Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Determinantes do comércio Brasil-China de commodities e produtos industriais: uma aplicação do modelo VAR Caio Marcos Mortatti Monografia apresentada à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP) como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas Piracicaba 2009 Caio Marcos Mortatti Determinantes do comércio Brasil-China de commodities e produtos industriais: uma aplicação do modelo VAR Orientadora: Profª. Dra. SÍLVIA HELENA GALVÃO DE MIRANDA Monografia apresentada à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP) como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas Piracicaba 2009 3 AGRADECIMENTOS À minha família, meus pais, Jefferson Mortatti e Vera Lúcia S. Mortatti, meu irmão, Bruno Cesar Mortatti, por todo carinho, compreensão e apoio concedido durante toda minha vida, principalmente pela confiança que sempre me transmitiram. Aos professores e funcionários da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo, junto ao Departamento de Economia, Administração e Sociologia e ao Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada que possibilitaram a execução deste trabalho. À Profª. Dra. Sílvia Helena Galvão de Miranda pela excelente orientação, apoio e confiança que depositou em meu trabalho durante todo o seu desenvolvimento e por ter proporcionado minha primeira oportunidade de trabalhar com Economia Internacional. Agradeço também à Profª. Dra. Mirian Rumenos P. Bacchi pela disposição, idéias lúcidas, objetividade de suas sugestões e por se disponibilizar para fazer parte da banca deste, e, adicionalmente, agradeço à orientação do Prof. Dr. Humberto Francisco Silva Spolador em estágio supervisionado pela oportunidade inicial de trabalhar com ferramental econométrico utilizado neste trabalho. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pela concessão de bolsa de iniciação científica, durante doze meses, com renovação por seis meses. Por fim, a todos os meus amigos nessa jornada, por todo o apoio e companheirismo, em todos os momentos. 4 SUMÁRIO RESUMO .......................................................................................................................... 6 ABSTRACT ...................................................................................................................... 7 LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................... 8 LISTA DE TABELAS .................................................................................................... 11 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 15 3. CRESCIMENTO ECONÔMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL ................. 16 4. 3.1. Crescimento Econômico ............................................................................... 16 3.1.1. Economia Chinesa ........................................................................................ 16 3.1.2. Economia Brasileira ...................................................................................... 22 3.2. Comércio Internacional ................................................................................. 29 3.2.1. Comércio Chinês ........................................................................................... 29 3.2.2. Comércio Brasileiro ...................................................................................... 33 3.2.3. Comércio Brasil-China ................................................................................. 36 3.3. Barreiras Tarifárias e Não-Tarifárias ............................................................ 41 3.4. Perspectivas................................................................................................... 44 METODOLOGIA .................................................................................................... 46 4.1. Modelos de Comércio Internacional ............................................................. 46 4.2. Banco de dados e descrição das variáveis ..................................................... 53 4.3. Método de Estimação .................................................................................... 58 4.4. Econometria de Séries Temporais ................................................................ 60 4.4.1. Teste de raiz unitária ..................................................................................... 61 4.4.2. Teste de cointegração .................................................................................... 62 4.4.3. Modelos de Auto-Regressão Vetorial ........................................................... 64 4.4.3.1. Função Impulso-Resposta ............................................................................. 65 5 4.4.3.2. Análise de Decomposição da Variância do erro de previsão ........................ 66 4.5. 5. Modelo Proposto ........................................................................................... 66 RESULTADOS........................................................................................................ 69 5.1. Testes de Estacionariedade ...................................................................................... 69 5.2. Testes de cointegração ............................................................................................. 69 5.3. Defasagem dos Modelos .......................................................................................... 72 5.4. Modelo VEC com identificação pelo processo de Bernanke ................................... 72 5.5. Modelo 1: Produtos agrícolas .................................................................................. 72 5.5.1. Decomposição da variância do erro de previsão .............................................. 72 5.5.2. Função Impulso-Resposta................................................................................. 75 5.6. Modelo 2: Bens industriais ...................................................................................... 78 5.6.1. Decomposição da variância do erro de previsão .............................................. 78 5.6.2. Função Impulso-Resposta................................................................................. 81 5.7. Modelo 3: Produtos minerais ................................................................................... 84 5.7.1. Decomposição da variância do erro de previsão .............................................. 84 5.7.2. Função Impulso-Resposta................................................................................. 86 6. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 90 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 92 6 RESUMO Determinantes do comércio Brasil-China de commodities e produtos industriais: uma aplicação do modelo VAR O objetivo principal desse trabalho é analisar o comércio bilateral entre Brasil e China, utilizando um modelo de Auto-Regressão Vetorial com correção de erro (VEC), através da decomposição de Bernanke, desagregando a análise para commodities agrícolas, minerais e produtos industriais. Deste modo, procurou-se verificar as relações entre taxa de câmbio, utilização da capacidade instalada, renda, preços e quantidade exportada. Os resultados indicam um alto poder explanatório da dinâmica das exportações para a variável renda, principalmente no modelo das commodities agrícolas e minerais. A taxa de câmbio se mostrou mais significativa para o modelo de produtos industriais; adicionalmente, em todos os modelos pode-se verificar a presença da “curva J”. Os preços relativos de exportação responderam por um baixo poder explanatório, porém pode-se verificar que a hipótese de que o Brasil enfrenta uma curva de demanda com elasticidade-preço infinita não é adequada. Por fim, a utilização da capacidade instalada apresentou coeficientes consistentes para todos os modelos estimados, mostrando que tal variável conseguiu captar corretamente os efeitos da demanda interna sobre as exportações, sugerindo que um aquecimento da demanda interna e a conseqüente redução do hiato do produto influenciam substancialmente a oferta de exportação, provocando uma redução nas mesmas. De modo geral, a contribuição do presente trabalho se deu na caracterização do comércio bilateral Brasil-China, com a ótica de analisar o mercado de commodities e de bens de maior valor agregado. Mais além, adiciona à literatura, através da utilização de um ferramental econométrico avançado, elementos para um melhor entendimento dos determinantes do comércio internacional entre dois países. Palavras-chave: China, comércio internacional, commodities, produtos industriais, VAR. 7 ABSTRACT Determinants of the Brazilian-Chinese trade on commodities and processed products: an application of the VAR model The main objective of this work is to analyze the bilateral trade between Brazil and China, using a Vector-Auto Regression model with error correction (VEC), through the Bernanke decomposition, disaggregating the analysis for agricultural and mineral commodities and processed products. Thus, were verified the relationships between exchange rate, capacity utilization, income, prices and exported quantities. The results indicate a high explanatory power of the exports dynamics for the income variable, mainly in the agricultural and mineral commodities model. The exchange rate showed to be more significant to the processed products model; in addition, in all models it was possible to verify the presence of the "J curve". The relative prices of exports accounted for a low explanatory power, but it could be seen that the hypothesis that Brazil faces a demand curve with infinite priceelasticity is not adequate. Finally, the capacity utilization had consistent coefficients for all models estimated, showing that this variable was able to capture correctly the effects of the domestic demand on exports, suggesting that a domestic demand growth and the consequent reduction of the output gap have significant influence in the export supply, causing a reduction in them. Overall, the contribution of this work was in the characterization of the bilateral trade between Brazil and China, with the perspective of analyzing the commodities market and goods with higher added value. Further, adds to the literature, through the use of an econometric advanced tool, elements for a better understanding of the determinants of international trade between two countries. Keywords: China, international trade, commodities, processed products, VAR. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Evolução da Participação do Comércio chinês no comércio mundial, período de 1984-2008................................................................................................................................. 18 Figura 2. Grau de Abertura da Economia e Corrente de Comércio para a China no período de 1984-2008................................................................................................................................. 19 Figura 3. Evolução da participação do comércio brasileiro no comércio mundial, período de 1984-2008................................................................................................................................. 28 Figura 4. Grau de Abertura da Economia e Corrente de Comércio para o Brasil no período de 1984-2008................................................................................................................................. 28 Figura 5. Market-share dos principais parceiros comerciais da China no ano de 2008........... 30 Figura 6. Balança Comercial Chinesa de 1984 a 2008, US$ Bilhões FOB. ............................ 30 Figura 7. Market-share dos principais parceiros comerciais do Brasil no ano de 2008. ......... 33 Figura 8. Balança Comercial Brasileira de 1960 a 2008, US$ Bilhões FOB. .......................... 34 Figura 9. Balança Comercial Brasil-China de 1984 a 2008, US$ Bilhões FOB. ..................... 36 Figura 10. Categorias exportadas pelo Brasil para a China, período selecionado (valores em %). ............................................................................................................................................ 37 Figura 11. Categorias importadas pelo Brasil da China, período selecionado (valores em %). .................................................................................................................................................. 37 Figura 12. Exportação brasileira para a China por fator agregado (2007) ............................... 39 Figura 13. Tarifa efetivamente aplicada (AHS) pela China sobre os 10 principais produtos importados do Brasil, média simples, WTO/CMT, em porcentagem (2006). ......................... 39 Figura 14. Importação brasileira da China por fator agregado (2007) ..................................... 40 Figura 15. Tarifa efetivamente aplicada (AHS) pelo Brasil sobre os 10 principais produtos importados do China, média simples, WTO/CMT, em porcentagem (2006). ......................... 41 Figura 16. Representação esquemática das funções de oferta e demanda por exportação para um país pequeno. ...................................................................................................................... 47 Figura 17. Representação esquemática das funções de oferta e demanda por exportação em um mercado com substituição imperfeita de bens. .................................................................. 48 9 Figura 18. Quantidade total das exportações brasileiras para a China de produtos agrícolas (QA), minerais (QM) e industriais (QI), em toneladas métricas (MT), meses de janeiro de 1995 a dezembro de 2008......................................................................................................... 55 Figura 19. Índices de Preço Relativo de Exportação dos produtos agrícolas (PRA), minerais (PRM) e industriais (PRI), período base 2005=100, meses de janeiro de 1995 a dezembro de 2008. ......................................................................................................................................... 55 Figura 20. Proxy da Renda (Y) e taxa de câmbio real (TX), meses de janeiro de 1995 à dezembro de 2008. ................................................................................................................... 56 Figura 21. Índice da Utilização da Capacidade Instalada, meses de janeiro de 1995 à dezembro de 2008. ................................................................................................................... 57 Figura 22. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na renda (Modelo 1) ................................................................................................................................ 75 Figura 23. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na utilização da capacidade instalada (Modelo 1) ........................................................................ 76 Figura 24. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na taxa de câmbio (Modelo 1) ................................................................................................................... 76 Figura 25. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso no preço relativo (Modelo 1)................................................................................................................... 77 Figura 26. Evolução dos choques acumulados das exportações sobre as demais variáveis do modelo (Modelo 1) ................................................................................................................... 78 Figura 27. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na renda (Modelo 2) ................................................................................................................................ 81 Figura 28. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na utilização da capacidade instalada (Modelo 2) ........................................................................ 82 Figura 29. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na taxa de câmbio (Modelo 2) ................................................................................................................... 82 Figura 30. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso no preço relativo (Modelo 2)................................................................................................................... 83 Figura 31. Evolução dos choques acumulados das exportações sobre as demais variáveis do modelo (Modelo 2) ................................................................................................................... 84 Figura 32. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na renda (Modelo 3) ................................................................................................................................ 87 10 Figura 33. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na utilização da capacidade instalada (Modelo 3) ........................................................................ 87 Figura 34. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na taxa de câmbio (Modelo 3) ................................................................................................................... 88 Figura 35. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso no preço relativo (Modelo 3)................................................................................................................... 88 Figura 36. Evolução dos choques acumulados das exportações sobre as demais variáveis do modelo (Modelo 3) ................................................................................................................... 89 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1. As principais fases das reformas chinesas a partir do ano de 1978. ......................... 16 Tabela 2. Taxa Média anual de Crescimento do Produto Interno Bruto da China, do Brasil e do Mundo para os períodos selecionados (%). ......................................................................... 18 Tabela 3. Taxa de crescimento do PIB per capita e variação real anual do PIB, (%). ............ 24 Tabela 4. Ranking dos 10 principais produtos exportados pela China e participação percentual na pauta total de exportação chinesa em 2007. ........................................................................ 31 Tabela 5. Ranking dos principais produtos importados pela China e participação percentual na pauta total de importação chinesa em 2007. ............................................................................ 32 Tabela 6. Ranking dos 10 principais produtos exportados pelo Brasil e participação percentual na pauta total de exportação brasileira em 2007. ..................................................................... 35 Tabela 7. Ranking dos 10 principais produtos importados pelo Brasil e participação percentual na pauta total de importação brasileira em 2007. ................................................... 35 Tabela 8. Ranking dos principais produtos exportados do Brasil para a China e sua participação percentual no total dessa pauta em 2007. ............................................................ 38 Tabela 9. Ranking dos principais produtos importados pelo Brasil da China e sua participação percentual no total dessa pauta em 2007. ................................................................................. 40 Tabela 10. Principais medidas sanitárias e fitossanitárias da legislação chinesa ..................... 43 Tabela 11. Classificação dos produtos da NCM em grupos: Agrícolas, Minerais e Industriais. .................................................................................................................................................. 54 Tabela 12. Especificação dos modelos estimados .................................................................... 66 Tabela 13. Resultado dos testes de raiz unitária (DF-GLS) ..................................................... 69 Tabela 14. Número de defasagens utilizada nos testes de cointegração para cada modelo ..... 70 Tabela 15. Resultado dos testes de cointegração do modelo 1 (agrícolas) .............................. 70 Tabela 16. Resultado dos testes de cointegração do modelo 2 (industriais) ............................ 71 Tabela 17. Resultado dos testes de cointegração do modelo 3 (minerais) ............................... 71 Tabela 18. Critérios de seleção das ordens de defasagem dos modelos. ................................. 72 Tabela 19. Estimativa da matriz de coeficientes de relações contemporâneas (Modelo 1) ..... 73 12 Tabela 20. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para QA (Modelo 1) ... 74 Tabela 21. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para Y (Modelo 1) ...... 74 Tabela 22. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para U (Modelo 1) ...... 74 Tabela 23. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para TX (VAR1) ......... 74 Tabela 24. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para PRA (VAR1) ...... 75 Tabela 25. Estimativa da matriz de coeficientes de relações contemporâneas (Modelo 2) ..... 79 Tabela 26. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para QI (Modelo 2) ..... 80 Tabela 27. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para Y (Modelo 2) ...... 80 Tabela 28. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para U (Modelo 2) ...... 80 Tabela 29. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para TX (Modelo 2) .... 80 Tabela 30. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para PRI (Modelo 2) ... 81 Tabela 31. Estimativa da matriz de coeficientes de relações contemporâneas (Modelo 3) ..... 85 Tabela 32. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para QM (Modelo 3) ... 85 Tabela 33. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para Y (Modelo 3) ...... 85 Tabela 34. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para U (Modelo 3) ...... 86 Tabela 35. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para TX (Modelo 3) .... 86 Tabela 36. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para PRM (Modelo 3) . 86 13 1. INTRODUÇÃO Hoje em dia, observa-se cada vez mais na sociedade uma grande integração de mercados de bens e serviços, de fluxos comerciais, financeiros e de pessoas, tudo isso devido, principalmente, à globalização. Tal processo diz respeito à forma como os países interagem e aproximam indivíduos, ou seja, como promovem a integração mundial e homogeneização de consumo, levando em consideração diversos aspectos. Inserindo-se nesse cenário o Brasil, ao longo de sua história, experimentou diferentes tipos de inflexão no seu relacionamento com o resto do mundo. Ao longo da década de 50 e 60 o país teve uma sensível redução de sua relação comercial com o mundo. Apenas após a década de 70, com a superação da fase nacionalista e individualista brasileira, cujo foco de desenvolvimento foi o mercado interno, baseado no modelo de substituição das importações, o Brasil passaria por um processo de internacionalização, com o aumento de sua participação das exportações das multinacionais no total exportado pelo país, segundo Pizaia et al (2008). O processo de integração econômica do Brasil com o resto do mundo foi interrompido, logo em seguida, com a chamada “década perdida” que causou impactos negativos na maioria dos países da América Latina. No início dos anos 90, o Brasil iniciou um programa de abertura comercial externa, com o gradual aumento da participação do comércio internacional em seu Produto Interno Bruto (PIB). Dentro desta perspectiva, o desempenho do comércio exterior brasileiro nos últimos anos vem sendo marcado, entre outros elementos, por uma crescente participação dos chamados “novos mercados”, entendidos como os países que estão fora do eixo tradicional da União Européia, Nafta, América Latina e Japão. Entre esses “novos mercados” a China se destaca, desempenhando um papel primordial no comércio exterior brasileiro, alcançando em 2009 a classificação de maior parceiro do Brasil. A transformação chinesa numa economia dinâmica, bem como de sua integração com a economia mundial têm sido considerada uma das mais surpreendentes transformações do último século. Nas últimas duas décadas a economia chinesa tem apresentado um extraordinário desempenho econômico, refletido nas altas taxas de crescimento do seu PIB. Tal performance vem despertando um grande interesse no mundo, principalmente devido à característica da emergência chinesa e sua capacidade de influenciar a economia mundial. Influências, seja em termos de padrões de comércio, ou de fluxo de capitais, visto que a China é um grande mercado consumidor, principalmente de commodities (petróleo, p.ex.) e um 14 grande pólo atrativo de capitais. Ou influências devido às disputas ideológicas, já que se pode afirmar que a emergência chinesa favorecerá a mudança de hierarquia de poder entre as economias do leste asiático e as demais economias do globo. O comércio exterior brasileiro ainda é significativamente concentrado em um número limitado de países. Em 2007, a União Européia e os Estados Unidos foram responsáveis por 40,66% das exportações brasileiras (37,29%, em 2008) e por 37,75% das importações (35,69% em 2008) (WITS, 2009). Brasil e China mantiveram um comércio informal desde a criação da República da China em 1949. Nos anos 50, o fluxo comercial era praticamente inexpressivo, cerca de US$ 8 milhões (Miranda et al., 2007). Nos anos 90, houve um boom do comércio bilateral, comparado com as décadas passadas, e a China, que era a quarta no destino das exportações brasileiras, pulou para a terceira posição desde 2002, atrás apenas dos Estados Unidos e da Argentina1. Em 2006, com o amadurecimento das relações comerciais entre o Brasil e a China, o fluxo comercial (corrente de comércio) entre os dois países ultrapassou os US$ 16,39 bilhões (US$ 12,19 bilhões em 2005). Já no ano de 2007, tal marca aumentou 42,56% chegando aos US$ 23,37 bilhões (MDIC, 2009). Em 2008 a China ultrapassou a Argentina e tornou-se o segundo maior parceiro comercial do Brasil, adicionalmente, seguindo nessa trajetória, no ano seguinte em 2009 a China ultrapassou os Estados Unidos e tornou-se o principal parceiro comercial brasileiro, segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2009). As relações comerciais sino-brasileiras estão, inevitavelmente, inseridas no contexto de mudanças globais, apresentando objetivos comuns de sustentação de projetos econômicos de desenvolvimento. Assim, torna-se importante a avaliação dos fatores que determinam o padrão de comércio entre os dois países em conjunto, pois ambos deverão implementar suas fórmulas políticas destinadas a enfrentar a realidade atual, partindo da situação de fato que os caracteriza: duas verdadeiras pan-regiões territorialmente, mas desafiadas a desenvolver-se para atingir padrões mais altos de riqueza. 1 Considerando a União Européia desagregada em seus países membros. 15 2. OBJETIVOS O presente trabalho tem como objetivo principal analisar o comércio bilateral BrasilChina de modo a identificar os seus fatores determinantes e sua evolução em período recente. Esses fatores serão analisados buscando verificar se há diferenças entre seus impactos no comércio de commodities (agrícolas e minerais), e, alternativamente, de produtos industriais, de maior valor agregado. Como objetivos específicos propõem-se a: i. Analisar o padrão histórico de crescimento de longo prazo do Brasil e da China; ii. Analisar as características do comércio internacional do Brasil e da China, respectivamente, com o resto do mundo, em período recente; iii. Realizar um levantamento da pauta dos principais produtos comercializados entre Brasil e China, bem como sumarizar as principais barreiras tarifárias e não-tarifárias entre os dois países; iv. Ampliar o referencial teórico de estudo sobre modelos de economia internacional que estimam funções de exportação e importação, e de trabalhos empíricos aplicando tais conhecimentos; v. Explorar os principais métodos estatísticos e econométricos contemporâneos, como a modelagem VAR, no que diz respeito à estimação dos modelos; vi. Identificar as principais variáveis relevantes para modelar tal comércio, e adicionalmente, verificar as diferenças, inclusive em termos de efeitos das variáveis determinantes do comércio, quando se analisam pautas de produtos diferenciadas; 16 3. CRESCIMENTO ECONÔMICO E COMÉRCIO INTERNACIONAL Jones (2000) mostra que o crescimento do volume do comércio internacional está estreitamente relacionado com o crescimento econômico. Portanto, a compreensão do perfil de comércio entre Brasil e China requer uma análise histórica com relação aos padrões de crescimento de longo prazo em ambos os países. Esta seção da presente monografia analisa as origens e os acontecimentos políticos que influenciaram as políticas econômicas de cada país, bem como expõe o padrão de crescimento do comércio mundial e sua inserção na atualidade. 3.1. Crescimento Econômico 3.1.1. Economia Chinesa As origens do crescimento da economia chinesa estão embasadas nas reformas prócapitalistas iniciadas em 1978, conhecidas como “Políticas de Portas Abertas”, que foram implementadas sob a liderança ideológica de Deng Xiaoping2. Desde então, ficou evidente a mudança de concepção do Partido Comunista Chinês (PCC) em direção ao desenvolvimento econômico (STORY, 2004 apud ANDRADE, 2006). Esta mudança do PCC pavimentou o caminho da transição do país para uma economia cada vez mais mercantilizada e integrada, embora tenha havido uma clara opção pela manutenção de um regime político fechado e centralizado. Segundo Prasad (2004), as reformas na China podem ser dividas em cinco fases (Tabela 1). Tabela 1. As principais fases das reformas chinesas a partir do ano de 1978. Períodos 1978 – 1984 1984 – 1988 1988 – 1991 1992 – 1997 1998 – ... Características das Reformas Reformas Rurais Reformas nos setores Industriais Urbanos Reforma de Controle e Contração Reformas de Re-estímulo ao Crescimento Intensificação da Abertura Econômica Fonte: Elaborado pelo autor com base em Prasad (2004). 2 Nascido em 1904, Deng Xiaoping afastou-se de Mao Tse-Tung, fundador do partido e líder da Revolução Chinesa de 1949, e foi perseguido durante a Revolução Cultural (1966-1976), período conhecido pela defesa intransigente da ideologia socialista. Com a morte de Mao, em 1976, Deng encontrou espaço para a retomada de sua política de reformas, cujo gradualismo pode ser descrito por uma metáfora a ele atribuída: “tateando as pedras enquanto se cruza o rio”. 17 A primeira, de 1978 a 1984, compreende as reformas rurais, caracterizadas por profundas mudanças nos setores agrícolas e não-agrícolas, responsáveis por uma grande elevação da produtividade no campo. A segunda fase (1984-1988) foi caracterizada por reformas nos setores industriais urbanos, dentre as quais se incluem: alguma liberalização na fixação de preços e salários nas empresas, a introdução de taxação sobre as empresas e a quebra do sistema de um único banco. A liberalização de preços provocou uma onda inflacionária e, na terceira fase (19881991), as autoridades reintroduziram os controles de preços e implementaram políticas contracionistas. Tais medidas foram eficazes no controle da inflação, mas produziram efeitos negativos para a economia como um todo, com grandes prejuízos no setor de estatais e aumento no volume de débito entre as empresas. A quarta fase (1992-1997) foi caracterizada pelo retorno de algumas políticas de estímulo ao crescimento, sendo a queda no ritmo de atividade da fase anterior superada. A última fase (de 1998 aos dias atuais) tem sido caracterizada por um aprofundamento na abertura da economia e por sua maior integração à economia mundial, caracterizada pela entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC) em novembro de 2001. A fórmula de sucesso introduzida por Deng, que pode ser descrita como sendo um “mix” entre socialismo e capitalismo, melhor caracterizado por uma economia aberta com sistema político fechado, propiciou à China apresentar altas taxas de crescimento econômico, aumentando sua participação no PIB mundial de menos de 1,76% em 1978 para algo em torno de 7,14% em 2008 (Banco Mundial, 2009), e consolidando-se como uma das principais potências econômicas do início do século XXI. A tabela 2 apresenta a taxa de crescimento do PIB da China em comparação com a taxa de crescimento do Brasil e do mundo, em cada fase das principais reformas chinesas. Percebe-se que, em termos médios, o crescimento chinês, em todos os sub-períodos e no total agregado, foi sempre superior ao crescimento médio do Brasil e do Mundo. No período de 1978-2008, enquanto o Brasil cresceu 2,90% em média por ano e o mundo, numa média de 3,02%, a China cresceu 10,05%, cerca de quase duas vezes mais do que o crescimento do Brasil e do mundo juntos. 18 Tabela 2. Taxa Média anual de Crescimento do Produto Interno Bruto da China, do Brasil e do Mundo para os períodos selecionados (%). Taxa Média de Crescimento do PIB (em %) China Brasil Mundo 10,38 2,45 2,82 12,08 4,94 3,99 7,10 0,10 3,23 11,92 3,25 2,87 9,57 3,03 3,00 10,05 2,90 3,02 Períodos Média de 1978 – 1984 Média de 1984 – 1988 Média de 1988 – 1991 Média de 1992 – 1997 Média de 1998 – 2008 Total do período Fonte: Elaborado pelo autor com base no World Development Indicators (BANCO MUNDIAL, 2009). Com relação ao mercado internacional, a expansão do comércio exterior chinês tem sido um dos aspectos fundamentais e cruciais para o surgimento da proeminência chinesa na economia global. A China ampliou sua participação no comércio mundial (medido como a relação das exportações totais da China sobre as exportações mundiais) de menos de 1,51% em 1984 para algo em torno de 10,16% em 2008 (Figura 1). Participação (em %) 12 10 8 6 4 2 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 1984 0 Figura 1. Evolução da Participação do Comércio chinês no comércio mundial, período de 1984-2008. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do COMTRADE/WITS, 2009. No que se refere ao grau de abertura da economia, ou seja, a soma das exportações e importações anuais sobre o PIB, tal coeficiente apresentou significativo aumento ao longo da trajetória chinesa (Figura 2). US$ Bilhões 19 3000 70% 2500 60% 50% 2000 40% 1500 30% 1000 20% 500 10% Corrente de comércio 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 0% 1984 0 Grau de abertura da Economia Figura 2. Grau de Abertura da Economia e Corrente de Comércio para a China no período de 1984-2008. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do COMTRADE/WITS e BANCO MUNDIAL, 2009. O grau de abertura da economia chinesa passou de 19,93%, em 1984, para 66,32% em 2008. O sub-período de maior abertura econômica compreende os anos de 1998 até 2006, com as reformas de intensificação de abertura econômica e entrada da China na OMC, em média a abertura no período foi de 47,47%, representando por parte dos países em desenvolvimento, em particular, um esforço importante nas tentativas de tornar a OMC uma entidade transparente e que projete o estado de direito nas relações econômicas e comerciais internacionais. Sob a perspectiva da formulação de sua política externa, a entrada à ordem multilateral de comércio era não somente de fundamental importância, mas de prioridade estratégica, de vez que um país com os interesses internacionais do porte da China não poderia estar alijado de uma das principais organizações multilaterais de natureza econômica. Este “afastamento” impedia, de um lado, que a China pudesse influir na formatação da ordem econômica internacional e, de outro, colocava o país em uma posição de grande vulnerabilidade no campo das trocas internacionais, já que podia ser, e freqüentemente era, vítima de tratamentos arbitrários e discriminatórios, sem recurso a defesa eficaz, segundo Goyos Jr. et al (2004). A corrente de comércio chinesa, ou seja, o somatório das exportações e importações, também apresentou um aumento substancial (Figura 2). Crescendo em média 16,95% ao ano, o montante inicial de US$ 51 bilhões, em 1984, passou aproximadamente cerca de US$ 2,56 trilhões em 2008. 20 Embora não consensual, a literatura econômica aponta para uma relação positiva entre grau de abertura e crescimento econômico. Jin (2004), p.ex., oferece um estudo sobre as relações entre o grau de abertura e o crescimento econômico na China. De tal modo que usando dados desagregados por províncias, o autor verificou que a abertura econômica tem uma influência positiva sobre o crescimento das províncias da costa leste. O crescimento econômico da China tem mudado os padrões de comércio no leste da Ásia, sendo que a crescente abertura da economia chinesa significou a alocação mais eficiente dos recursos e um maior vínculo comercial do sistema produtivo chinês com a região do continente banhada pelo Pacífico, conhecida como região Ásia-Pacífico (STORY, 2004). O rápido crescimento de empresas que atuam no comércio exterior, que passou de menos de 20 em 1978 para centenas de milhares atualmente, e a estratégia de países como Japão, Coréia do Sul e Taiwan de fazerem do território chinês uma plataforma de montagem3 para o suprimento dos mercados ocidentais são as principais causas das mudanças do comércio entre os países da região Ásia-Pacífico, os Estados Unidos e a União Européia. (MEDEIROS, 2004). Pequenos mercados, como os de Cingapura e Luxemburgo, não possuem escalas para grandes indústrias, mas a partir da abertura econômica chinesa, segundo Nukui (2003), estas economias puderam adicionar valor aos produtos importados com intuito de serem exportados (drawback). Não obstante ao fato de que as exportações chinesas alcançaram um rápido crescimento no período pós-reformas, ainda existe um grande potencial de crescimento para o comércio exterior do país, conforme Lai (2004). Segundo a argumentação desse autor, a participação chinesa nas exportações mundiais em 2003 foi apenas 6,02% (10,16% em 2008, segundo dados do WITS, 2009), enquanto que a população do país corresponde a um quinto da população mundial, o que significa que o nível per capita de exportação da China está muito aquém do nível médio mundial, indicando que ainda existe um grande potencial de crescimento para as próximas décadas. Entretanto, para realizar este grande potencial, o governo chinês deve proceder a alguns ajustamentos de política. 3 Empresas da região Ásia-Pacífico se lançaram no mercado chinês em busca de vantagens como baixo custo da mão-de-obra e de políticas favoráveis, como a manutenção de baixos impostos sobre componentes importados, p.ex., para montagem e re-exportação (“Modelo dos Gansos Voadores”). 21 Segundo Lai (2004), deve-se buscar o uso de outros instrumentos de promoção comercial, dado que o efeito de estímulo exportador de alguns mecanismos tradicionais tem decaído significativamente. Um exemplo, conforme cita o autor, seria a exploração das negociações comerciais no âmbito da OMC. Em se tratando de comércio multilateral, a entrada da China na OMC, oficializada na Quarta Conferência Ministerial de Doha, é um evento de grande significância na história do comércio mundial e um dos acontecimentos mais importantes ocorridos recentemente na esfera econômica internacional (XIAOXI, 2003). Alguns líderes chineses consideram que a entrada do país na OMC era imprescindível para completar as reformas econômicas das últimas duas décadas. Essa determinação está baseada na crença de que a participação das rodadas multilaterais de comércio tornará a China um país mais forte e mais integrado à economia mundial (YUEFEN, 2003). Porém, para ser admitida na OMC, a China se comprometeu a realizar significativos avanços nas suas regras de comércio exterior, principalmente no lado das importações, e de entrada de capitais. Espera-se que tal liberalização comercial tenha enormes impactos nos padrões de comércio e fluxos financeiros mundiais, sendo que os efeitos serão sentidos de maneira distinta nos diversos países que, direta ou indiretamente, comercializam com a China. O mesmo pode ser dito com relação às indústrias desses países, enquanto algumas poderão auferir ganhos com uma maior liberalização do comércio chinês, outras provavelmente vão computar perdas significativas. Conforme Prasad (2004), as análises que objetivaram quantificar os impactos na entrada da China na OMC intensificaram-se no final da década de 90. Tais estudos trazem como conclusão geral que a participação chinesa como membro da OMC trará ganhos de bem-estar para o próprio país e o mundo como um todo. Outra conclusão geral desses estudos é que os países tenderão a ganhar (ou perder) em proporção ao grau de complementaridade entre seus próprios padrões de comércio e os da China. Uma bem-sucedida resposta à emergência chinesa, comenta, envolverá uma significativa mobilidade inter-setorial, sendo que os países mais afetados devem acelerar seus processos de liberalização e integração, o que lhes permitirá melhorar a alocação de recursos e perseguir suas próprias vantagens comparativas. Para os países do Sudeste Asiático, em particular, a ascensão chinesa na OMC é apontada em vários estudos, entre eles os de Wong (2003), como sendo uma ameaça, uma vez 22 que a China conta com alguns fatores de competitividade espúria, como baixo custo da mãode-obra e câmbio artificialmente desvalorizado. Tal autor, p.ex., afirma que os países vizinhos aos chineses tendem a perder com sua entrada na OMC, uma vez que estes países e a China são competidores próximos nos mercados mundiais, dado que possuem dotações de fatores similares, exportam produtos semelhantes (intensivos em trabalho) e atuam nos mesmos mercados. Adicionalmente, devido ao tamanho do mercado chinês, a emergência do país como um importante player comercial “assusta” os demais países da região, os quais temem que uma maior liberalização do comércio chinês represente custos para suas economias maiores que os seus benefícios. No longo prazo, muito dependerá de qual política os líderes chineses adotarão em relação ao comércio e industrialização do país. Para o Brasil, em particular, espera-se que os setores mais afetados com a emergência chinesa sejam o de metal e produtos de aço no médio prazo e equipamentos de transporte no longo prazo. Espera-se também uma parcela de mercado crescente de importações chinesas e produtos produzidos por investimentos chineses no Brasil, especialmente nos setores de eletrônicos e produtos de telecomunicações (ABREU, 2005). 3.1.2. Economia Brasileira O Brasil, ao longo de sua história, experimentou diferentes tipos de inflexão no seu relacionamento com o resto do mundo, sendo que seu comércio passou por diferentes ciclos de expansão e contração. Desde o período colonial até 1930, o Brasil centrou sua atividade econômica na produção de produtos primários para exportação. Durante esse período, houve três grandes ciclos de produção no Brasil, o da cana-de-açúcar, o do ouro e o do café, que, ao lado de outros sistemas produtivos de menor expressão, buscaram, no fundamental, suprir o mercado externo. No período 1929 ao ano de 1933, alterou-se o caráter principal do antigo padrão de acumulação, o chamado “modelo primário-exportador”, com o deslocamento do centro dinâmico da economia (FURTADO, 2007), passando a se desenvolver em função do mercado interno. 23 Nesse período iniciou-se um novo modelo de desenvolvimento industrial encerrando a hegemonia do setor cafeeiro e de seus programas de intervenção. No novo modelo, o processo de substituição de importações (PSI) tinha peso significativo, sendo realizado entre os setores, simultaneamente, em partes com “estrangulamento externo” relativo, que seria a própria origem e limitação do PSI. Nos anos 1940 a 1944, sob a liderança de Getúlio Vargas, começaram as obras de infra-estrutura e a criação das indústrias de base no Brasil, como p.ex., o acordo de criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941. Já no governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-51) foi implementado o regime cambial de licenças de importação, o qual tinha como objetivo conter a inflação e permitir a importação de bens de capital, porém tal regime, fixado em patamares sobrevalorizado prejudicaram o setor exportador, em especial o café. Há também uma tentativa através do “Plano Salte” de realizar uma política fiscal ortodoxa, porém falha. Logo em seguida com o governo Vargas II (1951-54) há a replicação da fórmula Campos Salles-Rodrigues Alves, com saneamento fiscal e empreendimentos. Em 1953, ocorre a instrução 70 da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) com a instituição do regime de taxas múltiplas de câmbio com monopólio do Banco do Brasil. Já com Café Filho (1954-55), outra instrução, a SUMOC 113, permitiu a importação de equipamentos sem cobertura cambial, ao mesmo tempo que favorecia o envio de rendas ao exterior, também há uma melhora das relações com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No governo de Juscelino Kubitschek, 1956 a 1961, há uma fase de crescimento industrial, principalmente de bens de consumo duráveis e bens de capital, com o “Plano de Metas”. JK beneficia-se com a SUMOC 113 e realiza uma simplificação no sistema de taxas múltiplas de câmbio. No final do governo o Programa de Estabilização Monetária (PEM) é deixado de lado devido ao custo político e JK rompe com o FMI. Nesse período teve início em maior escala a internacionalização da economia brasileira, através das multinacionais. Já nos anos 60, Jânio Quadros promove a desvalorização e unificação do mercado cambial, conhecida como instrução 204 da SUMOC. Após seu governo o Brasil tem uma breve experiência parlamentarista, até João Goulart assumir o poder. Com João Goulart há a tentativa de implementação do Plano Trienal de Celso Furtado, que tinha um diagnóstico ortodoxo da inflação (especialmente de excesso de gastos do governo), mas mais uma vez o plano é abandonado. 24 De 1964 até 1967, sob o período militar há a execução do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), que tinha como objetivos básicos a serem enfrentados, a questão da inflação e do crescimento, no curto prazo, e de reformas institucionais a longo prazo. Dentre as principais reformas do PAEG podemos destacar, sumariamente, a introdução da correção monetária, substituição do imposto em cascata pelo imposto sobre valor adicionado, criação dos fundos de participação dos estados e municípios, criação do Banco Central (BC) e do Conselho Monetário Nacional (CMN), nova fórmula de ajustes de salários e incentivos fiscais ao setor exportador. A partir da década de 70, observou-se um aumento do endividamento externo da economia brasileira e do montante pago referente a seus serviços, devido principalmente à disponibilidade de recursos externos para os países em desenvolvimento, principalmente para os países da América Latina, conseqüente da maior liquidez internacional (eurodólares e, posteriormente, petrodólares). As políticas econômicas adotadas ao longo dessa década deram ao Brasil as mais altas taxas de crescimento de sua história. O “Milagre brasileiro” (1968-73) atingia seu ápice, o que parecia indicar que o país seguiria com um crescimento econômico sustentado, conforme dados da tabela abaixo. Tabela 3. Taxa de crescimento do PIB per capita e variação real anual do PIB, (%). Períodos 1968 1969 1970 1971 1972 1973 MS* do período PIB per capita 6,84 6,61 7,55 8,53 9,17 11,20 8,32 PIB 9,80 9,50 10,40 11,34 11,94 13,97 11,16 Nota: *MS = Média Aritmética Simples do período analisado. Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados do IPEADATA, 2008. Uma característica notável do “milagre” é que, simultaneamente a taxas muito elevadas de crescimento econômico, o período 1968 a 1973 caracterizou-se por taxas de inflação declinantes e relativamente baixas para os padrões brasileiros, bem como por superávits no balanço de pagamentos. 25 Todavia, a crise do petróleo em 1973, e a opção por manter o crescimento ajustando a estrutura produtiva, trouxeram impactos inesperados para a economia brasileira. Como o Brasil importava 80% do petróleo que consumia (BAER, 1996, p.104), o país passou a ter constantes déficits em sua balança comercial. Em 1975 o governo cria o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) com o objetivo de manter uma razoável taxa de crescimento econômico, mudar a estrutura da economia por meio da substituição de importações e também de financiar o déficit externo por meio da ajuda de bancos internacionais (BAER , 1996, p. 106). Como resultado houve forte investimento em bens de capital e insumos básicos que diminuíram as importações de tais bens, porém boa parte destes investimentos foi feito com o aumento do passivo estatal e a concessão de benefícios fiscais piorou as contas do governo. A segunda metade da década de 70 é marcada pela desaceleração do crescimento econômico. A taxa média de crescimento do PIB entre 1975 e 1980 foi de 6,88%, ao passo que durante os anos do “Milagre Econômico”, a média era de 11,16% (IPEADATA, 2008). A taxa de inflação, por sua vez, aumentara durante o período recessivo. Ela passara de uma média de 19,5% ao ano entre 1967 e 1973 para 60% entre 1974 e 1981 (BRESSERPEREIRA, 2003, p. 189). Nesse período, o endividamento público desestruturou a economia. Em 1979 o Brasil pagou mais de US$ 4 bilhões em juros da dívida externa, e em 1981, com a dívida bruta ao redor de US$ 62 bilhões, o gasto com juros atingiu US$ 9,2 bilhões, o que correspondeu a 39% das exportações, de acordo com Bresser-Pereira (2003). O processo de integração econômica do Brasil com o resto do mundo foi interrompido durante a década de 1980, com a chamada “década perdida”. O país mostrou, apesar de sua incipiente abertura, sua extrema vulnerabilidade. Segundo Franco (1999, p. 101), para uma economia especializada na exportação de poucos produtos primários, com termos de troca sujeitos à grande volatilidade, o grau de abertura podia efetivamente ser confundido com vulnerabilidade externa. De 1980 a 1989, no período dos governos João Figueiredo e José Sarney, ocorreu uma profunda deterioração da situação econômica e social do Brasil. O modelo de desenvolvimento baseado no processo de substituição de importações, que atingiu o auge na década de 70, se esgotou no início dos anos 80 e nada se fez em toda essa década no sentido de reestruturar a economia brasileira em novas bases. 26 A década de 1980 foi caracterizada pela consolidação da crise fiscal brasileira, iniciada na década anterior com as políticas desenvolvimentistas. O Brasil, por sua vez, teve sérias dificuldades na rolagem de sua dívida e, por isso, no mesmo ano iniciou uma série de negociações com o FMI, que exigiu um superávit comercial de US$ 6 bilhões, uma taxa de inflação de 90% e um corte de 50% no déficit público. O governo brasileiro, por sua vez, atendendo a essas exigências, desvalorizou em 30% o cruzeiro em 1983, produzindo superávits comerciais (PIZAIA et al., 2008). Embora tivesse concordado em atender às exigências do FMI, Baer (1996) ressalta que o governo brasileiro já tinha iniciado um pacote de medidas ortodoxas. Este, por sua vez, causou uma menor expansão dos agregados monetários em relação à taxa de inflação, diminuiu o déficit público através do corte de gastos e do aumento de impostos e fez declinar o nível dos salários. Segundo Bresser-Pereira (2003), a maxidesvalorização, que fora uma medida de contenção, aumentou as taxas de inflação de 100% para 180%. O desemprego também aumentou, e o país entrou numa recessão. O Brasil passava por uma crise estrutural, com estagnação da renda por habitante, drástica redução da capacidade de poupar e investir, que gerava baixo crescimento do PIB, além de crescentes taxas de inflação. Para o autor, a diminuição das taxas de investimento estava ligada à transferência de reservas para o exterior. As divisas geradas pelos saldos comerciais positivos eram usadas para pagar os serviços crescentes da dívida externa, causando diminuição da poupança nacional. Segundo Bresser-Pereira (2003), a crise que atingiu os países da América Latina, em especial o Brasil, durante a década de 80, é explicada pelo crescimento excessivo e distorcido do Estado, pelo esgotamento da estratégia de intervenção e pela crise fiscal pela qual passou o setor público. O modelo desenvolvimentista adotado pelo Brasil, que tivera amplo sucesso no desenvolvimento econômico do país nos anos anteriores, por fim, esgotou-se. Uma sucessão de planos econômicos (p.ex. Plano Collor I e II) foram implantados sem sucesso no início dos anos 90. Medidas severas, como aumento das taxas de juros, congelamento de preços e confisco bancário não foram suficientes para eliminar a inflação, que tinha aspectos inerciais. O processo de abertura comercial, iniciado discretamente em 1987 com a revisão do sistema tarifário, foi consolidado com a gradual diminuição de tarifas comerciais. A proteção média caiu de 32,2% em 1990 para 14% no ano de 1994 (BRESSER-PEREIRA, 1998). Isso, 27 por sua vez, teve conseqüências diretas nas relações comerciais do Brasil. O coeficiente médio de importação da indústria passa de 4,5% em 1989 para 9,2%, em 1993, e o coeficiente de exportação passa de 8,8% para 12,5% no mesmo período (FRANCO, 1999). O período de 1994 a 1999 foi caracterizado pela introdução do Plano Real, cujo mérito principal foi acabar com as altas taxas de inflação. O período de abertura econômica após a implantação do Plano Real foi marcado também pela retomada da entrada de investimento direto estrangeiro (IDE), devido, em sua maioria, ao processo de privatização e à estabilização econômica. Após o ano de 1999, houve a troca do regime de câmbio fixo para o regime de câmbio flutuante, a adoção de metas de inflação e de superávits fiscais primários, o que resultou em uma taxa de juros real menor que a do período anterior. O câmbio se desvalorizou substancialmente e se tornou mais volátil. Isso, acrescido do aumento da demanda e dos preços internacionais das commodities, proporcionou superávits comerciais freqüentes (FERRARI FILHO; PAULA, 2006). Segundo Nukui (2003), nesse período, o complexo agroindustrial brasileiro viveu sua plena fase de expansão econômica. Baseando-se nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Nukui ressalta que o setor agropecuário, o elo à montante do complexo agroindustrial, apresentou um crescimento econômico de 16,8% no período de 1999 até 2001, contra 2,4% do setor industrial e 7,4% no setor de serviços, sendo assim, o setor agroindustrial comandou o crescimento do país que foi de 6,8% neste período. Isto evidencia a partir daí a importância do agronegócio para o Brasil. Ressalta ainda que houve um aumento em valor das exportações brasileiras (131,6%) para a China e de 15,7% para a Coréia do Sul entre 1999 e 2003. O comércio exterior brasileiro ao longo das últimas duas décadas não apresentou uma ascendência notória com relação à participação no comércio mundial (medido como a relação das exportações totais do Brasil sobre as exportações mundiais) como evidenciado pela China. Pelo contrário, o Brasil apresentou ciclos de expansão e contração das suas exportações, principalmente devido às conjunturas políticas e econômicas internas aliadas às políticas cambiais e monetárias, que tiveram impacto direto na balança comercial brasileira. Apesar disso, a partir de 1999, com a adoção do regime de câmbio flutuante e o aumento das exportações do agronegócio brasileiro, nota-se uma tendência de aumento na participação, que passou de 0,86%, em 1999, para 1,40% em 2008 (Figura 3). 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 1.8% 1.6% 1.4% 1.2% 1.0% 0.8% 0.6% 0.4% 0.2% 0.0% 1984 Participação (em %) 28 Figura 3. Evolução da participação do comércio brasileiro no comércio mundial, período de 1984-2008. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do COMTRADE/WITS, 2009. No que se refere ao grau de abertura da economia, ou seja, a soma das exportações e das importações anuais sobre o PIB, tal coeficiente apresentou queda e ligeira estabilização num patamar abaixo de 15% até o ano de 1999. Nesse momento houve a transição do modelo fechado dos últimos 40 anos, para um regime mais aberto do ponto de vista comercial, financeiro e de investimento. Foram reduzidas as barreiras às importações, o mercado financeiro foi desregulamentado e foram eliminadas restrições institucionais a uma maior participação do capital estrangeiro em investimentos em setores de infra-estrutura (Figura 4). A partir de 1999 o grau de abertura da economia segue numa trajetória de crescimento até o ano de 2004, atingindo 23,96%, a partir daí estabiliza-se em torno de 21%, muito devido US$ Bilhões ao crescimento do PIB acima da corrente de comércio para os anos de 2005 e 2006. 400 30% 350 25% 300 20% 250 200 15% 150 10% 100 5% 50 Corrente de Comércio 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 0% 1984 0 Grau de Abertura da Economia Figura 4. Grau de Abertura da Economia e Corrente de Comércio para o Brasil no período de 1984-2008. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do COMTRADE/WITS e BANCO MUNDIAL, 2009. 29 A corrente de comércio brasileira, ou seja, o somatório das exportações e importações apresentou aumento (Figura 4). Crescendo em média 9,07% ao ano fez com que o montante inicial de US$ 42 bilhões, em 1984, passasse, aproximadamente, para cerca de US$ 370 bilhões, em 2008. Em suma, o Brasil, desde os anos 60, vem adotando uma política multilateral de comércio exterior, tornando-se, nos anos 80, um global trader. No início dos anos 90, iniciou um programa de abertura comercial externa, retirou paulatinamente muitos dos incentivos às exportações enquanto, pelo lado das importações, extinguiu as barreiras não tarifárias e reduziu gradualmente suas tarifas ad valorem (GUIMARÃES, 1999, 1997). 3.2. Comércio Internacional 3.2.1. Comércio Chinês Desde o final dos anos 1990, com a superação dos efeitos negativos da crise asiática, e tendo como pano de fundo a intensificação de seu processo de abertura econômica, a China experimentou um notável crescimento de seu comércio exterior. Em 2003, a China iniciou uma trajetória crescente de suas exportações, culminando em 2007 (US$ 1,21 trilhões), quando ultrapassou os Estados Unidos (US$ 1,14 trilhões) e tornou-se a segunda nação que mais exporta no mundo4. Mais recentemente, em 2008, o país manteve seu notório market-share nas exportações mundiais, continuando a ser o segundo maior exportador do mundo, com o montante de US$ 1,42 trilhões, atrás somente da Alemanha com US$ 1,46 trilhões, e também o terceiro maior país importador atingindo US$ 1,13 trilhões, atrás da Alemanha com US$ 1,20 trilhões e dos Estados Unidos com US$ 2,15 trilhões (WITS, 2009). Os maiores parceiros comerciais da China, considerando a participação no total das exportações chinesas no ano de 2008, foram os Estados Unidos (17,69%), Hong Kong (13,35%) e Japão (8,13%), segundo os dados do COMTRADE (2009) (Figura 5). 4 Considerando a União Européia desagregada em seus países membros. 30 17.69% Estados Unidos Hong Kong Japão 43.46% Coréia 13.35% Alemanha Holanda Reino Unido 8.13% Rússia 5.17% 2.31% Outros países 2.52% 4.14% 3.21% Figura 5. Market-share dos principais parceiros comerciais da China no ano de 2008 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do COMTRADE, 2009. Com relação à balança comercial chinesa, as importações cresceram em média 16,25% por ano, entre 1984 e 2008, e as exportações cresceram em média 17,58% por ano, no mesmo Exportações Importações 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 -200 1984 US$ Bilhões (FOB) período, de acordo com os dados do COMTRADE (2009) (Figura 6). Balança Comercial Figura 6. Balança Comercial Chinesa de 1984 a 2008, US$ Bilhões FOB. Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados do WITS/COMTRADE (2009). O crescimento do comércio internacional chinês é decorrente de diversos fatores, entre eles, podemos destacar o crescimento da competitividade dos produtos chineses, o que promove uma expansão de seu market-share no mercado internacional. Visando liberalizar o comércio na China, o governo reduziu obstáculos administrativos para aumentar a atratividade de investidores estrangeiros. Em contrapartida, a China aumentou as suas exportações para a União Européia, Estados Unidos, Coréia do Sul, 31 Hong Kong e Japão. À medida que o país prospera, o nível de vida melhorou e, portanto, aumentou a quantidade de importações ultramarinas, principalmente do Japão, da União Européia, Coréia do Sul e Taiwan (PRASAD, 2004). Além disso, segundo Lai (2004), o montante de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) aumenta a cada ano, o que permite que a China utilize os fundos para a promoção de novas indústrias, bem como de indústrias de alta tecnologia, fábricas avançadas, conservação de energia e do meio ambiente. As trocas comerciais da China com o mundo consistem, essencialmente, em maquinarias, roupas e equipamentos diversos de alta tecnologia. A entrada maciça de IDE tem permitido um aumento significativo da exportação de produtos com maior valor agregado. De acordo com os dados da tabela 4, em 2007, os dez maiores produtos exportados pela China ao mundo representam produtos de alto valor agregado, somando em conjunto cerca de 20,79% do total da pauta chinesa exportadora. Tabela 4. Ranking dos 10 principais produtos exportados pela China e participação percentual na pauta total de exportação chinesa em 2007. Ranking HS (2002)* 1º 84.71.30 2º 85.25.20 3º 84.73.30 4º 85.42.21 5º 84.71.60 6º 85.17.90 7º 90.13.80 8º 85.17.80 9º 84.71.41 10º 84.43.59 Top 10 Descrição do Produto Máquinas automáticas para processamento de dados Aparatos transmissores incorporadores Partes e acessórios das máquinas da posição 84.71 Circuitos integrados eletrônicos digitais Máquinas automáticas, etc. Partes de aparelhos de telefonia Outros dispositivos, de cristais líquidos, etc. Outros aparelhos telefônicos Máquinas automáticas (central de processamento) Outras Máquinas e aparelhos de impressão Participação 4.37% 2.97% 2.65% 1.94% 1.78% 1.75% 1.64% 1.54% 1.12% 1.04% 20.79% Nota: *Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias de 2002 (HS 2002, 6dígitos); Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do WITS (COMTRADE, 2008). Em termos de importações, cabe realçar que a China é atualmente a segunda maior importadora mundial de petróleo. O rápido processo de industrialização que o país está a atravessar tornou-o um voraz consumidor de matérias-primas. Outra característica da pauta de importação chinesa é a grande demanda também por produtos de tecnologia, sendo alguns 32 utilizados como matérias-primas para agregação de valor e outros para consumo interno (XIAOXI, 2003). Em 2007, de acordo com os dados da tabela 5, podemos observar a participação dos produtos derivados do petróleo (10,99%5), de matérias-primas e commodities (6,07%6) e principalmente de produtos de maior valor agregado (20,98%7) dentre os dez principais produtos importados pela China. Vale ressaltar a participação da soja, que vem crescendo na pauta chinesa, sendo um item básico que faz parte dos hábitos alimentares de sua população, uma vez que é utilizado na fabricação do "tofu", "shoyu" e do óleo de cozinha (MORTATTI; MIRANDA, 2008). A entrada da China na OMC gerou mudanças significativas no mercado internacional de soja, uma vez que possibilitou um maior acesso ao mercado chinês e limitou os subsídios do governo chinês aos produtores domésticos (PINTO FILHO; ALENCAR, 2006). Tabela 5. Ranking dos principais produtos importados pela China e participação percentual na pauta total de importação chinesa em 2007. Ranking HS (2002)* 1º 85.42.21 2º 27.09.00 3º 90.13.80 4º 26.01.11 5º 27.10.19 6º 12.01.00 7º 84.71.70 8º 84.79.89 9º 84.73.30 10º 74.03.11 Top 10 Descrição do Produto Circuitos integrados eletrônicos digitais Óleos de petróleo e outros betuminosos, etc. Outros dispositivos, de cristais líquidos, etc. Minérios de ferro, não aglomerados, etc. Outros óleos de petróleo ou betuminosos Soja em grão Máquinas automáticas com unidades de memória Outras máquinas e aparelhos mecânicos etc. Partes e acessórios das máquinas da posição 84.71 Cobre refinado, cátodos e seus elementos Participação 13.45% 9.20% 3.86% 3.57% 1.79% 1.32% 1.24% 1.24% 1.19% 1.18% 38.04% Nota: *Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias de 2002 (HS 2002, 6dígitos); Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do WITS (COMTRADE, 2008). 5 Somatório de HS 27.09.00, 27.10.19. Somatório de HS 12.01.00, 26.01.11 e 74.03.11. 7 Somatório de HS 84.71.70, 84.79.89, 84.73.30, 85.42.21 e 90.13.80. 6 33 3.2.2. Comércio Brasileiro Apesar de ter dado, ao longo da década de 90, um salto qualitativo na produção de bens agrícolas, com reformas comandadas pelo governo federal, a pauta de exportação brasileira foi diversificada, com uma inclusão de bens de alto valor agregado como jóias, aviões, automóveis e peças de vestuário. Um dos instrumentos de apoio do governo são as agências fomentadoras de negócios, como a Agência de Promoção de Exportações (APEX), que tem como objetivo implementar a política de promoção comercial das exportações estabelecida pela Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). Com o engessamento dos avanços da ALCA, causado pelo protecionismo americano, insistindo em fortes subsídios e ainda através de impedimentos não alfandegários como as barreiras sanitárias e fitossanitárias, o Brasil vem intensificando relações com novos blocos econômicos. É o caso da aproximação com os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN)8, e também, de acordos bilaterais que possam dar vazão aos seus produtos tradicionais e que abram espaço para novos. Os maiores parceiros comerciais do Brasil (participação no total das exportações brasileiras), no ano de 2008, foram os Estados Unidos (13,81%), a Argentina (8,94%) e a República Popular da China (8,33%), segundo os dados do COMTRADE (2009) (Figura 7). 13.81% Estados Unidos Argentina 8.94% China Holanda 51.14% 8.33% Alemanha Japão 5.32% 2.42% 4.49% 3.11% Chile Itália Outros países 2.43% Figura 7. Market-share dos principais parceiros comerciais do Brasil no ano de 2008. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do COMTRADE, 2009. 8 A ASEAN é formada por Birmânia, Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã. 34 Em 2008, o país ocupou a 19ª posição entre os maiores exportadores do mundo, com US$ 196 bilhões, já com relação às importações, o Brasil ocupou a 21ª posição no ranking mundial, importando um total de US$ 173 bilhões (COMTRADE, 2009). Com relação à balança comercial brasileira com o mundo, figura 8, esta apresentou saldos negativos entre os anos de 1995 e 1999, decorrentes de apreciações na taxa de câmbio em conseqüência da política macroeconômica que caracterizou o Plano Real. Essa tendência mudou a partir de 2000, quando a balança comercial brasileira passou a acumular superávits. No período de 2000 até o ano de 2008, as importações cresceram em média 10,21% por ano e US$ Bilhões (FOB) as exportações, 8,27% por ano. 250 200 150 100 50 0 Exportações Importações 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 1984 -50 Balança Comercial Figura 8. Balança Comercial Brasileira de 1960 a 2008, US$ Bilhões FOB. Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados do WITS/COMTRADE (2009). A pauta de exportação brasileira com o mundo, em termos de produtos, é relativamente concentrada em matérias-primas e artigos do agronegócio. De acordo com a tabela 6, esses produtos representaram, somados cerca de 24,54%9 da pauta comercial brasileira em 2007. Porém, o Brasil também exporta carros e aviões, notadamente executivos e de passageiros, produzidos pela Embraer, sendo que somados representaram cerca de 4,41%10 da pauta comercial brasileira total no ano de 2007 (Tabela 6). 9 Somatório de HS 27.09.00, 26.01.11, 12.01.00, 26.01.12, 09.01.11, 17.01.11, 23.04.00 e 47.03.29. Somatório de HS 88.02.40 e 87.03.23. 10 35 Tabela 6. Ranking dos 10 principais produtos exportados pelo Brasil e participação percentual na pauta total de exportação brasileira em 2007. Ranking 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º Top 10 HS (2002)* 27.09.00 26.01.11 12.01.00 88.02.40 26.01.12 09.01.11 87.03.23 17.01.11 23.04.00 47.03.29 Descrição do Produto Óleos de petróleo e outros betuminosos, etc. Minérios de ferro, não aglomerados, etc. Soja em grão Aviões e outros veículos aéreos Minérios de Ferro, aglomerados, etc. Café, não descafeinado Automóveis de passageiros, etc. Açúcar bruto de cana-de-açúcar Resíduos da extração do óleo de soja, etc. Pastas químicas de madeira de não coníferas Participação 5.66% 4.52% 4.27% 2.39% 2.19% 2.15% 2.02% 1.99% 1.88% 1.87% 28.95% Nota: *Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias de 2002 (HS 2002, 6dígitos); Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do WITS (COMTRADE, 2008). Já com relação às importações, em 2007 se destacaram os óleos, derivados de petróleo e gás natural, 16,15% (HS 27.09.00, 27.10.19e11 e 27.11.21), produtos de maior valor agregado, 7,04% (HS 85.42.21e17.90, 87.03.23 e 30.04.90), matérias-primas da indústria e do agronegócio, 2,59% (HS 74.03.11 e 31.04.20), dentre os 10 primeiros. (Tabela 7). Tabela 7. Ranking dos 10 principais produtos importados pelo Brasil e participação percentual na pauta total de importação brasileira em 2007. Ranking HS (2002)* 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º Top 10 27.09.00 27.10.19 85.42.21 87.03.23 27.10.11 85.17.90 30.04.90 74.03.11 31.04.20 27.11.21 Descrição do Produto Óleos de petróleo e outros betuminosos, etc. Outros óleos de petróleo ou betuminosos, etc. Circuitos integrados eletrônicos digitais Automóveis de passageiros, etc. Óleos de petróleo leve e preparações Partes de aparelhos de telefonia Outros medicamentos misturados ou não, etc. Cobre refinado, cátodos e seus elementos Adubo (fertilizante) - cloreto de potássio Gás natural Participação 9.94% 3.33% 2.46% 1.70% 1.64% 1.47% 1.41% 1.35% 1.24% 1.24% 25.78% Nota: *Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias de 2002 (HS 2002, 6dígitos); Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do WITS (COMTRADE, 2008). 36 3.2.3. Comércio Brasil-China Na última década o comércio bilateral Brasil-China evoluiu consideravelmente. Entre o período de 1984 a 2008, as importações brasileiras de produtos chineses aumentaram, em média, 16,57% ao ano, enquanto as exportações, 15,43% ao ano. No período de 1999 até 2003, a China foi responsável por 15,4% do destino total das exportações brasileiras (Miranda et al., 2007). Diversos fatores devem ter contribuído para essa tendência. Em 1999, houve a adoção da taxa de câmbio “flexível suja” pelo Brasil, e, em 2001, a China ingressou como país-membro da OMC. De fato, nota-se um crescimento significativo das exportações brasileiras para a China a partir de 2001. Vale ressaltar que em período mais recente, a velocidade de crescimento das importações brasileiras da China com relação à velocidade das exportações tem aumentado, ou seja, o Brasil passou a importar mais US$ Bilhões (FOB) produtos da China do que exportar para esse país, conforme evidenciado na figura abaixo. 25 20 15 10 5 0 Exportações Importações 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 1984 -5 Balança Comercial Figura 9. Balança Comercial Brasil-China de 1984 a 2008, US$ Bilhões FOB. Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados do WITS/COMTRADE (2009). Uma análise das principais mercadorias transacionadas entre as economias do Brasil e da China aponta que nos primórdios da década de 1980-90 o Brasil exportava para a China principalmente produtos manufaturados e importava basicamente matéria-prima agrícola, minerais e metais e seus derivados. Contudo, ao longo dos anos este quadro foi se alterando, tanto em função da crescente necessidade chinesa de bens de consumo e do processo ainda em andamento de urbanização, como pela melhoria da sua economia, que cada vez mais se industrializava. Como resultado, 37 observa-se que nos últimos anos o Brasil tornou-se um importador de equipamentos industrializados, manufaturados e exportador de commodities, como grãos de soja e minério de ferro (Figuras 10 e 11). 100% 80% 60% 40% 20% 0% 1990 1995 2000 Metais e Minerais + Matéria-Prima Agrícola 2005 2006 Manufaturados Figura 10. Categorias exportadas pelo Brasil para a China, período selecionado (valores em %). Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados do WITS/COMTRADE (2008), segundo a classificação SITC Rev. 1 (Standard International Trade Classification). 100% 80% 60% 40% 20% 0% 1990 Manufaturados 1995 2000 2005 2006 Metais e Minerais + Matéria-Prima Agrícola Figura 11. Categorias importadas pelo Brasil da China, período selecionado (valores em %). Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados do WITS/COMTRADE (2008), segundo a classificação SITC Rev. 1 (Standard International Trade Classification). Com relação à estrutura do perfil do comércio bilateral atual entre esses países, observa-se uma situação bem distinta e contrastante, no que se diz respeito à sua composição. A composição das exportações chinesas para o Brasil inclui uma grande parcela de produtos industrializados, em sua grande maioria produtos de alto valor agregado, sendo que, em 2006, cerca de 69,46% dessas exportações compreenderam máquinas, aparelhos elétricos, materiais têxteis, produtos de indústrias químicas ou das indústrias conexas. Já no perfil de exportação do Brasil para a China constata-se exatamente o contrário, com predominância de 38 produtos de baixo valor agregado, sendo que, em 2006, cerca de 72,08% dos produtos foram matérias-primas vegetais e minerais (COMTRADE, 2008). Ainda no que se diz respeito ao comércio entre esses dois países, analisando a pauta em seu maior nível de detalhamento, ou seja, no nível de produtos HS 2002, 6-dígitos, observa-se uma concentração ainda maior pautada em um número muito pequeno de produtos no ano de 2007. No caso das exportações brasileiras para a China, há o predomínio de dois produtos em particular, minério de ferro11 e soja em grão, respectivamente, com 34,55% e 26,37%, da participação no total da pauta, somados representam 60,92% de tudo o que o Brasil exportou para a China em 2007 (Tabela 8). É valido ressaltar que os dez principais produtos exportados pelo Brasil para a China representaram 83,49% de todos os bens que o Brasil exportou para esse país em 2007. Tabela 8. Ranking dos principais produtos exportados do Brasil para a China e sua participação percentual no total dessa pauta em 2007. Ranking HS (2002)* 1º 26.01.11 2º 12.01.00 3º 27.09.00 4º 26.01.12 5º 47.03.29 6º 15.07.10 7º 24.01.20 8º 41.04.11 9º 72.02.93 10º 74.03.11 Top 10 Descrição do Produto Minérios de ferro, não aglomerados, etc. Soja em grão Óleos de petróleo e outros betuminosos, etc. Minérios de ferro, aglomerados, etc. Pastas químicas de madeira de não coníferas Óleo de soja bruto, mesmo degomado Tabaco total ou parcialmente destalado Couros e peles curtidos, plena flor, não divididos; etc. Ferroligas, ferronióbio Cobre refinado, cátodos e seus elementos Participação 29.04% 26.37% 7.82% 5.51% 3.59% 2.89% 2.52% 1.97% 1.92% 1.86% 83.49% Nota: *Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias de 2002 (HS 2002, 6dígitos); Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do WITS (COMTRADE, 2008). Ao utilizar valor agregado como base de análise, os produtos básicos representaram cerca de 73,8% da pauta exportadora brasileira para a China, seguidos dos semimanufaturados, com 18%, e dos manufaturados, com 8,2% (Figura 12). 11 Somatório HS 26.01.11 e 26.01.12. 39 18.00% Básicos 8.20% Manufaturados Semimanufaturados 73.80% Figura 12. Exportação brasileira para a China por fator agregado (2007) Fonte: Elaborado pelo autor com base nos critérios do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MIDIC, 2008). Com relação às barreiras tarifárias do comércio sino-brasileiro, podemos notar que os 10 principais produtos exportados pelo Brasil não são objetos de elevadas tarifas de importação por parte da China. Entre os dez principais produtos, o tabaco total ou parcialmente destalado (HS 24.01.20) é o produto sobre o qual incide o maior imposto de importação (10%), seguido pelo óleo de soja bruto, mesmo degomado (HS 15.07.10) com 9% e pelos couros e peles curtidos, plena flor, não divididos; divididos, com a flor (HS 41.04.11) que são alvo de uma tarifa de 6,33% (Figura 13). 12.00 10.00 10.00 9.00 8.00 6.33 6.00 4.00 2.40 1.76 1.00 2.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 26.01.11 12.01.00 27.09.00 26.01.12 47.03.29 15.07.10 24.01.20 41.04.11 72.02.93 74.03.11 Figura 13. Tarifa efetivamente aplicada (AHS) pela China sobre os 10 principais produtos importados do Brasil, média simples, WTO/CMT, em porcentagem (2006). Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados do WITS (TRAINS, 2008). No caso das importações brasileiras da China há um evidente predomínio de produtos de alto valor agregado para a indústria e indústrias conexas de alta tecnologia. 40 Num âmbito geral os produtos consistem em máquinas, aparelhos de telefonia, de automação, têxteis, vestuário, coque etc. As importações brasileiras da China são menos concentradas em número de itens tarifários, sendo que os dez principais produtos somaram, em 2007, cerca de 27,26% do total dessa pauta comercial (Tabela 9). Tabela 9. Ranking dos principais produtos importados pelo Brasil da China e sua participação percentual no total dessa pauta em 2007. Ranking HS (2002)* 1º 85.17.90 2º 90.13.80 3º 84.73.30 4º 85.42.21 5º 85.29.90 6º 84.71.70 7º 85.17.80 8º 27.04.00 9º 95.03.90 10º 84.43.59 Top 10 Descrição do Produto Partes de aparelhos de telefonia Outros dispositivos, de cristais líquidos, etc. Partes e acessórios das máquinas da posição 84.71 Circuitos integrados eletrônicos digitais Outras partes destinadas aos aparelhos 85.25 a 85.28. Máquinas automáticas com unidades de memória Outros aparelhos telefônicos Coques e semicoques, mesmo aglomerados, etc. Triciclos, patinetes e outros de rodas; Outras Máquinas e aparelhos de impressão Participação 6.59% 4.03% 3.74% 2.64% 1.89% 1.86% 1.86% 1.63% 1.52% 1.48% 27.26% Nota: *Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias de 2002 (HS 2002, 6dígitos); Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do WITS (COMTRADE, 2008). Tendo como base de classificação os bens em categorias agregadas, a importação brasileira da China, no ano de 2007, foi composta de cerca de 96,7% de bens manufaturados, já os básicos representaram 2,5% e semimanufaturados 0,8% (Figura 14). 0.80% 2.50% Manufaturados Semimanufaturados Básicos 96.70% Figura 14. Importação brasileira da China por fator agregado (2007) Fonte: Elaborado pelo autor com base nos critérios do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MIDIC, 2008). 41 Já com relação às barreiras tarifárias aplicadas pelo Brasil aos dez principais produtos importados da China, podemos observar uma incidência relativamente maior de impostos sobre os principais produtos comercializados nessa pauta, tanto em termos de freqüência de incidência quanto dos níveis das alíquotas aplicadas. De acordo com a figura 15, o produto alvo de maior tarifa efetiva aplicada, entre os dez principais produtos comercializados entre Brasil e China, são os triciclos, patinetes e outros brinquedos semelhantes de rodas; (HS 95.03.90) com 20%. 25.00 20.00 20.00 14.00 14.00 15.00 8.57 9.00 10.00 4.67 5.00 5.20 4.26 1.07 0.00 0.00 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 85.17.90 90.13.80 84.73.30 85.42.21 85.29.90 84.71.70 85.17.80 27.04.00 95.03.90 84.43.59 Figura 15. Tarifa efetivamente aplicada (AHS) pelo Brasil sobre os 10 principais produtos importados do China, média simples, WTO/CMT, em porcentagem (2006). Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados do WITS (TRAINS, 2008). 3.3. Barreiras Tarifárias e Não-Tarifárias A seguir, serão descritas sumariamente algumas das principais barreiras comerciais aplicadas pela China ao comércio internacional, procurando dar ênfase aos setores, produtos, normas e temas que mais têm impacto sobre os produtos brasileiros. No âmbito geral, a entrada da China na OMC, em 2001, fez com que o país se comprometesse a implementar reformas para reduzir as barreiras ao comércio e a facilitar acesso a seu mercado dos produtos e serviços importados de membros da OMC. Em conseqüência, a China revogou e alterou várias leis, regulamentos e outras medidas protecionistas. Nesse contexto, a China foi obrigada a eliminar o sistema de quotas e aplicar normas internacionais para testes básicos, remover exigências de conteúdo nacional e dar transparência a regimes de licenciamento e registros. O país asiático fez progressos também 42 com reformas, revisões de regulamentos e exigência de conteúdo local (MIDIC, 2008). A China reduziu suas barreiras tarifárias, como p.ex., podemos citar a redução da tarifa média aplicada (AHS) incidente sobre a soja mesmo triturada (HS 12.01.00) de 140% para 2,4% (WITS/TRAINS, 2008). A influência das empresas estatais chinesas no comércio, principalmente de commodities agrícolas, na forma da China National Cereals, Oils and Foodstuffs Import and Export Company (COFCO) tem marcado o cenário da política agrícola da China por diversos anos. Dada a prevalência que a China tem nos mercados mundiais, não foi surpresa de que tal influência foi um dos principais aspectos para a entrada do país na OMC. Mas, apesar das tentativas do protocolo de acesso da OMC de limitar (ou diluir) as influências das trocas estatais, a COFCO ainda tem um potencial significativo de controle sobre ambas às exportações e importações de diversas commodities de acordo com McCorriston; MacLauren (2007). Entretanto, apesar dessas mudanças, muitas práticas continuam a distorcer o comércio exterior chinês. A quarentena, p.ex., imposta pela aduana, pode atrasar navios com produtos agrícolas não chineses. Ela se baseia em regulamentos sanitários e fitossanitários elaborados a partir de bases científicas dispersas e regulamentos questionáveis sobre a importação de commodities agrícolas (MIDIC, 2008). Portanto, apesar das quedas tarifárias ainda há grandes dificuldades para o exportador brasileiro vender ao mercado chinês. Um exemplo dessa dificuldade é o sistema de preços nesse país (NUKUI, 2003). Em relação aos produtos agrícolas, 9,1% são fixados pelo Estado, 7,1% são orientados e 83,3% são determinados pelo mercado, segundo o Departamento de Negociações Internacionais da Secretaria de Comércio Exterior do Brasil (DEINT, 2002). A base legal das tarifas de importação chinesa é a Lei da Alfândega e seus regulamentos. O esquema tarifário encontra-se no regulamento de tarifas de importação e exportação, promulgado pelo Decreto nº 392 do Conselho de Estado em 23 de novembro de 2003 e em vigor desde 1º de janeiro de 2004. De acordo com a UNCTAD (1998), há 69 picos tarifários na China, entre os quais estão alguns produtos de interesse ao agronegócio brasileiro como a soja, os óleos de soja, de amendoim e do girassol. 43 Ademais, é válido citar também as barreiras não-tarifárias às importações impostas pela China, como quotas, licenças para importar, políticas de substituição de importações, além de certificações restritivas e padrões de quarentena. Em sua análise Nukui (2003) ressalta (i) a falta de transparência na valoração aduaneira, dificultando as importações na China; (ii) a necessidade excessiva de licença de importação específica; (iii) a inspeção aduaneira, podendo o produto estar sujeito a diferentes tarifas de importação dependendo do porto; (iv) restrições quantitativas; (v) proibição de importação de vestuário usado, animais e plantas com doenças ou provenientes de áreas infectadas, qualquer material impresso (meio magnético, fotográfico ou filme) que possa causar efeitos maléficos aos interesses políticos, econômicos, culturais e morais do povo chinês; (vi) monopólio importador, pois somente as firmas com direito a comercializar podem importar ou exportar bens para a China, sendo que produtos agroindustriais como grãos, algodão e óleos vegetais são importados principalmente por empresas de comércio estatais. De acordo com a Embaixada da República Popular da China no Brasil em setembro de 2007 a China notificou à OMC a adoção de 63 barreiras técnicas comerciais (BTC) para proteger a saúde pública e o meio ambiente no país. A atual legislação chinesa referente a medidas sanitárias e fitossanitárias pode ser resumida de acordo com a tabela 10. Tabela 10. Principais medidas sanitárias e fitossanitárias da legislação chinesa Principais Medidas Sanitárias e Fitossanitárias Lei sobre a Quarentena de Entrada e Saída de Fauna e Flora Lei sobre a Higiene Alimentar Lei sobre a Prevenção de Enfermidades Animais Regulamento sobre Quarentena Fitossanitária Lei sobre Inspeção de Mercadorias de Importação e de Exportação Lei sobre Saúde em Fronteira e Quarentena Fonte: Elaborado pelo autor com base nos critérios do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MIDIC, 2008). Algumas consultas de países junto à OMC envolvendo a China dizem respeito ao uso dos regulamentos sanitários e fitossanitários como barreiras comerciais, visto que eles não são apoiados em evidências científicas sólidas. 44 Além dessas descritas acima, destaca-se também que, desde 1997, a China pode impor direitos antidumping e medidas compensatórias às importações que ameacem ou causem danos à indústria doméstica (DEINT, 2002). 3.4. Perspectivas Desde sua formalização em 1974, as relações sino-brasileiras apresentam-se marcadas por uma característica importante no sistema internacional contemporâneo: o fato destas relações unirem dois importantes países do mundo em desenvolvimento (conceito G20). A importância desse fato cresce na medida da percepção pela liderança de ambos os estados de que “convergências no plano mais alto da política internacional” devem orientar a política externa do Brasil e da China no sentido da preservação da paz e segurança mundial, do respeito aos princípios de autodeterminação e de não-interferência em assuntos internos de cada país, e da plena aceitação das diferenças existentes na comunidade internacional (CABRAL FILHO, 2005). Segundo Cabral Filho (2005), a transformação ocorrida na China depois da era Mao, com a ascensão em 1978 da liderança de Deng Xiaoping, o arquiteto geral da reforma e da abertura chinesa, veio aprofundar a percepção de que Brasil e China tinham interesses comuns na criação de um ambiente internacional pacífico, estável e favorável ao desenvolvimento. A primeira visita de um presidente brasileiro à China, de João Baptista Figueiredo, em 1984, deu inicio ao dialogo sino-brasileiro entre as suas maiores lideranças políticas. A segunda visita presidencial, depois de ter sido instaurada a Nova República, foi realizada em 1988, pelo Presidente José Sarney. A visão de uma China inteiramente dedicada ao esforço de construção de uma economia nacional desenvolvida encontrava forte acolhida na concepção brasileira de que este constitui o principal desafio para o conjunto dos países em desenvolvimento. No essencial essa percepção não se alterou nem mesmo com as profundas mudanças advindas na situação internacional pós Guerra-Fria. A nova geração de líderes que ascendeu ao poder depois de 1989, liderada por Jiang Zemin, sinalizava para uma rápida consolidação da reforma e abertura da China com o aprofundamento da concepção desenvolvida por Xiaoping da “teoria do socialismo com peculiaridades chinesas”. Não apenas procurava manter as linhas gerais da política do Estado como reafirmava algumas relações nucleares de cooperação e intercâmbio com os países em desenvolvimento (CABRAL FILHO, 2005). 45 Nessa construção, estratégica para futuro do mundo no século XXI, o Brasil e a China teriam o potencial nacional para agregarem esforços e alicerçarem o fundamento de uma nova ordem internacional. O Brasil e a China, pois, estão estruturalmente inseridos neste contexto de mudanças globais, no qual algumas tendências parecem ser ameaçadoras para seus objetivos comuns de sustentação de projetos econômicos de desenvolvimento e de busca da estabilidade e unidade interna. No entanto, segundo Cabral Filho (2005), ambos os países deverão implementar soluções econômicas e políticas destinadas a enfrentar a realidade atual, sendo desafiados a desenvolver-se para atingir padrões mais altos de riquezas e poderio nacional. 46 4. METODOLOGIA 4.1. Modelos de Comércio Internacional O uso de funções de importação e exportação para averiguar o comportamento do comércio entre os países busca compreender os efeitos de alterações das políticas macroeconômicas e comerciais das nações sobre o comércio entre elas. Na literatura, encontram-se trabalhos bem fundamentados que buscaram teorizar sobre as especificações das equações de comércio internacional. Utiliza-se com freqüência a construção de modelos para produtos específicos ou para o agregado da pauta. Entre os trabalhos que tratam da estimação dessas funções podem ser citados, destacadamente: Leamer; Stern (1970), Goldstein; Khan (1978), Pinto (1980), Braga; Markwald (1983), Zini Jr. (1988), Castro; Cavalcanti (1997), Cavalcanti; Ribeiro (1998), Onunkwo; Epperson (1999), Senhadji; Montenegro (1999), Carvalho; Negri (2000), Miranda (2001), Barros et al. (2002), Mauch Palmeira (2005), Hatemi-J; Irandoust (2005), Satolo (2006), Wijeweera et al. (2007), Vika (2008) e Capitani (2009). Em geral, segundo Leamer; Stern (1970) o estudo empírico das funções de importações e exportações tem sido amplamente discutido desde 1940, principalmente no período entre guerras, quando foram realizadas várias estimativas utilizando a metodologia de Mínimos Quadrados, dando destaque para o papel das políticas comerciais destas funções e suas implicações nos programas de ajustes estruturais na economia. O autor menciona duas formulações teóricas para o cenário geral que especifica as equações de comércio exterior. A primeira corresponde ao modelo para um país pequeno, em que o volume de comércio do país depende de suas condições internas, assumindo que se defronta com uma função de demanda por suas exportações infinitamente preço-elástica. Portanto, a representação gráfica das funções de comércio exterior para este país seria semelhante à esquematizada na figura 16. Neste caso, as condições internas do país deverão definir a quantidade exportada, dado um preço internacional vigente no mercado internacional, exógeno, para o país. Na figura as quatro curvas de Se indicam a oferta de exportações do país considerando-se diferentes situações domésticas; De é a demanda por suas exportações por parte de seu mercado importador, que define o preço exógeno, recebido pelos exportadores p*; e as diferentes quantidades q* indicam quantidades exportadas de equilíbrio, para as diferentes situações de oferta doméstica. 47 P Se1 Se2 Se3 p* Se4 De q*1 q*2 q*3 q*4 Q Figura 16. Representação esquemática das funções de oferta e demanda por exportação para um país pequeno. Fonte: Elaborado pelo autor Segundo Zini Jr. (1988), na literatura sobre comércio internacional, costumava-se trabalhar também com a hipótese de oferta de exportação infinitamente preço-elástica, e a análise relevante passaria a ser a estimação da função de demanda por exportações. O autor considera questionável esta hipótese, já que o país teria que ter uma tecnologia de produção com retornos constantes de escala ou um excesso considerável de capacidade instalada. Leamer; Stern (1970) consideram que, à exceção desse caso, a oferta de exportação possivelmente é uma função positiva dos preços. Cabe mencionar que a hipótese da demanda por exportações infinitamente elástica também sofre críticas, particularmente quando se considera que existem restrições ao comércio limitando o acesso dos fornecedores externos aos mercados domésticos. Este é um ponto bastante relevante quando se considera, p.ex., o mercado de produtos do agronegócio, de maior valor agregado, ou de produtos com alto grau de protecionismo. Zini Jr. (1988) comenta que as funções de demanda e de oferta de exportação podem ser especificadas assumindo que os produtos importados não são substitutos perfeitos para os bens domésticos. Isso permite estimar as elasticidades-preço finitas para a oferta e demanda por exportação. O autor explica que o modelo de substitutos perfeitos é adequado quando se tratam de mercados de bens homogêneos. Assim, a segunda abordagem apresentada pelo autor é a do modelo competitivo de dois países, no qual se abandonam as hipóteses de elasticidades infinitas. Neste caso, o 48 volume e o preço negociado são explicados por quatro funções: a oferta e a demanda por exportação e a oferta e a demanda por importação. A Figura 17 ilustra as curvas de oferta e demanda por exportações para um país em relação ao seu mercado comprador, em que Se é a oferta de exportações do país considerado, De é a demanda por suas exportações por parte de seu mercado importador, q* é a quantidade de equilíbrio e p* é o preço de equilíbrio. P Se p* De q* Q Figura 17. Representação esquemática das funções de oferta e demanda por exportação em um mercado com substituição imperfeita de bens. Fonte: Elaborado pelo autor Assim, é possível estimar elasticidades-preço finitas tanto para oferta quanto para demanda de exportáveis e importáveis. Já o modelo de substitutos perfeitos aplica-se ao comércio com bens homogêneos, tais como as commodities: neste caso, parte-se da oferta e demanda mundiais e infere-se a elasticidade de cada país, considerando a sua participação no comércio (Goldstein; Khan, 1978). Zini Jr. (1988) estimou elasticidades de exportação e de importação para o Brasil, de modo consistente, por grupos de bens, em um trabalho que se tornou referência nesse tema. O autor identifica que a oferta de exportação brasileira para o comércio do Brasil é preçoelástica e diminui com o aumento da capacidade instalada no país, para o período analisado de 1970 a 1986. Já a demanda externa por exportações e a demanda interna por importações mostraram baixas elasticidades-preço e altas elasticidades-renda, para o mesmo período, para produtos agrícolas, minerais e industrializados. Goldstein; Khan (1978) realizaram a análise da função de exportação através de dois modelos: um modelo de equilíbrio entre a quantidade de exportação demandada e ofertada e um modelo de desequilíbrio com mecanismo de ajustamento parcial (Barros et al, 2002). 49 Segundo Satolo (2006), a partir de Pinto (1980) e Braga; Markwald (1983), os estudos passaram a envolver a hipótese de que preço e quantidade de exportações seriam melhor representados por um modelo simultâneo. Contudo, esses estudos não testavam adequadamente as especificações estruturais do modelo (CAVALCANTI; RIBEIRO, 1998). Zini Jr. (1988) explica que tanto o método de Máxima Verossimilhança de Informação Plena, utilizado por Goldstein; Khan (1978), quanto o método de Mínimo Quadrado de Três Estágios, utilizado por Braga; Markwald (1983), resultam em estimadores assintoticamente eficientes. Para o autor, no entanto, esses métodos devem ser reservados para situações em que o pesquisador tem bastante confiança quanto à especificação do modelo, já que, conforme exposto por Johnston (1977), seus resultados são muito sensíveis ao erro de especificação. Outro estudo de destaque foi realizado por Castro; Cavalcanti (1997), em que foram estimadas equações de importação e exportação totais por fator agregado e desagregadas por categoria de uso, para o Brasil. Os autores utilizaram valores anuais (em dólar), o que se diferencia de outros trabalhos que optaram pela utilização de índices de preços e quantidade. Consideraram o período entre 1955 e 1995. Após a constatação da não-estacionariedade das séries analisadas no trabalho, os autores realizaram um teste de co-integração entre as variáveis e ajustaram o modelo através de um mecanismo de correção de erros. Os autores, ainda, simularam alguns cenários com projeções de crescimento das exportações e importações para o período entre 1996 a 2000, considerando o crescimento do PIB e da taxa de câmbio real sobre o saldo comercial brasileiro. Os resultados revelaram que depreciações na taxa de câmbio real são mais eficientes para uma redução no déficit comercial. Outro fator importante trata-se da verificação empírica se as desvalorizações cambiais causam respostas positivas nas transações de comércio internacional. De acordo com Marçal et al (2005), a resposta do câmbio real a uma desvalorização nominal se constitui no indicador mais simples e imediato do sucesso de uma política de desvalorização cambial. Em segundo lugar, é preciso verificar se os fluxos comerciais respondem a preços relativos da maneira esperada. Ou seja, é preciso verificar se as importações e exportações, mediante uma desvalorização cambial, respectivamente se reduzem e/ou aumentam, de modo que o saldo da balança comercial evolua para uma situação superavitária (trata-se da validade da condição de Marshall-Lerner). Segundo Backus et al. (1994) a condição de Marshall-Lerner é a ligação mais comum entre a teoria de comércio e a macroeconomia aberta. Na teoria de comércio esta condição de 50 elasticidades12 sobre as funções de demanda e oferta de importações e exportações determina a direção de muitos exercícios de estática comparativa e serve como uma condição de estabilidade para o modelo. Na macroeconomia aberta a mesma condição é usada para estabelecer uma associação positiva entre a balança comercial e os termos de troca. Esta condição tenta responder quais os efeitos de uma variação dos preços relativos sobre os fluxos de comércio, mantendo as rendas interna e externa constantes. Assim, pensando sempre do ponto vista da influência de tais preços sobre o comércio internacional de um país pode-se verificar as implicações destes preços relativos quando se usa um modelo com dois países e é possível relaxar a hipótese de elasticidade infinita da oferta. Já Carvalho; Negri (2000) estimaram as equações para os quantum de produtos agropecuários importados e exportados pelo Brasil, trimestralmente, concluindo-se que as importações de produtos agropecuários se mostraram altamente dependentes da taxa de câmbio real e da taxa de utilização da capacidade doméstica instalada. Já as exportações brasileiras desses produtos foram influenciadas basicamente pelo nível de atividade mundial e, em menor grau, pela taxa de câmbio real. Partindo da abordagem de excedentes de oferta e de demanda, Miranda (2001), estimou as equações de vendas externas de carne bovina brasileira. A autora analisou o comércio com a União Européia e com os Estados Unidos, buscando identificar os efeitos de barreiras não-tarifárias sobre o comércio do produto. Novamente, a taxa de câmbio real mostrou-se uma variável bastante relevante para influenciar os volumes exportados. No trabalho de Barros et al. (2002) foram estimadas as funções de oferta de exportação de produtos agropecuários para o Brasil, considerado o período de 1992 a 2000. Os autores apresentaram um modelo teórico, baseado no trabalho de Miranda (2001), especificando modelos econométricos, ajustados para diferentes produtos, nos quais a equação de oferta de exportação é derivada das funções de oferta e de demanda internas. Os autores acima referidos atestaram, de modo geral, que os impactos do crescimento da economia brasileira sobre as exportações do agronegócio mostraram-se expressivos, confirmando a impressão de que a contenção do crescimento doméstico contribui para que 12 A implicação direta da condição de Marshall-Lerner é que, dada uma desvalorização cambial, com as rendas internas e externas mantidas constantes, o saldo comercial melhora quando a soma destas duas elasticidadespreço for maior do que a unidade. 51 maiores volumes sejam exportados. A taxa de câmbio mostrou ser também importante fator determinante das exportações do agronegócio brasileiro, sendo as exportações de soja (e seus derivados) e açúcar as mais influenciadas pelo câmbio. Em relação ao preço externo, açúcar e soja são de novo os produtos mais afetados, ao lado de carne industrializada. Os preços domésticos tenderam a refletir o desempenho de nossa produção em face da demanda interna, e as exportações de açúcar foram as mais sensíveis ao comportamento do mercado interno. No trabalho de Hatemi-J; Irandoust (2005) foi realizada uma análise explorando as elasticidades de longo prazo do comércio bilateral entre Suécia e os seus seis maiores parceiros comerciais, no período de 1960 a 1999. Os autores estimaram as elasticidades do comércio através do método de cross section com dados em painel, percebendo que o comércio bilateral da Suécia com os seus parceiros comerciais é altamente sensível às mudanças na renda e menos sensível às flutuações das taxas de câmbio real. Mauch Palmeira (2005) com um foco em um mercado geográfico específico, estudou o comércio do Brasil com o MERCOSUL, estimando as funções de demanda de exportação e importação para os países-membros do bloco e verificou que mudanças na renda da Argentina e Uruguai afetam as exportações brasileiras, mudanças na renda do Brasil exercem influência nas importações provenientes da Argentina e não exercem influência nas importações brasileiras provenientes do Uruguai e que as políticas cambiais brasileiras não influenciam no que diz respeito às importações da Argentina e do Uruguai. A apresentação das funções de exportação e importação para o Brasil teve como objetivo o de identificar e avaliar a relevância das principais variáveis que afetam este comércio. Wijeweera et al. (2007) analisou em seu trabalho o impacto das políticas de liberalização do comércio sobre as exportações desagregadas de Bangladesh, no período de 1973 a 2004, aos seus principais parceiros comerciais. Como resultados principais, o autor verificou que a elasticidade-renda de exportação estimada obtida foi positiva e elástica para a França, Alemanha e Estados Unidos, indicando que, na medida em que, o crescimento econômico ocorre nesses países as exportações de Bangladesh crescerão numa taxa maior. Numa perspectiva política, tal fato sugere que um contínuo monitoramento do ciclo de negócios nesses países pode identificar oportunidades no aprimoramento da posição do balanço de pagamentos do país. Já para as relações comerciais de Bangladesh com o Reino Unido e Bélgica foi obtido uma elasticidade-renda de exportação positiva, porém inelástica. 52 Já Vika (2008), em seu estudo, usou um modelo de correção de erros para estimar as elasticidades dos fluxos comercias da Albânia, com o objetivo principal de analisar a resposta de tais fluxos a variações na renda, preços relativos e taxas de câmbio. Os resultados empíricos mostraram que a renda real é a principal determinante dos fluxos comercias de longo prazo, particularmente das exportações, indicando que a Albânia pode se beneficiar potencialmente de políticas de promoção comercial. Além disso, mudanças nos preços relativos apresentaram maiores impactos do que as flutuações na taxa de câmbio. Também se pode verificar que a soma das elasticidades-preço estimadas (em termos absolutos) foi maior do que 1, indicando que, nesse caso, a condição de Marshall-Lerner foi satisfeita. Mais recentemente, Capitani (2009) analisou as relações comerciais no mercado de arroz com o Mercosul, propondo um modelo de compras externas, assumindo que as importações brasileiras de arroz são resultantes de um excesso de demanda doméstica pelo cereal, utilizando a metodologia VAR através do processo de Bernanke. A partir disso, pôdese verificar a existência de uma forte relação entre o volume importado com o preço doméstico de arroz, além de uma relativa importância na taxa de câmbio brasileira na explicação do padrão de importação do arroz pelo país. Após a revisão dos principais trabalhos que envolvem a modelagem do comércio internacional, podemos, dessa forma, verificar a ocorrência de nenhum trabalho estimando as funções de exportação para comércio bilateral do Brasil, em especial para o comércio BrasilChina, e desagregando por grandes categorias de produtos. A maior parte dos estudos tem apresentado um perfil de análise para o agregado do comércio, tanto na avaliação dos países parceiros quanto dos bens transacionados. Dessa forma, o modelo de comércio proposto no presente trabalho adotará as especificações de variáveis condicionantes à semelhança de Zini Jr. (1988), partindo do modelo econômico proposto originalmente por Miranda (2001) e reproduzido por Barros et al. (2002). Adicionalmente será adotada a metodologia de estimação proposta por Castro; Cavalcanti (1997). Portanto, o modelo proposto resulta da contribuição de tais autores. A estimação de funções de exportação para o comércio entre Brasil-China, analisando commodities (agrícolas e minerais) e produtos industriais possibilita compreender melhor os fatores que interferem nas transações e distinguir se seus efeitos são distintos em função de diferentes grupos de produtos. Deste modo, subsidiar a interpretação de possíveis resultados 53 de políticas de incentivos, que promovam alterações nas variáveis condicionantes, permitindo análises prospectivas sobre o comportamento desse comércio bilateral. 4.2. Banco de dados e descrição das variáveis A principal base de dados que será utilizada é a “World Integrated Trade Solution” (WITS), criado através do esforço conjunto do Banco Mundial com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). O WITS acessa e recupera informações sobre comércio e tarifas, originalmente compiladas pelas principais organizações internacionais como a Divisão de Estatísticas das Nações Unidas (UNSD) de comércio de commodities (COMTRADE), a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Também serão utilizadas outras bases estatísticas para coleta de dados, como as bases do Fundo Monetário Internacional (FMI), a do sistema AliceWeb do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a base de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipeadata), Banco Mundial (WDI), entre outras. O período de análise abrangerá os dados mensais, do comércio dos dois países, entre 1995 e 2008, totalizando 168 observações temporais para cada variável. A classificação das categorias dos produtos do sistema AliceWeb, tem como base a Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM), em bens industriais, minerais e agrícolas (tabela 12). Foram identificadas algumas agregações distintas entre produtos básicos, industriais e do agronegócio, encontradas na literatura, tais como as classificações internacionais das Nações Unidas, como a Broad Economic Category (BEC) e a Standard International Trade Classification (SITC), também a classificação do governo dos Estados Unidos, a Standard Industrial Classification (SIC), além da classificação da Organização Mundial do Comércio para os produtos do agronegócio. Neste trabalho, a proposta contida na tabela 12, resulta da agregação dos principais aspectos de classificação internacional de mercadorias. Os capítulos originais do agronegócio, estabelecidos pela OMC foram mantidos dentro da classificação do grupo “Agrícolas”, com exceção dos capítulos 44 e 45, que como já sofreram um primeiro processo de transformação, representando as obras de produtos básicas, foram considerados como parte do grupo de produtos “Industriais”. O capítulo 3 foi incluído na classificação dos produtos “Agrícolas”, pois representam peixes e crustáceos, moluscos e os outros invertebrados aquáticos. 54 No grupo “Minerais” foram incluídos os produtos das seções V, XIV e XV, representando os capítulos de 25 ao 27 e de 71 ao 83. Os demais produtos, tendo como base a SIC, foram considerados como do grupo “Industriais”, que são aqueles que já sofreram algum processo de transformação e não se enquadram nas categorias anteriores. Tabela 11. Classificação dos produtos da NCM em grupos: Agrícolas, Minerais e Industriais. Seção I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX XXI Descrição da Seção (NCM) Animais vivos e produtos do reino animal Produtos do reino vegetal Gorduras e óleos animais ou vegetais Produtos das indústrias alimentares; etc. Produtos minerais Produtos das indústrias químicas; etc. Plásticos e suas obras, borrachas e suas obras. Peles, couros e suas obras. Madeira, carvão vegetal e obras de madeira; etc. Pastas de madeira; papel ou cartão para reciclar, etc. Matérias têxteis e suas obras Calçado, chapéus e artefatos de uso semelhante. Obras de pedra, gesso, cimento etc. Pedras preciosas ou semipreciosas, metais preciosos, etc. Metais comuns e suas obras Máquinas e aparelhos, material elétrico, e suas partes. Material de transporte Instrumentos de óptica, médico-cirúrgicos; etc. Armas e munições; suas partes e acessórios. Mercadorias e produtos diversos Objetos de arte, de coleção ou antiguidades Capítulos (NCM) Classificação 1 ao 24 Agrícolas 25 ao 27 Minerais 28 ao 70 Industriais 71 ao 83 Minerais 84 ao 99 Industriais Fonte: Elaborado pelo autor com base na classificação da NCM, em adaptação das classificações internacionais da OMC para o agronegócio, das Nações Unidas (BEC e SITC) e do governo dos Estados Unidos (SIC). As variáveis do fluxo comercial entre os dois países, ou seja, as exportações brasileiras de produtos agrícolas, industriais e minerais, em quantum, respectivamente, QA, QI e QM, foram obtidas através do sistema AliceWeb do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2009). 55 Foram coletados dados de comércio para os capítulos de cada uma das categorias (Peso líquido em Kg) completando os 99 capítulos, numa série mensal de jan-1995 até dez- 350 14000 300 12000 250 10000 200 8000 150 6000 4000 100 2000 50 0 0 QA QM Milhões de Toneladas Métricas (MT), para QI 16000 Jan-95 Aug-95 Mar-96 Oct-96 May-97 Dec-97 Jul-98 Feb-99 Sep-99 Apr-00 Nov-00 Jun-01 Jan-02 Aug-02 Mar-03 Oct-03 May-04 Dec-04 Jul-05 Feb-06 Sep-06 Apr-07 Nov-07 Jun-08 Milhões de Toneladas Métricas (MT), para QA e QM 2008. As figuras abaixo ilustram a evolução dessas variáveis. QI Figura 18. Quantidade total das exportações brasileiras para a China de produtos agrícolas (QA), minerais (QM) e industriais (QI), em toneladas métricas (MT), meses de janeiro de 1995 a dezembro de 2008. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do MIDIC (AliceWeb). Os índices de preço relativos de exportação (PRA, PRM e PRI) foram obtidos junto à base de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipeadata) e junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), tais índices foram calculados através da razão entre os índices de preços externos e de preços internos. A figura abaixo ilustra a sua evolução: 1.4 Índice (2005=100) 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 Jan-95 Jul-95 Jan-96 Jul-96 Jan-97 Jul-97 Jan-98 Jul-98 Jan-99 Jul-99 Jan-00 Jul-00 Jan-01 Jul-01 Jan-02 Jul-02 Jan-03 Jul-03 Jan-04 Jul-04 Jan-05 Jul-05 Jan-06 Jul-06 Jan-07 Jul-07 Jan-08 Jul-08 0 PRA PRM PRI Figura 19. Índices de Preço Relativo de Exportação dos produtos agrícolas (PRA), minerais (PRM) e industriais (PRI), período base 2005=100, meses de janeiro de 1995 a dezembro de 2008. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Ipeadata e Fundo Monetário Internacional (FMI). 56 Para a variável renda (Y), foi utilizado como proxy o valor total das importações chinesas, obtida consultando os dados das Nações Unidas, COMTRADE (2009) (Figura 20). A taxa de câmbio real R$/Yuan (TX) foi calculada através da multiplicação da taxa de câmbio nominal “e” pela relação dos preços internacionais, tendo como referência a base de 3000 0.5 0.45 0.4 0.35 0.3 0.25 0.2 0.15 0.1 0.05 0 2500 2000 1500 1000 500 Taxa de câmbio Jun-08 Nov-07 Apr-07 Sep-06 Jul-05 Feb-06 Dec-04 May-04 Oct-03 Mar-03 Aug-02 Jan-02 Jun-01 Nov-00 Sep-99 Apr-00 Feb-99 Jul-98 Dec-97 Oct-96 May-97 Mar-96 Aug-95 Jan-95 0 Taxa de câmbio real R$/Yuan US$ Milhões (FOB) dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipeadata). (Figura 20). Proxy da Renda Figura 20. Proxy da Renda (Y) e taxa de câmbio real (TX), meses de janeiro de 1995 à dezembro de 2008. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Ipeadata e MIDIC (AliceWeb). Existem dois métodos para a estimação do PIB potencial. O primeiro é a estimação via função de produção, o segundo, utilizado pelo Banco Central do Brasil (BACEN)13, é baseado em técnicas estatísticas para a determinação da tendência do produto, a técnica mais utilizada é o filtro Hodrick-Prescott (1980) das séries temporais. Sendo assim, o produto potencial foi estimado através do filtro de Hodrick-Prescott sobre a série trimestral do PIB real do Brasil, tendo como base o sistema de Contas Nacionais do IBGE. Entre as razões para a utilização do filtro de Hodrick-Prescott (HP) está o fato de que é o filtro padrão na literatura de ciclos reais de negócios (COOLEY; PRESCOTT, 1995). O filtro HP busca extrair a tendência, que é considerada estocástica, mas com variações suaves ao longo do tempo e não correlacionadas com o ciclo, através da minimização com respeito a τt da seguinte expressão: T min xt − τt t=1 13 T−1 2 +λ τt+1 − τt − τt − τt−1 t=2 Relatório de Inflação de setembro de 1999. Vol.01, nº02, pag. 75. 2 (1) 57 Onde T é o tamanho da amostra e λ é um parâmetro que penaliza a variabilidade da tendência. λ é o parâmetro de suavidade com o qual se controla a aceleração do componente de tendência, isto é, as variações na taxa de crescimento do componente de tendência. Não há um método estatístico capaz de especificar qual o melhor λ e, na prática, através de investigações empíricas, costuma-se utilizar os valores λ=100, 1600 e 14400 para dados de freqüência anual, trimestral e mensal, respectivamente (ANGELIS, 2004). Assim, o índice de utilização da capacidade instalada (U) foi considerado como a relação entre o PIB real e o Potencial (Figura 21), tal indicador para ciclos domésticos é utilizado para captar os efeitos dos ciclos da demanda interna sobre a oferta de exportação. Segundo Zini Jr. (1988), durante os períodos de boom (aquecimento da economia, aumento de U), os produtores podem preferir suprir o mercado doméstico para preservar suas participações nesses mercados. Outros fatores tais como estrangulamentos setoriais, insuficiência nos transportes, armazenamento e equipamentos portuários podem se adicionar para reduzir a quantidade ofertada de exportação. Portanto, em teoria, espera-se uma relação inversa entre a utilização da capacidade instalada e a quantidade ofertada de exportação nos modelos estimados. 1.1 1.075 1.05 1.025 1 0.975 0.95 0.925 Jan-92 Aug-92 Mar-93 Oct-93 May-94 Dec-94 Jul-95 Feb-96 Sep-96 Apr-97 Nov-97 Jun-98 Jan-99 Aug-99 Mar-00 Oct-00 May-01 Dec-01 Jul-02 Feb-03 Sep-03 Apr-04 Nov-04 Jun-05 Jan-06 Aug-06 Mar-07 Oct-07 May-08 Dec-08 0.9 Índice da Utilização da Capacidade Instalada Figura 21. Índice da Utilização da Capacidade Instalada, meses de janeiro de 1995 à dezembro de 2008. Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados das Contas Nacionais (IBGE), banco de dados SIDRA. 58 4.3. Método de Estimação Em modelos de equações simultâneas há um viés importante a ser definido, referente ao problema de identificação. Segundo Gujarati (2006), tal problema se baseia na possibilidade de se obter, ou não, os parâmetros de uma equação estrutural a partir dos coeficientes estimados na forma reduzida. As condições de identificação por ordem e posto avaliam de modo consistente as características de identificação das equações, porém cabe ao autor avaliar se as variáveis são endógenas ou exógenas, o que por muitas vezes pode trazer uma estimação “viesada”. Desse modo podemos adotar duas abordagens para estimar as equações estruturais: (i) métodos de equação única, também conhecido como métodos de informação limitada; e (ii) métodos de sistemas, também conhecidos como métodos de informação completa. Nos métodos de equação única estimamos individualmente cada equação do sistema levando em conta quaisquer restrições impostas àquela equação sem nenhuma preocupação com as restrições impostas às outras equações no sistema. Nos métodos de sistemas, por outro lado, estimamos todas as equações no modelo simultaneamente, levando na devida conta todas as restrições impostas a essas equações pela omissão ou ausência de algumas variáveis, daí o nome métodos de informação completa. Segundo Gujarati (2006), para preservar o espírito de modelos de equações simultâneas, o ideal seria usar o método de sistemas, tal como o método de máxima verossimilhança de informação completa (full information maximum likelihood, FIML). Porém, na prática, a utilização desses métodos não é comum, por uma variedade de razões, entre elas, devido à enorme quantidade de cálculos e soluções com alta incidência de parâmetros não-lineares e, também, devido à fácil transmissão de erros de especificação às variáveis do sistema. Por causa da interdependência entre o termo de erro estocástico e a variável explanatória endógena, o Método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) é inapropriado para a estimação de uma equação em um sistema de equações simultâneas 14. Se aplicado erroneamente, os estimadores não somente são viesados como também inconsistentes. 14 Entretanto, há uma situação na qual o método de MQO pode ser aplicado com propriedade, mesmo no contexto de equações simultâneas. Esse é o caso dos modelos recursivos, triangulares ou causais (BUENO, R. L. S., 2008). 59 Para uma equação estrutural apenas identificada, ou exatamente identificada, o método de obtenção das estimativas dos coeficientes estruturais pelas estimativas de MQO dos coeficientes de forma reduzida, conhecido como o método dos mínimos quadrados indiretos (MQI), gera estimadores consistentes e não-tendenciosos. Porém, quando se configura o quadro de superidentificação em uma das equações do modelo, o Método de MQI não é adequado, e deve ser descartado em favor de outros métodos. O melhor a ser adotado em casos como esse é o Método de Mínimos Quadrados em dois Estágios (MQ2E), desenvolvido por Theil (1953) e Basmann (1957). Entretanto, Sims (1980) aponta diversas críticas aos modelos de equações simultâneas, onde este é estimado através de sua identificação, que muitas vezes pode ser obtida com inclusão de variáveis de forma subjetiva. Para Sims (1980), todas as variáveis devem ser tratadas de forma simultânea e simetricamente. Com a intenção de superar eventuais problemas na identificação do modelo, usualmente utiliza-se da modelagem de Vetores Auto-Regressivos (VAR), tal estimação se assemelha a do modelo de equações simultâneas clássico, no sentido de que devemos considerar diversas variáveis endógenas em conjunto. Entretanto, cada variável endógena é explicada por seus valores defasados e pelos valores defasados de todas as demais variáveis endógenas do modelo; em geral, não há variáveis exógenas nestes modelos. A utilização da metodologia VAR possibilita a obtenção da variância dos impactos para n períodos à frente e permite: (i) avaliar o comportamento das variáveis em resposta às inovações individuais em quaisquer dos componentes do sistema, podendo-se, entretanto, analisar, através de simulação, efeitos de eventos que tenham alguma probabilidade de ocorrer; (ii) decompor, historicamente, a variância dos erros de previsão para n períodos à frente, possibilitando a análise de cada choque, ocorrido no passado, na explicação dos desvios dos valores observados das variáveis em relação a sua previsão realizada no início do período. Para a realização dos procedimentos estatísticos no presente trabalho foi utilizado o software WinRats (Regression Analysis of Time Series), em sua versão 6.2. 60 4.4. Econometria de Séries Temporais Modelos econométricos em geral, utilizados para descrever séries temporais são processos estocásticos, isto é, processos controlados por leis probabilísticas (MORETTIN, 2004). Quando se delimita um período de tempo para o qual se pretende analisar o comportamento desta variável, tem-se o que é conhecido como estudo de uma amostra ou estudo de uma realização particular de um processo estocástico subjacente. Tal realização é conhecida como série temporal, ou seja, um conjunto de observações de uma variável ao longo de um intervalo de tempo que expressa uma realização particular do comportamento dessa variável. É a partir desta realização que se busca realizar inferências sobre as características do processo estocástico subjacente. A teoria econômica faz uso de modelos teóricos e empíricos que fazem referência ao comportamento temporal de diferentes variáveis, sejam elas consideradas individual ou coletivamente. Sendo assim, foram desenvolvidas técnicas estatísticas que permitem estimar tais modelos, ou seja, que permitem estimar os valores de parâmetros que captem a relação existente entre as séries temporais utilizadas em uma análise. Um dos problemas é que análises econométricas, principalmente, envolvendo séries temporais, pressupõem que as mesmas possuam determinadas características, sem as quais as técnicas estatísticas conduziriam a estimativas não confiáveis. Mais especificamente, exige-se que uma determinada série temporal possua a característica de ser estacionária. De maneira geral, pode-se dizer que uma série temporal é (fracamente) estacionária se sua média, variância e autocovariância permanecem as mesmas independentemente do período de tempo em que sejam medidas (GUJARATI, 2006). Neste caso, a série temporal é dita como sendo um processo integrado de ordem zero [processo I(0)]. Caso contrário, a série temporal é chamada de não-estacionária, sendo conhecida como processo integrado de ordem d [processo I(d)], sendo d o número de vezes que a série original deve ser diferenciada para que se torne um processo I(0). Castro; Cavalcanti (1997), Portugal (1992) e Carvalho; Parente (1999), em trabalhos empíricos recentes relacionados a comércio exterior, constataram que as séries econômicas relacionadas às estimações de equações de comércio são, em geral, integradas de ordem 1. As séries não-estacionárias não têm média e variância constantes ao longo do tempo, logo não há dados suficientes para estimá-las. Por outro lado, podemos definir que se uma série temporal Yt for considerada estacionária, ela apresentará as seguintes propriedades: 61 Média: E(Yt) = μ (2) Variância: var(Yt) = E(Yt - μ)² = σ² (3) Covariância: γk = E[(Yt - μ)(Yt+k - μ)] (4) Em que γk , a covariância (ou autocovariância) na defasagem k, é a covariância entre os valores de Yt e Yt+k , ou seja, entre dois valores Y separados por k períodos. Conforme Mills (1993), a suposição de estacionariedade deve ser feita para tornar possíveis as inferências estatísticas sobre o processo estocástico de uma variável, realizado a partir de uma realização particular (série temporal). O risco que se corre ao se empreender uma análise de regressão usando-se séries temporais não-estacionárias é que podem ser obtidos altos valores do Coeficiente de Determinação (R2) sem que necessariamente haja uma relação significativa entre as variáveis. Tal fato pode ocorrer devido à possível presença de tendência nos dados, gerando o que se conhece na literatura como “regressão espúria” (GRANGER, C. W. J.; NEWBOLD, P. 1974). Quando isso acontece, os testes estatísticos t e F para análise da significância dos coeficientes estimados podem não ser confiáveis e fornecer resultados enganosos. 4.4.1. Teste de raiz unitária Percebe-se, portanto, a necessidade de que sejam empreendidos testes formais para a verificação da estacionariedade das séries temporais envolvidas na análise. Por conseguinte, diversos estudos trataram de estabelecer procedimentos para verificar a ordem de integração de uma série temporal. A discussão dessa literatura pode ser encontrada em Hendry (1986), Campbell; Perron (1991), Hamilton (1994), entre outros. Dentre os procedimentos existentes os de Fuller (1976), complementados pelos de Dickey-Fuller (1979; 1981), tem sido bastante utilizados. Porém, considerando os problemas de baixo poder e distorção de tamanho dos tradicionais testes Augmented Dickey-Fuller (ADF), Phillips-Perron (PP) e Kwiatkowski, Phillips, Schmidt e Shin (KPSS), amplamente apontados na literatura sobre o assunto15, serão aplicados testes mais robustos. O teste que será adotado na presente monografia é o teste ERS ou DF-GLS (Elliott, Rothenberg, and Stock, 1996), que foi desenvolvido a partir da linhagem ADF e permite um estudo adequado da presença de componentes deterministas, tal teste propõe uma modificação 15 Veja, por exemplo, Maddala e Kim (2003), que apresentam uma boa revisão desta literatura. 62 simples ao aplicar o teste ADF à série temporal previamente filtrada de seus componentes deterministas. 4.4.2. Teste de cointegração Os testes de raiz unitária levam em conta apenas o comportamento individual de uma determinada série temporal, desconsiderando as possíveis influências mútuas que trajetórias de longo prazo de séries temporais distintas possam ter uma sobre as outras. A análise destas influências pressupõe a existência de um equilíbrio de longo prazo entre elas, conceito este desenvolvido por Engle e Granger (1987). Consideremos um processo envolvendo k variáveis (Y1t, Y2t,...,Ykt) e seja Yt o vetorcoluna com os valores dessas variáveis no tempo t. De acordo com Hoffmann (2006), essas k variáveis são cointegradas de ordem (d, c) se todas as k variáveis são I(d) e existe um vetorcoluna β, com β ≠ 0, tal que Yt´β é I(d-c), com c > 0. Em outras palavras, a ordem de integração da combinação linear Yt´β é menor do que a ordem de integração (d) das variáveis em Yt. O vetor β é denominado vetor de cointegração. Supondo um sistema bivariado nas variáveis yt e xt, integradas de ordem 1. Engle e Granger propõem uma metodologia a três passos para determinar se essas variáveis são cointegradas de ordem 1 “CI(1,1)”. A metodologia consiste em executar o teste de raiz unitária nas variáveis de interesse e certificar-se de que são I(d), em seguida estimar a relação de longo prazo obtendo o termo de erro estimado e por último realizar o teste ADF sobre os resíduos, conforme a equação abaixo: p−1 Δut = αut−1 + λi+1 Δut−i + vt (9) i=1 Se a hipótese nula de raiz unitária dos resíduos não for rejeitada, as variáveis não serão cointegradas. Em contraste, a rejeição da hipótese nula implica que as variáveis são cointegradas, pois os resíduos serão estacionários. Se duas variáveis têm ordem de integração diferente, qualquer combinação linear entre elas resultará em uma variável cuja ordem de integração será a de maior ordem. Em outras palavras, a ordem de integração da variável de maior ordem domina a da variável de menor ordem (BUENO, 2008). Esse fato sugere a necessidade de as variáveis serem de mesma ordem para haver cointegração. 63 Porém em um modelo em que o número de variáveis endógenas é maior do que 2, nem todas as variáveis precisam ter a mesma ordem de integração para existir cointegração. Segundo Campbell e Perron (1991) é preciso ter pelo menos duas variáveis integradas de mesma ordem máxima de integração entre todas as variáveis, para existir cointegração. O método proposto por Engle e Granger, para análise das relações de cointegração, possui algumas limitações. Esse teste é usado apenas no caso de única relação de equilíbrio, ou seja, único vetor de cointegração. Quando existir mais de uma variável explicativa, existirão outras relações de equilíbrio e, portanto, esse teste não será o mais adequado. Assim sendo, o mais indicado é o procedimento de Johansen (1991). Johansen (1991) parte do seguinte modelo de auto-regressão vetorial (VAR): 𝑦𝑡 = 𝜇 + Γ1 𝑦𝑡−1 + ⋯ + Γ𝑝 𝑦𝑡−𝑝 + 𝜀𝑡 (10) Após uma série de transformações algébricas, a equação acima pode ser escrita como: 𝑝−1 Δ𝑦𝑡 = Φ𝑦𝑡−1 + Φ𝑖 Δ𝑦𝑡−𝑖 + 𝜀𝑡 (11) 𝑖=1 Onde temos que: 𝑝 Φ=− Ι− 𝑝 Γ𝑖 𝑒 Φi = − 𝑖=1 𝑗 (12) 𝑗 =𝑖+1 O número de vetores de cointegração é igual ao rank da matriz Φ, obtida a partir da estimação do sistema representado pela equação 12. Para identificar o número de vetores de cointegração, Johansen (1991) propõe duas estatísticas: 𝑛 𝜆𝑡𝑟𝑎𝑐𝑒 𝑟 = −Τ ln 1 − 𝜆𝑖 (13) 𝑖=𝑟+1 𝜆𝑚𝑎𝑥 𝑟 = −Τ ln 1 − 𝜆𝑟+1 (14) Sendo que: 𝜆𝑖 = os valores estimados das raízes características obtidas da matriz Φ estimada; e Τ = número de observações utilizadas na estimação da equação 12. A primeira estatística (Estatística do Traço) testa a hipótese nula de que o número de vetores de cointegração distintos é menor ou igual a r, contra a hipótese alternativa de que ele é maior que r. A última estatística (Estatística do Máximo Autovalor) testa a hipótese nula de que o número de vetores de cointegração é r, contra a hipótese alternativa de que o número de 64 vetores é r + 1. Os valores críticos de λtrace e λmax podem ser obtidos em MacKinnon, Haug e Michelis (1999). Geralmente, adota-se apenas uma das estatísticas anteriormente descritas. Os resultados do teste dependem do número de lags (Δyt–i) incluídos no lado direito da equação 21. Para escolha do número de lags (Δyt-i) incluídos do lado direito da equação 12, Enders (2004) propõe que sejam estimados modelos VAR de diferentes ordens para as variáveis em nível objeto do teste, e seja escolhido o número de defasagens igual à ordem do modelo com os menores valores para os critérios Schwarz (SC) e Hannan-Quinn (HQ). 4.4.3. Modelos de Auto-Regressão Vetorial A metodologia dos modelos de vetores auto-regressivos (VAR) foi proposta como alternativa aos modelos estruturais multiequacionais e teve avanço significativo na década de 80 (ENGLE; GRANGER, 1987; CAMPBELL; SHILLER, 1987). No início do desenvolvimento da metodologia VAR, Sims (1980) e Litterman (1979; 1986) abordaram esta concepção como sendo mais apropriada à previsão do que modelos de equações simultâneas. De um lado, o VAR é simplesmente uma forma reduzida de sobreposições de algumas regressões do modelo simultâneo (HAMILTON, 1994 apud VAN DOORNIK, 2007). Do outro lado, uma das virtudes do VAR é que se torna mais clara a decisão de quais variáveis contemporâneas são exógenas, sendo que tal modelo tem variáveis predeterminadas do lado direito das equações e todas as variáveis são endógenas. Sendo assim, os modelos VAR examinam relações lineares entre cada variável e os valores defasados dela própria e de todas as demais variáveis, impondo como restrições à estrutura da economia somente: (i) a escolha do conjunto relevante de variáveis e do (ii) número máximo de defasagens envolvidas nas relações entre elas. Nos modelos VAR, o número de defasagens é normalmente escolhido com base em critérios estatísticos, como os de Akaike (AIC) ou Schwarz (SC). Contudo, segundo Hamilton (1994), a metodologia VAR convencional é limitada ao fato de possuir uma estrutura recursiva para as relações contemporâneas entre suas variáveis. O autor ressalta, porém, que esta limitação é superada através do modelo VAR estrutural, desenvolvido por Sims (1986) e Bernanke (1986), que permite o estabelecimento de relações contemporâneas, tomando a teoria econômica como referência. A identificação do modelo VAR estrutural, segundo Enders (2004), é definida através 65 da imposição de (n²-n)/2 restrições, que indicará o máximo de relações contemporâneas permitidas a inserir na matriz B0. Assim, um modelo teórico estabelecido, e que indique as restrições a serem impostas às relações contemporâneas entre as variáveis, deve ser utilizado a fim de se obter identificação no modelo empírico. O modelo VAR estrutural é representado como: 𝐵0 𝑥𝑡 = 𝐵1 𝑥𝑡−1 + 𝐵2 𝑥𝑡−2 + ⋯ + 𝐵𝑝 𝑥𝑡−𝑝 + 𝑒𝑡 (15) Onde xt é um vetor com variáveis de interesse; Bj são matrizes (n x n) para qualquer j, com B0 sendo a matriz de relações contemporâneas e; et é um vetor n x 1 de choques ortogonais, onde seus componentes são não correlacionados serialmente, e adota-se a suposição de que eles não têm causa comum, sendo tratados como mutuamente não correlacionados. A equação 15 também pode ser representada como: 𝐵 𝐿 𝑥𝑡 = 𝑒𝑡 (16) Em que B(L) é tratado como um polinômio em L, sendo L o operador de defasagem. A forma reduzida da equação (16) é obtida pré-multiplicando pela inversa de B0: 𝐴 𝐿 𝑥𝑡 = 𝑢𝑡 (17) Onde A(L)=B0-1.B(L), A0=In e ut=B0-1.et. A partir disso, estima-se a equação (17) pelo Método de Mínimos Quadrados (MQO). Utilizando-se do procedimento de Bernanke (1986) podem-se estimar os coeficientes, a partir da maximização do logaritmo da função de verossimilhança. A aplicação de um modelo VAR permite analisar empiricamente qual a participação de cada uma das variáveis no entendimento das alterações ocorridas nas outras (análise de decomposição da variância) ou a resposta de uma variável em relação à ocorrência de um choque ou inovação em outro componente (análise das funções de Impulso-Resposta). Segundo Enders (2004), quando um estudo visa a obter funções impulso-resposta e a decomposição da variância, é preciso utilizar-se de choques estruturais, havendo assim, a necessidade de impor restrições sobre a matriz de relações contemporâneas de modo a tornar o sistema identificado. 4.4.3.1. Função Impulso-Resposta A Função de Impulso-Resposta parte do princípio de que choque na i-ésima variável não apenas afeta diretamente os valores da i-ésima variável, mas também é transmitido para todas as outras variáveis endógenas através de uma estrutura dinâmica (defasada) dentro do 66 sistema VAR. Em outras palavras, a FIR mostra qual será o comportamento das variáveis ao longo do tempo quando algum dos resíduos sofrer uma modificação no seu valor (choques exógenos) (Enders, 2004). Portanto, a FIR pode ser considerada como uma simulação para o comportamento de um VAR ao longo do tempo, diante de um choque em algum dos resíduos (Oliveira, 2002). 4.4.3.2. Análise de Decomposição da Variância do erro de previsão A análise de decomposição da variância, por sua vez, objetiva explicitar a importância relativa de cada variável do modelo para explicação da variância dos resíduos de cada uma das demais variáveis. Sua importância está na identificação das relações de causalidade entre as variáveis existentes no VAR. Caso um choque exógeno nos resíduos de determinada variável não explicar nenhuma parcela dos demais resíduos, conclui-se que esta variável é exógena ao modelo (Oliveira, 2002). 4.5. Modelo Proposto O modelo de comércio que será estimado no presente trabalho é baseado no modelo econômico proposto originalmente por Miranda (2001), em que variáveis de oferta e demanda são consideradas determinantes para o fluxo comercial, já que se assume que este resulta de um excedente de oferta (exportação) ou de demanda (importação). É adotada a metodologia de Auto-Regressão Vetorial com correção de erro (VEC), empregada por Castro; Cavalcanti (1997). Portanto, o modelo é uma adaptação dos autores mencionados acima. Serão estimados três modelos VEC, sendo um para cada tipo de agregação de produto (agrícolas, industriais e minerais), conforme abaixo: Tabela 12. Especificação dos modelos estimados Modelos Especificação Variáveis Agrícolas Modelo 1 QAt, Yt, Ut, TXt e PRAt Industriais Modelo 2 QIt, Yt, Ut, TXt e PRIt Minerais Modelo 3 QMt, Yt, Ut, TXt e PRMt Fonte: Elaborado pelo autor. Onde as variáveis QA, QI e QM, representam as exportações em quantum para a China, respectivamente de produtos agrícolas, minerais e industriais. As variáveis PRA, PRI e PRM representam os preços relativos de exportação, respectivamente de cada produto 67 supracitado. A taxa de câmbio real (R$/Yuan) é representada pela variável TX. O grau de utilização da capacidade instalada, U, representa o índice de ciclos domésticos, e a variável Y é uma proxy para a renda chinesa (importações totais da China). Foi considerado o seguinte modelo VAR, segundo Enders (2004): 𝑝 𝐴0 𝑥𝑡 = 𝛼 + 𝐴𝑖 𝑥𝑡−𝑖 + 𝐴𝜀𝑡 (18) 𝑖=1 Onde A0 é uma matriz 5x5 que define as restrições contemporâneas entre as cinco variáveis endógenas que constituem o vetor 5x1, denominado xt. O termo α é um vetor 5x1 de constantes, Ai são matrizes 5x5. A é uma matriz diagonal 5x5 de desvios-padrão e εt é um vetor 5x1 de perturbações aleatórias não correlacionadas entre si contemporânea ou temporalmente, isto é εt ~ i.i.d. (0;In). Na representação matricial, se p=1, temos: 1 𝑎21 𝛼0 𝑎11 𝑎12 𝑥(1𝑡,1) . 𝑥 = 𝛼 + 𝑎 1 (1𝑡,2) 1 21 𝜎𝑥 1𝑡,1 𝑎12 𝑥(1𝑡,1)−1 . + 𝑎22 𝑥(1𝑡,2)−1 0 0 𝜎𝑥 1𝑡,2 𝜀𝑥 (1𝑡,1) . 𝜀 𝑥 (1𝑡,2) A equação (18) expressa as relações entre as variáveis endógenas, freqüentemente decorrentes de um modelo econômico teoricamente estruturado, e por isso chama-se de forma estrutural. Os choques εt são denominados choques estruturais porque afetam individualmente cada uma das variáveis endógenas. Os choques estruturais são considerados independentes entre si porque as inter-relações entre um choque e outro são captadas indiretamente pela matriz A0. Logo, a independência dos choques dá-se sem perda de generalidade. Conforme os modelos econômicos propostos definiram-se três diferentes vetores para cada conjunto de variáveis (agrícolas, industriais e minerais): 𝑥1𝑡 = 𝑄𝐴𝑡 , 𝑌𝑡 , 𝑈𝑡 , 𝑇𝑋𝑡 , 𝑃𝑅𝐴𝑡 ′ 𝑥2𝑡 = 𝑄𝐼𝑡 , 𝑌𝑡 , 𝑈𝑡 , 𝑇𝑋𝑡 , 𝑃𝑅𝐼𝑡 (19) ′ 𝑥3𝑡 = 𝑄𝑀𝑡 , 𝑌𝑡 , 𝑈𝑡 , 𝑇𝑋𝑡 , 𝑃𝑅𝑀𝑡 (20) ′ (21) Conjuntamente, foram definidas as matrizes de relações contemporâneas de cada modelo, a especificação genérica da mesma segue abaixo: 𝑄! 𝑌 𝑈 𝑇𝑋 𝑃𝑅! 1 0 𝐴0 = 0 0 0 𝑎12 1 0 0 0 𝑎13 0 1 0 0 𝑎14 0 0 1 0 𝑎15 0 0 0 1 (22) 68 Em que ! representa as diferentes especificações das variáveis em cada modelo, sendo agrícolas=A, industriais=I e minerais=M. Tal especificação sugere a relação contemporânea das variáveis Y, U, TX e PR! sobre a quantidade exportada Q!. Quando verificada a existência de cointegração entre as variáveis, o termo de correção de erro é introduzido no modelo VAR. Assim de (18) obtém-se: 𝑝 𝑥𝑡 = 𝐴−1 0 𝛼+ −1 𝐴−1 0 𝐴𝑖 𝑥𝑡−𝑖 + 𝐴0 𝐴𝜀𝑡 (23) 𝑖=1 ou, alternativamente, 𝑝 𝑥𝑡 = 𝐵0 + 𝐵1 𝑥𝑡−𝑖 + 𝑒𝑡 (24) 𝑖=1 Em que B0 = A0-1α, B1 = A0-1Ai, et = A0-1Aεt. Sendo normalmente denominado como o modelo na sua forma reduzida. Sob condições de estabilidade, Enders (2004) mostra que: ∞ 𝑥𝑡 = 𝜇 + 𝜙𝑖 𝜀𝑡−𝑖 (25) 𝑖=0 Caso o sistema obtido em (18) seja sobre identificado, considerando A0, utiliza-se um processo de quatro etapas conhecido como Método Generalizado de Momentos: (a) estima-se o VAR definido em (23), (b) obtém-se a matriz de variância-covariância e calcula-se 𝜀 = 𝐴0 𝑒 𝐴′0 , (c) maximiza-se a função de verossimilhança (SPOLADOR, 2006): 𝑇 − 𝑙𝑛 𝐴−1 0 2 𝜀 (𝐴′0 )−1 1 − 2 𝑇 −1 𝑒𝑡 𝐴′0 𝑡=1 𝐴0 𝑒𝑡 (26) 𝜀 Espera-se que renda e a utilização da capacidade instalada da economia tenham um grau de explicação razoável sobre as exportações, e, por conseguinte, espera-se poder analisar também o impacto da taxa de câmbio e preços relativos nos diferentes modelos. 69 5. RESULTADOS 5.1. Testes de Estacionariedade Como já foi dito, as séries temporais utilizadas na modelagem VAR necessitam ser (conjuntamente) estacionárias. Em função desta exigência, o primeiro procedimento adotado foi a realização dos testes de raiz unitária descritos anteriormente. Em nenhuma das três formas adotadas para a pré-filtragem das séries (constante e tendência, apenas com a constante, e sem a inclusão de termos deterministas) as estatísticas foram significativas, mesmo considerando um nível de até 10% de probabilidade e, por isso, todas as séries foram tomadas como integradas de ordem 1, ou seja I(1). O número de defasagens utilizado em cada teste foi determinado através do Critério de Informação de Akaike Modificado (MAIC). Logo, o modelo foi ajustado com as variáveis nas primeiras diferenças. A tabela 13 sumariza os resultados do teste DF-GLS. Tabela 13. Resultado dos testes de raiz unitária (DF-GLS) Variáveis QA QM QI PRA PRM PRI Y TX U Constante e tendência -1,452 -2,125 -1,886 -1,560 -1,091 -0,862 -0,896 -1,745 -1,327 Constante 0,730 -0,194 -0,566 0,778 0,770 1,238 1,113 -0,102 -0,807 Sem termos determinísticos 0,946 0,182 -0,136 1,432 1,308 -0,825 -0,971 0,534 -0,107 I(d) I(1) I(1) I(1) I(1) I(1) I(1) I(1) I(1) I(1) Fonte: Resultados da pesquisa. 5.2. Testes de cointegração Portanto, a partir dos testes de raiz unitária, foram realizados testes de cointegração entre as séries, para cada modelo estimado, levando em consideração a defasagem selecionada, utilizando-se o procedimento de Johansen (1991). O número de defasagens utilizadas nos testes de cointegração de Johansen (1991) (uma defasagem) foi definido de acordo com o critério de informação de Schwarz (SC) e Hannan-Quinn (HQ), para uma versão multi-equacional. A especificação indicada para o teste 70 foi o modelo sem intercepto e sem tendência determinística. Os valores dos critérios podem ser verificados na tabela abaixo: Tabela 14. Número de defasagens utilizada nos testes de cointegração para cada modelo Modelo 1 (agrícolas) Modelos Lags 0 1 2 3 4 SC 75,854 65,170* 65,456 65,732 66,217 HQ 75,987 64,612* 64,718 64,819 65,018 Modelo 2 (industriais) SC 70,423 60,468* 60,787 60,899 61,390 Modelo 3 (minerais) HQ 70,235 59,632* 59,858 59,985 60,192 SC HQ 77,478 77,598 68,301* 67,530* 68,531 67,681 68,722 67,809 69,045 67,846 Nota: SC: Critério de informação de Schwarz; HQ: Critério de informação de Hannan-Quinn. Fonte: Resultados da pesquisa. Os valores estimados foram comparados com os valores obtidos por MacKinnonHaug-Michelis (1999). Os resultados podem ser encontrados nas tabelas a seguir: Tabela 15. Resultado dos testes de cointegração do modelo 1 (agrícolas) Hipótese Nula r=0 r≤1 r≤2 r≤3 r≤4 Hipótese Alternativa r>0 r>1 r>2 r>3 r>4 λtrace λmax 106,168 36,433* 16,650 6,482 0,042 69,735 19,784* 10,167 6,440 0,043 Fonte: Resultados da pesquisa. A hipótese de não haver cointegração (r=0), contra a hipótese alternativa de (r>0) é rejeitada ao nível de 5 % de significância. A estatística λtrace (0) é 106,16, que é maior que o valor crítico de 60,06 de MacKinnon-Haug-Michelis (1999). A hipótese de r ≤ 1 vetor cointegrante não pode ser rejeitada ao nível de 5%. A estatística λtrace (1) é 36,43, valor menor do que o valor crítico tabelado de 40,17. Utilizando-se a estatística λmax, a hipótese nula de nenhum vetor cointegrante (r=0) é rejeitada à 5%, pois 69,73 é maior do que o valor tabelado de 30,43, porém não pode-se rejeitar a hipótese de 1 vetor cointegrante (r=1), pois o valor de 19,78 é menor do que o crítico tabelado de 24,15. Conclui-se, logo a existência de 1 vetor cointegrante no modelo 1. 71 Tabela 16. Resultado dos testes de cointegração do modelo 2 (industriais) Hipótese Nula r=0 r≤1 r≤2 r≤3 r≤4 Hipótese Alternativa r>0 r>1 r>2 r>3 r>4 λtrace 77,298 34,151* 14,266 6,756 0,073 λmax 43,147 19,885* 7,510 6,683 0,073 Fonte: Resultados da pesquisa. Para o modelo 2, a hipótese de não haver cointegração (r=0), contra a hipótese alternativa de (r>0) também é rejeitada ao nível de 5% de significância (77,29 > 60,06) e a hipótese de r ≤ 1 vetor cointegrante não pode ser rejeitada no mesmo nível de significância, pois 34,15 é menor do que o valor crítico de 40,17. Utilizando-se a estatística λmax, a hipótese nula de nenhum vetor cointegrante (r=0) também pode-se ser rejeitada à 5% (43,14 > 30,43), e a hipótese de r ≤ 1 vetor cointegrante não pode ser rejeitada no mesmo nível de significância (19,88 < 24,15). Assim, temos a presença de um vetor cointegrante no modelo 2. Tabela 17. Resultado dos testes de cointegração do modelo 3 (minerais) Hipótese Nula r=0 r≤1 r≤2 r≤3 r≤4 Hipótese Alternativa r>0 r>1 r>2 r>3 r>4 λtrace λmax 88,188 24,654* 9,904 4,110 0,162 63,534 14,750* 5,794 3,948 0,162 Fonte: Resultados da pesquisa. Já com relação ao modelo 3, a hipótese de não haver cointegração (r=0), contra a hipótese alternativa de (r>0) também é rejeitada ao nível de 5% de significância (88,18 > 60,06) e a hipótese de r ≤ 1 vetor cointegrante não pode ser rejeitada no mesmo nível de significância (24,65 < 40,17). Utilizando-se a estatística λmax, a hipótese nula de nenhum vetor cointegrante (r=0) é rejeitada à 5% (63,53 > 30,43), porém não pode-se rejeitar a hipótese de 1 vetor cointegrante (r=1), (14,75 < 24,15) portanto, conclui-se também a existência de 1 vetor cointegrante no modelo 3. 72 5.3. Defasagem dos Modelos A escolha da ordem de defasagem dos modelos teve como base os critérios de Akaike e Schwarz, dessa forma toma-se como modelo mais adequado aquele que apresentar o menor valor para ambos os critérios. A tabela 18 abaixo contém os resultados da aplicação dos testes, os quais indicam a opção por uma defasagem, ou seja, todos os modelos a serem estimados são VAR(1). Tabela 18. Critérios de seleção das ordens de defasagem dos modelos. Modelos Variáveis Modelo 1 (agrícolas) QA, Y, U, TX e PRA Modelo 2 (industriais) QI, Y, U, TX e PRI Modelo 3 (minerais) QM, Y, U, TX e PRM Lags Akaike Schwarz 1 2 1 2 1 2 -4127.925 -3900.370 -4346.446 -4092.789 -4271.293 -3991.963 -4019.006 -3714.013 -4237.527 -3906.433 -4162.374 -3805.606 VAR(p) VAR(1) VAR(1) VAR(1) Fonte: Dados da pesquisa. 5.4. Modelo VEC com identificação pelo processo de Bernanke Neste tópico parte-se dos resultados dos ajustamentos do modelo VEC, considerando a influência da renda, da utilização da capacidade instalada, taxa de câmbio e preços relativos sobre o volume de exportação de cada categoria de produto. Primeiramente, para cada um dos modelos, são apresentados os coeficientes estimados nas matrizes de relações contemporâneas entre as variáveis, através do processo de Bernanke, partindo de um modelo VAR com mecanismo de correção de erro. São estimados, posteriormente, os efeitos dos diferentes choques no modelo, utilizando-se a decomposição da variância do erro de previsão. Por fim, mensura-se o efeito (magnitude e sinal) dos choques na renda, na utilização da capacidade instalada, na taxa de câmbio e nos preços relativos, para explicar a determinação da trajetória da exportação. 5.5. Modelo 1: Produtos agrícolas 5.5.1. Decomposição da variância do erro de previsão O modelo analisado foi construído com as seguintes variáveis: QA, Y, U, TX e PRA, além do vetor de correção de erros. A matriz de relações contemporâneas tem seus resultados expostos na tabela 19. Os sinais dos coeficientes estão de acordo com o esperado, lembrando- 73 se que devem ser analisados com o sinal contrário dos obtidos na estimação. Contudo, o coeficiente mostrou-se não-significativo a 10% (significativo a 11,10%) para o preço relativo e a taxa de câmbio. Os demais valores mostraram-se significativos, indicando que um aumento de 1% na renda da China leva a um aumento de 1,57% na exportação de produtos agrícolas brasileiros para esse país. Com relação à utilização da capacidade instalada brasileira, um aumento exógeno de 1% nessa variável leva a uma diminuição de 1,22% na quantidade exportada para a China, verificando-se a preferência pelo abastecimento do mercado doméstico nos ciclos de alta da economia. Com relação à taxa de câmbio, desvalorizações na mesma incentivam ao aumento da exportação de produtos agrícolas para a China, porém em menor magnitude do que a dos efeitos das variáveis anteriores. Tabela 19. Estimativa da matriz de coeficientes de relações contemporâneas (Modelo 1) Relações Contemporâneas De Sobre Renda (Y) Quantidade exportada (QA) Util. da capacidade instalada (U) Quantidade exportada (QA) Taxa de Câmbio (TX) Quantidade exportada (QA) Preço Relativo (PRA) Quantidade exportada (QA) Coeficientes* Valor t -1.570 1.223 -0.764 -0.344 -4.609 2.092 -1.771 -1.552 Fonte: Dados da pesquisa. * Dado que as séries foram tomadas nas primeiras diferenças dos logaritmos, os coeficientes encontrados referemse a relações entre taxas de crescimento, genericamente denominadas elasticidades. A seguir são estruturados os poderes explanatórios de cada variável do modelo sobre as demais através da decomposição da variância dos erros de previsão. Nas tabelas de 20 a 24, constam as referidas decomposições, optou-se por apresentar as decomposições para 12 meses, sumarizadas de 1 a 5, 10 e 12, após o choque, uma vez que nos períodos posteriores a parcela de explicação de cada variável sobre as demais não sofrem alterações significativas. A variável quantidade exportada (QA) tem cerca de 65% de sua variância explicada por ela mesma, sendo que 25% de sua variância é atribuída a choques nas variáveis renda e utilização da capacidade instalada. É interessante notar que (U) tem um papel importante no primeiro trimestre, mas logo no segundo tem seu poder explanatório reduzido, o inverso ocorre com a renda. Já as variáveis (U) e (TX) se comportam como variáveis exógenas, pois mais de 92% de suas variâncias são explicadas por choques delas próprias. As variáveis (Y) e 74 (PRA) também têm um forte comportamento auto-regressivo, sendo que, respectivamente, cerca de 86% e 78%, de suas variâncias são explicadas por elas mesmas. Tabela 20. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para QA (Modelo 1) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 1.008 1.160 1.195 1.217 1.229 1.246 1.247 QA 77.302 71.657 68.739 67.037 66.082 64.844 64.784 Y 1.141 5.090 9.413 12.077 13.607 15.590 15.685 U 17.827 11.961 10.832 10.172 9.805 9.33 9.307 TX 3.088 6.677 6.48 6.36 6.293 6.212 6.209 PRA 0.642 4.615 4.536 4.354 4.213 4.024 4.015 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 21. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para Y (Modelo 1) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.329 0.362 0.370 0.375 0.377 0.381 0.381 QA 0 2.044 2.003 2.062 2.04 2.023 2.022 Y 100 94.148 90.932 88.883 87.76 86.274 86.202 U 0 1.037 3.936 5.912 7.036 8.517 8.589 TX 0 0.379 0.369 0.361 0.357 0.356 0.356 PRA 0 2.392 2.76 2.782 2.807 2.83 2.831 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 22. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para U (Modelo 1) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.008 0.010 0.010 0.011 0.011 0.012 0.012 QA 0 0.241 0.308 0.349 0.374 0.407 0.409 Y 0 0.145 0.145 0.147 0.147 0.147 0.147 U 100 98.966 98.157 97.757 97.561 97.35 97.34 TX 0 0.278 0.469 0.519 0.529 0.527 0.527 PRA 0 0.371 0.92 1.228 1.389 1.569 1.577 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 23. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para TX (VAR1) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.038 0.043 0.044 0.044 0.044 0.044 0.044 Fonte: Dados da pesquisa. QA 0 1.592 1.578 1.586 1.582 1.577 1.577 Y 0 0.029 0.045 0.046 0.047 0.048 0.048 U 0 1.049 2.307 3.142 3.624 4.226 4.255 TX 100 95.037 93.611 92.778 92.309 91.704 91.674 PRA 0 2.293 2.458 2.448 2.438 2.445 2.446 75 Tabela 24. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para PRA (VAR1) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.031 0.034 0.035 0.035 0.036 0.036 0.036 QA 0 2.207 2.268 2.295 2.279 2.250 2.248 Y 0 0.237 0.235 0.228 0.228 0.227 0.226 U 0 2.622 5.907 8.357 9.874 11.853 11.947 TX 0 6.579 7.946 7.968 7.845 7.667 7.659 PRA 100 88.355 83.645 81.151 79.774 78.003 77.919 Fonte: Dados da pesquisa. 5.5.2. Função Impulso-Resposta Nas figuras 22 a 25 observam-se as respostas aos choques positivos de cada uma das variáveis do modelo sobre a quantidade exportada, e nos períodos seguintes ao mesmo. Na figura 22, podemos observar que a variável QA responde positivamente a um choque de 1% na renda, com maior resposta no primeiro período (1,57%), sendo que tais choques são positivos para todos os demais períodos, desaparecendo a partir do sexto mês. 2.5 Porcentagem (%) 2 1.5 1 0.5 0 -0.5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1 Período (meses) QA/Y Y/Y Figura 22. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na renda (Modelo 1) Fonte: Dados da pesquisa. Ao submeter a quantidade exportada a um choque positivo de 1% na utilização da capacidade instalada há uma resposta negativa contemporânea mais do que proporcional no primeiro período de 1,22%, resultado previsto dentro da teoria, pela preferência do mercado interno nos ciclos de expansão da economia. Tais choques negativos permanecem até o quinto período quando perdem o efeito (Figura 23). 76 1.2 Porcentagem (%) 0.8 0.4 0 -0.4 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -0.8 -1.2 -1.6 -2 Período (meses) QA/U U/U Figura 23. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na utilização da capacidade instalada (Modelo 1) Fonte: Dados da pesquisa. Na figura 24 podemos observar a resposta na quantidade exportada de um aumento de 1% na taxa de câmbio, tal aumento, é mais expressivo no primeiro período (0,76%), verificando-se que desvalorizações cambiais elevam a quantidade exportada de commodities agrícolas, porém a magnitude de tal efeito é inferior quando comparado com aos efeitos das demais variáveis do sistema, o que reforça os resultados obtidos na análise histórica da Porcentagem (%) decomposição da variância do erro de previsão. 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 -0.4 -0.6 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Período (meses) QA/TX TX/TX Figura 24. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na taxa de câmbio (Modelo 1) Fonte: Dados da pesquisa. 77 Um pequeno efeito em magnitude pode ser observado quando submetida a quantidade exportada a um choque de 1% no preço relativo, tal efeito é mais significativo no primeiro período (0,34%), se dissipando conforme os períodos vão passando, e a partir do quinto período seu efeito praticamente desaparece (Figura 25). 1.2 Porcentagem (%) 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -0.4 -0.6 Período (meses) QA/PRA PRA/PRA Figura 25. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso no preço relativo (Modelo 1) Fonte: Dados da pesquisa. As respostas acumuladas de choques em cada variável sobre a quantidade exportada encontram-se sumarizadas na figura 26, tais respostas acumuladas são importantes para a definição das elasticidades de longo prazo. Assim, um choque positivo de 1% na renda provoca um aumento imediato de 1,57% na quantidade exportada, porém o equilíbrio é atingido em torno de 1,86%, ou seja, o efeito acumulado mais do que compensa a elevação da renda. Para a utilização da capacidade instalada, há uma diminuição contemporânea direta das exportações agrícolas do Brasil para a China com o aquecimento da economia. No entanto, o efeito acumulado é atingido num patamar ainda menor, em torno de -1,70%, ilustrando a preferência pelo mercado interno, conforme verificado também por Zini Jr. (1988) analisando a pauta comercial brasileira por grupos. A taxa de câmbio tem, de imediato, certo efeito significativo sobre as exportações agrícolas para a China, porém a elasticidade acumulada se estabiliza em torno de 1,14%, ou seja, o efeito da taxa de câmbio sobre as commodities agrícolas é maior com o passar do tempo, configurando o efeito da “curva J”, em que nos primeiros meses logo após a desvalorização da taxa de câmbio há uma piora do saldo comercial com recuperação 78 posterior. Segundo Meade (1988), tal fenômeno emana a partir do fato de que no momento em que ocorre a mudança na taxa de câmbio, os bens já estão sendo comercializados sob contratos que não podem ser “quebrados”, e que a finalização de tais transações domina as flutuações comerciais no curto-prazo. Assim, embora uma depreciação tenda a deteriorar o saldo da balança comercial agrícola com a China no curto-prazo, ela tende a elevar tal saldo no longo. No modelo de produtos agrícolas a única variável que não demonstra diferenças significativas nas elasticidades contemporâneas e acumuladas é a de preço relativo, que se estabiliza próximo a zero a partir do terceiro período. 2.5 Porcentagem (%) 2 1.5 1 0.5 0 -0.5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1 -1.5 -2 Período (meses) QA/Y QA/U QA/TX QA/PRA Figura 26. Evolução dos choques acumulados das exportações sobre as demais variáveis do modelo (Modelo 1) Fonte: Dados da pesquisa. 5.6. Modelo 2: Bens industriais 5.6.1. Decomposição da variância do erro de previsão O modelo analisado foi construído com as seguintes variáveis: QI, Y, U, TX e PRI, além do vetor de correção de erros. Seus resultados estão expostos na Tabela 25. Os sinais dos coeficientes estão de acordo com o esperado, e todos se mostraram significativos a 10%16. Um aumento de 1% na renda chinesa leva a um aumento de 0,94% na exportação de produtos industriais do Brasil para a China, menor em magnitude (mais inelástica) se comparada com a elasticidade para os produtos agrícolas. Isto indica um 16 Embora os testes “t” não tenham a mesma precisão observada no caso dos modelos de mínimos quadrados, eles, em alguma medida, permitem fazer inferência sobre a significância dos parâmetros estimados. 79 comércio mais renda-elástico da China com o Brasil para produtos básicos do que para produtos industriais, o que era esperado dentro da teoria após a análise descritiva da pauta. Com relação à utilização da capacidade instalada brasileira, um aumento exógeno de 1% nessa variável leva a uma redução de 0,94% na quantidade exportada de bens industriais contemporaneamente. Tal hipótese de que quando o mercado interno se aquece, a oferta de produtos industrializados para exportação cai, não pode ser rejeitada, à semelhança dos resultados obtidos por Zini Jr. (1988) para o comércio como um todo. Com relação à taxa de câmbio, desvalorizações na mesma incentivam o aumento da exportação de produtos industriais brasileiros para a China. O resultado apontou para um efeito mais elástico e de magnitude maior do que o efeito verificado sobre os produtos agrícolas. Os preços relativos de exportação no modelo de produtos industriais têm uma participação menor na explicação da dinâmica dessas exportações, praticamente igual em magnitude para os produtos agrícolas, porém significativo. Tal constatação também está de acordo com os resultados obtidos por Pinto (1980), Cardoso; Dornbusch (1980) e Braga; Markwald (1983). Tabela 25. Estimativa da matriz de coeficientes de relações contemporâneas (Modelo 2) Relações Contemporâneas De Sobre Renda (Y) Quantidade exportada (QI) Util. da capacidade instalada (U) Quantidade exportada (QI) Taxa de Câmbio (TX) Quantidade exportada (QI) Preço Relativo (PRI) Quantidade exportada (QI) Coeficientes* Valor t -0.943 0.941 -1.315 -0.329 -3.882 2.181 -1.774 -2.866 Fonte: Dados da pesquisa. * Dado que as séries foram tomadas nas primeiras diferenças dos logaritmos, os coeficientes encontrados referemse a relações entre taxas de crescimento, genericamente denominadas elasticidades. A seguir são estruturados os poderes explanatórios de cada variável do modelo sobre as demais nas mesmas especificações anteriormente utilizadas (Tabelas de 26 a 30). A variável quantidade exportada de bens industriais para a China (QI) tem cerca de 73% de sua variância explicada por ela mesma, sendo que 23,4% de sua variância é atribuída a choques nas variáveis renda chinesa, utilização da capacidade instalada brasileira e taxa de câmbio. Como no modelo para commodities agrícolas, as variáveis: utilização da capacidade instalada (U) e taxa de câmbio (TX) se comportam como variáveis exógenas. As variáveis renda chinesa (Y) e preço relativo (PRI) também têm um forte comportamento auto- 80 regressivo, sendo que apresentam, respectivamente, cerca de 87% e 86%, de suas variâncias explicadas por elas mesmas. Tabela 26. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para QI (Modelo 2) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.507 0.582 0.601 0.606 0.608 0.609 0.609 QI 73.596 72.658 72.841 72.881 72.881 72.885 72.884 Y 8.743 7.065 6.660 6.536 6.500 6.484 6.484 U 7.063 7.143 7.232 7.238 7.255 7.258 7.259 TX 9.059 9.637 9.719 9.725 9.734 9.736 9.736 PRI 1.539 3.497 3.548 3.620 3.630 3.637 3.637 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 27. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para Y (Modelo 2) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.338 0.369 0.374 0.378 0.380 0.382 0.382 QI 0 0.649 0.726 0.827 0.859 0.91 0.912 Y U 100 0 92.68 6.082 90.311 8.155 88.593 9.633 87.76 10.373 86.742 11.269 86.701 11.306 TX 0 0.388 0.476 0.52 0.534 0.546 0.546 PRI 0 0.201 0.332 0.427 0.474 0.533 0.535 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 28. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para U (Modelo 2) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.007 0.009 0.010 0.011 0.011 0.011 0.011 QI 0 5.026 4.389 4.792 4.689 4.736 4.736 Y 0 0.111 0.122 0.128 0.131 0.134 0.134 U 100 92.668 92.868 91.993 91.963 91.726 91.720 TX 0 0.761 0.920 1.034 1.056 1.078 1.078 PRI 0 1.433 1.701 2.054 2.162 2.327 2.333 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 29. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para TX (Modelo 2) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.039 0.043 0.043 0.044 0.044 0.044 0.044 Fonte: Dados da pesquisa. QI 0 0.006 0.075 0.092 0.123 0.152 0.153 Y 0 0.009 0.009 0.010 0.011 0.012 0.012 U 0 1.035 2.051 2.816 3.270 3.842 3.865 TX 100 98.659 97.537 96.756 96.267 95.646 95.620 PRI 0 0.290 0.327 0.326 0.329 0.349 0.350 81 Tabela 30. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para PRI (Modelo 2) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.0295 0.0318 0.0325 0.0328 0.0330 0.0332 0.0332 QI 0 0.112 0.13 0.197 0.225 0.281 0.283 Y 0 0.001 0.001 0.002 0.003 0.005 0.005 U 0 0.848 2.213 3.34 4.114 5.14 5.184 TX 0 6.073 8.453 8.845 8.835 8.737 8.733 PRI 100 92.967 89.203 87.617 86.824 85.838 85.796 Fonte: Dados da pesquisa. 5.6.2. Função Impulso-Resposta Nas figuras 27 a 30 observam-se as respostas aos choques positivos de cada uma das variáveis do modelo sobre a quantidade exportada, e nos períodos seguintes ao mesmo. Na figura 27, podemos observar a variável QI responde positivamente a um choque de 1% na renda, com resposta maior no primeiro período (0,94%), sendo que tais choques são positivos para todos os demais períodos, desaparecendo a partir do quarto mês. A diferença para o modelo de produtos agrícolas é a intensidade do choque, neste caso dos bens Porcentagem (%) industriais exportados pelo Brasil é inferior ao dos bens agrícolas exportados. 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 -0.4 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Período (meses) QI/Y Y/Y Figura 27. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na renda (Modelo 2) Fonte: Dados da pesquisa. Com relação ao choque na utilização da capacidade instalada há uma resposta negativa contemporaneamente (-0,94%), com diminuição da magnitude dos choques até a estabilização no sexto período. (Figura 28). 82 1.5 Porcentagem (%) 1 0.5 0 -0.5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1 -1.5 Período (meses) QI/U U/U Figura 28. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na utilização da capacidade instalada (Modelo 2) Fonte: Dados da pesquisa. Na figura 29 podemos observar a resposta na quantidade exportada de um aumento de 1% na taxa de câmbio, tal aumento, é maior no primeiro período (1,31%), se estabilizando somente no sétimo mês. Tal resultado reforça as estatísticas encontradas na análise histórica da decomposição da variância do erro de previsão, onde a taxa de câmbio teve um papel mais expressivo na explicação da quantidade exportada (cerca de 10%). Porcentagem (%) 2 1.5 1 0.5 0 -0.5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1 Período (meses) QI/TX TX/TX Figura 29. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na taxa de câmbio (Modelo 2) Fonte: Dados da pesquisa. O efeito dos preços relativos é bastante volátil, tendo seu maior efeito no primeiro período (0,32%), se estabilizando a partir do sexto período. (Figura 30). 83 Porcentagem (%) 1.2 0.9 0.6 0.3 -1E-16 -0.3 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -0.6 -0.9 Período (meses) QI/PRI PRI/PRI Figura 30. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso no preço relativo (Modelo 2) Fonte: Dados da pesquisa. As respostas acumuladas de choques em cada variável sobre a quantidade exportada encontram-se sumarizadas na figura 31. Um choque positivo de 1% na renda chinesa provoca um aumento imediato de 0,94% na quantidade exportada pelo Brasil de bens industriais, porém a elasticidade acumulada é de 1,37% e menor comparativamente ao verificado para as exportações brasileiras de produtos agrícolas. Isto reflete a preferência chinesa por commodities agrícolas na pauta de importação do Brasil na última década. Para a utilização da capacidade instalada, há uma diminuição direta inicial das exportações com o aquecimento da economia, e a elasticidade acumulada é de -1,50%. A taxa de câmbio tem efeito imediato significativo sobre as exportações, aumentando com o passar do tempo e se estabilizando em torno de 1,50%, confirmando, também nesse caso, a presença do efeito da “curva J” no modelo de produtos industriais. O efeito acumulado no caso da taxa de câmbio é semelhante, em magnitude, ao da renda, sendo as duas principais variáveis determinantes das exportações brasileiras de produtos industriais para a China. Já a variável preço relativo, após um período de instabilidade, ela atinge o valor aproximado a 0,15%. 84 2 Porcentagem (%) 1.5 1 0.5 0 -0.5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1 -1.5 -2 Período (meses) QI/Y QI/U QI/TX QI/PRI Figura 31. Evolução dos choques acumulados das exportações sobre as demais variáveis do modelo (Modelo 2) Fonte: Dados da pesquisa. 5.7. Modelo 3: Produtos minerais 5.7.1. Decomposição da variância do erro de previsão O modelo analisado foi construído, com as mesmas especificações dos modelos anteriores, adotando a seguinte seqüência de variáveis: QM, Y, U, TX e PRM. Os sinais dos coeficientes da matriz de relações contemporâneas estão de acordo com o esperado, porém é não-significativo a 10% (significativo a 14,09%) no caso de preço relativo (como verificado no modelo para os bens agrícolas - Tabela 31). Os demais valores mostraram-se significativos, indicando que um aumento de 1% na renda chinesa leva a um aumento de 1,20% na exportação brasileira de produtos minerais, sendo esta resposta menor, em magnitude, do que para os agrícolas, porém maior do que a dos produtos industriais. Com relação à utilização da capacidade instalada brasileira, um aumento exógeno de 1% nessa variável leva a uma redução de 1,05% na quantidade exportada para a China de bens minerais, e tal redução se assemelha a dos produtos agrícolas em grande parte por serem produtos que mantém uma “longa memória” dos eventos, posto que o maior volume desse comércio compreende produtos estocáveis, conforme citado por Zini Jr. (1988). Com relação à taxa de câmbio, desvalorizações na mesma incentivam o aumento da exportação de minerais para a China, porém em menor magnitude do que os efeitos das variáveis anteriores. Ademais, este efeito da taxa de câmbio sobre as exportações de produtos minerais mostrou-se, em módulo, inferior ao efeito verificado para os dois modelos anteriores (produtos agrícolas e industriais). 85 Tabela 31. Estimativa da matriz de coeficientes de relações contemporâneas (Modelo 3) Relações Contemporâneas De Sobre Renda (Y) Quantidade exportada (QM) Util. da capacidade instalada (U) Quantidade exportada (QM) Taxa de Câmbio (TX) Quantidade exportada (QM) Preço Relativo (PRM) Quantidade exportada (QM) Coeficientes* Valor t -1.200 1.059 -0.484 -0.403 -4.248 2.064 -2.735 -1.473 Fonte: Dados da pesquisa. * Dado que as séries foram tomadas nas primeiras diferenças dos logaritmos, os coeficientes encontrados referemse a relações entre taxas de crescimento, genericamente denominadas elasticidades. A seguir, nas tabelas de 32 a 36, são estruturados os poderes explanatórios de cada variável do modelo sobre as demais através da decomposição da variância dos erros de previsão, optou-se por apresentar as decomposições nas mesmas especificações anteriores. A variável quantidade exportada (QM) tem cerca de 75% de sua variância explicada por ela mesma, sendo que 17,20% de sua variância é atribuída a choques nas variáveis renda e utilização da capacidade instalada. Já as variáveis (U) e (TX) se comportam como variáveis exógenas, pois mais de 96% de suas variâncias são explicadas por choques delas próprias. As variáveis (Y) e (PRM) também têm um forte comportamento auto-regressivo, sendo que, respectivamente, cerca de 80% e 88%, de suas variâncias explicadas por elas mesmas. Tabela 32. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para QM (Modelo 3) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.427 0.501 0.522 0.529 0.531 0.533 0.533 QM 78.445 75.274 74.728 74.559 74.502 74.474 74.474 Y 9.459 10.128 10.544 10.676 10.716 10.738 10.738 U 6.257 6.606 6.478 6.479 6.467 6.465 6.465 TX 4.392 4.404 4.57 4.558 4.571 4.571 4.571 PRM 1.447 3.588 3.68 3.728 3.744 3.752 3.752 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 33. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para Y (Modelo 3) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.328 0.361 0.374 0.379 0.382 0.384 0.384 Fonte: Dados da pesquisa. QM 0 3.762 4.725 5.297 5.34 5.395 5.394 Y 100 89.542 84.366 82.155 81.178 80.248 80.222 U 0 6.318 10.278 11.514 12.401 13.167 13.192 TX 0 0.018 0.271 0.528 0.579 0.645 0.647 PRM 0 0.36 0.36 0.506 0.502 0.545 0.545 86 Tabela 34. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para U (Modelo 3) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.008 0.010 0.010 0.011 0.011 0.011 0.011 QM 0 0.427 0.421 0.466 0.468 0.48 0.48 Y 0 0.207 0.316 0.342 0.364 0.38 0.381 U 100 97.659 96.905 96.469 96.28 96.069 96.063 TX 0 0.902 1.312 1.536 1.645 1.763 1.766 PRM 0 0.805 1.047 1.187 1.244 1.308 1.31 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 35. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para TX (Modelo 3) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.039 0.042 0.043 0.043 0.043 0.043 0.043 QM 0 0.108 0.105 0.126 0.127 0.133 0.133 Y 0 0.01 0.018 0.019 0.024 0.029 0.029 U 0 0.798 1.849 2.614 3.115 3.718 3.739 TX 100 99.066 97.997 97.187 96.67 96.037 96.016 PRM 0 0.018 0.031 0.053 0.065 0.083 0.084 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 36. Decomposição histórica da variância do erro de previsão para PRM (Modelo 3) Meses 1 2 3 4 5 10 12 Desvio-padrão 0.047 0.050 0.051 0.051 0.051 0.051 0.051 QM 0 0.721 0.7 0.723 0.72 0.723 0.723 Y 0 0.527 0.54 0.536 0.539 0.54 0.54 U 0 0.03 0.899 1.647 2.182 2.855 2.878 TX 0 5.345 7.479 7.775 7.772 7.721 7.72 PRM 100 93.376 90.383 89.318 88.787 88.16 88.138 Fonte: Dados da pesquisa. 5.7.2. Função Impulso-Resposta Nas figuras 32 a 35 observam-se as respostas aos choques positivos de cada uma das variáveis do modelo sobre a quantidade exportada, e nos períodos seguintes ao mesmo. Na figura 32, podemos observar que a variável QM responde positivamente a um choque de 1% na renda chinesa, com maior resposta no primeiro período (1,20%), à semelhança do modelo de commodities agrícolas, alternando-se e dissipando-se a partir do sexto mês. 87 Porcentagem (%) 2 1.5 1 0.5 0 1 -0.5 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1 Período (meses) QM/Y Y/Y Figura 32. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na renda (Modelo 3) Fonte: Dados da pesquisa. Ao submeter a quantidade exportada de minerais a um choque positivo de 1% na utilização da capacidade instalada brasileira há uma resposta negativa no primeiro período de 1,05%, indicando que com um aquecimento da economia no mercado interno a quantidade exportada diminui no comércio de commodities minerais. A partir do segundo período os efeitos do choque vão se dissipando, tendendo ao equilíbrio após o sétimo mês. (Figura 33). Porcentagem (%) 1.5 1 0.5 0 -0.5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1 -1.5 Período (meses) QM/U U/U Figura 33. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na utilização da capacidade instalada (Modelo 3) Fonte: Dados da pesquisa. Na figura 34 podemos observar a resposta na quantidade exportada de um aumento de 1% na taxa de câmbio, tal aumento é maior contemporaneamente (0,48%), e a partir daí o efeito se alterna de modo a oscilar, tendendo ao equilíbrio após o oitavo mês, porém a magnitude de tal efeito é inferior quando comparada a dos efeitos das demais variáveis do 88 sistema, o que reforça os resultados obtidos na análise histórica da decomposição da variância do erro de previsão e se assemelha aos resultados obtidos para o modelo de commodities agrícolas. 1.2 Porcentagem (%) 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 1 -0.2 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -0.4 Período (meses) QM/TX TX/TX Figura 34. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso na taxa de câmbio (Modelo 3) Fonte: Dados da pesquisa. O efeito do choque de 1% no preço relativo sobre a quantidade exportada de produtos minerais é maior no primeiro período, tal como verificado para os demais modelos, sendo que o efeito segue uma trajetória semelhante ao modelo de commodities agrícolas. Tal choque estabiliza-se após o oitavo mês. (Figura 35). 1.2 Porcentagem (%) 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -0.4 -0.6 Período (meses) QM/PRM PRM/PRM Figura 35. Função Impulso-Resposta sobre a quantidade exportada de um impulso no preço relativo (Modelo 3) Fonte: Dados da pesquisa. As respostas acumuladas de choques em cada variável sobre a quantidade exportada de produtos minerais encontram-se resumidas na Figura 36. Dessa maneira, um choque positivo de 1% na renda chinesa provoca um aumento imediato de 1,20% na quantidade exportada, e um aumento acumulado em torno de 1,70%. 89 Para a utilização da capacidade instalada, verifica-se que há uma diminuição direta inicial das exportações de produtos minerais à medida que ocorre um aquecimento da economia brasileira, e o efeito acumulado máximo é atingido num patamar menor, em torno de -1,80%. A taxa de câmbio não tem efeito contemporâneo expressivo sobre as exportações de produtos minerais (0,48%), e a elasticidade acumulada se estabiliza em torno de 0,55%. Assim como nos demais casos analisados, pode-se verificar a presença do efeito da “curva J” no modelo de commodities minerais. No modelo de produtos minerais, após um período de variabilidade, o preço relativo apresenta certa estabilidade em torno de 0,10%; porém, como verificado na análise histórica da decomposição da variância do erro de previsão, é a variável que tem menor poder explanatório sobre a dinâmica das exportações de produtos minerais. 2 Porcentagem (%) 1.5 1 0.5 0 -0.5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -1 -1.5 -2 -2.5 Período (meses) QM/Y QM/U QM/TX QM/PRM Figura 36. Evolução dos choques acumulados das exportações sobre as demais variáveis do modelo (Modelo 3) Fonte: Dados da pesquisa. 90 6. CONCLUSÕES O comércio bilateral Brasil-China tem evoluído consideravelmente nas últimas décadas, diversos fatores condicionantes contribuíram para essa tendência. Um dos fatores de destaque é dado pela entrada da China na OMC, imprescindível para completar as reformas econômicas internas das últimas duas décadas. Através de uma análise desagregada das principais mercadorias transacionadas entre os países pode-se verificar uma predominância de produtos industrializados, em sua maioria produtos de alto valor agregado no que se diz respeito às exportações chinesas para o Brasil. No perfil de exportação do Brasil para a China constata-se exatamente o contrário, com predominância de produtos de baixo valor agregado. Os três modelos estimados visando avaliar as variáveis que influenciam o comércio exportador brasileiro para a China, para três categorias distintas de produtos, mostraram-se bem ajustados. Os resultados da decomposição da variância do erro de previsão para o quantum exportado pelo Brasil para a China dos produtos selecionados evidenciaram um papel importante da renda chinesa, pode-se observar que esta é responsável por cerca de 16%, 7% e 11% da variação do quantum exportado de produtos agrícolas, industriais e minerais, e a utilização da capacidade instalada do Brasil por cerca de -10%, -8% e -7%, respectivamente. A variável proxy para a renda chinesa (Y) mostrou um alto poder explanatório da dinâmica das exportações brasileiras, principalmente no modelo das commodities agrícolas e minerais, respectivamente, com elasticidades contemporâneas positivas de 1,57% e 1,20%, e em menor magnitude no modelo de produtos industriais, 0,94%. Em todos os casos, as elasticidades acumuladas encontradas foram maiores do que as iniciais, indicando um efeito duradouro dos choques. Tais coeficientes encontrados são bastante significativos e indicam que a demanda chinesa por exportações brasileiras é elástica em relação a variações na renda chinesa (elasticidade finita). Esse resultado é semelhante aos encontrados na literatura e vem reforçar a hipótese de que para avaliar o desempenho das exportações brasileiras é necessário especificar-se um modelo simultâneo de oferta e demanda e não apenas o de oferta. Com relação à variável taxa de câmbio (TX), esta se mostrou mais importante para explicar o modelo de exportações brasileiras de produtos industriais, com elasticidade contemporânea de 1,31%, do que para os modelos de agrícolas, 0,76% e minerais, 0,48%. Adicionalmente, em todos os modelos estimados, os efeitos acumulados foram maiores do 91 que os de curto, verificando a presença do efeito da “curva J” no comércio bilateral BrasilChina, com intensidade bastante menor para o caso do comércio de produtos minerais. Os preços relativos de exportação (PR), significativos para o modelo de produtos industriais, mostraram ter um baixo poder explanatório sobre a dinâmica das exportações de commodities agrícolas e minerais. Sua elasticidade acumulada mostrou-se pouco significativa, o que é reforçado pelos resultados obtidos na análise histórica de decomposição da variância dos erros de previsão. Porém, tais coeficientes dos preços relativos indicam que a demanda externa chinesa por exportações brasileiras é elástica com relação aos preços. Pode-se concluir, no entanto, que a hipótese de que o Brasil enfrenta uma curva de demanda com elasticidade-preço infinita não é adequada. Assim, a hipótese de “país pequeno” pode ser rejeitada, e se conclui que a especificação correta, para o comércio bilateral Brasil-China, é a de produtos não substitutos perfeitos para os bens domésticos, sendo explicado por um modelo simultâneo de oferta e demanda de exportação. A variável de utilização da capacidade instalada do Brasil (U) apresentou coeficientes consistentes para todos os modelos estimados, mostrando que tal variável conseguiu captar corretamente os efeitos da demanda interna brasileira sobre as exportações. Tal variável apresentou maior coeficiente para os produtos agrícolas, -1,22%, seguido dos produtos minerais, -1,05% e dos produtos industriais, -0,94%. Seu efeito acumulado supera os efeitos iniciais e estabiliza-se em torno de -1,5% a -2% para todos os modelos, refletindo a preferência pelo mercado interno, conforme verificado na literatura. O coeficiente da variável de utilização da capacidade instalada, além de mostrar-se estatisticamente significativo sugere que um aquecimento da demanda interna e a conseqüente redução do hiato do produto influenciam substancialmente a oferta de exportação, provocando uma redução nas mesmas, para todas as categorias de produtos. Conclusivamente, a contribuição do trabalho se deu na caracterização do comércio bilateral Brasil-China, com a ótica de analisar o mercado de commodities e de bens de maior valor agregado. Mais além, adiciona à literatura, através da utilização de um ferramental econométrico avançado, elementos para um melhor entendimento dos determinantes do comércio internacional entre estes dois países. 92 REFERÊNCIAS ABREU, M. P. China’s emergence in the global economy and Brazil. Texto para Discussão PUC - Rio, nº 491, 2005. ANDRADE, D. C. Fatores condicionantes do crescimento econômico de longo prazo na China: Aspectos teóricos e investigação empírica. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Uberlândia, 2006. ANGELIS, C. T. Um estudo sobre os filtros Hodrick-Prescott e Baxter-King. Dissertação de Mestrado (Economia) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina. 2004. BACKUS, D. K.; KEHOE P. J.; KYNLAND F. E. 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