O conselho de administração ideal de uma empresa A perpetuidade da companhia deve ser o grande objetivo de seus administradores. Cabe ao conselho de administração - como representante dos acionistas - fazer com que a empresa aproveite as oportunidades e cumpra com suas obrigações junto aos seus representados, clientes, fornecedores, colaboradores e comunidades nas quais atua. Para que o conselho atue de forma eficiente e eficaz, não basta seguir o que dizem os legisladores ou os códigos de melhores práticas de governança corporativa. É preciso ir além. Neste momento, em que as empresas brasileiras realizam suas assembléias anuais de acionistas e muitas fazem eleições de integrantes para o conselho de administração, vale a pena refletir sobre os fatores que levam um conselho a desempenhar plenamente seu potencial. Podemos começar com uma breve avaliação do conselho de uma empresa. Algumas questões são: 1) Será que os conselheiros estão conscientes de suas responsabilidades e dos desafios da empresa? 2) Os conselheiros conhecem bem as variáveis-chaves do desempenho da empresa e os riscos envolvidos? 3) O conselho tem dedicado tempo considerável para discutir os objetivos de longo prazo da empresa e as estratégias para atingi-los? 4) O conselho periodicamente revisa a estrutura organizacional, o desempenho dos executivos, a política de Recursos Humanos e analisa a necessidade de eventuais mudanças para o futuro? 5) O conselho recebe no momento apropriado as informações para ter certeza que está no controle da empresa e dos executivos? 6) O conselho tem tempo e conhecimento suficientes para analisar e tomar decisões difíceis? 7) Os conselheiros têm independência para tomar decisões? Se a resposta for negativa para algumas destas perguntas, é melhor pensar em criar um novo conselho. Definir a função é o primeiro passo para se ter um conselho efetivo. As três principais funções do conselho são: monitorar, decidir e aconselhar. O conselho deve monitorar o desempenho da empresa e de seus executivos. Infelizmente, a maioria dos conselhos de empresas brasileiras gasta boa parte de suas reuniões analisando o desempenho passado, ao invés de discutir o futuro. Os assuntos que envolvem decisões importantes devem vir em primeiro lugar na agenda das reuniões. O conselho deve tomar as decisões que implicam em planos ou ações de alto impacto para a empresa. Ele também deve ter condições de aconselhar o presidente executivo (CEO), que ocupa uma posição solitária e precisa do órgão para compartilhar suas idéias e solucionar os problemas. Para definir seu papel, os conselheiros devem se perguntar: 1) o que pretendemos atingir? 2) o que é realista considerando nosso conhecimento e disponibilidade de tempo? 3) qual é a nossa proposta de criação de valor para empresa e acionistas? Quando o papel está definido, o desafio se torna o desenho e a montagem da estrutura. Neste instante, é importante se pensar sobre o tamanho ideal, o "mix" entre conselheiros internos e externos, a criação de comitês e a separação de funções entre o presidente do conselho (chairman) e o presidente executivo (CEO). A situação da empresa, a complexidade de seu setor de atuação, o estilo e a competência do conselho ajudarão a definir o grau de dedicação necessária de cada conselheiro e o número de integrantes. Enquanto a estrutura é importante e a melhor forma de iniciar a montagem de um conselho. É fundamental escolher e manter as pessoas certas. No Brasil, já passamos pela fase dos "conselhos de compadres", mas ainda temos muitos "conselhos de notáveis", com objetivos mais institucionais do que propriamente de criação de valor. No entanto, temos assistido nos últimos anos uma crescente profissionalização dos conselhos de administração, com a presença de executivos independentes que têm um envolvimento construtivo e contribuem para a realização dos resultados da empresa. O último passo é procurar tirar o máximo proveito do conselho. Para tanto, é importante: utilizar o tempo dos conselheiros mais produtivamente; fornecer informações com qualidade e no prazo adequado; encorajar o foco nas questões mais importantes; desenvolver processos que facilitem o monitoramento; e tirar maior proveito das reuniões (menos Power Point e mais discussões!). No mínimo 50% do tempo das reuniões deve ser dedicado para discussões com os principais executivos sobre as questões relevantes que afetam os negócios da empresa. O conselho de administração realmente criará valor se estiver alinhado com as melhores práticas de governança corporativa, com uma clara definição de seu papel, uma estrutura apropriada, com as pessoas certas e processos que permitam extrair o máximo de cada conselheiro. Paulo Conte Vasconcellos é conselheiro profissional e sócio da ProxyCon Assessoria e Participações E-mail [email protected] Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.