“IMAGINA UM MÉDICO MEXENDO NO MEU CORPO? NOSSA!”: O SIGNIFICADO DAS CONSULTAS GINECOLÓGICAS PARA MULHERES APÓS A MENOPAUSA Maria Betânia G. Diniz1 Alice Marinho 2 Fabiane Alves Regino 3 Raquel de Aragão Uchôa Fernandes4 RESUMO O tema desse trabalho diz respeito ao envelhecimento e a saúde reprodutiva de mulheres idosas, considerando a menopausa ou interrupção da menstruação, enquanto um marco ou um fator de envelhecimento5, aliados as outras alterações como o período de transição, chamado climatério, que reafirma a condição de velhice para as mulheres, fazendo com que as mesmas reduzam ou parem de procurar a assistência ginecológica, sobretudo, após os 60 anos. Entretanto, torna-se importante entender o processo de construção de valores da sociedade brasileira, em que sempre destinou às mulheres a condição de opressão, submetidas às regras, normas e tabus, sobretudo em relação ao seu corpo. Nesse caso, podemos falar dos problemas e dificuldades enfrentadas pelas mulheres durante a menopausa, que segundo Emily Martin (2006) sensações como calor e emoções são percebidas como símbolos de subordinação por essas mulheres, refletindo na percepção da credibilidade e competência profissionais das mesmas, como na configuração do descontrole emocional como algo característico desta fase. Isto posto, o presente trabalho teve como objetivos analisar a percepção das mulheres idosas que já passaram pelo período da menopausa, em relação às consultas ginecológicas, discutir a importância das consultas ginecológicas para a saúde das mulheres na fase após a menopausa, identificando a freqüência dessas aos consultórios ginecológicos e como o atendimento influencia na continuidade dessas consultas. A população desse estudo constituiu-se de uma amostra aleatória de 13 mulheres idosas acima de 60 anos, que passaram pelo período da menopausa, participantes do Programa para Terceira Idade, do Serviço Social do Comércio 1 Graduanda em Economia Doméstica -UFRPE– [email protected] Graduanda em Ciências Biológicas - UFRPE– [email protected] 3 Economista Doméstica - UFV. Mestra em Ciências Sociais - UFBA. Professora Assistente do Departamento de Ciências Domésticas da UFRPE – [email protected] 4 Economista Doméstica (UFV). Mestra em Extensão Rural - UFV. Professora Assistente do Departamento de Ciências Domésticas da UFRPE – [email protected] 5 Sobre envelhecimento ver Ângela Borges e Mary Castro (2007). 2 1 (SESC-Recife). O Sesc foi escolhido, pois desenvolve programas para idosos/as no sentido de melhorar a qualidade de vida e por ter como pauta as discussões sobre a saúde reprodutiva de homens e mulheres idosos/as. A pesquisa, de caráter qualitativo, foi realizada a partir de entrevistas semi-estruturadas com essas mulheres de diferente nível social e de escolaridade, que freqüentam ou não os consultórios ginecológicos. Foi possível perceber que a maioria das entrevistadas, que realizam consultas ginecológicas após a menopausa, declararam satisfeitas com as consultas nos estabelecimentos que freqüentam, tanto privados quanto públicos. Grande parte das mulheres entrevistadas freqüentava os consultórios ginecológicos públicos do Sistema Único de Saúde (SUS). Algumas poucas queixas em relação ao atendimento não satisfatório vieram no sentido de falta de atenção por parte dos/as ginecologistas com a paciente, a consulta é muito rápida e as reclamações das mulheres não são ouvidas adequadamente. “Às vezes, vou no consultório ginecológico. Mas não gosto do atendimento. Acho importante me cuidar mas, o médico só faz escrever, mal olha prá gente!” (IDOSA, CASADA DE 60 ANOS – ENTREVISTA REALIZADA EM JUNHO DE 2009). A maior parte das entrevistadas acredita na importância de freqüentar o consultório ginecológico após a menopausa, bem como acreditam que a prevenção é necessária e por isso sempre fazem os exames necessários. Entretanto, houve mulheres que nunca fizeram nenhum tipo de exames de prevenção, justificando isso através do medo que sentem em relação aos exames ginecológicos após a menopausa. Podemos ver isso na fala de uma mulher idosa de 79 anos, casada e com filhos: “Eu nunca fiz prevenção após a menopausa. Não quero que o médico me examine, mas acho que é importante fazer a tal da prevenção. Nunca fiz porque tenho medo” (ENTREVISTA REALIZADA EM JUNHO DE 2009). Outra mulher, solteira, de 60 anos de idade declarou que por ser virgem e achar que embora seja importante freqüentar o consultório ginecológico, não precisa fazer o exame porque nunca teve relação sexual e ressalta: “(...) acho importante que as mulheres façam, mas, nunca fiz porque tenho medo. Sou virgem! Imagina um médico mexendo no meu corpo? Nossa!” (ENTREVISTA REALIZADA EM JUNHO DE 2009). Diante do que foi discutido, concluímos que há muitas coisas que as idosas após a menopausa, têm a falar sobre a questão da sua saúde no âmbito ginecológico, mas não o fazem por questões de medos ou tabus. Outras, com uma percepção mais ampla das mudanças ocorridas na sociedade, são mais “abertas” e consideram o atendimento ginecológico de suma importância para uma vida mais saudável e, assim, dão continuidade às consultas após a menopausa, mesmo considerando esses exames não muito 2 confortáveis. Na verdade, a menopausa é o fim do período fértil da mulher e não é o fim da vida e a preocupação com a saúde ginecológica não deve ser abandonada. As consultas, os exames preventivos, a sensibilização para buscar atendimento ginecológico é algo que deve ser analisado e deve ser colocado como tema de discussão, especialmente, às mulheres idosas, que vêem a menopausa como o envelhecimento e fim da sua vida social e reprodutiva. REFERÊNCIA MARTIN, Emily. A mulher no corpo: uma análise cultural da reprodução. Rio de Janeiro, Editora Garamond, 2006, 378p. BORGES, Ângela; CASTRO, Mary Garcia. Família, gênero e gerações: desafios para as políticas sociais. São Paulo: Paulinas, 2007. CARVALHO, M.L; FUREGATO, A. R.. Exame ginecológico na perspectiva das usuárias de serviço de saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v.3, n.1, jan/jul. 2001. Disponível em: www.fen.ufg.br/revista. Acesso em 28 jul.2009. 3