15 de maio a 15 de junho ❖ Ano 2 ❖ Nº 14 ❖ Página 37
Aquiraz, berço do Ceará quer conquistar os EUA
Situada na costa leste do litoral cearense, a 27 km de Fortaleza, a cidade de Aquiraz, cujo nome tupi significa “Água logo
adiante”, guarda em suas raízes as tradições
do colonizador europeu, bem como fortes
indícios da presença indígena, não esquecendo os marcantes traços da cultura Africana espalhados em todo município.
Aquiraz hoje conta com quase 65 mil
habitantes, espalhados numa área total de
483 km2. A então vila foi criada pela ordem
régia de 13 de fevereiro de 1699, efetivamente instalada em 27 de junho de 1713.
Tornou-se, portanto, sede administrativa
da capitania do Siará-Grande até o ano de
1726.
Conhecida como a “primeira capital do
Ceará”, Aquiraz é uma das cidades históricas mais belas do Brasil. Em seu perímetro
central, situado em torno da bucólica Praça “Cônego Araripe”, a qual tem traçado de
missão jesuítica, encontram-se as principais edificações de interesse histórico-arquitetônico do local.
Entre elas podemos citar a imponente
Igreja Matriz de São José de Ribamar , construída no século XVIII. O templo apresenta
ecletismo no estilo, predominando os traços barrocos e neoclássicos, frutos das várias modificações que passou ao longo dos
anos. Alguns detalhes, ainda originais, impressionam por sua beleza e requinte. São
eles, dentre outros; As três grandes portas
almofadadas da entrada principal, o púlpito de madeira lavrada e os painéis pintados
no forro da capela-mor, os quais provavelmente foram obras de índios catequizados.
Destaca-se no nicho central do altarmor a imagem do padroeiro São José de
Ribamar, calçado de botas, relembrando o bandeirante audaz. Segundo a lenda,
ela foi encontrada por pescadores em uma
das praias do lugar. A princípio quiseram
levá-la para um outro povoado, entretanto
nem mesmo um carro de boi conseguiu removê-la. Porém, quando surgiu a idéia de
que a Igreja de Aquiraz seria o melhor local
para o santo, este ficou leve e uma só pessoa conseguiu transportá-lo.O “São José de
Botas” continua sendo alvo de grande devoção popular.
Outro momento importante é a antiga
casa de Câmara e Cadeia iniciada no século XVIII e concluída no ano de 1877. Atualmente o prédio sedia o Museu Sacro São
José de Ribamar , fundado em 1967 sendo
considerado o primeiro Museu Sacro do
Ceará e o segundo do Norte-Nordeste. Seu
acervo compõe-se de mais de 600 peças de
caráter religioso datadas dos séculos XVII ,
XVIII e XIX, alusivas à fé do povo cearense.
O antigo sobradão tem sua arquitetura
original bastante conservada, pode-se observar as grades das antigas selas no pavimento inferior, e o assoalho reforçado com
vigas de carnaúba na parte superior onde
antes funcionava a câmara, o fórum e a prefeitura municipal. A
peça mais importante
do acervo é uma cruz
processional de prata cinzelada datada do
século XVIII, herança
dos jesuítas que estiveram em Aquiraz.
O Mercado da Carne século (séc. XIX),
outrora centro comercial da cidade, impressiona o visitante pela
particular técnica de
construção, a qual prima pelo o uso da carnaúba e do tijolo adobe. Sua parte central, conhecida como
epicentro era o local de comercialização da
carne, a harmonia geométrica da armação
do telhado deixa transparecer o caráter arrojado do estilo, suscitando o interesse dos
mais conceituados arquitetos e engenheiros. Os antigos pontos comerciais, situados
na parte externa, foram durante décadas,
o coração do comércio da cidade, fato que
perdurou até o tombamento do prédio em
1988. Atualmente encontra-se ali instalado
uma espécie de “centro
cultural”, onde funcionam várias oficinas de
artes e ofícios, além da
biblioteca pública do
município.
A Casa do CapitãoMor é um raro exemplar do casario setecentista do estado.
Conhecida também
como casa da Ouvidoria, nome do primeiro núcleo judiciário do
Ceará, o singelo edifício é feito com paredes de pau-a-pique,
reforçada com amarras de couro de boi,
uma referência material ao ciclo econômico das charqueadas, o qual predominou na
região durante o século XVIII.
A riqueza de detalhes confere ao “antigo palácio” uma atmosfera nostálgica; relembrando um passado
distante, marcado por
estórias de botijas, fugas de escravos e pela
bravura e sagacidade
do respeitado e temido “Capitão-Mor”.
Os jesuítas que permaneceram aqui 32
anos (1727-1759), fundaram no local hoje
chamado “sitio colégio” o famoso “Hospício dos Jesuítas”.
Hospício no linguajar da época significava “posto de hospedagem”, era lá aonde os
padres
missionários
vinham recuperar suas forças para depois
prosseguirem com sua missão de catequizar os aborígines nos mais longínquos confins da capitania.
Casa de Engenho
Uma das característica marcantes do
período colonial eram as Casas de Engenho. É comum encontrá-las ainda em
Aquiraz. A do aposentado Sinval Freitas, 74
anos, é uma dessas que resistem ao tempo.
Embora tenha trocado o carro de boi pela
moagem automática, com a chegada da
energia, o engenho ainda preserva a forma
artesanal de fazer rapadura e outros derivados da cana. Num forno aquecido à base
da queima do bagaço da cana, estão três
caldeirões, onde é processado o calor que
chega a 100°C. Dali ainda passa por uma
panela grande até ganhar a forma de rapadura numa forma de madeira.
A residência apostólica também abrigou o primeiro centro de ensino do estado
e seu primeiro seminário, constituindo-se
num dos únicos pólos difusores da cultura
daquele tempo. O que restou do extinto estabelecimento são apenas as ruínas da antiga capela de nossa Senhora do Bom sucesso, construída em 1753.
Há ainda quem acredite numa famosa maldição”. Segundo a lenda, quando os
jesuítas foram expulsos, eles profetizaram
que um dia o mar haveria de passar sete
metros acima das torres da igreja matriz,
espalhando o caos por toda a vila. Todos os
bens da ordem foram confiscados, porém
reza a tradição que parte dessas riquezas
permanece escondida em algum recanto
daquela velha habitação.
Os escombros das antigas Pontes Imperiais ainda podem ser contemplados nas
margens do rio Pacoti. Conta-se que elas
foram erguidas com material retirado das
fundações do antigo “hospício”, quando
este foi demolido em 1854.
A riqueza da aristocracia Portuguesa de
outrora ainda permanece a vista nas ruas
do centro de Aquiraz, onde suntuosos casarões remetem aos modelos arquitetônicos de Portugal e do sertão. Algumas influências Mouras prevalecem intactas nas
fachadas dos prédios, refletindo assim a
opulência daqueles idos, conferindo um
estilo “sui generis” ao casario de nossa cidade.
Download

Aquiraz, berço do Ceará quer conquistar os EUA