DIRETRIZES EM URO-ONCOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA Departamento de Uro-Oncologia 2005 DIRETRIZES EM URO-ONCOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA Departamento de Uro-Oncologia Editores Walter José Koff Antonio Carlos Lima Pompeo Ronaldo Damião Fabrício Borges Carrerette Revisão: Antonio Carlos Lima Pompeo Otávio Clark Lucia Maria de Oliveira Diagramação: Andréia Garcia Arte-final da Capa: Sidnei R. Ramos Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Diretrizes em uro-oncologia / editores Walter José Koff . . . [ et al. ]. - - Rio de Janeiro : SBU Sociedade Brasileira de Urologia, 2005. Outro editores : Antonio Carlos Lima Pompeo, Ronaldo Damião, Fabrício Borges Carrerette Vários colaboradores. 1. Órgãos urinários 2. Oncologia I. Koff, Walter José. II. Pompeo, Antonio Carlos Lima. III. Damião, Ronaldo. IV. Carrerette, Fabrício Borges 05-7871 CDD-616.99261 NLM-WJ 101 Índices para catálogo sistemático: 1. Uro-oncologia : Diretrizes : Medicina 616.99261 SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA Gestão 2003 – 2005 Diretoria Presidente: Walter J. Koff Vice-presidente: Luiz Carlos de Almeida Rocha Secretário geral: Ronaldo Damião 1º secretário: Jorge Sabaneeff 2º secretário: João Luiz Schiavini 3º secretário: José Fernando Callijão Araújo 1º tesoureiro: Fabrício Borges Carrerette 2º tesoureiro: Fernando Augusto F. Dias 3º tesoureiro: Rui de Teófilo e Figueiredo Filho Bibliotecário: Eloisio Alexsandro da Silva Presidente eleito: Sidney Glina Departamento de Uro-Oncologia Diretor: Antonio Carlos Lima Pompeo Membros Gustavo Franco Carvalhal Henrique Sarmento Barata Paulo Ricardo Monti PARTICIPANTES Aluízio Gonçalves da Fonseca (TiSBU) • Professor de Urologia – UEPA • Mestrado em Urologia – HC-FMUSP Alvaro Sadek Sarkis (TiSBU) • Professor Livre Docente de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo André A. G. Moraes Jr • Oncologista clínico – Campinas Antonio Augusto Ornellas Souza (TiSBU) • Doutorado em Urologia – USP • Chefe do Serviço de Urologia – Hospital Mário Kröeff Antônio Carlos Buzaid (colaborador) • Oncologista clínico – Hospital Sírio Libanês – São Paulo Antonio Carlos Lima Pompeo (TiSBU) • Professor Livre Docente em Urologia – Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo • Diretor do Departamento de Uro-Oncologia – SBU – Gestão 2003/2005 Antonio Carlos Pereira Martins (TiSBU) • Professor Titular de Urologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Antonio Euclides Pereira de Souza Junior Antonio Francisco Junquilho Vinhaes (TiSBU) • Professor Adjunto – Universidade Federal – Bahia • Chefe do Serviço de Urologia – Hospital São Rafael – BA • Chefe do Serviço de Transplante Renal do Hospital Português – BA Antonio Otero Gil (TiSBU) • Doutor em Urologia – FMUSP Armando dos Santos Abrantes (TiSBU) • Membro da Comissão de Honorários – SBU • Chefe do Serviço de Urologia – Hospital São Francisco -Ribeirão Preto Arnaldo de Castro Dubeux (colaborador) Carlos Ary Vargas Souto (TiSBU) • Professor Livre Docente e Titular de Urologia Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre Carlos Augusto Vasconcelos de Andrade (TiSBU) • Diretor da Oncoclínica Centro de Tratamento Oncológico – RJ Carlos Eduardo Corradi Fonseca (TiSBU) • Professor Assistente de Urologia Universidade Federal de Minas Gerais Carlos Manoel Araújo Célia Viégas • Doutorada em Medicina pela UFRJ • Médica do Instituto Nacional do Câncer • Médica do Centro Radioterápico Gávea Claudio Ambrogini (colaborador) Demerval Mattos Junior (TiSBU) • Diretor do Serviço de Urologia do Hospital Servidor Público Estadual de São Paulo Eduardo César C. de Gouvêa e Silva (TiSBU) • Professor Adjunto da UERJ • Livre Docente da UERJ (Urologia) Eduardo Franco Carvalhal (colaborador) (TiSBU) • Urologista – PUCRS Eduardo J. Andrade Lopes (TiSBU) • Mestre em Urologia – USP • Professor da Residência Médica de Urologia – Hosp. Prof. Edgard Santos – UFB • Fellow em Urologia – Univ. Minnesota, EUA Eloísio Alexsandro da Silva (TiSBU) • Doutor em Urologia pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Emerson Zani Eric Roger Wroclawski (TiSBU) • Professor Adjunto e Regente da Disciplina de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC • Responsável pelos Serviços de Urologia dos Hospitais de Ensino da Fundação do ABC Fabricio Borges Carrerette (TiSBU) • Professor de Urodinâmica da UERJ • Responsável pelo Setor de Vídeo Urodinâmica da Clínica Fragoso Borges – Petrópolis Felipe Dubourcq (TiSBU) • Mestre em Urologia – FMUSP • Urologista – Recife, PE Fernando Maluf • Doutor em Urologia – FMUSP • Oncologista – Clínica Urológica HC-FMUSP e do Hospital Sírio Libanês Fernando Pires Vaz (TiSBU) • Membro Titular da Academia Nacional de Medicina • Chefe do Serviço de Urologia – Hospital dos Servidores do Estado Flavio Luís O. Hering (TiSBU) • Doutor em Cirurgia pela Escola Paulista de Medicina • Fellow in Urologic Oncology – Roswell Park-New York University – USA Francisco Flávio Horta Bretas (TiSBU) • Coordenador do Departamento de Urologia do Hospital Mater Dei – Belo Horizonte – MG • Ex-Fellow em Oncologia Urológica, Baylor College of Medicine, Houston, EUA Francisco Paulo da Fonseca (TiSBU) • Médico Assistente do Serviço de Urologia – Departamento de Cirurgia Pélvica do Hospital do Câncer de São Paulo – Fundação Antonio Prudente • Doutorado em Oncologia pela Faculdade de Medicina da USP • Professor Titular de Urologia da Faculdade de Medicina de Mogi das Cruzes Gilvan Neiva Fonseca (TiSBU) • Professor de Urologia Faculdade de Medicina da UFG • Doutor em Urologia pela UNIFESP-EPM Gustavo Cardoso Guimarães Gustavo Franco Carvalhal (TiSBU) • Professor da Faculdade de Medicina da PUCRS • Doutor em Urologia pela FMUSP • Fellow em Uro-Oncologia – Washington Universit School of Medicine Henrique Sarmento Barata (TiSBU) • Professor Titular de Urologia – Faculdade de Medicina PUCRS • Chefe do Serviço de Urologia do Hospital São Lucas – PUCRS Homero Oliveira de Arruda (TiSBU) • Professor Assistente – UNIFESP – Escola Paulista de Medicina Igor Snitcovsky • Doutorado Oncologia FMUSP • Oncologista – Clínica Urológica – HC-FMUSP Jorge Sabaneeff (TiSBU) • 1º Secretário da SBU (2003-2005) • Professor Adjunto da Disciplina de Urologia da Faculdade de Medicina de Campos – RJ • Mestre e Doutor em Urologia pela UNIFESP-EPM José Carlos Stumpf Souto • Médico Urologia • Mestre em Patologia pela Fundação Fac. Fed. de Ciência Medicas RS • Fellow em Patologia Experimental pela Universidade do Alabama – Birminghan – EUA José Carlos Stumpf Souto (TiSBU) • Urologia – Porto Alegre José Cocisfran A. Milfont (TiSBU) • Chefe do Serviço de Urologia do Hospital do Corpo de Bombeiros – RJ • Mestre em Urologia – UERJ José Eduardo Fernandes Távora (TiSBU) • Coordenador da Clínica de Urologia Hosp. Servidores do Estado de MG José Ricardo Tuma Ponte (TiSBU) • Professor de Urologia • Chefe da Cadeira de Clínica Cirúrgica I – UEPA • Mestrado em Urologia – HC-FMUSP José Roberto Colombo Jr (TiSBU) • Urologista Kátia C. F. Loureiro (colaboradora) Leandro Koifman (colaborador) • Médico do Serviço de Urologia do Hosp. Souza Aguiar • Médico do Serviço de Urologia Hosp. Mário Kroëff Limirio Leal da Fonseca Filho (TiSBU) • Responsável pela Enfermaria e Chefe do Grupo de Tumores Urológicos do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo • Doutor em Urologia – FMUSP Luciana Louzada (colaboradora) Luiz Antonio Corrêa (TiSBU) • Professor Titular do Departamento de Urologia da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP Luiz Carlos de Almeida Rocha (TiSBU) • Professor Titular de Urologia da Universidade Federal do Paraná e Universidade Católica do Paraná Marcelo Luiz Bendhack (TiSBU) • Doutor em Uro-Oncologia – Univ. Heinrich-Heine Düsseldorf – Alemanha • Doutor e Mestre em Cirurgia UFPR Marcio Maia Lamy de Miranda (TiSBU) • Professor – Universidade Federal do Espírito Santo • Fellow em Urologia – Instituto de Urologia da Fundación Puigvert Barcelona – Espanha Marcos Francisco Dall’Oglio (TiSBU) • Professor assistente – Clínica Urológica HC-FMUSP • Urologista do Hospital Sírio-Libanês – SP Marcus Vinicius Sadi (TiSBU) • Professor Titular de Urologia – Universidade de Santo Amaro – UNISA • Professor Livre Docente de Urologia – Escola Paulista de Medicina – UNIFESP Maria Ângela Santos Nothaft • Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia • Chefe do Serviço de TC-RM do Multiscan – Vitória – ES Milton Berger • Assistente do Serviço de Urologia – Hospital das Clínicas de Porto Alegre – Universidade Federal do Rio Grande do Sul • Mestre em Urologia – Curso de Pós-Graduação em Medicina: Cirurgia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul • Assistant Etranger – Clinique Urologique, Hôpital Necker – Université René Descartes – Paris Misael Wanderley dos S. Júnior (TiSBU) • Mestre em Cirurgia pela Universidade Federal de Pernambuco • Pós-graduação em uro-oncologia for the University of Texas e Baylor College of medicine, Houston – USA • Chefe do Serviço de Urologia do Hospital dos Servidores do Estado de Pernambuco Modesto Antonio de O. Jacobino (TiSBU) • Docente-Livre de Urologia da Faculdade de Medicina da Bahia / UFBA • Doutor em Urologia pela Faculdade de Medicina da Bahia / UFBA • Presidente SBU Bahia Nelson Rodrigues Netto Jr (TiSBU) • Professor Titular chefe da Disciplina de Urologia – UNICAMP Omar El Hayek (TiSBU) • Profesor assistente de Urologia – HC-FMUSP Osmar Eustáquio Ribeiro de Souza (colaborador) Otávio Clark • Professor Oncologia PUC – Campinas • Diretor do Núcleo Brasileiro de Oncologia Baseada em Evidências Paulo César Viegas Martins (TiSBU) • Médico Assistente – Clínica de Urologia – Hospital das Clínicas UFMG Paulo Ricardo Monti (TiSBU) • Professor Adjunto de Urologia da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro – Uberaba – MG • Doutor em Urologia pela Faculdade de Medicina da USP – São Paulo – SP Paulo Roberto Martins Rodrigues (TiSBU) • Membro do Instituto Albarran de Urologia Renato Prado Costa • Chefe do Serviço de Urologia – Hospital Amaral Carvalho (Jaú-SP) Renato Scaletsky (TiSBU) • Médico Assistente do Serviço de Urologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS Ricardo Caponero • Oncologista clínico – São Paulo Rodolfo Borges Reis (TiSBU) • Responsável pelo Ambulatório de Uro-Oncologia– Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP • Mestre em Urologia – FMRP, USP • Doutor em Urologia – FMRP, USP • Fellow in Urology, Columbia University, EUA Rodrigo Loureiro de Marins (colaborador) Rogério de Moraes Mattos (TiSBU) • Mestre em Urologia – UERJ • Doutor em Urologia – FMUSP Ronaldo Damião (TiSBU) • Professor Titular de Urologia – Hospital Universitário Pedro Ernesto – UERJ • Membro Titular da Academia Nacional de Medicina Ronaldo Hueb Baroni • Médico Assistente Doutor do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP • Médico Radiologista do Hospital Israelita Albert Einstein Rui Teófilo F. Filho • Mestre em Urologia – UERJ • Médico do Serviço de Urologia – HUPE Sami Arap (TiSBU) • Professor Emérito de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo • Professor Assistente Estrangeiro da Faculdade de Medicina de Paris Sidney Glina (TiSBU) • Presidente eleito – SBU – gestão 2005-2007 • Chefe da Clínica Urológica do Hospital Ipiranga, São Paulo • Doutor em Urologia – FMUSP Stênio de Cássio Zequi (TiSBU) • Assistente do Serviço de Urologia do Hospital do Câncer – São Paulo Thiago Prattes da Nova (colaborador) Ubirajara Ferreira (TiSBU) • Professor Associado de Urologia da UNICAMP • Responsável pelo Setor de Uro-oncologia do HC da UNICAMP Valdemar Ortiz (TiSBU) • Professor Titular da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina Wagner Eduardo Matheus (colaborador) • Mestre e Assistente – Disciplina de Urologfia UNICAMP Walter J. Koff (TiSBU) • Professor Titular e Chefe de Serviço do Hospital das Clínicas – Universidade Federal do Rio Grande do Sul • Presidente – SBU (2003-2005) Wladimir Nadalin • Professor da Disciplina de Radioterapia da FMUSP • Diretor dos serviços de Radioterapia dos Hospitais Albert Einstein e Oswaldo Cruz PREFÁCIO O Projeto Diretrizes da SBU, que se insere no grande Projeto Diretrizes da AMB, possui imensa importância para a urologia brasileira. Em primeiro lugar beneficia os pacientes que contarão com atendimento mais adequado, pois as diretrizes são orientadas pela medicina baseada em evidências e, portanto, cada recomendação é fundamentada no maior nível de evidência disponível. O projeto também beneficia o sistema de saúde porque permite melhor aproveitamento dos escassos recursos disponíveis alocados para a saúde e orienta quanto às condutas mais adequadas e pertinentes em cada caso, barateando o custo da investigação e tratamento. Finalmente, ajuda os urologistas a se orientarem pelas evidências mais importantes existentes na literatura mundial e, desta maneira, a se manterem atualizados, numa época em que a produção e divulgação de conhecimentos têm crescido de forma exponencial. O Dr. Antonio Carlos Lima Pompeo, através do nosso Departamento de Uro-Oncologia, e com o auxilio de dezenas de colegas de todo Brasil, realizou um magnífico trabalho criando, pela primeira vez no Brasil diretrizes em uro-oncologia, abrangendo todos os tumores malignos da área urológica. Considerando que os tumores malignos de nosso âmbito de atuação compreendem quase 40% dos cânceres da humanidade em número de pacientes assistidos, pode-se bem compreender o gigantesco trabalho realizado consultando toda literatura mundial com nível de evidência adequado para traçar diretrizes. O resultado aqui está – num único volume para facilitar a consulta – e será entregue a todos os nossos associados como mais um serviço prestado pela nossa SBU. Estas diretrizes foram entregues à AMB e passam agora a fazer parte das diretrizes brasileiras em oncologia e, como tal, estão sendo enviadas ao Ministério da Saúde, SUS, UNIMED e demais empresas prestadoras de serviços na área da saúde. Com esta publicação damos um gigantesco passo para inserir a nossa especialidade na medicina brasileira como uma das mais atuantes e organizadas. A diretoria da SBU agradece ao Dr. Pompeo e demais colaboradores que, durante muitos fins de semana, doaram o seu tempo de lazer para ajudar nesta obra e se dedicaram, gratuitamente, para a melhora da medicina brasileira e engrandecimento da nossa sociedade. Walter J. Koff Presidente – SBU APRESENTAÇÃO O câncer urológico transformou-se, nos últimos anos, em tema dos mais importantes e controversos, ultrapassando as fronteiras da Urologia, para adentrar em profundidade, outras especialidades. A evolução, neste campo, foi muito expressiva e a atualização torna-se uma necessidade fundamental. Ciente dessa realidade a AMB tem solicitado, há tempos, que todas as sociedades realizem reuniões de diretrizes orientadas pelas novas tendências, ou seja, as da Medicina baseada em evidências adequando-as ao nosso meio. Ao assumirmos a Diretoria do Departamento de Uro-Oncologia aceitamos o desafio da Diretoria da SBU, na pessoa do Presidente Walter J. Koff, para programar e coordenar estas reuniões com o objetivo de padronizar, de maneira oficial, condutas para a Uro-Oncologia. Sabíamos, por experiência anterior, que esta seria uma missão complexa e desgastante, porém de suma importância para a Urologia Brasileira. Apoiados de maneira incondicional, sob o ponto de vista logístico e material, dentro do que o bom senso permitia realizamos em setembro/ 2004 o Consenso Brasileiro de Câncer da Próstata, baseado nos princípios já referidos. Esta reunião teve lugar em Angra dos Reis e contou com a inestimável “força-tarefa” representada por 45 urologistas com grande experiência no tema. Foi um sucesso! Esta diretriz recebeu a aprovação integral da AMB. Conscientes do valor de nossos companheiros oriundos de diferentes entidades brasileiras, partimos com todo entusiasmo e determinação, para a realização de novas reuniões. Desta feita, buscando minimizar custos de maneira significativa, decidimos realizá-las na sede da SBU nacional, com mão de obra primorosa de nossas secretárias e demais funcionários. Assim, com equipes que se revezaram nos diferentes tópicos, decididos levar a cabo uma missão que parecia inatingível – a de realizar reuniões de diretrizes ainda dentro da nossa gestão, sobre os temas: câncer da próstata, dos rins, da bexiga, dos testículos e, finalmente, do pênis. Para o desenvolvimento de cada tema eram formados grupos sob a coordenação de um colega com a responsabilidade de pesquisar a literatura pertinente e elaborar o texto preliminar que era discutido em assembléia com a presença de todos os membros. Assim surgia o documento que, após o devido polimento de forma e conteúdo era finalizado para divulgação à Sociedade. Estas cinco reuniões somente se concretizaram graças ao trabalho fecundo, de muita colaboração e desprendimento dos participantes e, por que não, de dedicação à nossa Sociedade. A estes colegas deixamos aqui registrado nosso profundo reconhecimento. Temos agora a enorme satisfação de entregar à nossa Sociedade esta coletânea que contém uma parcela de cada participante. Dedicamos este trabalho à coletividade médica brasileira, principalmente aos nossos colegas urologistas. Com o sentimento pleno da missão cumprida, agradecemos o apoio recebido da direção da SBU. Antonio Carlos Lima Pompeo Diretor – Departamento de Uro-Oncologia – SBU Coordenador Geral das Reuniões de Diretrizes Gestão 2003 – 2005 SUMÁRIO METODOLOGIA ....................................................................................... 21 I. CÂNCER RENAL .............................................................................. 23 1. Diagnóstico e estadiamento .......................................................... 25 2. Tratamento ...................................................................................... 35 3. Fatores prognósticos e seguimento ............................................... 42 II. CÂNCER DA BEXIGA ....................................................................... 59 1. Diagnóstico e estadiamento .......................................................... 62 2. Tratamento ...................................................................................... 68 3. Fatores prognósticos e seguimento ............................................... 75 III. CARCINOMA DA PRÓSTATA ........................................................... 89 1. Diagnóstico e estadiamento .......................................................... 90 2. Tratamento ..................................................................................... 119 3. Prevenção e rastreamento ............................................................. 175 4. Fatores prognósticos e seguimento .............................................. 189 IV. CARCINOMA DE CÉLULAS GERMINATIVAS DO TESTÍCULO .... 201 1. Diagnóstico e estadiamento ......................................................... 203 2. Tratamento ..................................................................................... 211 3. Fatores prognósticos e seguimento .............................................. 217 V. CARCINOMA DO PÊNIS ................................................................ 233 1. Diagnóstico e estadiamento ......................................................... 234 2. Tratamento ..................................................................................... 239 3. Fatores prognósticos e seguimento .............................................. 253 Metodologia O uso de elementos de medicina baseada em evidências nos consensos e diretrizes de sociedades médicas tem crescido e sido cada vez mais aceito (1). Sabe-se hoje que pacientes tratados de acordo com diretrizes baseadas em evidências têm prognóstico melhor que aqueles tratados sem estas orientações (2). Nestas reuniões de diretrizes utilizamos métodos explícitos de classificação das evidências (1, 3). Durante as reuniões, o responsável por cada tema e os integrantes do seu grupo fizeram uma revisão da literatura pertinente com discussão entre os membros e elaboração de um texto que foi submetido à assembléia geral onde participavam todos os membros presentes à reunião. O texto final resultou da concordância explícita de todos. Este foi revisto e as referências classificadas de acordo com seu grau de confiabilidade, com base nos níveis de evidências (NE) (1,3). A classificação do NE foi feita pelos níveis de hierarquia do Centre for Evidence Based Medicine of Oxford (4). Quando pertinente, os níveis de evidências foram transformados em graus de recomendação (GR), de acordo com a discussão do consenso. A tabela abaixo mostra os NE e GR para estudos de tratamento. O uso de NE e GR permite que o leitor identifique com facilidade a qualidade da informação científica que sustenta as recomendações feitas pelos especialistas. Um NE 1 ou 2 (GR A/B), significa que a informação é baseada em estudos de alta qualidade científica e deveria ser adotada na prática médica na absoluta maioria dos casos, salvo naqueles que fujam do habitual. Já recomendações com NE mais baixo são baseadas em informações científicas de qualidade menor e o julgamento do especialista no cotidiano deve ter um papel preponderante sobre adotá-la ou não. Ao estar explicitamente baseando sua conduta em NE, o urologista está assegurando a si mesmo e a seu paciente que a conduta escolhida é a melhor disponível naquele momento. Evita-se também a adoção de novas práticas antes que se comprove que estas são realmente eficazes – situação relativamente comum quando usamos fontes de informações oferecidas por terceiros, como propaganda de laboratórios, outros colegas e mesmo informações obtidas em palestras e conferências (1). 21 REFERÊNCIAS 1. Guyatt G, Rennie D: User’s Guide to the Medical Literature – a Manual for Evidence – Based Clinical Practice. 1 ed. Chicago-IL. 2002; AMA press. 2. Hebert-Croteau N, Brisson J, Latreille J, Rivard M, Abdelaziz N, Martins G: Compliance with consensus recommendations for systemic therapy is associated with improved survival of women with node-negative breast cancer. J Clin Oncol. 2004, 22(18): 3685-93. 3. Egger M, Smith GD, Altman D: Systematic Reviews in Health Care. 2 ed. London: BMJ Books. 2001. 4. Centre for Evidence Based Medicine. Oxford University. http:// minerva.minervation.com/cebm/docs/levels.html. In; 2002. 22 Capítulo I CÂNCER RENAL Coordenação geral: Antonio Carlos Lima Pompeo Coordenadores: Walter José Koff Ronaldo Damião Fabrício Borges Carrerette Coordenadores de temas: Diagnóstico: Antonio Carlos Pereira Martins Tratamento: Ubirajara Ferreira Prognóstico e seguimento: Eric Roger Wroclawski Autores: Antônio Carlos Buzaid * Antonio Carlos Lima Pompeo Antonio Carlos Pereira Martins Antonio Euclides Pereira de Souza Junior Armando dos Santos Abrantes Arnaldo de Castro Dubeux* Eduardo Franco Carvalhal* Eric Roger Wroclawski Fabrício Borges Carrerette Fernando Maluf Gustavo Franco Carvalhal *Colaboradores Revisor técnico-científico: Otávio Clark Jorge Sabaneeff José Cocisfran A. Milfont José Roberto Colombo Jr.* Marcus Vinicius Sadi Omar El Hayek Otávio Clark Renato Scaletsky Rodolfo Borges Reis Rodrigo Loureiro de Marins* Ronaldo Hueb Baroni Ubirajara Ferreira Wagner Eduardo Matheus* DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO EPIDEMIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO O câncer renal parenquimatoso em adultos corresponde a 2%-3% de todas as neoplasias malignas, acometendo anualmente 30.000 norte-americanos e matando 12.000/ano (1, 2). No Brasil, a incidência desta neoplasia varia de 7 a 10 casos/100.000 habitantes/ano nas áreas mais industrializadas, com taxas menores em regiões menos desenvolvidas (2). Devido à baixa prevalência do câncer renal (3), o rastreamento populacional para detecção precoce não é justificável (NE 5). O câncer renal é duas vezes mais freqüente em homens, sendo mais prevalente dos 50 aos 70 anos (1). Pode ter incidência esporádica, ou estar associado a fatores genético/hereditários (como a doença de Von-HippelLindau e o carcinoma renal hereditário), insuficiência renal crônica em hemodiálise e esclerose tuberosa, situações em que apresenta incidência aumentada (4, 5) (NE 5). O termo carcinoma de células renais (CCR) designa as neoplasias renais de origem epitelial com potencial maligno. A tabela 1 apresenta os tipos histológicos de CCR, com suas respectivas prevalências. DIAGNÓSTICO CLÍNICO-LABORATORIAL A maior disponibilidade e aperfeiçoamento dos métodos de imagem, aliados à tardia e inespecífica instalação de sintomas, levaram a um grande aumento na porcentagem de tumores renais incidentais. Atualmente, até 50% dos CCR são achados incidentais (3). Os sinais e sintomas mais comuns são hematúria, dor lombar ou no flanco e massa palpável, associados ou não a outros menos específicos, como emagrecimento, febre, sudorese noturna, hipertensão e varicocele (7) (NE 3). 25 As síndromes paraneoplásicas e alterações sistêmicas ocorrem em 20% dos pacientes com CCR, sendo as principais manifestações: hipertensão, disfunção hepática, anemia, caquexia e perda de peso (7, 8) (NE 2). As alterações laboratoriais mais comuns são: elevação da VHS, hipercalcemia, hemoglobina <10 em mulheres e <12 em homens, eritrocitose, trombocitose e fosfatase alcalina elevada (8, 9) (NE 2). Marcadores moleculares urinários e sangüíneos poderão auxiliar no diagnóstico do CCR, porém ainda não estão em uso clínico (10-12). DIAGNÓSTICO POR IMAGEM Radiografia simples e urografia excretora (UE) Devido à incapacidade de visibilização direta e caracterização de lesões expansivas renais, a radiografia simples de abdome e a UE passaram a ser cada vez menos utilizadas no diagnóstico destes tumores. Entretanto, eventuais massas parenquimatosas renais podem ser identificadas em estudos radiográficos realizados por outros motivos. Presença de massa renal parenquimatosa calcificada visível à radiografia simples deve levantar a suspeita de neoplasia (13) (NE 4). Já os achados de UE dependerão do tamanho e localização do tumor, podendo incluir abaulamento do contorno ou deslocamento da imagem renal, compressão ou amputação calicinal, etc. Porém, é importante salientar que a UE não tem eficácia adequada para detecção de tumores renais e toda e qualquer alteração parenquimatosa deve ser estudada por outros métodos de imagem mais específicos (14, 15) (NE 2). Ultra-sonografia (US) A US é o método de imagem mais comumente empregado para rastreamento de patologias renais. O principal papel US consiste em detectar lesões parenquimatosas focais e classificá-las em 3 categorias: definitivamente cisto simples, definitivamente nódulo sólido, ou indeterminada (cística, porém não cisto simples). Cistos simples com paredes finas e conteúdo anecóico são considerados benignos, não sendo necessário nenhum exame complementar para afastar neoplasia (16) (NE 4). Os CCR são lesões primariamente sólidas com ecogenicidade variada na US, embora aproximadamente 40% apresentem áreas císticas decorrentes de necrose ou hemorragia, e menos de 5% sejam predominantemente císticos. Lesões císticas com septações, contornos irregulares, nódulos murais, paredes espessas ou calcificações são suspeitos para CCR (17) (NE 4). Al26 guns CCR são difíceis de ser identificados à US, especialmente aqueles pequenos, isoecogênicos e que não abaulam o contorno renal (18) (NE 5). Além disso, alguns CCR podem apresentar-se como nódulos hiperecogênicos, simulando angiomiolipoma, podendo a TC ser realizada em caso de dúvida (19) (NE 4). Em resumo, qualquer nódulo ou lesão cística que não preencha os critérios ultra-sonográficos de cisto simples ou pequeno angiomiolipoma típico, deve ser estudada por outros métodos de imagem mais específicos, preferencialmente a TC (20) (NE 4). Tomografia computadorizada (TC) A TC, em virtude de sua capacidade de acessar a densidade tecidual e vascularização de massas renais, possibilita a diferenciação entre cistos e nódulos sólidos, além de estadiar e auxiliar na programação cirúrgica de tumores (21). Visto que muitas lesões císticas renais não preenchem os critérios de cisto simples e também não são francamente sólidas, Bosniak et al. propuseram uma classificação tomográfica dos cistos renais (figura 1 e tabela 2) (14, 22, 23). Figura 1 – Exemplos de lesões císticas renais na TC conforme a classificação de Bosniak I: cistos simples; II: cisto hiperdenso <3cm; IIF: cisto com fina septação e calcificação parietal nodular; III: cisto com septações grosseiras; IV: cisto com nodulações sólidas parietais 27 > Os CCRs sólidos apresentam aspecto tomográfico variado, dependendo de sua vascularização, tipo histológico, padrão de crescimento, e aspecto macroscópico. Todos apresentam algum grau de realce pelo meio de contraste, o que os diferencia de cistos simples. No entanto, sabe-se que pequenos cistos simples (menores que 1 cm) podem apresentar pseudo-realce pelo contraste devido a artefatos técnicos inerentes ao método, e, portanto, apenas realces pós-contraste superiores a 15UH devem ser considerados como positivos para lesão sólida (28, 29) (NE 4). Em caso de dúvida, complementação com US ou Ressonância Magnética (RM) é indicada (30) (NE 5). A fase pré-contraste do exame deve ser avaliada, para afastar a presença de focos de gordura macroscópica – < 20 unidades Hounsfield (UH) que são considerados praticamente diagnósticos de angiomiolipomas (31) (NE 5). Focos de calcificação, necrose e hemorragia também podem ser 28 observados em alguns CCR, especialmente naqueles de maiores dimensões (32) (NE 5). O advento das técnicas de TC helicoidal e multislice possibilitou significativo incremento no diagnóstico e estadiamento de tumores renais, permitindo estudos em múltiplas fases de contrastação parenquimatosa e da via excretora, com cortes mais finos e menor tempo de apnéia, e possibilidade de reconstruções multiplanares e tridimensionais (3D) (21, 33) (NE 4) (figura 2). Figura 2 – Reconstruções multiplanar eM 3D de TC multislice em um paciente com CCR, demonstrando a relação do tumor (T) com duas artérias renais (setas) e com a veia renal (v) à esquerda Ressonância magnética (RM) Embora a TC seja considerada o principal método de imagem na avaliação renal, a RM progrediu substancialmente nos últimos anos em relação ao diagnóstico e estadiamento de tumores sólidos, além de ser o método de escolha em pacientes nefropatas crônicos ou com alergia ao contraste iodado (34) (NE 5). Os CCR podem apresentar características de sinal e contrastação variadas à RM, sendo imprescindível a identificação de realce pós-contraste para caracterização definitiva de lesão sólida. A utilização de seqüências 3D dinâmicas pós-contraste, além de possibilitar adequada identificação de áreas sólidas, permite a avaliação vascular para fins de estadiamento e planejamento cirúrgico em um mesmo estudo (34) (NE 5) (figura 3). 29 Figura 3 –CCR avaliado através de RM 3D pós-contraste, mostrando nódulo sólido (seta) e duas artérias renais (setas pretas). Achado incidental: aneurisma da aorta infrarenal (*). Os mesmos critérios da classificação de Bosniak utilizados na avaliação por TC (com exceção de calcificações, que não são visíveis à RM) podem ser empregados de maneira análoga em exames de RM, com a ressalva de que esta pode identificar alguns espessamentos parietais ou septais não visíveis na TC, com isso classificando certas lesões com maior grau (35) (NE 4). Utilização cada vez mais freqüente da RM consiste na avaliação de pequenos cistos hiperdensos <2 cm ou lesões císticas complexas de difícil caracterização pela TC (30, 34) (NE 5). Em resumo, a RM consiste em um método diagnóstico alternativo à TC, sendo especialmente indicada nos casos de lesões duvidosas à tomografia, em pacientes nefropatas ou com alergia ao contraste iodado, ainda naqueles com rim único ou que requerem repetidos exames de seguimento (32) (NE 5). Medicina nuclear A tomografia de emissão de pósitrons (16) com utilização da 18fluoro-2-desoxiglicose (FDG) tem pouca aplicabilidade em tumores do trato urinário em geral, devido à excreção urinária do radiofármaco e, possivelmente, também à reduzida atividade metabólica destes tumores, não tendo, portanto, indicação na detecção de CCR (36) (NE 4). Arteriografia Com a melhora dos métodos diagnósticos por imagem menos invasivos, a arteriografia passou a ser cada vez menos utilizada no diagnóstico de tumores renais. Da mesma forma, a possibilidade de obtenção de estudos vasculares por TC e RM eliminou a necessidade de estudos 30 arteriográficos pré-operatórios para guiar a ressecção cirúrgica ou para caracterizar lesões vasculares que pudessem simular tumores (37) (NE 5). ESTADIAMENTO CLÍNICO Dois sistemas são utilizados no estadiamento de CCR, Robson e TNM, sendo este o mais utilizado (tabela 3). < < 31 O estadiamento clínico do câncer renal se faz basicamente por TC ou RM. A realização do US-Doppler e da arteriografia fica limitada apenas à avaliação vascular em situações de exceção (41, 42) (NE 3). O FDG-PET também não é utilizado, devido à sua baixa sensibilidade (36). Invasão da gordura peri-renal: a acurácia na identificação de invasão gordurosa peri-renal por TC e RM é moderada, com melhores resultados em aparelhos de última geração (43) (NE 2). Invasão vascular: embora alguns estudos tenham demonstrado que a RM é discretamente superior à TC na avaliação de invasão vascular em CCR (especialmente quanto à avaliação da veia cava inferior), trabalhos mais recentes com utilização de tomógrafos helicoidais e multislice obtiveram resultados similares aos da RM (valores preditivos positivo e negativo superiores a 92% para ambos os métodos) (43, 44) (NE 3). Acometimento linfonodal: o diagnóstico por imagem de acometimento linfonodal em pacientes com CCR baseia-se na identificação de linfonodos >1 cm no seu menor diâmetro. A utilização deste critério na TC associa-se a apenas 4% de resultados falso-negativos para acometimento linfonodal regional, porém mais de 50% destes linfonodos aumentados são inflamatórios (21) (NE 5). Assim, a existência de linfonodomegalias regionais associada a CCR em exame de TC ou RM só deve ser valorizada após confirmação histológica do acometimento linfonodal. A radiografia simples de tórax é usada de rotina no estadiamento do CCR. A TC de tórax é indicada nos casos de alterações radiográficas ou extensa doença regional (45, 46) (NE 2). Cintilografia óssea é indicada nos casos de tumores localmente avançados (estádio clínico/tomográfico >T3b), ECOG >1, presença de dor óssea, hipercalcemia ou elevação de fosfatase alcalina (47-49) (NE 2). Quando se detecta uma lesão parenquimatosa renal na US recomenda-se seguir o fluxograma abaixo. 32 DIRETRIZES 1. O rastreamento populacional para detecção precoce do CCR não é justificável, pela baixa prevalência destes tumores (NE 5; GR C) 2. O rastreamento periódico com ultra-som pode estar indicado em populações com alto risco para CCR: pacientes em hemodiálise há mais de 3 anos, diagnóstico de Von-Hippel-Lindau ou esclerose tuberosa, ou história familiar de CCR hereditário (NE 5; GR D) 3. Pacientes com suspeita clínica de CCR devem ser investigados por meio de US ou TC (NE 2; GR A) 4. O estadiamento do CCR se faz por TC de abdome e raio-X de tórax (NE 2; GR A) 5. Nos casos onde não é possível realizar o TC ou em lesões duvidosas vistas ao TC, a RM pode estar indicada (NE 5; GR C) 6. Cintilografia óssea é indicada nos casos de tumores localmente avançados (estádio clínico/tomográfico >T3b), ECOG >1, presença de dor óssea, hipercalcemia ou elevação de fosfatase alcalina (NE 2; GR B) 33 FLUXOGRAMA DE CONDUTA EM NÓDULOS RENAIS DIAGNOSTICADOS POR MÉTODOS DE IMAGEM 34 TRATAMENTO Nefrectomia radical aberta A base do tratamento dos tumores malignos de rim é a cirurgia, que tem por objetivo remover completamente a neoplasia. Historicamente, o padrão-ouro do tratamento cirúrgico dos pacientes com CCR e rim contralateral normal tem sido a nefrectomia radical. A nefrectomia também pode ser utilizada para o tratamento de pacientes selecionados com comprometimento metastático, em casos de realização de tratamentos sistêmicos ou como medida paliativa, tais como hematúria intensa e dor severa (51). Os princípios da nefrectomia radical foram estabelecidos por Robson et al. (38) e incluem: • ligadura precoce da artéria e veia renais; • remoção completa do rim envolto pela gordura perirrenal e fáscia de Gerota; • remoção da glândula adrenal ipsilateral; • linfadenectomia regional desde a crura diafragmática até a bifurcação da aorta. Ainda não existe na literatura um ensaio clínico randomizado que comprove a superioridade da nefrectomia radical sobre a nefrectomia simples. Contudo, seguindo a maioria dos princípios originais da nefrectomia radical, a sobrevida para pacientes com estádios T1 e T2 nas séries contemporâneas é superior a 75%. Dentre estes, a remoção da gordura peri-renal parece ser um procedimento consensual, uma vez que aproximadamente 25% dos tumores de rim apresentam comprometimento desta estrutura (52) (NE 5). A via de acesso para a nefrectomia radical aberta depende da preferência do cirurgião, das características do tumor e das condições clínicas do paciente. O acesso pode ser por via transperitoneal ou extraperitoneal. Nefrectomia parcial aberta Várias têm sido as motivações para a realização de nefrectomia parcial. Dentre elas, o incremento no diagnóstico de lesões sólidas pequenas e cistos complexos (Bosniak III e IV), as melhores condições de planejamento pré-operatório possibilitadas pelos métodos de imagem recentes, o conhecimento sobre a anatomia vascular do rim e técnicas de prevenção de isquemia trans-operatória e as excelentes taxas de sobrevida observadas em séries recentes. Além disso, aproximadamente 15% a 20% 35 das lesões de dimensões inferiores a 4 cm têm se mostrado benignas nas séries contemporâneas (53, 54) (NE 3). As indicações clássicas para a nefrectomia parcial são aquelas que na realização da nefrectomia radical resultaria na necessidade de diálise, tais como rim único ou tumores bilaterais. Indicações relativas são pacientes com lesões unilaterais, mas com rim contralateral associados a alterações que podem comprometer sua função (p.ex., estenose de artéria renal, litíase, hidronefrose, refluxo vésico-ureteral, pielonefrite crônica ou doenças sistêmicas como diabete melitus ou nefroesclerose). Atualmente, a nefrectomia parcial deve ser indicada nos casos de lesões pequenas (<4 cm) e periféricas, que apresentam baixas taxas de multifocalidade e nos cistos complexos (Bosniak III e IV), mesmo quando o rim contralateral for normal e sempre que se obtiver uma margem mínima de segurança (54). As taxas de recorrência no rim submetido à nefrectomia parcial variam de 4% - 6%, semelhantes às taxas de recorrência com a cirurgia radical (54) (NE 3). Linfadenectomia retroperitoneal Ainda hoje, a linfadenectomia no câncer renal tem como objetivo principal o estadiamento local da lesão, uma vez que seu valor terapêutico é discutível. O acometimento linfonodal representa fator de mau prognóstico, uma vez que na maioria absoluta dos casos já existem metástases concomitantes. Desta forma, a necessidade da realização de linfadenectomia retroperitoneal e os seus limites permanecem incertos. Estudo randomizado de nefrectomia radical com ou sem linfadenectomia retroperitoneal, ainda com resultados ainda não definitivos, sugere que possa haver benefício na sobrevida de um pequeno subgrupo de pacientes linfadenectomizados com comprometimento linfonodal mínimo (55). Os limites da linfadenectomia retroperitoneal para pacientes com carcinoma de células renais podem ser variáveis. A linfadenectomia hilar se restringe à remoção dos linfonodos do hilo renal, os quais geralmente saem juntamente com o espécime de nefrectomia radical; a linfadenectomia regional incluiria os linfonodos do hilo e também os relacionados ao grande vaso ipsilateral (aorta ou cava) pelo menos de L1 a L3; a ampliada inclui a dissecção linfonodal desde a crura diafragmática até a bifurcação dos grandes vasos. A maioria dos autores preconiza que a linfadenectomia ampliada deve ser restrita a pacientes com comprometimento linfonodal macroscópico. No restante dos pacientes, a linfadenectomia hilar parece ser o suficiente (56) (NE 2). Por outro lado, quando se realiza 36 nefrectomia parcial, não existem evidências suficientes que confirmem a necessidade de linfadenectomia. Nefrectomia radical laparoscópica As indicações formais de cirurgia radical laparoscópica são para tumores cT1 (4,0 – 7,0 cm) e relativas para tumores cT2 (57) (NE 3), já havendo relato em cT3 com envolvimento de veia renal e veia cava inferior (58) (NE 5). Para tumores cT1, os resultados de longo prazo são semelhantes aos da cirurgia aberta. A sobrevida livre de doença em 5 anos é semelhante nas duas técnicas (91% na laparoscópica e 87% na cirurgia aberta) (59) (NE 2). As vantagens da técnica laparoscópica na nefrectomia radical em mãos experimentadas são: menor necessidade de analgesia pós-operatória, menor tempo de internação hospitalar, com retorno mais rápido às atividades habituais, além de efeito cosmético superior ao da cirurgia aberta (60) (NE 4). As taxas de complicações da cirurgia laparoscópica são maiores e chegam a 16% com 5% de conversão (61). Até a presente data, existem raros casos relatados de implante tumoral, associados ao morcelamento de tumores de alto grau e ou à presença de ascite (62). A nefrectomia radical laparoscópica também tem sido utilizada para controle da lesão primária em doença metastática, por apresentar menor morbidade e tempo de internação, propiciando o uso precoce de imunoterapia sistêmica (63) (NE 4). Esta técnica assistida com a mão apresenta as vantagens de poder ser usada pelo cirurgião com menos experiência em laparoscopia, permitindo melhor controle vascular nos grandes tumores, maior facilidade de remoção da peça inteira, com menor risco de implante tumora, além de maior rapidez no ato cirúrgico em doentes que apresentam co-morbidades (64) (NE 4). Nefrectomia parcial laparoscópica (NPL) Os melhores casos para a NPL são os tumores menores do que 4 cm, exofíticos e localizados no pólo inferior, que geralmente permitem a NPL sem clampeamento do pedículo renal. Quando houver necessidade de clampeamento, faz-se necessário a adoção de medidas para a preservação da função renal, tais como o uso de manitol e o controle do tempo de isquemia quente, que não deve ultrapassar 30 minutos. Os tumores profundos e os dos seios renais, que necessitam clampeamento do pedículo renal por tempo mais prolongado deverão ser tratados com a associação 37 de hipotermia renal e por cirurgião laparoscopista de grande experiência (65, 66) (NE 3). As complicações da nefrectomia parcial são: fístulas (7,4%), necrose tubular aguda, com necessidade de diálise temporária (6,3%) ou definitiva (4,9%) e sangramento (1,9%) (67). A crioablação e a ablação por rádio-freqüência são alternativas minimamente invasivas com resultados iniciais que necessitam de maior tempo de seguimento (68). Adrenalectomia: quando indicar? A incidência de metástases adrenais em câncer de rim gira em torno de 4,3% a 5,7% (69, 70) (NE 4). O estádio clínico da doença se correlaciona diretamente com a incidência de acometimento da adrenal, sendo este de 40% nos tumores T4, 7,8% nos T3 e 0,6% nos T1-2 (69). Outros fatores de risco como tumores do pólo superior e lesões com grande volume são responsáveis por aproximadamente 58,6% dos tumores que acometem as adrenais. Em conclusão, a remoção da glândula adrenal só se faz necessária quando a mesma estiver alterada em tamanho ou textura no exame de imagem, quando houver acometimento renal extenso, ou em casos de tumor de pólo superior (69-71) (NE 4). Ressecção de metástases (metastasectomia) A maior série retrospectiva da literatura incluiu 278 pacientes. Nesse trabalho, as taxas de sobrevida de cinco anos para pacientes com ressecção completa foram de 44% (n = 141), 14% para pacientes após ressecção incompleta (n = 70) e somente 11% para pacientes não operados (n = 67). A análise multivariada demonstrou que os fatores prognósticos favoráveis foram: recorrência em sítio único, ressecção completa, tempo para a recorrência maior que 12 meses e aparecimento da lesão não sincrônica ao tumor primário. Quanto à localização, as lesões solitárias do cérebro apresentaram pior prognóstico. Quando se considerou recorrências múltiplas, a cada ressecção de metástases, a chance de sobrevida em cinco anos se assemelhou aos resultados obtidos com a ressecção inicial da primeira recidiva. Em conclusão, a ressecção cirúrgica pode estar indicada em pacientes com lesões metastáticas solitárias ou em sítio único ressecável, independentemente da lesão já haver recidivado previamente (72) (NE 4). 38 Papel da nefrectomia em tumores de rim metastáticos A cirurgia citoredutora para tumor de rim metastático em pacientes selecionados tem função no tratamento dos sintomas locais, melhora na qualidade de vida e como demonstram estudos mais recentes, parece melhorar a resposta ao tratamento sistêmico (73). A publicação combinada dos dois maiores grupos de estudo (EORTC – estudo 30947 e SWOG – estudo 8949) demonstrou benefício na sobrevida e no tempo de progressão da doença, favorável à cirurgia associada ao tratamento sistêmico (imunoterapia com interferon) sobre o tratamento sistêmico exclusivo, em pacientes com boas condições clínicas. A sobrevida média no tratamento combinado foi de 13,6 meses e da imunoterapia isolada foi de 7,8 meses (63) (NE 1). Estes resultados foram confirmados por recente revisão sistemática da Colaboração Cochrane (74) (NE 1). Pacientes tratados somente com cirurgia, sem o uso de interferon, apresentam sobrevida em geral menor que um ano e o tratamento sistêmico exclusivo não mostrou resposta significativa no tumor primário (63, 73, 7577) (NE 2). Em conclusão, a nefrectomia radical em pacientes com doença metastática está indicada quando os mesmos apresentam boa condição clínica, ausência de co-morbidades significativas, doença primária ressecável, ou em caráter paliativo. Tratamento adjuvante Com relação ao tratamento adjuvante, dois estudos de fase III randomizados com interferon-alfa (IFN) adjuvante versus observação, incluindo mais de 500 pacientes com estádios II e III, não demonstraram aumento da sobrevida (78, 79) (NE 2). Um pequeno estudo randomizado, com somente 69 pacientes tratados com interleucina-2 (IL-2) adjuvante em altas doses, também não demonstrou benefício na taxa de sobrevida (80) (NE 2). Em relação à radioterapia pós-operatória, dois estudos randomizados também não demonstraram benefício de sobrevida com esse tipo de tratamento (81, 82) (NE 2). Finalmente, no que diz respeito à quimioterapia, não existem estudos adequados sobre esse tipo de tratamento quando utilizado de forma adjuvante. Em conclusão, não existe indicação de quimioterapia, imunoterapia ou radioterapia adjuvante, após cirurgia definitiva, mesmo para tumores localmente avançados (78, 80-82) (NE 2). 39 Tratamento da doença de estádio IV ou recorrente Os resultados gerais do tratamento sistêmico para pacientes com câncer renal metastático são ainda limitados. Em 2000, uma meta-análise com 4216 pacientes submetidos a protocolos com imunoterapia, concluiu que o INF forneceu um benefício modesto de sobrevida quando comparado aos outros tratamentos, sendo um esquema que deveria ser o modelo de teste contra novos tratamentos e que a IL-2 ainda não havia sido validada em estudos randomizados (83). Uma atualização desta revisão sistemática com meta-análise, recentemente publicada (74), incluiu estudos com dados mais maduros, inclusive estudos randomizados cujos resultados isolados haviam sugerido um benefício do uso de interleucina (84). A meta-análise incluiu também os estudos que compararam nefrectomia mais interferon contra nefrectomia apenas (76, 77). Houve várias avaliações, sobre várias estratégias de tratamento, inclusive sobre a adição de quimoterapia ao interferon. As principais conclusões foram: que o uso de Interferon isolado promove um pequeno aumento de sobrevida, que a adição de outros medicamentos não promove melhora de sobrevida e que a abordagem terapêutica que tem melhor chance de sucesso é a nefrectomia seguida de interferon (74) (NE 1). Um outro ponto de relevância nos pacientes com envolvimento ósseo é o uso do ácido zoledrônico, na dose de 4 mg IV a cada quatro semanas. Estudo randomizado comparando ácido zoledrônico com placebo demonstrou redução de 61% de eventos ósseos adversos, no braço que recebeu o ácido zoledrônico (85) (NE 2). 40 DIRETRIZES 1. A nefrectomia radical é o padrão-ouro do tratamento do câncer de rim; 2. A via laparoscópica pode ser indicada em tumores T1 (NE 4; GR C); 3. A nefrectomia parcial está indicada nos tumores <4 cm e nos cistos complexos de localização favorável (NE 3; GR C). A via laparoscópica é uma opção viável em casos selecionados; 4. Nos pacientes submetidos a nefrectomia radical, a linfadenectomia regional ou mesmo a ampliada podem ser realizadas em pacientes com comprometimento linfonodal macroscópico; nos demais casos, a linfadenectomia hilar é suficiente (NE 2; GR B); 5. A adrenalectomia ipsilateral está indicada quando a glândula estiver alterada, quando houver acometimento renal extenso, ou em tumores de pólo superior (NE 4; GR C); 6. A ressecção cirúrgica de metástases está indicada em pacientes selecionados com lesões solitárias ou em sítio único (NE 4; GR C); 7. A nefrectomia radical em pacientes selecionados com tumores metastáticos está indicada no tratamento paliativo de sintomas e em associação ao interferon com intuito de melhora de sobrevida (NE 1; GR A); 8. Não existe indicação de quimioterapia, imunoterapia ou radioterapia após cirurgia definitiva, na ausência de doença residual (NE 2; GR B); 9. A imunoterapia com interferon, embora com resultados limitados, alto custo e alta incidência de efeitos colaterais é o único tratamento sistêmico disponível com benefício comprovado para doença metastática (NE 1; GR A); 10. A melhor estratégia para o tratamento da doença metastática até o presente é a associação de nefrectomia seguida de imunoterapia com interferon (NE 1; GR A). 41 PROGNÓSTICO E SEGUIMENTO A discussão e compreensão dos fatores prognósticos do carcinoma de células renais (CCR) é fundamental para se estabelecer uma abordagem lógica na condução destes tumores. A sobrevida depende do estadiamento tumoral, que denota o grau de extensão anatômica e o envolvimento de órgãos pela doença, porém outros fatores prognósticos como estado clínico, anormalidades laboratoriais, grau e padrão histológicos, entre outros, são utilizados como variáveis independentes podendo atribuir significado prognostico ao paciente com CCR (86-89) (NE 3). Mesmo na época atual cerca de 20% dos pacientes no momento do diagnóstico de CCR se apresentam com doença metastática e ao redor de 1/3 daqueles com doença ressecável terão recidiva durante o período de seguimento, sendo os locais mais freqüentes de metástases à distância o pulmão, osso, fígado e cérebro (90) (NE 2). Fatores prognósticos clínicos e laboratoriais Perda de peso, anemia, anorexia e fadiga além de capacidade física (performance status – PS) de acordo com a escala ECOG (anexo 1) >1 estão relacionados a prejuízo de sobrevida, independentemente do estádio tumoral (91). Analisando-se pacientes com o PS >1 observou-se que estes tiveram sobrevida de 5 anos de 51% versus 81% em pacientes com PS = 0 (92) (NE 4). Laboratorialmente alguns parâmetros têm relevância prognóstica. O achado de desidrogenase lática sérica (DHL) 1,5 vezes ou mais acima do normal e ou a presença de hipercalcemia além de hemoglobina sérica inferior aos valores normais são importantes fatores prognósticos adversos (93) (NE 4). Fatores ligados à biologia do tumor O sistema de classificação histológica mais utilizado é o de Fuhrman et al. (27). Por avaliação microscópica, classifica-se o padrão nuclear celular em 4 graus, considerando-se o tamanho do núcleo, a presença de irregularidades nucleares, assim como a presença de proeminência do nucléolo (tabela 4). 42 Conjuntamente com o estádio da doença, acredita-se que o grau histológico do tumor tem valor prognóstico e pode influenciar a sobrevida (SV) dos pacientes. Entretanto, a graduação histológica de Fuhrman et al. caracterizase por pobre reprodutibilidade e falta de uniformidade (27) (NE 4). Estes autores não constatataram diferença de SV entre os pacientes com CCR de grau histológico II ou III. Outros estudos também demonstraram falta de valor prognóstico ao compararem os quatro grupos (94) (NE 4). Métodos histológicos quantitativos, não sujeitos a avaliação visual convencional e que permitam melhor reprodutibilidade, têm sido estudados. Parâmetros como a ploidia, a morfometria nuclear (MN) e marcadores moleculares como a anidrase carbônica tipo IX, Ki-67 e VEGF têm sido considerados potencialmente úteis, mas com pouca aplicação prática clínica atual (95, 96). Destes, a MN com digitalização da imagem tem demonstrado algum potencial de superioridade (97, 98). O CCR pode apresentar-se com diferentes padrões histológicos (tabela 5). 43 Sabe-se que qualquer dos tipos histológicos com diferenciação sarcomatóide evolui com pior prognóstico (99) (NE 3). Estadiamento Todos os sistemas para estadiamento do CCR, desde o inicial, proposto por Flocks e Kadesky em 1958 (100), fornecem informação prognóstica (39). De fato, o maior determinante da sobrevida dos pacientes com CCR é a extensão anatômica do tumor (101) (tabela 6) (NE 2). O prognóstico do CCR depende também do tamanho do tumor primário. Tumores menores do que 4,5 a 5,5 cm parecem formar um grupo de melhor prognóstico (87, 89, 102) (NE 4). Comparado com tumores restritos ao rim (T1/T2), a invasão da gordura peri-renal associa-se a diminuição de sobrevida câncer-específica em 5 anos de 15 a 20 pontos percentuais (103, 104) (NE 4). O prognóstico dos pacientes com comprometimento de adrenal é ainda mais adverso. Estima-se que 1/3 destes casos apresentam evidências de doença sistêmica à época deste diagnóstico e que 80% destes falecem após seguimento mediano de 26 meses (70, 105) (NE 4). Apesar disto, a atual classificação TNM 2002, os agrupa em T3a, fazendo crer que tenham comportamento biológico semelhante(39, 101, 104). As evidências clínicas demonstram que pacientes com trombo tumoral na veia cava e que não apresentam linfonodos comprometidos e cujo trombo é cirurgicamente extraído, apresentam sobrevida semelhante àquela encontrada nos pacientes com tumores que somente comprometem a gordura peri-renal (38, 106-109) (NE 4). 44 Controvérsias existem se o comprometimento proximal da veia cava isoladamente é fator prognóstico adverso (110). Pacientes com trombos não aderidos à veia cava têm sobrevida de 5 anos de 69% comparados com 25% quando o trombo compromete a parede do vaso e não pode ser completamente ressecado (88) (NE 4). Pacientes com linfonodos envolvidos, quase sempre apresentam prognóstico sombrio e menos de 1/3 deles sobrevivem 5 anos. O valor prognóstico da linfadenectomia é controverso (55, 103, 104, 111) (NE 4). A sobrevida de 5 anos para pacientes portadores de CCR e lesões metastáticas não ressecadas está entre 2,7% e 9% (73, 108). A ressecção de lesões metastáticas pode promover aumento real de sobrevida em casos selecionados (109) (NE 4). Diversas variáveis clínicas estão associadas a melhor prognóstico e incluem: pacientes jovens; ausência de co-morbidade significativa; nefrectomia radical pregressa; lesão metastática única, de localização pulmonar e de aparecimento tardio, assíncronas com a nefrectomia. Para este pequeno grupo de pacientes, que, em geral, representa 2 a 4% do total daqueles com doença metastática, a sobrevida após a ressecção das metástases pode atingir 35 a 60%, em 5 anos (112, 114) (NE 4). Na presença de doença metastática o prognóstico dos pacientes tratados por nefrectomia seguida de imunoterapia mostrou-se superior a imunoterapia isolada (SWOG 8949 e EORTC-GU 30947) (63) (NE 1). Sistemas prognósticos integrados Os Sistemas Prognósticos Integrados (SPI) foram desenvolvidos visando prognosticar de forma mais precisa a sobrevida de pacientes submetidos ao tratamento do CCR. Dessa forma, permitem o aconselhamento dos pacientes, estabelecem estratégias de seguimento e identificam pacientes de alto risco. Entre os principais SPI descritos na literatura estão: Memorial Sloan-Kattering, Kattan, Mayo Clinic (SSIGN) e Universidade da Califórnia (UCLA) (115-118) (tabela 7). 45 Em 2002, houve uma simplificação do SPI da UCLA (UISS), sendo então o sistema validado após demonstração de resultados similares numa população internacional (120, 121) (NE 2). A validação permitiu a estratificação de forma mais correta em 3 grupos de risco na evolução do CCR localizado. Estes grupos são divididos em risco baixo, moderado e alto (tabela 8). Para obter o grau de risco inicie pela linha superior da tabela e desça cada linha até a última célula. T = tumor; ECOG = Eastern Cooperative Oncology Group; PS = Performance Status 46 SEGUIMENTO Entendia-se que todos os pacientes com CCR deveriam ser submetidos ao mesmo padrão de seguimento. Recentemente esquemas diferenciados, têm sido propostos em função dos diversos fatores prognósticos, da opção cirúrgica utilizada (nefrectomia com preservação de nefrons (NPN) ou nefrectomia radical) e eventual influência genética (122) (NE 5). Rotineiramente a primeira avaliação é indicada em 4 a 6 semanas após a cirurgia e sugere-se os seguintes exames: • exame físico • creatinina sérica • hemoglobina Se a dosagem da fosfatase alcalina estiver elevada no pré-operatório, recomenda-se sua reavaliação (123, 124) (NE 4). Radiografias de tórax são úteis para definir possíveis metástases pulmonares, as quais ocorrem mais freqüentemente dentro de 3 anos após a cirurgia (125) (NE 5). Exames de imagem do rim contralateral são particularmente recomendados quando se tem possibilidade aumentada de ocorrência metacrônica ou assincrônica, como na Doença papilar familiar ou na síndrome de Von-Hippel-Lindau (126) (NE 5). Vários esquemas de seguimento diferenciado para pacientes têm sido propostos para CCR tratados cirurgicamente. Uma proposta é sugerida na tabela 9: 47 Hb = hemoglobina; FA = fosfatase alcalina, RL = recidiva local; LN = linfonodos; US = ultrasonografia; TC = tomografia computadorizada; * se FA elevada no pré-operatório; ** hemograma, creatinina, FA Vale lembrar que o carcinoma renal apresenta risco de recidiva e metástases à distância muitos anos após o tratamento, por vezes mesmo após 15 anos (127, 128) (NE 4). 48 DIRETRIZES 1. São fatores prognósticos adversos no CCR: • estado geral comprometido (PS >1) e presença de sintomas • massa palpável • exames laboratoriais: Hb <normal; hipercalcemia; elevação fosfatase alcalina e DHL • estadiamento TNM desfavorável • invasão de gordura peri-renal • invasão de adrenal • envolvimento venoso: micro e macro • envolvimento linfonodal • metástases à distância • elevado grau de anaplasia tumoral • padrão histológico desfavorável • necrose tumoral 2. Sugere-se utilização de um dos SPI descritos para avaliação ponderal dos diversos fatores prognósticos envolvidos (NE 2; GR B). 3. O seguimento do paciente com CCR deve ser particularizado e adequado aos fatores prognósticos (NE 4; GR C). 49 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Figlin RA: Renal cell carcinoma: management of advanced disease: J Urol. 1999; 161(2): 381-6; discussion 386-7. Wunsch-Filho V: Insights on diagnosis, prognosis and screening of renal cell carcinoma. 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Am J Clin Oncol. 1982; 5(6): 649-55. 58 Capítulo II CÂNCER DA BEXIGA Coordenação geral: Antonio Carlos Lima Pompeo Fabrício Borges Carrerette Coordenadores de temas: Diagnóstico e estadiamento: Sidney Glina Tratamento: Valdemar Ortiz Prognóstico e seguimento: Ubirajara Ferreira Autores: Antonio Carlos Lima Pompeo Carlos Eduardo Corradi Fonseca Eric Roger Wroclawski Fabrício Borges Carrerette Francisco Flávio Horta Bretas Igor Snitcovsky Janice Mery Chicarini Coelho Limirio Leal da Fonseca Filho Marcus Vinicius Sadi Milton Berger Paulo Ricardo Monti Sidney Glina Ubirajara Ferreira Valdemar Ortiz Wagner Eduardo Matheus Revisor técnico-científico: Otávio Clark EPIDEMIOLOGIA Nos EUA, câncer de bexiga (CaB) é o 4º tumor de maior incidência em homens e o 9º tumor de maior incidência em mulheres, além de ser a 9ª causa de mortalidade por câncer em homens (1). Embora as taxas de incidência tenham aumentado levemente desde os anos 80, as taxas de mortalidade têm diminuído (1). Diferentemente do câncer de próstata, CaB é raramente um achado incidental em autópsias, o que sugere que virtualmente todos os casos, em algum momento de sua história natural, se manifestarão clinicamente e serão diagnosticados. Apesar de poder ocorrer em qualquer idade, a incidência de CaB aumenta diretamente com a idade, sendo o diagnóstico mais freqüente na 6ª e 7ª décadas de vida. Cerca de 70% dos casos de CaB são diagnosticados inicialmente como doença superficial (3). Eles apresentam alta probabilidade de recorrência, mas mais de 80% persistem confinados à mucosa ou submucosa (4) (NE 1). Entretanto, seguimento contínuo e prolongado é necessário para detectar recidiva e evitar progressão. HISTOLOGIA Mais de 90% dos casos de CaB consistem de tumores derivados de células transicionais. Carcinoma de células escamosas, associado à irritação crônica por cálculo, cateter vesical permanente, infecção urinária ou a infecção crônica por Schistosoma haematobium (especialmente em países norte-africanos), compreende cerca de 3 a 7% dos CaB. Adenocarcinoma é responsável por menos de 2% dos casos de CaB e está associado à irritação crônica, como em extrofia vesical, podendo também se originar no úraco (2). ETIOLOGIA Cerca de 20% dos casos de CaB está associado à exposição ocupacional a aminas aromáticas e a substâncias químicas orgânicas em uma série de atividades profissionais (2). Aminas aromáticas também estão presentes na fumaça de cigarros e seus metabólitos excretados na urina de fumantes são responsáveis por cerca de 50% dos casos de CaB. De fato, indivíduos tabagistas apresentam incidência de CaB até 4 vezes maior em comparação com não-fumantes, e a redução de risco leva até 20 anos para retornar aos níveis de um não-tabagista após a cessação do hábito (2) (NE 5). Consumo de grandes quantidades do analgésico fenacetina por longo tempo está associado a maior risco de desenvolvimento de CaB (5) (NE 3). Pacientes tratados com ciclofosfamida também apresentam maior risco 61 de CaB, sendo os tumores geralmente agressivos (6) (NE 5). A radioterapia pélvica pode estar associada ao desenvolvimento de CaB (7) (NE 4). SINTOMATOLOGIA Hematúria, microscópica ou macroscópica, indolor e intermitente, é o sintoma e o sinal mais comum em CaB, ocorrendo na grande maioria dos pacientes (8). Cerca de 10% dos indivíduos com hematúria microscópica e 25% daqueles com hematuria macroscópica apresentam neoplasia geniturinária, sendo CaB a mais comum (9) (NE 2). Sintomas irritativos do trato urinário inferior, como polaciúria, urgência e disúria, constituem a segunda apresentação mais freqüente de CaB, estando especialmente associados a carcinoma in situ ou tumores invasivos. Sendo assim, podemos caracterizar o paciente com maior risco de apresentar CaB como aquele com idade >40 anos, tabagista, com hematúria (especialmente macroscópica) e/ou sintomas miccionais irritativos. Os outros fatores de risco citados são igualmente importantes, mas menos comuns na prática diária. DIAGNÓSTICO DO CaB Cistoscopia Cistoscopia é a conduta padrão no diagnóstico e acompanhamento do CaB. A presença de lesão compatível com CaB à cistoscopia se correlaciona com presença de câncer ao exame anátomo-patológico em mais de 90% dos casos (10) (NE 3). No entanto, a cistoscopia convencional não detecta cerca de 25% de tumores pequenos, inclusive Cis, o que demonstra que quando o exame é negativo, ainda assim pode haver neoplasia em percentual significativo de casos (11) (NE 5). A cistoscopia pode ser otimizada com o uso de luz especial e agentes fotosensibilizadores (11) (NE 5), porém o método ainda não é difundido em nosso meio, por seu alto custo e falta de disponibilidade. Citologia Citologia urinária é usualmente empregada no diagnóstico de pacientes com suspeita de CaB e no seguimento destes após terapêutica. Suas vantagens compreendem a facilidade de coleta e de não ser invasiva. Desvantagens residem na subjetividade de critérios e experiência do citopatologista e também na baixa sensibilidade do método, ao redor de 62 35% especialmente para tumores de baixo grau (12, 13) (NE 2). Por outro lado, a especificidade do método é extremamente elevada, estando em torno de 94% (4, 13) (NE 1), o que significa que na presença de citologia positiva, é muito alta a existência de câncer urotelial, mesmo com exame cistoscópico normal (14). Marcadores tumorais Com o propósito de diminuir a necessidade de exames invasivos (cistoscopia) no acompanhamento de pacientes tratados, diversos marcadores moleculares de CaB detectáveis na urina têm sido investigados. Uma extensão de sua utilização seria no rastreamento de populações de alto risco para CaB. Tais testes detectam a presença de antígenos e outras proteínas associadas a neoplasias uroteliais, ou alterações genéticas associadas à proliferação tumoral. Uma revisão sistemática recente dos marcadores urinários disponíveis para CaB revelou que, apesar de promissores, sua acurácia ainda não é suficiente para que substituam a cistoscopia ou a citologia (4). Exames de imagem A ultra-sonografia abdominal (US) apresenta alta sensibilidade na detecção de tumores vesicais com mais de 0,5 cm, sendo de utilidade por seu baixo custo e por não ser invasiva (15) (NE 4). A possibilidade de se encontrar tumor transicional no trato urinário superior em casos de CaB situa-se em torno de 1 a 4% (16, 17)(NE 4). Nos CaB de alto grau, a ocorrência de tumor no trato urinário superior pode se elevar a cerca de 10% (18). Portanto, investigação do aparelho urinário superior em CaB deve ser reservada a pacientes de alto risco, com o emprego da urografia excretora, ou preferencialmente, pela tomografia computadorizada (TC) (19). A ressonância magnética (RNM) fica reservada para casos especiais como alergia ao contraste e a insuficiência renal. Ressecção transuretral O diagnóstico definitivo destas neoplasias é realizado por meio de ressecção transuretral (RTU) sob anestesia. O componente superficial do tumor deve ser ressecado separadamente de seu componente profundo (base da lesão). A fim de evitar artefatos térmicos, a base da lesão deve ser biopsiada com pinça de biópsia. Palpação bimanual deve ser realizada antes e após a ressecção da lesão com o propósito de fornecer informações sobre a mobilidade vesical. Biópsias de mucosa vesical normal só estão indicadas 63 na presença de citologia positiva a fim de detectar Cis e na presença de tumores sésseis (20) (NE 4). Na suspeita de Cis vesical, biópsias de uretra prostática também devem ser realizadas (21) (NE 4). Uma segunda RTU deve ser realizada se o material retirado na primeira ressecção for insuficiente para avaliar apropriadamente a lesão, especialmente profundidade, também como estratégia terapêutica quando a ressecção for incompleta ou, ainda, nos casos de estadiamento T1 de alto grau, já que 27% a 62% dos pacientes apresentam tumor residual. Nestes casos a detecção de invasão muscular aumenta em até 10% na segunda RTU (22) (NE 5). O tratamento e prognóstico podem ser alterados pela presença ou ausência de tumor residual. DIRETRIZES 1. Cistoscopia é a conduta padrão no diagnóstico e acompanhamento do CaB (10) (NE 2; GR A). 2. Investigação do aparelho urinário superior em CAB deve ser reservada a pacientes de alto risco (18) (NE 5; GR D). 3. Urografia excretora e a TC devem ser utilizadas na investigação do trato urinário superior em pacientes de alto risco (19). 4. O diagnóstico definitivo de CaB é realizado por meio de RTU sob anestesia. Neste procedimento deve-se: a) realizar palpação bimanual antes e após a ressecção da lesão com o propósito de se obter informações sobre mobilidade vesical b) biopsiar a base da lesão com pinça de biópsia c) biópsias de mucosa vesical normal só estão indicadas na presença de citologia positiva a fim de detectar Cis e na presença de tumores sésseis (20) (NE 4; GR D); na suspeita de Cis vesical, biópsias de uretra prostática devem ser realizadas (23) (NE 3; GR B). 5. Uma segunda RTU deve ser realizada se o material retirado na primeira ressecção for insuficiente para avaliação histopatológico, se a ressecção for incompleta e nos casos de estadiamento T1 de alto grau (22) (NE 5; GR D). 64 ESTADIAMENTO DO CaB O objetivo do estadiamento é determinar se a doença é superficial ou invasiva (comprometimento da camada muscular), sua extensão locoregional ou metastática. Exames clínicos A ultra-sonografia de abdômen total não detecta tumores vesicais menores que 0,5 cm (19), assim como a extensão tumoral na parede vesical ou adenomegalias, não devendo, por estas razões, ser utilizada de rotina para o estadiamento. A TC abdominal e pélvica ou a RM são utilizadas rotineiramente nos tumores invasivos para avaliar a extensão local do tumor e na pesquisa de metástases intra-abdominais. Entretanto a acurácia no estadiamento do tumor vesical da TC é de cerca de 55% (24) (NE 4), e a RM falha em detectar metástases linfonodais em 15% dos pacientes (25) (NE 5). A tomografia por emissão de pósitrons (PET scan) parece ser promissora com uma possível melhor acurácia que a TC e a RM no estadiamento do tumor de bexiga (26) (NE 5), porém as informações ainda são inconsistentes. O Rx de tórax deve ser realizado rotineiramente na pesquisa de metástases pulmonares, podendo ser, eventualmente, complementado com TC. A probabilidade de se encontrar lesões ósseas em pacientes com CaB invasivo está ao redor de 5% (27) (NE 3; GR B), portanto a cintilografia óssea não é empregada de rotina no estadiamento, sendo reservada a pacientes com sintomas sugestivos de comprometimento ósseo ou fosfatase alcalina elevada (28). Estadiamento O sistema TNM, da União Internacional Contra o Câncer (2002) deve ser empregado, já que é aceito universalmente (29). 65 66 Com finalidade prática na elaboração da estratégia terapêutica divide-se os tumores localizados em: superficiais e invasivos. Os tumores superficiais incluem o Tis, Ta e T1. A penetração da camada muscular identifica os tumores invasivos da bexiga. Graduação histológica A classificações mais utilizada ainda tem sido a da Organização Mundial da Saúde (OMS) (30). Em 1998, o consenso OMS/ISUP (International Society of Urological Pathology) propôs nova classificação de grau histológico que tem melhor correlação clínico-histológica (31). 67 TRATAMENTO Tumor superficial Aproximadamente 70 a 80% dos tumores de bexiga são superficiais sendo a maioria estádio Ta (70%) e o restante, T1 ou Tis. Em geral, os tumores Ta são de baixo grau e a maioria dos T1 são de alto grau. O carcinoma in situ (Tis) por definição, é um tumor de alto grau representando 10% dos tumores de bexiga. Em 50% das vezes, o Tis se associa ao tumor papilar ou invasivo (Tis secundário) enquanto, metade deles ocorre isoladamente (Tis primário) (2). Ressecção transuretral (RTU) A RTU é o procedimento padrão para diagnóstico, estadiamento e tratamento do tumor superficial de bexiga. Ao iniciar o procedimento, devese realizar uma inspeção detalhada da uretra e de toda a bexiga. A RTU deve ser, se possível, completa e o material ressecado deve incluir tecido muscular. Biópsias ao acaso não são recomendadas devendo-se realizá-las apenas em áreas suspeitas (32) (NE 2). A RTU inicial pode subestadiar o tumor de bexiga entre 20% a 40% dos casos ou ser incompleta em um terço deles (33, 34) (NE 2). Por essa razão, uma nova RTU (Re-RTU), realizada 3 a 6 semanas após, poderá ser indicada em ressecções incompletas e todos os T1 de alto grau (33, 34) (NE 2; GR A). Terapia intravesical Pacientes portadores de tumor superficial de bexiga apresentam risco de recorrência e progressão se tratados apenas pela RTU. Alguns parâmetros aumentam o risco de recorrência (60% a 90%) e progressão (30% a 50%): multiplicidade, tamanho >3 cm, alto grau, T1, Tis, recorrência prévia (35). Em qualquer dessas condições a terapia intravesical deverá ser empregada utilizando-se quimioterápicos (tiotepa, mitomicina C e adriamicina) ou BCG. Estudo recente de metanálise mostrou queda na taxa de recorrência com o uso de quimioterapia intravesical utilizada até 24 h após a RTU, sobretudo para tumor papilar único e de baixo grau (36) (NE 1; GR A). A quimioterapia intravesical, nesses casos, com exceção da thiotepa, em dose única pode ser empregada imediatamente após a RTU (36). Outra revisão comparativa mostrou que o BCG apresentou menor taxa de recorrência que a mitomicina C, sendo o agente mais recomenda68 do para a terapia intravesical no regime seqüencial (37) (NE 1; GR A), principalmente nos casos de Ca in situ. O momento do início do tratamento, dose, número de aplicações, intervalo entre as aplicações e tempo de permanência da droga na bexiga foram estabelecidos empiricamente. O esquema mais empregado (indução) começa três a quatro semanas após a RTU, com uma aplicação semanal durante seis semanas, duas horas de permanência na bexiga na dose de 40 mg a 120 mg por aplicação. Após a fase de indução, terapia de manutenção é recomendada em estudo controlado, sendo utilizados ciclos de três semanas após 3 e 6 meses, seguidos de 6 em 6 meses por 3 anos (38) (NE 3; GR C). Destaque-se que não existe consenso sobre os esquemas de manutenção, havendo defensores de outros, tais como a aplicação mensal por período de um ano. Em dois estudos de metanálise observou-se maior toxicidade do BCG quando comparado a mitomicina C (37, 39) (NE 1; GR A). Os efeitos colaterais mais freqüentes foram: disuria, cistite, polaciúria e hematuria. As complicações sistêmicas são: febre, calafrios, indisposição e rash cutâneo (37, 39). Em casos de recorrência tumoral, um segundo ciclo de seis semanas poderá ser empregado. Estudos recentes de fase 2 avaliaram os resultados da combinação do BCG com o interferon alfa-2b e da gencitabina intravesical (40, 41). Embora os resultados preliminares demonstrem alguma eficácia desses regimes, não há evidencia atual para a recomendação dos mesmos em casos de insucesso do BCG. 69 Cistectomia radical Em algumas situações específicas, devido ao maior risco de progressão, a cistectomia radical poderá ser indicada para tumores superficiais refratários à terapia intravesical. T1 de alto grau recorrente e principalmente associado ao Tis constitui a indicação mais freqüente deste procedimento (42) (NE 4; GR D). A taxa de sobrevida livre de doença em 10 anos para pacientes com tumor T1 de alto grau submetidos à cistectomia radical, pode chegar a 92% (42). Medidas preventivas Medidas preventivas relacionadas com mudança do hábito de vida e o emprego de quimio prevenção não foram em profundidade estudadas até o momento. Aumento da ingestão de água e abandono do fumo são medidas recomendadas por estudos controlados (43) (NE 4; GR D). Megadose de vitaminas, isoflavona e inibidores da ciclooxigenases 1 e 2 foram avaliados em estudos isolados e pouco consistentes e, por estas razões, as recomendações ainda não têm bom respaldo científico. CARCINOMA INVASIVO Cistectomia radical O carcinoma urotelial invasivo de bexiga é uma doença potencialmente letal, requer tratamento agressivo e menos de 15% dos pacientes sobrevivem dois anos se não tratados. Os objetivos do tratamento são a prevenção de recorrência local ou distante e oferecer sobrevida longa, com boa qualidade de vida. A cistectomia radical permanece como a opção de escolha para tumor de bexiga com invasão da camada muscular. Confirmada a invasão muscular após a RTU, a cistectomia deve ser realizada o mais breve possível. Há evidências de que uma demora maior do que três meses entre a RTU e a cistectomia altera o estadiamento, piorando o prognóstico (43). As taxas de sobrevida total e livre de doença relacionam-se significativamente com o estádio patológico e a condição dos linfonodos pélvicos. A cistectomia radical em pT2-pT3a oferece controle local e aumento de sobrevida. Nestes estádios, com linfonodos negativos, a sobrevida livre de doença em 5 e 10 anos pode chegar, nas melhores séries, a 85% e 82%, respectivamente. Em pT3b e pT4, caem para 58% e 55% respectivamente e, havendo linfonodos comprometidos, para 35% e 34%. 70 Nos casos de doença loco-regional ou metastática, a cistectomia pode ser indicada com finalidade paliativa. O procedimento padrão consiste em linfadenectomia pélvica bilateral associada a cistoprostatovesiculectomia no homem e a exenteração pélvica anterior na mulher, o que inclui útero, tubas uterinas, ovários, bexiga, uretra e parede vaginal anterior. O objetivo é realizar uma ampla ressecção incluindo toda a gordura perivesical e tecidos adjacentes para se obter margens cirúrgicas negativas. A linfadenectomia recomendada consiste na remoção de todos os linfonodos situados na porção distal das artérias ilíacas comuns, hipogástricas, obturadoras e ilíacas externas, o que resulta em 10 a 14 linfonodos. Há evidências fracas de que o resultado relacionado à recidiva local e sobrevida é proporcional ao número de linfonodos removidos, mesmo que não comprometidos (44) (NE 4). Cistectomia parcial A cistectomia parcial pode ser feita em casos excepcionais e sempre acompanhada de linfadenectomia uni ou bilateral. Em série recente foi realizada em 6,2% dos tumores invasivos de bexiga sendo indicações restritas a tumor único, ausência de carcinoma in situ, não recidivados, e em local passível de ressecção. Os resultados são semelhantes aos da cistectomia radical, com a vantagem da preservação da bexiga. É opção válida para tratamento de tumores em divertículos (45) (NE 4; GR D). Manuseio da uretra Estudo recente mostrou que, em homens, o comprometimento da uretra pelo carcinoma urotelial da bexiga é de 6,2% enquanto a taxa de recidiva de carcinoma urotelial na uretra após cistectomia ocorre em 8,1% (46) (NE 4; GR D). A comparação de biópsia prévia da uretra prostática com biópsia de congelação intraoperatória da margem uretral indicou a última como melhor fator preditivo de recorrência uretral em homens (47) (NE 4). Caso ela seja positiva, escolhe-se outro tipo de derivação e indicase a uretrectomia total. Em mulheres, a incidência de carcinoma urotelial em uretra, na peça da cistectomia, gira em torno de 2%, sendo o tumor em colo vesical o fator prognóstico mais importante, com incidência em 40% dos casos (48). Há uma tendência atual em se utilizar a biópsia de congelação da margem do colo vesical como critério para a preservação da uretra (46, 48). Caso não haja indicação de neobexiga ortotópica a uretra deve ser ressecada. 71 A cistectomia com preservação da próstata (cápsula) e vesículas seminais ou dos órgãos genitais internos na mulher tem sido proposta recentemente (49, 50). Os resultados funcionais e oncológicos são controversos e não há base segura para recomendar sua aplicação. Reconstrução urinária Das diversas opções possíveis, as mais utilizadas são neobexiga ortotópica, conduto ileal e derivação urinária cutânea continente. Atualmente a primeira opção tem sido a neobexiga ortotópica, que oferece melhor qualidade de vida. É contraindicada em casos de comprometimento da margem cirúrgica uretral, função renal alterada (creatinina >2,5 mg/ dl), doença intestinal inflamatória ou condições gerais que dificultem o cateterismo intermitente, se necessário. Quimioterapia peri-operatória O carcinoma urotelial de bexiga tem uma alta taxa de resposta a vários esquemas de quimioterapia (Qt) combinada que têm por base a cisplatina. Tais esquemas têm sido largamente usados em doença avançada e sua aplicação antes (neoadjuvante) ou após (adjuvante) a cistectomia objetiva melhorar os índices de recidiva local e sobrevida. A Qt neoadjuvante tem como vantagens o tratamento de micrometástases, a avaliação objetiva da quimiossensibilidade do tumor, a administração de citostáticos na ausência da morbidade pós-operatória e o potencial de rebaixar o estadiamento tumoral. Nos casos de resposta completa (pT0) ha aumento da sobrevida global (51) (NE 4). Constitui desvantagem submeter os pacientes a cistectomia em condições clínicas desfavoráveis pelos efeitos tóxicos da QT, além de retardar o tratamento cirúrgico. Uma metanálise, envolvendo 2605 pacientes em 11 estudos, demonstrou que a Qt neoadjuvante resultou em vantagem na sobrevida global de 6,5% (IC 95% 2-11%) (51) (NE 1; GR A). Por outro lado, metanálise recente mostrou-se inconclusiva quanto aos benefícios do tratamento adjuvante (52). Há uma tendência a oferecer Qt perioperatória a pacientes com T3-T4 e/ou N+, considerando-se a faixa etária, a condição física geral, as funções cardiovascular e renal e o desejo do paciente, entretanto esta conduta não tem benefício estabelecido. A Qt neoadjuvante tem indicação particular em casos de doença localmente avançada, como tentativa para viabilizar a cistectomia. 72 Radioterapia perioperatória A Rt pré-cistectomia foi muito utilizada na década de 70, mas não mostrou vantagens quanto ao controle local e sobrevida (53) (NE 1;GR A). A Rt pré e pós-cistectomia (“em sanduíche”), ou somente pós-operatória promoveu melhor controle local em doença localmente avançada (pT3b ou pT4), porém às custas de severa toxicidade gastrointestinal (54) (NE 1; GRA). Atualmente a Rt perioperatória não tem sido usada. Aguardam-se resultados com as novas técnicas radioterápicas. A radioterapia exclusiva pode ser utilizada em pacientes com indicação de cistectomia radical sem condições clínicas de ser submetido à cirurgia (54) (NE 1; GR A). Protocolos de conservação vesical Regimes terapêuticos empregando RTU isolada ou conjugada à radioterapia e quimioterapia têm sido usados como tentativa de preservação da bexiga. Existem evidências de que este tipo de tratamento possa ser utilizado em casos selecionados com tumores favoráveis, tais como pacientes sem condições de cistectomia, idosos ou os que recusam o tratamento padrão (55, 56) (NE 4; GR C). Tratamento do câncer de bexiga metastático A quimioterapia citotóxica é a única modalidade terapêutica capaz de prolongar a sobrevida dos pacientes portadores de câncer de bexiga metastático. O tratamento combinando metotrexate 30mg/m2 dias 1, 15, 22, vinblastina 3mg/m2, dias 2, 15, 22 e doxorrubicina 30 mg/m2 dia 2, cisplatina 70mg/m2 dia 2, a cada 28 dias (MVAC) produz taxa de resposta de 72%, acarretando sobrevida mediana em torno de 13 meses, sendo que somente 4% dos pacientes alcançam sobrevida em 5 anos. A desvantagem desse esquema é a alta taxa de toxicidade, que inclui vômitos, mucosite e neutropenia febril, acarretando 3% de mortalidade. A presença de metástases viscerais, em pulmões, fígado e ossos, juntamente com índice Karnofsky abaixo de 80% são fatores preditivos de baixa resposta e menor sobrevida com tratamento com MVAC (57, 58) (NE 3; GR B). Um esquema de quimioterapia mais recente envolve o uso de gencitabina 1000 mg/m2 dias 1, 8 e 15 e cisplatina 70 mg/m2 dia 2 a cada 28 dias (GC). Este esquema foi comparado ao MVAC e mostrou melhor perfil de toxicidade com mesma sobrevida na avaliação de longo prazo (59). Este estudo de fase III randomizou 405 pacientes para MVAC ou GC e mostrou sobrevida global de 14,8 meses versus 13,8 meses, para MVAC e GC respec73 tivamente (p=0,75). Devido à menor toxicidade, o GC tem sido o esquema preferencial no tratamento do câncer de bexiga (59) (NE 2; GR A). Deve-se ressalvar, entretanto, que este estudo foi desenhado para detectar superioridade do GC e não equivalência entre ambos. DIRETRIZES Tumores superficiais 1. RTU de bexiga é o tratamento padrão (NE 1; GR A) 2. Quimioterapia intravesical, com exceção da thiotepa, em dose única é recomendável nas primeiras 24 horas após a RTU (NE 1; GR A) 3. Re-RTU, realizada 3 a 6 semanas após, é recomendável em ressecções incompletas e em todos os T1 de alto grau (NE 4; GR D) 4. Tumores com moderado ou alto risco de recidiva ou progressão, após a RTU devem ser tratados com terapia intravesical adjuvante, preferencialmente com esquemas de BCG de indução e manutenção por períodos variados (NE 1; GR A) 5. Cistectomia radical poderá ser indicada para tumores superficiais, recidivados, refratários à terapia intravesical e é recomendável nos casos de T1 de alto grau recorrente, principalmente associado a Tis (NE 3; GR C) 6. Aumento da ingestão hídrica e abandono do fumo são medidas recomendadas para reduzir o risco de recorrências Tumores invasivos 1. Cistectomia radical com linfadenectomia pélvica ampliada é o tratamento recomendado para o câncer de bexiga com invasão de camada muscular (NE 4; GR C). 2. Uretrectomia total está indicada em ambos os sexos, durante a cistectomia, quando a margem uretral estiver comprometida na congelação (NE 4; GR C). 3. Cistectomia parcial pode ser indicada em tumor único, não recidivado, na ausência de carcinoma in situ e em local passível de ressecção (NE 4; GR C) 4. QT peri-operatória pode ser oferecida a pacientes com câncer de bexiga em casos selecionados com estadiamento clínico T3, T4 e/ou N+ (neoadjuvante) (NE 1; GR A). 5. RTU isolada ou conjugada à radioterapia, com ou sem quimioterapia, pode ser utilizada em casos selecionados, como tentativa de preservação da bexiga (NE 4; GR C) Tumor metastático 1. O tratamento padrão para o câncer metastático é a quimioterapia com os esquemas MVAC ou GC (NE 2; GR A) 74 PROGNÓSTICO E SEGUIMENTO PROGNÓSTICO A evolução do tumor de bexiga depende de fatores como o grau histológico, estadiamento, multifocalidade, tamanho e aspecto endoscópico do tumor, presença de carcinoma in situ (Cis) e tempo de recidiva após o tratamento. Outros fatores importantes são: invasão linfovascular, idade, ploidia tumoral, marcadores tumorais, perfuração vesical durante a ressecção transuretral da bexiga (RTUB) e invasão prostática (6062) (NE 2). Como regra geral, quanto mais profunda a invasão da parede vesical e mais indiferenciado o tumor, pior é o prognóstico (63, 64) (NE 5). Quanto à diferenciação celular, o grau 3 que é o mais indiferenciado, tem maior chance de recorrência, progressão e maior índice de mortalidade (61, 65) (NE 4). TUMORES SUPERFICIAIS Multifocalidade Considera-se tumor multifocal a presença de mais de 3 lesões intravesicais (66, 67) (NE 4). Portadores de tumores múltiplos apresentam maior taxa de recidiva e progressão tumoral (68, 69) (NE 4). Tamanho tumoral Embora controverso, existem evidências que tumores maiores que 3 cm estão associados a maior taxa de recidiva e progressão tumoral (66, 70). Recidiva tumoral Quanto mais precoce a recidiva pior o prognóstico, sobretudo se esta ocorrer no primeiro trimestre após a RTU, ou nas fases iniciais de imunoterapia com o BCG (21, 71) (NE 4). Presença de Cis O Cis apresenta um comportamento imprevisível, com altas taxas de recidiva, progressão e metástases (68, 69). Pode ocorrer na forma focal ou difusa, associado ou não a lesões papilíferas. Os CIS estão associados em 50% dos casos aos tumores pT1G3 e raramente aos pTa. Pacientes com Cis focal têm cerca de 8% de probabilidade de desenvolver doença invasiva, enquanto que na forma difusa esta evolução ocorre em 78% dos casos. O Cis apresenta taxa de recidiva de 63 a 92% (61) (NE 5). 75 Aspecto endoscópico Os tumores de aspecto séssil ou sólido apresentam comportamento mais agressivo do que os tumores papilíferos (72) (NE 4). Invasão linfo-vascular A invasão vascular e/ou linfática ocorre em 7-20% dos pacientes com tumores pT1. A presença desse tipo de invasão em pacientes submetidos a cistectomia, está associada a maior acometimento de linfonodos e é fator prognóstico independente para maior recidiva tumoral e menor sobrevida global (73, 74) (NE 4). Idade Pacientes com idade inferior a 45 anos apresentam, mais comumente, tumores de comportamento menos agressivo, com baixa taxa de recorrência e progressão (75, 76) (NE 4). Ploidia tumoral Embora alguns estudos sugiram que a ploidia de DNA tumoral guarde relação com o grau histológico do tumor, não há consenso quanto ao seu uso clínico como fator prognóstico (77, 78). Marcadores tumorais Dos vários marcadores tumorais estudados, o mais promissor e mais investigado até o momento é o p53. Em alguns estudos, a expressão do p53 (mutado) foi associada a maior progressão tumoral. Entretanto, seu uso ainda não é realizado de forma rotineira, devido ao seu alto custo e ao questionamento de seu valor como fator prognóstico independente (76, 79). Perfuração vesical durante RTUB A perfuração vesical durante a RTU apresenta mau prognóstico, principalmente se houver lesão intra-peritoneal (62)(NE 4). Invasão prostática A invasão prostática também representa fator de risco adverso (21, 71) (NE 4). 76 DIRETRIZES Classificação de risco para os tumores superficiais (68, 80) – Tumores de baixo risco: únicos, pTaG1, <3cm de diâmetro – Tumores de risco intermediário: pTaG2-3, pT1G1-2, ou >3cm de diâmetro, ou tumores de baixo risco recidivados ou multifocais – Tumores de alto risco: pT1G3, presença de Cis, tumores de risco intermediário multifocais ou recidivados TUMORES INVASIVOS O risco de progressão após a cistectomia radical ou radioterapia pélvica para os tumores invasivos depende, predominantemente, do estádio histopatológico do tumor e é maior durante os primeiros 2 anos do tratamento, reduzindo-se consideravelmente após 3 anos (81) (2C). DIRETRIZES Fatores prognósticos adversos para tumores invasivos Gerais – anemia – emagrecimento Loco-regionais – hidronefrose – tumores de grande volume – aspecto endoscópico séssil – tumor fixo ao toque bimanual (anestesia geral) Histopatológicos – estádio e grau avançado – padrão de infiltração muscular multifocal – invasão linfo-vascular 77 SEGUIMENTO DOS TUMORES SUPERFICIAIS Cistoscopia A primeira cistoscopia deve ser realizada no 3º mês para todos os casos, pois pode existir ressecção incompleta da lesão primária ou recidivas tumorais precoces (82-85) (NE 1; GR A). A freqüência com que as cistoscopias subseqüentes devem ser realizadas está na dependência dos fatores prognósticos de cada caso. A maioria das recidivas ocorre nos primeiros dois anos, razão pela qual após este intervalo os exames cistoscópicos tornam-se menos freqüentes (86-88). Biópsias aleatórias da bexiga normal durante a cistoscopia devem ser evitadas (89) (NE 2). Citologia oncótica Nos tumores superficiais de alto grau e na presença de Cis, a citologia oncótica é positiva em cerca de 60-90% dos casos (83). Marcadores tumorais O papel dos novos marcadores tumorais (BTA Stat, BTA Trak, NMP22) ainda não está definido (90-92). Exames de imagem O ultra-som tem sido utilizado em alguns centros como alternativa à cistoscopia para seguimento de tumores papilares de baixo risco (85). Entretanto, não existem estudos comparativos com bom nível de evidência entre o ultra-som e a cistoscopia nesta situação. A presença de tumor urotelial do trato urinário superior concomitante ao tumor superficial de bexiga ocorre em menos de 5% dos casos (93). Assim, os exames de imagem devem focalizar, preferencialmente, os pacientes com maior risco. O exame clássico recomendado é a urografia excretora (93). Exames mais recentes como a TC helicoidal e a RM tem recebido a preferência de vários autores; a pielografia ascendente também constitui uma alternativa em casos selecionados (84, 85) (NE 5); Ainda não existem estudos comparativos consistentes entre estes métodos. 78 DIRETRIZES Seguimento sugerido dos tumores superficiais (83-85) Baixo risco • Cistoscopia de controle com 3 meses • Cistoscopias posteriores com intervalos semestrais até o 2º ano e anual até 5 anos Risco intermediário e alto • Cistoscopia de controle com 3 meses • Cistoscopias posteriores, a cada 3 meses por 2 anos, semestrais por mais 2 anos e, depois anuais, por mais 6 anos • Citologia oncótica a cada 3 meses por 2 anos, semestral por mais 2 anos e anual até o 10º ano • Imagem do trato urinário superior (ver texto) a cada 1 ou 2 anos durante o tempo de seguimento • Marcadores moleculares são opcionais • Recomenda-se nova ressecção endoscópica antes do 3º mês para os tumores de alto risco ou ressecção incompleta SEGUIMENTO TUMORES INVASIVOS O maior benefício dos exames de seguimento se concentra nos primeiros 3 anos após o tratamento radical, período em que ocorre a maioria das recidivas (94) (NE 3). A primeira avaliação deve ser realizada no 3º mês e inclui exame físico completo, testes de função hepática e renal, ultra-som do abdome total e radiografia do tórax. Em casos de exames normais, controles a cada 4, 6 ou 12 meses são recomendados (83-85) (NE 5; GR D). Nos casos de tumores avançados (pT3-T4 ou N+) deve-se realizar tomografia abdominal e pélvica (TC) a cada 3 ou 6 meses por 2 anos e depois a critério clínico (84) (NE 5; GR D). Mapeamento ósseo deve ser individualizado (84, 85, 94). Pacientes com Cis associado devem ter avaliação freqüente do trato urinário superior (88, 93) (NE 4). Pacientes com preservação da uretra desfuncionalizada necessitam de citologia oncótica seriada e/ou uretroscopia (94, 95) (NE 4).Como não existem evidências que o risco de 79 recidiva neoplásica na uretra diminua com o tempo, a monitorização uretral deve ser feita por período de tempo indefinido (94). Para pacientes com preservação vesical após radioterapia deve-se realizar cistoscopia e citologia oncótica a cada 3 meses, pois há um alto risco de recidiva na bexiga (84, 85, 96, 97) (NE 4; GR C). DIRETRIZES Seguimento dos tumores invasivos (84, 85, 89) Para todos os casos • Avaliação clínica, testes de função hepática, testes de função renal, eletrólitos, ultra-som do abdome e radiografia do tórax no 3º mês po e a cada 6 a 12 meses indefinidamente • Nos tumores pT3-T4 ou N+ a TC do abdome e pelve deve substituir o US e ser realizada no 3º mês e a cada 6 meses por dois anos e depois a critério clínico • Mapeamento ósseo a critério clínico Para pacientes com uretra desfuncionalizada, acrescentar • citologia oncótica do lavado uretral a cada 6 a 12 meses durante todo o seguimento. • uretroscopia quando citologia positiva e/ou uretrorragia Para pacientes com derivações urinárias ou reservatórios continentes, acrescentar • citologia oncótica da urina a cada 6 a 12 meses durante todo o seguimento Para pacientes com preservação vesical, acrescentar • Cistoscopia e citologia oncótica urinária trimestral por 1 ano e depois com intervalos progressivamente maiores • TC do abdome e pelve anual ou ultra-som do abdome ou urografia excretora anual TUMORES METASTÁTICOS Não existem critérios bem definidos sobre qual o melhor esquema de seguimento para estes pacientes (98). Exame físico geral e exames laboratoriais e de imagem devem ser feitos a critério clínico. 80 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Jemal A, Murray T, Ward E, Samuels A, Tiwari RC, Ghafoor A, et al. Cancer statistics, 2005. CA Cancer J Clin. 2005;55(1):10-30. Messing EM. Urothelial tumors of the urinary tract. In: Walsh PC, Retik AB, Vaughan Jr ED, Wein AJ, Kavoussi LR, Novick AC, et al., editors. Campbell’s Urology. 8 ed. Philadelphia: Saunders; 2002. p. 2732-84. Borden LS, Jr., Clark PE, Hall MC. Bladder cancer. Curr Opin Oncol. 2005; 17(3):275-80. van Rhijn BW, van der Poel HG, van der Kwast TH. Urine markers for bladder cancer surveillance: a systematic review. Eur Urol. 2005; 47(6):736-48. Piper JM, Tonascia J, Matanoski GM. Heavy phenacetin use and bladder cancer in women aged 20 to 49 years. N Engl J Med. 1985; 313(5):292-5. Fernandes ET, Manivel JC, Reddy PK, Ercole CJ. 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Koff Ronaldo Damião Fabrício Borges Carrerette Coordenadores de temas: • Papel dos métodos de imagem no diagnóstico e estadiamento do câncer da próstata – Demerval Mattos Jr • Marcadores tumorais em câncer da próstata – Carlos Ary Vargas Souto • Biópsia da próstata – Luiz Carlos de Almeida Rocha • Tratamento do câncer localizado da próstata: Eduardo César C. de Gouvêa e Silva • Tratamento do câncer da próstata localmente avançado – Complicações – Nelson Rodrigues Netto Jr • Câncer de próstata metastático – Complicações – Ronaldo Damião • Progressão bioquímica (PSA) após tratamento do câncer da próstata localizado – Margens cirúrgicas positivas – Marcus Vinicius Sadi • Doença hormônio–independente – Sami Arap • Prevenção e rastreamento do câncer da próstata – Walter J. Koff • Fatores prognósticos no câncer da próstata – Luiz Antonio Corrêa Revisor técnico-científico: Otávio Clark Autores: Aluízio Gonçalves da Fonseca Alvaro Sadek Sarkis Antonio Augusto Ornellas Souza Antonio Carlos Lima Pompeo Antonio Carlos Pereira Martins Carlos Ary Vargas Souto Carlos Augusto Vasconcelos de Andrade Carlos Eduardo Corradi Fonseca Demerval Mattos Junior Eduardo César C. de Gouvêa e Silva Eduardo J. Andrade Lopes Eloísio Alexsandro da Silva Eric Roger Wroclawski Fabricio Borges Carrerette Fernando Pires Vaz Flavio Luís O. Hering Francisco Flávio Horta Bretas Francisco Paulo da Fonseca Gilvan Neiva Fonseca Gilvan Rocha Gustavo Franco Carvalhal Henrique Sarmento Barata Homero Oliveira de Arruda Igor Snitcovsky Jorge Sabaneeff José Carlos Stumpf Souto José Ricardo Tuma Ponte Limirio Leal da Fonseca Filho Luiz Antonio Corrêa Luiz Carlos de Almeida Rocha Marcelo Luiz Bendhack Marcio Maia Lamy de Miranda Marcos Francisco Dall’Oglio Marcus Vinicius Sadi Maria Ângela Santos Nothaft Milton Berger Misael Wanderley dos S. Júnior Modesto Antonio de O. Jacobino Nelson Rodrigues Netto Jr Otávio Clark Paulo Ricardo Monti Paulo Roberto Martins Rodrigues Renato Prado Costa Rodolfo Borges Reis Ronaldo Damião Ronaldo Hueb Baroni Sami Arap Ubirajara Ferreira Walter J. Koff Wladimir Nadalin PAPEL DOS MÉTODOS DE IMAGEM NO DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO DO CÂNCER DA PRÓSTATA DIAGNÓSTICO Ultra-som trans-retal (USTR) Diversos trabalhos confirmaram que a maioria dos cânceres prostáticos são hipoecogênicos ao ultra-som (1-3). No entanto, vários autores relataram a baixa eficácia do USTR na identificação de áreas de acometimento por CaP, visto que lesões hipoecogênicas podem corresponder a diversas outras alterações que não tumor. O valor preditivo positivo (VPP) para CaP de lesões hipoecogênicas na zona periférica (ZP) ao USTR varia entre 15% e 41% em alguns trabalhos, sendo semelhante ao VPP de um toque retal alterado (4, 5) (NE 2). Alguns estudos demonstraram que o emprego do color-Doppler melhora a eficácia do USTR na identificação de tumores prostáticos devido à presença de maior número de vasos sangüíneos no tecido tumoral, especialmente vasos de pequeno calibre e com fluxo aumentado (6, 7) (NE 3). Recurso recente com bons resultados na localização de áreas suspeitas durante USTR com Doppler (guiando os procedimentos de biópsia para estas áreas) consiste no uso de contraste ultra-sonográfico endovenoso à base de microbolhas de ar, com incremento significativo tanto na sensibilidade quanto na especificidade do método (8) (NE 2). Entretanto, salienta-se que o contraste ultra-sonográfico encontra-se disponível em poucos centros radiológicos no Brasil, devendo ser considerado um método promissor como perspectiva futura. Ressonância magnética (RM) A bobina endorretal, desenvolvida no início da década de 90, foi responsável por um incremento significativo no potencial diagnóstico da RM para avaliação da próstata, sendo considerada atualmente instrumento fundamental para estudo do CaP por RM (9). Os tumores são identificados como áreas de hipo-sinal nas seqüências ponderadas em T2, em meio ao hiper-sinal da ZP prostática normal. Entretanto, sabe-se que diversas alterações não-tumorais podem apresentar-se com hipo-sinal na ZP, tais como hemorragia, prostatite crônica, displasia intraglandular ou seqüela traumática. Isto leva à inadequada eficácia do método na localização tumoral (10, 11) (NE 2). 91 A espectroscopia de prótons (figura) parece ser promissora para aumentar a especificidade da ressonância magnética endo-retal (RMER) na identificação e localização do CaP. Este método consiste em utilizar-se do campo magnético do aparelho de RM para obter informações metabólicas (espectros) baseados na concentração relativa de substâncias endógenas existentes na próstata. É sempre feita em conjunto com a RMER, acrescentando 20 minutos ao tempo de exame. Nos casos de tumores existe queda dos picos de citrato e aumento dos picos de colina na região acometida (figura 1) e a relação entre estes dois metabólitos é que permite inferir a localização e extensão tumoral com maior especificidade (10, 11) (NE 2). Salienta-se que a principal indicação da espectroscopia consiste na avaliação de pacientes com antígeno prostático específico (PSA) aumentado e múltiplas biópsias negativas. Caso exista área suspeita para tumor na espectroscopia, sua localização precisa deve ser referida e o paciente rebiopsiado com orientação dor US com atenção especial para esta região. Por ser um método novo, ainda não dispomos de dados definitivos quanto à real eficácia da espectroscopia na detecção tumoral, porém diversos estudos estão em andamento e os resultados iniciais são promissores (12). Aspecto a ser salientado consiste no intervalo a ser seguido entre a biópsia prostática e a realização de exames de RMER, visto que artefatos decorrentes da presença de sangramento podem prejudicar a interpretação das imagens, dificultando tanto a localização quanto o estadiamento tumorais. Dois trabalhos na literatura preconizam intervalo mínimo de três semanas entre a biópsia e a RM, tendo sido documentado que os artefatos decorrentes do sangramento pós-biópsia tornam-se menos deletérios para a interpretação das imagens após este período (13, 14) (NE 2). Espectroscopia prostática: exemplos de espectros de zona periférica normal (A) e com adenocarcinoma (B). Seta vermelha = pico de colina; seta azul = pico de citrato. Notar a elevação do pico de colina e redução do pico de citrato no tecido tumoral. 92 ESTADIAMENTO Ultra-som trans-retal Além da baixa especificidade de lesões hipoecogênicas prostáticas como indicativas de acometimento tumoral ao USTR, a interpretação dos critérios de invasão extracapsular e das vesículas seminais é operador-dependente. Isto justifica os resultados de eficácia variados e em geral insatisfatórios obtidos em diversos estudos (15, 16), sendo que alguns não mostraram vantagens significativas do USTR sobre o toque retal na avaliação do comprometimento extraprostático (17, 18) (NE 1), enquanto outros revelaram que o USTR (sem Doppler e sem biópsia) associado ao toque retal subestadia cerca de 26% dos tumores com comprometimento extraprostático (19, 20) (NE 2). Estudo recente evidenciou que a utilização do método Doppler propicia incremento significativo na acurácia do USTR para detecção de extensão extracapsular (21) (NE 2). Ressonância magnética Além da utilização de bobinas endorretais, a definição de critérios de imagem objetivos para caracterização de acometimento extraprostático também possibilitou incremento significativo na eficácia da RM para estadiamento local do CaP, com boa especificidade na identificação de extensão extracapsular e invasão de vesículas seminais (22, 23) (NE 2). A espectroscopia prostática, embora possa auxiliar no estadiamento local por melhor localizar as áreas de acometimento tumoral (24, 25), não é rotineiramente utilizada para o estadiamento local do CaP. Dentre as perspectivas futuras que podem auxiliar na detecção e estadiamento do CaP destacamos o estudo dinâmico após a injeção de contraste paramagnético (26-30) e o estudo da próstata em aparelhos de 3 Tesla (o dobro da intensidade do campo magnético dos aparelhos atuais), que determinam aumento significativo no sinal de RM e possibilitam imagens com maior resolução espacial (31). Estes recursos em breve estarão disponíveis no Brasil. Quanto ao estadiamento linfonodal, a RM se baseia nos mesmos critérios da TC, ou seja, considera linfonodos potencialmente positivos aqueles >1 cm no seu menor eixo. Não existe consenso estabelecido quanto à comparação das eficácias da TC e da RM na pesquisa de linfonodomegalias pélvicas em tumores prostáticos, porém alguns trabalhos com tumores ginecológicos sugerem que os dois métodos são equiparáveis (32-34) (NE 1). 93 Embora medidas por RM sejam empregadas na literatura para definição de acometimento linfonodal em pacientes com CaP, alguns trabalhos já demonstraram que apenas a mensuração dos linfonodos pode não ser adequada para predizer malignidade, pois linfonodos <1 cm podem apresentar focos de metástase e linfonodos aumentados podem ser apenas reacionais. Embora a especificidade da RM para este fim seja alta (>90%), sua sensibilidade é inferior a 70% (35, 36) (NE 2). Em trabalho recente, utilizou-se um meio de contraste superparamagnético linfotrófico experimental à base de nanopartículas de ferro na avaliação de comprometimento linfonodal em um grupo de pacientes com CaP, com acurácia de 98,9% na avaliação do acometimento tumoral em linfonodos com menor diâmetro entre 5 e 10 mm (NE 2). Embora este resultado seja bastante promissor, salienta-se que este meio de contraste ainda não está disponível para uso clínico e novos trabalhos com maior casuística devem ser realizados para comprovar sua eficácia. Tomografia computadorizada (TC) A TC não apresenta eficácia adequada na localização e estadiamento local de tumores prostáticos, devido à baixa resolução de contraste do método no estudo específico da próstata (37). Já em relação ao estadiamento regional (ou seja, acometimento linfonodal), a TC consegue caracterizar com precisão linfonodos obturatórios e ilíacos aumentados (>1 cm no menor eixo) que teriam, teoricamente, maior chance de estarem acometidos por tumor. Embora a sensibilidade e especificidade da TC na avaliação de acometimento linfonodal baseada em critérios de tamanho seja limitada, alguns trabalhos mostraram resultados relativamente adequados, com acurácia >90% (38) (NE 2). Por outro lado, deve-se salientar que a positividade da TC para linfonodos aumentados é baixa em pacientes com tumores de baixo estádio clínico. Em dois trabalhos retrospectivos com grande amostragem, a TC evidenciou linfonodomegalias em menos de 1% dos pacientes com CaP e PSA <20 ng/ml (39, 40) (NE 3). Análise populacional de 3690 pacientes com CaP recém-diagnosticado revelou positividade da TC de apenas 12% em pacientes com PSA entre 4 e 20 ng/ml, caindo para 9% no subgrupo de pacientes com Gleason <6; já para pacientes com PSA >50 ng/ml ou PSA >20 ng/ml e Gleason alto (8 a 10), a positividade da TC foi maior que 20%. Estes autores sugerem que a TC só deve ser solicitada em pacientes com PSA >20 ng/ml ou naqueles com PSA >10 ng/ml e Gleason 8 a 10 (41) (NE 3). 94 A TC é um excelente método para pesquisa de metástases em órgãos parenquimatosos (especialmente fígado e pulmão), podendo ser solicitada caso haja suspeita clínica deste raro padrão de acometimento secundário (25, 42) (NE 4). Cintilografia óssea Considerando-se que os tumores prostáticos metastatizam mais comumente para os ossos, e que metástases ósseas iniciais são freqüentemente assintomáticas (43), a cintilografia é constantemente obtida em pacientes com CaP recém-diagnosticado, sendo há tempos considerada o exame de escolha na avaliação de acometimento ósseo secundário (44). Com a maior disponibilidade do PSA, no entanto, cintilografia para fins de estadiamento nem sempre é necessária em pacientes com tumores diagnosticados precocemente. Em recente artigo de revisão (45) com 23 estudos incluídos e 8.644 pacientes avaliados, os seguintes resultados de positividade da cintilografia por faixa de PSA foram obtidos: Neste mesmo trabalho, taxa de detecção de metástases ósseas com a cintilografia em pacientes com doença localizada (T1 e T2) foi de 6,4%, comparada com 49,5% para pacientes com doença localmente avançada (T3 e T4). Já a taxa de detecção de metástases com a cintilografia em pacientes com escore de Gleason até 7 foi de 5,6%, subindo para 29,9% naqueles com Gleason >8. Baseados nestes resultados, estes autores concluíram que apenas pacientes com dor óssea, com CaP localmente avançado, com PSA >20 ng/ml ou com escore de Gleason >8 são candidatos a realização da cintilografia óssea (45) (NE 1). Nos casos em que a cintilografia é duvidosa, ou quando esta é negativa em pacientes sintomáticos, a RM pode desempenhar papel importante na avaliação óssea, sendo em muitos casos capaz de caracterizar lesões inespecíficas à cintilografia (46) (NE 4). Quando a lesão permanece incaracterística à RM, a biópsia óssea (preferencialmente guiada por TC) é indicada (47) (NE 4). 95 PET O PET (tomografia por emissão de pósitrons) é um método de imagem de medicina nuclear e o principal radiofármaco utilizado em oncologia é a 18-fluoro-2-desoxiglicose (FDG). Este marcador detecta áreas de metabolismo celular aumentado, onde existe incremento no consumo de glicose. A despeito de este método ter representado grande avanço na pesquisa e estadiamento de diversos tipos de tumores, sua aplicabilidade em neoplasias urinárias fica prejudicada pela excreção urinária do FDG, mascarando eventuais lesões tumorais nos rins, ureteres, bexiga e próstata. Além disso, os CaP costumam apresentar metabolismo celular baixo, com reduzido consumo de glicose e, conseqüentemente, menor captação do FDG, com sensibilidade <5% (48) (NE 2). Estudos recentes indicam que um outro marcador pode ser usado em aparelhos de PET para estudo específico da próstata, chamado 11C-colina, com acurácia superior a 90% no estadiamento linfonodal (49). Porém este radiofármaco ainda é utilizado apenas em caráter experimental e não se encontra disponível no Brasil. 96 Recomendações Diagnóstico • O diagnóstico do CaP é histológico e os métodos de imagem são complementares (NE 1; GR A). • O ultra-som trans-retal (USTR) é indicado para dirigir a biópsia (NE 2; GR B). • O uso do Doppler aumenta a eficácia do USTR na identificação do CaP, devendo ser utilizado sempre que possível, especialmente durante a realização de biópsias (NE 3; GR B). Quando disponível, o contraste ultra-sonográfico pode ser utilizado para aumentar a sensibilidade do Doppler (NE 2; GR B). • A espectroscopia, utilizada em conjunto com a ressonância magnética endorretal é um método auxiliar e promissor nos casos de pacientes com PSA elevado e biópsias negativas, no intuito de se mapear áreas suspeitas para neoplasia e direcionar futuras biópsias (NE 2; GR B). Estadiamento Estadiamento local (extensão extracapsular e invasão de vesículas seminais) • O USTR apresenta baixa eficácia no estadiamento do CaP (NE 1; GR A). • O emprego do Doppler auxilia no estadiamento local, com resultados superiores aos do USTR isolado, porém inferiores aos da RMER (NE 2; GR A). • A RMER é o melhor método de imagem no estadiamento local do CaP, podendo ser indicada nos casos de suspeita de CaP localmente avançado (T3 ou T4) (NE 2; GR A). • A RM, quando utilizada para avaliação local do CaP, deve ser realizada com bobina endorretal (NE 2; GR A). • Deve-se aguardar um período mínimo de 21 dias entre a biópsia e a RM endorretal (RMER), a fim de se minimizar artefatos decorrentes de áreas de sangramento (NE 2; GR A). Estadiamento regional (pesquisa de linfonodos) • A TC apresenta eficácia moderada no estadiamento linfonodal (NE 2; GR A), devendo ser utilizada em pacientes de alto risco (PSA >20 ng/ml, ou PSA >10 ng/ml e Gleason 8 a 10) (NE 3; GR B). • A eficácia da RM para estadiamento linfonodal pélvico é semelhante à da TC (NE 1; GR A). Estadiamento à distância • A cintilografia óssea é o método de escolha para rastreamento de metástases ósseas (NE 1; GR A), devendo ser utilizada em pacientes com sintomatologia óssea, ou com tumores localmente avançados, ou de alto risco (PSA >20 ng/ml, ou Gleason >7) (NE 1; GR A). • Nos casos de cintilografia duvidosa, ou quando a cintilografia é negativa em pacientes sintomáticos, a RM pode ser realizada (NE 4; GR C). Se persistir a dúvida, a biópsia óssea é indicada (NE 4; GR C). • A TC é um ótimo método para pesquisa de metástases à distância em órgãos parenquimatosos (fígado, pulmão, etc) (NE 4; GR C). • O FDG-PET apresenta pouca aplicação em tumores prostáticos, devido ao baixo metabolismo de glicose destes tumores e a eliminação urinária do radiofármaco (NE 2; GR B). 97 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Egawa S, Kuwao S, Uchida T, Yokoyama E, Mashimo S, Koshiba K: Reassessment of the sonographic criterion of prostate cancernonspecificity of a hypoechoic lesion. Nippon Hinyokika Gakkai Zasshi. 1993; 84(8): 1456-64. Jones DR, Griffiths GJ, Parkinson MC, Evans KT, Roberts EE, Davies RL, et al.: Structure and per-rectal ultrasonography of prostatic disease using cadaver specimens. Br J Urol. 1989; 64(6): 611-7. Scardino PT, Weaver R, Hudson MA: Early detection of prostate cancer. Hum Pathol. 1992; 23(3): 211-22. 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Os atributos do marcador tumoral ideal estão descritos na tabela 1 (1). O PSA talvez seja o que mais se aproxima daquele que seria um marcador ideal, comparativamente a todos os marcadores hoje disponíveis em oncologia. Fosfatase ácida e fosfatase ácida prostática (FAP) A fosfatase ácida, primeiro marcador utilizado em câncer de próstata, tem utilidade limitada, pois mesmo após a remoção cirúrgica da próstata, níveis séricos do marcador podem ser detectados e uma série de neoplasias, além de doenças renais, ósseas e esqueléticas pode alterá-los. Valores anormais da fosfatase ácida prostática (FAP) e valores na metade superior da faixa normal sugerem acometimento ósseo em mais de 80% dos casos; no entanto, níveis normais não significam ausência de doença extra-prostática. Após a descoberta do PSA, o uso clínico da FAP tem sido questionado (2, 3). Antígeno prostático específico (PSA) O PSA, inicialmente identificado no líquido seminal e subseqüentemente na próstata e no soro, está em uso clínico para diagnóstico e seguimento do câncer prostático desde 1986 (4). O PSA é “próstata-específico”, ou seja, é produzido principalmente pelo tecido prostático. O ensaio 102 mais utilizado para a determinação do PSA é o Tandem-R, que utiliza anticorpos monoclonais e cujos valores de normalidade considerados no plasma variam de 0,0 a 4,0 ng/ml. Deve-se observar que os valores de referência podem variar de acordo com a metodologia e com o fabricante do teste laboratorial; idealmente, todos os laudos de resultados laboratoriais relativos à concentração sérica do PSA deveriam indicar o teste empregado, com a discriminação do fabricante do mesmo e com os valores de referência recomendados. A meia-vida sérica do PSA é de 2,2 dias e o exame pode manter-se estável, quando congelado, por mais de 25 anos. Não é um teste “câncer-específico”, porém sabe-se que as concentrações séricas de PSA podem elevar-se em diversas patologias prostáticas e em situações distintas (tabela 2). Acredita-se que o PSA seja liberado para a corrente sangüínea, principalmente quando existe alguma ruptura nos mecanismos que o mantêm no tecido prostático, como isquemias, infartos, processos inflamatórios e câncer. A hiperplasia benigna da próstata (HPB) produz elevações do PSA sérico devido ao aumento do número de células produtoras de PSA. Vinte por cento dos pacientes com HPB têm PSA acima de 4 ng/ml. Cada grama de hiperplasia prostática eleva o PSA sérico em 0,3 ng/ml, enquanto cada grama de câncer o eleva em 3,0 ng/ml (5). O metabolismo do PSA não está totalmente esclarecido, embora estudos recentes sugiram que o mesmo se processe principalmente no fígado (6). O exame de toque retal, aparentemente, não interfere de modo significativo nos níveis séricos de PSA, ou seja, quando há aumentos na 103 concentração sérica de PSA após o toque estes geralmente não alteram a conduta clínica (elevações muito discretas). Entretanto, alguns estudos recomendam sua coleta somente após 48 h do exame retal (7,8) (NE 2). A influência da atividade sexual sobre os níveis de PSA permanece controversa, embora aparentemente não exista correlação importante (9, 10) (NE 2). Autores sugerem que não é necessária abstinência (10) e outros preferem aguardar ao menos 24 h após a relação para uma dosagem mais fidedigna (9). Os inibidores da 5-α-reductase (finasterida, dutasterida) utilizados no tratamento farmacológico da HPB podem reduzir os níveis séricos de PSA aproximadamente à metade quando utilizados continuamente por período maior que seis meses. Deve-se, portanto, multiplicar por dois os valores séricos do antígeno para se obter o valor real do PSA neste grupo de pacientes (11, 12) (NE 1). As biópsias prostáticas e as ressecções endoscópicas da próstata elevam o PSA sérico num primeiro momento e não se recomenda sua determinação antes de decorridas ao menos quatro semanas dos procedimentos. Após seis meses da ressecção endoscópica espera-se um PSA abaixo de 0,7 ng/ml (13) (NE 2). As prostatites são causas freqüentes de aumento dos níveis séricos de PSA; na presença de prostatite clínica, o exame deve ser repetido após o tratamento antibiótico e a realização de biópsia pode estar indicada se persistir a elevação. Manipulações prostáticas, como cistoscopias ou outros procedimentos urológicos também podem alterar o PSA. Discute-se se exercícios como ciclismo poderiam alterar o PSA sérico (14). Trabalhos distintos mostram que nem a litotripsia extracorpórea de cálculos de ureter pélvico (15), nem a administração exógena de testosterona influenciaram os níveis de PSA em homens jovens, mas a testosterona pode determinar aumento dos níveis séricos de PSA em homens com mais idade e hipogonadismo, apesar deste aumento nem sempre apresentar relevância clínica (16, 17) (NE 2). A presença de neoplasia intra-epitelial (PIN), apesar de estar relacionada à existência de câncer, não parece, por si só, elevar o PSA a níveis superiores aos da HPB (18) (NE 2). A Associação Americana de Urologia recomenda, atualmente, a realização de PSA e exame de toque retal anuais em homens acima de 50 anos, ou acima de 40 anos caso haja história familiar de câncer em parentes de primeiro grau ou a raça do paciente seja negra. No Brasil, uma vez que dados raciais são motivos de análises mais complexas, não há consenso quanto à importância dos fatores raciais e câncer de próstata. 104 Estratégias para incrementar a acurácia do PSA O PSA apresenta uma faixa de resultados em que para se obter uma sensibilidade aceitável se perde significativamente em especificidade, ou seja, para manter taxas aceitáveis de diagnóstico muitos pacientes são submetidos a exames desnecessários. A chamada “zona cinzenta”, tradicionalmente considerada de 4,1 a 10,0 ng/ml, mais recentemente tem sido definida como 2,0/2,5 – 10,0 ng/ml em estudos que utilizam pontos de corte do PSA mais baixos. Em pacientes com PSA entre 4,1 e 10,0 ng/ml, por exemplo, assume-se que cerca de 11% a 39% dos pacientes apresentam câncer à biópsia trans-retal (19). Para otimizar a eficácia do PSA como teste diagnóstico nesta faixa, várias alternativas foram propostas, sempre visando incrementar a especificidade do teste e evitar biópsias desnecessárias (tabela 3). Velocidade do PSA O Baltimore Longitudinal Study of Aging revelou que a velocidade de elevação do PSA difere consideravelmente entre grupos de pacientes com HPB, CaP e grupo controle, sugerindo que velocidade de PSA >0,75 ng/ml/ano, seria o período ideal para determinar alterações da velocidade do PSA em três amostragens consecutivas ao longo de 18 meses (20,21) (NE 2). Entretanto, o PSA sérico pode apresentar variabilidade considerável, sendo esta de até cerca de 15% em exames realizados num mesmo paciente com intervalos de tempo de poucas semanas. A variação da técnica também pode acarretar variações, que podem prejudicar o uso clínico da velocidade do PSA. Densidade do PSA No cálculo da densidade o PSA sérico (ng/ml) é dividido pelo volume prostático (cm3) avaliado por ultra-sonografia trans-retal. O ponto de corte sugerido tem sido de 0,15, com valores inferiores indicando hiperplasia (22). Vários estudos mostraram utilidade discutível da densidade do PSA. As principais críticas são a variabilidade na determinação do volume prostático e 105 as diferenças na proporção entre conteúdo glandular e estromal nos casos de HPB, que poderiam determinar PSAs distintos com o mesmo volume glandular. Um estudo de 59 pacientes sugeriu que a densidade do PSA teria mais valor na distinção entre carcinoma e HPB se fosse utilizada uma relação entre o PSA e a zona de transição medida pelo ultra-som trans-retal, mas este trabalho necessita de confirmação com casuísticas maiores (23). PSA ajustado à idade Determinou-se que os valores de PSA são bastante variados nas diferentes faixas etárias. Utilizando o percentil 95 da curva normal de distribuição foram atribuídos valores máximos diferentes do PSA em quatro faixas etárias distintas (tabela 4) (24). O uso do PSA ajustado à idade objetiva aumentar a sensibilidade da detecção de câncer nas camadas mais jovens da população e aumentar a especificidade nas mais idosas. No entanto, a maioria dos autores concorda que a redução da sensibilidade nas faixas etárias acima de 60 anos é problemática e recomenda a manutenção do uso do limite de 4,0 ng/ml entre os mais idosos. Aplicando retrospectivamente estes critérios, 47% dos tumores localizados não teriam sido diagnosticados em homens com mais de 70 anos. Assim, ao utilizarmos o PSA ajustado à idade, diminuiríamos o número de biópsias negativas às custas de não fazermos o diagnóstico em quase metade dos pacientes (25) (NE 2). Redução do ponto de corte do PSA Percentual significativo dos homens que apresentavam PSA inicial entre 2,6 e 4,0 ng/ml desenvolverá PSA superior a 4,0 ng/ml no exame de seguimento durante os próximos 4 anos. Desta forma, um estudo mudou o ponto de corte do PSA para 2,5 ng/ml, indicando biópsia prostática quando ocorressem valores superiores a este (26, 27) (NE 2). A incidência de 106 tumores confinados após o tratamento cirúrgico foi significativamente maior no grupo com PSA pré-operatório entre 2,6 e 4,0 ng/ml (88% vs. 63%; p <0,01), sem que houvesse aumento dos chamados tumores “insignificantes” (12% vs. 12%; p = 0,9) (28). Embora o ponto de corte consensual para a indicação de biópsia seja 4,0 ng/ml, estudos recentes sugerem que em pacientes mais jovens, com próstatas pequenas e sem prostatite, a biópsia pode ser considerada com valores de PSA acima de 2,5 ng/ml (29) (NE 1). Determinação das formas moleculares do PSA: PSA livre O PSA existe no plasma em três formas moleculares principais: PSA livre, PSA conjugado à α-1-antiquimotripsina e PSA conjugado à α-2macroglobulina. A proporção do PSA conjugado à α-1-antiquimotripsina é maior nos pacientes com câncer do que nos com HPB. Vários estudos demonstraram que a proporção de PSA livre em relação ao PSA total é inferior nos pacientes com câncer (30, 31) (NE 3). Estudo multicêntrico confirmou que esta proporção é mais preditiva para o diagnóstico de câncer do que níveis de PSA total em pacientes com valores entre 4,1 e 10,0 ng/ml; os pontos de corte de 25% e 22% resultaram, respectivamente, em sensibilidades de 95% e 90%. Adicionalmente, o uso destes pontos de corte poderia evitar biópsias desnecessárias em 20% e 29% dos pacientes com patologias benignas, respectivamente (32) (NE 1). Não se sabe o ponto de corte ideal (foram sugeridos valores entre 15% e 25%); a variação entre os valores sugeridos deve-se a diferentes expectativas quanto à sensibilidade e especificidade do teste (32) (NE 1). Diferentes kits de PSA utilizam diferentes pontos de corte, que devem ser informados pelo laboratório. Determinação das formas moleculares do PSA: PSA complexado (cPSA) A maioria dos PSA encontrados em pacientes com câncer prostático ocorre na forma complexada à α-1-antiquimotripsina e sua concentração é estimada subtraindo-se o PSA livre do PSA total. Recentemente foi desenvolvido um teste específico (Bayer Diagnostics, NY), para ligar-se exclusivamente às formas conjugadas do PSA (exceto à α-2-macroglobulina). A dosagem do cPSA tem-se mostrado superior à determinação do PSA total para o diagnóstico de CaP mas, aparentemente, equivale à determinação da proporção entre PSA livre e total. No entanto, quando mantido, apresenta maior estabilidade e menor variabilidade do que o PSA livre. Os pontos de corte ainda não estão bem definidos. Estudo adotando pontos de corte de 3,06 ng/ml e 2,52 ng/ml encontrou sensibilidades de 90% e 95%, 107 evitando biópsias desnecessárias em 20,3% e 9,1%, respectivamente (33). Estudo multicêntrico, prospectivo, de 831 pacientes confirmou a superioridade do cPSA em relação ao PSA total em termos de especificidade para o diagnóstico de CaP na faixa de PSA total entre 2,0 e 10,0 ng/ml (33, 34) (NE 1). Determinação das formas moleculares do PSA: novas formas de PSA O PSA livre pode existir sob formas intactas (intact PSA - iPSA), as quais não são clivadas internamente e que, mais comumente, estão associadas ao câncer. Estas também incluem as formas precursoras do PSA (proPSA). Outras formas de PSA livre são clivadas (nicked PSA - nPSA), dentre as quais podemos incluir uma fração denominada PSA benigno (benign PSA - bPSA), supostamente produzida pela hiperplasia benigna da zona de transição. Estudo clínico realizado em 178 homens com doença benigna e 255 homens com CaP revelou uma taxa maior de iPSA/PSA livre em homens com CaP e uma taxa maior de nPSA/PSA livre nos pacientes com doença benigna (35). As formas precursoras do PSA (proPSA), especialmente a [-2] pPSA apresentam aplicabilidade na pesquisa do câncer, sendo que em estudo recente a relação [-2] proPSA/PSA livre foi o teste que apresentou melhor performance diagnóstica em pacientes com PSA entre 2 e 4 ng/ml (36) (NE 1). A dosagem isolada do bPSA parece ser mais comum em hiperplasia do que em pacientes jovens com próstatas normais, mas a coexistência de hiperplasia e câncer, especialmente em pacientes mais idosos, faz com que seus valores não sejam mais baixos em pacientes com câncer e seu potencial no diagnóstico permanece incerto (37). Outras aplicações do PSA O PSA também pode ser de valia no estadiamento do câncer prostático. Verificou-se que em pacientes com câncer clinicamente localizado e PSA inferior a 10,0 ng/ml a cintilografia óssea não seria um exame necessário, uma vez que nestes níveis de PSA o comprometimento metastático é exceção. Por outro lado, níveis superiores a 50 ng/ml denotam alta probabilidade de doença metastática (38) (NE 1). O PSA é fundamental no acompanhamento dos tratamentos instituídos para o CaP. Após um mês da prostatectomia radical os níveis séricos de PSA devem tornar-se indetectáveis. Níveis mínimos de PSA poderiam ser produzidos por tecido extraprostático (p.ex.: glândulas periuretrais) ou por tecido prostático benigno remanescente junto às margens, sendo que a definição de recidiva bioquímica pode variar segundo diferentes 108 autores desde níveis indetectáveis até 0,4 ng/ml (39). Também após os tratamentos radioterápicos ou hormonais do câncer, o PSA tende a sofrer redução significativa e elevações em seu nível sérico denotam progressão. A Sociedade Norte-Americana de RTX (ASTRO) considera que três elevações consecutivas dos níveis séricos de PSA após ser atingido o nadir indica recorrência bioquímica, com a data estimada da mesma sendo o tempo médio entre a primeira e a segunda elevações do PSA (7). Pacientes com doença metastática que respondem ao tratamento hormonal apresentam redução expressiva do PSA sérico, que costuma equivaler a 80% dos valores prévios após 30 dias do início do bloqueio hormonal (4). Fator de crescimento similar à insulina tipo 1 (IGF-1) e proteína tipo 3 carreadora dos fatores de crescimento associados à insulina (IGFB-3) Os fatores de crescimento similares à insulina (IGFs) são fatores mitógenos que representam papel importante na regulação da proliferação, diferenciação e apoptose celulares; as proteínas carreadoras dos IGFs (IGFBPs), por sua vez, representam papel inibitório sobre a proliferação celular, sendo que sua aplicabilidade clínica permanece controversa e em investigação (40, 41). Calicreína humana 2 (hK2) A calicreína humana 2 (human kallicrein 2 - hK2) é uma proteína que apresenta homologia de cerca de 80% ao PSA. Sua expressão aumenta exponencialmente desde o epitélio prostático benigno até o CaP e as metástases linfonodais. Tem-se especulado que a dosagem dos níveis séricos desta proteína poderia contribuir para melhorar a acurácia do diagnóstico do CaP (42, 43). Estudo multicêntrico revelou que a dosagem de hK2 em combinação com a relação PSA livre/PSA total melhora a acurácia do diagnóstico do CaP em pacientes com PSA total entre 2,5 e 4,0 ng/ml (43). Outros marcadores biomoleculares Um gene relacionado ao CaP, o PCA3, pode ser detectado na urina (uPM3). Estudo em homens com PSA entre 2,5 e 10,0 ng/ml e biópsias negativas demonstrou boas taxas de detecção de câncer, com sensibilidade e especificidade adequadas (44). A expressão da α-metilacil-CoA racemase (AMACR) encontra-se especificamente aumentada no epitélio do CaP. Testes séricos e urinários da racemase poderão incrementar a acurácia diagnóstica do CaP em indivíduos com níveis intermediários de PSA (45, 46). A análise de padrões de expressão de proteínas séricas (proteomics) 109 associados ao CaP parece demonstrar acurácias interessantes em pacientes de pequenas séries (47). REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. National Cancer Institute – Tumor Markers. 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(1989), propondo a biópsia com 6 punções na linha para-sagital, sistemática e aleatória, revolucionou a técnica de biópsia para o diagnóstico do CaP. Esta técnica ficou conhecida como biópsia sextante (1). Entretanto, com o surgimento e o amplo emprego do PSA, os urologistas necessitavam repetir biópsias com freqüência em pacientes nos quais persistiam com os níveis elevados de PSA após a primeira biópsia negativa. Outros autores como Eskew et al. (1997) relataram um ganho no diagnóstico de câncer entre 20 e 35% quando um maior número de punções era empregado (2). Nos estudos subseqüentes, Presti Jr. (1999) demonstrou as vantagens das técnicas de biópsia de próstata com maior número de fragmentos, geralmente entre 10 e 13 amostras, envolvendo sempre as faces látero-laterais (3) (NE 1). Indicações para biópsia de próstata As indicações são: presença de nódulos prostáticos detectados no toque retal; níveis elevados de PSA (geralmente acima de 4,0 ng/mL) (4) (NE 1) e, mais recentemente, indica-se também em pacientes mais jovens (idade abaixo dos 55 anos) e que tenham PSA acima de 2,5 ng/mL (4) (NE 1) e naqueles com densidade 0,15 e velocidade anual >0,75 ng/ml (5) (NE 2). Técnica de biópsia da próstata a) Antibioticoprofilaxia: o antibacteriano habitualmente usado é a levofloxacina (6) ou a ciprofloxacina (7) oral na dosagem de 500 mg uma hora antes do procedimento (NE 1). Nos pacientes diabéticos, imunodeprimidos, em uso recente de corticóide, disfunção urinária grave, próstatas >75 gramas, administra-se mais duas subseqüentes a cada 24 horas. Nos casos de portadores de valvulopatias cardíacas é necessário utilizarmos esquemas específicos e rigorosos de profilaxia (6); b) O preparo intestinal convencional que foi utilizado sistematicamente no passado é dispensá- 115 vel na rotina atual, optando-se por laxantes via oral na véspera do exame (8); c) Sedação: a biópsia é factível sem qualquer anestesia ou analgesia, porém, a utilização de sedação oferece conforto para o paciente e facilidade na execução pelo médico (9); d) Posição do paciente: decúbito lateral esquerdo com as coxas fletidas; e) Toque retal: um novo exame digital da próstata deve preceder o exame ultra-sonográfico; f) Punções: um aparelho de ultra-som com transdutor end fire com agulha é utilizado para se obter pelo menos um total de 10 fragmentos representativos de toda a glândula, incluindo sistematicamente as faces látero-laterais (“cornos” direito e esquerdo). 116 A re-biópsia Aproximadamente 190.000 novos casos de CaP foram detectados em 2.003 nos Estados Unidos da América (EUA), sendo que a maioria tinha PSA elevado (>4 ng/ml) como principal dado suspeito. Esse índice de casos poderia ser maior se para a indicação da biópsia fossem levados em conta recentes artigos que mostram a alta incidência de CaP em pacientes com PSA entre 2 e 4 ng/ml (em torno de 35% em homens abaixo de 62 anos) (4). Embora a maioria dos tumores seja detectada na 1ª biópsia, 70% a 80% dos pacientes deixam dúvidas quando esta resulta negativa. Entre 15% a 30% dos CaP são diagnosticados na re-biópsia quando seguidos os fatores preditivos para positividade relacionados a seguir (10) (NE 2). Recomenda-se, preferencialmente, realizar a nova biópsia após pelo menos 6 semanas da inicial e se houver indicação de 3ª ou 4ª re-biópsias aguardar 8 semanas (11) (NE 3). Não há maior índice de complicações quando seguidas tais recomendações. A indicação da 3ª e 4ª biópsias depende da suspeita clínica e dos fatores preditivos, sendo a detecção de CaP em torno de 5% na 3ª e 4ª biópsias (11). 117 Não há consenso quanto ao número exato de fragmentos na rebiópsia; entretanto, mais da metade dos diagnósticos foi feito nos novos fragmentos além das sextantes (12). Deve-se colher fragmentos extras da região e adjacências se houver PIN alto grau ou proliferação atípica. A coleta de mais fragmentos (biópsia extensa ou saturação), além de aumentar a chance de positividade, fornece melhores dados sobre a extensão extracapsular (13) (NE 2). REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Hodge KK, McNeal JE, Terris MK, Stamey TA: Random systematic versus directed ultrasound guided transrectal core biopsies of the prostate. J Urol. 1989; 142(1): 71-4; discussion 74-5. Eskew LA, Bare RL, McCullough DL: Systematic 5 region prostate biopsy is superior to sextant method for diagnosing carcinoma of the prostate. J Urol. 1997; 157(1): 199-202; discussion 202-3. 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As diferentes modalidades utilizadas para o tratamento do CaP localizado segundo dados do CAPSURE (Cancer of the Prostate Strategic Urologic Research Endeavor) encontram os seguintes percentuais prostatectomia radical (PR) (51,6%), braquiterapia (BT) (21,7%), RTX (XRT) (6,8%), observação (OBS) (7,9%) e outros (12%). PR foi realizada em 86,3% dos homens <60 anos, RTX (XRT/BT) em 39,4% entre 70-79 anos. Após os 80 anos a deprivação androgênica e oregime de OBS são utilizados em 36,4% e 38,6%, respectivamente (1). No mesmo estudo, a despeito da identificação do CaP, 25% a 33% morrerão pela doença, apesar de 2/3 deles serem identificados como T1c (1) (NE 2) pois já serão tumores significantes (2), ou seja, apresentam padrão 4, >3 fragmentos positivos na biópsia, mais deles 50% comprometidos pelo tumor. PROSTATECTOMIA RADICAL Após longa evolução técnica, desde a sua introdução no século passado, a intervenção como feita na atualidade, foi sistematizada por Walsh (3). Os aspectos técnicos da PR são amplamente discutidos na literatura, mas alguns detalhes e controvérsias ainda merecem discussão. Hoje, a maioria dos autores admite que pacientes que tenham PSA <10 e escore de Gleason <7 na biópsia não necessitam de linfadenectomia de rotina (4,5) (NE 2). A prostatectomia radical pode ser feita por via retropúbica, perineal ou laparoscópica. Não existem, ainda, evidências científicas de boa qualidade que demonstrem superioridade de uma técnica sobre a outra, no que diz respeito ao controle da doença. A maioria dos cirurgiões prefere a via clássica retropúbica, pela maior familiaridade com a via de acesso, a possibilidade de efetuar a linfadenectomia concomitante e porque este acesso dispensa a utilização de instrumentos especiais e o longo treinamento que é necessário para efetuar a intervenção por via laparoscópica. Ainda não existem evidências científicas de boa qualidade que respondam às seguintes controvérsias: • estoque de sangue autólogo • intervalo entre a biópsia e a intervenção • operabilidade do escore de Gleason >7 • valor máximo de PSA que contra-indique a intervenção. 120 Com base nos estudos randomizados publicados até hoje, a PR apresenta melhores resultados na redução da mortalidade câncer-específica e progressão local e sistêmica da doença. Holmberg (6) demonstrou, no único estudo prospectivo randomizado que comparou mortalidade específica por CaP em pacientes submetidos a PR ou OBS, que a cirurgia oferece maiores chances de cura O seguimento mediano foi, entretanto, apenas de 6,2 anos. Ao avaliar desenvolvimento de metástases, ocorreu em 13,4% e 27,3% para PR e OBS respectivamente (p = 0,03). O risco de morte após 8 anos é de 7,1% e 13,6% (p = 0,02) para PR e OBS respectivamente. Não houve diferença significativa entre os dois grupos quanto à sobrevida global (NE 1). Em estudo comparativo, não randomizado, entre PR e XRT, feito em 1.682 pacientes, a sobrevida livre de recorrência bioquímica para PR e XRT em 5 e 8 anos foi respectivamente de: 80% e 72% e 73% e 70% (p = 0,01). Entretanto, a sobrevida global foi equivalente nos dois grupos (7) (NE 3). nr – não relatado; GL – Gleason; % LRB – percentual de pacientes livres de recidiva bioquímica 121 RTX A RTX externa utiliza, habitualmente, aceleradores lineares (14) e frações de 180 a 200cGy 5x/semana. A RTX externa convencional emprega, em geral, 4 campos (ântero-posteriores e látero-laterais) ou campos rotatórios. A técnica tridimensional conformacional utiliza diversas técnicas e diferentes números de campos não-ortogonais, entre 3 e 6 campos; e a modulação de intensidade de feixe costuma empregar uma disposição de campos fixa, dependendo do serviço, tradicionalmente 5 campos. Historicamente, a dose de radiação necessária ao controle da doença estava relacionada ao volume de doença presente, estádio I, 6400cGy; estádio II, 6800 a 7000cGy; e estádio III, 7100 to 7200cGy. Dados mais recentes, contudo, demonstram que há um efeito significativo do escalonamento de dose na resposta ao tratamento, com menos recorrências com doses em excesso de 7200cGy (14) (NE 3). Não há indícios de que a irradiação profilática de linfonodos pélvicos clinicamente negativos tenha algum impacto na sobrevida (15) (NE 2). Em 2002, um estudo randomizado comparou a eficácia de 7000cGy e 7800cGy no controle do CaP localizado, avaliando 305 pacientes, entre 1993 e 1998, com um tempo de seguimento médio de 5 anos. Após 5 anos, os resultados foram significativamente melhores nos grupos de risco intermediário e alto (43% sem recidiva bioquímica com 7000cGy e 62% com 7800cGy). Em pacientes de baixo risco não houve diferença de resultados entre as duas doses (75% sem recidiva bioquímica). A toxicidade vesical foi similar nos 2 grupos, porém a retal foi maior no grupo de alta dose, com 12% contra 26% (16) (NE 2). Um estudo retrospectivo, composto de 2.991 pacientes tratados entre 1990 e 1998 comparou os resultados de prostatectomia radical, RTX externa exclusiva até 7200cGy, RTX externa exclusiva acima de 7200cGy, braquiterapia com implantes permanentes e tratamento combinado - RTX externa e implante permanente. As taxas de sobrevida livre de falha bioquímica em 5 anos foram, respectivamente, 81%, 51%, 81%, 83% e 77%. A análise multivariada, excluindo a RTX externa exclusiva até 7200cGy, que evidenciou pior resposta, não mostrou a modalidade de tratamento como fator significativo no prognóstico, com taxa de controle local similar para todas as outras modalidades neste período (17) (NE 4). Em estudo retrospectivo multi-institucional, Shipley (18) (NE 2) ao avaliar recorrência bioquímica pós-XRT em 1.765 homens, obteve em 5 anos: 85% de sobrevida global, 95,1% de sobrevida câncer-específica e 65,8% de sobrevida livre de recorrência bioquímica. Quando avaliou somente 122 indivíduos com PSA <10, a sobrevida livre de recorrência bioquímica foi de 77,8% e de 72,9% após 5 e 7 anos, respectivamente. As complicações mais comuns das diversas modalidades de XRT são sintomas miccionais irritativos (disúria, urgência, polaciúria, noctúria) e proctite em 70% a 80% dos pacientes que melhoram em média, após dois meses. Retenção urinária pode ocorrer e está intimamente associada a próstatas de maior volume sendo, às vezes, necessária ressecção endoscópica (19) (NE 5). A disfunção erétil (DE) após RTX (20) (NE 2) em trabalho de meta-análise, estava presente em 24% dos pacientes submetidos à BT, 40% em BT + XRT e de 45% em XRT isolada. Braquiterapia Após a experiência negativa do início da década de 1970 com braquiterapia, atualmente cerca de 20% de indivíduos selecionados permanecem livres de recorrência local em 15 anos (21). BT emerge, na atualidade, com sofisticação técnica para implante homogêneo via perineal guiada por US trans-retal, planejamento computadorizado para implante de sementes radioativas de iodo 125 (140-160Gy) ou de palladium 103 (115 a 130Gy). Tem sido utilizada principalmente em estádios iniciais e doença de baixo volume.Os principais argumentos para sua indicação são: abordagem menos invasiva (comparada com cirurgia), menor tempo de tratamento e convalescença quando comparada à RTX externa. 123 Crioterapia Ainda não existem trabalhos com metodologia adequada e com seguimento de longo prazo, que permitam suar utilização como terapia de primeira escolha. Regime de observação (OBS) Observação permanece opção viável e importante no CaP localizado, com chances de preservar a qualidade de vida (QV) com possibilidade de intervenção antes da progressão sintomática da doença. Duas variantes devem ser consideradas: identificar doença com crescimento ativo e instituir tratamento. Para Carter (22) (NE 3) pode ser realizada OBS quando os tumores identificados forem enquadrados em: T1c, ausência de padrão 4/5 de Gleason primário, <3 Bx positivas/12, nenhum fragmento com mais de 50% comprometido e densidade do PSA <0,15. Os pacientes devem ser submetidos a acompanhamento com toque digital, PSA semestral e biópsia anual, sendo caracterizada progressão quando surgir padrão 4/5, >3 fragmentos positivos/12, ou mais que 50% de um fragmento comprometido em biópsias subseqüentes. Na casuística do estudo 31% tiveram progressão da doença no 1º ano. Holmberg (6) demonstrou em grupo sob OBS que a chance de metástases foi 37% maior que no grupo submetido a cirurgia e o risco de morte após 8 anos foi de 13,6% e após 10 anos de seguimento 16,8% (NE 1). Albertsen (23), ao avaliar 767 homens de 55 a 74 anos sob regime de OBS, mostrou que a chance de morte devida à progressão da doença após 15 anos aumenta conforme o escore de Gleason: 2 - 4 (4% - 7%), 5 (6% - 11%), 6 (18% - 30%), 7 (42% - 70%) e 8 - 10 (60% - 87%) (NE 4). Estudos atuais são contundentes em mostrar que a observação pode ser perigosa para homens com expectativa de vida superior a 10 anos. Estudo feito por Johansson (24) (NE 3) demonstrou que após 15 anos de OBS a sobrevida livre de progressão caiu de 45% para 36%, a sobrevida livre de metástases de 76,9% para 51,2% e a sobrevida câncer-específica de 78,7% para 54,4%. Estes números confirmam que em CaP é necessário longo seguimento para observar os benefícios do diagnóstico precoce e do tratamento. Qualidade de vida (QV) Uma vez diagnosticado CaP localizado, ao decidir sobre o tratamento, o paciente estará aceitando o risco de complicações agudas ou crônicas produzidos pelo mesmo. A necessidade de um segundo tratamento (resgate) após qualquer terapia local com intenção curativa pode ocorrer em percentual 124 considerável de pacientes, o que também interfere nos índices de QV (25) (NE 2). Hoffman (26), após análise de 2365 pacientes tratados, concluiu que 59,2% estavam satisfeitos com a opção tomada (PR ou RT). A satisfação compreendia “estar livre do câncer” (66,4%), função urinária (64,2 %) e intestinal (60,5%), função erétil (65,9%) e gozar de boa saúde (71,3%). É importante frisar que 69,1% referiram preservar as relações sociais e que 50,5% dos pacientes não tratados estavam insatisfeitos. Dentre os pacientes satisfeitos, 76,8% referiram que escolheriam novamente a mesma opção (26) (NE 2). Smith (27), ao avaliar a QV em 2.234 homens submetidos a PR (76%), XRT (11%), OBS (7%), DA (4%), CRIO (2%) após 1 ano do tratamento e, ao avaliar a função sexual, verificou que esta era um problema para 58% pós-PR, 48% pós-XRT, 64% pós-DA, 45% pós-CRIO e, finalmente, 30% após OBS (NE 4). Ao analisar QV (28) após PR e OBS identificou DE em 80% e 45% e perdas urinárias em 49% e 21%, respectivamente (NE 2). NR: não relatado; NSU: nerve-sparing unilateral; NSB: nerve-sparing bilateral 125 A incidência de incontinência urinária e uso de forro de proteção é variável, conforme as séries representadas abaixo (41): NR: não relatado; NS: nerve-sparing; NNS: non nerve-sparing 126 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Cooperberg MR, Lubeck DP, Meng MV, Mehta SS, Carroll PR: The changing face of low-risk prostate cancer: trends in clinical presentation and primary management. J Clin Oncol. 2004; 22(11): 2141-9. 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Os tumores de grande volume têm tendência à extensão pósterolateral com infiltração extra-capsular pelos espaços perineurais, que favorecem a disseminação tumoral (4) (NE 4). O conhecimento dos limites anatômicos e o comportamento biológico da neoplasia são determinantes para a adequada técnica cirúrgica (2, 5-9). A ressecção ampla da próstata, em bloco com estruturas laterais que contêm os feixes vásculo-nervosos, confirma infiltração neoplásica em 30%-60% dos espécimes cirúrgicos (1-3, 8, 10) (NE 4). Assim, não se deve preservar essas estruturas para tumores T3 sob risco de comprometimento de critérios oncológicos. Destaque-se, ainda, que 20%-25% dos pacientes com tumores palpáveis (zona periférica) têm margens positivas na face posterior, retal da próstata (5, 8, 9) (NE 4). Nos tumores apicais, que apresentam possibilidades significativas de margens positivas, é recomendável o emprego de biópsias de congelação (5, 8, 9) (NE 4). Raciocínio análogo é válido para suspeita de invasão do colo vesical, situação em que se deve sacrificar as fibras circulares desta região. As informações apresentadas mostram que a PR, quando indicada, deve ser abrangente, incluindo a retirada de tecidos periprostáticos, pro132 curando alcançar a eficácia de uma operação oncológica, incluindo ressecção linfonodal mais extensa (5,7-9). • Complicações Com os avanços da técnica cirúrgica a maioria das complicações peri e pós-operatórias tardias são menos comuns que há 20 anos, em séries contemporâneas (6) e não diferem significativamente das complicações cirúrgicas para doença localizada. A necessidade de ressecção dos feixes vásculo-nervosos, além de levar a DE, aumenta a probabilidade de incontinência urinária pós-cirúrgica (11) (NE 4). Tratamento hormonal neoadjuvante à prostatectomia radical (THN) Apesar de alguns trabalhos serem favoráveis ao uso do THN a maioria dos autores o considera recomendável somente em protocolos clínico-experimentais. A ausência de dados de longo prazo quanto à sobrevida desses pacientes reforça a não recomendação clínica do THN. Os estudos analisados mostram que o THN à cirurgia diminui a taxa de margens cirúrgicas positivas, aumenta a taxa de tumor confinado e causa redução do estádio tumoral (12-30). No entanto, os estudosque dispõem de dados a longo prazo sobre recorrência e sobrevida (8, 12, 13, 19, 30-32), (NE 1) não mostram melhora significativa destes quesitos. Quando particularizamos um subgrupo de pacientes com PSA >20 ng/ml, um estudo recente refere melhora da sobrevida livre de recorrência (22). Este trabalho abre perspectiva para a investigação sobre o benefício da THN nos tumores mais avançados. Tratamento hormonal adjuvante à prostatectomia radical (THA) Estudos controlados, prospectivos, avaliando tratamento adjuvante para esses pacientes, mostraram benefícios quanto à sobrevida livre de doença com o emprego de programas de hormonioterapia que incluem 133 goserelina (33) (NE 1), goserelina e acetato de ciproterona (34) (NE 1) e análogo LH-RH associado a antiandrogênios (35). Estudo multiinstitucional comparando bicalutamida 150 mg/dia versus placebo para tumores localizados ou localmente avançados (T1b-T4, N0-NX, MO) (36,37), no qual os pacientes foram randomizados para PR, RTX ou observação, mostrou no período mediano de 3 anos que a bicalutamida reduziu significativamente o risco de progressão tumoral (36, 37) (NE 1). A sobrevida global necessita, todavia, de maior tempo de observação. Nesse estudo a qualidade de vida mostrou-se expressivamente melhor no grupo com antiandrogênios não esteróides quando comparada aos bloqueios convencionais, principalmente quanto ao interesse sexual e capacidade física (36-39) (NE 1). Radioterapia (RTX) O uso de RTX pode ser indicado em pacientes com tumor da próstata localmente avançado (40-44) (NE 2). Há controvérsia sobre o melhor tratamento para pacientes com expectativa de vida <5 anos, se RTX ou hormonioterapia (43, 44). RTX externa é o tratamento mais apropriado para os pacientes com CaP localmente avançado que irão receber radiação (41, 44) (NE 3). Os resultados da RTX são similares aos da cirurgia, mas sua morbidade é considerada menor (40, 43, 45) (NE 2). 134 Radioterapia convencional x conformacional A RTX conformacional tem o potencial de diminuição absoluta, de até 30%, no risco de complicações e de aumentar o controle tumoral (46) (NE 3). Estudos randomizados que compararam a RTX convencional com a conformacional, ambas em doses habituais (47-49), mostram que a RTX conformacional reduz o índice de toxicidade ano-retal para menos da metade (de 16% para 8%) e é capaz de atingir doses mais altas que a RTX convencional, sem aumento da incidência de efeitos colaterais (50) (NE 1). Dose de radioterapia A dose de RTX aplicada tem correlação direta com o controle da doença. Estudos com doses mais altas tiveram melhores resultados, de acordo com uma revisão sistemática da literatura (50), que incluiu 22 estudos com um total de 11.297 pacientes. Entretanto, nessa mesma revisão não foi possível quantificar, de forma confiável, melhora da sobrevida global (51) (NE 1). Houve tendência para melhor resultado no grupo que recebeu tratamento conformacional. Um estudo randomizado comparando RTX conformacional de 70Gy contra 78Gy mostrou melhora no segundo grupo, em termos de tempo para progressão da doença. Esse estudo, porém, incluiu também pacientes com doença precoce (52). Radioterapia de intensidade modulada O uso de RTX com intensidade modulada permite que se atinjam doses de mais de 80Gy diretamente no tumor, preservando os tecidos vizinhos (53), o que dimui a toxicidade. Recente revisão sistemática da literatura, feita para um estudo de análise econômica, detectou que há evidências de que a RTX de intensidade modulada é capaz de evitar efeitos colaterais, mesmo atingindo doses mais altas (54). Não houve, porém, como fazer a avaliação de custo-efetividade proposta. Ainda não há resultados definitivos sobre o impacto da RTX de intensidade modulada na sobrevida global. Irradiação apenas da próstata x pelve total A incidência de metástases linfonodais nos pacientes com CaP localmente avançado pode chegar a 40% (10). Não há dados de estudos randomizados que comprovem o benefício da irradiação na pelve inteira. Porém, algumas séries de casos mostram vantagens na irradiação total da pelve (55, 56) (NE 3). Várias classificações de risco objetivam determinar os 135 riscos de metástases linfonodais a partir das características do tumor para que se indique ou não RTX. Não há estudos randomizados que comprovem a eficácia dessas classificações, que são, entretanto, largamente utilizadas. Bloqueio hormonal exclusivo Pacientes com CaP localmente avançado, estádios T3-T4, Nx, MO têm sido tratados com cirurgia, RTX isolada ou combinada com bloqueio hormonal e somente com bloqueio hormonal com resultados variáveis. O uso isolado de bloqueio hormonal nesse estádio da doença foi, até o momento, estudado em 5 estudos randomizados, alguns já antigos (antes da era do PSA) (57). O estudo VACURG l (Veterans Administration Cooperative Urologic Research Group), cujos resultados foram publicados em 1972 (57) e atualizados em 1988 por Byar (58), demonstrouser a dose de dietilestilbestrol (DES) 5 mg inferior a placebo ou orquiectomia + placebo na sobrevida global, devido à maior mortalidade cardiovascular nos pacientes em uso de DES 5 mg. Contudo, o tempo de progressão da doença foi maior nos três grupos em que houve bloqueio hormonal, comparados com o grupo somente placebo, sugerindo que o bloqueio hormonal precoce poderia influenciar o curso da doença. O segundo estudo VACURG comparou placebo com três doses de DES, 0,2 mg, 1 mg e 5 mg, em 508 pacientes dos quais 294 corresponderiam à classificação atual de doença localmente avançada. A sobrevida global foi maior para o grupo placebo do que nos grupos DES 0,2 e 5 mg, mas não houve diferença entre o grupo placebo ou o grupo DES 1 mg. Contudo, uma revisão desse mesmo estudo, realizada 15 anos depois (58), mostrou significativa melhora na sobrevida global nos pacientes com DES 1 mg do que com os outros tratamentos, uma vez que a dose de 5 mg resultou em 136 maior mortalidade cardiovascular e a dose de 0,2 era insuficiente para controlar o tumor. O protocolo EORTC (European Organization for Research and Treatment of Cancer), publicado em 1986, comparou DES 1 mg com acetato de ciproterona 250 mg/dia e acetato de medroxiprogesterona 500 mg/dia IM, por oito semanas e então 200 mg/dia, via oral (59). Considerando apenas os resultados dos 89 homens com doença localmente avançada houve maior sobrevida global para os pacientes que receberam DES ou ciproterona. A sobrevida livre de doença foi significativamente maior nos grupos com DES e ciproterona. Uma vez que a medroxiprogesterona não efetua bloqueio androgênico eficiente, esse estudo parece demonstrar as vantagens do bloqueio hormonal imediato no tratamento do tumor localmente avançado. Cabem a esse estudo as mesmas críticas feitas ao estudo VACURG. O estudo MRC (Medical Research Council), publicado em 1992, comparou o uso da orquiectomia isolada com RTX ou RTX + orquiectomia em 277 homens com doença localmente avançada (60). Os pacientes randomizados para RTX isolada foram submetidos à orquiectomia quando havia evidência de progressão da doença. Após 4 anos de seguimento médio, a incidência de progressão por metástases foi significativamente inferior nos grupos de orquiectomizados, novamente sugerindo que o bloqueio androgênico imediato retarda o início da progressão da doença. Contudo, esse estudo não mostrou diferença na sobrevida global dos pacientes, talvez devido ao curto tempo de seguimento. O seguinte estudo MRC, desenhado para analisar esses dados com mais profundidade, comparou bloqueio hormonal imediato com tardio em 938 pacientes estádio clínico T2-T4, Nx, MO ou M1 assintomáticos (61). Destes, 503 não tinham evidência de metástases na cintilografia óssea. Nos pacientes com tratamento tardio o bloqueio era instituído de acordo com a decisão de cada médico, quando havia progressão da doença. A ocorrência de obstrução ureteral, fratura patológica e compressão medular foi o dobro entre os pacientes sem bloqueio imediato. Somente 14% dos pacientes com bloqueio imediato necessitaram de RTU de próstata comparados a 30% daqueles que usaram bloqueio tardio. Após seguimento médio de 7 anos, 71% dos pacientes com bloqueio tardio haviam morrido versus 62% daqueles tratados de imediato. Tanto a sobrevida global (p = 0,02) quanto a sobrevida doença-específica (p = 0,001) foram significativamente maiores no grupo que recebeu bloqueio imediato (NE 2). 137 Em relação ao tipo de bloqueio androgênico mais indicado, se bloqueio completo, também denominado bloqueio máximo, ou apenas testicular, existe ainda controvérsia. O Prostate Cancer Trialists’ Collaborative Study (62) é talvez a meta-análise mais importante até hoje publicada sobre este assunto. Inclui a análise de 27 pesquisas multicêntricas, randomizadas e bem elaboradas, com um total tinham doença metastática e 12% apresentavam tumor localmente avançado. A sobrevida em 5 anos foi de 25,4% naqueles com bloqueio androgênico máximo (BAM) e 23,4% nos castrados ou usando análogo LH-RH. Essa diferença não foi significativa (NE 1). Revisão completa de todos os estudos publicados até 2000 foi realizada por Laufer et al., que concluiu que no momento não há suporte para o uso combinado de antiandrógenos e castração cirúrgica ou medicamentosa para pacientes com câncer metastático da próstata (63) (NE 1). REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Morgan WR, Bergstralh EJ, Zincke H: Long-term evaluation of radical prostatectomy as treatment for clinical stage C (T3) prostate cancer. Urology. 1993; 41(2): 113-20. Partin AW, Kattan MW, Subong EN, Walsh PC, Wojno KJ, Oesterling JE, et al.: Combination of prostate-specific antigen, clinical stage, and Gleason score to predict pathological stage of localized prostate cancer. A multiinstitutional update. JAMA. 1997; 277(18): 1445-51. Walsh PC: Radical retropubic prostatectomy. In: Walsh PC, Retik AB, Stamey TA, Vaughn Jr ED, editors. Campbell´s Urology. Philadelphia: WB Saunders. 1992. p. 2865-6. 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O tratamento visa melhorar a sobrevida e a qualidade de vida. Embora já se tenha passado mais de meio século desde a introdução da hormonioterapia no tratamento do CaP metastático, algumas perguntas básicas ainda não foram respondidas à luz da ciência moderna: 1) quando iniciar o tratamento?; 2) qual o melhor método para realizar o bloqueio androgênico? Momento do início do tratamento Estudos de metanálise e de modelo Marcov (1-3) de análise de decisão em pacientes com doença localmente avançada e metastática, sugerem que existe uma pequena vantagem de sobrevida (7% em 5 anos e 6% em 10 anos), porém estatisticamente significativa, para os pacientes que recebem hormonioterapia imediata para o tratamento do CaP metastático. Estes estudos também mostraram redução significativa da progressão da doença e das complicações devido à progressão com seguimento de até 10 anos (1-3) (NE 1). Entretanto, permanece controversa a utilização imediata da manipulação hormonal em pacientes com CaP avançado e assintomático. Tratamento de primeira manipulação hormonal • • • • análogos LHRH antiandrógenoS esteroidais e não esteroidais estrogênios orquiectomia bilateral O bloqueio androgênico pode ser realizado como método isolado (monoterapia), ou com a utilização de mais de um método, que é a terapia combinada ou bloqueio androgênico máximo (BAM). O bloqueio androgênico é o tratamento padrão para o CaP metastático; entretanto, a grande maioria dos pacientes desenvolve doença refratária ao bloqueio hormonal (4). A seguir descreveremos a comparação entre os vários métodos de tratamento de primeira linha do CaP metastático. 144 • Comparação: análogo LHRH x orquiectomia Há uma revisão sistemática da literatura comparando orquiectomia contra análogo LHRH (5). Metanálise de dados de 10 estudos randomizados não mostrou diferença em sobrevida global, com mortalidade equivalente entre as duas opções terapêuticas. Não existem também evidências de diferenças em qualidade de vida ou em complicações a longo prazo (5, 6) (NE 1). Não há evidências de diferenças em eficácia entre os agonistas LHRH estudados (goserelina, buserelina e leuprolide) (5, 7) (NE 1). • Comparação: bloqueio androgênico completo x monoterapia (análogo LHRH ou orquiectomia) Três revisões sistemáticas foram encontradas. A primeira, publicada em 2000 com metodologia da colaboração Cochrane, avaliou resultados de 20 estudos randomizados (com 6320 pacientes) (3). A segunda, publicada em 2002, avaliou resultados de 21 estudos (com 6871 pacientes) (2). A terceira, publicada em 2000, avaliou resultados de 27 estudos, com 8275 pacientes (1). As três revisões sistemáticas concluem que o uso de bloqueio androgênico completo não interfere na sobrevida em 1 ou 2 anos, mas proporciona pequeno aumento (2% a 3%) na sobrevida em 5 anos (com a necessidade de tratar 21 pacientes para beneficiar um) (6, 7) (NE 1). Poucos estudos avaliaram a qualidade de vida dos pacientes estudados, porém nestes houve melhor qualidade de vida nos pacientes tratados com monoterapia. A suspensão do tratamento por efeitos secundários ocorreu em mais de 10% dos pacientes recebendo bloqueio completo, em comparação com até 4% daqueles em monoterapia. Os estudos concluem que há benefício pequeno em sobrevida, às custas de maior toxicidade e maior número de eventos adversos, com o tratamento com bloqueio hormonal completo, sendo que a utilização de acetato de ciproterona no BAM aumenta o risco de óbito. Os efeitos colaterais mais incidentes são disfunção sexual, ondas de calor e ginecomastia (8) (NE 1). • Comparação: antiandrógenos x análogo LHRH Foi encontrada uma revisão sistemática com metanálise, avaliando o uso de antiandrógenos não esteroidais. O estudo conclui que os pacientes submetidos unicamente aos antiandrógenos apresentam sobrevida discretamente inferior, não sendo esta opção terapêutica recomendada na maioria dos casos, em primeira linha (5) (NE 1). 145 Estudo de fase III com 525 pacientes comparando goserelina mais acetato de ciproterona versus goserelina isolada versus acetato de ciproterona isolado, mostrou que a goserelina isolada foi mais efetiva que o tratamento com acetato de ciproterona isolado quanto ao tempo livre de progressão da doença (346 dias versus 225 dias respectivamente, p = 0,016) (9) (NE 2). • Comparação: estrogenoterapia x análogo LHRH ou orquiectomia Foi encontrada uma revisão sistemática da literatura sobre o tema, que encontrou dois estudos randomizados comparando diretamente o uso de dietilstilbestrol (DES) com orquiectomia (5). Dados derivados desses estudos não demonstram diferença em sobrevida global nos pacientes (NE 1). O DES é o método mais barato de tratamento. Não há estudos comparando qualidade de vida. No entanto, na mesma metanálise citada acima, foi encontrada taxa de abandono de tratamento de 14% a 18% no grupo tratado com estrogenoterapia, contra até 4% nos pacientes tratados com análogo LHRH. Estudos demonstram, ainda, aumento da taxa de eventos cardiovasculares com o uso do DES, contribuindo para a sua pouca utilização e a sua não aprovação nos Estados Unidos como primeira linha (5) (NE 1). Bloqueio androgênico intermitente Existem poucos trabalhos que confirmam a hipótese que o bloqueio androgênico intermitente prolonga a sensibilidade das células cancerígenas ao tratamento hormonal. Estudo recente com número pequeno de pacientes mostrou que o bloqueio intermitente manteve a resposta ao antiandrógeno por mais tempo, levando em consideração a medida do PSA (10) (NE 2) a evidências de dados comparativos, prospectivos e randomizados entre o bloqueio continuo e intermitente. Há dois grandes estudos em andamento na Europa e EUA para determinar sua utilização. Tratamento de segunda manipulação hormonal Instituído após falha da manipulação hormonal inicial. Suspensão do antiandrógeno Sabe-se que 1% a 30% dos pacientes com CaP em progressão bioquímica, apesar do bloqueio androgênico máximo, apresentam resposta 146 clinica à suspensão do antiandrógeno. Inicialmente foi descrito com a suspensão da flutamida, porém este efeito tem sido observado com outros antiandrógenos. Além da diminuição do PSA outras manifestações da doença podem regredir (11) (NE 5). Manipulação hormonal de segunda linha • Antiandrogênios – flutamida tem sido utilizada em pacientes com progressão do câncer após monoterapia com castração química ou cirúrgica, com resposta do PSA em 2/3 dos pacientes com média de tempo de resposta de 6 meses (12) (NE 3). • Castração secundária – pacientes com progressão tumoral após monoterapia com anti-andrógenos podem se beneficiar com a castração secundária (química ou cirúrgica), apresentando resposta de 25% a 69%, porém com curta duração (13) (NE 2). • Estrogênio – o uso de estrogênio continua como opção de segunda linha no tratamento do CaP metastático, produzindo respostas bioquímicas em ¼ a 2/3 dos pacientes (14) (NE 3). • Glicocórticoides – são eficazes na diminuição das dores ósseas. A associação de análogos LH-RH com somatostatina e dexametasona pode ser uma opção a quimioterapia no tratamento de doença avançada na fase refratária ao bloqueio hormonal (15) (NE 2). COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO HORMONAL DO CÂNCER DE PRÓSTATA METASTÁTICO Flare tumoral – este fenômeno pode ocorrer com o uso de LHRHa. Portanto, deve ser iniciado o tratamento com LHRHa com a proteção de um antiandrogênico administrado por 5 a 7 dias antes e durante as 3 primeiras semanas após o início do tratamento (16) (NE 3). Disfunção sexual – perda da libido e disfunção erétil ocorre na maioria dos pacientes submetidos à castração, porém pode ser preservada na maioria dos pacientes que são tratados com monoterapia com anti-androgênios não esteróides como a flutamida (17) e, principalmente, com a bicalutamida em alta dose (150 mg/dia). A monoterapia com bicalutamida em alta 147 dose (150 mg) demonstrou não ser tão prejudicial à função sexual como a castração (18) (NE 2). Fogachos – fogachos afetam 1/2 a 2/3 dos homens submetidos a orquiectomia bilateral ou que recebem tratamento com LHRHa. O tratamento de tais sintomas pode incluir o uso, com bons resultados, de DES (dietilestilbestrol), acetato de megestrol e acetato de ciproterona (19,20) (NE 5). Entretanto, o DES, mesmo em doses baixas, pode resultar em ginecomastia dolorosa e trombose venosa profunda. Os efeitos a longo prazo do acetato de megestrol são desconhecidos, mas a sua utilização (20 mg de 12/12 horas) mostrou redução em mais de 50% da freqüência de fogachos em 74% dos pacientes, versus 20% dos pacientes que receberam placebo (p <0,001). Hepatotoxicidade grave e fenômenos trombo-embólicos podem ocorrer com o uso de acetato de ciproterona. Não há um tratamento ótimo e sem riscos para o fogacho, sendo que a opção de tratar este sintoma deve ser considerada somente em casos selecionados. Perda óssea – a supressão androgênica, através da orquiectomia bilateral ou do uso de LHRHa, acelara o processo de perda óssea, principalmente após 36 meses (21) (NE 3). • Bisfosfonatos Bisfosfonatos diminuem a formação e destruição óssea anormal. São utilizados para reduzir o risco de fraturas, a dor óssea, a concentração sérica de cálcio e os danos ósseos causados pela presença de metástases. O ácido zoledrônico tem se mostrado eficaz na recuperação da densidade mineral óssea em pacientes que se apresentam com osteopenia ou osteosporose induzida pelo bloqueio hormonal. Nesta situação, a aplicação do ácido zoledrônico 4 mg endovenoso foi feita a cada 3 meses (22) (NE 2). Publicação recente baseada em uma reunião de consenso sobre homens com CaP iniciando o tratamento hormonal faz as seguintes recomendações (23): 1) deve-se identificar homens com alto risco de osteosporose; 2) homens com fraturas por trauma mínimo ou com suspeita de fratura vertebral devem ser avaliados com radiografias, confirmar a presença de lesão toraco-lombar e receber terapia com bisfosfonatos para prevenção de fraturas; 148 3) homens com risco de fraturas (em hormonioterapia ou com história de fratura) devem fazer uma densitometria mineral óssea: • homens com T-escore < -2.5 (osteosporose) devem ser tratados com bisfosfonatos endovenoso a cada três meses; • homens com T-escore entre –1.0 e –2.5 (osteopenia) devem repetir DMO após 6 a 12 meses; • homens com T-escore > – 1.0 (normal) devem fazer nova DMO após 2 anos; • todos devem receber doses adequadas de cálcio e vitamina D. Os bisfosfonatos não devem ser utilizados em pacientes com insuficiência renal. Em geral são bem tolerados, sendo que os efeitos colaterais mais freqüentes são representados pelos sintomas de gripe como febre, artralgia, mialgia e calafrios. Outros sintomas comuns são náusea, fadiga e cefaléia. Elevação da creatinina e raramente insuficiência renal podem ocorrer (24) (NE 3). Ginecomastia Os principais efeitos colaterais dos anti-androgênios não-esteródes são a ginecomastia e dor mamária e não há, aparentemente, diferença significativa da incidência destes sintomas entre os anti-androgênios nãoesteróides (28) (NE 5). 149 Anemia Anemia ocorre com freqüência em pacientes tratados com supressão androgênica já no primeiro trimestre de tratamento e pode piorar após este período, com queda significativa das taxas de hemoglobina (25) (NE 2). A anemia induzida pela hormonioterapia pode ser tratada com eritropoetina alfa (10.000 UI, 3 vezes/semana ou 40.000 UI uma vez/semana) com melhora significativa da qualidade de vida com a recuperação da hemoglobina (26) (NE 2). OUTRAS COMPLICAÇÕES Complicações cárdio-vasculares e hepatotoxicidade graves e potencialmente letais podem se associar ao uso de ciproterona (27) (NE 5). A ciproterona, no bloqueio androgênico máximo, é o único anti-androgênio que aumenta o risco de óbito dos pacientes (1) (NE 1). Diarréia é significativamente mais comum com a flutamida do que com a bicalutamida (29) (NE 1). Hepatotoxicidade é rara com bicalutamida e pouco mais freqüente com flutamida (3 em 10.000 casos) (30) (NE 4). A nilutamida pode causar distúrbios visuais, intolerância ao álcool e pneumonite intersticial. Portanto, a bicalutamida têm o melhor perfil de tolerabilidade entre todos os anti-androgênios (28) (NE 5). 150 DIRETRIZES 1. A monoterapia pela castração química ou cirúrgica é o tratamento de 1ª linha para o CaP metastático (NE 1; GR A). 2. Recomendamos bloqueio hormonal imediato para os pacientes diagnosticados com CaP metastático (salvo casos selecionados) (NE 1; GR A). 3. As diversas formas de bloqueio hormonal são eficientes, sendo a monoterapia com antiandrogênico a opção de menor atividade (NE 1; GR A). 4. Em casos selecionados a monoterapia com antiandrogênico pode ser considerada visando preservar da qualidade de vida. 5. Contra-indicamos o Acetato de Ciproterona no bloqueio androgênico máximo (NE 1; GR A). 6. O bloqueio androgênico máximo (BAM) pode ser considerado em casos selecionados (NE 5; GR D). 7. É recomendado a utilização de antiandrogenio administrado por 5 a 7 dias antes e durante as 3 primeiras semanas após início do uso do LHRHa (NE 5; GR D). 8. Não há evidências de dados comparativos, prospectivos e randomizados para se indicar preferencialmente o bloqueio intermitente. 9. Nos casos de progressão tumoral em vigência do tratamento pode se optar para a utilização da segunda manipulação hormonal (NE 5; GR D). 10. A utilização endovenosa de Bisfosfonatos pode ser recomendada para evitar perda mineral óssea (NE 2; GR A). 11. Os Bisfosfonatos não devem ser utilizados em pacientes com insuficiência renal. 12. Anemia induzida pela hormonioterapia pode ser tratada com eritropoetina alfa (NE 2; GR A). 13. Recomenda-se prevenção da ginecomastia com RTX prévia (NE 5; GR D). 151 REFERÊNCIAS 1. Maximum androgen blockade in advanced prostate cancer: an overview of the randomised trials. Prostate Cancer Trialists’ Collaborative Group. Lancet. 2000; 355(9214): 1491-8. 2. Samson DJ, Seidenfeld J, Schmitt B, Hasselblad V, Albertsen PC, Bennett CL, et al.: Systematic review and meta-analysis of monotherapy compared with combined androgen blockade for patients with advanced prostate carcinoma. Cancer: 2002; 95(2): 361-76. 3. Schmitt B, Bennett C, Seidenfeld J, Samson D, Wilt T: Maximal androgen blockade for advanced prostate cancer. Cochrane Database Syst Rev. 2000(2): CD001526. 4. Goodin S, Rao KV, DiPaola RS: State-of-the-art treatment of metastatic hormone-refractory prostate cancer. Oncologist. 2002; 7(4): 360-70. 5. 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Wysowski DK, Fourcroy JL: Flutamide hepatotoxicity. J Urol. 1996; 155(1): 209-12. 154 PROGRESSÃO BIOQUÍMICA (PSA) APÓS TRATAMENTO DO CÂNCER DA PRÓSTATA LOCALIZADO. MARGENS CIRÚRGICAS POSITIVAS INTRODUÇÃO Cerca de 40% dos pacientes com CaP localizado apresentam recidiva do PSA após terem sido submetidos a tratamento cirúrgico curativo (1). A detecção do local da recidiva, se pélvica ou à distância, é fundamental para a definição do tratamento complementar. Variáveis clínicas e anátomo-patológicas, que incluem a graduação histológica de Gleason; a presença de extensão extracapsular do tumor; o comprometimento das vesículas seminais; o status das margens cirúrgicas no pós-operatório; e, especialmente, o tempo e padrão de recidiva do PSA, ajudam a predizer qual o local da recidiva. Definição de progressão do PSA Cerca de 30 dias após a prostatectomia radical os níveis de PSA total devem atingir valores próximos de zero. Um pequeno número de pacientes pode apresentar elevação do PSA após a prostatectomia radical, devido à presença de tecido benigno residual nas regiões apicais e junto ao colo vesical (1), mas valores elevados do PSA total devem ser considerados como indicativos da presença de doença residual, local ou metastática. Na literatura, os valores de PSA total indicativos de recidiva ou persistência tumoral variam desde >0,1 ng/ml até >0,4 ng/ml. Lange et al. (2) relataram que 100% dos homens com níveis de PSA >0,4 ng/ml após a prostatectomia radical apresentam recidiva tumoral entre 6 e 49 meses (NE 3). Amling et al. (3) propuseram que este é o valor mais apropriado para caracterização de recidiva bioquímica, pois quando valores de 0,2 ng/ml são considerados, somente 49% dos pacientes apresentam elevação progressiva do PSA em 3 anos (NE 1). Por outro lado, Freedland et al. (4) demonstraram que 100% dos pacientes com valores >0,2 ng/ml apresentam elevação progressiva do PSA total em 3 anos (NE 3). Recente consenso europeu determinou que recidiva bioquímica após cirurgia radical caracteriza-se por PSA >0,2 ng/ml seguido por uma elevação subseqüente (5). Para pacientes tratados com RTX externa, intersticial ou ambas, recidiva bioquímica deve ser considerada quando existirem três elevações consecutivas do PSA utilizando-se o nadir (menor valor atingido após o tratamento) como o valor de base (critérios da ASTRO) (6) (NE 4). 155 Conclusão Valores de PSA >0,2 ng/ml são sugestivos de recidiva ou persistência tumoral após tratamento cirúrgico radical (NE 2; GR A). Para pacientes submetidos a RTX deve-se utilizar os critérios da ASTRO (NE 4; GR C). História natural da elevação progressiva do PSA após a prostatectomia radical Um grupo de 329 pacientes tratados na Universidade de Johns Hopkins, que apresentou recidiva bioquímica e que não recebeu tratamento complementar, foi seguido por 10,5 anos apenas com cintilografia óssea anual. A recidiva bioquímica foi definida como PSA pós-operatório >0,2 ng/ml. O tempo mediano para aparecimento de metástases ósseas foi de 7,5 anos. Estes pacientes foram então tratados com bloqueio androgênico e o tempo mediano de sobrevida foi de mais 6,5 anos. Em análises multivariadas, recidiva bioquímica antes do segundo ano após a cirurgia, Gleason escore >7 e tempo de duplicação do PSA <10 meses foram fatores preditivos para o aparecimento de metástases ósseas (7, 8) (NE 1). Fatores preditivos de recidiva tumoral Variáveis anátomo-patológicas são utilizadas para caracterização do local da recidiva tumoral após a prostatectomia radical. Extensão extra-capsular do tumor, margens cirúrgicas positivas e escore de Gleason <7 correlacionam-se com recidiva pélvica local, enquanto invasão das vesículas seminais, comprometimento linfonodal e escore de Gleason >7 sugerem a existência de doença disseminada (tabela 1). Entretanto, apesar da importância das características anátomopatológicas do tumor, o padrão de recidiva do PSA parece ser o fator mais importante na distinção entre recidiva local e a distância. Vários estudos demonstram que um intervalo curto entre a cirurgia e a elevação do PSA é característico de metástases ocultas disseminadas enquanto intervalos maiores do que 1-2 anos são sugestivos de recidiva local. Partin et al. (9) documentaram que a recidiva local é mais freqüente quando a velocidade do PSA é inferior a 0,75 ng/ml por ano (NE 2). Patel et al. (10) demonstraram que o tempo de duplicação do PSA superior a 12 meses correlacionase com doença local, embora não exista correlação estatística entre este parâmetro e positividade da biópsia da anastomose uretro-vesical (NE 4). 156 Conclusão Pacientes com tumores de alto grau, comprometimento de vesículas seminais, tempo de duplicação do PSA <10 meses e PSA detectável antes do primeiro ano após a prostatectomia radical têm alto risco de apresentarem doença disseminada (NE 1; GR A). Pacientes com tumores bem ou moderadamente diferenciados, margens positivas, mas sem comprometimento das vesículas seminais, tempo de duplicação do PSA >10 meses e PSA detectável somente após o primeiro ano da cirurgia tendem a ter recidiva local (NE 2; GR A). Testes clínicos e de imagem utilizados para localização da recidiva Diversos testes podem ser utilizados para o diagnóstico do local da recidiva tumoral. Entre eles, o toque retal, o ultra-som trans-retal, a biópsia da fossa prostática, TC, RM, mapeamento ósseo, radioimunocintilografia (ProstaScint) e tomografia com emissão de positrons (PET). Saleem et al. (12) demonstraram que 71% dos pacientes com massas pélvicas identificadas no toque retal têm tumor residual confirmado por biópsia da fossa prostática (NE 2). Ultra-sonografia trans-retal (USTR) pode ser útil para complementar o toque retal, especialmente nos casos em que a recidiva se faz na porção superior e anterior da anastomose vésico-uretral ou no espaço retrovesical. Em geral, documenta-se recidiva local em 50% dos casos com anormalidades ultra-sonográficas, sendo que 1/3 dos pacientes necessitam duas ou mais biópsias para comprovação histológica de câncer (13) (NE 4). No entanto, até 70% dos pacientes com biópsias negativas da fossa prostática ou da anastomose vésico-uretral apresentam queda do PSA após tratamento com RTX pélvica adjuvante (14,15) (NE 3). Por estas razões, o 157 valor do USTR ainda não está totalmente definido, já que biópsia negativa não afasta a possibilidade de recidiva local e quando positiva, não garante a inexistência de doença sistêmica (NE 3). CT e RM têm pouco valor para detectar recidivas locais quando o toque retal é normal, pois há necessidade de presença doença clínica mensurável para obtenção de imagens adequadas, fato que, em geral, não ocorre nos pacientes com pequenas elevações do PSA ou com margens cirúrgicas microscopicamente comprometidas (16) (NE 3). Podem ser úteis na detecção de metástases extra-ósseas (16,17). A RM com coil endo-retal tem demonstrado grande acurácia para detectar recidivas locais (18) (NE 4). O mapeamento ósseo também tem baixa acurácia nestes casos com doença residual mínima. Após prostatectomia radical o mapeamento ósseo é negativo em 95% dos casos quando o PSA é <40 ng/ml (19) (NE 4). O ProstScint é um mapeamento de corpo inteiro que utiliza um anticorpo monoclonal que se liga diretamente ao antígeno específico da membrana prostática (PSMA), expresso predominantemente pelo tecido prostático neoplásico. Não tem afinidade pelo PSA ou fosfatases. Devido à falta de uniformização do exame e à ausência de correlação histológica entre o mapeamento positivo e recidiva tumoral na maioria dos estudos, seu valor como método de imagem ainda é indefinido (20). A reconstrução de imagens e a resolução do Pet-Scan apresentaram grande melhora nos últimos anos (21). Entretanto, a real utilidade deste método de imagem para investigação de pacientes com CaP que apresentam elevação progressiva do PSA ainda não foi definida (22). Conclusão Diversos testes de imagem podem ser utilizados para confirmação de recidiva local ou sistêmica, mas resultados imprecisos ocorrem em cerca 50% dos casos. Os parâmetros clínicos e patológicos têm melhor acurácia para este fim (NE 3; GR B). Conduta na elevação do PSA após cirurgia radical Não é claro como e quando pacientes com elevação do PSA devem ser tratados (23-27). RTX direcionada à fossa prostática tem sido utilizada para tratar pacientes com elevação do PSA após prostatectomia radical que tenham recidiva local, confirmada ou presumida, pelos parâmetros clínicos e anátomo-patológicos mencionados. Nestes casos, queda do PSA pode ser esperada em 20% a 83% dos casos (média: 50%), após seguimento 158 mediano de dois a cinco anos, sugerindo que um número significativo de pacientes é, na verdade, portador de doença sistêmica (27). A ASTRO (28) publicou um documento de consenso que recomenda o uso de RTX conformacional para pacientes com PSA <1,5 ng/ml na dose de 64Gy. Níveis maiores de PSA provavelmente indicam risco aumentado de micrometástases e limitam a efetividade do tratamento local. A associação de RTX externa com tratamento hormonal nestas situações ainda está em investigação e nenhuma recomendação pode ser feita. Não foi confirmado aumento da sobrevida nos pacientes com recidiva local submetidos a RTX conformacional, embora tenha sido demonstrada à distância (11% vs 17%; p = 0,01) (28). Estes dados são, entretanto, derivados de estudos de baixa qualidade metodológica e a própria ASTRO recomendou a realização de estudos randomizados para definir a melhor conduta a ser tomada. Pacientes com recidiva sistêmica devem receber tratamento hormonal (tabela 2) (14,28-34) (NE 1). A época da sua introdução e o tipo de bloqueio androgênico são controversos. Nos estudos de Messing (35,36) e do MRC (37,38) o tratamento hormonal precoce promoveu aumento de sobrevida nos pacientes com doença sistêmica de baixo volume (NE 1). No programa EPC (Early Prostate Cancer), que visa analisar o impacto do uso de 150 mg de bicalutamida em adição ao tratamento convencional para CaP localmente avançado, após um seguimento mediano de três anos houve diminuição do risco de progressão da doença de 42% (hazard ratio 0,58; p <0,0001) quando comparados com placebo. Os pacientes que fizeram uso precoce de bicalutamida tiveram redução de 33% na presença de metástases ósseas (risco relativo 0,67; p <0,0001) (39,40) (NE 1). 159 Conduta na elevação do PSA após radioterapia Pacientes que preenchem os critérios de recidiva bioquímica da ASTRO devem ser preferencialmente submetidos a biópsia prostática, cerca de 18 a 24 meses, pois este é o intervalo necessário para obtenção do nadir do PSA (28, Scherr et al., 2003). Se negativa, o paciente deverá ficar em observação vigilante, com nova biópsia se o PSA se elevar. Se positiva, na ausência de doença sistêmica, as principais opções disponíveis são: 1) observação controlada; 2) prostatectomia de salvamento para pacientes com boas condições clínicas; 3) hormonioterapia; 4) tra160 tamentos investigacionais, como crioterapia, braquiterapia associada, terapia gênica, entre outros (Beyer, 2003; Scherr et al., 2003) (algoritmo 1). Não existem estudos com metodologia adequada para definir qual a melhor recomendação terapêutica. Conduta nos casos com margens positivas e PSA normal após a cirurgia radical Aproximadamente 1/3 dos pacientes com tumores clinicamente confinados à próstata que se submetem a prostatectomia radical tem margens cirúrgicas comprometidas pela neoplasia. Consideram-se margens comprometidas quando o carcinoma toca a tinta nanquim na qual a peça foi embebida após a operação. O exame histopatológico deve definir se a próstata foi totalmente removida, se a neoplasia é órgão-confinada, quais os limites do comprometimento da cápsula e se existe extensão extra-capsular. Os locais mais freqüentes de comprometimento de margens são: a) ápice e/ou uretra (40% - 60%); b) região posterior (40%); c) base (20%); d) vesículas seminais (5% - 10%) (41, 42). Pacientes com extensão tumoral extracapsular ou margens cirúrgicas positivas podem apresentar alto risco de recidiva local e/ou sistêmica. Os tratamentos convencionais para estes casos são: 1) aguardar-se até uma eventual elevação do PSA e então indicar se RTX de salvamento (casos com recidiva local) ou tratamento hormonal (casos com recidiva sistêmica); 2) RTX adjuvante precoce da fossa prostática. Não existem estudos com metodologia adequada para se caracterizar qual a melhor conduta a ser instituída nestes casos. Historicamente, considera-se que a invasão das vesículas seminais é sugestiva de recidiva sistêmica e, portanto, estes pacientes deveriam ser tratados como portadores de doença disseminada. Entretanto, 34% destes pacientes podem manter PSA <0,2 ng/ml 5 anos após a cirurgia (43) (NE 4). Estes pacientes podem, eventualmente, ser mantidos em regime 161 de observação, porém é preferível submetê-los a tratamento adjuvante com radioterapia ou, preferencialmente com hormonioterapia (44). Não existem estudos que demonstram aumento da sobrevida com tratamento local ou sistêmico. 162 Algoritmo 1 – Conduta na recidiva bioquímica apos RTX externa ou intersticial. 163 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. Shah O, Melamed J, Lepor H: Analysis of apical soft tissue margins during radical retropubic prostatectomy. J Urol. 2001; 165(6 Pt 1): 1943-8; discussion 1948-9. 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Ao longo dos anos, várias estratégias de quimioterapia, isoladas ou em combinação, foram tentadas, entre elas – doxorubicina (3), estramustina (4-6), mitomicina (7,8) e outras (9-16). Os resultados de todos estes estudos seja com medicação única ou combinada, foram desapontadores. Na década de 1990, foram realizados estudos randomizados com uso de mitoxantrona combinada com outros agentes, principalmente com a prednisona, que mostraram melhora de qualidade de vida, porém sem efeito em sobrevida (17-19) (NE 2). Desde então o tratamento com mitoxantrona e prednisona é usado em vários locais como o padrão para o CaP metastático resistente às manipulações hormonais (17-19). Estudos randomizados recentes, avaliando novos agentes como doxorubicina lipossomal (20) e oxaliplatina (21) têm sido feitos, porém ainda não há resultados conclusivos nem em relação à sobrevida nem quanto à qualidade de vida. O uso de mitoxantrona no tratamento do CaP foi avaliado em pelo menos quatro estudos randomizados (17-19,22). Dois destes (18,19) randomizaram pacientes com neoplasia de próstata avançada hormônioindependente para receberem a combinação de mitoxantrona 12 mg/m2 a 168 cada 21 dias com prednisona ou prednisona apenas. Na comparação não houve ganho de sobrevida em nenhum dos dois estudos (NE 2). O estudo de Tannock (18) avaliou a qualidade de vida em 161 destes pacientes. Todos tinham dor no início do estudo. O resultado favoreceu o grupo que recebeu mitoxantrona com prednisona em termos de melhora de dor e uso de analgésicos (NE 2). O estudo de Berry (19) incluiu 121 homens, todos assintomáticos. Não fez avaliação de qualidade de vida, mas detectou diferenças significativas em termos de resposta, medida pelo PSA (NE 2). Os outros dois estudos publicados sobre uso de mitoxantrona não avaliaram o carcinoma de próstata metastático hormônioindependente (17,22). Dois estudos randomizados, apresentados no congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO-2004) (23, 24), compararam a eficácia do docetaxel com a da mitoxantrona em pacientes com CaP metastático hormônio-independente. Pela primeira vez houve clara demonstração de ganho de sobrevida com o uso de quimioterapia nestes pacientes. O estudo de Petrylak (24) comparou a combinação de docetaxel com estramustina contra mitoxantrona e prednisona. Foram incluídos 770 pacientes. Diferenças significativas do ponto de vista estatístico favoreceram aqueles que receberam docetaxel com estramustina: melhor sobrevida e melhor sobrevida livre de doença. A sobrevida mediana foi de 18 meses para os que receberam docetaxel e estramustina contra 15 meses para os que receberam mitoxantrona e prednisona (NE 1). Os pacientes que receberam docetaxel apresentaram toxicidade relacionada ao tratamento significativamente superior aos que receberam mitoxantrona. O estudo de Eisemberg (23) randomizou 1006 pacientes para receberem três diferentes esquemas de quimioterapia, todos com prednisona mais: a) docetaxel cada três semanas; b) docetaxel semanal, c) mitoxantrona a cada três semanas. Os pacientes que receberam docetaxel a cada três semanas tiveram melhor sobrevida, melhor controle da dor e melhor resposta, medida pelo PSA, comparados aos que receberam mitoxantrona. A sobrevida mediana foi de 18,9 meses para os pacientes que receberam docetaxel contra 16,4 meses para os que receberam mitoxantrona (NE 1). Não houve diferenças entre o grupo que recebeu docetaxel semanal e o grupo que recebeu mitoxantrona (NE 1). A toxicidade do tratamento foi maior e mais grave nos pacientes que receberam docetaxel a cada três semanas (NE 1). 169 Bisfosfonatos Em relação aos bisfosfonatos, o papel desses agentes no CaP tem sido objeto de discussão. Ensaios clínicos não evidenciaram papel convincente no controle da dor ou prevenção de eventos esqueléticos para nenhum dos bifosfonatos de primeira e segunda geração, notadamente o pamidronato ou o clodronato. No caso do pamidronato, uma análise combinada de 2 estudos randomizados de pamidronato contra placebo envolvendo 378 pacientes com CaP metastático para o esqueleto não mostrou quaisquer diferenças em numero de eventos ósseos, dor e qualidade de vida (25) (NE 2). O mesmo ocorreu com o clodronato, conforme estudo randomizado envolvendo 209 pacientes com CaP metastático hormôniorefratários, tratados com quimioterapia isoladamente ou quimioterapia associada a clodronato. Não houve benefícios no tratamento com clodronato (22) (NE 2). Bifosfonatos de terceira geração, especificamente o ácido zolendrônico 4 mg e 8 mg, a cada 3 semanas endovenoso, foram comparados com placebo tendo como objetivo avaliar taxa de eventos esqueléticos, aqui considerados como fratura patológica, compressão de medula espinhal, cirurgias ósseas, RTX e mudança de quimioterapia devido à dor. Houve um problema neste estudo que foi a toxicidade renal no grupo que recebeu 8 mg. Isto levou à suspensão deste grupo que recebia 8 mg. O grupo que recebeu 4 mg de zoledronato apresentou 33,2% de eventos esqueléticos versus 44,2% no grupo placebo (p = 0,02), sem melhora de sobrevida, performance status ou qualidade de vida. Esses resultados foram mantidos na reavaliação com 24 meses de seguimento (26) (NE 2). Tratamentos complementares O uso sistêmico de radioisótopos tem sido preconizado nos últimos anos como forma terapêutica da dor em metástases ósseas de difícil controle medicamentoso ou com RTX externa (27-29). Esta modalidade terapêutica apresenta dois fortes argumentos: tem ação em todos os locais envolvidos e a absorção preferencial seletiva nas lesões diminui o dano aos tecidos normais. As contra-indicações mais destacadas ao seu emprego como modalidade única são os casos de fraturas, comprensão medular ou em pacientes cujas lesões têm componente significativo de infiltração neoplásica extra-óssea. Nestas situações sua eficácia é muito reduzida (27) (NE 2). Vários radioisótopos são empregados no tratamento de metástases ósseas e dados da literatura sugerem que todos têm eficácia e efeitos ad170 versos equivalentes (29). Existem dois grupos principais: isótopos de elementos com tropismo ósseo (estrôncio - 89 Sr; fósforo - 32 P) e aqueles que têm essa propriedade quando conjugados (samário - 153SM; rênio - 186 Re) (29). O uso de radioisótopos deveria ser a última indicação terapêutica, visto que induz mielossupressão que impediria quimioterapia subseqüente. A RTX externa em pontos dolorosos específicos, totalizando 30 40Gy fornece os melhores resultados e permanece um dos pilares do tratamento do CaP metastático e hormônio-independente. Mais de 70% dos pacientes assim tratados podem apresentar longos períodos de remissão. A irradiação de meio corpo pode ser utilizada excepcionalmente (30, 31). REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Halabi S, Small EJ, Kantoff PW, Kattan MW, Kaplan EB, Dawson NA, et al.: Prognostic model for predicting survival in men with hormone-refractory metastatic prostate cancer. J Clin Oncol. 2003; 21(7): 1232-7. Schmidt JD, Gibbons RP, Johnson DE, Prout GR, Scott WW, Murphy GP: Chemotherapy of advanced prostatic cancer. Evaluation of response parameters. Urology. 1976; 7(6): 602-10. 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Há um grande número de publicações que sugere a relação inversa entre risco de câncer prostático e a ingestão de vegetais, tais como frutas, grãos integrais, fibras, certos micronutrientes presentes em diversos legumes e verduras e alguns tipos de gorduras (ácido graxo ômega-3), assim como exercício físico; e uma relação direta entre o risco de câncer com a quantidade total de gordura ingerida (sobretudo a saturada), ingestão de álcool, obesidade, bem como com a forma de preparação dos alimentos como a defumação, salgamento, picles e carne bem-passada (1, 6, 7). Todas essas observações levam ao conceito de que certos componentes da dieta asiática e de áreas do Mediterrâneo inibem o desenvolvimento de câncer prostático que é tão prevalente em países ocidentais. Portanto, é usual dizer que os países da Europa Ocidental e das Américas deveriam mimetizar a dieta asiática (rica em fito-estrógenos) ou a mediterrânea (rica em antioxidantes – tomates, vegetais, vinho tinto, etc.) para reduzir o risco de câncer. Dieta • Gorduras Estudos epidemiológicos comparando populações têm evidenciado não apenas uma forte correlação, mas também maior freqüência de CaP avançado no momento do diagnóstico em pacientes com dietas ricas em 175 gorduras (8) (NE 4). Um estudo da Sociedade Americana do Câncer revelou risco maior da doença em obesos (9) (NE 4). Um dos maiores estudos epidemiológicos, com duração de 16 anos, avaliando os efeitos da obesidade na mortalidade por câncer constatou que a mortalidade por CaP elevou-se proporcionalmente nos pacientes com maiores índices de massa corpórea (10) (NE 2). Ácidos graxos insaturados proveniente de peixe e frutos do mar (ômega-3) demonstraram efeito protetor em um estudo caso-controle da Inglaterra (11) (NE 3). A ingestão de várias castanhas, tipo avelã, que apresenta alto teor em ácido alfa-linoléico, outra gordura polinsaturada, associa-se a baixo risco de CaP (11) (NE 3). Pacientes com colesterol sérico elevado apresentam maior incidência de CaP (12). Estes achados parecem sugerir que modificações no teor de gorduras da dieta possam reduzir o risco da doença, assim como abre possibilidades para pesquisas futuras já que os agentes redutores de colesterol são largamente usados na atualidade. O maior estudo examinando a relação entre ingestão de gorduras e CaP avaliou 58.000 homens por 6 anos e constatou que o tipo de alimento gorduroso é mais importante que a quantidade de gordura ingerida e sugere que as gorduras polinsaturadas e monoinsaturadas são benéficas na prevenção do CaP (13) (NE 2). As dificuldades de interpretar estudos de CaP induzido quimicamente em animais são bem conhecidas. Entretanto, estudos com linhagens de células de CaP humano implantadas em ratos evidenciaram redução significativa no crescimento de tumores nos animais em que a dieta era pobre em gorduras (14). Uma possível explicação para este achado seria o efeito inibitório dos ácidos graxos sobre a 5a-redutase (15). • Vitaminas – Vitamina A – a vitamina A e seus derivados possuem efeito protetor contra vários cânceres, mas na próstata os dados epidemiológicos são conflitantes. Alguns estudos demonstram que níveis séricos reduzidos de retinol podem aumentar o risco de CaP, enquanto outros não demonstram qualquer efeito preventivo (16, 17). Por outro lado, existem evidências de aumento no risco de câncer prostático com aumento da ingestão desta vitamina (18). Estas diferenças poderiam ser explicadas pela origem da vitamina A na dieta, que no Oriente deriva principalmente de vegetais, enquanto no Ocidente a fonte são as gorduras (18). Em estudo randômico e placebo-controlado foram incluídos 29.133 homens, fumantes, com 50 a 69 anos. Foram designados grupos 176 para receber beta-caroteno, alfa-tocoferol, ambos ou placebo, diariamente, por 5 a 8 anos. Apesar do beta-caroteno não ter reduzido a incidência de CaP aumentou em 25% a incidência de tumores em outros sítios (19) (NE 1). – Vitamina D – tem potente efeito inibitório na diferenciação e crescimento de várias células malignas e normais in vitro (20). Além disso, ela pode reduzir o risco de doença invasiva, provavelmente devido à redução na secreção de colagenase tipo IV pelas células malignas. Níveis séricos reduzidos de 1,25-D3 foi relacionado com aumento na incidência da doença em brancos e negros com mais de 57 anos, além de estarem associados com doença mais agressiva (21). – Vitamina C – é o maior anti-oxidante hidrossolúvel circulante, agindo contra radicais livres e inibindo a transformação maligna in vitro (22). Em estudo recente, a vitamina C causou redução na viabilidade de células de CaP in vitro (23). Todavia, até o momento não se demonstrou em estudos clínicos, qualquer relação consistente desta vitamina com o CaP (24). – Vitamina E – em um estudo coorte com 2.974 homens, com mais de 17 anos de seguimento, níveis plasmáticos baixos de vitamina E foram relacionados a risco aumentado de CaP (16) (NE 2). Outro estudo randômico prospectivo comparando grupos experimentais com o placebo examinou o efeito de 50 mg/dia de α-tocoferol (vitamina E) e beta-caroteno (20 mg/dia), separadamente ou em conjunto, sobre o risco de câncer prostático em 29.133 homens fumantes: após seguimento mediano de 6,1 anos constatou-se redução de 31% na incidência do câncer (p = 0,002) e de 41% da mortalidade por CaP (IC 95%: -65%; -1%) entre os homens que tomaram o a-tocoferol comparados com aqueles que não tomaram (25) (NE 1). Os resultados do estudo prospectivo randômico com controle placebo em andamento “Selenium and Vitamin E and Cancer Prevention Trial” (SELECT), empregando selênio (200 µg/dia) e vitamina E (400 mg/dia), isoladamente ou associados, envolvendo 32.400 homens norte-americanos, são esperados para 2.013 (26). • Selênio Estudos epidemiológicos têm demonstrado risco duas vezes maior de vários tumores em pacientes com níveis séricos reduzidos deste 177 oligoelemento, inclusive CaP (27) (NE 3). Estudo prospectivo randômico recente em 1.312 homens com antecedente de carcinoma cutâneo mostrou que o selênio na dose de 200 µg/dia reduziu em 63% a incidência de CaP num tempo médio de seguimento de 2,5 anos (28) (NE 1). • Derivados da soja Alguns estudos sugerem que o consumo de derivados da soja pode contribuir para a redução na incidência de câncer de mama, cólon e próstata, em países como a China e o Japão (29) (NE 5). Estudos experimentais têm demonstrado que os produtos da soja inibem a carcinogênese em modelos animais (30, 31). Um estudo norte-americano que avaliou homens adventistas demonstrou que aqueles que ingeriam leite de soja apresentavam redução na incidência de CaP em 70% (32) (NE 2). Apesar da pouca significância estatística do estudo, o papel da soja na prevenção do CaP merece estudos adicionais no futuro. • Licopeno Até o momento não existe qualquer estudo clínico demonstrando que o licopeno possa prevenir ou retardar a progressão do CaP. Porém, uma metanálise avaliando 10 trabalhos sobre os efeitos do tomate na prevenção do CaP mostrou, na metade deles, que o consumo diário deste vegetal reduz os riscos de vários cânceres, entre eles o de próstata (33,34) (NE 3). • Chá verde Outra diferença entre as dietas do Ocidente e do Oriente é o grande consumo de chá verde. Este fato também poderia explicar, em parte, a baixa incidência de CaP clinicamente significante em países asiáticos, visto que sua composição contém polifenóis (flavonóides), que são substâncias dotadas de atividades anticarcinogênicas (35) (NE 5). Anti-andrógenos A divisão americana de controle e prevenção do câncer do Instituto Nacional do Câncer iniciou triagem de prevenção do CaP (PCPT) para determinar se a finasterida pode prevenir o CaP (36). Mais de 18.000 homens com mais de 55 anos, com exame digital normal e PSA menor que 3,0 ng/dl, foram incluídos no estudo. Estes pacientes foram randomizados para receber placebo ou 5 mg de finasterida diariamente. Todos foram avaliados anualmente, por meio de toque retal e PSA e, após 7 anos, submeti178 dos à biópsia sextante. Recentemente, os resultados finais deste estudo foram publicados, evidenciando redução na prevalência de CaP no grupo da finasterida em relação ao grupo placebo, 18,4% e 24,4%, respectivamente. Todavia, observou-se freqüência um pouco maior de tumores indiferenciados (Gleason >7), no grupo da finasterida em comparação ao grupo placebo, 6,4% e 5,1% respectivamente. Este importante estudo concluiu que a finasterida previne e retarda o aparecimento do CaP, porém este possível efeito benéfico deve ser melhor avaliado devido aos efeitos colaterais e ao risco de favorecer o surgimento de tumores de alto grau (37) (NE 1). O uso da finasterida para prevenir CaP é controvertido, pois ela causa elevação da testosterona circulante e isso poderia ocasionar progressão de lesões pré-malígnas ou tumores latentes, não identificados no início do tratamento. Um estudo prospectivo randômico recente sugere que a finasterida ao final de 1 ano pode acelerar a conversão de PIN em câncer invasivo, pois 30% dos pacientes usando a droga desenvolveram CaP, comparado com apenas 4% dos não tratados (38) (NE 2). Estes dados devem ser interpretados com cuidado, pois muitos indivíduos têm PIN ao início do tratamento. Por isso, apenas os resultados de estudos futuros podem dirimir estas dúvidas. Um novo inibidor da 5 α-redutase, a dutasterida (inibe a 5 αredutase 1 e 2), vem sendo utilizado no tratamento da hiperplasia prostática benigna (HPB) e seu potencial na prevenção do carcinoma prostático está sendo testado em estudo prospectivo randômico (6). Anti-inflamatórios não esteróides Estudos retrospectivos envolvendo grande número de pacientes mostram que o uso crônico de inibidores da Cox-2, assim como de aspirina, associa-se a uma redução na incidência de câncer prostático (1,6). Há evidências mostrando que inibidores da Cox-2 promovem a apoptose celular tanto no envolvimento linfonodal do CaP como também na doença andrógeno-independente (39). São necessários mais estudos para verificar o verdadeiro potencial destes agentes na prevenção do CaP. Recentemente, apareceram preocupações com excesso de mortalidade por uso crônico de um inibidor da Cox-2 e um medicamento desta classe foi retirado do mercado (40, 41). Exercício físico Estudos recentes evidenciaram provável redução no risco de CaP em pacientes com atividade física regular (35,42) (NE 3). Os benefícios da 179 atividade física regular no risco de doença cardíaca são indiscutíveis, por isso as mudanças no estilo de vida podem ser benéficas, não apenas na prevenção do CaP, mas para a saúde geral do indivíduo. As recomendações para a prevenção do adenocarcinoma da próstata relacionadas às mudanças no estilo de vida e hábitos estão resumidas a seguir. Existem evidências encorajadoras indicando que a ingestão diária de 200 µg de selênio e/ou 50 mg de vitamina E parecem reduzir a incidência do CaP e mortalidade específica, porém são necessários estudos adicionais para se poder recomendar o uso rotineiro. RASTREAMENTO Definição É a avaliação periódica e sistemática de uma população pertencente a uma determinada faixa etária com o objetivo de detectar doença curável, em homens com boa expectativa de vida saudável (43, 44). 180 Características de um rastreamento adequado (45) 1) Deve haver alto nível de evidências indicando redução de mortalidade e morbidade obtidas com o rastreamento 2) O rastreamento deve ser clínica, social e eticamente aceitável pelos profissionais de saúde e pelo público 3) Os benefícios do rastreamento devem superar os danos físicos e psicológicos causados pelos testes, pelos procedimentos diagnósticos e pelo tratamento 4) Economicamente os custos devem ser compatíveis com os benefícios obtidos 5) O tratamento para a doença rastreada deve ser eficaz. Faixa etária A idade de início do rastreamento ainda não foi precisamente definida. A maioria dos autores indica 50 anos (46-49) (NE 3), apesar de haver referências a 45 (44) (NE 3) e a 55 anos (50, 51) (NE 2). Homens de raça negra ou que tenham dois ou mais parentes de primeiro grau afetados devem ser avaliados a partir de 45 anos (26, 49, 52-54) (NE 2). A idade limite superior deve corresponder a homens com expectativa mínima de vida de 10 anos. A idade máxima avaliada varia de 69 anos (55) a indefinida (46, 56, 57). A maioria dos autores sugere 69 a 74 anos (58, 59). Intervalo entre as avaliações O intervalo de tempo entre os exames deveria ser o mais longo possível sem prejuízo da taxa de detecção de câncer curável para otimizar a relação custo/benefício. A avaliação anual é indicada na maioria dos trabalhos, inclusive pela American Cancer Society (47, 58, 60) (NE 2). Entretanto, há indícios de que o intervalo pode ser de dois anos para homens com PSA inicial <2 ng/ml (60) (NE 3). Trabalhos em andamento avaliam dois, três e até quatro anos de intervalo (58, 60, 61). Instrumentos usados Desde o início dos procedimentos de rastreamento, no final dos anos 80, estudou-se o comportamento de PSA, toque retal (TR) e ultrassom trans-retal (USTR). O TR é familiar a todo urologista e apresenta uma coincidência de indicação ou não de biópsia de 84% entre examinadores diferentes (48) (NE 2). Tem valor preditivo positivo (VPP) de 17% a 38%, aumentando com 181 a idade (62, 63) (NE 2). Dos dois grandes estudos atualmente em andamento, o americano usa TR e o europeu, não (58, 59). O PSA teve seu uso clínico introduzido em 1989 e provocou grande alteração no diagnóstico precoce da doença. Vários limites de PSA foram estudados. Inicialmente foi usado 4 ng/ml, que é a recomendação do fabricante. O VPP do PSA é estimado em 30% a 42% em homens com PSA entre 4,1 ng/ml e 10 ng/ml e 13% a 27% (62, 64, 65) (NE 3). O seu emprego isolado tem sensibilidade maior do que TR e USTR (51,66) (NE 2). A análise de variações do PSA como densidade, velocidade e ajuste à idade não mostrou vantagens quando comparadas ao PSA de 4 ng/ml (67) (NE 2). TR, PSA e USTR foram combinados de várias formas possíveis. TR + PSA foram tão confiáveis quanto e significativamente mais baratos do que USTR + PSA e hoje são considerados métodos complementares entre si que permitem a detecção adequada de homens com CaP (46,56,6668) (NE 2). Resultados de rastreamentos Ao longo de diferentes rastreamentos (44, 47, 50, 51, 57, 65, 69), observou-se: – diminuição da incidência de PSA >4 ng/ml (10% - 6%) – diminuição no índice de detecção de CaP (3% - 1%) – diminuição na proporção de CaP clinicamente avançado (6% - 2%) – diminuição na taxa de indicação de biópsia de próstata (15,1% - 6,4%) – diminuição na proporção de CaP de alto grau entre os operados. (11% - 6%) – aumento na taxa relativa de sobrevida por CaP (20%) – diminuição na mortalidade por CaP (6,3%) – estadiamento patológico mostrou 3% de CaP clinicamente não importantes. Controvérsias A incidência de CaP detectado por rastreamento ao longo da vida excede em muito a probabilidade de morte por CaP, o que pode sugerir um excesso de tumores clinicamente não importantes (70) (NE 5). Uma desvantagem do rastreamento é a baixa especificidade que resulta em alto número de biópsias negativas com o conseqüente aumento de custos, de ansiedade e de morbidade (71). 182 Todas as evidências favoráveis ao rastreamento são passíveis de análises críticas que as invalidam (72) (NE 5). A conclusão definitiva sobre a eficácia do rastreamento somente virá com a avaliação de mortalidade por CaP em grupo rastreado versus grupo controle (72). Espera-se que esta conclusão seja obtida após termos os resultados dos estudos em andamento (ERSPC e PLCO). REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 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A implicação da análise prognóstica nas neoplasias, entretanto, não se limita evidentemente a responder este questionamento. Muito mais do que isso, é essencial na definição de protocolos e na indicação ou na contraindicação das modalidades terapêuticas e no acompanhamento e avaliação de sua efetividade. No câncer prostático, classicamente, três fatores são de fundamental importância no prognóstico da doença: o estadiamento, o grau histológico e o PSA. Há ainda fatores adicionais que, sabidamente, podem influenciar a evolução da mesma. Diversas outras variáveis clínicas, patológicas e biomoleculares estão em estudo e podem se tornar, de forma isolada ou conjunta, adjuvantes na construção de modelos prognósticos. Entretanto, o real benefício do emprego de muitas destas variáveis específicas nesta doença pode ser questionado (1). AVALIAÇÃO PROGNÓSTICA NO CÂNCER LOCALIZADO Em relação à sua relevância, os fatores prognósticos têm sido divididos em três grupos distintos: essenciais, adicionais e promissores (2). Essenciais Estes fatores são fundamentais para a tomada de decisão em relação ao tratamento (2). Três deles são atualmente considerados essenciais na avaliação prognóstica da doença: o estadiamento, o grau histológico e o PSA (3,4) (NE 4). A combinação destas três variáveis determina uma melhor capacidade de prognóstico do que a análise de qualquer uma delas isoladamente (5) (NE 4). 1) Estadiamento A extensão anatômica do tumor é o fator de prognóstico mais importante e mais amplamente utilizado. A classificação TNM (6) é aceita internacionalmente para descrever e comparar padrões de apresentação da doença, impacto do rastreamento e acesso ao tratamento. 189 Para o exame da glândula prostática são ainda utilizados: a) o exame digital (EDP): a sensibilidade de predizer doença restrita ao órgão é de cerca de 50% e a especificidade é de 80% (5) (NE 4); b) a ultra-sonografia trans-retal da próstata (USTR) – o seu valor isolado não é maior que o exame digital da próstata, com valor preditivo de aproximadamente 50% (7) (NE 5). 2) PSA O PSA é marcador tecidual, porém não tumor-específico. Sua sensibilidade e especificidade não permitem a utilização do mesmo como método isolado. Entretanto, na avaliação da doença primária existem algumas informações que o valor de PSA pode fornecer: – teor <4 ng/ml: há 80% de probabilidade da doença estar restrita ao órgão (análise de peças de prostatectomia radical) (8) (NE 2); – teor <10 ng/ml: cintilografia óssea e tomografia computadorizada da pelve são, na avaliação de rotina, provavelmente desnecessárias devido ao baixo risco de metástases à distância (8) (NE 2); – teor >10 ng/ml: o risco de extensão extracapsular é acima de 60% (8) (NE 2); – teor >50 ng/ml: risco altamente significante de doença metastática à distância (8) (NE 2). Por outro lado, a concentração sérica de PSA é utilizada na monitorização do tratamento. Assim: a) se a taxa de PSA não desce a nível indetectável após prostatectomia radical, ou aumenta a despeito da RTX ou da crioterapia realizadas, ou se aumenta dentro do primeiro ano após a realização de qualquer tratamento local ou se, ainda, dobra de valor em menos de seis meses, provavelmente o paciente apresenta metástase à distância (9) (NE 4); b) nível detectável de PSA após prostatectomia radical está associado com recorrência da doença em muitos pacientes, sendo que o intervalo médio entre a recorrência do PSA e a morte por câncer situa-se entre 5 e 12 anos, dependendo do escore de Gleason (9) (NE 4); c) após RTX o nível de PSA diminui e o nadir é atingido, em média, após 17 meses. Pacientes que apresentam valor abaixo de 0,5 ng/ml ou taxa indetectável por pelo menos 5 anos, provavelmente não apresentarão falha do tratamento efetuado (10) (NE 3); d) após RTX três aumentos consecutivos do PSA, acima do nadir, estão associados à falha do tratamento (8) (NE 2); 190 e) no caso de doença avançada o PSA é provavelmente o melhor marcador da eficácia do tratamento, sendo que aumento secundário do PSA é preditivo de falência do tratamento hormonal de 1a linha (10) (NE 3); f ) em pacientes com doença metastática, que recebem deprivação androgênica, o nível do PSA deve baixar e tanto o nadir quanto o percentual de declínio aos 3 e 6 meses podem traçar um prognóstico evolutivo da doença e assim, nos pacientes cujo teor de PSA é indetectável e naqueles cujo PSA diminui 90% ou mais, aos 3 e 6 meses após o início do tratamento, experimentarão muito provavelmente uma sobrevida prolongada (10) (NE 5); g) métodos de biologia molecular, como RT-PCR (reação em cadeia da polimerase e transcriptase reversa), para PSA no sangue periférico com resultado positivo sugerem a presença de células prostáticas (o RNA mensageiro para PSA é prostático-específico), porém o significado deste achado em pacientes submetidos a prostatectomia radical necessita ainda de maior comprovação científica acerca do seu real valor clínico (11) (NE 5). 3) Escore de Gleason O escore de Gleason correlaciona-se com a extensão da doença, particularmente com o risco de acometimento extra-prostático, assumindo valor prognóstico independente (12) (NE 3). Considera-se que tumores com escore de Gleason >7 são biologicamente agressivos, com escore de 5 ou 6 são tumores com agressividade intermediária e tumores com escore situado entre 2 e 4 têm agressividade biologicamente menor (8) (NE 2). 4) Combinação de fatores essenciais Tem-se procurado associar as características histológicas do tumor como o grau de Gleason a importante número de variáveis prognósticas (volume tumoral, estadiamento patológico, zona prostática de origem, presença de metástases nos linfonodos e margens cirúrgicas) (13) (NE 2). A partir do escore de Gleason, do valor de PSA, do estadiamento clínico e patológico, além do seguimento de grande número de homens submetidos à prostatectomia radical, construíram-se tabelas prevendo as probabilidades de sobrevida quando o tumor está restrito ao órgão ou compromete a cápsula prostática, vesículas seminais e linfonodos pélvicos (8) (ver tabelas em anexo) (NE 2). 191 Adicionais Os fatores prognósticos adicionais permitem refinamentos na análise dos resultados, porém não são normalmente utilizados no processo de seleção do tratamento (2) (NE 2). 1) Exames histológicos mais detalhados Ajudam na precisão do prognóstico e incluem o número de fragmentos de biópsias positivas, a percentagem de tumor na biópsia e os índices de proliferação tumoral, tais como percentagem das células em fase S, expressão de Ki-67 ou de antígenos MiB-1 e PCNA (14) (NE 4). 2) Volume tumoral O volume do câncer prostático é fator importante que se correlaciona com o prognóstico e também com o grau histológico. Entretanto, os tumores não precisam atingir grandes volumes ou altos graus histológicos antes de se tornarem localmente invasivos (13) (NE 2). Embora este volume possa ser uma variável importante no prognóstico, há tumores que podem evoluir rapidamente a partir de pequenas alterações histológicas e outros que podem se tornar agressivos após muitos anos, atingindo grandes volumes, perdendo então sua relativa “benignidade” (13) (NE 2). Promissores Estes fatores prognósticos representam, no momento, uma nova forma de entender a biologia tumoral, porém ainda apresentam evidências incompletas para serem considerados variáveis independentes. Eles não são comumente utilizados no presente, mas poderão ter aplicações num futuro próximo (1). Expressão de HER-2/neu – A proteína HER-2/neu é homóloga ao receptor do fator de crescimento epitelial tendo um gene que a codifica e que está localizado no cromossomo 17q. O aumento da sua expressão varia de 20% a 29% em pacientes submetidos a prostatectomia radical e alcança de 67% a 85% em pacientes previamente tratados com ablação androgênica (14,15). PCR para células expressando antígenos de membrana prostáticoespecíficos (PSMA) – pode auxiliar a detectar células circulantes no sangue periférico. O PSMA é uma proteína, composta por 750 aminoácidos, com peso molecular de 100 kDa e que está presente na superfície de células epiteliais da próstata. A sua expressão encontra-se aumentada em associação com o CaP e nos vasos sangüíneos de muitos tumores sólidos (16). 192 – p53 – o gene responsável pela proteína p53 está localizado no braço curto do cromossomo 17. As alterações nesta proteína seriam um fator de previsão de recorrência tumoral que ocorrem num percentual de 3% a 79% dos casos de tumores prostáticos (17-19). – Bcl-2 – esta proteína inibe a apoptose. O gene responsável pela sua expressão está localizado no cromossomo 18. A limitação do seu uso é devida ao seu baixo nível de expressão nos tumores prostáticos. – p21 – o gene p21WAF1/CIP1 codifica uma proteína quinase cuja expressão é regulada por p53. Mutações em p53 levam a mudanças em p21, resultando em crescimento descontrolado. Há evidência suficiente de que o p21 desempenha importante papel na progressão do CaP pelo menos nos homens tratados com ablação androgênica ou prostatectomia radical (20, 21). – p27 – este gene codifica a proteína que inibe a proliferação celular na fase G1 da mitose (21). Vários estudos sugerem que o decréscimo de p27 desempenha papel significante na progressão do CaP (22-24). – Expressão do gen EZH2 – é um marcador tecidual expresso em CaP metastático refratário a hormônio. A sua expressão desregulada pode estar envolvida na progressão do câncer, sendo um marcador que distingue tumores indolentes daqueles com risco letal de progressão (25). – Gen P504S – sensível e específico para carcinoma de próstata. A detecção imuno-histoquímica do produto deste gene pode ser obtida em tecidos fixados. É um marcador com potencial utilidade em pacientes tratados por hormônios e por RTX. – CD44 – é uma molécula de adesão da superfície celular que desempenha importante papel em vários fenômenos biológicos. O gene CD44 está localizado em 11p13. O decréscimo de mRNA e da expressão do CD44 têm sido associados ao comportamento agressivo e metastático em vários tumores como pulmão, ovário e próstata (26). – E-caderina – é molécula de adesão celular cuja perda de expressão pode ser o evento principal no caráter invasivo de muitos tumores epiteliais (27). Há evidências que apontam esta molécula como importante determinante do potencial metastático e que pode predizer a progressão tumoral após o tratamento definitivo do CaP. – Kalicreína 2 – é especificamente produzida pelas células epiteliais prostáticas. Ela é altamente expressada em tumores de alto grau. – IGF proteínas – IGF-I (insulin growth factor-1) e IGFBP-3 (insulin growth factor binding protein-3) têm mostrado exercer potente efeito mitogênico na maioria das células e estão intimamente envolvidas no 193 desenvolvimento e diferenciação da próstata (28). Os níveis de IGFBP-3 estão significativamente mais baixos na população americana de origem africana quando comparados com os níveis dos de origem caucasiana (29). – Angiogênese tumoral – a indução da angiogênese é um passo necessário no desenvolvimento do câncer prostático. A densidade de microvasos (MVD) é utilizada para medir a angiogênese com imuno-histoquímica pela marcação de espécimes com anticorpos endotélio-específicos (antiCD31, anti-CD34, antifator 8). MVD poderia fornecer informação independente em relação à progressão tumoral (30). – Diferenciação neuro-endócrina – provavelmente desempenha algum papel na progressão do CaP, porém atualmente as evidências são insuficientes para caracterizar seu significado clínico. AVALIAÇÃO PROGNÓSTICA NO CÂNCER AVANÇADO Alguns fatores já estudados em outras doenças neoplásicas parecem apresentar potencial preditivo no prognóstico do câncer prostático. Dentre estes, os mais estudados são o índice de Karnofsky, hemoglobina, fosfatase alcalina e desidrogenase láctica (LDH). Estes fatores parecem ser mais úteis na doença avançada. Nestes pacientes, o índice de Karnofsky, a hemoglobina, a fosfatase alcalina, a albumina e a LDH estão associados à sobrevida global, enquanto a idade e o PSA não apresentaram relação estatisticamente significativa. Índices de doença mais avançada, tais como baixa performance (Karnofsky), níveis elevados de LDH e fosfatase alcalina, anemia e hiperalbuminemia estão associados a um pior prognóstico nos pacientes. Nos estudos para a construção de nomogramas, embora a idade avançada possa representar melhor prognóstico, a diferença entre indivíduos entre 40 e 85 anos em termos de sobrevida foi pequena (20 pontos). Em contraste, a diferença de performance-status de 60% (sintomáticos) para 90 % (assintomáticos), foi de 45 pontos. A anemia pode representar doença avançada, ação de tratamentos prévios (hormônios, quimioterapia, RTX) ou o estado nutricional do paciente. Marcadores de lise tumoral, como LDH e fosfatase alcalina foram preditivos do prognóstico em diversas séries. Entretanto, é interessante lembrar que a fosfatase alcalina teve pouco impacto na análise de sobrevida, o que pode refletir o fato de que ela está envolvida na remode194 lação óssea, seja na lise ou na cicatrização, não refletindo necessariamente progressão da doença. Quanto ao PSA, níveis elevados foram estudados e parecem ter ação protetora, uma vez que sua ação proteolítica pode apresentar papel inibidor da angiogênese. Nos estudos citados para construção de nomogramas, a diferença de PSA de 0 para 100 representou diferença de apenas 8 pontos, o que é muito pouco significativo. Em relação à albumina, desconhece-se a explicação biológica, mas estudos demonstram que valores acima de 4,2 g/dl estão associados a pior prognóstico. 195 NOMOGRAMAS Nomogramas são instrumentos utilizados para predizer a evolução da doença usando parâmetros clínicos específicos. Usam algoritmos que incorporam diversas variáveis que possibilitam calcular uma probabilidade prognóstica, que é importante no aconselhamento do paciente e na seleção de tratamento que ofereça a melhor perspectiva para a cura. Para pacientes que já foram submetidos a tratamento os nomogramas permitem prognosticar a probabilidade de permanecerem livres da progressão da doença e, naqueles que forem identificados como de altos riscos de progressão, os nomogramas podem orientar o médico na implementação de terapia adjuvante (30-34) (NE 3). Os diversos fatores apresentados podem representar diferentes graus de importância no prognóstico da doença. Algumas variáveis importantes devem ser levadas em consideração, o que torna a real utilização combinada de todos os índices de prognóstico impraticável clinicamente sem que se recorra a protocolos em que todas as variáveis possam ser organizadas de acordo com características de cada grupo de pacientes. Assim, diversos nomogramas foram estudados e validados de acordo com o perfil do doente em estudo, o que facilita a análise prognóstica. Todavia, alguns cuidados devem ser observados: primeiramente, os nomogramas em geral são desenvolvidos em estruturas acadêmicas de grande porte, onde os pacientes são diagnosticados, tratados e acompanhados de maneira sabidamente diferente de outras instituições comuns. Em segundo lugar, os nomogramas não devem ser utilizados para definir isoladamente a forma de tratamento, uma vez que refletem estatísticas de grandes grupos. Os pacientes apresentam características, indicações e contra-indicações que somente análise individualizada pode definir. Os nomogramas elaborados pelo Memorial Sloan Kettering Câncer Center estão disponíveis no site www.nomograms.org. 196 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Altman DG: Systematic reviews of evaluations of prognostic variables. Bmj. 2001; 323(7306): 224-8. 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A incidência dos tumores de células germinativas ( TCG) é de 6 a 11/100.000, havendo aumento gradativo após a puberdade. No Brasil estima-se uma incidência anual de 2,2/100.000 habitantes (1). A melhora da sobrevida deve-se à combinação efetiva dos métodos diagnósticos, marcadores tumorais de melhor acurácia – alfa-fetoproteína (αFP) e fração beta da gonadotrofina coriônica (βhCG); normatização das técnicas cirúrgicas e melhoria significativa nos regimes de drogas quimioterápicas, o que reduziu a taxa de mortalidade de 50% nos anos 70 para menos de 5% em 1997 (3). A classificação histológica, sistema de graduação e o estadiamento têm proporcionado bases clínicas importantes para o tratamento desta doença (4). Os fatores de risco relacionados ao aparecimento destes tumores são: • testículo criptorquídico e ectópico (5) (NE 3). • tumor prévio contralateral (6) (NE 4). • tumor em parentes de primeiro grau (pai e irmão) (7) (NE 2). A Organização Mundial de Saúde (OMS) padronizou critérios patológicos para o diagnóstico do câncer de testículo, compreendendo os tipos histológicos descritos a seguir. 203 Do ponto de vista prático, baseado no comportamento biológico, costuma-se agrupar os TCG em seminomas e não seminomas, representando cada um destes grupos, aproximadamente 50%. 204 DIAGNÓSTICO Apresentação clínica A manifestação mais freqüente é a presença de nódulo ou o aumento do testículo, na maioria das vezes indolor. Pode ocorrer sensação de peso testicular ou desconforto abdominal. Cerca de 10% dos pacientes apresentam-se com sintomas e sinais relacionados às metástases – nódulo supraclavicular, sintomas respiratórios e gastrintestinais, dor lombar ou abdominal, alteração neurológica, edema de membros inferiores, ginecomastia ou comprometimento do estado geral. Antecedentes de testículo criptorquídico ou traumatismo local são referidos eventualmente. Uma minoria dos pacientes pode manifestar-se inicialmente com tumor primário extragonadal (retroperitoneal ou mediastinal) (4). Exame físico A palpação testicular é obrigatória (8) (NE 5; GR D); hidrocele está associada em 10% a 20% dos casos. É recomendável o exame das regiões que apresentam maior incidência de metástases (NE 5; GR D). Marcadores tumorais Os TCG apresentam marcadores com especificidade relativa e sensibilidade significativa estratificando os riscos e influenciando no estadiamento (tabela TNMS)(9). São capazes de identificar pequenos tumores na ordem de 105 células, o que não pode ser detectado pelos métodos de imagem (4) (NE 5). Os marcadores de TCG pertencem a duas classes principais: a) oncofetais (αFP e βHCG), substâncias associadas ao desenvolvimento embrionário e b) enzimas celulares como a desidrogenase lática (DHL) e a fosfatase alcalina placentária (FAP) (10, 11). A produção de α FP e βHCG se dá pelas células totipotentes – trofoblasto e sinciciotrofoblasto, respectivamente (10, 11). É recomendável a dosagem dos marcadores tumorais (αFP, βHCG e DHL) antes da realização da orquiectomia (8) (NE 5; GR D). A elevação da αFP está relacionada a tumores não seminomatosos. Não se encontra elevada nos casos de coriocarcinoma e seminoma puro. Pode ser produzida pelo fígado, saco vitelino e trato gastrintestinal; tem meia vida de 5 a 7 dias (12, 13). 205 O βHCG pode estar elevado nos TCG, principalmente nos tumores não seminomatosos e em 5% a 10% dos seminomas, nestes últimos a elevação é discreta (14, 15) (NE 4). A vida média é de 24 a 36 horas (16). Resultados falso-positivos para αFP podem ser encontrados em hepatopatias, principalmente em tumores hepáticos e do trato digestório. Elevação da βHCG também pode ocorrer por reação cruzada com o hormônio luteinizante (LH) e uso de canabis sativa (maconha). Elevação de DHL está relacionada a grandes volumes tumorais e situações de metabolismo celular aumentado (16). Exames de imagem • Avaliação da lesão primária A ultra-sonografia (US) tem alta sensibilidade para avaliação de massas testiculares e é recomendada após a história e o exame físico (17) (NE 5; GR D). • Avaliação da doença metastática A radiografia de tórax deve ser realizada, uma vez que tem boa acurácia e baixo custo (4) (NE 5). No entanto, em casos duvidosos deve ser substituída pela tomografia computadorizada (TC) TC de abdome e pelve deve ser realizada em todos os casos por ser o método mais eficaz para identificar envolvimento de linfonodos retroperitoneais (8) (NE 5; GR D). TC de tórax não é obrigatória para os casos de seminoma estádio I (8) (NE 5; GR D). A ressonância magnética (RM) não mostra vantagens sobre a TC para avaliação de metástases retroperitoneais, além de apresentar custos mais elevados. Recomenda-se RM de tórax e abdome apenas quando a TC estiver contra-indicada (impossibilidade ao uso do contraste iodado) (8) (NE 5; GR D). TC ou RM do sistema nervoso central (SNC) deve ser solicitada em doenças avançadas com prognóstico mau ou intermediário ou, ainda, se apresentar sintomas de metástases no SNC (8) (NE 5; GR D). Cintilografia óssea é realizada se houver fosfatase alcalina elevada ou suspeita de metástase óssea (8) (NE 5; GR D). Tomografia com emissão de pósitrons (PET scan), excepcionalmente, pode identificar atividade tumoral em massa residual >3 cm, nos casos de seminoma avançado após 4 semanas de quimioterapia, visando planejamento terapêutico. Não deve ser indicada como rotina (8) (NE 5; GR D). 206 Diagnóstico diferencial das massas testiculares • • • • • • orquiepididimite orquite hidrocele torção de testículo tuberculose e outras doenças específicas hérnia encarcerada. Diagnóstico histopatológico Exploração cirúrgica por via inguinal faz parte do diagnóstico dos tumores testiculares bem como a biópsia intra-operatória (4) (NE 5; GR D). Classicamente, quaisquer abordagens para tumores testiculares, biópsias ou ressecções totais ou parciais devem ser feitas por via inguinal. Biópsia percutânea tem sido descrita para casos selecionados (carcinoma in situ e tumor extra-gonadal) (8). ESTADIAMENTO É recomendada a utilização do sistema TNM (9). 207 208 Grande parte dos pacientes com neoplasia testicular apresenta algum grau de infertilidade. Como a terapêutica pode comprometer o estado fértil, a avaliação seminal é recomendada para sua avaliação e possível preservação do esperma antes da sua instituição (18) (NE 1c). O seminoma espermatocítico é uma entidade distinta, representando menos de 5% de todos os seminomas, ocorrendo exclusivamente no testículo de indivíduos idosos (4). 209 DIRETRIZES 1. É obrigatória a palpação testicular (NE 5; GR D) 2. Avaliar os principais fatores de risco • tumor contralateral (NE 4; GR C) • testículo criptorquídico e ectópico (NE 3; GR B) • tumor em parentes de primeiro grau (pai e irmão) (NE 2; GR B) 3. Dosar os marcadores tumorais? αFP, βhCG e DHL) antes do tratamento e repetí-los após 30 dias (NE 5; GR D) 4. Ultra-sonografia escrotal deve ser realizada para avaliação da lesão primária (NE 5; GR D) 5. Para o estadiamento devem ser realizados RX de tórax e TC de abdome e pelve (NE 5; GR D) 6. RM, TC de tórax e cintilografia óssea devem ser solicitados em casos selecionados. Não há evidências que sustentem a utilização rotineira de PET scan 7. Os dados histopatológicos e o estadiamento TNM são fundamentais para a orientação terapêutica e o prognóstico (NE 5; GR D) 8. Recomenda-se avaliação da fertilidade e eventual criopreservação espermática antes do tratamento (NE 1c; GR A). 210 TRATAMENTO LESÃO PRIMÁRIA A lesão primária deve ser tratada por orquiectomia radical por via inguinal, com ligadura prévia do cordão espermático, no nível do anel inguinal interno. Na cirurgia são removidos o testículo, epidídimo e todo o funículo espermático (19) (NE 5; GR D). Em dúvida diagnóstica deve-se recorrer à biópsia por congelação, também por via inguinal (com clampeamento prévio). O controle local do tumor é obtido na grande maioria dos pacientes (20) (NE 1c; GR A). Deve-se evitar qualquer tipo de procedimento por via escrotal, pelos riscos de maior recidiva local (7 vezes maior). Nos casos de violação escrotal nos pacientes com estádio clínico I (EC I), a indicação de tratamento complementar não apresentou impacto na recidiva à distância ou na sobrevida (19) (NE 1; GR A). SEMINOMA • Estádio clínico I Após orquiectomia pode-se indicar radioterapia linfonodal retroperitoneal vigilância, ou quimioterapia (QT) (21, 22) (NE 4; GR D). Os índices de cura com quaisquer destas abordagens ultrapassam 95%, porém a vigilância é mais dispendiosa pela necessidade de exames mais freqüentes (23) (NE 2; GR B). QT com carboplatina em dose única pode ter resultados equivalentes (24) (NE 2; GR A). Meta-análise de estudos com pacientes sob vigilância demonstrou maior risco para progressão retroperitoneal quando o tumor primário era maior que 4,0 cm ou quando havia invasão da rete testis (25) (NE 4 GR D), contra-indicando a vigilância clínica. Pacientes sem condições sócio-econômicas de atender requisitos necessários à vigilância (situação comum em nosso meio), devem receber tratamento adjuvante, em geral por radioterapia (8) (NE 5; GR D). Radioterapia Pacientes nos estádios IA, IB e IS são tratados com radiação (20-30 Gy, com dose/fração de 1,8 a 2Gy) na área infra-diafragmática, incluindo linfonodos para-aórticos (NE 1 GR B). RT do mediastino e da fossa supraclavicular não é recomendada (26) (NE 2; GR B). 211 • Estádio clínico II EC IIA e EC IIB Para os estádios clínicos IIA e IIB, 25 Gy são administrados à área infradiafragmática, incluindo linfonodos para-aórticos (LNPA) e ilíacos homolaterais, seguidos de reforço na área nodal comprometida até a dose final de 35 a 40 Gy (27) (NE 3; GR B). Nos casos em que a RT for contraindicada, preconiza-se QT. Estádio IIC, estádio III e sítios extragonadais QT é o padrão. Após QT, se a tomografia computadorizada (TC) for normal, institui-se vigilância. Aproximadamente 90% dos pacientes com seminoma avançado são curados com combinações contendo cisplatina. A escolha do regime é feita de acordo com o status do risco IGCCCG (International Germ Cell Cooperative Consensus Cancer Group) (28) (NE 1; GR A) (vide fatores prognósticos). • Baixo risco: 3 ciclos com cisplatina, etoposide e bleomicina (BEP) ou 4 ciclos de EP (etoposide e cisplatina) (29) (NE 2; GR B). • Risco intermediário: 4 ciclos de BEP (30) (NE 2; GR B). Falha após RT Nas eventuais falhas pós-RT deve ser instituída QT de acordo com a estratificação de risco. Tratamento cirúrgico Linfadenectomia retroperitoneal (LNRP) não é empregada nos estádios II e III, devido às excelentes respostas à RT e QT (8) (NE 5; GR D). A ressecção cirúrgica só deve ser realizada quando a resposta à QT for insatisfatória, ou seja, regressão tumoral menor que 90% ou massa residual maior que 3,0 cm, um mês após completar a QT. Nesta situação, verificou-se 27% de neoplasia viável contra ausência de resíduo viável menor que 3,0 cm (31) (NE 4; GR D). O PET scan positivo em resíduos de seminoma acima de 3,0 cm “sugere” neoplasia em atividade (32) (NE 1; GR A). A intensa reação desmoplásica retroperitoneal dificulta sobremaneira a ressecção em comparação aos TCGNS, impossibilitando a dissecção completa ao redor dos grandes vasos e demais estruturas, com maior índice de complicações (24%) (33); recomenda-se restringir-se à ressecção da massa residual (NE 4; GR D). A sobrevida oscila entre 92% e 97% (4) (NE 5; GR D). 212 TUMORES NÃO SEMINOMATOSOS Estádios I e IIa Pacientes com estádio clínico (EC) I têm riscos diferentes para metástases retroperitoneais após orquiectomia (4). Subestadiamento ocorre em 25% a 35%. Mesmo com exames de imagem e marcadores normais podem existir metástases retroperitoneais, ou seja,estádio patológico IIa. Os fatores de risco de recidivas e subestadiamento após orquiectomia foram avaliados (34) (NE 2; GR A): • estádio patológico do tumor primário (pT >2) – invasão da túnica albugínea, epidídimo / cordão espermático • infiltração vascular / linfática • presença de carcinoma embrionário (acima de 40%) • marcadores elevados. Decisões terapêuticas baseiam-se nesses fatores de risco, sendo os dois primeiros os principais. A ausência desses fatores teve valor preditivo negativo de 86,5% e, na presença, o valor preditivo positivo para metástases retroperitoneais foi de 63,6% (35) (NE 2; GR A). A vigilância pode ser oferecida aos pacientes com tumores sem essas características e em condições de aderirem a esta alternativa (34) (NE 2; GR A). Acompanhamento mínimo de 5 anos é preconizado, mas o ideal é de 10 anos, pelo risco de recorrência tardia. Para pacientes de risco o tratamento deve ser mais agressivo, por meio de linfadenectomia retroperitoneal (LNRP) (36) (NE 4; GR D) ou QT com dois ciclos de BEP (37) (NE 2; GR A). Muitos programas de vigilância apresentam taxas de recorrência de 26% a 37%, das quais mais da metade (57% a 88%) são no retroperitônio (38). Linfadenectomia retroperitoneal (LNRP) A LNRP, além de estabelecer o estadiamento patológico, promove a cura na maioria dos casos nos estádios IIa e IIb até 3,0 cm (60% a 81%) (34) (NE 2; GR A). LNRP deve ser indicada com marcadores normais após trinta dias da orquiectomia. Persistindo elevados, considera-se EC IS, a LNRP é contra-indicada e a QT é o tratamento de escolha (39) (NE 4). Pacientes que apresentam recidiva após a LNRP são geralmente curados pela QT. Nos pacientes estádio I a sobrevida câncer-específica após a LNRP variou de 99,4% a 100% em grandes séries (40) (NE 2; GR B). 213 Pacientes com linfonodos comprometidos devem receber dois ciclos de QT adjuvante (37) (NE 2; GR A). Linfadenectomia retroperitoneal seletiva (LNRPS) A preservação da ejaculação pode ser alcançada em quase 100% dos pacientes e a fertilidade em 75% com a técnica seletiva preservando o plexo simpático. Para tumores do testículo direito a ressecção deve interessar os LN látero-cavais, interaortocavais e peri-hilares renais. Para o lado esquerdo interessam os LN para-aórticos, interaortocavais e no hilo renal esquerdo. O limite caudal das LNRPS é a artéria mesentérica inferior. Recidiva local ocorre em 1%-2% reduzindo a necessidade de TC pós-operatória (36) (NE 4; GR D). No momento, a LNRP laparoscópica para TCGNS estádios I e II deve ser considerada investigacional. LNRP laparoscópica pós-QT apresenta morbidade acentuada e alto índice de conversões para cirurgia aberta. Estádios IIa, IIB, IIC e III Os pacientes EC IIa e IIb não operados, IIC e III deverão receber QT (29, 30) (NE 2; GR B). Nos casos de pequeno volume linfonodal (até 3,0 cm) a LNRP pode ser indicada (37) (NE 2; GR A). Quando linfonodos suspeitos são encontrados na cirurgia, a linfadenectomia bilateral completa deve ser realizada, contudo a taxa de preservação da ejaculação fica comprometida (34) (NE 2; GR A). Os regimes de QT serão orientados pela estratificação de riscos do IGCCCG (11). A sobrevida em cincos anos alcança 92%, 80% e 48%, respectivamente, nos grupos de riscos baixo, intermediário ou alto (29) (NE 2; GR A). • baixo risco: 3 ciclos de BEP ou 4 ciclos de EP • intermediário: 4 ciclos de BEP • alto risco: 4 ciclos de BEP Quimioterapia de resgate Pacientes com recaída após a reposta completa à QT de primeira linha, ou com remissão parcial, devem receber VeIP (Vimblastina, Ifosfamida e Cisplatina) (41) (NE 4). Cerca de 25% dos pacientes obtêm resposta completa duradoura. Pacientes com resposta desfavorável devem ser considerados para estudos clínicos com QT de altas doses com resgate hematopoiético autólogo (42). 214 MASSAS RESIDUAIS PÓS-QUIMIOTERAPIA EM TUMORES NÃO SEMINOMATOSOS AVANÇADOS Após QT de primeira linha com marcadores séricos negativos devese proceder cirurgia para ressecção das massas (retroperitônio, pulmões, fígado). Preservação neurológica retroperitoneal será realizada, se possível. O exame anatomopatológico poderá revelar 7% a 20% de neoplasia viável, 30% a 40% de necrose e fibrose e 30%-40% de teratoma (34) (NE 2; GR A). Nos casos de teratoma ou de carcinoma a cirurgia é um procedimento terapêutico, uma vez que os teratomas não respondem à QT e podem sofrer transformação e crescimento exagerado (síndrome do teratoma em crescimento). Quando a ressecção for completa e houver menos de 10% de células viáveis e bom prognóstico pelo IGCCCG não há necessidade de QT adjuvante(12). Em outras situações a decisão deve ser individualizada pela falta de informações na literatura. No caso de massas residuais com marcadores positivos após QT convencional (PEB ou EP) não há indicação imediata de cirurgia, mas QT de resgate precedendo a cirurgia. Cirurgia pode ser indicada como último recurso após falha da QT (a chance de neoplasia viável se eleva para 50%). SITUAÇÕES ESPECIAIS • Metástases cerebrais RT é indicada nos casos de paliação de metástases cerebrais e, sempre que posssível, após a ressecção cirúrgica das mesmas (43) (NE 4; GR D). • Tumores bilaterais Lesões metacrônicas ocorrem em 2% a 5% e as sincrônicas em 0,5% a 1% (44). Em geral correspondem a seminomas, não havendo pior prognóstico. O tratamento segue as diretrizes habituais. • Neoplasia intratubular É rara, podendo estar associada à infertilidade, testículo remanescente, sítios extragonadais, etc. (44). A indicação de biópsia e tratamento complementar são discutíveis, devendo-se considerar o status hormonal, fertilidade, desejo de prole, resultados de tratamento e prognóstico (45). 215 DIRETRIZES Tumor primário Realizar orquiectomia por via inguinal com ligadura prévia do cordão espermático Seminoma • EC I (NE 2; GR B) – Baixo risco para metástases retroperitoneais (<4 cm E sem invasão rete testis) – Vigilância (para pacientes aderentes) – Risco para metástases retroperitoneais (>4 cm ou com invasão da rete testis) e pacientes não aderentes. – Radioterapia para-aórtica ou – Quimioterapia com ciclo único de Carboplatina • EC IIa e IIb (NE 3; GR B) – Radioterapia infradiafragmática (para-aórtica e ilíaca) – Na contra-indicação de radioterapia: quimioterapia (2 BEP) • EC IIc, III e extragonadal (NE 1; GR A) – Baixo risco: quimioterapia 3 BEP ou 4 EP – Risco intermediário: quimioterapia 4 BEP Massas residuais (NE 5; GR D) • Ressecção, apenas se >3 cm (exceção) Falha pós radioterapia (NE 1; GR A) • Quimioterapia conforme o risco Não Seminomas • EC I (NE 2; GR A) – Baixo risco para recidiva (sem invasão vascular E <pT2a E Ca embrionário <40% e marcadores normais) – Vigilância (para pacientes aderentes) – Alto risco para recidiva (Invasão vascular, >pT2a, Ca embrionário >40%, marcadores elevados) – Linfadenectomia retroperitoneal seletiva (se marcadores negativos pós-orquiectomia) ou – Quimioterapia com 2 BEP • EC IIa, IIb (até 3 cm) (NE 2; GR A) – Linfadenectomia retroperitoneal + quimioterapia (2 BEP) ou – Quimioterapia conforme o risco – Baixo risco: quimioterapia 3 BEP ou 4 EP – Riscos intermediário e alto: quimioterapia 4 BEP • EC IIb >3 cm, IIc, III e extragonadal (NE 2; GR A) – Quimioterapia conforme o risco – Baixo risco: quimioterapia 3 BEP ou 4 EP – Risco intermediário e alto: quimioterapia 4 BEP Quimioterapia de resgate (NE 4; GR D) • VeIP Massas residuais (NE 2; GR A) • Ressecção: se marcador negativo • Marcador positivo: quimioterapia segunda linha e ressecção se possível (NE 4; GR D) 216 FATORES PROGNÓSTICOS Os fatores prognósticos dos tumores do testículo não são dependentes somente do estádio clínico. São classificados como de bom, intermediário ou de mau prognóstico (28) (NE 3; GR C). 217 Seminoma estádio clínico I Há evidência que o diâmetro do tumor primário (>4 cm) e a infiltração da rete testis são fatores independentes de metástases ocultas (46) (NE 1; GR A). Presença de invasão vascular tem relevância prognóstica menor que nos tumores não seminomatosos (47, 48) (NE 3; GR C). Tumores não seminomatosos estádio clínico I Infiltração vascular / linfática pelo tumor é o indicador prognóstico mais importante de metástases ocultas e deve ser relatado em todos os pacientes (35, 49-51) (NE 2; GR A). Sem tratamento adjuvante, pacientes com invasão vascular desenvolverão metástases em 48% dos casos, enquanto isto ocorre em apenas 14%-22% dos tratados (52) (NE 4; GR C). A taxa de proliferação tumoral e o percentual de carcinoma embrionário em relação ao volume total do tumor são, também, indicadores prognósticos (53) (NE 2). O percentual de carcinoma embrionário acima de 40% é considerado como de pior prognóstico e interferem com a decisão terapêutica (54) (NE 4; GR D). Tumores não seminomatosos estádio IIa / IIb São indicadores independentes de pior prognóstico (55) (NE 3; GR C): 1. não utilização de quimioterapia adjuvante após linfadenectomia (30% x 5% de recidiva) 2. volume da massa retroperitoneal 3. presença de invasão vascular / linfática no tumor primário. SEGUIMENTO APÓS TERAPIA CURATIVA O tumor de testículo é um excelente exemplo de câncer humano curável após terapia adequada. O seguimento dos pacientes assintomáticos deve seguir alguns princípios, quanto aos exames solicitados e seus intervalos (56): • os intervalos entre exames devem ser condizentes com o tempo esperado de risco máximo e a história natural do tumor • os exames devem ser direcionados para os locais mais prováveis de recorrência • o tratamento subseqüente deve resultar em cura, prolongamento da vida ou paliação de eventuais sintomas. O início precoce da terapia deve melhorar o resultado final se comparado com a espera da presença de sintomas. 218 Outras considerações se aplicam para seleção de uma rotina apropriada de vigilância do tumor do testículo: • a maior parte das recorrências ocorre em dois anos e o seguimento deve ser mais freqüente e intensivo neste período • recorrências tardias podem ocorrer após 5 anos, portanto é recomendado seguimento anual, por pelo menos 10 anos • recorrência no retroperitôneo após linfadenectomia é rara sendo o local mais acometido o tórax • tomografia computadorizada de tórax tem valor preditivo maior que a radiografia de tórax (57) (NE 3; GR B) • os resultados da terapia são dependentes do volume da massa tumoral, de forma que tentar detectar doença pré-sintomática é justificável (16) (NE 3) • após quimioterapia ou radioterapia existe maior risco do desenvolvimento de tumores secundários a longo prazo (57) (NE 3; GR B). Objetivos do seguimento: • diagnosticar recorrências o mais precocemente possível • vigilância em pacientes com tratamento conservador Existem diferentes estratégias no tratamento dos pacientes no estádio I e doença metastática de pequeno volume e o protocolo do seguimento é determinado pela incidência e tempo de recorrência. O local de acometimento da recorrência determina os exames efetuados. • • • • Em todos os estágios os exames recomendados são: exame físico: pesquisa de adenomegalias, ginecomastia e testículo contra-lateral marcadores séricos: α-feto proteína, β-hCG e LDH radiografia ou tomografia computadorizada de tórax, tomografia computadorizada de abdome e pelve e /ou ultra-som abdominal tomografia computadorizada de crânio, em casos com sintomas neurológicos, e cintilografia óssea em casos com dores ósseas. 219 SEGUIMENTO DE PACIENTES COM TUMORES SEMINOMATOSOS ESTÁDIO I A maior parte dos pacientes com seminoma (70-80%) se apresenta em estádio I no diagnóstico (58). A taxa de recorrência varia entre 1% e 20%, dependendo da terapia escolhida após a orquiectomia. Menos de 30% dos seminomas apresentam elevação da taxa de β-hCG no diagnóstico ou durante o curso da doença e são freqüentes as recidivas com marcadores séricos normais (59) (NE 5). As opções de tratamento após orquiectomia são: radioterapia retroperitoneal, vigilância e quimioterapia adjuvante. Altas taxas de cura são obtidas com RT e QT (>95%) mesmo quando há recorrências (60) (NE 3). Seguimento após radioterapia A taxa de recorrência é de 1%-2% e ocorre nos primeiros 18 meses da radioterapia (61) (NE 2, apesar de recorrências tardias já terem sido relatadas (62) (NE 4). Os locais de recorrência mais comum são os linfonodos supradiafragmáticos, mediastino, pulmões e ossos. Raramente acometem linfonodos ilíacos ou inguinais (47). 220 Vigilância em tumores seminomatosos Estudos prospectivos, não-randomizados, de acompanhamento, mostram risco de recorrência entre 15-20% em 5 anos (63) (NE 2), não havendo maior risco de morte com tratamento de resgate. O período médio de recorrência é entre 12-18 meses, mas em 29% dos casos esta ocorre tardiamente (64) (NE 3). Os locais de recorrência são os linfonodos paraaórticos em 82% dos casos, mas os linfonodos pélvicos, inguinais e pulmões também podem ser afetados (23). O acompanhamento é de suma importância nos primeiros 5 anos. Em casos selecionados em que houve quimioterapia o seguimento será o mesmo que após radioterapia (65). 221 Seminoma estádio clínico II Taxas de recorrência após radioterapia em estádios clínicos IIa e IIb oscilamo entre 5-15%. A maior parte ocorre nos dois primeiros anos, com apresentação de massa supraclavicular ou mediastinal, enquanto recorrências no campo de aplicação são raras. Seguimento de pacientes com tumores não seminomatosos no estádio I Aproximadamente 5% dos pacientes apresentam elevação de marcadores tumorais após orquiectomia e 25-30% terão recorrência nos primeiros dois anos (66) (NE 2). O seguimento vai depender do tratamento efetuado após a orquiectomia: vigilância, linfadenectomia retroperitoneal e/ou quimioterapia primária. Vigilância Os resultados dependem de cuidadoso estadiamento clínico e da adesão do paciente. Recorrências são observadas em 30% dos casos, metade nos primeiros 6 meses, podendo acontecer em até 6 anos após orquiectomia (67). Destas, 80% são observadas nos primeiros 12 meses e cerca de 12% durante o segundo ano. Ocorrem principalmente no retroperitôneo, mas também no mediastino e pulmões. Eventualmente, a única alteração é a elevação de marcadores tumorais (68) (NE 3). Observação mensal nos primeiros 6-12 meses da orquiectomia é recomendável, mas este intervalo poderá ser mais longo, na dependência 222 dos fatores de risco. O seguimento deve ocorrer entre 5 e 10 anos, sendo recomendado por toda vida por alguns. Não existe protocolo universalmente aceito para a vigilância. Seguimento de pacientes após linfadenectomia retroperitoneal A recorrência retroperitoneal após linfadenectomia é extremamente rara. Um trabalho cooperativo (TCIS) mostrou recorrência em 7/264 pacientes com estádio patológico I e 20 recorrências pulmonares sendo que em quatro não houve elevação dos marcadores (69) (NE 4). Na série da Universidade de Indiana, apenas 1 recorrência em 559 casos (70) (NE 4). Nos casos de recorrências, os locais acometidos são o tórax, a região cervical ou as margens da ressecção cirúrgica. As recorrências pulmonares ocorrem em 10-12% e na maioria das vezes em 2 anos após a linfadenectomia retroperitoneal (71) (NE 2). Seguimento de pacientes após quimioterapia adjuvante Apesar da casuística de pacientes tratados com quimioterapia adjuvante ser pequena, alguns relatos prospectivos com seguimento de longo tempo mostram recorrência muito baixa de cerca de 3% (49) (NE 3). O seguimento se assemelha ao dos pacientes tratados com linfadenectomia retroperitoneal, apenas diferindo pela maior probabilidade de desenvolver teratoma no retroperitôneo. 223 Seguimento do estádio II e doença avançada (metástases) de tumores não seminomatosos Tumores não seminomatosos em estádio II com pequeno volume podem ser tratados com LNRP ou QT. Após LNRP, a TC pode ser substituída por ultra-sonografia abdominal, mas recomenda-se uma TC logo após o procedimento cirúrgico para servir de parâmetro de comparação futura. Nos casos de linfadenectomia em regime de vigilância (pequenos linfonodos ou p IIa), um protocolo mais rígido de seguimento é necessário do que quando se faz quimioterapia adjuvante. Exame físico, dosagem de marcadores tumorais e radiografia de tórax, deverão ser mais freqüentes. 224 Recorrência após quimioterapia primária Após quimioterapia primária, a tomografia computadorizada é imprescindível no protocolo de seguimento. Este é praticamente o mesmo da linfadenectomia com quimioterapia adjuvante, a diferença é que no seguimento de quimioterapia primária, a tomografia computadorizada deve ser feita pelo menos semestralmente nos dois primeiros anos. SEMINOMA E NÃO-SEMINOMA ESTÁDIOS CLÍNICOS IIc e III Em doença avançada, a taxa de sobrevida total é de 92% para pacientes em de baixo risco, 80% de risco intermediário e 48% com alto risco. Pacientes no estádio IIc são geralmente de baixo risco (72). Após quimioterapia, vigilância é recomendada se não houver resíduo da massa retroperitoneal, com normalização dos marcadores. Não há critérios seguros de avaliação tomográfica para diferenciar tumor, teratoma e resíduos necróticos após quimioterapia. Em seminomas avançados, a taxa de falha local é de 3% quando a tomografia está normal, ou a massa residual é menor que 3 cm (73). Em doença avançada, a dosagem rotineira dos marcadores tumorais (β-hCG, αFP e LDH) é o procedimento isolado mais importante, seguido do exame físico e história clínica (23, 65). Nos casos de manifestações clínicas neurológicas, deve-se fazer tomografia computadorizada de crânio. 225 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Leite KRM, Sadi MV. Tumores de células germinativas do testículo. International Braz J Urol. 2003;29((suppl.1)):35-43. Mostofi FK. Proceedings: Testicular tumors. Epidemiologic, etiologic, and pathologic features. Cancer. 1973;32(5):1186-201. Bosl GJ, Motzer RJ. Testicular germ-cell cancer. N Engl J Med. 1997;337(4):242-53. Richie JP, Steele GS. Neoplasms of the testis. In: Walsh PC, Retik AB, Vaughan Jr ED, Wein AJ, Kavoussi LR, Novick AC, et al., editors. Campbell’s Urology. 8 ed. Philadelphia: Saunders; 2002. p. 2876-919. 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O carcinoma epidermóide (CEP) representa aproximadamente 95% das neoplasias do pênis; as restantes decorrem de metástases originadas em tumores de outros órgãos, os sarcomas e, muito raramente, melanomas. A ocorrência do CEP está ligada à presença de fimose, higiene inadequada e infecções virais (2, 3). DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO Pacientes com CEP apresentam, caracteristicamente, lesão ulcerada ou vegetante rebelde ao tratamento local que acomete inicialmente glande e/ou prepúcio e, com freqüência, tardam até por mais de um ano a procurar assistência médica (3). Figura 1 – Carcinoma epidermóide do pênis A única maneira de se confirmar o diagnóstico do tumor primário é por meio da biópsia. Na presença de fimose é necessária incisão dorsal do prepúcio para melhor exposição da lesão (4). Recomenda-se que a 235 biópsia seja feita preferencialmente na porção central da lesão e em profundidade (5, 6) (NE 3; GR B). Quanto à histologia, o CEP é classificado segundo o critério de Broders em 3 categorias (7): • bem diferenciado: 70% a 80% dos casos • moderadamente diferenciado • indifirenciado Avaliação da extensão local Exame físico O exame físico apresenta elevado valor preditivo positivo, sensibilidade e especificidade, sendo o principal método para avaliação da extensão local (6) (NE 3). Imagem A ressonância magnética (RM) pode ser utilizada, excepcionalmente, para avaliar tumores cuja extensão local não pôde ser determinada adequadamente pelo exame físico. A ultra-sonografia (US) também pode ser utilizada com esta finalidade, porém apresenta sensibilidade menor que a RM (6) (NE 3). Avaliação dos linfonodos regionais O método ideal de avaliação dos linfonodos regionais nos pacientes com CEP é ainda controverso. É difícil a diferenciação entre linfadenomegalia inflamatória reacional e metastática apenas pelo exame físico. Alguns especialistas recomendam o uso de antibiótico por 4 a 6 semanas após o tratamento da lesão primária com o intuito de tratar lesões inflamatórias, seguido de reavaliação (7). Exame físico Aproximadamente 50% dos linfonodos palpáveis não apresentam comprometimento neoplásico e, por outro lado, cerca de 20% dos pacientes sem acometimento linfonodal detectável à palpação apresentam metástases (8) (NE 4). Aspiração por agulha Biópsia por aspiração com agulha fina guiada por US pode ser empregada para melhor avaliação de micrometástases em pacientes sem 236 linfonodos palpáveis, porém apresenta baixa sensibilidade (39%), apesar da especificidade de 100% (9) (NE 2). Biópsia do linfonodo sentinela Cabanas (1977) propôs o conceito de linfonodo sentinela, em que um ou mais linfonodos localizados no quadrante supero-medial da junção entre a veia safena e a veia femoral seria o primeiro sítio de metástase do CEP (10). Estudos subseqüentes não mostraram os mesmos resultados, pois alguns pacientes apresentavam metástases iniciais em outros locais (11). Por esta razão este procedimento não tem sido recomendado como rotina (7) (NE 5; GR D). Figura 2 – Linfonodo sentinela (Cabanas) Linfocintilografia Consiste na injeção de rádio colóide ao redor da lesão peniana e posterior avaliação da região inguinal com um detector de raios gama. Para ser usado com o objetivo de diminuir o número de linfadenectomias o método necessita, ainda, de melhor padronização para a sua validação (12). Devido à baixa sensibilidade desses métodos o único processo confiável de avaliação dos linfonodos regionais é a linfadenectomia regional que pode, além de estabelecer o estadiamento, eventualmente curar lesões mínimas. 237 Avaliação de metástases à distância Pode ser realizada por meio de radiografia de tórax, tomografia computadorizada (TC) de abdome e pelve (7) (NE 5; GR D). A tomografia por emissão de pósitron (PET) acoplada ou não a tomografia computadorizada (PET-TC) é um método promissor, porém ainda em avaliação (13). ESTADIAMENTO Em 1966, Jackson propôs um sistema de classificação baseado em critérios anatômicos, ganhando destaque entre as demais classificações pela sua praticidade (14). I II III IV Figura 3 – Classificação de Jackson para carcinoma do pênis Atualmente, o sistema de estadiamento mais usado é o TNM revisado em 2002 (UICC) (15). Nesta nova classificação, o tumor primário é estadiado de acordo com as características histológicas e com uma descrição mais precisa da estrutura anatômica envolvida. 238 TRATAMENTO LESÃO PRIMÁRIA O tratamento mais indicado para a lesão primária do CEP é a amputação parcial ou total. Entretanto, devido ao seu caráter de mutilação, esforços têm sido realizados para encontrar alternativas que substituam o tratamento cirúrgico convencional, exemplificando - a cirurgia micrográfica proposta por Mohs, a radioterapia, o tratamento com laser e a criocirurgia. O fundamento mais importante quando utilizamos esses recursos é a completa excisão ou destruição do tumor primário. Tratamento cirúrgico Embora a amputação parcial com margem de segurança de 2 cm seja tradicionalmente utilizada, Argawal, após estudar os limites cirúrgicos em 64 pacientes, recomenda margens negativas de 1 cm para tumores graus I e II e de 1,5 cm para tumores grau III. Quando possível, devemos utilizar a biópsia de congelação para detecção de margens cirúrgicas livres 239 de doença (16) (NE 4; GR D). Pacientes com carcinoma verrucoso (Ta), carcinoma in situ (Tis), ou tumor epidermóide invasivo T1 no prepúcio, podem ser submetidos à excisão da lesão ou a postectomia. Quando o tumor é estádio T1 na glande ou T2 de localização favorável, o paciente é submetido à amputação parcial do pênis. Tumores T3 requerem amputação parcial ou total e tumores T4 amputação total com ressecção de todas as estruturas envolvidas. A amputação total, quando necessária, evita a permanência de cotos com riscos de recidiva e sem função sexual adequada, sendo sempre realizada avaliação histológica das margens cirúrgicas e uretrostomia perineal (16) (NE 4; GR D). Técnicas cirúrgicas conservadoras em pacientes altamente selecionados, podem apresentar resultados semelhantes aos da cirurgia convencional em séries isoladas (17) (NE 4; GR D). A cirurgia micrográfica Mohs, embora preserve tecido peniano apresenta índices de recorrência local entre 20 e 30% (18) (NE 1). A criocirurgia é outro tratamento ablativo que também pode ser utilizado em casos com pequenas lesões, principalmente o carcinoma verrucoso (19) (NE 5). Cirurgias complexas como desarticulações ou hemipelvectomias devem ser avaliadas com muito cuidadosamente, com a seleção criteriosa dos pacientes (7) (NE 5). Radioterapia Os tratamentos radioterápicos abrangem várias modalidades como radioterapia externa, intersticial e radiação por emissão de elétrons. O sucesso deste método nas lesões primárias é difícil de ser avaliado, pois são utilizados diferentes esquemas terapêuticos que variam desde o tipo de radiação ao tempo de exposição. Pelo menos 16% das lesões assim tratadas persistirão ou apresentarão recorrência (20) (NE 4). Os melhores resultados são obtidos em pacientes portadores de lesões superficiais. É pouco eficaz no CEP invasivo, pois a dosagem de radiação necessária para surtir algum efeito é alta, o que provoca complicações como fístulas, estenoses de uretra, fibrose e necrose penianas, edema e danos testiculares. A radioterapia é melhor indicada para pacientes com carcinoma in situ, após a falha na utilização tópica de 5-fluorouracil, em pacientes que não querem realizar a cirurgia padrão ou naqueles com tumores avançados e que não querem realizar amputação e em pacientes jovens com pequenos tumores superficiais exofíticos de localização distal. Deve-se realizar circuncisão antes do tratamento radioterápico, com a finalidade de melhor exposição da lesão e evitar edemas de prepúcio (7) (NE 5; GR D). 240 Laser Tem sua aplicação no tratamento das lesões benignas, pré-malignas e malignas nos estádios Tis, Ta, T1 e, eventualmente T2. Apresenta vantagens pois promove a destruição da lesão com preservação da função e da anatomia. Não deve ser utilizado em lesões grandes. Diferentes tipos de laser poderão ser empregados, cada um com características inerentes ao material usado para a emissão da radiação: – laser de CO2: promove vaporização tecidual com liberação de calor, não podendo ser utilizado em meio líquido; – Nd:YAG laser: pode ser utilizado em meio subaquático; – laser de argônio: apresenta absorção máxima em tecidos pigmentados com melanina e hemoglobina, podendo ser utilizado em meio líquido. O risco de recidiva local está relacionado com a categoria do T, com 10% de recorrências locais em tumores no estádio T1 e 32% em doença mais avançada (21) (NE 4). Windahl e Andersson combinam os laser de CO2 e Yag para tratamento da lesão primária do câncer de pênis com taxa de recorrência de 19% (22) (NE 3). Em conclusão, o tratamento com laser para as lesões primárias do pênis deve ser criterioso, pois só serão beneficiadfos pacientes com tumores no estádio inicial (7) (NE 5; GR D). A B Figura 1 – A: penectomia parcial; B: emasculação 241 Linfadenectomia A linfadenectomia inguinal bilateral está indicada nos pacientes com CEP em uma das seguintes condições: linfonodos inguinais palpáveis; tumores de alto grau (grau histopatológico II ou III); estadiamento local avançado (T2 ou superior). Nas outras situações não existe indicação precisa de linfadenectomia e os pacientes devem ser acompanhados regularmente (7) (NE 5; GR D). Pacientes com carcinoma verrucoso (Ta) não necessitam de linfadenectomia uma vez que não evoluem com metástases regionais (23) (NE 4; GR C). Outras opções terapêuticas, de menor eficácia, podem ser propostas para pacientes em más condições clínicas ou que recusem a linfadenectomia. Abordagem das áreas de disseminação metastática Existem controvérsias quanto à técnica, extensão e o momento da linfadenectomia inguinal após o tratamento da lesão primária. A maioria dos autores recomenda a abordagem bilateral das regiões inguinais uma vez que os linfáticos do pênis drenam para ambas as regiões por intercomunicações dos canais linfáticos do prepúcio, da glande e do corpo do pênis. Quanto à extensão da linfadenectomia há muita divergência. A tendência é a linfadenectomia inguinal superficial. Havendo possibilidade de exame histopatológico de congelação, este deve ser realizado e nos casos de infiltração neoplásica local procede-se à linfadenectomia profunda. A linfadenectomia ilíaca só é justificável para casos muito específicos, pois seu benefício terapêutico é discutível, uma vez que pacientes com acometimento desta região apresentam prognóstico reservado (7) (NE 5; GR D). A biópsia de linfonodo sentinela, pelo número elevado de falsonegativos, não é efetiva (10) (NE 4), como corroborado por dados do Instituto Nacional de Câncer (24) (NE 4). O mesmo pode-se dizer da biópsia de linfonodo com auxílio da linfocintilografia com injeção intradérmica peritumoral de tecnécio 99 (25) (NE 3). A linfadenectomia convencional não é isenta de morbidade (26) (NE 4), apesar de séries contemporâneas apresentarem índices aceitáveis de complicações (27) (NE 4). Para pacientes com linfonodos clinicamente negativos ou pouco aumentados uma opção é a linfadenectomia limitada proposta por Catalona (28) (NE 5), cujas vantagens sobre a técnica de Cabanas é a de remover todos os linfonodos potencialmente comprometidos. Apresenta como atrativo a redução de morbidade cirúrgica em 242 comparação com a linfadenectomia clássica. Porém, como também tem uma abrangência limitada, seus resultados são questionáveis (24). O momento da linfadenectomia também é motivo de debate. Sua realização precoce tem melhores taxas de sobrevida no caso de linfonodos comprometidos após 5 anos (29) (NE 4). Estes dados não nos permitem esperar para indicar a linfadenectomia bilateral nos casos de risco, pois a simples vigilância clínica não é capaz de detectar metástases a tempo de influenciar a sobrevida. A maioria dos autores preconiza intervalo de 4 a 6 semanas sob antibioticoterapia, após o tratamento da lesão primária para a realização de linfadenectomia, período necessário para que haja regressão de eventuais reações inflamatórias nos linfonodos inguinais (7) (NE 5; GR D). Por outro lado, devemos considerar que ao submetermos todos os pacientes sob risco à linfadenectomia, um número significativo de casos não terá benefício terapêutico pela inexistência de comprometimento neoplásico (7) (NE 5; GR D). Cirurgia paliativa higiênica A cirurgia paliativa é realizada em pacientes com CEP avançado que apresentam metástases para a região inguinal ou à distância. Estes pacientes apresentam linfonodos fixos ou ulcerados, uni ou bilateralmente, que devem ser ressecados juntamente com a pele a eles aderida resultando, muitas vezes, em grandes defeitos cutâneos que dificultam o fechamento da incisão operatória. Nestas condições podem ser empregados retalhos miocutâneos do tensor do fáscia lata que se caracteriza por conter tecido com boa mobilidade, cujo pedículo é constante, o que facilita sua implantação na zona receptora. Podem ser emepregados também retalhos abdominais e retalhos livres de pele (7). A dissecção inguinal paliativa nos pacientes que apresentam extensas metástases regionais tem merecido pouca atenção na literatura médica. Ocasionalmente, o desbridamento cirúrgico aliado a técnicas de reconstrução promove alguma paliação para pacientes com doença loco-regional avançada (30) (NE 5). Tratamento radioterápico das regiões inguinais De maneira geral, a região inguinal tolera mal os efeitos decorrentes de doses recomendadas de radioterapia, com riscos de linfedema, ulcerações e necrose local. Os resultados da literatura sugerem que a radioterapia profilática inguinal não altera o curso da doença (31) (NE 4). Além disso, a avaliação clínica da região inguinal após a radioterapia torna-se mais difícil, assim 243 como aumentam as complicações cirúrgicas se o paciente tiver que ser submetido a linfadenectomia subseqüente (32) (NE 4). Utilizada com intenção curativa em pacientes com metástases linfonodais, a radioterapia apresenta resultados inferiores aos da linfadenectomia. Seu uso adjuvante ou neoadjuvante tem sido proposto por alguns autores, mas o pequeno número de séries, bem como a morbidade decorrente da irradiação, não permite conclusões definitivas (33, 34) (NE 4). A radioterapia da região inguinal pode ser considerada, raramente, como tratamento paliativo em pacientes com linfonodos inoperáveis, objetivando aumentar o intervalo livre de complicações locais das metástases inguinais (7, 35) (NE 4; GR D). Tratamento quimioterápico sistêmico Vários esquemas de quimioterapia têm sido propostos com resultados variados, em diferentes indicações como doença metastática e/ou doença loco-regional no pré ou no pós-operatório (7). Não há, porém, tratamento quimioterápico padrão para o carcinoma de pênis, de acordo com as diretrizes internacionais, sendo esta modalidade terapêutica considerada como em avaliação (36), podendo ser tentada em alguns casos selecionados (37). Os pacientes com doença avançada podem ser divididos em três grupos: com doença metastática à distância (menos de 5% dos casos), com doença loco-regional inabordável cirurgicamente e com recidiva após tratamento primário. É importante a avaliação dos pacientes quanto ao estado geral, risco potencial para o desenvolvimento de eventos adversos e expectativas em relação ao tratamento. Aqueles em situação clínica mais precária podem beneficiar-se de cuidados de suporte clínico (nutricional, antibioticoterapia e analgesia) ou radioterapia localizada (7) (NE 5). Doença metastática à distância Pacientes em estádio TNM (14) T0-4 N0-3 M1 Doença loco-regional avançada Pacientes com estádio T4 N0-3 M0 ou T0-4 N3 M0. Os medicamentos citotóxicos avaliados até o momento, utilizados de forma isolada (monoquimioterapia), têm eficácia em 10% a 15% dos casos e benefícios de curta duração (3 a 4 meses), com toxicidade proporcional às doses utilizadas (38-40) (NE 3). Estes estudos são de pequena amostra e não permitem uma avaliação adequada dos efeitos da quimioterapia no longo 244 prazo. O uso seqüencial de agentes quimioterápicos isolados foi avaliado em um pequeno estudo (41). Os resultados deste sugerem que esta abordagem pode produzir respostas de 21% a 61%, parecendo não havendo resistência cruzada entre metotrexate, cisplatina e bleomicina (41) (NE 3). Não existem dados conclusivos que sugiram a superioridade das combinações sobre o uso convencional de bleomicina, cisplatina, 5-fluorouracil, metotrexate e mitomicina C. Entre as novas medicações o docetaxel parece ser a mais promissora, mas estudos ainda estão em andamento e não há resultados conclusivos. Relatos de casos isolados sugerem que a associação de radioterapia e quimioterapia, principalmente bleomicina, pode produzir resultados semelhantes aos da cirurgia em pacientes com grandes massas linfonodais inguinais (42) (NE 5) ou promover paliação mais adequada do que a radioterapia utilizada isoladamente (43-45) (NE 4). Recidivas após tratamento primário Os pacientes com recidiva sistêmica e com bom estado geral podem ser considerados para quimioterapia paliativa. Não há dados de literatura que justifiquem a ressecção de metástases. Deve-se considerar o tratamento cirúrgico radical associado a tratamento complementar com quimioterapia, nos casos de recidiva loco-regional não operados anteriormente. A radioterapia adjuvante ao tratamento cirúrgico comumente se associa a grandes linfedemas de membros inferiores e sua indicação, nestes casos, é muito limitada. A toxicidade dos esses esquemas quimioterápicos deve ser sempre considerada em relação ao benefício terapêutico. Em algumas séries, eventos adversos graves podem ocorrer em mais de 30% dos casos, inclusive com óbitos (46) (NE 5). Tratamento sistêmico pré-operatório (neo-adjuvante) Tem sido estudada a indicação para a quimioterapia pré-operatória para pacientes com bom estado geral e que apresentam linfonodos inguinais fixos ou tumor estádio T4 (36). A análise combinada de pequenos estudos com quimioterapia pré-operatória revela que mais de 70% dos pacientes apresentam resposta clínica e 65% de pacientes têm regressão tumoral suficiente para permitir a excisão cirúrgica radical subseqüente (47) (NE 3). Os esquemas mais estudados são os que combinam cisplatina e fluorouracil (48-50) (NE 4) cisplatina, bleomicina e metotrexate (51) (NE 4) ou cisplatina, metotrexate, mitomicina C e bleomicina (40). 245 Quimioterapia neo-adjuvante intra-arterial também pode ser uma opção de tratamento, porém são necessários estudos mais amplos para comprovação de seus efeitos quando combinada à cirurgia (52, 53). Tratamento sistêmico pós-operatório (adjuvante) O subgrupo de pacientes com mau prognóstico, caracterizado por comprometimento linfonodal bilateral, disseminação extra-capsular nos linfonodos, linfonodos >2 cm de diâmetro, envolvimento de linfonodos pélvicos ou mais de dois linfonodos comprometidos pode beneficiar-se de tratamento quimioterápico pós-operatório (54, 55) (NE 4). O quadro a seguir resume os principais esquemas quimioterápicos utilizados no CEP invasivo de pênis. 246 DIRETRIZES 1. O tratamento mais indicado para a lesão primária do CEP é a amputação parcial ou total (NE 4; GR C) 2. Em casos selecionados (Tis, Ta, T1G1 no prepúcio) a lesão primária pode ser tratada por métodos mais conservadores (NE 2; GR B) 3. Linfadenectomia inguinal bilateral está indicada nos casos de linfonodos palpáveis (NE 4; GR C) 4. Nos pacientes com linfonodos impalpáveis, a linfadenectomia inguinal bilateral está indicada nos casos de alto risco de comprometimento linfonodal (T1G2, T1G3, T2, T3, T4) (NE 4; GR C) 5. Pacientes com carcinoma verrucoso (Ta) não necessitam de linfadenectomia (NE 4; GR C) 6. Existe indicação de radioterapia nas regiões inguinais com finalidade paliativa em casos de tumores inoperáveis (NE 4; GR C) 7. Quimioterapia pode ser utilizada na doença metastática ou loco-regional avançada, associada ou não ao tratamento cirúrgico para pacientes selecionados (NE 4; GR C) 8. Em casos de neoplasia incurável, a associação de modalidades terapêuticas pode ser indicada com finalidade paliativa ou higiênica (NE 3; GR B) 247 ALGORITMO DE CONDUTA NA LESÃO PRIMÁRIA 248 ALGORITIMO DE CONDUTA APÓS O TRATAMENTO DA LESÃO PRIMÁRIA 249 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Culkin DJ, Beer TM. Advanced penile carcinoma. J Urol. 2003;170(2 Pt 1): 359-65. Brunini R. 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Quando a localização é glandar e superficial, a tendência é invadir o córion e progressivamente o corpo cavernoso e uretra. Os de origem prepucial infiltram a lâmina própria, dartos e pele e, por serem em geral superficiais e mais diferenciados, tendem a ser menos agressivos (2, NE2). A disseminação do CEP se faz preferencialmente por via linfática aos linfonodos inguinais, inicialmente superficiais e, a seguir, profundos. Disseminação para linfondos pélvicos e à distância sem comprometimento inicial das regiões inguinais é excepcional, assim como metástases originadas de disseminação hematogênica (3, NE 2). A extensão e localização desses tumores no pênis e principalmente o comprometimento dos linfonodos inguinais e/ou ilíacos tem relação significante com o prognóstico e sobrevida dos pacientes (4, NE 3). Os principais fatores prognósticos conhecidos do CEP estão relacionados no quadro a seguir: 254 Condições clínicas O estado geral do paciente, assim como co-morbidades influenciam na indicação terapêutica, resposta imunológica e, portanto, na evolução clínica. Pacientes em mau estado geral têm pouca tolerância a tratamentos invasivos e a quimioterapia sistêmica (5, NE 3). Estadiamento Como já referido, o comprometimento dos linfonodos regionais constitui o fator independente mais importante no prognóstico desses tumores, o que define a importância da sua avaliação criteriosa (4, NE 3). Pacientes com moléstia metastática à distância têm mau prognóstico e, raramente, sobrevida >1 ano. A maioria dos pacientes tem, inicialmente, doença restrita ao pênis (70%-80%), linfonodos inguinais infiltrados em 20% e menos de 5% têm doença sistêmica e metástases à distância. Se tratados precocemente, os pacientes com doença localizada têm bom prognóstico (3, NE 2). Um estudo envolvendo 13 pacientes com metástases linfonodais ilíacas, reconhecidamente fator de mau prognóstico, submetidos a linfadenectomias, verificaram melhor evolução naqueles que apresentavam apenas 1 linfonodo comprometido (5, NE 3). Este fato demonstra que o número de linfonodos comprometidos interfere na evolução da doença. Critérios anatomopatológicos Os tumores de pênis, de acordo com suas características histopatológicas e formas de apresentação são classificados: a) carcinoma epidermóide (SCC) (mais comum), b) carcinoma basalóide, c) carcinoma verrucoso, d) carcinoma sarcomatoso, e) carcinoma epidermóide da variante verrucosa (CVV) e f) carcinoma papilar (6, NE 2). Em relação às metástases regionais e sobrevida foram identificados 3 grupos: • bom prognóstico: verrucosos que, caracteristicamente, não apresentam metástases e as variedades papilares e epidermóides da variante verrucosa, que raramente as apresentam; • prognóstico intermediário: carcinoma epidermóide; • mau prognóstico: carcinomas basalóide e sarcomatóides, em geral invasivos e de alto grau, com incidência elevada de metástases e mortalidade. Estes últimos são muito raros (1%-2%) e acometem pacientes mais jovens (6, NE 2). O grau histológico é preditivo para envolvimento linfonodal. Segundo McDougal pacientes com tumor grau I, em 45% dos casos não 255 apresentaram metástases, enquanto a quase totalidade dos pacientes com tumores grau II ou III evoluíram para invasão linfonodal. Este autor, estudando 76 pacientes com CEP verificou que 43 pacientes com tumores indiferenciados ou invasivos apresentaram metástases inguinais, contra apenas um dos portadores de tumores bem ou moderadamente diferenciados (7, NE 3). Pompeo, estudando prospectivamente 50 pacientes com CEP encontrou relação estatisticamente significante entre maior graduação histológica e incidência de metástases. Detectou, concomitantemente, relação entre estádio cirúrgico mais avançado e invasão da lesão, bem como piora do prognóstico relacionada a maior número de linfonodos inguinais comprometidos. Pacientes com mais de 3 linfonodos comprometidos tratados cirurgicamente apresentaram 57,14% de progressão da doença contra nenhum com menos de 3 (3, NE 2). Há correlação entre o padrão morfológico de crescimento e a evolução dos CEP com 4 padrões principais (7, NE 2): • crescimento superficial: tumor plano, de padrão epidermóide bem diferenciado, invadindo a lâmina própria superficialmente. Corresponde a 1/3 dos casos e tem baixa incidência de metástases inguinais. Nos casos mais avançados pode apresentar nodulação com invasão de corpo cavernoso aumentando o risco de disseminação tumoral; • crescimento vertical: grande lesão ulcerada com padrão de crescimento sólido, ocorrendo em 20% dos pacientes. Habitualmente são tumores invasivos no corpo cavernoso com alto índice de metastatização; • verrucoso: cerca de 20%-30% dos tumores de pênis são exofíticos com crescimento lento, com 3 padrões histológicos: verrucoso propriamente dito, papilar e condilomatoso. Apresentam baixo índice de metástases. • multicêntrico: definido como 2 ou mais lesões separadas por tecido benigno. São tumores raros, sendo mais comuns no prepúcio e podem estar associados a líquen escleroso. Costumam recidivar localmente após ressecção da lesão primária, porém o índice de metástases é baixo. Emerson et al. estudaram 22 pacientes com CEP, tratados de 1989 a 1998, analisando a profundidade da lesão a partir da lâmina basal e a embolização vascular. A média de profundidade dos tumores metástaticos foi de 9,8 mm (10 pacientes) e verificaram, ainda, que tumores com espessura >6 mm desenvolviam metástases na maioria dos casos (6/7 pacientes) (8, NE 2). A dimensão do tumor primário, como fator independente, tem importância pouco definida do ponto de vista prognóstico. Este fato pode 256 ser exemplificado pelo baixo índice de metástases em tumores verrucosos de grande tamanho (9, NE 3). Os carcinomas verrucosos, quando comparados aos CEP, apresentam menos embolização linfática, metástase linfonodal e infiltração do corpo cavernoso (10, NE 3). Biomarcadores A proteína p53 é fator importante no prognóstico dos pacientes com CEP, pois quanto maior o número de núcleos corados para a proteína (p53+), maior a ocorrência de óbito (11, NE 3). O estudo da associação do CEP com infecção viral é Importante para a determinação da prevalência dessa combinação (vírus e tumor) e da possível influência deste genoma viral na apresentação clínica e características anatomopatológicas destas neoplasias. Estes tumores podem ter apresentação mais anaplásica quando associados à infecção viral, como demonstrado por alguns autores, que encontraram maior prevalência de tumores indiferenciados nos casos positivos para o HPV16 (12, NE 3). Esses dados são conflitantes, pois Wiener et al., estudando 29 pacientes com CEP invasivo encontraram positividade para a presença do HPV em 31%, não observaram diferença estatisticamente significante quanto à graduação histológica ou presença de metástases (13, NE 3). Os diversos tipos patológicos de CEP apresentam diferenças na prevalência de HPV. Assim, em displasias de alto grau ocorrem em até 90% e em 42% dos CEP (maioria – tipos basalóide ou condilomatoso) (14, NE 3; 15, NE 3). Os carcinomas condilomatosos apresentaram HPV em 45,5% dos casos, contra 26,7% nos pacientes com CEP clássico (10, NE 3). Por outro lado, os tumores sarcomatosos de pênis não mostram associação com o HPV (16, NE 4). Gil et al. observaram que a presença do HPV 16 nos tumores influenciou negativamente o prognóstico, pois de 9 pacientes positivos para o tipo 16, cinco morreram devido ao tumor, em seguimento médio de 31,6 meses, o que corresponde a 41,67% do total de óbitos, valores estes com significância estatística (17, NE 3). Lopes et al. estudaram 82 pacientes submetidos a penectomia e linfadenectomia inguinal bilateral considerando os seguintes fatores prognósticos: positividade para a proteína p53, presença do HPV, espessura do tumor, graduação histológica e embolização linfática. Concluíram que a presença de embolização linfática ou venosa, a positividade e grau de reatividade para a proteína p53 constituíram fatores independentes para 257 a presença de linfonodos metástaticos. Positividade para o HPV e p53 se relacionou a pior prognóstico (18, NE 3). SEGUIMENTO O regime de seguimento dos pacientes portadores de CEP não é padrão e deve ser adaptado às características tumorais. Destaque-se que em geral a aderência dos pacientes é difícil, pois a maioria destes originase de regiões distantes e tem baixo nível sócio-econômico. Assim, portadores de tumores verruosos podem ser seguidos a intervalos longos enquanto aqueles com neoplasias com histologia desfavorável e/ou estádios avançados devem ser avaliados com maior periodicidade, buscando detecção precoce de recidivas e, consequentemente, tratamento complementar. O quadro a seguir mostra o seguimento preconizado para a maioria dos CEP. 258 Na atualidade o tratamento do CEP busca não apenas a cura da neoplasia mas também a qualidade de vida. Com este objetivo a reconstrução peniana no seguimento tardio dos pacientes considerados curados é considerada empregando-se retalhos ou enxertos cutâneos. Objetiva-se o restabelecimento da imagem corpórea e também funcional, pois o emprego de próteses em pênis neo-formados pode permitir, inclusive, o relacionamento sexual próximo ao convencional. 259 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 5. 6. 7. 7. 8. 9. 10. Droller MJ. Carcinoma of the penis an overview. Urol Clin North Amer 1980;7:783-4. Young RH, Srigley JR, Amin MB. Tumors of the prostate gland, seminal vesicles, male urethra and penis: Armed Forces Institute of Pathology Fascicle, Third Series. Washington, DC: Armed Forces Institute of Pathology; 2000. Pompeo ACL. Linfadenectomia inguinal estadiada em câncer do pênis – Avaliação prospectiva de 50 pacientes. São Paulo, 1993. 124p. Tese (Livre Docência) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Horenblas S, Van Tinteren H. Squamous cell carcinoma of the penis. IV. Prognostic factors of survival: analysis of tumor, nodes, and metastasis classification system. J Urol 1994;151:1239-43. 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