UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA BRUNA STEFFANI VARGAS AFETIVIDADE DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE FIBROSE CÍSTICA QUE REALIZA TRATAMENTO NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO EM FLORIANÓPOLIS - SC BIGUAÇU 2008 BRUNA STEFFANI VARGAS AFETIVIDADE DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE FIBROSE CÍSTICA QUE REALIZA TRATAMENTO NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO EM FLORIANÓPOLIS - SC Monografia apresentada para a realização do Trabalho de Conclusão de Curso no Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. BIGUAÇU 2008 IDENTIFICAÇÃO ÁREA DE PESQUISA Psicologia da Saúde / Psicologia Hospitalar / Psicologia do Desenvolvimento. TEMA Fibrose Cística. TÍTULO DO PROJETO Afetividade de uma criança portadora de fibrose cística que realiza tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis - SC ACADÊMICA Nome: Bruna Steffani Vargas Código de Matrícula: 051.48.73 Centro de Educação da UNIVALI – Biguaçu ORIENTADORA Nome: Luciana Martins Saraiva Categoria Profissional: Psicóloga Titulação: Doutora Curso: Psicologia Centro: CE Biguaçu Curso de Psicologia 7°semestre BRUNA STEFFANI VARGAS AFETIVIDADE DE UMA CRIANÇA PORTADORA DE FIBROSE CÍSTICA QUE REALIZA TRATAMENTO NO HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO EM FLORIANÓPOLIS - SC Este Trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os requisitos parciais para obter o grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí no Curso de Psicologia. Biguaçu, 2008 Banca Examinadora Prof.________________________________________ Doutora. Luciana Martins Saraiva – Orientadora Prof.________________________________________ Mestre. Henry Dario Cunha - Membro Prof._____________________________________ Mestre. Paulo César Nascimento – Membro. "O maior inimigo da verdade não é a mentira e sim a convicção." – Nietzsche RESUMO Crianças portadoras de fibrose cística (FC) podem vivenciar sentimentos como rejeição, estresse e isolamento decorrentes dos seus sintomas, dos efeitos colaterais do tratamento e também em razão de suas constantes hospitalizações. A relação dessas crianças com a escola, com os amigos e familiares pode ser prejudicada não pela doença em si, mas pela falta de enfrentamento positivo a ela. Utilizou-se o método qualitativo e, na análise dos dados, um estudo de caso e uma Entrevista Lúdica, para compreender os aspectos afetivos do paciente analisado, sendo o sujeito da pesquisa uma criança portadora de FC em idade escolar, sem problemas graves de cognição, tendo compatibilidade entre idade mental e cronológica. O resultado da pesquisa apresentou como aspectos emocionais da criança: medo, angústia e temor. Palavras-Chave: Fibrose Cística, psicologia, Entrevista Lúdica, estudo de caso. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 10 2.1 CONCEITO E TRATAMENTO .............................................................................. 10 2.2 IMPACTO DO DIAGNÓSTICO ............................................................................. 12 2.3 A FAMÍLIA DO PORTADOR DE FIBROSE CÍSTICA ........................................ 13 2.4 ASPECTOS AFETIVOS DA CRIANÇA DOENTE ............................................... 15 2.5 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM CRIANÇAS................................................... 16 3 METODOLOGIA...................................................................................................... 19 3.1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE ................................................... 20 3.2 ENTREVISTA COM A MÃE.................................................................................. 20 3.2.1 ANÁLISE DOS DADOS – ENTREVISTA COM A MÃE................................. 22 3.3 ENTREVISTA LÚDICA COM A CRIANÇA ........................................................ 28 3.3.1 ANÁLISE DA ENTREVISTA LÚDICA COM A CRIANÇA ............................ 31 3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO .......................................................... 35 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 37 4.1 PRINCIPAIS RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES ............................................. 37 4.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHO FUTURO ........................................... 38 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 39 APÊNDICES ................................................................................................................. 43 APÊNDICE (A).............................................................................................................. 44 APÊNDICE(B) ............................................................................................................... 45 APÊNDICE(C) ............................................................................................................... 46 8 1 INTRODUÇÃO Crianças portadoras de fibrose cística (FC) podem vivenciar sentimentos como rejeição, estresse e isolamento decorrentes dos seus sintomas, dos efeitos colaterais do tratamento e também em razão de suas constantes hospitalizações. A relação dessas crianças com a escola, com os amigos e familiares pode ser prejudicada não pela doença em si, mas pela falta de enfrentamento positivo a ela. Pesquisas sobre doenças orgânicas crônicas devem se basear na psicologia do desenvolvimento e enfocar a natureza dos problemas específicos da faixa etária, devem examinar as mudanças no desenvolvimento e mudanças funcionais que podem influenciar na melhora da doença. Quando o enfermo é uma criança, o significado da doença dependerá do que lhe foi dito, do que ela já vivenciou, bem como de sua maturidade psicológica. A doença é um acontecimento que altera as condições psicológicas e sociais da criança, fazendo assim com que se desenvolvam sentimentos de medo e angústia vindos da dor e das constantes hospitalizações, podendo afetá-la irremediavelmente, prejudicando seu desenvolvimento, sua escolarização e seus relacionamentos. Crianças portadoras de FC são diferentes fisicamente de crianças e adolescentes saudáveis da mesma faixa etária. As doenças orgânicas crônicas têm implicações nos estágios de desenvolvimento do paciente e têm o potencial de prevenir ou aumentar as dificuldades na passagem de um estágio para o outro. A extensão destas implicações dependerá da severidade, da história, do prognóstico, do grau de limitação associado e da visibilidade da doença. Desta forma, um estudo que se proponha a estudar o comportamento de crianças portadoras de fibrose cística apresenta benefícios, tanto sob o ponto de vista clínico como social, uma vez que os impactos negativos nos aspectos afetivos do sujeito influenciam na vida psicossocial, tanto da criança portadora da doença como de seus familiares. A relevância científica deste trabalho está na compreensão dos aspectos relacionados ao tratamento de 01 (uma) criança portadora de fibrose cística que realiza tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), instituição esta que, desde 2002, em parceria com o Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) de Biguaçu, vem desenvolvendo estudos científicos sobre a Fibrose Cística. 9 Os resultados desta pesquisa permitiram tecer reflexões sobre a o impacto da fibrose cística sobre os aspectos emocionais na criança portadora desta doença crônica contribuindo para minimizar as dificuldades nesse processo. Este trabalho apresenta como problema de pesquisa, a questão sobre qual o estado afetivo de 01 (uma) criança, portadora de fibrose cística que faz tratamento no Ambulatório do Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis. Teve como objetivo geral compreender o estado afetivo de 01 (uma) criança portadora de fibrose cística que faz tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis através da entrevista lúdica. Os objetivos específicos foram: Descrever como uma criança portadora de FC enfrenta o tratamento da sua doença e investigar a influência da FC nas vivências sociais (escola, família, amigos) de 01 (uma) criança portadora de FC que realiza tratamento no HIJG em Florianópolis. 10 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Este capítulo apresenta revisão bibliográfica sobre o conceito e problemática da fibrose cística, o tratamento, o impacto do diagnóstico no paciente e em sua família, o tratamento psicológico da criança portadora da doença, além do conceito de infância e informações sobre a hora do jogo. 2.1 CONCEITO E TRATAMENTO A fibrose cística (FC), que é também conhecida como mucoviscidose, é uma doença genética autossômica recessiva, sistêmica, crônica, progressiva e não contagiosa, que se manifesta em ambos os sexos e é mais comum na raça branca (ACAM, 2007). Na maior parte das vezes, o diagnóstico é realizado na infância. O médico percebe que a criança apresenta doença respiratória persistente e/ou insuficiência do pâncreas, bem como, através da existência da doença na história familiar. Existem testes especializados para chegar ao diagnóstico, são eles: teste do suor (altos níveis de sal no suor), exame de fezes e radiografia do tórax (FURTADO e LIMA, 2003). A FC causa alterações nas secreções de algumas glândulas do organismo, fazendo com que as secreções fiquem espessas e viscosas. Existe uma deformidade na produção das secreções o que faz com que o bom funcionamento dos órgãos afetados (pulmão, pâncreas e intestino) seja prejudicado (ACAM, 2007). Segundo Furtado e Lima (2003): A fibrose cística é uma doença genética caracterizada pelo aumento na produção de muco que, depositado em alguns órgãos, causa: doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência pancreática e nível elevado de eletrólitos no suor. O muco acaba obstruindo vários caminhos que existem no corpo humano, impedindo ou atrapalhando a passagem de substancias que são importantes no crescimento e no funcionamento de algumas partes de nosso organismo. Ele prejudica o sistema digestivo já que o aumento na viscosidade do muco pode levar à obstrução dos canais do pâncreas, dificultando a absorção dos nutrientes pelo intestino. No trato respiratório, esse muco espesso pode se acumular nas vias aéreas, dificultando a 11 passagem do ar e levando à retenção de bactérias. A conseqüência desse processo é uma tosse natural, que visa remover o muco do caminho por onde o ar deve passar. Essa tentativa de remover o muco acaba provocando uma tosse muito forte. Caso o muco esteja contaminado por bactérias, torna-se muito mais pegajoso e espesso, havendo a necessidade do uso de remédios específicos para desprendê-lo dos pulmões. A FC também costuma provocar quadros clínicos de diarréia crônica, desnutrição, má absorção dos nutrientes, gordura nas fezes e dificuldade de ganhar peso (ACAM, 2007). Dentre as conseqüências da FC pode-se dizer que a insuficiência pancreática e a deterioração progressiva da função pulmonar são as mais graves (BREDEMEIER e GOMES, 2007). Os sintomas respiratórios mais freqüentes são: tosse, expectoração excessiva de muco, respiração difícil e chiado no peito (FURTADO e LIMA, 2003). A FC apresenta sintomas variados e é de progressão variada. O tratamento é complexo, consome tempo e tem que ser realizado diariamente. Com os avanços ocorridos nas ultimas décadas, no tratamento da FC, houve um aumento da sobrevida dos pacientes até a idade adulta, gerando também maiores esforços para propiciar o melhor bem estar possível ao paciente (BREDEMEIER e GOMES, 2007). Para alcançar uma sobrevida, o diagnóstico da FC deve ser o mais precoce possível e o tratamento deve ser conduzido por profissionais capacitados (REIS e ROZOV, 1995). O diagnóstico e tratamento da doença têm como objetivo principal melhorar a qualidade de vida destes pacientes, dar suporte médico e promover a educação dos pacientes e suas famílias (REIS e DAMASCENO, 1998). O tratamento é voltado para solucionar os sintomas causados pela doença, nele são utilizadas enzimas pancreáticas e modificação da dieta para auxiliar a digestão dos alimentos. São utilizados antibióticos para as infecções respiratórias; broncodilatadores para diminuir a falta de ar e mucolitos que auxiliam na retirada do muco excessivo para fora dos pulmões. A fisioterapia respiratória e a drenagem postural também são importantes, pois facilitam a saída do excesso de muco das vias respiratórias (BENTLEY, 1999). 12 2.2 IMPACTO DO DIAGNÓSTICO Um diagnóstico de FC, geralmente ocasiona muita insegurança e ansiedade por parte dos pais e familiares. O sofrimento maior ocorre a partir do momento em que a criança começa a apresentar os sintomas e os pais começam a perceber concretamente o que é a doença. Muitas crianças portadoras de fibrose cística reagem satisfatoriamente no seu relacionamento com a doença, desenvolvimento físico e emocional. Porém, esta reação positiva depende muito de como seus pais e familiares lidam emocionalmente com o diagnóstico e se adaptam ao tratamento. As mães de crianças com FC tendem a sofrer um grande nível de estresse ao receber o diagnóstico, dificultando assim a adaptação da criança à sua condição (DUFF, 2001). O impacto inicial do diagnóstico gera nos pais ansiedade e medo. Muitas vezes os pais acabam expressando a incredulidade com relação ao diagnóstico. As reações iniciais apresentadas pela família (choque, incredulidade, confusão, medo, raiva, conflito, tensão) apresentam duração variável e uma negação prolongada tem reflexo em toda a família, impedindo uma adaptação bem sucedida (FURTADO e LIMA, 2003). A aceitação da doença vem com o conhecimento que se obtém a seu respeito, ou seja, na medida em que o conhecimento aumenta, a aceitação também começa a ser maior. A segurança em relação ao problema vem quando a família aprende a lidar com a doença, o que traz resultados visíveis. A existência de uma doença crônica afeta toda a família e traz consigo ocasiões difíceis, com avanços e retrocessos nas relações entre seus membros (FURTADO e LIMA, 2003). Ao abordar uma doença crônica, é inviável considerar somente os aspectos que influenciam diretamente a pessoa doente. A doença faz parte do contexto familiar e, assim, modifica as relações de todos os seus membros (OLIVEIRA, 2000). É uma responsabilidade muito grande ter um filho com FC, pois as possibilidades de complicações graves causam nos pais tensão e depressão que podem ser constantes. É importante que haja um suporte adequado entre os membros da família, não apenas no momento do diagnóstico, mas também posteriormente, quando este não causa mais medos e ansiedades, evitando conflitos familiares que possam vir a prejudicar o empenho do filho enfermo em aderir ao tratamento da melhor forma possível. No entanto, para que isso ocorra é necessário que os pais saibam realmente o que é a doença, bem como seu tratamento e as conseqüências deste (BENTLEY, 1999). 13 Nas mães a dedicação total e constante leva a um sentimento de anulação quanto aos próprios interesses pessoais. Acabam acontecendo varias separações entre casais devido às constantes hospitalizações do filho doente que acabam por tornar a vida do casal complicada. Os outros filhos acabam sendo deixados de lado. As mães tomam os problemas do filho doente para si como forma de evitar sofrimento da criança (OLIVEIRA e GOMES, 2000). Geralmente, as crianças reagem satisfatoriamente em seu relacionamento com a doença, mas essa relação pode ser influenciada pela forma como a família enfrenta a situação como, por exemplo, a adesão ao tratamento. Muitas vezes, a criança adere ao tratamento, mas a família não, contribuindo para o avanço da doença (DUFF, 2001). 2.3 A FAMÍLIA DO PORTADOR DE FIBROSE CÍSTICA Até pouco tempo, as famílias eram afastadas das crianças, e estas eram internadas e ficavam em verdadeiras situações de isolamento, pois acreditavam que, assim, evitava-se a disseminação das infecções. As visitas tinham que ser programadas e os pais na maioria das vezes não podiam entrar no local onde o filho estava internado. Com o surgimento da lei nº 8069, em 1990, que regulamenta o Estatuto da Criança e do Adolescente, as crianças passaram a ter o direito do acompanhamento do pai ou responsável durante as internações (FURTADO e LIMA, 2003). Segundo Furtado e Lima (2003): Os cuidados do paciente com fibrose cística exigem dos pais e, principalmente do responsável pelo cuidado (caso representado geralmente pela mãe), um tempo maior do que aquele dispensado às outras atividades no âmbito familiar. Essa dedicação mostra-se como uma dificuldade pelo fato de a mãe ter, além desses cuidados, outras obrigações. É a família quem faz a primeira inserção da criança no mundo social objetivo, oferecendo-lhe o aprendizado de elementos culturais, tais como, linguagem, hábitos, usos, costumes, valores, normas, padrões comportamentais, e promove a formação das estruturas básicas da personalidade e da identidade (PIZZIGNACO E LIMA, 2006). Segundo a página na Internet da ACAM, a FC assim como qualquer outra enfermidade séria, pode acarretar problemas sociais e emocionais, e estes fatores podem interferir desfavoravelmente no tratamento. São eles: 14 • As crianças têm temor do hospital, medo que sua doença piore ou que tenham complicações. • Tendem a ser mais frágeis que crianças que não possuem a doença. Com isso acabam por não poder acompanhar as atividades com a mesma intensidade que seus amigos de classe e acabam se sentindo diferentes dos demais. • Na adolescência o sujeito tende a querer ser mais independente, podendo ocasionar uma reação aos cuidados que os pais querem oferecer, comprometendo o tratamento. • Adolescentes têm medo do que o futuro lhes reserva. Atualmente as famílias estão sendo incentivadas a participar no cuidado do paciente, por ter um papel importante no processo saúde/doença/cuidar. Conhecer a família, a relação entre seus membros, seu cotidiano e como reestruturam a vida familiar em relação à condição crônica de seu filho é fundamental. A existência de uma doença crônica afeta toda a família e pode provocar momentos difíceis entre seus membros, retira sua privacidade, consome tempo e energia, pode acarretar em isolamento social e emocional. Porém, a família que tem conhecimento sobre a doença, o tratamento e os recursos disponíveis pode ter seus níveis de estresse e ansiedade mais baixos. A FC atinge vários sistemas, por isso ela tem necessidade de um cuidado complexo e contínuo para uma condição estável do paciente. Para a assistência desejada, é preciso atenção integral e o conhecimento da doença pelo cuidador. A família pode ser afetada nesse processo, social, emocional e financeiramente. (FURTADO e LIMA, 2003). Segundo Pizzignacco e Lima (2006): A relação desses pacientes com a escola, com o trabalho, amigos e a família é prejudicada não pela doença em si, mas pela falta de estratégias de enfrentamento positivas. O conhecimento equivocado da Fibrose Cística desencadeia estratégias de enfrentamento não positivas, que fazem com que haja o afastamento dos colegas, aumento dos problemas familiares e dificuldades em freqüentar os ambientes de maior socialização, como a escola e o trabalho. É fundamental a estabelecer hábitos alimentares saudáveis e disciplinados e a família tem papel importante em ajudar o paciente nessa tarefa. (ACAM, 2007). 15 A relação dos pacientes com a escola, amigos e familiares pode ser prejudicada não pela doença em si, mas pela falta de enfrentamento positivo a ela. No caso da criança, o conhecimento equivocado sobre a doença pode desencadear estratégias de enfrentamento não positivas, e fazer com que esta se afaste de seus colegas, aumente os problemas familiares e dificuldades em enfrentar locais de maior socialização (PIZZIGNACO e LIMA, 2006). 2.4 ASPECTOS AFETIVOS DA CRIANÇA DOENTE Laplanche (1998) define afeto como: Termo que a psicanálise foi buscar na terminologia psicológica alemã e que exprime qualquer estado afetivo, penoso ou desagradável, vago ou qualificado, quer se apresente sob a forma de uma descarga maciça, quer como tonalidade geral. Segundo Freud, toda pulsão se exprime nos registros, do afeto e da representação. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações. Desde muito cedo a criança é capaz de sentir e expressar seu temor à morte, na maioria das vezes através da linguagem não-verbal. A criança percebe fatos que os adultos lhe tentam esconder, inclusive em situações de doença. Freqüentemente os adultos não entendem estes sinais da criança e, ainda, têm dificuldades em aceitar sua condição (WERLANG, 2000). As ações de experiência e vivência de crianças e jovens são desvalorizadas se comparadas com aquelas atribuídas aos adultos. O tratamento concedido à experiência da infância pela sociedade adulta pode ser caracterizado como paradoxal, já que ao mesmo tempo em que acaricia os primeiros estágios da infância, renega o tratamento infantilizado nos estágios posteriores (ALMEIDA, 2006). A doença crônica expõe a criança e seus familiares a situações estressantes, que se somam à possibilidade de internação. A criança com doença crônica que necessita de visitas regulares ao hospital, pode encontrar dificuldades e obstáculos na sua vida social e familiar. Precisa se adaptar a novos horários, confiar em pessoas desconhecidas, receber injeções e outros tipos de medicação, permanecer em um quarto, ser privada de atividades de brincar - situações estas que não faziam parte da vida da criança e que caracterizam uma hospitalização (MOTTA e ENUMO. 2004). Toda criança sob estresse físico, psicológico e social é propensa sofrer distorções perceptivas, intelectuais e emocionais, devido à imaturidade de sua 16 capacidade cognitiva e à regressão emocional que apresenta nestas situações (CASSEM, 1985). A interação entre crianças e adultos se institui de acordo com as condições objetivas da cultura na qual eles estão inseridos. Assim, mudanças socioculturais tendem a promover modificações nas formas pelas quais a infância e a adolescência são percebidas na sociedade (SALLES, 2005). 2.5 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM CRIANÇAS Os mecanismos analisáveis através do jogo infantil são comparáveis aos mecanismos observáveis em sonhos. Os brinquedos são vistos como meio para alcançar o inconsciente infantil. (DUARTE, 1989). Através do brinquedo a criança, além de realizar seus desejos, domina também a realidade, devido ao processo de projeção dos perigos internos sobre o mundo externo. O brinquedo se torna um meio de comunicação, é a ligação entre o mundo externo e interno, entre a realidade objetiva e a fantasia. Freud estabeleceu marcos referenciais da técnica do jogo, mostrando que o brincar pode não ser apenas um passatempo para viver situações prazerosas, mas também uma maneira de elaborar situações traumáticas. Melanie Klein colocou o brinquedo num lugar de destaque na luta contra a angústia mobilizada pelas pulsões sexuais. Ao brincar a criança domina realidades dolorosas e controla seus medos, projetando-os nos brinquedos. Esse mecanismo é possível porque a criança, desde nova, tem a capacidade de simbolizar. Para Melanie Klein, a brincadeira é a linguagem típica da criança, pode-se comparar a linguagem lúdica infantil com as associações livres e os sonhos nos adultos. Sabe-se que a neurose de transferência desenvolve-se da mesma maneira, não sendo as figuras parentais atuais, mas as internalizadas, que são projetadas no analista, que tem como principal função interpretar todo o material associativo que a criança traz (WERLANG In:CUNHA, 2000). O brincar faz com que seja possível formar uma idéia sobre a organização do ego da criança, sobre os tipos de mecanismos defensivos e sobre sua flexibilidade (LEBOVICI e DIATKINE, 1986). 17 A brincadeira é o momento em que a criança consegue diluir-se no espaço, no lugar e no tempo, para dar lugar ao objeto manipulado e aos papéis que representa nas diversas vezes que brinca (ALMEIDA, 2006). É importante primeiro entrevistar os pais, para obter o maior número de informações sobre o problema e sobre a criança. O primeiro contato com a criança, pode ser feito através da entrevista lúdica que, por ser uma técnica muito rica, permite analisar e compreender a natureza do pensamento infantil, pois a criança não só estabelece transferência com o terapeuta, mas também é capaz de estruturar através dos brinquedos seus conflitos, suas defesas e fantasias de doença e cura, deixando em evidência o seu funcionamento mental. Para que a entrevista lúdica ocorra, é importante oferecer à criança a oportunidade de brincar com todo o material lúdico disponível na sala, esclarecendo sobre o espaço que poderá ser utilizado, sobre o tempo disponível, sobre o papel dela e do psicólogo e também sobre o motivo desta atividade. As crianças, em geral, brincam de acordo com suas possibilidades maturativas, emocionais, cognitivas e de socialização e é pela ação que elas exprimem suas possibilidades, descobrindo a si mesmas e revelando-as aos outros. O psicólogo deve estimular a interação, conduzindo a situação para que a criança possa deixar transparecer a compreensão do momento, respeitando e acolhendo a criança, para que ela se sinta segura e aceita. O psicólogo é passivo, pois tem a função de observador, porém também é ativo já que em sua atitude é atenta na compreensão e formulação de hipóteses sobre o conteúdo que é trazido à tona, assim como na ação de perguntar sobre algum assunto que necessita ser esclarecido e que foi trazido à brincadeira. Os objetos da caixa devem representar objetos comuns do mundo real da criança como: lápis, famílias, bonecos, carros, casas, etc. É importante que o psicólogo que aplica a hora do jogo tenha conhecimentos de psicologia evolutiva além de conhecimentos básicos de fisiologia, neurologia e psicomotricidade que possibilitem a ele identificar as pautas motoras da criança para adequar em qual etapa evolutiva ela se encontra. Não existe um roteiro padronizado para a análise deste método avaliativo, porém propõem-se oito indicadores para orientar a análise: 1) Escolha dos brinquedos: está relacionada com o momento evolutivo e intelectual da criança. Cada uma das condutas lúdicas deve ser ligada com as fases de evolução da libido (oral, anal, fálica e genital) para proporcionar maior compreensão sobre o funcionamento infantil. 2) Modalidade do brinquedo. Entre as modalidades as 18 principais são: plasticidade, rigidez, estereotipia e perseveração. 3) Motricidade: integração do esquema corporal. Possibilita à criança o domínio dos objetos do mundo externo. 4) Personificação: capacidade que a criança tem de assumir e desempenhar papéis na brincadeira. 5) Criatividade: manipulação do ambiente do qual resultam novas idéias, formas e relações. 6) Capacidade simbólica: utilização de vários elementos para se expressar pelo brinquedo. 7) Tolerância à frustração e 8) Adequação à realidade: as duas tem a ver com a relação de aceitação ou não das instruções e enquadramentos da hora do jogo (WERLANG, 2000). A partir dos conceitos estudados neste capitulo este projeto se propôs estudar o estado afetivo de 01(uma) criança portadora de FC através de uma avaliação psicológica que utilizou como instrumento a Entrevista Lúdica e a entrevista com a mãe do paciente. 19 3 METODOLOGIA Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o estado afetivo de 01(uma)criança portadora de fibrose cística que realiza tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão. O sujeito de pesquisa foi uma criança de 12 anos de idade com condições intelectuais preservadas. A escolha desta criança ocorreu por sugestão da psicóloga do local. Participou também a mãe na entrevista com o responsável, para que pudesse informar dados sobre a história de vida da criança. A análise foi realizada através da metodologia de Estudo de Caso, que é uma das modalidades de pesquisa qualitativa, que segundo Gil (1996) pode abranger vários procedimentos e os mais comuns são a observação, a análise de documentos, as entrevistas, relatos e história de vida. A coleta de dados foi realizada com a criança e sua mãe, em uma sexta-feira. no período da manhã. A mãe e a criança foram informadas sobre os objetivos do trabalho e apenas após concordarem é que foram coletados os dados. Para coletar os dados foi utilizada a Entrevista Lúdica com a criança e a entrevista semi-estruturada com a mãe. Segundo Safra (1984) é oferecido um enquadramento composto por um espaço, um tempo e uma relação que a criança estrutura segundo sua dinâmica interna, articulando com os brinquedos um texto flexível e que pode ser compreendido. Ao brincar a criança trará à tona seus conflitos, desejos, experiências e fantasias, que deverão ser analisados. É importante salientar que, no momento da coleta de dados, a professora supervisora da pesquisadora esteve presente no local, caso a criança ou o responsável necessitassem de algum atendimento e/ou encaminhamento. Além desses instrumentos, participou-se de uma reunião multidisciplinar com a equipe de saúde para obter os dados sobre a saúde do paciente. O projeto foi encaminhado para o Comitê de Ética da UNIVALI e do Hospital Infantil Joana de Gusmão, posteriormente foram feitas as reformulações necessárias e somente após os pareceres finais foi possível dar início à pesquisa de campo, a qual correspondia à entrevista com a mãe e à entrevista lúdica. 20 3.1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE Nome: Carlos (nome fictício) Idade: 12 anos Escolaridade: Cursando a 5ª série do ensino fundamental. DATA: 11/04/2008 3.2 ENTREVISTA COM A MÃE Segundo o relato da mãe, Carlos foi diagnosticado com FC tardiamente em 2004 quando tinha 8 anos de idade. Ele estava muito mal, apresentava muita tosse e diarréia constante e não ganhava peso. Atualmente está bem e com a doença controlada. Toma os remédios todos os dias antes das refeições e todas as vitaminas receitadas pelos médicos. Segue muito bem o tratamento. Porém, a mãe conta que Carlos não se alimenta na escola. Com a descoberta da doença do filho, a família, ficou em estado de choque. Acreditavam que Carlos não voltaria vivo de Florianópolis. Na época a mãe relata que entregou a cartilha que recebeu da ACAM sobre a FC para Carlos, deixou que ele lesse e depois perguntou se ele tinha alguma dúvida, mas ele simplesmente não quis tocar no assunto. Ele se comporta da mesma forma que outra criança da idade dele, porém não gosta de falar sobre nada que envolva a doença. Na escola não comenta sobre a doença com os colegas, mesmo quando se ausenta para as internações hospitalares, por períodos de 15 dias, em Florianópolis. Na escola, é aprovado devido aos atestados e à compreensão de seus professores, que acabam relevando as notas baixas e as faltas. Carlos fica ansioso e triste nos dias que antecedem sua vinda a Florianópolis para as consultas no HIJG. É a mãe que sempre fica com Carlos no hospital, por achar que o pai não entende nada sobre a doença. Os pais são casados há 13 anos. A mãe tem três filhos de um primeiro casamento, totalizando quatro com Carlos, filho do segundo casamento. Dos quatro, apenas Carlos mora com ela, os outros são casados. O marido tem outro filho, de treze anos, do primeiro casamento, que se relaciona muito bem com Carlos (estudam e brincam juntos). A mãe trabalha numa plantação de maçãs e cebolas, porém seu trabalho é sazonal. O pai trabalha como Pastor em uma igreja evangélica à noite, e durante o dia fica em casa, sendo o “responsável” pelas crianças. Ao sair para trabalhar, a mãe deixa 21 as panelas com a comida no fogão e quando volta para casa, as panelas estão intactas, ou seja, o pai não consegue fazer Carlos comer adequadamente. Ela não confia no pai para cuidar das crianças, porém tem que trabalhar fora para ajudar nas despesas da casa, pois o salário do pai de Carlos depende da doação dos fiéis da igreja e os valores mudam de acordo com a freqüência destes. Não sabe se poderá ficar no hospital com Carlos, caso ele seja internado, porque está trabalhado e a colheita está chegando ao fim. Conversou com o patrão, explicandolhe a situação, mas mesmo assim não foi liberada para passar 15 dias em Florianópolis, por isso pedirá ao médico para que não interne Carlos desta vez. 22 3.2.1 ANÁLISE DOS DADOS – ENTREVISTA COM A MÃE Quando Carlos tinha oito anos de idade foi hospitalizado, segundo a mãe, “por apresentar vômitos e muita perda de peso”. Ela não conseguiu relatar sobre o momento do diagnóstico, e sobre quais informações foram repassadas pela equipe para ela e o filho. Apesar de a mãe comentar que todos estão cientes sobre a doença, quando questionada não soube explicar o que sabia sobre o assunto e de acordo com os dados obtidos com a equipe médica o pai tinha ainda menos informações sobre a doença. O que confirma a fala da mãe, quando diz que não confia no pai para que traga Carlos para Florianópolis, pois este, “não entende nada sobre FC”. Diz que seu filho sabe tudo sobre a doença, mas fica a dúvida de como Carlos pôde obter tais informações já que os pais não conversam com o filho, não entendem a doença para que possam passar as informações a Carlos, e segundo a mãe, nem o filho e nem os pais, gostam de falar sobre o assunto. Agindo como se Carlos estivesse saudável, mesmo quando a equipe médica não concorda com esta afirmação. A mãe conta que, na época da descoberta, ela e o marido entregaram uma cartilha que foi oferecida pela ACAM e que deram para que Carlos lesse. Porém, após entregar o material os pais não conversaram com o filho para explicar suas dúvidas e verificar se ele havia entendido. Ela ainda comenta que “Carlos não gosta de falar mais nada sobre a doença desde então”. Aparentemente. há uma falha na comunicação entre os pais e Carlos no que se refere à doença, a mãe parece despreocupada e acreditar que a fase ruim já passou. A comunicação é uma condição fundamental à adesão ao tratamento, porém a qualidade da comunicação dependerá da qualidade do desenvolvimento psicosocial do jovem. É importante ressaltar que comunicação não é sinônimo de informação, a informação requer um contexto em que o sujeito necessita aceitá-la e cumpri-la. A comunicação, por sua vez, permite ao doente utilizar a sua própria experiência para fazer julgamentos a respeito da informação, e só então escolher o que faz sentido para ele, em cada situação. Toda comunicação, portanto, necessita de uma informação, mas não basta uma informação para haver uma comunicação (OLIVEIRA, 2000). A FC é uma doença que exige adesão ao tratamento. Quando a família possui um bom entendimento sobre a doença e possui estratégias eficientes de enfrentamento, a 23 probabilidade de adesão ao tratamento aumenta. Estudos indicam que o conhecimento é um componente importante na administração da doença, mas apenas o conhecimento não é suficiente para produzir mudanças no comportamento, porém essa é uma etapa necessária no processo de mudança. (SARAIVA e OLIVEIRA, In NETO LUDWIG,2008). Desde o início dos sintomas até a definição do diagnóstico e tratamento, as crianças e suas famílias vivenciam uma fase de crise, caracterizada como um período de desestruturação e incertezas, precisando aprender lidar com os sintomas, procedimentos diagnósticos e terapêuticos, para assim, reorganizarem suas vidas (VIEIRA e LIMA, 2002). A família tem papel importante no processo saúde/doença/cuidar. A existência de uma doença crônica afeta toda a família, o cuidado à criança com doença crônica consome da família tempo e energia, tira sua privacidade, pode provocar isolamento social e emocional. Porém, se a família tem conhecimento sobre a doença, o tratamento e os recursos disponíveis, seus níveis de estresse e ansiedade podem diminuir significativamente (FURTADO e LIMA, 2003). Pela fala da mãe, não se conseguiu perceber nenhuma mudança de comportamento para o tratamento do paciente. Ela deixa claro que seu filho não come direito, que ao chegar em casa ao final do dia as panelas estão exatamente como ela havia deixado. A mãe comenta que não confia no pai para que venha a Florianópolis com Carlos porque, segundo ela, “Ele não entende nada sobre FC”. Porém esta mãe, quando questionada sobre a doença e o tratamento, pouca coisa soube informar. O pai, que fica em casa com o filho, não tem comprometimento nem com a alimentação, muito menos com o tratamento (do qual não sabe explicar nada). Pelo fato de que essa doença atine vários sistemas, é necessário um cuidado complexo e contínuo para a promoção de uma condição estável do paciente. A atenção em tempo integral faz com que os responsáveis pelo cuidado necessitem conhecer a doença para possibilitar a assistência desejada, No entanto, apenas o saber clínico é insuficiente. É importante conhecer como e quanto a família foi afetada em todos os seus aspectos (sociais, emocionais e financeiros). A família convive, desde a fase diagnóstica, com alterações em suas rotinas, voltando sua atenção para o filho doente. Deve haver um plano de cuidados que deve ser flexível, de modo que as atividades 24 familiares sejam interrompidas com a menor freqüência possível (FURTADO e LIMA, 2003). Não é possível perceber um cuidado especial com Carlos, que seria o necessário a pacientes portadores de doenças crônicas, nem atenção em tempo integral. Também é imperceptível mudança na rotina da família (excetuando as vindas a Florianópolis, a cada três meses). Segundo Furtado e Lima (2003) após receberem a notícia do diagnóstico, os pais vêem suas vidas envolvidas pela doença e o mesmo ocorre com toda a família e esse envolvimento reflete uma necessidade especial, alterando o ritmo familiar. Percebe-se que o cuidado centraliza-se mais na figura materna, pois ela aprende a cuidar e preocupa-se em executar corretamente este cuidado. Pela convivência diária com a doença, aumenta seu conhecimento sobre a situação do filho, tendo uma visão mais apurada com relação aos aspectos clínico e emocional apresentados pela criança, assim como passa a conhecer suas reações e necessidades. No que concerne à relação dos pais com seu filho portador de doença crônica é comum que esses pais apresentem dificuldades em lidar com o filho. Tais complicações podem ser expressas através de comportamentos de extrema preocupação, de irresponsividade às reais necessidades da criança, de estilos interativos, ansioso e defensivo ou, ainda, de negligência, quando os pais procuram evitar o envolvimento com a criança por medo de que ela possa vir a morrer precocemente (SABBETH, 1984). A adesão ao tratamento é bastante difícil, exige um longo tempo, uma dieta balanceada, caracterizada pela ingestão de alimentos saudáveis (SARAIVA e OLIVEIRA, In NETO LUDWIG ,2008). Segundo Barbosa in Neto (2008) o estado nutricional do indivíduo portador de FC influencia no curso da doença e também na qualidade de vida. Uma das maiores dificuldades no desafio do tratamento é a desnutrição, que pode estar relacionada com a progressão da doença e ter vários fatores como a deterioração da função pulmonar, anorexia, vômitos, insuficiência pancreática, complicações biliares e intestinais, que são responsáveis pelo aumento das necessidades energéticas e que, quando associadas à ingestão alimentar reduzida, podem levar à perda da massa magra e à depressão da função imunológica, podendo levar a um balanço energético negativo e desencadear a desnutrição. 25 A doença significa a perda da homeostase, levando o indivíduo a buscar um novo equilíbrio. O adoecimento gera crises e momentos de desestruturação para o paciente e também sua família, pois é o primeiro grupo de relações em que o indivíduo está inserido. Na maioria das vezes, são os familiares as pessoas mais próximas das vivências do paciente. A família de Carlos sugere não ter energia suficiente para cuidar dele, não cumprindo um papel fundamental no tratamento de portadores de doenças crônicas. Muitas mudanças ocorrem na vida do doente, levando-o a se deparar com limitações, frustrações e perdas. Estas mudanças serão definidas pelo tipo de doença, maneira que se manifesta e como segue o seu curso, além do significado que o paciente e família atribuem ao evento. Segundo o relato da equipe médica que cuida de Carlos, ele apresenta baixo peso e desnutrição, informação que confirma que a fala da mãe entrevistada é verdadeira, Carlos não está se alimentando como deveria. Porém, esta não percebe o quanto esta alimentação inadequada está afetando o estado de Carlos e poderá afetar ainda mais, como descreve Barbosa in Neto Ludwig (2008): O quadro policarencial pode manifestar-se de diferentes formas tais como: a parada de crescimento, emagrecimento acentuado, deficiências nutricionais especificas, puberdade retardada e um acentuado comprometimento da função pulmonar. A falta de uma alimentação adequada já está afetando Carlos e no futuro poderá acarretar problemas ainda mais graves, como o comprometimento da função pulmonar. Segundo Castro e Piccinini (2002): O papel da família no bem-estar da criança que sofre de doença crônica tem sido estudado por diversos autores (Berenbaum & Hatcher, 1992; Góngora, 1998; Kazak, Reber & Carter, 1988; Krahn, 1993; Silver, Westbrook & Stein, 1998; Walker & Zeman, 1992). A doença crônica pode ser vista como um estressor que afeta o desenvolvimento normal da criança e também atinge as relações sociais dentro do sistema familiar. A rotina da família muda com constantes visitas ao médico, medicações e hospitalizações (Hamlett & cols., 1992) e acaba atingindo todas as pessoas convivendo com a criança (Bradford, 1997; Góngora, 1998). A família passou por uma fase em que acreditava que Carlos não voltaria vivo de Florianópolis, porém não demonstra ter reorganizado sua vida em torno do tratamento dele. Supostamente, deveriam ter alterado sua rotina em torno da doença do garoto e de seu tratamento, o que não aconteceu. Continuaram agindo como se nada 26 houvesse acontecido, de certa forma negando a doença dele e acreditando que está tudo bem. Mesmo que os exames médicos não estejam confirmando isso atualmente, a mãe insiste que seu filho está bem e que é uma criança “normal”. Os problemas vivenciados pelas crianças portadoras de FC nas escolas estão diretamente relacionados aos efeitos colaterais do tratamento, sintomas da doença e sentimentos como rejeição, estresse e isolamento por vergonha dos colegas. Durante os períodos de crise da doença, devido às constantes internações, as crianças e os adolescentes portadores de FC, faltam à escola e muitas vezes são reprovados em conseqüência disto, o que desestimula a estudar. A doença é um acontecimento que altera as condições psicológicas e sociais da criança, desenvolvendo sentimentos de medo, angústia, oriundos da dor e dos procedimentos da hospitalização, podendo afetála irremediavelmente. (CREPALDI, 1999). Carlos não come na escola, possivelmente por não se sentir a vontade em ter que tomar comprimidos na frente de seus colegas de sala. Na entrevista Carlos diz que não comenta sobre a doença com seus colegas, nem quando se ausenta por vários dias para realizar o tratamento em Florianópolis. Apesar de Carlos comentar que gosta de estudar, a mãe diz que Carlos é aprovado na escola pelo fato de apresentar atestados médicos e também porque seus professores são compreensivos, devido à doença, e acabam relevando as baixas notas e faltas. Os problemas vivenciados pelas crianças e adolescentes portadores de FC nas escolas estão diretamente relacionados aos efeitos colaterais do tratamento, sinais e sintomas da doença e a sentimentos, como rejeição, estresse e isolamento por vergonha dos colegas. Durante os períodos de crise da doença, devido às constantes internações, as crianças e os adolescentes portadores de FC, faltam à escola e muitas vezes são reprovados em conseqüência das faltas, o que desestimula a estudar (CREPALDI, 1999). A fala da mãe mostra, também, dificuldade em administrar cuidados, comprometimento e a preocupação que a família tem com a doença e com o tratamento do filho. Comenta que o pai é quem fica com Carlos durante o dia, porém deixa claro que este também não contribui para o tratamento da doença. Carlos acaba ficando responsável por seu próprio tratamento. 27 Questiona-se o nível de compreensão por parte da família, sobre o diagnóstico e cuidados necessários e a comunicação entre a equipe médica e a família. E como está o esclarecimento da família sobre a situação de Carlos. Segundo o site da ACAM (2008) é importante ter “sempre em mente que o sucesso do tratamento dependerá do envolvimento de todos, principalmente daqueles familiares mais próximos”. O que podemos perceber que não ocorre nesta família, já que aparentemente o único envolvido no tratamento é o próprio paciente. Segundo FURTADO; LIMA (2003): A existência de uma doença crônica afeta toda a família e gera momentos difíceis com avanços e retrocessos nas relações entre seus membros . O cuidado à criança com doença crônica consome da família energia e tempo e retira sua privacidade; pode também provocar isolamento social e emocional. Em contrapartida, se a família tem conhecimento sobre a doença, o tratamento e os recursos disponíveis, seus níveis de estresse e ansiedade podem diminuir significativamente. Pela entrevista com a mãe não pode ser percebido que a criança recebe os cuidados necessários e muito menos que a criança tem todas as informações sobre a doença, o que diminuiria o nível de ansiedade da família e do paciente. Ele passa o dia todo com o pai, porém este não se preocupa com a alimentação do filho e não tem conhecimento sobre o tratamento da doença do mesmo. Em doenças crônicas, os membros das famílias são considerados uma influência importante no tratamento e desenvolvimento do doente. A mãe de Carlos afirma que não tem tempo para ficar com ele, devido ao seu trabalho. Segundo Crepaldi e Cerqueira (2002) os cuidados dos pacientes portadores de FC exigem dos pais e, principalmente, do responsável pelo cuidado (caso representado geralmente pela mãe), um tempo maior do que aquele dispensado às outras atividades no âmbito familiar. Esta dedicação mostra-se como uma dificuldade pelo fato de a mãe ter, além desses cuidados, outras obrigações. 28 3.3 ENTREVISTA LÚDICA COM A CRIANÇA Convidei Carlos para entrar na sala. Expliquei para ele que iríamos ter alguns minutos para brincar, que sua mãe esperaria na sala ao lado e que a qualquer momento ele poderia ir embora se assim fosse sua vontade. Carlos entrou acanhado na sala, com o olhar ao chão. Na sala havia a caixa de brinquedos que era composta de uma família (pai, mãe, avô, avó, filho, filha e cachorro), celular, mordedor de bebê, instrumentos médicos, cubo mágico, arma, animais diversos, boneca e louças. Mostrei então a caixa e o convidei a brincar. Informei que ele poderia retirar os brinquedos da caixa, se quisesse. Carlos sentou-se na frente da caixa e ficou paralisado, olhando para baixo e sem dizer uma palavra sequer. Após cerca de 20 minutos de silêncio, Carlos pegou um mordedor de bebê colorido em suas mãos. Era o brinquedo que estava mais no topo da caixa e exatamente na frente de seus olhos. Carlos nem se deu ao trabalho de olhar os brinquedos ou mexer neles, simplesmente pegou o que estava ao mais fácil alcance. Olhava e mexia no brinquedo quando então começou a falar. Legenda: E/P: entrevistador/pesquisador C: Carlos C: - Meu sobrinho tem um igual a este. E/P: - Com esta idade você já tem sobrinho? C: - Sim, tenho vários. E eu gosto muito deles. E/P: - Você se dá bem com seus sobrinhos? Fez sinal com a cabeça que sim. E/P: - E com seus irmãos? C: - Também. Mas me dou melhor com o que mora comigo, nós estudamos juntos também. E/P: - E você gosta de estudar? C: - Sim. E/P: - E gosta de ir à escola? C: - Sim, gosto sim. Tenho vários amigos lá. E/P: - Seus amigos não sentem a sua falta quando você vem para Florianópolis? C: - Sentem. 29 E/P: - E eles sabem que você vem fazer tratamento? C: - Eu só falo que venho ao médico, por causa do meu pulmão. E/P: - O que tem seu pulmão Carlos? C: - Ele é fraco. Tenho que fazer fisioterapia, três vezes na semana. E/P: - E como é lá? C: - Tenho que assoprar uma bolinha. E ficar deitado, daí o médico bate nas minhas costas e o catarro escorre para fora. E/P: - E como você se sente indo lá? C: - Eu gosto. Eu respiro melhor depois de ir lá. E/P: - E tem outras crianças lá? C: - Não, só adultos. Sou a única criança de lá. E/P: - Você sabe o que deve fazer no seu tratamento? C: - Tenho que tomar as enzimas, que vem num comprimido bem grande, vermelho e branco que não pode ser aberto, senão cai tudo no chão. Eu tenho que tomar essa sempre antes de comer, à noite tomo vitamina e mais um comprimido branco. E/P: - Na escola você toma as enzimas também? C: - Não. Mas lá eu não como nada. E/P: - Você não come na escola? C: - Não. A comida lá é muito ruim. Tem sopa, sopa que só tem água, cenoura e arroz cru. Eu não gosto. E/P: - E o que você gosta de comer? C: - Tudo, eu como tudo. E/P: - E por que você não leva lanche de casa então? Nessa hora Carlos coloca o mordedor na caixa e pega o cubo mágico que está exatamente ao lado de onde Carlos colocou o mordedor e diz: C: - Nossa, este brinquedo é muito difícil! E neste momento fez um ligeiro contato visual comigo e pegou o brinquedo. Mexeu por alguns instantes e então começou a falar: C: - Eu odeio cebolas também. Odeio cebolas. Gosto de tudo, menos de cebolas! E/P: - Sua mãe trabalha numa plantação de cebolas não é? C: - Sim, eu já fui lá ver como era, mas agora não vou mais, o patrão dela proibiu crianças lá dentro. E/P: - E maçãs Carlos, você gosta? 30 C: - De maçã eu gosto! E/P: - Quando sua mãe trabalha, onde você fica? C: - Em casa, gravando CD para meu pai. E/P: - Fica gravando CD? C: - Sim, CD de música, para a igreja. Ele vende lá depois. Está vendo este computador? (Carlos aponta para o computador). Eu tenho um igual a este, lá em casa. É lá onde eu gravo os CD. E/P: - E você só grava CD no computador, ou faz outras coisas, como jogos? C: - Só gravo CD, não tem internet e meu pai não deixa instalar jogos, por que estragam o computador. Daí eu tenho que pagar R$0,50 se quiser jogar no computador do cara lá da cidade. Lá tem jogos de carros e essas coisas. Carlos largou o cubo na caixa e ficou mexendo apenas em suas mãos. Olhou para mim mais uma vez e sorriu. Voltando à velha posição de novo e comentando: C: - Na minha cidade é tudo velho e feio, não é como aqui. A mãe de Carlos interrompe a sessão dizendo que precisa levá-lo à fisioterapia. Carlos se levanta e sai, sem se despedir. 31 3.3.1 ANÁLISE DA ENTREVISTA LÚDICA COM A CRIANÇA Desde o princípio da entrevista, ao entrar na sala, Carlos aparenta estar assustado, não mantém contato visual e fica com os olhos arregalados na maior parte do tempo. É a partir do estudo sobre a representação social que a criança e sua família possuem sobre a doença crônica e hospitalização, que se percebe que, assim como no indivíduo adulto, a doença também afeta a criança, interferindo na sua vida, prejudicando seu desenvolvimento, a escolarização, relacionamento com amigos e familiares e seu desenvolvimento social. A doença é um acontecimento que altera e afeta as condições psicológicas e sociais da criança, desenvolvendo sentimentos de medo, angústia, oriundos da dor e dos procedimentos da hospitalização (CREPALDI, 1995). Segundo FURTADO e LIMA (2003): O contato inicial com a doença gera nos pais a ansiedade e o medo. Muitas vezes, eles expressam a incredulidade com relação ao diagnóstico, o receio da perda do filho de imediato. Essas fases enfrentadas pela família, descritas como as reações iniciais dos pais (choque incredulidade, confusão, medo, raiva, conflito, tensão). Esta fase apresenta duração variável e uma negação prolongada, e refletem na adaptação do paciente e de sua família. Segundo Motta e Enumo (2004), a criança pode encontrar dificuldades e obstáculos na sua vida social e familiar, restrição do convívio social, ausências escolares são freqüentes e há um aumento da angústia e tensão familiares, devido a novas situações que não faziam parte da vida da criança e que caracterizam uma hospitalização como a necessidade de se adaptar aos novos horários, confiar em pessoas até então desconhecidas, receber injeções e outros tipos de medicação, ter que permanecer em um quarto, ser privado de atividades, etc. Segundo o site da ACAM (2008): Se foram internados desde pequenos e com certa freqüência, isto lhes causa medo de ficarem doentes ou de complicações, fazendo-se cada vez mais difícil uma aproximação com os médicos ou mesmo o hospital. Quando convidado a brincar, Carlos fica estático diante dos brinquedos, não demonstrando qualquer sinal de curiosidade sobre a caixa lúdica. 32 Durante a entrevista, Carlos comenta sobre o tratamento e sobre como seu pulmão é “fraco”. Diz também que seus colegas não sabem exatamente o que ele tem, e que ele não gosta de comentar sobre o assunto com eles. Também não come na escola, evitando assim que seus colegas vejam que ele precisa se medicar antes das refeições. Segundo Pizzignacco e Lima (2007): Os problemas vivenciados por essas crianças na escola estão diretamente relacionados aos efeitos colaterais do tratamento, sinais e sintomas da doença, e a sentimentos, como rejeição, estresse e isolamento por vergonha dos colegas. Durante os períodos de crise da doença e devido às constantes internações, as crianças e os adolescentes com FC faltam à escola e muitas vezes são reprovados em conseqüência das faltas, o que os desestimula a estudar. Carlos está uma série atrasado e a mãe comenta que se não fosse pelos atestados médicos e compreensão que seus professores têm, devido à doença dele, estaria mais atrasado na escola do que já está. A escola é apontada como fonte de discriminação, tendo como influência crucial no desenvolvimento e socialização das crianças com doença crônica, que são rotuladas como diferentes precisando, freqüentemente, dar explicações sobre suas ausências. Neste sentido, a família, escola e hospital devem estabelecer diálogos e das condições para que a continuidade da escolarização seja preservada (VIEIRA e LIMA, 2002). Percebeu-se que Carlos sofreu e sofre um grande impacto na convivência com a doença. Com a rotina, ele vivencia momentos de medo e angústias a cada internação hospitalar e sente vergonha de seus colegas da escola. Carlos não comenta sobre a doença com seus colegas, além de evitar se alimentar na escola. Segundo Oliveira (1995), reprovações escolares, mudanças de cidade, mudança de escolas para os pacientes portadores de FC, são oportunidades de negar a doença e burlar o tratamento. Segundo SARAIVA e OLIVEIRA (2008): A comunicação adequada altera o contexto da doença, permitindo que uma pessoa debilitada e amedrontada possa compartilhar, transmitir informação e conhecer a opinião dos outros. Ademais, facilita a percepção diferenciada da situação contribuindo para a manutenção do indivíduo. Carlos se mostra amedrontado com toda a situação, parte por estar em uma cidade estranha, parte por estar no hospital, mas também pela falta de entendimento de 33 sua situação, criando ansiedade, medo e fantasias. Quando frente à caixa lúdica Carlos fica paralisado. Melaine Klein apud Aberastury (1982), considera que o brinquedo, além do papel socializador, ou seja, um canal de fora para dentro, teria uma função quase que catártica. A criança “coloca para fora”, através do brinquedo, seus sentimentos e pensamentos. Deste modo, o lúdico é a forma em que a criança se expressa e se apropria do mundo externo, elaborando o seu cotidiano de forma cognitiva e afetiva. Carlos não consegue brincar, o que talvez demonstre que não está se apropriando do mundo externo, que está confuso e sem informações que lhe dêem mais tranqüilidade. Carlos entende que está doente, pois quando chega à época de vir a Florianópolis fica apreensivo, depressivo e triste como relata sua mãe. A doença crônica pode gerar hospitalizações durante o seu curso, seja por crises ou pelo agravamento progressivo. A hospitalização é percebida como ameaçadora, além de ser um evento que gera estresse para toda a família (ROMANO, 1999). Aberastury (1992 p. 17) complementa: Por meio da atividade lúdica, a criança expressa seus conflitos e, deste modo, podemos reconstruir seu passado, assim como no adulto fazemo-lo através das palavras. Esta é uma forma convincente de que o brinquedo é uma das formas de expressar passados e presentes. A criança tem no brincar a oportunidade de liberar seus sentimentos acumulados de tensão, frustração, medo, agressividade, etc. Brincando pode enfrentar seus medos, reconstruir situações mal resolvidas e aprender a lidar com essa gama de situações. Carlos fica estático diante dos brinquedos, sem demonstrar qualquer curiosidade sobre a caixa lúdica ou seu conteúdo, talvez isso reflita seu estado interno. Estático diante de tantas idas a hospitais, sem saber ao certo o que ele tem (pois estas informações não ficam claras para ele) e ao mesmo tempo sabendo que está doente. A família necessita se reorganizar e também se adaptar, pois o paciente pode precisar de cuidados. Os papéis e funções devem ser repensados e distribuídos de forma que auxilie o paciente na elaboração de sentimentos confusos e dolorosos ocasionados pelo processo de adoecer. Esta reorganização não acontece na família de Carlos, o que está contribuindo ainda mais para a elaboração de sentimentos confusos e dolorosos que toda doença pode causar. Segundo Castro e Piccinini (2002): 34 As características da própria doença crônica, a idade em que surgiu, o prognóstico e a assistência médica disponível vão interagir com inúmeros fatores subjetivos, comportamentais e sociais relacionados aos genitores e à criança, criando uma dinâmica particular para cada caso investigado. Apesar disto, sabe-se pelas evidências existentes que a presença de uma criança com doença crônica em uma família merece a atenção especial não apenas do ponto de vista médico, mas também na sua dimensão psicológica e social. A família irá conviver com o paciente e a doença, portanto deve ser considerada como aliada no acompanhamento do doente crônico, compartilhando perdas, limitações e cuidados. O trabalho em grupo pode auxiliar o paciente e a família a lidar com a doença. Para otimizar o tempo e organizar tarefas e temas, o grupo pode contar com a elaboração de um programa, permitindo a elaboração e discussão dos conteúdos que surgem a partir disso (ROMANO,1999). O brinquedo não assusta e inquieta somente a adultos, mas a própria criança com o que pode fazer “no mundo do faz-de-conta”. A ansiedade está presente nos jogos infantis e dá um colorido especial ao comportamento infantil. (DUARTE apud: DUARTE, BORNHOLDT e CASTRO, 1989). Uma entrevista bem sucedida requer respeito e que este seja sentido e claramente demonstrado para a criança pelo psicoterapeuta. Para isto se faz necessário reconhecer que muitas crianças sentirão perplexidade e medo do processo diagnóstico. A relação com a criança deve iniciar de uma maneira que convide a criança a manejar estes receios ao invés de esperar que ela passivamente os tolere (COPPOLILLO, 1990). O brincar, de um modo geral, está presente nas pretensões da criança quando está hospitalizada. Ela quer brincar e parece não selecionar muito o tipo de brincadeira que gostaria de fazer. Isto pode acontecer seja por uma privação, em que o acesso ao brinquedo pode ser mais difícil por restrições socioeconômicas, ou pela privação comumente imposta no ambiente hospitalar em relação ao brincar. Quando é permitido escolher, mesmo que no papel, o que gostaria de brincar, parece que há uma preocupação em não desperdiçar possibilidades (MOTTA e ENUMO, 2004). 35 3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO A doença crônica apresenta-se como uma situação permanente e limitadora, na qual é necessário que o paciente se adapte, pois inúmeras perdas são sentidas, além do luto de seus ideais. O projeto de vida toma um novo rumo e uma nova condição é assumida: ser doente. Com o adoecimento, há uma ruptura do equilíbrio das esferas biológica, psíquica e social do indivíduo, afetando suas relações. Além de afetar o paciente, a doença crônica afeta os grupos sociais, nos quais o indivíduo está inserido. O primeiro grupo social a sentir as mudanças ocorridas é a família, visto que é o primeiro grupo de inserção e relacionamento que se institui. Algumas mudanças são esperadas na família com o crescimento e desenvolvimento de seus membros, o que ocasiona uma preparação prévia para as mudanças, facilitando a adaptação. Um evento inesperado, como a doença, pode vir a modificar os padrões de funcionamento da família de forma repentina. Porém, no caso de Carlos, não se percebe mudanças no funcionamento desta família. Pelo fato de ser uma doença crônica, é necessário que a família estabeleça uma nova rotina, uma vez que o membro doente necessita de cuidados especiais. Segundo Contim (2001), a ajuda psicoterapêutica pode ser necessária tanto ao paciente como aos familiares principalmente quando, com o adoecimento, a família se encontra fragilizada e confusa, com dificuldades em se reorganizar, o que aparentemente está acontecendo com a família de Carlos, que ainda não conseguiu criar novas rotinas para ajudar na manutenção da doença e os cuidados específicos que ela acarreta. A assistência psicoterapêutica deve abranger e mobilizar os recursos dos membros, em todos os momentos da doença crônica: aparecimento, curso e também possíveis hospitalizações. Dependendo do estágio de desenvolvimento cognitivo em que a criança se encontra ela terá um conceito sobre doença e saúde. Essa sua concepção de doença afetará sua percepção dos sintomas, sua reação emocional frente à doença, sua experiência de dor e desconforto, sua aceitação de cuidados médicos bem como sua resposta ao tratamento Crianças hospitalizadas que não compreendem o motivo do tratamento tendem a perceber o médico e o hospital como algo negativo e assustador. Os estudos acima sugerem que a forma como a doença é representada pelo indivíduo influencia seu modo de agir sobre ela. Entretanto, não existem muitos estudos 36 que esclareçam sobre como a criança entende, organiza e experiencia a doença. A criança percebe quando está seriamente doente não somente pelas dores e mal-estar que sente, mas também pela preocupação e angústia de sua família. Além de ter a percepção da sua doença, o conhecimento da criança sobre seu corpo é intrínseco ao seu conceito de doença. Desde muito cedo a criança é capaz de sentir e expressar seu temor à morte, principalmente através da linguagem não-verbal. A criança percebe, também, fatos que os adultos lhe tentam esconder, inclusive situações de doença. O que acontece, freqüentemente, é que os adultos não entendem esses sinais da criança e, ainda, têm dificuldades em aceitar sua condição (CASTRO e PICCININI. 2002). A partir da pesquisa realizada compreende-se que o estado afetivo da criança é de medo, angústia e temor. Carlos está angustiado, a angustia ante um perigo real segundo Laplanche (1998) É uma angustia perante um perigo exterior que constitui para o sujeito uma ameaça real. Carlos compreende que está doente e que precisa de cuidados, porém a dificuldade dos pais em manter esses cuidados está deixando Carlos ainda mais angustiado, apreensivo e com medo do que estaria se estivesse sendo orientado e recebendo ajuda de seus pais. Isso nos faz pensar que Carlos possa estar fantasiando sobre a doença, ficando confuso e apreensivo. Segundo Laplanche (1994) fantasia é um roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa de forma mais ou menos deformada pelos processos defensivos. Os afetos podem ser produzidos a partir de um estimulo externo ao qual se atribui um significado com totalidade afetiva: agradável ou desagradável. (BOCK, 1999) Carlos está tendo afetos desagradáveis e desprazerosos. Carlos está sentindo desprazer, fazendo com que ele sinta receio, medo e pavor diante de toda a situação. O medo é uma espécie de aviso sobre a possibilidade de alguma ameaça ao organismo. O medo nos prepara para fugir de um perigo real ou imaginado. Fazendo com que Carlos fique desperto e mais consciente do ambiente, que são modificações que o preparam para fugir do perigo. Carlos encontra-se paralisado, o que indica que está diante de reações marcadas por interferências anteriores. Segundo MARTINS (2004) o medo é uma forma de lidarmos com o perigo, mas também constitui um sinal primário de submissão. 37 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este Trabalho de Conclusão de Curso apresentou uma revisão da literatura sobre FC, crianças em processo de hospitalização e como isto pode influenciar na afetividade de pessoas portadoras de doenças crônicas. Nas considerações finais deste trabalho são apresentados os principais resultados e contribuições bem como, considerando várias questões de pesquisa e desenvolvimento de futuros trabalhos. O trabalho teve como problema de pesquisa “Qual o estado afetivo de 01(uma) criança portadora de fibrose cística que realiza tratamento no Ambulatório do Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis SC?”. Teve como objetivo geral “compreender o estado afetivo desta criança através da entrevista lúdica”. E como objetivos específicos descrever como esta criança enfrenta o tratamento da sua doença bem como investigar a influência da FC em suas vivências sociais (escola, família, amigos). Os objetivos foram cumpridos uma vez que, através deste trabalho pode-se compreender sobre como a FC pode alterar o estado afetivo da criança e suas vivências sociais. Os dados da pesquisa foram analisados a partir dos dados coletados em uma Entrevista Semi-Estruturada com a mãe e também através de uma Entrevista Lúdica, feita com a criança. 4.1 PRINCIPAIS RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES O principal objetivo desta pesquisa foi avaliar os aspectos afetivos de uma criança portadora de FC que realiza tratamento no HIJG. As manifestações do paciente foram no sentido de através da entrevista lúdica, transmitir um pouco do seu estado afetivo frente a doença. Diante da pesquisa realizada pode-se dizer que tanto o objetivo geral como os objetivos específicos foram alcançados, uma vez que se conseguiu identificar, na literatura médica, de enfermagem e de psicologia, como é o estado afetivo de um paciente portador de uma doença crônica. A realização desta investigação proporcionou refletir sobre como a FC influencia no estado afetivo do paciente. Que se encontra com muito medo, angustiado e paralisado frente toda a situação. 38 4.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHO FUTURO O resultado desta pesquisa permitiu identificar os aspectos emocionais presentes na criança portadora de fibrose no HIJG-SC. Com este resultado, foi possível desenvolver reflexões acerca do estado emocional da criança, que demonstrou medo, angústia e paralisia frente à hospitalização. Sugere-se para trabalhos futuros uma investigação aprofundada sobre a importância da comunicação entre equipe médica, pais e criança. E sobre como os profissionais da área da saúde lidam com os aspectos emocionais da criança doente e de sua família e como entendem as dificuldades das crianças para que possam encontrar métodos mais específicos para ajudá-las, tanto na vida pessoal de cada paciente e sua família, como também na adesão ao tratamento. Além do mais, surge também a necessidade de pesquisas na área dos cuidados que a família tem com o filho portador de uma doença crônica, e as conseqüências da falta destes. 39 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERASTURY, A. A Psicanálise da Criança: Teoria e Técnica. Porto Alegre, RS: Artes Médicas. 1982. ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE ASSISTÊNCIA AO MUCOVISCIDÓTICO. O Que é fibrose Cística. Florianópolis. Disponível em: www.acam.org.br. Acesso em: 03 de setembro 2007. ALMEIDA, D. B. L. Sobre Brinquedos e Infância: Aspectos da Experiência e da Cultura do Brincar. Educação e Sociedade, May/Aug. 2006, vol.27, no.95, p.541-551. ISSN 0101-7330. BARBOSA, E. In: LUDWIG NETO, N. (Coord.) 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O resultado deste trabalho ajudará a cuidarmos melhor de outras crianças que estão na mesma situação que você. Você pode escolher se quer ou não me ajudar. Conversei sobre este estudo com seus pais (ou responsável) e sabem que estou pedindo seu acordo. Você pode discutir qualquer coisa sobre isso com seus pais, amigos ou qualquer um que você se sinta à vontade e decidir depois de conversar com eles. Se decidir não participar desta pesquisa, é seu direito e nada mudará no seu tratamento de saúde. Mesmo assim, este serviço de saúde estará disponível para você quando precisar. Se tiver alguma palavra ou coisa que você quer que eu explique melhor porque ficou mais interessado ou preocupado, é só pedir para que eu pare a qualquer momento que eu explicarei. Se você decidir fazer parte da pesquisa, ela será feita quando você vier ao hospital fazer seu tratamento, onde vamos realizar uma atividade em que serão oferecidos alguns brinquedos para você brincar e eu vou observar. Estas atividades serão realizadas em dois dias diferentes e não oferecem nenhum risco de vida, dor ou desconforto, caso aconteça algo estaremos à sua disposição para auxílio e ajuda. Você não precisará faltar à escola e nem vir ao hospital só para isto. Faremos a atividade em dias que você esteja aqui no hospital para consulta médica. Não falaremos para outras pessoas que você está nesta pesquisa e também não compartilharemos informações sobre você com qualquer pessoa que não trabalha na pesquisa. Depois que a pesquisa acabar, os resultados serão ditos a você e a seus pais. Eu ___________________________________ concordo em participar da pesquisa. ________________________________________ Bruna Steffani Vargas - Acadêmica pesquisadora __________________________________________ Luciana Martins Saraiva – Pesquisadora orientadora 45 APÊNDICE(B) TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - RESPONSÁVEL Meu nome é Bruna Steffani Vargas e estou fazendo este estudo com o título de “Afetividade de crianças portadoras de fibrose cística que realizam tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão, de Florianópolis”, com a ajuda da professora Doutora Luciana Martins Saraiva. Ambas estamos vinculadas ao Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí / Centro de Educação Biguaçu / SC. Este estudo tem como objetivo identificar o estado afetivo da criança portadora de fibrose cística que faz tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão - Florianópolis. Os resultados deste trabalho ajudarão a cuidar de outras crianças que também têm esta doença. Não estão previstos riscos, dores ou desconfortos durante a realização da entrevista, mas caso aconteça algum desconforto psicológico, será disponibilizado serviço de apoio para a criança. Eu estarei disponível para qualquer informação ou dúvida que a senhora/senhor, ou a criança tiverem, se for da sua vontade em ajudar. A realização deste estudo conta com algumas etapas, que são: 1) entrevista com a mãe (e/ou responsável) sobre a história de vida da criança; 2) entrevista com a criança, composta por uma Entrevista Lúdica. Nessa entrevista, vamos realizar uma atividade, momento onde serão fornecidos alguns brinquedos para a criança brincar. Esses dois momentos das atividades serão realizados em dois dias diferentes e não será preciso a vinda ao hospital somente para realizar esses procedimentos, sendo que isso pode ser feito nos dias em que a criança tiver consultas médicas no hospital. Vocês podem desistir a qualquer momento, só precisando informar com antecedência. Por ser voluntária e sem interesse financeiro, a senhora/senhor não terão direito a nenhuma remuneração. Os dados referentes à senhora/senhor serão secretos e privados, e o resultado apenas mostrará os possíveis benefícios atingidos pelo estudo. O “Termo de Consentimento Esclarecido” da criança está aqui junto com o seu para que possa ver que ela terá acesso ao documento. Contatos com as pesquisadoras poderão ser feitos no Curso de Psicologia da UNIVALI pelo telefone (048) 32799714. Eu,__________________________________________, RG_____________, CPF _________________, abaixo assinado, concordo em participar voluntariamente do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data:____________________________________________________________ Assinatura do Sujeito ou Responsável:_______________________________________ Telefone para contato: ____________________________________________________ ________________________________________ Bruna Steffani Vargas - Acadêmica pesquisadora ______________________________________ Luciana Martins Saraiva – Pesquisadora orientadora 46 APÊNDICE(C) ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM O RESPONSÁVEL PELA CRIANÇA EM TRATAMENTO NO HIJG – FLORIANÓPOLIS SEXO: IDADE: 1. Quando foi diagnosticada a doença em seu filho? 2. Como é a doença dele (a)? 3. Qual é o estado atual dele (a)? 4. Quais os cuidados necessários para o tratamento? 5. Ele (a) consegue seguir este tratamento? 6. Qual o impacto da doença na vida familiar? 7. Como os demais membros da família reagem em relação `a doença dele (a)? 8. Como você acha que ele (a) percebe a família? 9. Como ele (a) se comporta na família? 10. Como você acha que ele (a) se sente em relação à doença?