensal de reuniões para os Conselhos Municipais de Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente, além de outros requisitos para qualificar sua atuação. Fisher (19993) afirma que, o poder local não se reduz à dimensão da territorialidade. Abordar o poder local envolve a discussão de relações de poder, que se estabelecem entre diferentes atores sociais, em diferentes esferas, não restritas ao município. De acordo com esta autora, “local não significa, necessariamente, um espaço físico determinado e delimitado geograficamente” (FISHER, 1993, p. 11). O poder local, para efeito deste estudo, pode ser identificado como a governança do município, ou seja, para além dos gestores da prefeitura, o poder local envolve os atores importantes do processo econômico, político e cultural, sua força de trabalho e, principalmente, as redes socioassistenciais oficialmente instaladas, que se inserem na gestão dos conselhos e, mais especificamente, no Conselho Municipal de Assistência Social, cujas condicionalidades de gestão 95 passam a ser analisadas no próximo tópico desta dissertação, em suas condições objetivas de funcionamento e, logo em seguida, a partir das considerações de seus atores sociais. 3.3 Conselhos e conselheiros: Participação e controle Social por / para quem? Alimentar as possibilidades de participação legitimada é um grande desafio no Brasil, especialmente para os municípios nordestinos, onde a centralização do poder, o analfabetismo, o voto do cabresto e o clientelismo, dentre outros comportamentos, determinaram a condição de aceitação da realidade e distanciaram o povo do exercício da cidadania. Esta compreensão ficou evidenciada no resgate histórico viabilizado por este estudo, idealizado sob a hipótese de que os conselheiros da política de assistência social de Aquiraz enfrentam grandes limitações ao exercício imparcial de suas funções, a começar pelo desconhecimento de seu próprio papel, na defesa aos interesses do público da assistência social. Para desvelar tal hipótese, e considerando os questionamento e objetivos iniciais que orientaram a formulação desta pesquisa, o estudo de caso focado na participação e controle social, experimentada pelos atores sociais que integram o Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), delineou-se metodologicamente como a opção mais viável para sua concretização. De acordo com Yin (1989), a preferência pelo estudo de caso deve ser dada quando o estudo de eventos contemporâneos, em situações onde os comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas onde é possível se fazer observações diretas e entrevistas sistemáticas. Apesar de ter pontos em comum com o método histórico, o estudo de caso se caracteriza pela capacidade de lidar com uma completa variedade de evidências – documentos, artefatos, entrevistas e observações. Este método foi eleito, por ser o objeto desta pesquisa, um fenômeno contemporâneo e plenamente situado dentro do contexto de vida real. A necessidade de utilização da estratégia de “estudo de caso” advém do desejo de 96 entender um fenômeno social complexo, que envolve categorias distintas: participação, controle social e conselho de assistência social, traçando um diálogo entre a empiria e a história. Alguns estudiosos criticam o método de estudo de caso, acusando este de falta de rigor, por possibilitar a influência do investigador e fornecer pouquíssima base para generalizações. Porém, é sabido que há diversas maneiras de evidenciar a validade e a confiabilidade do estudo, através da análise documental ou mesmo de evidências empíricas comprováveis. De acordo com Frota (1992) o que se procura generalizar são proposições sobre populações, de tal modo que os estudos de casos múltiplos e as replicações de um estudo de caso com outras amostras podem indicar o grau de generalização de proposições e “nem sempre é necessário recorrer a técnicas de coleta de dados que consomem tanto tempo” (FROTA, 1992, p. 20). Além disso, a apresentação do documento não precisa ser uma enfadonha narrativa detalhada. Em sua essência, o estudo de caso visa esclarecer um conjunto de decisões em seus porquês e motivos de implementação e resultados obtidos. O que vem a se enquadrar de modo perfeito na busca pelo alcance do objeto deste estudo. Para investigar o controle e a participação social vivenciada pelo Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz, o método de estudo de caso mostrou-se adequado por permitir reconhecer as fronteiras entre o fenômeno exposto e seu contexto real de realização, permitindo a utilização de múltiplas evidências. Esse método contém especificidades que permitem explicitar as ligações causais em intervenções ou situações da vida real, que sendo complexas, devem ser descritas no contexto em que ocorreram a fim de possibilitar analise e sugestões a partir dos seus resultados. Nessa perspectiva, adotou-se o método de estudo de caso como referência para este estudo, por permitir a “validação interna”, que visa estabelecer o relacionamento causal que testa a coerência interna entre as proposições iniciais dos fatos, para se analisar com a observância de seu desenvolvimento os resultados encontrados. 97 As características do investigador tornam-se pressupostos para o bom andamento da aplicação do método de estudo de caso. De acordo com Souza (1998) deve ser assegurada a capacidade de extrair do caso as informações relevantes, através de procedimentos fortemente baseados na percepção e capacidade analítica para tanto, sendo necessário ser bom ouvinte e não ficar prisioneiro de preconceitos. Nas palavras de Lisieux (1998) é preciso que o pesquisador seja adaptativo e flexível, sem perder o rigor para trabalhar evidências convergentes e as interferências prováveis que referendam os achados. Decidida a escolha sobre o estudo de caso, a seleção da base documental e bibliográfica foi decisiva para as reflexões sobre a trajetória histórica do processo de exclusão social arquitetado desde o Brasil Colônia em cujos determinantes foram assentadas formas de assistencialismo, paternalismo e tantas outras estratégias de subordinação das camadas populares empobrecidas ao poderio do Estado em suas mais diferentes fases até as conquistas democráticas do presente. A abordagem qualitativa foi proposta nesta pesquisa por sua peculiaridade de viabilizar estudos voltados para a compreensão da vida humana em grupos, em campos como sociologia, antropologia, psicologia, dentre outros das ciências políticas e sociais. De acordo com Denzin e Lincon (2000), esta abordagem tem tido diferentes significados ao longo da evolução do pensamento científico, mas se pode dizer, enquanto definição genérica, que abrange estudos nos quais se localiza o observador no mundo, constituindo-se, portanto, num enfoque naturalístico e interpretativo da realidade. Oliveira (2003) defende que um estudo comporta os dois tipos de abordagem: quantitativa e qualitativa. A primeira, preocupa-se com a quantificação de dados, utilizando para tanto de técnicas estatísticas. Por outro lado, as pesquisas de natureza qualitativa envolvem uma grande variedade de materiais empíricos, que podem ser estudos de caso, experiências pessoais, histórias de vida, relatos de introspecções, produções e artefatos culturais, interações, enfim, materiais que descrevam a rotina e os significados da vida humana em grupos. 98 Partindo das premissas elencadas ao longo desta dissertação, este estudo objetivou analisar a dinâmica da participação e do controle social no interior do Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz, no período compreendido entre os anos de 2005 a 2010, suas nuances e peculiaridades. A idealização deste estudo comportou em si, muitos questionamentos. Interessava discutir inicialmente: Quais os significados do controle social da Política de Assistência Social exercido pelos conselheiros? Como se qualifica a implementação da Política de Assistência Social em Aquiraz? Outros questionamentos emergiram de imediato, por mostraremse intimamente vinculados: como ocorre o debate para a tomada de decisões no CMAS de Aquiraz? Estas decisões estão sendo efetivadas? Ou apenas legitimam imposições advindas do executivo local? Os conselheiros compreendem e fazem parte do processo de definição orçamentária para a assistência social? De que forma funciona este conselho? Como se dá o acesso às informações e instrumentos para o exercício do controle social? Como se dá o processo de eleição deste colegiado? Há um programa de formação destes conselheiros? Este conselho vem acompanhando e monitorando, ao longo de sua existência, as entidades existentes no Município e a aplicação de recursos executada pelo governo? Que registros há no tocante a isto? Que resultados foram obtidos? O CMAS – Aquiraz, enquanto instância de controle e participação, exercita tal poder ou pode ser configurado apenas como um instrumento formal, no cumprimento de exigências para o repasse de recursos públicos estaduais e federais ao município? Qual a avaliação do Colegiado a respeito da importância e execução de seu papel? Quais são os principais desafios para execução do controle a da participação dentro do Conselho de Assistência Social de Aquiraz? Enfim, de que forma a prática ensejada pela LOAS vem sendo contemplada neste processo? Diante de tantos questionamentos, uma pergunta central motivou este estudo: O Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz cumpre com sua missão de participação e controle social, conforme os determinantes da Política Nacional de Assistência Social? 99 Para responder a estas questões efetivou-se uma pesquisa documental, junto à Casa dos Conselhos do Município de Aquiraz, cujo conteúdo é matéria que referenda a atuação deste colegiado e posteriormente, uma pesquisa de campo, a partir da qual, identificam-se as proposições dos atores envolvidos no processo de controle social (conselheiros municipais de assistência social) acerca das questões aqui elencadas. O trabalho de campo foi orientado por um instrumental de pesquisa (Apêndice I) cujas abordagens, em forma de perguntas abertas e fechadas permitiram aproximações acerca da dinâmica efetivada no cotidiano dos conselheiros, onde a participação e o controle social constituem-se no centro das investigações efetivadas no âmbito deste estudo. O instrumental utilizado nas entrevistas segue roteiro semi estruturado, para fins de melhor aproveitamento dos achados. Na entrevista se reproduziram falas espontâneas dos indivíduos, constituindo-se numa fonte de expressão dos fatos (MARTINELLI, 1992). Para compor um quadro amostral dos participantes deste estudo, estimou-se que no decorrer do quinquênio 2005 até 2010 o Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz vivenciou três gestões distintas, porque a cada dois anos são efetivadas eleições. Outro dado que orientou a seleção da amostra deu-se a partir do quantitativo de atores sociais, que integram seu colegiado composto por 36 representantes da sociedade civil e 36 representantes governamentais, perfazendo um universo de 72 conselheiros. Sem dispor de informações prévias sobre a recondução de conselheiros durante os três períodos de gestão, contidos no intervalo de 2005 até 2010, decidiu-se trabalhar com uma amostra de 24 conselheiros, que em números percentuais representam 30% do total de conselheiros, conduzidos a esta função em cada mandato no período estudado. O critério de escolha dos participantes das entrevistas deu-se de modo aleatório, considerando-se como princípio algumas condições essenciais: primeiro, o interesse do conselheiro em participar da entrevista e, por último, e não menos 100 importante, sua vontade de contribuir livremente com suas próprias observações sobre a prática vivenciada nas reuniões do referido conselho. Os indicadores de análise correspondem aos mais diferentes questionamentos que orientaram este estudo, articulados às determinações propostas na Lei Nacional de Criação dos Conselhos, nas três esferas de governo (Lei nº 8.752). No caso específico das competências, a preocupação central é observar se estas garantem aos conselhos municipais formas de participação ativa na gestão da política de assistência social, em especial no que tange às funções de fiscalização e controle do fundo municipal para a política de assistência social. Considerando ainda que a existência formal não garante a efetiva ação destes organismos públicos de participação e controle social, este estudo procurou compreender as peculiaridades de tais questões, relacionadas à ação dos conselheiros e sua contribuição para o desempenho da política de assistência social em Aquiraz. 3.3.1 O perfil dos conselheiros municipais de Assistência Social de Aquiraz Durante o período de elaboração deste estudo, esta pesquisadora esteve presente às reuniões mensais, ordinárias e extraordinárias do CMAS de Aquiraz, sempre na condição de ouvinte. A oportunidade propiciou conhecer os conselheiros e realizar o acompanhamento do livro de registro (Atas) destas reuniões, bem como dos documentos pertinentes a este conselho. A decisão de entrevistar o maior número possível desses atores sociais convergiu para orientar a busca nos registros, os possíveis contatos destes sujeitos e ao final foi possível realizar o total de 24 (vinte e quatro) entrevistas, cujos resultados passam a ser apresentados. De acordo com as informações contidas no quadro 1 (ver anexo), 25% dos entrevistados foram conselheiros durante os anos de 2005 a 2007; 33,3%, representaram o conselho no intervalo entre os anos de 2007 e 2009 e 41,6% da amostra deste estudo, esteve enquanto conselheiro do CMAS de Aquiraz nos anos de 2009 a princípio de 2011. 101 Quanto ao tipo de representação, foram entrevistados 13 representantes governamentais e 11 representantes não governamentais, que cumpriram mandato dentro do período estipulado. Observou-se a repetição de nomes de representantes não governamentais, devido à recondução. O mesmo não acontece quando se trata da composição governamental, que não é reconduzida, pois de modo geral, ao término da gestão, tais profissionais são imediatamente destituídos de seus cargos, bem como das funções de conselheiro, perdendo qualquer espécie de vínculo empregatício com o município, exceto em 02 casos identificados neste estudo, por se tratar de trabalhadores concursados. No que se refere ao local de residência dos conselheiros (ver quadro 2) observa-se que, na maioria, os residentes em Aquiraz são os representantes de Organizações Não Governamentais (ONGs), muitas vezes pessoas que acumulam cargos na Prefeitura e assumem funções diversas em associações não governamentais – algumas vezes figuram como dirigentes ou mesmo fundadores destas ONGs. A maioria dos que não residem em Aquiraz é composta por representantes governamentais do Conselho. Como já se fez referência, estes sujeitos estão muitas vezes em cargos comissionados, que perduram durante uma gestão da administração pública, portanto, terminam não aprofundando compromissos com a transformação da realidade do município. Dos entrevistados nesta pesquisa, apenas 04 afirmaram não trabalhar no Município de Aquiraz (ver anexo, quadro 3). Quando questionados, justificaram que no período em que foram conselheiros, exerciam atividades na Prefeitura de Aquiraz e que atualmente estão exercendo outras funções em outros órgãos e não possuem nenhum vínculo com a Prefeitura local. Tais atores demonstraram desconhecimento sobre a situação da política atual do município. Dentre os entrevistados que afirmaram não trabalhar em Aquiraz, há os que ainda nele residem, e, portanto, acompanham a gestão da política e dos conselhos, mesmo afirmando que não estão ativamente envolvidos. 102 Levando em consideração que 30% dos entrevistados (ver anexo,quadro 4) nem residem nem trabalham mais no município, pode-se observar que o número dos que mantiveram vínculos trabalhistas passageiros com a gestão local é relativamente alto. Considerando-se que passaram menos de 01 ano exercendo atividades laborais no município, sugere-se que também não cumpriram o mandato de Conselheiro, que no caso é de 02 anos. Quanto à faixa etária (ver anexo, quadro 5), observa-se que os conselheiros são indivíduos na idade produtiva, entretanto não se tem elementos para afirmar o tempo de suas vidas dedicado às causas sociais ou movimentos de lutas por questões de interesse social. No que se refere à questão de gênero (ver anexo, quadro 6), a representação é equilibrada, mas segundo a lógica dos dados do IBGE que demonstram que no caso brasileiro, especialmente do Nordeste, o número de mulheres é superior ao de homens, a representação feminina supera quantitativamente à masculina. A análise dos dados do quadro que trata do grau de instrução dos Conselheiros do CMAS de Aquiraz (ver anexo, quadro 7) demonstra que todos são alfabetizados e possuem a formação mínima para o exercício da função. Somandose os que apresentam mais baixo grau de escolaridade, variando entre o ensino fundamental completo e o médio completo, chega-se ao quantitativo de 06 (seis) conselheiros, ou seja, 25% do total. Mais representativa é a faixa que vai do ensino superior completo ao pós-graduado, composta por 75% dos conselheiros. Se a educação é determinante para a base de consolidação da cidadania ativa, esses conselheiros, pelo grau de escolaridade que acumulam, supostamente estão qualificados para defender os interesses das categorias populacionais que representam. Quando questionados quanto à disponibilidade de tempo para participar das reuniões do conselho (anexo, quadro 8), 54% dos entrevistados respondeu afirmativamente, confirmando ter disponibilizado tempo para esta atividade. As demais respostas, 46% (não, raramente podia comparecer e compareceu à maioria 103 das reuniões) convergem para o entendimento de que a dinâmica da realidade e a evolução dos procedimentos, normas metodológicas e outros componentes da política de assistência social, exigem tanto dos profissionais que dinamizam sua prática, quanto dos seus conselheiros, a apropriação de conhecimentos sempre renovados. Não há como participar ativamente da dinâmica da realidade, sem um projeto consistente de capacitação dos atores sociais, que se inserem na representatividade dos interesses da comunidade. Quando questionados se atualmente exercem a função de conselheiro (ver anexo quadro 09), apenas 12,1% dos entrevistados respondeu de maneira negativa. Os demais, estão atualmente inseridos em outros conselhos, especialmente no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, (30,3%) e no próprio Conselho Municipal de Assistência Social, onde 24,4% dos entrevistados exerce atualmente a função de conselheiro. Acumular a função de conselheiro acaba sendo naturalizado e a representação permanece mantendo-se entre pequeno grupo. Em tais condições, a vivência democrática limita-se mais ao aparato burocrático que a determina, que na sua expressão maior de participação e exercício do controle social. De acordo com a Lei Municipal nº 079, o tempo de mandato dos conselheiros da assistência social de Aquiraz deverá ser de dois anos, com uma única recondução subsequente. Os dados obtidos nesta pesquisa (ver anexo, quadro 10) demonstram que, em sua maioria, os conselheiros participantes deste estudo foram reconduzidos. Ocorre que na análise dos questionários, o cruzamento dos dados permite verificar que a recondução acontece exclusivamente no caso das ONG´s, visto que muitos conselheiros representantes governamentais, como já dito anteriormente, não permanecem por muito tempo trabalhando no Município, porque assumem, por curto tempo, contratos temporários de trabalho, numa alternativa que vem sendo utilizada no cenário contemporâneo do mundo do trabalho e, 104 principalmente, pelas prefeituras que fogem da legislação que determina a exigência de contratação de pessoal via concurso público. Uma evidência observada no município de Aquiraz, no que concerne ao acúmulo de responsabilidades assumidas pelos conselheiros, consiste no fato de que estes atores sociais são frequentemente convocados a se inserirem como representantes de diferentes políticas públicas. Dos 24 entrevistados, 11 (45.8%) acumulam representatividade em outros conselhos municipais (ver anexo, quadro 11). Considerando o contingente populacional que habita Aquiraz, tal evidência converge para sugerir que a população local não vivencia uma participação ativa, na condução dos seus próprios interesses. Restrita a poucos atores sociais, a representatividade não é disseminada, e o conhecimento sobre a realidade local permanece restrito a pequeno grupo, que acaba acomodando-se ou se sentindo incomodado com a frequência com que são convocados a assumir tal função. Após delinear o perfil do Conselheiro Municipal de Assistência Social de Aquiraz, passamos a investigar as questões referentes às concepções teóricas destes, de acordo com o que se segue. 3.3.2 Concepções teóricas A compreensão dos conselheiros municipais de assistência social de Aquiraz, sobre o significado do controle social encontra, em expressiva maioria das respostas, ressonância com as formulações teóricas sobre essa categoria analítica. Algumas respostas, no entanto, apelam para relacionar o controle social a uma prática de “inspeção policial”, conforme observa-se no discurso dos entrevistados (ver quadro 12) que afirmam que o controle social serve “para que o prefeito não roube” (entrevistado 05), “para controlar a roubalheira do governo” (entrevistado 20). O agravamento da questão social, somado ao descrédito na ação governamental, mobilizou a produção de ideias sobre a necessidade de alargamento dos espaços de formulação e gestão das políticas públicas, para inserir a participação de novos atores sociais no campo das decisões políticas. 105 A persistência das formas clientelistas, tão conhecidas nas ações dos gestores inescrupulosos que continuam praticando antigas formas de apadrinhamento político e assistencialismo, acabam gerando descrédito e incitando revolta entre atores sociais mais esclarecidos, que já não aceitam a costumeira “enganação” de alguns, principalmente nas manobras políticas, onde o desvio de dinheiro público compromete a transformação da realidade de pobreza e injustiças. Quando questionados sobre o conceito de participação, nem todos os conselheiros verbalizaram, visto que 12% dos entrevistados não responderam a este questionamento (ver anexo, quadro 13). Entre os demais (83,3%), os posicionamentos são convergentes, para um entendimento sobre esta categoria analítica. Alguns se expressaram por meio de conteúdo simplista, sugerindo não possuírem uma leitura mais aprofundada sobre esta questão. Não existe aqui, a intenção de secundarizar as contribuições dos entrevistados, mas de ressaltar o conteúdo simbólico que o ato de participar confere aos atores sociais, que se qualificam para assumir a representatividade dos interesses, no caso específico deste estudo, da população que demanda serviços e benefícios da Política de Assistência Social. Assim considerando, vale ressaltar a fala de um dos entrevistados: “participação é um dos princípios democráticos, que não foi possível transformar-se em realidade por longos períodos da nossa história, mas que hoje é institucionalizado” (entrevistado 2). Vale observar que “ser institucionalizado” não garante ser efetivamente assumida e praticada. Há um reducionismo na compreensão dos entrevistados. Mesmo assim, importa destacar que a participação em formatos (instâncias a exemplo dos conselhos) oficialmente criados, abre possibilidades mais amplas, do que marcar presença em uma Reunião Ordinária ou Extraordinária do Conselho. A participação pressupõe o aprendizado da ação política, a utilização da vontade colaborativa, bem como a capacidade de fazer fruir coletivamente a vida da comunidade. Obviamente que os obstáculos são muitos, mas não se pode minimizar a importância da participação ativa dos conselheiros, no próprio ambiente em que se 106 inserem, legitimados para propor, avaliar, controlar, validar ou inviabilizar procedimentos de gestão da Política de Assistência Social. Indagados sobre a compreensão do significado de ser conselheiro (ver anexo, quadro 14), a maioria dos entrevistados, manifestou em suas falas uma aproximação ao conteúdo teórico legal, que analisa e justifica a criação desta Instância e consequentemente das funções e competências dos conselheiros. Conforme observa-se na fala abaixo: “É estar junto com a sociedade civil organizada, a capacidade de interferir nas políticas públicas, interagindo com o Estado na definição de possibilidades e na elaboração de planos de ação nos municípios. Os conselhos são uma forma democrática de controle social” (PESQUISA DIRETA – Conselho Municipal de Assistência Social – Novembro de 2010 à janeiro de 2011. Quadro 14- Entrevistado 1) De acordo com Raichellis (2000), a experiência dos conselhos é composta por visibilidade; controle social; representação de interesses coletivos; democratização e cultura pública. A autora define visibilidade como sendo a transparência dos discursos e das ações dos tomadores de decisões para com os implicados nestas mesmas decisões. O controle social é a participação da sociedade civil organizada na arbitragem dos interesses em jogo e acompanhamento das decisões segundo critérios pactuados. A representação de interesses coletivos é a constituição de sujeitos sociais ativos, mediadores de demandas coletivas; a democratização é a ampliação dos espaços de decisão política, extrapolando os condutos tradicionais de representação e incorporando novos protagonistas, gerando uma interlocução pública capaz de articular acordos e entendimentos que orientem decisões coletivas e finalmente, a cultura pública consiste no enfrentamento do autoritarismo social e da cultura privatista de apropriação do público pelo privado. “No caso da assistência social, superação da tutela, para que os usuários tenham autonomia e se coloquem como sujeitos portadores de direitos legítimos” (RAICHELIS, 2000, p. 106, 107). O que se observa nos discursos (ver quadro 14) é que, para alguns, os conselhos são apenas pró-forma para o recebimento de recursos, não tendo 107 nenhum caráter popular e representativo, dado ao fato da pequena organização popular e a cultura autocrática dos poderes nas esferas municipais. Nessa linha de pensamento, a resposta de um dos entrevistados chama a atenção quando este afirma que ser conselheiro “é nadar contra a corrente nos conselhos não temos o poder de mando. temos que dizer sim, porque se não o município perde o recurso” (quadro 14, entrevistado 24). Tais argumentos reforçam as contradições entre o que a legislação em seu conteúdo democrático determina e o que na prática acontece. Na verdade, o aprendizado da democracia ainda não efetivou-se em amplas dimensões, e o que se observa são arremedos de pactos que acabam privilegiando os interesses do poder, em detrimento da satisfação das demandas populares. A compreensão dos conselheiros sobre suas atribuições foi verbalizada por expressiva maioria dos participantes (ver anexo, quadro 15). Apenas 2 (8.33%) não formularam resposta a este questionamento. Entre os demais, 18 (75%), observa-se uma linha de pensamento convergente para a expressão do compromisso desses atores sociais, com a participação e o controle social da política de assistência social no município. De acordo com a fala do entrevistado 22, as atribuições do conselheiro consistem em “fazer um trabalho de divulgação e acompanhamento do município, fortalecendo as ONG´s e o terceiro setor, que através dos conselhos pode interferir na política local”. Contrariando essa perspectiva positiva, 4 entrevistados (16,6%), demonstraram descrédito na condição de ser conselheiro, o entrevistado 20, afirma que sua atribuição limita-se a “trabalhar além do necessário, reunir-se com um monte de gente, que pensa diferente para propor um monte de coisa que não vai sair do papel”. Tal entendimento pode estar associado à falta de credibilidade, não só do trabalho do Conselho, mas também na gestão municipal da política de assistência social de Aquiraz. Com outras palavras, mas sugerindo o mesmo significado, outros 3 conselheiros (12,5%) minimizaram a importância do trabalho que desempenham no mesmo colegiado. 108 Sobre o conhecimento da Rede Socioassistencial do município (ver quadro 16) a maioria, 70,8% dos entrevistados respondeu afirmativamente, contra 29,1% que negaram tal conhecimento. No atual contexto histórico, onde a gestão da política de assistência social é compartilhada entre o Estado e a sociedade civil organizada, conhecer a rede socioassistencial do município é requisito essencial para o exercício do controle social, até porque, tais organizações, em expressiva maioria, são mantidas com recursos públicos e executam projetos sociais financiados com dinheiro público, e caberia ao conselho fazer o acompanhamento do uso destes recursos. Os entrevistados opinaram sobre a Política Municipal de Assistência Social em Aquiraz (ver anexo, quadro 17) e sobre a concordância ou discordância sobre a condução de tal política no município. Sobre esta questão, 54% dos participantes concordam com os encaminhamentos dados pela gestão municipal na condução da política, enquanto 45,8% discordam. Indagados sobre os porquês da concordância, as respostas focalizam a percepção dos conselheiros sobre as melhorias que estão sendo efetivadas no município, no entanto, tais considerações quase sempre foram associadas à necessidade de refinamento da política, no que diz respeito à sua efetividade para o alcance dos seus objetivos. Um argumento ilustra bem tal consideração: “Devia investir mais em famílias carentes, principalmente nos catadores de lixo da região, que sofrem muito com a fome” (Entrevistado 09, quadro 17). Segundo a Política Nacional de Assistência Social, a territorialização, a redistribuição de poder, os deslocamentos dos centros decisórios, a tomada de decisão do município contribuem para o reconhecimento das particularidades e interesses próprios e, nesse sentido, a capacidade deliberativa dos conselheiros não estaria isenta da responsabilidade de formular pactos com gestores locais, no sentido de satisfazer as demandas mais urgentes da população local. Por outra via, aqueles que afirmam discordâncias com a condução da política no município justificam suas respostas, com base em diferentes argumentos, sendo preocupante a fala de um dos conselheiros, expressa literalmente no seguinte 109 recorte: “Não concordo porque vejo muito roubo ainda e as ONG´s estão recebendo cada vez menos recursos, difícil trabalhar assim” (Entrevistado 16, anexo, quadro 17). Além da insatisfação expressa, tal argumento vem acompanhado de forte teor político, ao tempo em que acusa a gestão pública e reivindica aporte financeiro para as ONG´s. A parceria entre Estado e sociedade civil deve ser discutida também como um dos elementos que dão continuidade, ou mesmo reforçam o modelo neoliberal. Segundo Montaño (2002) o que está em jogo é a alteração de um novo padrão de resposta social à “questão social”, com a desresponsabilização do Estado, a desoneração do capital e a auto-responsabilização do cidadão e da comunidade local, para responder às demandas da sociedade. Considerando-se tal advertência, é importante questionar se ao repassar recursos públicos, para que organizações não governamentais executem projetos que seriam responsabilidade do Estado, no trato das necessidades sociais, a gestão pública não estaria recuando em suas responsabilidades de garantia de direitos do cidadão e transferindo para a sociedade civil, uma missão que legalmente lhe compete. Ao serem indagados sobre o conhecimento dos critérios utilizados pelo município para a concessão de Benefícios Eventuais, (ver anexo, quadro 18) 58,3% responderam afirmativamente e 41% afirmaram desconhecer tal procedimento, agregando questionamentos do tipo: “o que são Benefícios Eventuais?” (entrevistado 05). Os critérios de seleção dos usuários da política para a concessão de Benefícios Eventuais se constituem na forma democrática de se promover justiça social. Por essa via, os indicadores sociais se apresentam como mecanismos indispensáveis para a percepção dos problemas locais, possibilitando maior proximidade do poder decisório, aqui também incluído o Conselho Municipal, com o conhecimento apropriado das necessidades da população. Vale considerar que os Benefícios Eventuais são descritos na LOAS, seção II, art. 22 como aqueles que visam o pagamento de auxílio por natalidade ou 110 morte às famílias cuja renda mensal per capita seja inferior a ¼ do salário mínimo, podendo ser estabelecidos outros benefícios eventuais para atender as necessidades advindas de situações de vulnerabilidade temporária com prioridade para a criança, a família, o idoso, a pessoa com deficiência, a gestante, a nutriz e nos casos de calamidade pública, conforme esta descrito no caput 2° do mesmo artigo. Os critérios de partilha de benefícios ou recursos tem se tornado uma ferramenta cada vez mais necessária e essencial para o processo de gestão das políticas sociais, especialmente por não ser uma política universal, é preciso que se priorize os usuários que se encontram em maiores dificuldades, entretanto, aos conselheiros compete a apropriação desse conhecimento e a partir de então deliberar com justiça social sobre a partilha sob sua responsabilidade. No tópico seguinte, a pesquisa investiga a prática do conselheiro com perguntas relacionadas ao exercício das atividades dos entrevistados durante seu mandato. 3.3.3 A Prática do conselheiro De acordo com a Lei de Criação do CMAS de Aquiraz, e conforme recomendação nacional, a Presidência e a Vice presidência do conselho deve ser exercida em alternância entre um representante governamental e um Não Governamental, de modo que, quando a presidência for Governamental, a vice seja não governamental e assim sucessivamente. Mesmo que esta pergunta não conste no Roteiro para a Pesquisa, na análise dos questionários nota-se que esta regra foi observada em Aquiraz no período em estudo. Importa considerar que, entre os conselheiros participantes deste estudo, três deles vivenciaram a experiência de trabalhar como presidente do Conselho e dois foram indicados para a vice-presidência (ver anexo, quadro 19) o que sugere liderança desses conselheiros na condução da política de assistência social do município. 111 Indagados sobre a definição de sua participação no CMAS de Aquiraz (ver anexo quadro 20) os entrevistados revelaram desproporção entre aqueles que se situam na condição de conselheiros por vontade e interesse próprio dez participantes (30.3%), divergindo dos demais quinze (62.5%) participantes que afirmaram terem sido indicados pela gestão municipal não sendo facultado a estes o poder de não representar os interesses do município no conselho. Matus (1993, p. 09) afirma que “a qualquer cidadão de um país pode-se perguntar, com razão, qual o seu papel na conformação do futuro”. Estamos caminhando para onde queremos? Fazemos o suficiente para alcançá-lo? De acordo com este autor, o problema consiste em reconhecer a fronteira que nos separa do “deixar-se ir” pela correnteza dos fatos em direção a um fim desconhecido ou se sabemos aonde chegar e estamos conduzindo o direcionamento das coisas nesta ou naquela direção. Entendidos como “alternativas de controle do poder baseada na autogestão” (ROTOLO, 2007, p. 25), os conselhos são órgãos pensados para possibilitar a construção de um novo tipo de relação com o poder, onde todos tem o mesmo peso político, independente da representação, cada cidadão é partícipe das decisões. Há portanto nos conselhos, uma nova maneira de articular o individuo e a coletividade, formando um contra-poder popular absolutamente distinto das instituições nas democracias burguesas. Nesse sentido, os conselhos podem ser vistos também como espaços de realização da liberdade humana e de afirmação das individualidades. Eles são espaços que conseguem juntar pela palavra, os interesses coletivos e os desejos individuais em função do bem comum. Neles os homens podem decidir sobre os assuntos públicos de maneira igual, tendo igualmente o mesmo acesso às decisões e o mesmo peso político (ROTOLO, 2007). A realização da liberdade humana, tal como postulada pelo autor, acaba divergindo da política quando servidores públicos não são consultados sobre o interesse individual de se inserirem na condição de conselheiros. Ultrapassados os 112 constrangimentos que tal situação provoca individualmente, os prejuízos à coletividade que requer tal representatividade são incalculáveis. Comparecer, estar presente nas reuniões ordinárias ou extraordinárias do conselho é uma atitude afirmativa do compromisso com as atribuições de “ser conselheiro”. Ao ausentar-se da responsabilidade de estar presente e participar ativamente das decisões, quebra-se a tradição política que fundamenta a concepção do conselho como espaço democrático onde as formas do sistema de representação se assentam. Dentre os achados deste estudo, (ver quadro 21) preocupa perceber que 29,1% só compareciam as reuniões do conselho “quando era possível” e que 16,6% apenas quando “era para votar alguma coisa muito importante”. Apesar de a legislação incluir os conselhos como parte do processo de gestão descentralizada e participativa, e constituí-los como novos atores deliberativos e paritários, vários pareceres oficiais têm assinalado e reafirmado o caráter apenas consultivo dos conselhos, restringindo suas ações ao campo da opinião, da consulta e do aconselhamento, sem poder de decisão ou deliberação. Teixeira (2004) considera que o controle social não é uma simples operação técnica de apuração de irregularidades ou fraudes do poder público, afirma que é pela via da participação nos conselhos, que os sujeitos sociais potencializam a participação, conferindo-lhe caráter político transformador ou, do contrário fragilizam a perspectiva da participação assumindo posturas de indiferença ou alienação diante das pautas levadas aos termos em ocasiões concretas de decisão política. As respostas dos conselheiros entrevistados neste estudo (ver anexo, quadro 22) sugerem muitas vezes essas posturas de indiferença ou alienação a que Teixeira (2004) se refere. Indagados sobre o costume de emitirem suas opiniões nas reuniões do CMAS de Aquiraz, 87,5% responderam afirmativamente, enquanto 12,5% negaram tal costume e as negativas são convergentes para afirmar o pensamento de Teixeira, ou seja: indiferença ou alienação são conceitos que correspondem às posturas, por exemplo, de quem não se sente à vontade para opinar, ou de quem “nem sempre entendia as pautas e reivindicações e achava um 113 pouco perda de tempo às reuniões, pois não passavam de discussões tolas de grupos que iam ali brigar por seus próprios interesses.” (entrevistado 22). A percepção de ter sua opinião considerada na hora da tomada de decisões pelo colegiado do CMAS de Aquiraz foi positivada por 83,3% dos entrevistados contra uma minoria representada por 16,6% dos que negaram tal percepção, (ver anexo, quadro 23) e dentre elas, vale destacar a fala de um dos atores nos seguintes termos: “Minhas opiniões quase sempre divergiam das opiniões da maioria, eu sempre contestava especialmente os valores apresentados nas prestações de contas” (entrevistado 10). Nessa mesma linha de pensamento outro entrevistado verbalizou: “nem sempre, porque feriam os interesses da maioria que é submissa à administração” (entrevistado 12). Ao pensar especificamente na participação da sociedade no conselho municipal de assistência social de Aquiraz, além de avaliações quantitativas (quantos membros possuem, qual a rotatividade destes membros, como chegaram ao conselho e etc.) faz-se necessário compreender outras análises que privilegiem aspectos envolvidos na questão da qualidade desta participação. Neste sentido, questionamentos devem ser feitos e a reflexão para tentar respondê-los é urgente, sob pena de que o que foi outrora considerado avanço, sofra um retrocesso. A opção da institucionalização da participação não foi estabelecida de modo unanime dentre os diversos pesquisadores e participantes do processo, além de sofrer vários tipos de resistência dentro da cúpula governamental quando da sua implantação. Deve-se, portanto, encará-la como um processo, com avanços, recuos e equívocos para os quais é necessário estar atentos. Mesmo admitindo que a institucionalização da participação possa ser um avanço, no sentido de permitir a divisão do poder através dos mecanismos de controle e participação popular, faz-se necessário penetrar nos meandros destes espaços, mapeando as dificuldades e possibilidades do envolvimento de novos atores e novos poderes. 114 Indagados acerca da participação dos entrevistados nas atribuições do conselho (ver anexo, quadro 24) elencou-se questões sobre as tarefas básicas, para as quais obteve-se os seguintes resultados: Sobre a apresentação de propostas e aprovação do plano Municipal de Assistência Social expressiva maioria (87,5%) respondeu “não” contra apenas 12,5% dos que responderam “sim”. Tal situação remete a questionamentos sobre a validade de criação e funcionamento de um conselho se seus atores cumprem apenas uma formalidade legal e se excluem da obrigação das responsabilidades que lhes cabem. A mesma ausência verificou-se no que diz respeito ao monitoramento da Rede Socioassistencial, quando 79,15% dos entrevistados informaram não exercitar tal responsabilidade. Aqui vale lembrar que a participação da sociedade organizada ocorreu em todos os níveis de pressão por liberdade e democracia, contra a discriminação e a garantia de direitos. Estranhamente, quando conselheiros, (quer sejam representantes da sociedade civil organizada ou dos interesses do Estado) são convocados a participar da condução de uma política pública, se retiram deste cenário, sem contribuir para o fortalecimento democrático. Quando questionados sobre o acompanhamento dos registros das reuniões no livro de atas, a maioria dos entrevistados (ver anexo, quadro 25) respondeu positivamente a esta questão. Considerando que uma “Ata” constitui-se, no campo de trabalho dos conselhos, num instrumento legal onde os pactos, conflitos, posicionamentos, enfim, todos os procedimentos são registrados com citação da identidade dos conselheiros em suas atitudes e determinações. Como instrumento simbólico da representatividade do conselheiro, a Ata guarda em si mesma os conteúdos vividos no interior dos conflitos travados nas reuniões do conselho, expressando em seu referencial histórico o deslocamento do poder decisório a favor ou contra determinadas pautas apresentadas em sua dinâmica processual. 115 Conferir seu conteúdo e nele se fazer representar por sua identidade afirmativa na assinatura que cada conselheiro deixa firmada é atitude comprometedora da sua convivência com o que esta posto em seus escritos. Dizer “não” para a responsabilidade de ler uma Ata antes de assiná-la (ver anexo, quadro 25) sugere um comportamento irresponsável, não tanto quanto ao compromisso com o bom desempenho da Política de Assistência Social no município, mas, principalmente, consigo. Há na atitude dos 20.8% dos entrevistados que responderam “não” a essa pergunta, uma falta de entendimento de suas responsabilidades pessoais que extrapolam o compromisso institucional, fato preocupante por conter em si, o viés da alienação. “Só lia quando dava tempo, as vezes eu pedia a ata para ler das reuniões que tinha faltado, mas como só podia ver após as reuniões, nem sempre eu acompanhava” (entrevistado 05). Ainda mais preocupante é a fala de outro entrevistado, que em suas palavras sugere a manipulação de documentos, inclusive de atas, para cumprir formalidades: “Só quando era possível. Porém, assinei muitas atas de reuniões que de fato não aconteceram, e nas quais não estive presente, porque havia prazos, e pra não prejudicar o município, eu lia as atas e analisava os documentos e assinava” (entrevistado 07). Indagados sobre o “como” exercitavam o controle social, mais especificamente, se realizavam o controle da PMAS de Aquiraz (ver anexo, quadro 26) os participantes deste estudo, em maioria, sinalizaram para a objetividade dessa ação tal como postulada oficialmente, ou seja, pela via da análise dos Planos de Ação e Demonstrativos de Gastos, na definição de critérios de partilha de recursos e na participação em reuniões. Divergindo de tais posicionamentos, restrito quantitativo de participantes (16,6%) respondeu contraditoriamente afirmando “não considero controle quando se chega à reunião, às vésperas da aprovação de um plano de ação todo feito não sei por quem, não sei onde e ao conselho cabe apenas dizer sim” (entrevistado 12). Tal afirmativa sugere manipulação o que compromete os princípios democráticos e nega a essência da própria concepção que motiva a criação dos conselhos como espaços de lutas e conquistas de cidadania. 116 Os conselhos estão inscritos na Constituição Federal de 1988 na qualidade de instrumentos de expressão, representação e participação popular no governo. Em tese, dotados de potencial de transformação política e se efetivamente representados poderão imprimir um novo formato as políticas sociais, pois se relacionam ao processo de formação das políticas públicas e tomada de decisões. Assim considerando, os entrevistados responderam ao seguinte questionamento: Acompanhei e controlei a execução da Política Municipal de Assistência Social de Aquiraz? (ver anexo, quadro 27) As respostas dos entrevistados referendam o “sim” em mais de 60% e para o “não” foram direcionadas 33,3% das respostas. Vale, portanto comentar esses antagonismos tomando-se por referencia a fala dos posicionamentos distintos para a mesma questão. Objetivamente, o entrevistado 5, associa o acompanhamento às visitas que realizou aos “locais” onde as ações da política de assistência social se desenvolve no município e as demais justificaram o “sim” em seus próprios interesses de zelar pelo trabalho do conselheiro. De modo negativo, as justificativas dos entrevistados remetem ao descrédito destes atores sociais na própria condução da política de assistência social pelos gestores responsáveis. Acompanhar e controlar a execução dessa política passa a ser visto como “perda de tempo”, de acordo com a fala do entrevistado 08. Como regra geral, as principais competências dos conselhos municipais de assistência social definidas na LOAS podem ser agrupadas em quatro grandes eixos : definição da política de assistência social do município; acompanhamento, avaliação e fiscalização da política local de assistência social; garantir formas de participação da sociedade civil organizada na formulação e gestão da política municipal; capacitação técnica e estruturação administrativa para o funcionamento do conselho (RIZZOTI,1994). Se por um lado observa-se a operacionalização não plena dessas novas instâncias democratizantes devido à falta de tradição participativa da sociedade civil 117 e da cultura autocrática de setores do governo e desconhecimento de suas possibilidades, observa-se por outro lado, a existência de concepções oportunistas que não baseiam-se em postulados democráticos e que veem os conselhos apenas como instrumentos para operacionalização de objetivos pré-definidos, o que faz com que este campo seja cada vez mais conflituoso e tenso. Ainda que se reconheçam as dificuldades e os impasses existentes para o efetivo desempenho da missão de controle social, não se pode deixar de reconhecer que a criação dos conselhos na esfera da assistência social repercute de forma positiva na consolidação do SUAS e cria condições para um sistema de vigilância sobre a gestão pública, implicando numa maior cobrança de prestação de contas do poder executivo, principalmente em nível municipal. Importa, no entanto, identificar até que ponto os atores sociais envolvidos estão aptos ao exercício de uma nova cultura política expressa através da prática do controle social. Quando questionados se sua participação interferiu para a conquista de avanços na política municipal de assistência social (ver anexo, quadro 28) expressiva maioria dos entrevistados (91,6%) afirma a interferência de sua participação para a conquista de avanços na Política Municipal de Assistência Social em Aquiraz. As justificativas elencadas por esses atores sociais transitam entre a compreensão individual de cidadania aos entendimentos diversos sobre a necessidade de controle social da gestão pública. “Porque sou cidadão e sempre que estava ou estou em algum conselho eu busco fazer o melhor para a política de Aquiraz funcionar” (entrevistado 03). “Acho que é muito importante, porque os conselhos de algum modo ainda conseguem controlar os gastos do prefeito.” (entrevistado 05). De modo contraditório, 8,33% dos entrevistados posicionaram-se negativamente, isto é, não consideram que sua participação possa ter interferido para a conquista dos avanços na Política Municipal de Assistência Social de Aquiraz. “Acho que a administração pública ainda corre muito solta neste país” (entrevistado 7). Tal argumento está relacionado à experiência do conselheiro que 118 acrescentou: “quando eu estive no conselho eu notava que muitas coisas e propostas que fazíamos não saiam dos papéis”. Apesar da polêmica que envolve a questão dos conselhos e as diferentes visões sobre seus significados, é fato que a participação e o controle social ensejados constituem-se em importantes referências para a ampliação do debate sobre este mecanismo e sua prática. Para efetivar-se, o controle social pressupõe, além do envolvimento e participação popular, o compromisso do Estado, com a criação e fortalecimento de mecanismos operacionais e instâncias representativas da territorialidade. A busca pelo significado político da ação dos conselhos, no âmbito da Política de Assistência Social, tem despertado posições críticas e questionadoras quanto à real expressão e impacto da participação da sociedade civil nesses espaços (LOPES, 2010). Raichelis (2000) aponta múltiplos desafios para a consolidação dos conselhos de assistência social, enquanto instância de deliberação, controle e participação social. A autora afirma que as principais dificuldades advêm da identificação de um conflito duplo: no campo governamental, prevalece a resistência à participação e controle social, por parte dos representantes da sociedade civil. Do lado da sociedade civil, a heterogeneidade dos atores e de suas concepções, práticas e experiências geradoras de interesses divergentes, desafiando o consenso orientador das decisões coletivas. No campo governamental, uma das principais dificuldades relaciona-se as resistências para que as definições das políticas públicas sejam abertas à participação e ao controle social, retirando-as das mãos da burocracia estatal para permitir a penetração da sociedade civil. No da sociedade civil, o reconhecimento da heterogeneidade dos atores e das concepções, práticas, experiências e propostas acumuladas geradoras de múltiplos interesses e demandas, nem sempre convergentes, desafia o estabelecimento da agenda comum que deve orientar ações e decisões coletivas (RAICHELIS, 2000, p. 37). Independente de ser “governamental” ou “não governamental”, a participação do conselheiro no cenário de lutas por conquistas de direitos, deve ser efetivada por todos que se lançam nessa função. Indagados sobre o acompanhamento ao trabalho da gestão atual do CMAS de Aquiraz (ver anexo, quadro 29) 41,7% responderam afirmativamente, 119 contra 58,3% dos que disseram “não”. Nesse caso, a negativa desses atores sociais sugere a falta de compromisso com os destinos da Política de Assistência Social no município. Em tal circunstância, resta considerar que se uma pessoa que foi conduzida à função de conselheiro não se interessa pelos destinos do conselho do qual participou ou participa, sua insatisfação deve ser objeto de aprofundamento de estudos, dado que tal situação guarda, em si, forte conteúdo simbólico, cujos limites desta pesquisa não deixam espaços para aprofundar. Quando indagados sobre a maneira como acompanham o trabalho da atual gestão do CMAS de Aquiraz, os conselheiros demonstraram que esta não é uma prática comum (ver anexo, quadro 30). A afirmativa: “Faço parte de outros conselhos e algumas vezes participo” foi referendada por 29,1% dos entrevistados. De fato, há uma correspondência valorativa com as respostas à pergunta anterior na negativa simbólica do envolvimento destes atores com o trabalho do CMAS de Aquiraz. A partir de tais posicionamentos, percebe-se que alguns conselheiros não se entendem como “sujeitos políticos” e que, acompanhar o trabalho do governo, seja na esfera municipal, estadual ou federal, ultrapassa qualquer forma de nomeação legítima para o cargo de conselheiro, mas está vinculada com a própria consciência crítica do sujeito que se entende como cidadão. 3.3.4 Sobre a gestão do Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz Concebido como fórum de interlocução, representação e diálogo, a gestão dos conselhos ultrapassa preceitos legais, e se afirma na prática cotidiana dos conselheiros que nele se inserem. Os depoimentos transcritos no quadro 31 (ver anexo), que focaliza posicionamentos sobre a gestão do CMAS de Aquiraz revelam, no geral, a trama dos interesses envolvidos no processo de afirmação da assistência social como política pública. Sem a pretensão de reconstruir detalhadamente estes embates, 120 identifica-se o conflito majoritariamente representado entre o “sim” e o “não”, cujos argumentos revelam o peso político que cada conselheiro identifica em si mesmo. Dos entrevistados na pesquisa, 41,6% não sabem informar ou “não acompanham a gestão dos benefícios, programas e projetos da política municipal de assistência social". É um dado preocupante, se comparado à minoria (25,0%) dos que afirmaram cumprir esta tarefa. Avelar (1999) conceitua a participação enquanto diretamente ligada aos ideais de soberania e instrumento de legitimação e fortalecimento do modelo democrático. Seus estudos ressaltam as dificuldades impostas à efetivação da participação e do controle social, mesmo quando instituídos legalmente no seio da sociedade (conselhos setoriais, conselhos de direitos, associações comunitárias e outras formas de organização e movimentos populares) e atribui características aos atores sociais envolvidos no processo, ligando-as às questões pessoais, sociais e intelectuais, que terminam por determinar um maior ou menor acesso aos canais de participação. A problemática da participação fez com que diversos estudiosos buscassem compreender o envolvimento pessoal na questão pública, quando tratase de busca por melhorias gerais e não particulares. Aprofundar conhecimentos sobre essa questão faz-se necessário, a fim de que se possa discutir a participação ativa do colegiado do Conselho Municipal de Assistência Social no cumprimento dos preceitos elencados pela descentralização política. Mesmo sem a nomeação oficial de “ser conselheiro”, o cidadão comum que vivenciou essa experiência, deve guardar um compromisso individual com a gestão dos benefícios, programas e projetos da Política Municipal de Assistência Social, principalmente num cenário onde as desigualdades de renda se afirmam num grande contingente de pobres. Entretanto, os dados obtidos nesta pesquisa negam a preocupação dos antigos conselheiros com a realidade presente. 74,96% dos entrevistados responderam “não” ou “não sei informar”, contra o mínimo de 25,00 % dos que afirmaram saber sobre e acompanhar a gestão dessa política no município. A sequência de perguntas/respostas, sobre essa mesma questão, 121 reafirmam, com pequena margem de diferença, para o “sim” ou para o “não” os mesmos comportamentos. Indagados sobre a fiscalização do Conselho sobre as entidades e organizações de âmbito municipal, os entrevistados majoritariamente responderam “não” (70,8 %). A CF/1988, em seu artigo 204 estabelece a participação da sociedade civil, tanto na execução dos programas, através das entidades beneficentes e de assistência social, bem como na participação, na formulação e no controle das ações em todos os níveis. As entidades prestadoras de assistência social integram o SUAS, não só como prestadoras complementares de serviços socioassistenciais, mas como co-gestoras, por meio dos conselhos de assistência social e corresponsáveis, na luta pela garantia dos direitos sociais dos usuários dessa política. Entretanto, quando se trata de fiscalizar a prática de tais organizações ou entidades, observa-se uma negligência dos conselheiros, ou um entendimento equivocado do que o controle social limita-se na percepção dos gastos efetivados pela gestão pública, desconsiderando que, no novo desenho institucional, o gerenciamento dos recursos financeiros para a Política de Assistência Social é também manuseado por presidentes de associações e seus colaboradores. A debilidade do sistema de controle, por essa via, estimula abusos e fomenta a desconfiança nas atividades e nas relações de parceria que envolvem o Estado e a sociedade civil. A missão de analisar e aprovar a proposta orçamentária dos recursos destinados às ações finalísticas da assistência social pelos conselheiros, está estabelecida pela NOB e pela PNAS. Trata-se de uma função básica e determinante, para afirmar a participação e o controle social por esses atores sociais. Chiavenato (1999) afirma que o controle é parte do processo gerencial. Entende-se, portanto, que o controle é algo inerente a qualquer organização e atividade, principalmente em se tratando de políticas públicas, cujo desempenho exige, de um lado, o compromisso do Estado na garantia dos direitos do cidadãos, e 122 de outro lado, a participação da sociedade na formulação de demandas, monitoramento dos resultados e avaliação do desempenho estatal (LOPES, 2010, p. 69). A definição constitucional da assistência social, como política pública geradora de direitos, permitiu que sua construção fosse acompanhada por mecanismos institucionais de democratização e controle social, instrumentos que se inserem no campo de definição da responsabilidade pública. Oferece, portanto, aos conselheiros, os mecanismos gerenciais para que se apropriem de conhecimentos essenciais para sua função deliberativa, principalmente no que concerne ao orçamento e financiamento desta política. Nesse caso, as respostas dos conselheiros entrevistados se deram quantitativamente uniformes, ou seja, 50% sim, 50% não. A segunda alternativa não corresponde ao cumprimento das responsabilidades desses conselheiros na representação dos interesses da sociedade. Há uma falta de compromisso, nas posturas que negam as formas de participação ativa nos determinantes dos destinos dos recursos, que supostamente deveriam ser pensados para promover a equidade. Sem aprovar propostas orçamentárias (50%) e sem acompanhar o plano de aplicação dos recursos (50%) e o controle do FMAS de Aquiraz (50%), os conselheiros negam a si próprios, o direito de participar e interferir no exercício do controle social. A fragmentação das políticas sociais tem sido um tema recorrente, tanto nos discursos, quanto na prática de seus operadores. As políticas sociais obedecem a lógica da setorização, recortando o social em partes estanques, segmentando o atendimento às demandas sociais. Do mesmo modo, a questão social tende a ser obscurecida e particularizada pelos objetos de cada uma dessas políticas. Segundo a mesma lógica setorializada das políticas, às quais são vinculadas, os conselhos voltam-se para questões específicas em seus campos de atuação, onde pautas específicas condicionam o olhar dos conselheiros para questões focalizadas. 123 Contemporaneamente se discute a perspectiva da transversalidade entre políticas públicas e, por essa via, os mecanismos de articulação entre conselhos. Trata-se de um movimento de pressão contrária à fragmentação das respostas à questão social, que não se explica isoladamente pela pobreza, pelo analfabetismo, pela ausência de oportunidades de trabalho digno, pelas precárias condições de atenção básica, transferência direta de renda ou proteção especial. Trata-se, enfim, da compreensão de que os problemas sociais exigem um olhar multifocal, onde questões de ordem social, econômica, cultural e política sejam consideradas para seu enfrentamento. A esse respeito, indagados sobre a realização de ações integradas com outros conselhos, os entrevistados em maioria (54,1%) responderam “sim” contra 45,8% dos que não souberam informar, ou de fato não vivenciaram tal experiência. Na verdade é preciso considerar que a natureza transversal das políticas são insuficientes para assegurar que suas instâncias articulem um conjunto intersetorial em suas práticas cotidianas. A participação dos usuários da Política da Assistência Social transcende reivindicações específicas por serviços ou benefícios de caráter individual. Sair da zona de conforto, que acomoda a pobreza como desígnio divino, para uma compreensão politizada dos seus determinantes, assume caráter determinante nas lutas por justiça social. Essa possibilidade foi afirmada por apenas 33,3 % dos conselheiros entrevistados, enquanto os demais, representados por 66,7% dos que disseram “não” ou “não sei informar”. Essa lógica repercute no presente, onde a mesma realidade se afirma no desconhecimento dos conselheiros entrevistados sobre a participação dos usuários na atual gestão do CMAS de Aquiraz. Há significativa unanimidade nos estudos e avaliações sobre a frágil presença dos usuários nos determinantes da prática da assistência social. Sobre a divulgação das ações dos conselheiros, este estudo identificou, nas respostas da maioria dos entrevistados, um saldo positivo, representado por 83,3% daqueles que afirmaram divulgar suas ações. 124 Num contexto em que a informação assume essencial relevância, divulgar procedimentos político-institucionais assume caráter ético, fundado no direito do cidadão de conhecer o desempenho do Estado sobre o destino dos recursos públicos. A visibilidade do trabalho dos conselheiros mostra-se tão importante, quanto as decisões que no interior dessas instâncias se processam. A dinâmica de funcionamento de um conselho exige um desenho organizacional que condiciona, em longa medida, a capacidade interventiva de seus atores. Assim considerando, indagou-se sobre a existência de secretaria executiva, sede própria, equipamentos, material de expediente e transporte próprio. A consolidação das respostas dos entrevistados foi convergente para negar tais condições. Sem infraestrutura básica, o trabalho do conselheiro fica comprometido, e, sem dispor do apoio de uma secretaria executiva, a mobilização dos conselheiros, a documentação / registros de pautas, atas e publicação de resoluções não se efetivam, ou sofrem morosidade e não resolutividade dos processos burocráticos. A ausência de transporte próprio disponível, para o uso do trabalho dos conselheiros às visitas à rede socioassistencial, simplesmente não acontece, devido à extensão territorial do município. A partir dos elementos expostos, pode-se inferir que o aprofundamento do debate sobre as variáveis consideradas, no limite deste estudo, merecem ser formuladas, especialmente em novos cenários, onde a relação Estado e sociedade civil é formalizada pelo trabalho dos conselhos gestores de políticas públicas. 125 CONSIDERAÇÕES FINAIS A natureza teórico-prática deste estudo contribuiu para reflexões, cujos achados podem vir a referendar novas posturas. O resgate histórico da assistência social no Brasil, mesmo em suas formulações presentes, sob o status de política pública, sugere que apesar dos avanços, ainda se faz necessária a adoção de medidas para a superação das dificuldades, no exercício da participação e do controle social. Alguns fundamentos explicativos, para a configuração assumida pelo controle social, na dinâmica vivenciada por conselheiros no âmbito do CMAS de Aquiraz, encontram respostas num processo histórico de exclusão e dependência, que concorrem para limitar possibilidades de evolução da cidadania política, almejada para a consolidação da democracia. O Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz foi criado pela Lei Municipal 079/95, de 14 de novembro de 1995, aprovada pela Câmara e sancionada pelo então prefeito, Tarcísio Vieira Mota. A lei esclarece que as competências deste conselho concentram-se: na definição de prioridades da Política de Assistência Social; no estabelecimento diretrizes a serem observadas no Plano Municipal de Assistência Social e na formulação de estratégias e controle da execução desta política. Compete ainda a estes conselheiros, propor e acompanhar critérios para a programação e execução financeira e orçamentária do Fundo Municipal de Assistência Social; fiscalizar a movimentação e aplicação de recursos; acompanhar e avaliar os serviços de assistência; aprovar critérios de qualidade para o funcionamento destes; apreciar contratos e convênios, zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo, propor, sempre que necessário diretrizes para o aperfeiçoamento deste sistema; aprovar critérios de concessão e valor dos benefícios eventuais. No que se refere às particularidades da escolha dos representantes da sociedade civil e governamentais, constatou-se que prevalece no caso da representação governamental a indicação de nomes dos técnicos que respondem a cargos de confiança do Prefeito, indicador de dificuldade na isenção da tomada de 126 decisões favoráveis à coletividade em detrimento da missão que esses atores sociais assumem de resguardar os interesses da gestão municipal local. O fato de serem profissionais contratados ou “comissionados” (cargos de confiança) aponta ainda outra particularidade, uma vez que estes atores muitas vezes não são residentes do município, terminam não constituindo vínculos com os interesses da comunidade local – além dos temporários. Por sua vez, a representação da sociedade civil se dá pelo revezamento dos mesmos atores sociais, que, residindo no município, abraçam causas, não só da assistência social. Por isso mesmo acabam acumulando a função de conselheiros de outras políticas públicas. Embora alguns se mostrem comprometidos e interessados, o tempo de militância concorre para deixar em muitos, o descrédito na própria capacidade decisória. A análise da dinâmica da participação, e controle social no interior do Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz - CE, no período selecionado para este estudo revelou que os atores sociais envolvidos no processo formal de participação através dos conselhos, enfrentam limitações estruturais. Mesmo que legalmente instituídos, os conselhos ainda são vistos como uma obrigação formal pelo poder público, o que remete ao debate sobre o significado estrutural da democracia. Tal ideia é salientada por Dows (1956), para quem o cidadão comum não tem capacidade ou interesse político senão para escolher as lideranças a quem encobrirá de tomar as decisões. A analise da Ata que descreve a primeira reunião para a composição do CMAS de Aquiraz, contraposta a sua lei de criação, demonstra um abismo entre o legalmente postulado e o efetivamente praticado, especialmente quando justifica a criação deste. Tal documento deixa clara a intenção em resguardar repasses de recursos: “A importância deste conselho, esta na necessidade de garantir o repasse de recursos ao município” (Ata N° 1 do Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz, Setembro de 1995). Naquele momento, o controle social e os elementos que configuram a participação política parecem esquecidos diante da necessidade de se obter vantagens financeiras, tanto para o terceiro setor quanto para a administração 127 pública. Tal comportamento sugere, que os conselheiros, desconhecem seu papel na formulação e no controle da política municipal de assistência social. Quando nem mesmo aqueles que fazem parte do processo entendem realmente suas atribuições, competência e missão o que se pode esperar dos demais usuários da política de assistência social? Como fazer entender que o controle social é uma estratégia que deve garantir a descentralização e a participação dos atores sociais no controle das políticas? Estas questões merecem aprofundamento e podem ilustrar novas pesquisas sobre a mesma temática. A leitura dos documentos relacionados ao CMAS de Aquiraz leva a supor que além da preocupação com a garantia dos repasses de recursos, os conselheiros não demonstravam interesse em definir prioridades e metas para a política. Focault (1987) afirma que a efetivação do controle social, numa ótica popular depende da relação de forças dos segmentos sociais que exercem o poder. No caso especifico em análise a relação de forças se esbarra na capacidade de cada um em canalizar investimento público para os cofres das entidades que representam. Enquanto isso, os interesses da coletividade se perdem em meio à defesa de interesses de presidentes destas. Ao buscar elementos para historicizar a criação e o funcionamento do CMAS de Aquiraz, verificou-se que sua primeira reunião, datada de 14 de setembro de 1997, deixou expresso nos registros de sua ata que sua criação correspondeu a uma necessidade legal e imediata para garantir o de repasse de recursos da ordem de R$ 2,855.00 para uma entidade. Tal entidade possuía acento no conselho que outrora estava sendo criado, e, portanto teria direito à voto, podendo opinar de modo positivo e assegurar a transferência do recurso. Curioso foi perceber que na segunda reunião descrita em Ata, ocorrida em 30 de outubro de 1997 o repasse do recurso foi aprovado e a partir de então o conselho não manteve um cronograma de atividades, voltando a reunir-se apenas 7 meses depois, mais precisamente em 09 de Maio de 1998, motivado por uma pauta que envolvia novamente o repasse de recursos a entidades. 128 Observou-se que a dinâmica interna de funcionamento deste órgão de colegiado em sua fase inicial não atende ao disposto na LOAS no que se refere á participação popular. Afinal, reunir-se para deliberar repasses específicos de recursos sem uma continuidade no exercício do controle social denota incompreensão destes atores sobre suas responsabilidades no monitoramento, avaliação e fiscalização de recursos públicos. Para Habbermas (1987) o discurso prático respeita a individualidade e a autonomia das pessoas que integram uma comunidade. Dentro desse princípio de justiça, postula o direito à liberdade e os mesmos direitos para todos. A partir de tal pressuposto, a ética discursiva coloca em ação uma vontade racional descrita nesta pesquisa. Garante-se o interesse de todos os conselheiros integrantes da amostra selecionada, salvaguardando suas divergências, ressaltando-se na leitura de seus posicionamentos, a capacidade comunicativa dos conselheiros harmonizando seus pensamentos às referências teóricas que nortearam todo este estudo. O discurso teórico contribui para o questionamento dos fatos e do mundo objetivo em um contexto concreto que aqui se assenta no CMAS de Aquiraz Ao fim deste estudo confirma-se a hipóteses a principio levantadas de que “a política de assistência social não apresenta avanços significativos na construção da cidadania no município em foco, por diferentes fatores, sendo um agravante, o despreparo dos (as) conselheiros (as) para o cumprimento da responsabilidade que lhes cabe na defesa do interesse público”. A capacidade dos conselheiros em acompanhar e deliberar acerca da política mostrou-se limitada. Além dos fatores já citados, estes atores muitas vezes, demonstram desconhecer a política, não só em seus termos técnicos, mas, também em seus aspectos práticos, o que compromete a autonomia destes na formulação e na proposição de ações que fomentem o seu controle social. A segunda hipótese levantada também se confirma: “os conselheiros enfrentam grandes limitações ao exercício imparcial de suas funções, a começar pelo desconhecimento do seu próprio papel na defesa dos interesses do público da assistência social”. Na verdade as condições objetivas dispensadas pelos gestores 129 municipais aos conselheiros para o exercício e efetividade do controle social, não foram garantidas. Não há registro da participação dos conselheiros em capacitações; não há referencias de cronogramas de reuniões e visitas as entidades; nem da produção de relatórios correspondentes a resultados do trabalho destes conselheiros. Em tais limites, os discursos dos entrevistados apresentaramse, por vezes, intersubjetivos, fundados nas relações sociais espontâneas que vivenciam. Tais falas apresentam as certezas por eles dadas “a priori”. Qualquer processo social é constituído por elementos distintos, de ordem objetiva e subjetiva, verificando-se uma articulação entre o fato e a representação, base insuperável da complexidade da realidade social. Este reconhecimento, no entanto, não deve minimizar a preocupação necessária a qualquer cientista social, de buscar “despir” os fatos de suas representações como procedimento indispensável para superar o que está oculto ou distorcido. Assim compreendendo, identifica-se com este estudo que as relações de força nos conselhos são resultado de vários saberes e poderes que o atravessam, e não somente do direito de participar instituído por lei. O argumento de cada conselheiro constitui uma manifestação ou comportamento criticável na medida em que se estabelece uma relação comunicativa de aprendizagem: tanto para o pesquisador quanto para seus entrevistados, e um processo de aprendizagem jamais poderá ser concluído. No elenco de tais questões, processo argumentativo dos entrevistados foi analisado sob a justificativa de suas falas para as quais foram buscados fundamentos teóricos compreensivos ou problematizados de tais afirmações. No discurso prático, a interação dos conselheiros entre si não significa uma padronização do pensamento, mas uma convergência de ideias. Ao apontar suas divergências, não se trata aqui de censura da expressão em que as liberdades individuais foram proferidas. Trata-se, mais precisamente, de referências obtidas em um estudo de caso cujos achados podem dar conta do real em seu universo, cujas balizas se delineiam no campo de ação dos conselhos municipais de assistência 130 social, circunscritas na abrangência dos 184 municípios cearenses, guardadas as suas peculiaridades históricas, sociais, culturais e políticas em que se assentam. Observa-se que a dinâmica interna de funcionamento deste órgão de colegiado em sua fase inicial não atende ao disposto na LOAS no que se refere á participação popular. Afinal, reunir-se para deliberar repasses específicos de recursos sem uma continuidade no exercício do controle social denota incompreensão destes atores sobre suas responsabilidades no monitoramento, avaliação e fiscalização de recursos públicos. Passados onze anos desde a criação do CMAS de Aquiraz, pode-se olhar de modo mais aproximado para a história construída. É então pertinente se interrogar tanto a respeito do que realmente se passou naquele período, como sobre quais foram as consequências práticas das decisões tomadas e como se exprimem hoje, após terem sido apropriadas por diversos segmentos do município e reproduzidas ao longo deste período. As transformações concretizadas nas práticas e saberes possíveis a um determinado momento político remetem a necessidade de um novo olhar, distanciado e comprometido a fim de que se concebam limites e práticas resguardadas na atuação dos atores envolvidos no processo. Os achados neste estudo, embora restritos a uma experiência vivenciada pelos conselheiros municipais de assistência social no município de Aquiraz- Ceará permitem considerações mais amplas para o contexto nacional em que essa política se assenta. Pelo exposto, pode-se considerar que o grande desafio contemporâneo seria não somente consolidar a democracia, o que implicaria numa reforma do Estado e das suas instituições e leis que regulamentam o funcionamento da sociedade, mas, também, uma transformação na cultura política nacional capaz de conquistar a credibilidade popular local, a confiança nos sistemas de participação cívica em grupos intermediários entre o Estado, família e sociedade para o fortalecimento das conquistas democráticas até então legalmente consagradas. Outro grande desafio contemporâneo seria a participação na democracia cognitiva tal como foi proposta por Edgar Morin (2011) do contrário, a decisão 131 continuará indecifrável para os cidadãos, o julgamento permanecerá o fiel servidor dos poderes. É desafiador reformar o pensamento, a participação e o progresso da democracia cognitiva. Sem participação e controle social como exercitar a democracia? Como animar o debate para a efetivação de políticas públicas de enfrentamento à pobreza? Como propor soluções aos fracassos do desenvolvimento e aos males que corroem a democracia? – o crime organizado, a droga, a lavagem de dinheiro, a corrupção, a exclusão e o velho “jeitinho brasileiro” sempre reeditado em novas facetas? Os constrangimentos do “assistencialismo” ainda persistem, muito embora enredados por discursos renovados que enaltecem a condição democrática da cidadania e contraditoriamente alienam os beneficiários da assistência social a fim de mantê-los na condição de subalternidade. Enfim pode-se afirmar que as singularidades observadas no conjunto de variáveis presentes no âmbito do Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz retratam uma distância do ideal da participação compreendida enquanto processo onde os agentes se descobrem enquanto sujeitos políticos, exercendo direitos políticos, prática diretamente relacionada à consciência dos cidadãos e cidadãs, ao exercício da cidadania, as possibilidades de contribuir com processos de mudanças e conquistas. 132 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, M. M. A relação entre o Estado e a sociedade civil: a questão dos conselhos de direitos e a participação do serviço social. Serviço Social & Movimento Social, 1(1): 61- 76, jul.-dez, 1999. ABRUCIO, Fernando Luiz. Reforma política e federalismo: desafios para a democratização brasileira. IN: Reforma política e cidadania. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003. ALBERTI, Luiz. Manual de história oral. Rio de Janeiro: FGU, 2004. ALVAREZ, Sonia e Dagnino, Evelina. Para além da democracia realmente existente: movimentos sociais, a nova cidadania e a configuração de espaços públicos alternativos. Trabalho apresentado à XIX Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS), Caxambu, MG, Brasil, 1995. ANDERSON, Perry. "Modernidade e revolução". In: Novos Estudos CEBRAP. São Paulo, v. 14: 2-15, fev. 1986. AMARAL FILHO, Jair do. O capital social como fator endógeno do desenvolvimento (in) Desenvolvimento endógeno. Um novo Paradigma para a gestão local e regional. (Coord) VERGARA, Patrício. Fortaleza, IADH, 2004. ANTUNES, Ricardo. O Novo sindicalismo no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Pontes, 1995 AQUIRAZ, Prefeitura Municipal de. Lei Municipal n° 103/97 de 31/01/1997. 133 ________. Plano de Ação, 2007. ________. Lei Municipal n° 079 de 14/11/1995. ________.Plano Plurianual de Assistência Social de Aquiraz 2004-2007-2010. ________.Livro de Atas do Conselho Municipal de Assistência Social de Aquiraz, 1997 a 2011. ARAÚJO, Antônio Sérgio. Gestão municipal e participação social no Brasil. São Paulo. Ammablume, 2004. ARAÚJO,Ângela. Do corporativismo ao neoliberalismo. Rio de Janeiro. Bomtempo Editorial, 2000. ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 1963. __________.Da revolução.São Paulo.Ed. Ática,1998. ARRETCHE, Marta T. S. Políticas sociais no Brasil: descentralização em um Estado federativo. São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Sociais,2000. ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. 4° Edição Poética/Aristóteles/seleção de textos de José Américo Motta Peçanha. São Paulo.Nova Cultural,1991. AVELAR, Lúcia. Sistema político brasileiro: Uma Introdução.Unesp e Fundação Konrad Adenauer, 2007. Revista Brasiliense de Políticas comparadas. Arko Advice, 1999. 134 AVRITZER, Leonardo. Teoria democrática, esfera pública e participação local.Porto Alegre. Sociologias ano 1, nº 2, p. 18-23, julho-dezembro/1999. _________. Experiências nacionais de participação social. São Paulo. Cortez 2010. AZANBUJA, D. Introdução à ciência política. Rio de Janeiro: Globo,1989. AZEVEDO, Ricardo Flamarion. Entrevistas sobre o Brasil do Século XX. São Paulo. Fundação Perseu Abramo, 1997. BAQUEIRO, M. Partidos e cultura política na América Latina: uma combinação de instabilidade política? In: BANDEIRA, P.S (org). Desafios da democratização na América Latina: debates sobre cultura política. Porto Alegre: UFRGS/ Centro Universitário La Salle, 1999. _________, M. Sem confiança a democracia se torna inerte. É capital social uma resposta? Um estudo sobre a América Latina. Revista Educação Unisinos, Porto Alegre, v.09, n2. Maio-Agosto de 2005. BARBOSA, Eni Maria Monteiro. O Processo de regulamentação da assistência social: Avanços e retrocessos. Texto para discussão nº 222. Brasília, IPEA, 1991. BARROS, M. E. D. O controle social e o processo de descentralização dos serviços de saúde. In: Incentivo à Participação Popular e Controle Social no SUS: textos técnicos para conselheiros de saúde. Brasília: IEC, 1998. BARROCAS, Rute Queiroz. A família no contexto da Política de Assistência Social. Dissertação Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2005. 135 BEHRING, Elaine Rosseti. Brasil em contra reforma. São Paulo. Cortez, 2003. BEZERRA de MENEZES, Eduardo Diatahy. Os historiadores do Ceará (in) CHAVES, Gilmar (org) Ceará de corpo e Alma: um olhar contemporâneo sobre a Terra da Luz. Rio de Janeiro, Relume Dumará, 2002. BRANT, Pedro. BAVA, Sílvio Caccia. Dilemas da gestão municipal, Lícia, COELHO, Magda Prates (orgs.).Governabilidade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Texto Constitucional de 5 de outubro de 1988. Ed. Brasília, 2001. ________. Constituição Federal de 1946. Brasília,1946. ________. Código Eleitoral de 1932 (Decreto nº 21.076, de 24/02/1932). Brasília, 1932. ________. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico 2002, Rio de Janeiro, 27 nov. 2004. Disponível em: <http:www.ibge.org.br>. acessado em 20/10/2011. ________. Perfil dos municípios brasileiros: Pesquisa de informações básicas municipais 1999. Rio de Janeiro, IBGE, 2001 ________. Política Nacional de Assistência Social. Brasília. Ministério do Desenvolvimento Social, 2004. 136 ________ Lei Orgânica da Assistência Social, de 07 de Dezembro de 1993, publicada no DOU de 08 de dezembro de 1993. _________ Lei n. 8.142 de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde - SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde e outras providências. ________ O Conselho Nacional de Assistência Social. Ministério da Previdência e Assistência Social. Brasília, 2002. ________. Política Nacional de Assistência Social. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Resolução 145, outubro de 2004. ________. Programa de Capacitação Regional de Conselheiros Estaduais e Municipais de Assistência Social. Ministério da Previdência e Assistência Social e Conselho Nacional de Assistência Social. Brasília, 2001. ________. Orientações para conselheiros da área de assistência social. Tribunal de Contas da União. 4º Secretaria de Controle Externo, 2007. _________. Lei n. 8.142 de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde - SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde e outras providências. ___________. Cartilha explicativa do Tribunal de Contas da União. Brasília, UNB,2010. 137 BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade. Para uma teoria geral da Política. Tradução: NOGUEIRA, Marco Aurélio. Paz e Terra, 15° Edição. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2009. BOSCHETTI, Ivanete. Política social: Fundamentos e história. 8° Edição. São Paulo. Cortez.2011. __________, Capitalismo em crise. São Paulo.Cortez, 2000. BOURDIEU, Pierre. O Poder simbólico. Lisboa: DIFEL/Bertrand, 1989. BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é participação. S.Paulo: Editora Brasiliense, 1998. BRAVO, M. I. S. & SOUZA, R. de O. Conselhos de saúde e serviço social: Luta política e trabalho profissional. Serviço Social, 10: 15-27, 2002. BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. A cultura entre o Estado e o mercado. Folha de São Paulo, Caderno Mais. 01/09/1996. BERMAN, M. Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras,1986. BORON, Atilio. Aristóteles em Macondo: Reflexões sobre o poder. Tradutor: Fernando Correia Prado. Pão e Rosas, Porto Alegre,2011. CÂMARA, Cristina. Novos sujeitos da luta. In: ÁVILA, M. B. et al (Orgs.). Novas legalidades e democratização da vida social: Família, sexualidade e aborto. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. 138 CAMPOS, Edval Bernardino. Assistência social: Do descontrole ao controle. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo, Cortez, nº 88, 2007. CARVALHO, Alba M. (ET AL). Projeto de investigação: A formação profissional do assistente social. Serviço Social & sociedade. São Paulo, Cortez, abril de 1981. CARVALHO, Alba Maria Pinho de. O cenário das políticas sociais no Brasil hoje: Gestão e controle social. Mimeo, 1996. CARVALHO, A. I. de. Conselhos de saúde no Brasil: Participação cidadã e controle social. Rio de Janeiro: Fase/Ibam, 1996. CARVALHO, G. I. & SANTOS, L. dos. Das formas de controle social sobre ações e os serviços de Saúde. v. I. Brasília: Ministério da Saúde, (Cadernos da Nona). 1992. CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: O longo caminho. 3° Ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2002. CISNE, Joaquim Neto. O Empreendedorismo como chave do desenvolvimento Endógeno (in) Desenvolvimento Endógeno: Um novo Paradigma para a Gestão local e Regional. Coordenação Patrício Vergara. Fortaleza, IADH,2004. CHAUI, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Perseu Abramo, 1980. ________. O que é Ideologia. São Paulo. Coleção Primeiros Passos, 1980. ________.Cidadania cultural e direito à cultura. São Paulo: Perseu Abramo, 2006. 139 CAROTHES, Thomas. Promoting the rule of law abroad. Booking Ed. Institute,2000. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: O novo papel dos recursos humanos nas organizações. 6ª tiragem. Rio de Janeiro: Campus, 1999. COHN, A. Cidadania e formas de responsabilização do poder público e do setor privado pelo acesso, equidade, qualidade e humanização na atenção à saúde. Cadernos da XI Conferência Nacional de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. CORTES, Soraya M. Vargas. Técnicas de coleta e análise qualitativa de dados. v. 9, Cadernos de Sociologia, Porto Alegre,(mimeo),p.11-47, 1996 CORREIA, M. V. C. Controle social na política de assistência social? Serviço Social & Sociedade, Ano XXIII, 72: 43-60, 2003. ________________. A relação Estado e sociedade e controle social: Fundamentos para o Debate. Serviço Social & Sociedade, Ano XXIV, 77: 22-45, 2004. __________________. Desafios para o controle social: Subsídios para a capacitação de conselheiros. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005. COUTINHO, C. N. Gramsci e a Sociedade Civil, 2002. Disponível em: <http//www.Gramsci.org/>. Acesso em: 20 junho de 2011. COUVRE, Maria de Lourdes M. A falta dos homens: Análise do pensamento tecnocrático. São Paulo: Brasiliense, 1983. DA MATTA, Roberto. A casa e a rua. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1987 140 _________ O que faz do Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Editora Sala, 1984. __________. Relativizando: Uma introdução à antropologia social. Petrópolis: Vozes, 1987. DAGNINO, Evelina. ¿Sociedade Civil, participação e cidadania: De que estamos falando? In: DANIEL, Mato (Coord.), Políticas de ciudadania y sociedad civil en tiempos de globalización. Caracas: FACES, Universidad Central de Venezuela, 2004. _________, Anos 90, Políticas sociais e sociedade no Brasil. Brasiliense, São Paulo, 1994. DALLARI, Dalmo de Abreu. O que é participação política. S. Paulo: Editora Brasilense, 1983. DEMO, Pedro. Pobreza política. S. Paulo.Cortez, 2004. DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (Eds.) Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage, 2000. DI GIOVANNI, Geraldo; SILVA, Maria Ozanira; YAZBECK, Maria Carmelita. A política social brasileira do Século XXI: A prevalência dos programas de transferência de renda. São Paulo. Cortez,1998 e 2004. DOWBOR, Ladislau. Da globalização ao poder local: A nova hierarquia dos espaços. São Paulo em Perspectiva. São Paulo, v. 9, nº 3, p. 3-10, julho/setembro/1995. 141 DURHAM, Eunice Ribeiro. Movimentos sociais: A construção da cidadania. Novos Estudos. São Paulo, nº 10, outubro/1984. FALCÃO, Fátima Benevides e ARAUJO, Alex. Desenvolvimento regional e combate à pobreza. (in) VERGARA, Patrício (org), Desenvolvimento Endógeno: Um Novo Paradigma para a Gestão local e Regional. Fortaleza, IADH, 2004. FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 3. Ed.São Paulo. Atlas, 2001. FALEIROS, Vicente de Paulo. A Política social do Estado capitalista: As funções da Previdência e Assistência Social. São Paulo, Cortez, 1983. FARIA, Luiz de Castro. Antropologia, espetáculo e excelência. São Paulo. Tempo Brasileiro,1993. FARIA, Lia. Ideologia e utopia nos anos 60. Rio de Janeiro. EDUERJ,1997. FERRAZ, F. A dimensão histórica da mudança: O dilema do projeto. Mimeo, 1993. FERNANDES, Florestan. Etnologia sociológica no Brasil. São Paulo: Anhambi, 1979. ________. Fundamentos empíricos da exploração social. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959. FISHER, Tânia. Análise das organizações: Perspectivas latinas. Rio Grande do Sul.UFRGS, 2007. 142 _________, Gestão do desenvolvimento e poderes locais São Paulo. Casa da Qualidade, 2002. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e Tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1998. FREYRE, G. Casa-grande & senzala. 21. ed. Rio de Janeiro, 1981. FUKUYAMA, F. Confiança: As virtudes sociais e a criação da prosperidade. Rio de Janeiro: Rocco,1996. GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere: Maquiavel – notas sobre o Estado e a política. Edição e Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1878. GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e lutas sociais. São Paulo: Loyola, 2001. ___________________. Teoria dos movimentos e lutas sociais. São Paulo: Loyola, 2000. GONDIM, Linda Maria de Pontes (Org.). Pesquisa em ciências sociais: O projeto de dissertação. Fortaleza: EUFC, 1999. (Série Percursos). GORENDER, Jacob. Combate nas trevas: A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Ática, 1987. HABERMANS, Jurgen. Direito à democracia: Entre factividades e validade. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1997. 143 HEGEL, in Marx, Karl. Critica da filosofia do direito de Hegel. Tradutor: DEUS, Leonardo de. Bomtempo Editorial, Rio de Janeiro, 2010. HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da filosofia do direito. 2° edição. Martins Editora, São Paulo, 2003. HERNANDEZ, Luis F. NOGUEIRA, Heloísa, SIMÕES Jr., José G., ALMEIDA, Marco Antônio de. Experiências inovadoras de gestão municipal. São Paulo: Pólis, 2011. HOBBES, Thomas. O leviatã. Editora Martin Claret. Rio de Janeiro, 2008. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil, 18a. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1984. HUNTIGTON, S.A. A terceira onda: Democratização no final do século XX. São Paulo: Ática, 1994 IAMAMOTO, M. V. & CARVALHO, R. de. Relações sociais e serviço social no Brasil: Esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 6.ed. São Paulo: Cortez/Celats, 1988. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Fundo Estadual de Combate à Pobreza. Fundamentos e Resultados. Fortaleza, IPECE,2006. _______. Projeto Arquivo Gráfico Municipal – Aquiraz, 2004. JAMESON, F. Reificação e utopia na cultura de massa. Crítica Marxista, vol. 1, n. 1, São Paulo, Brasiliense: 1-25, 1994. 144 JOVCHELOVICH, Marlova. A função simbólica da construção da representação. São Paulo. Hermes, 2007. ______________, Vivendo a vida com os outros. Espaço Publico, intersubjetividade e Representação Social in Guareschi, P. A e Jovchelovich, S. (Org) Textos em Representações Sociais. Petrópolis, Vozes,2007. ______________, Assistência social: Conceitos básicos. Brasília, MPAS, 1995. KELSEN, Hans. O que é justiça? – Justiça, Direito e Política. Martins, 3° Ed. Rio de Janeiro, 2001. KORNIS, Mônica Almeida. Produção de dossiês. Artigos sobre os anos de 1950. O Brasil de JK – Sociedade e cultura. Mimeo, 2002. KOWARICK, Lúcio (org.). As lutas sociais e a cidade: São Paulo: passado e presente. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. LINZ, J.; STEPAN. A. A transição e consolidação da democracia: A experiência do sul da Europa e da América do Sul. São Paulo: Paz e Terra, 1999. LISIEUX, Tereza. Metodologia do trabalho científico. Fortaleza, Unifor – mimeo, 1998 LONGO, Isis Sousa. A participação da sociedade civil nos conselhos dos direitos da criança e do adolescente. FEUSP. Disponível em http://www.anped.org.br e acessado em 10/08/2008. LOPES, Leonardo. Participação e políticas públicas no Nordeste. Cortez, São Paulo 2003. 145 LOPES, Margarida Heloísa. Participação e controle social nos conselhos de assistência social. Mestrado profissional de Políticas Publicas, UECE, mimeo, 2010. ______, Discutindo a municipalização da assistência social no Estado do Ceará: Dilemas e perspectivas. Mimeo. Fortaleza,1996. LÖWY, Michael; SAYRE, Robert. Revolta e melancolia: O romantismo na contramão da modernidade. Petrópolis, Vozes, 1995. MANNHEIM, K. Sociologia sistemática: Uma introdução ao estudo de sociologia. 2.ed. São Paulo: Pioneira, 1971. MARTINELLI, Maria Lúcia (Org.). Pesquisa qualitativa: Um instigante desafio. São Paulo.Veras Editora, 1992. MARTINS, Paulo. Os nacionalismos e a história do Brasil. São Paulo. Spcione, 1996. ________, Poder e cidadania. Rio de Janeiro. Papiros Editora,1997. MARTINS, Raildy Azevedo Costa. Missão do controle institucional e dos conselhos no controle social. MDS, 2000. MARTINS, Walter. A política social brasileira no século XXI: A prevalência dos programas de transferência de renda. Santa Catarina, UFSC,1993. MARSHAL, Berman. Tudo que é sólido se desmancha no ar. A aventura da modernidade. 4° edição, Rio de Janeiro. Companhia das letras, 2008. 146 MATOS, Clítia Helena Backx, MAMMARELLA, Rosetta. Espacialização da exclusão social urbana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: FEE, 1998. (Relatório de Pesquisa) MATUS, C. Política. Planejamento e governo. Brasília: Editora IPEA, 1993. _________, Participação e controle social na garantia de direitos humanos. Papiro, 1993. MELO, J.M.C. Capitalismo tardio. 5° Ed. São Paulo, Brasiliense,1986. MELLO, William. Estado, sociedade e participação política. Curso de Extensão em Formação Política. (mimeo). Fortaleza, 2009. MELO, Marcus André B. C. de. Ingovernabilidade: Desagregando o argumento in L. Valladares (org.),Governabilidade e Pobreza. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1995. MESTRINER, Maria Luíza. O Estado entre a filantropia e a assistência social, Cortez,2001. MINAYO, (Org.). Pesquisa social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1997. (Coleção Temas Sociais). MONEIRO, Pedro M. A Queda do Aventureiro: Aventura, cordialidade e os novos tempos em raízes do Brasil. Campinas, 1999. MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e questão social: Critica ao padrão emergente de intervenção social. São Paulo, Cortez, 2002. 147 MORAIS, Clodomir Santos. Elementos sobre a teoria da organização. Brasília/DF: Ed. Iattermund, 1986. MORRIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Ed sulina. 4° edição, Porto Alegre, 2011. MOISES, J,A. Os brasileiros e a democracia. Bases sociopolíticas da legitimidade democrática. São Paulo. Ática,1995. MOTA, Ana Elisabete. O mito da assistência social. Editora Cortez, Rio de Janeiro, 2010. MOTHRS,T. The end of the transition paradigm fourmal of democracy. Washington, V.13. Nº 01, 2002. In O que faz o Brasil Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Salar, 2003. MORIZZI, Paulo Eduardo. Políticas públicas e participação social no Brasil. UFRGS, Porto Alegre, 2009. MOSCA, Gaetano e OLIVEIRA, Luciano. Os excluídos “existem”? Notas sobre a elaboração de um conceito. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, nº 33, ano 12, p.49-61, fevereiro/1997 NOGUEIRA, Marco Aurélio. Um Estado para a sociedade civil. Temas éticos e políticos de gestão democrática. São Paulo: Cortez, 2004. NETO, Cisne Bulhões. Vamos indo na ciranda. DP e A Editora, Rio de Janeiro, 2004. 148 NUN, J. La democracia y la modernización: Trienta años despues. In: SIERRA, G. (Org) Democracia Emergente em America Del sur. Ciudad Del México. Unam, 1994. OLIVEIRA, S. L. de. Tratado de metodologia científica: Projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. 2.ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2003. OLIVEIRA, V.R. Política de assistência social no Brasil. Revista Social e Sociedade. São Paulo, V31. Páginas 98-119, dezembro de 1989. OREIRA, Maria Tranquinia Vieira. O município e a Lei Orgânica da Assistência Social. Fundação Prefeito Faria Lima/CEPAM. Fortaleza, Agosto de 1999. ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: Cultura brasileira e indústria cultural. São Paulo: Brasiliense, 1988. PAINE, Thomas. Common sense, in pinkmonkey.com/dl/library/sense.pdf PAZ, Rosângela Dias. O Conselho Nacional de Assistência Social em questão. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, Cortez, ANO XVIII, nº 51, agosto de 2005. PÉCAUT, Daniel. Os intelectuais e a política no Brasil. São Paulo, Ática, 1990. PEREIRA, Potyara Amazoneida Pereira. A assistência social na perspectiva dos direitos: Crítica aos padrões dominantes de proteção aos pobres no Brasil. Brasília, Thesauros, 1996. PINHEIRO, Leiticia. Política externa brasileira. Zahar, Rio de Janeiro, 2002. 149 PRATS, Joan. “Desigualdad y desarrolo en América Latina” VERGARA, Patrício. (org) Desenvolvimento Endógeno: Um novo paradigma para a gestão local e regional. Fortaleza, IADA, 2004. PINHEIRO, Francisco José. Os povos nativos do Ceará (Uma síntese possível) in Ceará de Corpo e Alma: Um olhar contemporâneo de 53 autores sobre a Terra da Luz. Rio de Janeiro. Relume Demurá, 2002. PUTNAN, R. Comunidade e democracia: A experiência na Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV,2000 RAICHELIS, Raquel. Esfera pública e conselhos de assistência social: Caminhos da construção democrática. Cortez, São Paulo, 2000. RIDENTI, Marcelo. Os anos 60 e sua herança no Brasil. Revista Alambre N°1 – Março de 2008. _______________. O fantasma da revolução brasileira. São Paulo: Ed. UNESP, 1993. _______________. Em busca do povo brasileiro: Artistas da revolução, do CPC à era da TV. Rio de Janeiro, Record, 2000. RIBEIRO, D. O povo brasileiro: A formação e os sentidos do Brasil: São Paulo: Companhia das Letras: Alfa ômega, 2005. RIZOTI, Maria Luiza Amaral. Estado e sociedade civil na história das políticas sociais brasileiras. Artigo publicado na revista WWW.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/3878/3112. UEL, 1994 in 150 ROTOLO Marcelo Kunrath Silva. Análise comparativa de processos de participação social na discussão pública do orçamento em municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre/RS, 2007. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. Amsterdã. Marc Michel Ray, 1754 ROQUIÉ, A. O Estado militar na América Latina. São Paulo: Alfa-ômega, 1984. SAES, Décio Azevedo Marques. Capitalismo e cidadania no Brasil: Um estudo sociológico sobre o padrão brasileiro de evolução da cidadania. Da República velha à nova República. 2001 USP. SALAMA, Pierre e DESTREMAN, Blandine: O tamanho da pobreza. Economia política da distribuição de renda. Rio de Janeiro, Gramond, 1999.. SANTOS, B. de Sousa. A globalização do direito: Os novos caminhos da regulação e da emancipação. Bogotá, ISLA, 2008. SCHWARTZNIAN, S. Bases do autoritarismo brasileiro. Rio de Janeiro. Campus, 1988. SILVA, Luiz Antônio Machado da. Violência e sociabilidade: Tendências da atual conjuntura urbana no Brasil. In: SEMINÁRIO “Globalização, fragmentação e reforma urbana: o futuro das cidades brasileiras na crise”, Itamontes, 1993. SILVA, Luiz Antônio Machado da, RIBEIRO, Ana Clara T.. Paradigma e movimentos sociais: Por onde andam nossas ideias? Ciências Sociais Hoje. São Paulo, 1985 151 SILVA, Marcus André B. C. de. Ingovernabilidade: desagregando o argumento. In: VALLADARES, Lícia, COELHO, Magda Prates (orgs.). Governabilidade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. SILVA, Pedro Luiz Barros. Políticas governamentais e perfis de intervenção: Reflexões acerca da intervenção estatal. Documento apresentado na VIII Reunião Anual da Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Administração. São Paulo, Setembro de 1984. SOUSA, Jessé. A construção social da subcidadania. Belo Horizonte: Editora da UFMG, Rio de Janeiro: IUPERJ, 1998. SOUZA, José Martins de. Expropriação e violência. São Paulo: Hucitec Editora, 1991. _______. Exclusão social e a nova desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997. SORJ, Bernado A. A nova sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. SPOSATI, Aldaíza de Oliveira.(etal) A assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: Uma questão em análise. São Paulo: Cortez,1987. TEIXEIRA, Alberto. O Orçamento participativo e a relação Estado-sociedade, MIMEO, 2004. TEIXEIRA, Antônio Fernandes. Conflitualidade e movimentos sociais. Análise Social, v. XXVIII, nº 123-124, p. 787-828, 1996. TEIXEIRA, Elenaldo. Conselhos de políticas públicas: Efetivamente uma nova institucionalidade participativa? São Paulo: Polis, n°37, 2000. 152 TELES, V da S. Sociedade civil e a construção de espaços públicos. In Dagnino, E. Org. Anos 90 Políticas Sociais e Sociedade no Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1994. UGA, Maria Alice. Descentralização e democracia: O outro lado da moeda. Planejamento e Políticas Públicas, Brasília, n. 5, 1991. VALLA, V. V. (Org.) Participação Popular e os Serviços de Saúde: O controle social como exercício da cidadania. Rio de Janeiro: 1998 VIEIRA, Marcelo Milano Falcão; ZOUAIN, Deborah Moraes (orgs). Pesquisa Qualitativa em Administraçâo. Rio de Janeiro: FGV, 1977. VERGARA, Patrício. (org) Desenvolvimento Endógeno: Um novo paradigma para a gestão local e regional. Fortaleza, IADA, 2004. WEBER, Marx. A objetividade do conhecimento na ciência política e na ciência social, 1904. Martin Claret Editora, Rio de Janeiro, 2005. ______, Ética protestante e o espírito do capitalismo. Tradução: José Marcos Macedo. Companhia das Letras, 2004. YAZBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social. São Paulo: Cortez, 1996. _______, A escola de serviço social no período de 1936 a 1945 in Cadernos PUC. São Paulo. Cortez-Educ. 11-60, 1980. YIN, Robert K. Estudo de caso. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 1989. 153 ZUENIR, Ventura. O ano que não terminou. 29° Ed. Nova Fronteira, São Paulo,1988. 154 APÊNDI CES 155 APÊNDICE A - QUADROS 1 O PERFIL DOS CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE AQUIRAZ –CE Quadro 1. Período de Mandato no CMAS de Aquiraz Período de Mandato Total de entrevistados N° abs % 2005 – 2007 06 25.1 2007- 2009 08 33.3 2009-2011 10 41.6 TOTAL 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 2. Sobre o Local de Residência dos Conselheiros Reside em Aquiraz? N° Abs. % SIM 09 37.5 NÃO 15 62,5 TOTAL 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 3. Sobre o Local de Trabalho Atual Atualmente trabalha em Aquiraz? N°.Abs % SIM 22 91.6 NÃO 04 08.4 TOTAL 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 4. Sobre o Tempo em que Trabalha / Trabalhou em Aquiraz Período Menos de 01 ano De 01 a 05 anos De 06 a 10 anos Mais de 10 anos Total N.abs % 04 16,6 05 20.8 06 25.0 09 37.5 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) 156 Quadro 5. Sobre a Faixa Etária dos Conselheiros Idade N. abs. % De 20 a 30 anos 05 20,8 De 21 a 40 anos 09 37.5 De 41 a 50 anos 05 20.8 De 51 a > de 60 anos 05 20.8 TOTAL 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 6. Identidade do Conselho Segundo o Gênero Sexo N°.abs % Feminino 14 58.3 Masculino 10 41.6 Total 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 7. Grau de Instrução dos Conselheiros Escolaridade N.abs % Fundamental incompleto ---Fundamental completo 01 04.1 Médio incompleto 03 12.5 Médio completo 02 08.3 Superior incompleto 09 37.5 Superior completo 08 33.3 Pós graduado 01 04.1 Total 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 8 . Disponibilidade de Tempo – Frequência às reuniões Disponibilidade N.Abs % Sim 13 54.6 Não 02 8.3 Raramente podia comparecer 04 16.6 Compareceu a maioria das reuniões 05 20.8 Total 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) 157 Quadro 9. Atualmente é Conselheiro em Aquiraz? Conselho CMAS CMDI CMDCA CMDM CMDEF CMDS CMHAB CAE Outros Não TOTAL N. Abs. % 08 24.2 01 3.03 10 30.3 01 3.03 01 3.03 02 6.06 01 3.03 02 6.06 03 9.09 04 12.12 33 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 10. Sobre o Tempo de duração do Mandato no CMAS de Aquiraz Tempo de Mandato Não cumpriu dois anos de mandato Cumpriu dois anos de mandato Cumpriu dois anos e foi reconduzido por mais 2 anos Total N° Abs. 03 07 14 % 12.5 35.0 58.3 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 11. Participou ou participa de outros conselhos? Sim 11 % 45.8 Não 13 % Quais 54.1 CMDCA – 07 CMDI – 01 CMHAB 01 CMDM-01 CMDEF – 01 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) 158 2 CONCEPÇÕES TEÓRICAS Quadro 12. O Que Você Entende Por Controle Social? N° 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 Controle Social é: Pergunta repetitiva é igual a ser conselheiro Controlar para que haja uma política social para a Assistência É a participação efetiva da sociedade organizada Acompanhar os trabalhos realizados pela Secretária de Ação Social do município É tentar interferir para que o prefeito não roube É participar, definindo os rumos da administração publica É quando a sociedade tá no controle da política! São ações desenvolvidas para acompanhar a gestão pública É quando a sociedade se organiza pra controlar o governo São ações integradas da sociedade civil e do poder público pra fazer acontecer a 11 12 política Controle da sociedade sobre o governo É quando a sociedade acompanha o desenvolvimento do trabalho público e da 13 14 15 16 17 prefeitura É o acompanhamento dos gastos públicos É o controle da sociedade sobre o governo É uma manifestação do poder da sociedade organizada É o controle do gasto do prefeito É decidir onde o dinheiro público- que é nosso , deve ser investido : se em hospital, se 18 em educação... priorizando os investimentos É uma ação de controle da sociedade civil organizada, especialmente as ong´s podem 19 20 21 22 23 fazer o controle social e acompanhar os gastos do prefeito. É acompanhar a gestão pública. É tentar controlar a roubalheira no governo. Prefiro não responder. Não respondeu. É quando as pessoas que moram numa comunidade se sentem parte desta, e tem direitos de interferir na administração pública, inclusive, propor como o dinheiro público 24 deve ser gasto. É controlar os gastos do Governo e tentar impedir que haja fraude pública. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) 159 Quadro 13. O Que Entendo por Participação? 24.1 01 02 O que entendo por participação? É participar! É um dos princípios democráticos que não foi possível transformar-se em realidade por longos períodos da nossa história, mas que hoje é 03 institucionalizado. Não é possível participar de fato, pois sempre existem as “amarras” que nos 04 05 06 07 08 09 impedem de realmente exercer a participação. Liberdade, qualidade, diversidade É poder dizer o que pensa. É estar disponível para exercer o papel de conselheiro Não respondeu É estar por dentro dos assuntos pra poder dar boas ideias É ser um conselheiro presente sempre que necessário, participando das 10 11 12 13 14 15 16 reuniões, das capacitações e dando opiniões importantes. Estar presente nas ações que estão sendo desenvolvidas É poder dizer o que pensa É fazer parte do grupo É lutar por uma sociedade melhor e mais justa Não respondeu Não respondeu Entendo que é buscar estar mais presente nos conselhos procurando colaborar 17 18 19 20 21 22 com o município Participar e contribuir com o município Participar dos eventos e todos os momentos que seja necessário Participar e contribuir com a política de assistência Fazer minha parte em tudo que necessário Participar é estar ativo, seja onde e como for. Mesmo diante das adversidades Participar é qualificar-se, estar pronto para dar opiniões que sirvam para melhorar a vida das pessoas 23 Participar é interagir com os demais na busca da solução dos problemas 24 Participar é se dedicar a uma causa Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) 160 Quadro 14. Compreensão do Entrevistado Sobre O Que é Ser Conselheiro N abs 01 O que é ser conselheiro? É estar junto com a sociedade civil organizada, a capacidade de interferir nas políticas públicas, interagindo com o Estado na definição de possibilidades e na elaboração de planos de ação nos municípios. Os conselhos são uma forma democrática de controle social. 02 É exercer seu papel político e cidadão na sociedade 03 É ser aquele individuo que procura trazer mais benefícios para as comunidades 04 É ter responsabilidades sobre as ações e ter atenção 05 NÃO RESPONDEU 06 É participar dos interesses do município colaborando e contribuindo para melhorar a vida dos cidadãos 07 É ter poder de controlar de algum modo os desmandos do poder público. Também é a possibilidade de verificar se as ONG´S do município estão verdadeiramente cumprindo seu papel, ou apenas recebem recursos para beneficiar seus próprios dirigentes. 08 É ajudar e propor políticas na área da assistência social 09 É ter compromisso para com a sociedade 10 É ocupar-se diretamente do acompanhamento da execução das políticas públicas municipais 11 É ser responsável 12 Ser conselheiro é uma vocação! 13 Acredito que ser conselheiro é ter poder de interferir diretamente nos assuntos da gestão pública 13 É participar das reuniões e propor sempre melhorias para a população de Aquiraz 14 O Conselheiro tem a capacidade de interferir no rumo da política local. 15 É participar ativamente da elaboração da política local 16 Acredito que os conselhos estão muito longe dos seus objetivos, pois vejo que mesmo que tentamos muito fazer acontecer alguma coisa nesta cidade, mas nunca conseguimos sair das ideias e ir pra ação. Por isto considero perda de tempo. 17 É ter compromisso com o município e com as famílias que são usuárias da rede socioassistencial 18 É interferir na política local. 19 É representar os interesses da população, mas claro, que isto inclui o diálogo com diversos setores da prefeitura e do poder civil. 20 Acredito que é fortalecer no dia a dia a missão de cidadão 21 É envolver-se de forma direta com a política. 22 É trabalhar voluntariamente, além da conta, para acompanhar a execução da política no município 23 É buscar justiça social. 24 É nadar contra a corrente, pois o nosso sistema mesmo que diga que os conselhos são importantes e todo o blábláblá sempre termina demonstrando que na realidade nós conselheiros não temos mesmo poder de mando, pois se de fato pudéssemos agir contra o que vemos de errado e determinar os rumos da política com certeza a história seria outra. Por exemplo eu vejo em Aquiraz que muitas pessoas que necessitam de cestas básicas não recebem porque a prefeitura diz que não tem verba, mas como é que pode? Se tem verba pra pagar um monte de funcionário “a toa” porque não tem verba pra cesta básica? Se são os conselheiros quem decidem, aqui em Aquiraz não é bem assim. Só vemos as prestações de contas quando já tá tudo pronto, além do mais, temos que dizer sim, porque se não o município perde o recurso. Acho um absurdo. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social 161 (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 15. A Compreensão do Entrevistado sobre as atribuições do Conselheiro N Abs. 01 02 03 Quais as atribuições do Conselheiro? Não respondeu Fiscalizar, deliberar e acompanhar a política de Assistência Social Fiscalizar as ações da execução da política de As; Zelar pela aplicação desta 04 05 06 07 08 09 10 11 política e apreciar e aprovar as propostas orçamentárias Fazer o acompanhamento e o controle das políticas públicas Participar das reuniões e opinar sobre o desenvolvimento das pautas. Participar efetivamente e contribuir pro desenvolvimento do conselho. Dar mais agilidade aos trabalhos desenvolvidos pelo conselho Não respondeu Perder tempo! Votar, propor e participar da construção da política local Acompanhar e fiscalizar o trabalho das ONGS e da prefeitura (tentar diminuir os 12 roubos e as fraudes) Trabalhar além do necessário, reunir-se com um monte de gente que pensa 13 14 15 16 17 diferente para propor um monte de coisa que não vai sair do papel. É acompanhar de perto a política local Fiscalizar e executar a política local Acompanhar a política local Fiscalizar o executivo e as ong´s Acompanhar o gasto dos recursos públicos e decidir onde o dinheiro deve mesmo 18 19 ser investido São várias coisas. Entendo que é participar das reuniões e tentar fazer dar andamento nas pautas 20 21 22 principais. Colaborar com a gestão para o bom funcionamento da máquina pública. Decidir e opinar sobre a política local Fazer um trabalho de divulgação e acompanhamento do município, fortalecendo as ong´s e o terceiro setor, que através dos conselhos pode interferir na política 23 local São muitas coisas, acho que a primeira é ter compromisso com a população de 24 Aquiraz, e tentar fazer o melhor para que a política atinja seus objetivos Várias coisas. Fazer resoluções que mostre ao poder público que o conselho tem poder de decidir. Também fiscalizar essas ong´s que recebem recursos públicos. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) 162 Quadro 16. Conheço a Rede Socioassistencial do Município? Opções Sim Não Total N° absoluto % 17 70.8 07 29.1 24 100 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 17. Qual a sua opinião sobre a política municipal de Assistência Social de Aquiraz? Qual a sua opinião sobre aVocê concorda com o Justifique PMAS de Aquiraz que vem sendo feito? SIM Não 01 A política de Aquiraz X Porque vem melhorando melhorou muito nestes últimos anos 02 Esta melhorando X Acho que poderiam fazer mais e melhor se houvesse menos roubo 03 É um município que X Acho que o atual prefeito vem precisa crescer mais trabalhando legal. 04 ---X -----05 É muito bom morar em X Porque sim. Aquiraz 06 Acho que a atual X Precisa melhorar. secretaria não tem pulso 07 Acho que o prefeito não X Devia investir mais na assistência destina recursos corretamente 08 Tá melhorando X Pode melhorar ainda mais 09 Acho que tem muita coisa X Devia investir mais nas famílias boa, mas tem muita coisa carentes. Principalmente os pra melhorar catadores de lixo da região que sofrem muito com a fome 10 O município cumpre os X Acho que podemos avançar em requisitos nacionais, muitos sentidos se houver a considero isto importante colaboração de todos os agentes públicos 11 Mais ou menos X O município é muito carente. 12 Precisa melhorar em X Em partes, porque eu acho que ainda muitos aspectos há muitas famílias que precisam estar cadastradas nos programas federais. Além do mais em Aquiraz não temos nenhuma industria forte, que possa garantir emprego pros nossos cidadãos. 13 A PMAS de Aquiraz X Acho que precisa de avanços precisa avançar muito urgentes. 14 Sim X ----15 Acho que a assistência é a X Precisa de mais investimento área que recebe menos municipal na PMAS e também de recursos, porque em profissionais mais preparados. grande parte as 163 16 17 18 19 20 21 22 23 24 transferências são feitas diretamente do executivo, o que termina eximindo o município de sua responsabilidade A política atual é eleitoreira como sempre, acho que os políticos são todos iguais Acho que tá boa Acho que precisa melhorar os hospitais. A Saúde de Aquiraz tá um caos Tá boa mais pode melhorar -----Tá boa sim. Ainda bem que é ano eleitoral, então as coisas acontecem mais fáceis Acho que tá boa Acho que pode melhorar mais porque tem pouco investimento na assistência social ---- X Não concordo porque vejo muito roubo ainda e as ONGS estão recebendo cada vez mais menos recursos, é difícil trabalhar assim. Sim, eu concordo com a administração do atual prefeito. Claro, que a anterior era um pouco melhor, pois investia mais nas ong´s Precisa melhorar muito X X X Concordo sim. X X ----------Talvez precise fazer o trabalho do povo da assistência social aparecer mais X X Concordo Investir mais na assistência social X Porque o prefeito atual não investe na assistência, muito menos nas ong´s. Todo nosso trabalho esta perdido e disperso. Nesta gestão muitas ong´s tiveram que fechar as portas por não ter subsídios da atual administração, acho isto um absurdo. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 18. Conhece os Critérios de Concessão de Benefícios Eventuais? Sim % Não % 14 58,3 10 41.6 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) 164 3.4.3 A PRÁTICA DO CONSELHEIRO Quadro 19. Sobre o Exercício da Presidência e Vice- Presidência do CMAS Conselheiros Exerceu a presidência Exerceu a Vice presidência Exerceu a presidência em um mandato e a vice-presidência em outro Não exerceu nem a presidência nem a vice-presidência Total Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) N.Abs 03 02 01 18 24 % 12.5 8.3 4.1 75.0 100 Quadro 20. Como Foi Definida Sua Participação no CMAS de Aquiraz? Opções Vontade e interesse próprio Indicado pela Entidade que represento e não pude evitar Indicado pela gestão e não pude evitar Outros (fui indicado pela gestão e gosto de ser conselheiro) Total Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) N°Abs 07 05 10 02 24 % 29.1 20.8 41.6 8.3 100 Quadro 21. Com Que Frequência Participava das Reuniões Ordinárias e Extraordinárias do CMAS de Aquiraz? Frequência Mensalmente Sempre que convocado Quando era possível (sempre tinha muitos compromissos) Quando era pra votar alguma coisa muito importante Outros Total Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) N Abs 08 05 07 04 ----24 % 33.3 20.8 29.16 16.6 -100 Quadro 22. Costumava Emitir Opiniões nas Reuniões do CMAS de Aquiraz? N° 01 02 03 04 Sim X X X 05 06 07 X X X Não X Justificativas Porque gosto de participar Sempre que o tema me interessava Sempre Não me sentia à vontade para opinar, talvez pelo pouco tempo que passei no município Gosto de contribuir Sempre que possível Se tinha algo pra falar, sempre falava, mesmo que fosse discordar da maioria. 165 08 09 X X Sempre que possível As vezes, pois algumas pessoas sempre falam demais, o que tornava as reuniões muito cansativas e maçantes. 10 X ----11 X Porque gosto de contribuir 12 X Porque estava nas reuniões para contribuir 13 X Sempre que possível 14 X ------------------15 X Sempre procurava indicar o que é mais necessário pro município e pras ONG´S e comunidades 16 X Sempre procuro contribuir em tudo que me proponho a fazer 17 X Porque é uma forma de contribuir com o colegiado 18 X Na maioria das vezes não 19 X Se tivesse algo a acrescentar falava mesmo 20 X Sempre que possível 21 X Sim. 22 X Nem sempre entendia as pautas e reivindicações. Achava um pouco perda de tempo as reuniões, pois não passavam de discussões tolas de grupos que iam ali brigar por seus próprios interesses. 23 X Quando necessário sempre me manifestei 24 X Sempre que tive vontade ou que era pedida minha opinião eu falava. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 23. Minha Opinião era Levada em Conta na Hora da Tomada de Decisões pelo Colegiado do CMAS de Aquiraz? N° 01 02 Sim X X 03 04 05 06 07 08 09 10 X X 11 12 X 13 14 15 16 17 18 19 20 21 X X X X X Não X X X X X X X X X x X Justificativas Acredito que sim Sempre foi um consenso. Dependia da votação. Se a opinião era válida eles aceitavam Sim, as decisões eram do colegiado Acho que sim Não costumava a me manifestar Acredito que sim porque eu sempre obtive respostas positivas Quando eu dizia alguma coisa era no sentido de contribuir Acredito que sim ------Minhas opiniões quase sempre divergiam das opiniões da maioria, eu sempre contestava especialmente os valores apresentados nas prestações de contas. Acredito que sim Nem sempre, porque feriam os interesses da maioria que é submissa a administração Sempre que possível eu ajudava Sempre Sim. Porque eu gosto de colaborar, então sempre emitia opiniões Quando era do interesse da maioria Não costumava a me meter, só mesmo nas votações Acredito que sim, já que as decisões são de todos Sim, muitas vezes Sempre que possível 166 22 23 24 X X X Quase sempre, mas a decisão final era da maioria Eu participava sempre e ajudava a formar os consensos Sim, especialmente porque na função da presidência tinha obrigação de participar ativamente. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 24. Questões relativas ao exercício das atribuições do conselheiro Questões Sim Analisei, apresentei propostas e aprovei o plano 03 Municipal de AS Realizei o monitoramento da Rede 05 Socioassistencial de Aquiraz Não sei informar --Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) % 12,5 Não 21 % 87.5 total 24 20.8 19 79.15 24 ---- --- --- -- Quadro 25. Acompanhava os Registros em ATA do CMAS de Aquiraz? N° 01 Sim X 02 03 04 X X X 05 X 06 07 X 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 X X X 18 19 20 X X X 21 Não X X X X X X X X X Justificativas Mesmo quando não podia comparecer as reuniões, porque gostava de saber o que tava acontecendo no conselho Porque é um documento Porque eu sempre leio algo antes de assinar Mesmo não concordando com tudo, eu sempre gostava de ler antes de assinar, porque acho importante. Só quando dava tempo , As vezes eu pedia a ATA pra ler das reuniões que tinha faltado, mas como só podia ver após as reuniões nem sempre eu acompanhava. Mas me recusava a assinar se não pudesse ler. Eu sempre leio antes de assinar Só quando era possível. Porém assinei muitas atas de reuniões que de fato não aconteceram, e nas quais não estive presente, porque havia prazos, e pra não prejudicar o município eu lia as atas e analisava os documentos e assinava. Eu sempre leio antes de assinar Só das reuniões que eu tinha que assinar Quando era necessário eu assinava --------Sim, lia antes de assinar. Na maioria das vezes li antes de assinar Eu assinava sempre, mas nem sempre pude ler tudo Claro que sim! Sempre assino, mas leio antes. Se eu propus alguma alteração que não era levada em conta eu não assinava, porque queria pelo menos que constasse em ata. Assinava sempre Sempre lia antes Sempre lia, mesmo que não tivesse participado da reunião, se eu tinha que assinar eu tinha que ler. Só quando dava tempo 167 22 X Sempre lia antes de assinar e se não concordava não assinava 23 X ----24 X Sempre. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 26. Como Conselheiro Você Realizava (Realiza) o Controle da PMAS? N° Sim 01 02 X X 03 04 05 06 Não opinou Justifique Participo das reuniões Analisamos o plano de ação e os demonstrativos de gastos X X Acompanho a política de Aquiraz X X 07 08 09 10 X X X 11 12 X 13 14 Não Procurava sempre dentro das possibilidades e das condições oferecidas realizar este controle social Sim, fui as reuniões e vi os projetos Participando das reuniões e analisando os gastos públicos Não justificou Pois ainda não fui chamada pra fazer este controle e tenho pouco tempo de mandato Porque é minha obrigação de conselheiro Não considero controle quando já se chega na reunião às vésperas da aprovação de um plano de ações todo feito não sei por quem, não sei onde.... e ao conselho cabe apenas dizer sim! X X X X Quando participo das reuniões e vemos os gastos todos nas tabelas e sabemos pra onde foi os recursos e aprovamos a execução da política 15 X Todo mês nas reuniões a gente aprova os recursos públicos gastos 16 X Porque é importante. 17 X É a missão do conselheiro 18 X Eu não me lembro de ter visto isto em pauta 19 X É o trabalho do conselheiro 20 X As vezes quando apresentam os planos pra gente, e temos que dizer se o recurso será ou não aprovado. 21 X Analisamos sempre planos de aplicações de recursos e demonstrativos financeiros 22 X Sempre nas reuniões é feito o controle 23 X Votamos pra decidir quem merece ou não receber cestas básicas e vale transporte, acho que isto faz parte do controle, também a técnica responsável por este setor, envia relatórios dizendo quem fez o que, e onde foi gasto o dinheiro. 24 X Não. Como conselheiro acho que nunca tive essa oportunidade. Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) 168 Quadro 27. Acompanhei e Controlei a Execução da Política Municipal de Assistência Social de Aquiraz? N° 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 Sim X X X X X X Não Justificativas É meu papel É um dos melhores caminhos democráticos ---Porque é interesse da comunidade Porque fiz visitas onde estão sendo desenvolvidas as atividades Porque eu observava sempre tudo X -----X Porque acho perda de tempo X ----X Porque é importante X Porque não tive tempo X Não tive condições de participar ativamente do CMAS X Não tinha tempo, além de acumular funções na minha secretaria ainda ser conselheiro de modo voluntário era muito complicado 14 X Eu fiz questão de acompanhar tudo sempre 15 X Me dediquei sempre ao conselho. 16 X Foi difícil mas eu sempre tentei fazer o melhorq 17 X Acho que investi muito no conselho 18 X Não dispunha de tempo pra acompanhar tudo sempre 19 X Sou uma pessoa dedicada 20 X Eu acompanhei sim. 21 X Acredito que sim 22 X Não pude participar e acompanhar as coisas como deveria 23 X Acredito que fiz o possível 24 X -------Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 28. Minha Participação Como Conselheiro Interferiu Para a Conquista de Avanços na Política Municipal de Assistência Social? N° 01 02 03 Sim X X X 04 05 X X 06 X 07 08 09 10 11 12 Não X X X X X X Justificativas Acredito que sim porque eu sempre to ativo no conselho Porque sempre proponho coisas que podem ser importantes Porque eu sou cidadão e sempre que estava ou estou em algum conselho eu busco fazer o melhor pra política de Aquiraz funcionar. Pois aprovo as propostas, e analiso os recursos Acho que é muito importante, porque os conselhos de algum modo ainda conseguem controlar os gastos do prefeito. Sim, porque estamos em cima da administração pública e fazíamos nossa função de conselheiro, sempre buscando zelar pelo patrimônio do Aquiraz. Porque quando eu estive no conselho eu notava que muitas das coisas e propostas que fazíamos não saiam dos papéis. Acho que a administração pública ainda corre muito solta neste país. Porque acompanhei e fiscalizei e ainda faço isto! Porque sou cidadão ------Porque eu me dediquei muito no Aquiraz. ------ 169 13 X 14 15 X X 16 X 17 X 18 X 19 X 20 21 X 22 X 23 X 24 Porque eu sou da comunidade, e quando estive nos conselhos eu sempre levei demanda da comunidade pra ser votada ali. Acredito que sim. Considero que minha participação de certa forma contribui para o desenvolvimento do município. Porque quanto maior a participação, melhores são as condições ao exercício pleno da democracia. Porque eu ajudei no fortalecimento dos conselhos e briguei muito para que o conselho funcionasse. Sim porque eu consegui 02 coletivos do pró-jovem para minha comunidade Porque eu acredito que minha participação foi importante em muitos aspectos Porque eu gosto muito de participar da política Porque trabalhei pouco tempo em Aquiraz, eu tentei muito ajudar, mas não acredito que tenha feito tanta diferença Porque eu lutei pelos direitos da pessoa com deficiência, pedi que as ong ´s que trabalham com crianças especiais tivessem mais atenção no município. Porque eu acho que como conselheira eu ajudei bastante, aprovando o uso de recursos e permitindo que o município seguisse arrecadando e utilizando bem. Porque eu sempre quis o melhor pra população de Aquiraz. X X Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 29. Acompanha o Trabalho da Gestão atual do CMAS de Aquiraz? Sim % Não % 10 41.6 14 58.3 Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) Quadro 30. De que maneira acompanha o Trabalho da Atual gestão do CMAS de Aquiraz? Como acompanha a gestão atual do CMAS Sou conselheiro do CMAS Acompanho porque me interesso Faço parte de outros conselhos e algumas vezes participo Não acompanho, mas sei das ações Não acompanho e nem sei se esta funcionando atualmente Total Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) N° 04 06 07 01 06 24 % 16.6 25,0 29,1 4,1 25.0 100 170 3.3.4 SOBRE A GESTÃO DO CMAS DE AQUIRAZ QUADRO 31. Questionamentos relativos à gestão do Conselho 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 Questões Sim % Não % % 33.3 Não sei informar 10 O CMAS de Aquiraz acompanhava a gestão dos benefícios, programas e projetos da Política Municipal de Assistência Social? Atualmente, você saberia informar se o CMAS acompanha a gestão de benefícios, programas e projetos da PMAS de Aquiraz O CMAS acompanhava a gestão dos Recursos destinados á programas e projetos da PMAS ? Você saberia informar se atualmente este acompanhamento vem sendo realizado? O conselho inscrevia e fiscalizava as entidades e organizações de âmbito municipal? Sabe informar se atualmente o conselho inscreve e fiscaliza as entidades e as organizações de âmbito municipal O conselho analisava e aprovava a proposta orçamentária dos recursos destinados as ações finalísticas da Assistência Social alocadas no FMAS? Sabe informar se atualmente o conselho analisa e aprova a proposta orçamentária dos recursos destinados às ações finalísticas da Assistência Social alocadas no Fundo Municipal? O Conselho faz o acompanhamento do plano de aplicação dos recursos do fundo municipal? No período em que fui conselheiro, fazíamos o acompanhamento do plano de aplicação dos recursos do FMAS? O conselho exercia a orientação e o controle do FMAS? Analisava e aprovava o plano anual de gestão? Durante o período em que estive no conselho, foram realizadas ações integradas com outros conselhos municipais? Durante o período em que fui conselheiro garantimos o debate e a participação dos usuários? 06 25.1 08 06 25.1 05 20.8 13 54.16 10 41.6 04 16.6 10 41.6 05 20.8 03 12.5 16 66.6 04 16.6 03 12.5 17 70.8 07 29.1 03 12.5 14 58.3 12 50.0 05 20.8 07 29.16 07 29.1 04 16.6 13 54.1 07 29.1 05 20.8 12 50.0 04 16.6 03 12.5 17 70.8 08 33.3 01 4.16 15 62.5 10 41.6 04 16.6 10 41.6 13 54.6 09 37.5 02 8.33 08 33.3 10 41.6 06 25.0 41.6 171 15 16 17 18 19 20 21 22 A gestão atual divulga suas ações? 02 8.33 02 No período em que fui conselheiro 22 91.6 01 havia meios de publicizar as decisões do conselho? Durante o período em que fui 23 95.8 -conselheiro, havia secretária executiva ? O Conselho possuía sede própria? 23 95.8 -O conselho possui sede própria 17 70.8 --atualmente? O Conselho possuía equipamentos e 10 41.6 12 material de expediente? Possuía transporte próprio? 02 8.33 22 Durante seu mandato no CMAS foram 17 70.8 03 realizadas visitas ás entidades da rede privada de Aquiraz? Pesquisa Direta: Conselho Municipal de Assistência Social (Nov/2010 a Jan/2011) 8.33 4.16 20 01 83.3 4.16 --- 01 4.16 ----- 01 07 4.16 29.1 50.0 02 8.33 91.6 12.5 02 04 8.33 16.5 172 APÊNDICE B- Roteiro para a Pesquisa de Campo Entrevista perfazendo um total de 24 conselheiros Municipais de assistência Social de Aquiraz, no período de 2005 a 2010. 1. O Perfil dos Conselheiros Municipais de Assistência Social de Aquiraz Ceará 1. 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 01/1 0/12 1.11 Período em que exerceu mandato no CMAS Reside no Município? Trabalha atualmente no município? Tempo em que trabalhou em Aquiraz? Idade Gênero Grau de Instrução Tenho disponibilidade de tempo para participar das reuniões Atualmente é Conselheiro? Cumpriu todo o mandato no CMAS de Aquiraz? Porque? Participa de outros Conselhos? Quais? 2. Sobre as Concepções Teóricas 2.1 O que você entende por Controle social? 2.2 O que você entende por Participação? 2.3 O Que é Ser Conselheiro? 2.4 Quais as atribuições do Conselheiro? ( ) sim ( ) não ( ) sim ( ) não ( )M ( )F ( ) sim ( ) não ( ) sim ( ) não ( ) sim ( ) não 173 2.5 Conheço a Rede Socioassistencial do Município? ( )sim ( ) não 2.6 Qual a sua opinião sobre a PMAS de Aquiraz? Justifique sua resposta 2.7 Conheço os Critérios de Concessão dos Benefícios Eventuais? 3. A Prática do Conselheiro 3.1 Exerceu a presidência ou Vice- presidência? ( )sim ( ) não 3.2 Como foi definida sua participação no CMAS de Aquiraz? • Foi minha própria vontade • Fui indicado pela entidade que represento e não pude evitar • Fui indicado pela Gestão e não pude evitar • Na próxima gestão pretendo continuar conselheiro • Espero na próxima gestão, não ser conselheiro Enquanto conselheiro, comparecia sempre as reuniões extraordinárias do CMAS de Aquiraz ( ) sempre que possível ( ) quando necessário ( ) as vezes ( ) nem sempre ( ) raramente, pois acumulava muitas funções ( ) outros Costumava emitir opiniões nas Reuniões do CMAS de Aquiraz ( )sim ( ) não ( ) sempre que necessário 3.4 3.5 3.6 ordinárias e Minha Opinião era levada em conta na hora da Tomada de Decisões pelo Colegiado do CMAS de Aquiraz? ( )sim ( )não Justifique 174 3.7 Como conselheiro, analisei e aprovei o Plano Municipal de Assistência Social de Aquiraz. ( )sim ( )não 3.8 Realizei o monitoramento da Rede Socioassistencial de Aquiraz? ( )sim ( )não 3.9 Eu faço a leitura das atas das reuniões do CMAS de Aquiraz? ( ) sim ( ) não justifique 3.10 Acompanho e controlo a execução da política municipal de assistência social? ( ) sim ( ) não justifique 3.11 Considero que a minha participação interfere para a conquista de avanços na Política. ( ) sim ( ) não - justifique 3.12 Acompanho o trabalho da Atual Gestão do CMAS de Aquiraz? ( ) sim ( )não ( ) não sei. Se respondeu afirmativamente a esta questão, informe de que maneira faz este acompanhamento. 4. Sobre a gestão do conselho Municipal de assistência Social Questão 4.1 O CMAS de Aquiraz acompanha os benefícios, programas e projetos da Política Municipal de Assistência Social? ( )sim ( ) não Justificativa 175 4.2 O CMAS acompanha a gestão dos recursos destinados à programas e projetos? 4.3 O conselho inscreve e fiscaliza as entidades e as organizações de âmbito municipal? 4.4 O conselho analisa e aprova a proposta orçamentária dos recursos destinados às ações finalisticas de assistência social alocadas no Fundo Municipal ? 4.5 O conselho acompanha o plano de aplicação dos recursos do fundo municipal 4.6 O conselho exerce a orientação e controle do Fundo? 4.7 Analisa e aprova o Plano Anual de Gestão? 4.8 Realiza ações integradas com outros conselhos municipais? 4.9 Garante o debate e a participação dos usuários? Viabiliza a participação destes? 4.10 Há publicidade das ações do conselho? 176 4.11 Possui Secretária Executiva? 4.12 O conselho possui sede própria? 4.13 O conselho possui equipamento e material de consumo? 4.14 Possui carro? 177 ANEXOS