MARQUES, A.F.; et al. 1 DIAGNÓSTICO DOS PROFISSIONAIS DA MERENDA ESCOLAR NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DA 10a CRE, ZONA OESTE DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO/RJ ANGELA FERREIRA MARQUES1 CLEIDE LAURA GONÇALVES1 NANCY DOS SANTOS DORNA CASTELO BRANCO2 EDILENE LAGEDO TEIXEIRA2 1. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq/UFRuralRJ, Discente do Curso de Economia Doméstica; 2. Professora do Departamento de Economia Doméstica do Instituto de Ciências Humanas e Sociais/UFRuralRJ. RESUMO: MARQUES, A.F.; GONÇALVES, C.L.; CASTELO BRANCO, N. dos S.D.; TEIXEIRA, E.L. Diagnóstico dos Profissionais da Merenda Escolar nas Escolas Municipais da 10a CRE, Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro/RJ. Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas, Seropédica, RJ: EDUR, v. 27, n. 1-2, p. 53-66, jan.-dez., 2005. O diagnóstico sobre o perfil dos profissionais da merenda escolar, foi realizado em 10 escolas pertencentes a 10ª Coordenadoria Regional de Educação do Município do Rio de Janeiro, pertencente a Zona Oeste, precisamente nos bairros de Pedra de Guaratiba, Santa Cruz e de seus sub-bairros Manguariba e Cesarão, no período de junho 2003. Preocupou-se em construir os cenários situacionais e perceptivos dos profissionais responsáveis pela merenda denominados: encarregado e do manipulador (merendeiro) da merenda escolar visando a melhoria da qualidade dos serviços junto ao programa de Alimentação Escolar. Esta construção foi realizada através de entrevistas e seus resultados foram apresentados de forma descritiva pela análise de conteúdo. Identificou-se que o encarregado de merenda não possuía formação técnica na área de alimentação e nutrição e maior percepção quanto à categoria valor nutricional, hábitos alimentares e necessidades básicas, estado nutricional e fisiológico dos alunos. Os merendeiros, de ambos os sexos, pertenciam a faixa etária de 41 a 50 anos, demonstraram maior conhecimento e melhor desempenho de atividades identificadas nas seguintes categorias: importância profissional, formação, boas práticas de higiene, produção, distribuição e aceitabilidade dos alimentos. Demonstraram maior percepção do fator de boas práticas de higiene, preparo, distribuição, destino de sobras, do lixo e aceitabilidade da alimentação escolar. Palavras-chave: Alimentação Escolar, Encarregado e Manipuladores de Alimentos, Cenário Situacional e Perceptivo da Merenda Escolar, Economia Doméstica. ABSTRACT: MARQUES, A. F.; GONÇALVES, C. L.; CASTELO BRANCO, N. dos S.D.; TEIXEIRA, E.L. Diagnosis of the school meal professionals in the 10 th CRE municipal schools, West area of Rio de Janeiro - RJ. Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas, Seropédica, RJ: EDUR, v. 27, n. 1-2, p. xx-xx, jan.-dez., 2005. The diagnosis of the school meal professionals profile was carried out in June, 2003, in 10 schools from the 10th Educational Regional Coordination of Rio de Janeiro, which are in the West area of the city, precisely in the wards of Pedra de Guaratiba, Santa Cruz and their sub-wards of Manguariba and Cesarão. This work was concerned about building up situational and perceptible scenes of the professionals in charge of the school meals; the diagnosis aimed the quality improvement of the services, together with the Scholar Feeding program. The development of the situational and perceptible scene was performed through interviews; the outcome was presented in a descriptive way by the contents analysis. It was identified that the professionals in charge of the meals did not have any technical knowledge of nutrition nor a greater perception in relation to nutritional values, food habits or basic necessities according to the nutritional or physiological state of the students. Both female and male school meal professionals, who were about 41 to 50 years old, have shown a better knowledge and performance in the following categories: professional matter, technical knowledge; good hygiene practices, destiny of garbage; production, distribution and acceptability of the scholar feeding. Key words: Scholar feeding, food manager, situational and perceptible scene of the school meal and home economy. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. Diagnóstico dos profissionais da merenda... 2 INTRODUÇÃO Em 2002, assistimos pela rede de televisão diferentes programas exibidos em horário nobre alertando sobre a má alimentação de alunos das escolas de ensino fundamental, entre crianças e jovens/ adolescentes, citando problemas decorrentes tais como obesidade infantil, hipertensão, etc. Apesar dos esforços da Educação, nada tem contribuído para reduzir o desejo pelo alimento proibido (hamburgues, eggs, etc). A idade escolar exige uma alimentação equilibrada para o desenvolvimento psicomotor, cognitivo, afetivo, cultural e social da criança. A educação alimentar pode esclarecer e propiciar a formação de novos hábitos alimentares. Mas, planejar as refeições com valor nutricional adequado não é o suficiente. É necessário também a aplicação de boas práticas de higiene, manipulação e de preparo de alimentos para garantir e manter a qualidade. Neste contexto, o estudo se justifica por poder identificar a estrutura organizacional relativa às funções dos profissionais responsáveis pela merenda, cujas infra-estruturas, objetivos, missões, relações etc, caracterizando suas necessidades essenciais, que constituem o que se chama de cenário situacional1, assim como identificar a percepção desses profissionais sobre suas funções desempenhadas, ou, sócioeconomicamente, por implicar a melhoria dessas funções no processo produtivo e na qualidade nutricional da alimentação escolar e da qualidade de vida dos seus consumidores; poder contribuir para novos conhecimentos nas áreas de estudos da educação, da Economia Doméstica para capacitação desses profissionais e propiciar o incentivo para melhoria da qualificação e valorização dos profissionais de merenda escolar, ou de um novo profissional a ser proposto. As respostas possibilitaram identificar o perfil dos profissionais de merenda escolar construindo os cenários situacional e perceptivo. As exigências para um bom estado nutricional passam sobretudo pela qualidade do alimento. O alimento pronto para o consumo requer conhecimentos que de forma direta e indireta irão interferir sobre a segurança alimentar de quem o consome. Com certa freqüência as toxinfecções envolvem com problemas digestivos um número considerável de pessoas, por terem consumido saladas com maionese, ou molhos contaminados devido a má manipulação. Muitas dessas contaminações podem ser evitadas, desde sua aquisição, passando pela recepção, inspeção, higienização básica (pessoal, dos utensílios e equipamentos, da matéria prima e do ambiente), armazenagem, pré-preparo e preparo e distribuição e destino do descarte e sobras, de maneira adequada (SANTOS, 1999). O manipulador de alimentos, neste caso específico, o merendeiro, precisa ter uma postura profissional que vá de encontro às ações e que percebam em seu ambiente de trabalho um exercício efetivo de suas funções enquanto profissional responsável no exercício de sua cidadania. Neste contexto o presente estudo objetivando identificar os perfis dos profissionais encarregado e manipulador de merenda escolar construindo os cenários situacional e perceptivo nas escolas de ensino fundamental do município do Rio de Janeiro, se preocupou com o seguinte questionamento: quem é o profissional que é responsável/encarregado e quem é o que manipula/prepara a merenda escolar no município do Rio de Janeiro; que funções lhes são destinadas e como as desempenham e percebem? 1 Termo utilizado como aquele cenário que se refere as realidades objetivas atuais, das relações e interrelações com o meio ambiente TEIXEIRA (1998). Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. MARQUES, A.F.; et al. MATERIAL E MÉTODO O presente trabalho é uma pesquisa de campo na linha quanti-qualitativa. Foram entrevistados, profissionais em 10 escolas municipais, de 105 escolas, pertencentes a 10ª CRE/RJ-RJ, em Santa Cruz (4 escolas) e Pedra de Guaratiba (3 escolas) e seus sub-bairros Cesarão (1 escola) e Manguariba (2 escolas). Essas foram selecionadas pelo interesse em participar da pesquisa, pela proximidade entre as escolas, facilidade de acesso e pela disponibilidade dos profissionais para responder a entrevista. A investigação buscou conhecer o Administrador/ encarregado que lida com a parte burocrática da merenda, num total de dez, e, o manipulador/merendeiro num total de 32 entrevistados. Percentagens e números absolutos foram usados para as respostas fechadas. A técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2002), foi aplicada para examinar as respostas abertas e os relatos espontâneos dos profissionais. Tabelas serviram de base para a análise descritiva para a construção da realidade objetiva (cenário situacional) com a identificação dos perfis dos profissionais responsáveis pela merenda escolar evidenciando as distorções e potencialidades, e, as realidades subjetivas (cenário perceptivo), com a identificação de como estes profissionais percebem suas funções e sugerem alternativas. Para isso se inspirou na abordagem quanti-qualitativa por considerar não somente questões objetivas, formuladas através de categorias. No caso dos encarregados de merenda estas categorias foram: importância da profissão; função exercida; planejamento de cardápio; clientela, aceitabilidade do cardápio, produção e armazenamento de gêneros alimentícios, para obter informações significativas sobre as necessidades vivenciadas pelos profissionais, definindo o cenário situacional. E o perceptivo foi sobre as atividades desempenhadas com informações positivas ou negativas segundo 3 as categorias: clientela, a escolha dos alimentos, preparação e fator nutricional para o planejamento do cardápio da alimentação escolar. As respostas assinaladas corresponderam pontos positivos que designavam boa percepção e o não assinalar, baixa percepção. Identificação do perfil do responsável pela merenda escolar evidenciando as distorções e potencialidades, e, as realidades subjetivas (cenário perceptivo), com a identificação de como estes profissionais percebem suas funções e sugerem alternativas. Para definir o perfil do merendeiro dos 32 profissionais, foram aplicados, por meio de entrevista, dois questionários com questões objetivas e subjetivas formuladas através de categorias como: identificação do perfil do merendeiro quanto ao sexo, idade e profissão. Importância da profissão de merendeiro, formação do merendeiro, avaliação quanto a higienização antes do armazenamento, destino de sobras, do lixo, armazenagem, refeitório e aceitabilidade da alimentação escolar para obter informações significativas sobre as necessidades vivenciadas pelos profissionais. E o perceptivo foi sobre as atividades desempenhadas com informações positivas ou negativas segundo as categorias. As respostas assinaladas corresponderam pontos positivos que designavam boa percepção e o não assinalar, baixa percepção. RESULTADOS E DISCUSSÃO A merenda escolar das Unidades Escolares do município do Rio de Janeiro é de responsabilidade do Instituto Nacional de Nutrição Annes Dias (INAD) através do Programa de Alimentação Escolar (PAE). As escolas servem merendas diárias que variam de lanches rápidos a refeições, conforme situações adversas que ocorrem durante o ano letivo. O planejamento e a compra dos gêneros alimentícios preparados e servidos são de responsabilidade do encarregado pela Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. 4 merenda que geralmente são diretores, professores entre outros. O Cenário Situacional - Perfis Profissionais do Encarregado de Merenda Escolar. a) Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE: Conhecido como ‘Merenda Escolar’ - Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), é o mais antigo programa social do Governo Federal na área da Educação, que repassa recursos para alimentar cerca de 37 milhões de estudantes do Ensino Fundamental por dia, durante os 200 dias do ano letivo (calendário escolar) (PNAE, 2002). Em muitas regiões brasileiras, a Merenda Escolar pode ser a única refeição diária das crianças que freqüenta a escola, podendo incentivar a permanência dessas crianças nos bancos escolares. De 1954 a 1993, o PNAE centralizava o gerenciamento. A partir de 1999, ocorreu a redefinição de funções e responsabilidades entre órgãos envolvidos no programa, significando a transferência da execução do PNAE do nível federal para os níveis estadual, distrital e municipal. Estes passaram a receber os recursos diretamente do Fundo Nacional de Desenvolvimento (FNDE) para a execução do programa, e os Estados, DF e Municípios foram denominados Entidades Executoras. O FNDE repassa os recursos para as entidades responsáveis pela execução do programa, destinado exclusivamente, à compra e distribuição de alimentos para alunos da educação Pré-Escolar e/ou do Ensino Fundamental, matriculados em escolas públicas e os alunos mantidos por entidades filantrópicas (PNAE, 2002). Os cardápios das escolas beneficiadas pelo PNAE estão sendo elaborados por nutricionistas, com a participação do Conselho de Alimentação Escolar - CAE, que devem respeitar os hábitos alimentares e característica agrícola regional, dando preferência aos produtos semi-elaborados e in natura. Diagnóstico dos profissionais da merenda... b) Os Responsáveis pela Merenda Escolar: A vivência profissional em cursos, oficinas e palestras desenvolvidas, desde 1994, junto às escolas municipais do Município do Rio de Janeiro, de Paracambi e atualmente em Itaguaí, pelos profissionais do Núcleo Interdisciplinar da Economia Doméstica e Ensino Fundamental-UFRRJ, tem demonstrado uma grande deficiência de técnicas de manipulação de boas práticas de higiene e saúde, segurança no trabalho por profissionais ligados diretamente à produção. É de responsabilidade do INAD o planejamento e as distribuições de cardápios, desenvolvimento de programas de alimentação e serviços. Neste contexto, as equipes destinadas ao serviço de alimentação escolar, precisariam de um programa de qualificação que envolva conteúdos, entre outros já mencionados acima. Segundo INAD, o PAE, envolve diversos órgãos e equipes da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, o próprio INAD, o Departamento Geral de Infra-estrutura, a Coordenadoria Regional de Educação, as Unidades Escolares (UEs), os Coordenadores da Alimentação Escolar e os Manipuladores de Alimentos que são responsáveis pela qualidade do atendimento. Neste programa, as UEs têm como atribuições básicas zelar pela segurança e conservação de gêneros alimentícios; verificar a qualidade dos alimentos; seguir as técnicas prescritas na ficha de preparação; distribuir refeições, seguir orientação de higiene pessoal etc, ajustar periodicamente o número de refeições preparadas à necessidade, evitando desperdícios. Diante disso junto as UEs o encarregado de merenda é coordenado e supervisionado pelo INAD nas escolas. Como responsável pelo PAE junto às escolas de ensino fundamental no Município do Rio de Janeiro, desempenha atribuições designadas pela Secretaria de Saúde/INAD, tais como: calcular o número médio de refeições por dia e turno para cada cardápio de acordo com a aceitação do Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. MARQUES, A.F.; et al. mesmo de acordo com a tabela do INAD; calcular as quantidades necessárias para o preparo dos cardápios, adquirir os gêneros alimentícios, através das firmas habilitadas, enviando às CREs os pedidos; orientar os manipuladores com procedimentos de estocagem e conservação, de boas práticas de higiene e manipulação; examinar a embalagem, data de fabricação, validade; observar o padrão de qualidade do produto; estocar gêneros adequadamente; verificar qualidade e atendimento dos fornecedores; preencher diariamente o mapa da merenda e entregar no prazo, mantendo acesso fácil. São orientados através de reuniões, palestras e cursos no INAD. Não é exigida nenhuma formação específica na área de alimentação e nutrição para exercer a função, mas exige-se, ser servidor lotado na Secretaria de Educação e na UE. Apesar do PNAE propor regionalidade e diversidade no cardápio, o cardápio é único para as diferentes regiões do município em suas escolas, não sendo permitido alteração do cardápio estabelecido pelo INAD. Segundo CASTRO & QUEIROZ (1998) e MEZOMO (1994) o planejamento de um cardápio consiste em elaborar orçamentos, prever as necessidades de pessoal para o serviço estabelecendo normas e rotinas, organizar cardápios calculando e determinando a quantidade de alimentos a serem preparados e servidos de acordo com a clientela a ser atendida. Para MEZOMO (1994), o administrador planeja e determina os objetivos gerais da instituição; coordena, visando estabelecer harmonia nos recursos humanos e materiais; dirige, para que as tarefas sejam executadas segundo o planejado e controla, comparando os resultados finais com os previstos, analisando acertos e erros para a melhoria do serviço. Sem uma formação específica, o encarregado de merenda pode sentir dificuldade em exercer a função, pois ao 5 planejar um cardápio, além do que já foi mencionado, o encarregado deve considerar segundo SILVA & BERNARDES (2001): fator nutricional dos alimentos, de acordo com a faixa etária da clientela a ser atendida; sabor, aparência e aroma, que propicia maior aceitabilidade da refeição, evitando desperdício. É importante ainda, ao elaborar o cardápio, analisar a clientela atendida quanto ao tipo de atividade que esta realiza, nível sócio-econômico cultural, hábitos alimentares, religião, origem, estado nutricional e fisiológico, idade, sexo, necessidades básicas, número de comensais a serem atendidos e expectativa de consumo da refeição planejada. c) O encarregado da merenda nas UEs entrevistadas: Dos profissionais encarregados da merenda escolar 100,0% não apontaram indicações que possuíam formação qualificada para planejar, supervisionar e administrar os serviços de alimentação coletiva. Normalmente são professores de formação básica ou de nível superior na área de licenciatura que possuíam o cargo de direção ou vicedireção, auxiliados por agentes administrativos da escola. Somente 50,0% dos profissionais demonstraram que recebiam treinamento através de reuniões e apostilas pelo INAD, mas 10,0% informaram que não existe um curso de qualificação para este cargo. A Tabela 1 demonstra que, o perfil do encarregado de merenda é prioridade feminina (80,0%) com idade acima de 31 anos e a maioria dos entrevistados (50,0%) se encontrava na faixa etária entre 41 e 50 anos. Eram em sua maioria professores II, com formação para o primeiro segmento do Ensino fundamental entre outros incluindo uma merendeira. Não foi identificado nenhum profissional qualificado ou especialista para exercer funções para alimentação coletiva. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. Diagnóstico dos profissionais da merenda... 6 Tabela 1: Idade, Sexo e Profissão do Encarregado da Merenda Escolar nas escolas Municipais da 10ª CRE. IDENTIFICAÇÃO Sexo N° Feminino 08 Masculino 02 Total 10 Profissão Merendeira 01 Auxiliar administrativo 01 Professor II 06 Professor I 01 Especialista em Educação 01 Total 10 Idade 31-40 anos 02 41-50 anos 05 51-60 anos 02 61 ou mais 01 Total 10 % 80,0 20,0 100,0 10,0 10,0 60,0 10,0 10,0 100,0 20,0 50,0 20,0 10,0 100,0 d) Visão sobre a sua função: Os 100,0% dos encarregados da merenda, afirmaram ter noção sobre a importância da função, com justificativas bem diferentes. Observouse que, 40,0% dos encarregados reconheceram a importância da função, mas não justificaram o porquê, ou não responderam. Dos 60,0% restante, 10,0% relacionaram uma boa alimentação à aprendizagem, e 10,0%, apontaram a contribuição para educação alimentar. Os demais pareceram direcionar a importância para fatores econômicos quando responderam “mexer com verbas públicas”, ou atribuir somente à responsabilidade quando 10,0% responderam “é a principal função da escola” ou “é de grande responsabilidade”. Isso pode apontar baixo entendimento sobre a verdadeira função do encarregado de merenda e suas conseqüências para a alimentação escolar. e) Encarregado da merenda e o desempenho das funções: Encontrou-se um baixo entendimento sobre as atribuições de cargo, quando 70,0% dos encarregados de merenda não designaram função às merendeiras, ou quando 28,5% apontaram que “as merendeiras se organizam”, e 14,3% responderam que há “revezamento”; “são funcionários especializados”; “não quiseram responder”; que “as manipuladoras fazem entre si um rodízio das atividades” e que “não sabiam que havia necessidade disso”. Dos entrevistados que justificaram precariamente o porque, 33,3% respectivamente responderam que “é uma equipe e cada um tem uma função”, ou “porque as merendeiras têm que ter conhecimento das suas atribuições básicas” ou “para melhor divisão do trabalho”. f) Pedido da alimentação para a merenda: Mesmo sendo a solicitação do pedido de alimentação escolar um procedimento normativo, foram apontadas diferentes respostas tais como: a alimentação escolar tem o seu pedido planejado sobre quatro (4) cardápios semanais, calculados o per capita e então preenchido um formulário que é apresentado a CRE, que encaminha os pedidos às firmas cadastradas por licitação pela Prefeitura. O que não ficou claro é quanto à data de entrega do pedido, quando 20,0% dos encarregados apontaram como prazo de entrega “...uma semana de antecedência”, ou quando 10,0% afirmaram que o prazo é de “...dez dias” ou outros 10,0% apontaram “...com antecipação de 15 dias e os gêneros são entregues na semana certa”. g) Função de recebimento de gêneros alimentícios: Quanto à função de recebimento dos gêneros alimentícios 70,0% dos encarregados de merenda informaram que recebem gêneros alimentícios. Todos os entrevistados demonstraram um baixo conhecimento sobre esta função quando, 71,4% que responderam afirmativamente “não responderam o porque”, ou quando 14,3% responderam que é para verificar se “estão de acordo com as características estabelecidas” ou os outros 14,3% somente para verificar “a qualidade”, como ações isoladas. E 30,0% não realizavam o Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. MARQUES, A.F.; et al. procedimento onde, 33,3% respectivamente, justificaram que “as merendeiras o fazem” ou, “existem outras pessoa para isso, já que sou secretária da escola” ou “nem sempre dá pra fazer duas coisas ao mesmo tempo”. h) Coordenação de atividades: Os encarregados demonstraram um baixo entendimento sobre a função de coordenar atividades, quando dos 70,0% que afirmaram sim, 71,4% não justificaram. Desses, 14,3% explicaram o porque, afirmando que “sem coordenação não existe satisfação e eficiência” ou limita-se à redução de desperdício quando responderam “para não ter problemas de sobra e para maior organização”, respectivamente. Dos 30,0% que confirmaram a não função, 33,3% justificaram que não coordenavam porque “as merendeiras se organizam e fazem rodízio” ou as merendeiras sabem das obrigações, só observo” e “As merendeiras são responsáveis por este aspecto”, respectivamente. i) Distribuição de merenda: Dos encarregados de merenda, 60,0% afirmaram participar da distribuição da mesma. Destes, 66,6% não justificaram sua participação. Isso aponta um baixo entendimento sobre esta função quando 16,7% destes, responderam que participaram da distribuição porém limitaram a sua função quando responderam “para que haja melhor disciplina” e para “organizar o horário das turmas”, respectivamente, ou 40,0% que negaram o acompanhamento da distribuição, 25,0% justificaram que “as merendeiras são responsáveis por este aspecto”; “não tenho tempo pois preciso ficar na Secretaria” ou ainda, quando afirmaram que acompanhavam a distribuição “somente no horário das refeições”, respectivamente. j) Observação e análise de aceitabilidade: Apesar da maioria dos encarregados de 7 merenda afirmarem que avaliavam a aceitabilidade das refeições, somente 10,0% justificaram, sem demonstrar muito conhecimento, quando responderam por exemplo que é “geralmente avaliados semestralmente”, ou que “para que não haja desperdício de gêneros alimentícios em quantidades inadequadas” ou ainda se limita na melhor das hipóteses “para avaliar o cardápio mais aceito pelos alunos”, respectivamente. Os que responderam que não (60,0%) justificaram que “as merendeiras repassam esta informação”. Nenhuma das respostas apresentou-se de forma aceitável “a aceitabilidade” de acordo com o proposto pelo PAE, quando se refere às diferenças regionais, sabor, etc. Cenário Perceptivo - Perfil Perceptivo dos Responsáveis pela Merenda Escolar - A importância sobre a identificação quanto à percepção dos profissionais com o desempenho de suas atividades, mostra sua relação com o mundo em que vive, podendo transformá-lo ou negligenciá-lo. Para os encarregados da merenda foram diagnosticadas as seguintes categorias: planejamento, preparação, coordenação na execução de cardápios da alimentação escolar. a) Percepção do encarregado da merenda sobre o planejamento do cardápio da alimentação escolar: Foram consideradas as seguintes categorias para serem decodificados: fatores básicos para planejamento do cardápio; clientela; seleção de alimentos quanto à qualidade; composição nutricional; variedade dos alimentos e aspectos físicos e técnicos para preparação dos alimentos. Ao planejar o cardápio, os encarregados da merenda escolar demonstraram uma alta percepção quando 100,0% valorizaram o fator nutricional e a aceitabilidade das refeições, e 70,0% apontaram o sabor, a aparência e o aroma como fatores importantes para o planejamento. Quanto ao fator diversidades sociais nenhum dos encarregados da Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. 8 Diagnóstico dos profissionais da merenda... merenda escolar demonstrou perceber como fator a ser considerado para o planejamento da merenda. Isso deve ser valorizado em treinamentos. destas categorias no planejamento de cardápios de forma adequada. Cenário Situacional do Merendeiro das Escolas da Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro. b) Percepção do encarregado da merenda escolar sobre a clientela, a escolha dos alimentos, preparação e fator nutricional para o planejamento do cardápio da alimentação escolar: Observou-se que, os encarregados da merenda escolar possuíam uma baixa percepção na categoria clientela quando por exemplo 100,0% não apontaram perceber a categoria religião ou 90,0% não perceberam o sexo, ou ainda 80,0% não perceberam a categoria tipo de atividade física, fator sócio-econômico-cultural e origem da clientela como fatores importantes para o planejamento do cardápio. Quanto à categoria escolha dos alimentos, os encarregados de merenda demonstraram maior percepção quando 90,0% apontaram a safra, percepção média quando 70,0% responderam a aceitabilidade dos comensais, por exemplo, como fatores determinantes para a escolha dos alimentos para compor o cardápio. Porém, menor percepção, quando 40,0% apontaram os hábitos alimentares, e baixa percepção na categoria preparação quando 50,0% apontaram técnica de preparo, 30,0% a forma e 40,0% a área física e disponibilidade de mão de obra para a preparação dos alimentos. Demonstraram alta percepção quando 80,0% dos encarregados apontaram, por exemplo, o número de refeições, o horário da distribuição, a textura, a cor e o sabor. Quanto às categorias composição dos alimentos e grupos alimentares quando 100,0% perceberam a importância das proteínas, carboidratos (categoria composição), das verduras e carnes (categoria grupos alimentares), e 90,0% apontaram leguminosas, os cereais (categoria grupos alimentares), por exemplo. É importante valorizar os sais minerais, frutas e líquidos e treinamentos, para que não haja detrimento O Cenário Situacional - Perfis Profissionais do Manipuladores/ Merendeiros da Merenda Escolar. A resolução da Secretaria Municipal de Ensino - SME Nº 418 de 26 de março 1991, delega aos diretores das Instituições como escolas/ CREs, CIEPs etc, a competência de selecionar pessoal de apoio. O cargo funcional de merendeira, está especificado pelo DECRETO Nº 3410 de 11/02/82-Diário Oficial 15/02/82 código 3.4.06.100 que atribui ao profissional, atividades de execução, relativas a trabalhos de preparação de merendas e outros alimentos para escolares, distribuir e arrumar mesas para refeição, zelar pelos mantimentos (segurança, higiene e conservação), verificar gêneros fornecidos, manter limpos os refeitórios, cozinhas e utensílios, controlar o total de merendas, pesar e medir ingredientes para confecção de merenda, executar quaisquer outros encargos semelhantes e freqüentar cursos. A escolaridade exigida para o cargo de merendeira é a 4ª série primária do 1º grau com regime de trabalho de 44 horas semanais. Segundo SILVA (1995), SANTOS (1999) para efeito da inspeção sanitária de alimentos, qualquer pessoa que entre direta ou indiretamente em contato com a produção, preparação, processamento, embalagem, armazenamento, transporte, distribuição e venda de substâncias alimentícias é considerada um Manipulador de Alimentos. Embora a contaminação dos alimentos possa ter várias origens, do plantio ao consumidor, a sua inadequada manipulação durante o armazenamento, o processamento e a distribuição, é uma das principais causas de disseminação de enfermidades de origem alimentar. Nessa situação, fica evidenciada a relação alimento, ambiente e manipulador de alimentos, que vem merecendo especial Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. MARQUES, A.F.; et al. atenção dos profissionais da área de Nutrição e de vigilância sanitária. O manipulador integra um pequeno universo de fatores que origina uma elevada proporção de enfermidades transmitidas pelos alimentos, pois seu estado de saúde e suas práticas higiênicas influenciam cada operação realizada. De acordo com CORRÊA & ANSALONI (2003) o merendeiro é o manipulador de alimentos que atua junto ao Programa de Alimentação Escolar - PAE com as funções normatizadas pelo Decreto nº 3410 de11/02/82, já mencionadas anteriormente. O Manipulador de Alimentos tem a função de selecionar, preparar, processar, embalar, armazenar, distribuir o alimento que ele prepara da melhor maneira possível, utilizando-se das técnicas de preparo adequadas, tendo uma boa higiene, seja ela com os alimentos, com o ambiente de trabalho e utensílios usados ou com a higiene pessoal SILVA, (1995) e SANTOS, (1999). A higiene na manipulação dos alimentos é uma prática necessária não só para a segurança do alimento preparado, mas também para o próprio manipulador. O uso de uniforme é um fator importantíssimo para a higiene pessoal do manipulador e sua segurança, e este deve estar sempre limpo. Os sapatos ideais são os fechados, de couro ou de borracha que permitem uma limpeza fácil. O manipulador, segundo BRAGANÇA (2000), deve manter as unhas aparadas, limpas e sem esmalte; não utilizar nenhum tipo de adorno (anel, brinco, relógio, etc.) para que não corra o risco de caírem nas preparações. Os cabelos devem estar limpos e protegidos por redes, toucas ou gorros; os homens devem estar sempre com a barba feita, caso não seja possível a sua retirada, usar máscara para evitar a queda 9 de pelos nas preparações. Na área das preparações é terminantemente proibido comer, fumar ou mascar chicletes. Este profissional deve ter em mente que as suas mãos são porta de entrada e saída de bactérias e outros microorganismos que fazem mal à saúde, conseqüentemente compromete a qualidade do alimento manipulado. Para isso, SILVA (1995), BRAGANÇA (2000) e SANTOS (1999) informam que lavar e desinfetar as mãos cuidadosa e freqüentemente, antes, durante e após a manipulação de todo e qualquer alimento, evita contaminações. Quando manipular alimentos cozidos ou que serão consumidos crus, faz-se necessário o uso de luvas, que devem ser descartadas após o uso. É importante informar que todo manipulador deve ser um profissional treinado e conscientizado, ao que se refere às contaminações dos alimentos, às práticas de medidas de segurança e de higiene e quanto à sua responsabilidade e importância enquanto profissional na produção de alimentos (BRAGANÇA, 2000). a) Identificação do merendeiro: Na Tabela 2, verificou-se que, dos 32 entrevistados somente dois (6,2%) são do sexo masculino. Todos têm a função de merendeiro junto ao PAE, embora apresentassem outras habilidades, quando 6,2% afirmaram ser copeiro e 3,1% apontaram ser servente readaptado. Todos afirmaram reconhecer a importância da função que exercem. Observou-se que, 43,5% dos merendeiros encontravam-se na faixa etária entre 41 e 50 anos. Todos trabalhavam com a produção de duas preparações, um almoço e um suplemento alimentar (copo de leite ou semelhante). Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. Diagnóstico dos profissionais da merenda... 10 Tabela 2: Identificação do Merendeiro quanto ao Sexo, Idade e Profissão. IDENTIFICAÇÃO Categorias Sexo N° Feminino 30 Masculino 02 Total 32 Profissão Merendeira 29 Copeiro 02 Servente readaptado 01 Total 32 Idade 25-30 anos 02 31-40anos 08 41-50 anos 14 51-60 04 61 – a mais 01 Não responderam 03 Total 32 % 93,8 6,2 100,0 90,7 6,2 3,1 100,0 6,2 25,0 43,8 12,5 3,1 9,4 100,0 b) Importância da profissão: Para avaliar a noção sobre a importância da profissão observou-se que, os merendeiros atribuíram sua função como uma forma de contribuir para a melhoria do bem estar e da aprendizagem quando responderam “Por trazer benefícios para as crianças”, ou, “Para os alunos estudarem concentrados e os funcionários trabalharem satisfeitos”, ou, “Eu ajudo de alguma forma no crescimento das crianças” ou ainda, “As crianças necessitam do alimento para poder estudar”. Demonstraram que existe uma relação entre merenda e freqüência quando apontaram “Sem minha função a escola não tem merenda, a escola não funciona”, ou, “A escola sem a merenda não existe”; “se acabar a merenda não tem escola”, ou, “...Somos muito úteis porque tem crianças que vem para a escola só por causa da merenda”. Isso demonstrou que o merendeiro apresenta uma boa contextualização de sua profissão na escola atual. c) Formação do merendeiro: Quanto a sua formação, 96,0% dos merendeiros afirmaram que possuíam alguma formação, embora 34,3%, não tenham apontado qual o tipo de formação. E os 34,3% que justificaram; responderam “sou concursada” como treinada ou habilitada; ou apontaram a formação através de curso de treinamento da prefeitura quando responderam “...estamos participando de palestras e seminários”, ou 3,1% só confirmaram que a formação é obtida “através de cursos da Prefeitura” (Tabela 3). Tabela 3: Avaliação da Formação do Merendeiro. Formação e Realização de curso Sim Não Total Justificativas de quem confirmou Sou concursada e fiz prova escrita e prática e participo de palestras seminários de atualização Estou me qualificando no dia a dia Fiz concurso Somos treinadas com palestra junto ao INAD Através da Prefeitura ensinam como checar o peso e melhorar a qualidade do preparo Não justificaram N° 31 1 32 % 96,9 3,1 100,0 11 34,3 02 01 6,2 3,1 03 9,3 1 3,1 12 34,3 d) Das boas práticas de higiene, prépreparo, preparo, distribuição e aceitabilidade dos alimentos: Sem as boas práticas de higiene, pré-preparo, preparo, distribuição e avaliação da aceitabilidade, o serviço de alimentação não existe. Embora 71,9% dos merendeiros tenham afirmado que procedem a higienização dos alimentos antes da armazenagem, 52,2% não justificaram os motivos que os levavam a realizar a higienização antes da armazenagem. Verificou-se que, 13,1% justificaram a importância desse processo antes da armazenagem quando afirmaram “Para manter os alimentos mais tempo conservados”; “...não se estraguem com rapidez” e “...maior conservação dos alimentos” e 8,7% responderam “... Porque evita contaminação”; “...a limpeza evita contaminação”. Já dos 25,0% que não realizavam a higienização, 37,5% não justificaram os motivos e 25,0% justificaram Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. MARQUES, A.F.; et al. suas respostas alegando que “Porque o alimento chega e é consumido no dia seguinte” e “não participo desta etapa”, respectivamente. Quanto às boas práticas de pré-preparo, preparo, de distribuição e aceitabilidade da alimentação escolar pelo merendeiro pode contribuir significativamente para a melhoria da qualidade do alimento, do ambiente das refeições e do aspecto final do prato pronto, 31,3% dos merendeiros demonstraram que tratavam da higiene do ambiente da alimentação escolar de maneira inadequada quando responderam “limpo duas vezes” ou quando 12,5% responderam, “limpo uma vez”, demonstrando um baixo grau de conhecimento sobre a importância da higiene ambiental sobre o alimento e a saúde e bem estar dos comensais e a própria saúde. Ao contrário dos que apontaram desenvolver a higienização de forma adequada, quando 18,8% responderam “limpo 3 vezes”, ou 6,2% “limpo 4 vezes”, ou quando 6,2% responderam “todas as vezes que estiver sujo” ou ainda 9,4% responderam “manter sempre limpo”. Quanto à presença de animais, 81,2% dos merendeiros afirmaram que não existe presença de animais na área de trabalho. Os merendeiros que confirmaram a presença de animais (18,8%), demonstraram que seu ambiente não respeita as boas práticas de higiene, pois é terminantemente proibida a presença de animais no ambiente de manipulação. No caso de presença de roedores e insetos, 90,6% apontaram que a prática do controle é realizada de forma adequada e que parece confirmar os serviços de controle realizado de seis em seis meses na escola. Quanto ao uso do uniforme de maneira aceitável quando na categoria vestuário, 84,4% dos merendeiros, responderam fazer uso do jaleco, 93,5% fazem uso de touca ou gorro, 96,9% fazem uso de avental e sapatos fechados conforme regras básicas das boas práticas de higiene. Porém, o uso das máscaras que protegem da contaminação do alimento e do ambiente por bactérias e 11 vírus (SANTOS, 1999 e BRAGANÇA, 2000), não foi demonstrado pelos 100,0% dos manipuladores o que conferiram um baixo conhecimento sobre a sua importância para a saúde da alimentação escolar. Quanto à categoria utensílios e equipamentos, 68,8% dos merendeiros demonstraram que usam “somente água e sabão”, sendo que o recomendado por SANTOS (1999) e BRAGANÇA (2000) é água, sabão e solução clorada para a retirada de sujidade e dos microorganismos. Mas foi um melhor resultado do que 3,1% dos merendeiros que apontaram um baixíssimo grau de conhecimento sobre práticas de higiene quando responderam só usar “água” para a higienização de utensílios e equipamentos. Quanto ao destino do lixo apresentaram um grau de conhecimento médio, quando 50,0% apontaram como alternativa correta o local do lixo “Dentro do espaço de preparação e tampado” ou quando 43,8% vêem como correto “Fora do espaço de preparação e aberto”. e) Da armazenagem da alimentação escolar: Nesta categoria somente 31 dos merendeiros indicaram onde são armazenados os produtos da alimentação escolar após o seu recebimento. Cerca de 93,6% dos merendeiros apontaram que as hortaliças são armazenadas em geladeira; as frutas em caixas/monoblocos (41,9%) ou em armários/estantes (45,2%); as leguminosas em caixas/monoblocos ou em armários/estantes (35,5%); as carnes no freezer (100,0%); os cereais (96,8%), os enlatados (93,6%), os laticínios (64,6%) e os ovos (64,5%), em armários/estantes. Isso demonstrou que há um bom conhecimento sobre as práticas de armazenamento dos alimentos escolares apontados pelo merendeiro. f) Das boas práticas de pré-preparo, preparo, de distribuição e aceitabilidade da alimentação escolar: As boas práticas de pré-preparo, preparo, distribuição e aceitabilidade da alimentação escolar pelo Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. 12 merendeiro podem contribuir significativamente para a melhoria da qualidade do alimento, do ambiente das refeições e do aspecto final do prato pronto. Os merendeiros possuíam maior conhecimento sobre os aspectos que afetavam a qualidade de um pré-preparo e preparo dos alimentos quando, por exemplo, 96,9% responderam “seleção dos alimentos” e “limpeza dos alimentos como fatores determinantes” e 90,6% apontaram “a limpeza do ambiente das preparações”. Talvez não esteja demonstrado este mesmo conhecimento quanto ao destino das sobras que poderiam ser melhor aproveitadas no combate ao desperdício e melhor economia quando 50,0% destinaram estas ao ‘lixo’. Mas, mantém este maior conhecimento quando a atenção é dada por 100,0% dos merendeiros às sobras e ao ambiente, 96,9% aos utensílios, e à aceitabilidade respectivamente. Cenário Perceptivo do Merendeiro das Escolas da Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro a) A percepção do merendeiro sobre fatores de boas práticas de higiene da alimentação escolar: Quanto ao ambiente de trabalho, presença de animais e insetos e roedores, foram mantidos os mesmos resultados que o cenário atual, pois não houve nenhuma mudança. Quanto ao uso do uniforme os merendeiros demonstraram maior percepção quando 100,0% apontaram a importância ao uso dos sapatos fechados, 97,3% apontaram o uso da touca ou gorro e 87,1% apontaram o uso do jaleco e do avental para a prática de manipulação da alimentação escolar. Porém, tem que ser dado maior atenção, ao uso da máscara, pois 100,0% dos merendeiros não demonstraram importância para o seu uso. Na categoria preparo dos alimentos, demonstraram maior percepção quando 100,0% apontaram como importante na preparação a limpeza dos alimentos e do ambiente, e 96,8% a seleção dos alimentos, e 90,3% a seleção dos utensílios, por Diagnóstico dos profissionais da merenda... exemplo. A atenção a ser dada nesta categoria é quanto a divisão de tarefas pois somente 29,0% dos merendeiros apontaram esta categoria como importante no preparo das refeições. Quanto à categoria melhoria no refeitório, demonstraram maior percepção quando apontaram o refeitório limpo e 87,1% o refeitório bem iluminado, e, 74,2% apontaram um ambiente tranqüilo. b) Percepção do merendeiro sobre sua contribuição para destino de sobras, do lixo, armazenagem, refeitório e aceitabilidade da alimentação escolar: Quanto à categoria de melhoria do destino de sobras e do lixo, recepção e armazenagem e aceitabilidade das preparações, 48,4% dos merendeiros demonstraram maior percepção quando apontaram como contribuição para a categoria destino de sobras “Doar para instituição carente, abrigo, asilos e presídio, doar para os funcionários que muitos as vezes não tem o que comer” e um baixo grau de percepção quando 35,6% apontaram para o destino das sobras, o indicado lixo. Quanto à percepção do destino do lixo, 32,3% dos merendeiros apontaram como o melhor destino “Fora da cozinha e embalado”, 29,0% reconhece que a localização interfere sobre a “Facilidade de higienização e limpeza do ambiente e também da armazenagem de dejeto” e 22,6% apontaram “Evitar a contaminação e proliferação de insetos e roedores para prevenir contaminações” demonstrando boa percepção nesta categoria. Quanto a sua contribuição para recepção e armazenagem dos alimentos, demonstraram maior percepção quando 51,6% apontaram ações como “Recebendo limpando e armazenando”; “Guardar em local próprio e Limpar, pesar a vasilha de armazenagem”; ”Acomodar os alimentos da melhor maneira possível, para que sejam conservados” e “Armazenando da melhor maneira”, práticas aconselhadas por SILVA (1995), SANTOS (1999) e CORRÊA & ANSALONI (2003). Quanto á melhoria do refeitório, Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. MARQUES, A.F.; et al. demonstraram maior percepção quando, 15,3% apontaram “Limpando e arrumando”; “Manter limpo”; “Conservar o refeitório” e “Ajudando a servir, limpar e arrumar”, 7,7% “Inspetores na hora da merenda para organizar” e ainda quando 5,1% sugeriram que “Orientando o aluno para colocar em ordem depois da merenda”. Por fim, no que se refere a influência na forma de preparo e aceitabilidade, 42,5% dos merendeiros demonstraram maior percepção quando entenderam que a melhor forma era “Seguir ficha de preparação e fazer com muito amor e carinho, com dedicação”; “Preparando da melhor forma possível”; “Sempre querendo perfeição” . CONCLUSÃO O diagnóstico dos profissionais responsáveis pela merenda escolar, demonstrou que no cenário situacional (atual), os encarregados de merenda não possuíam formação técnica na área de alimentação e nutrição, exerciam suas funções a partir da coordenação, orientação, treinamento e supervisão do INAD, Secretarias Municipal de Saúde e Educação; são professores, agentes administrativos ou até merendeiro(a) e demonstraram baixo conhecimento de suas funções quando responderam questões que objetivaram categorizar com maior ou menor entendimento sobre as funções exercidas tais como: reconhecimento sobre a importância profissional, pedido, recebimento, armazenamento, preparação e aceitabilidade de gêneros alimentícios da alimentação escolar, sobre a ação de coordenação dos merendeiros em suas atividades para garantir a qualidade da merenda escolar. Quanto ao cenário perceptivo, demonstraram maior percepção das categorias: fator nutricional das refeições, hábitos alimentares e necessidades básicas, estado nutricional e 13 fisiológico dos alunos e menor percepção das categorias: clientela, atividades físicas, fator sócio-econômico-cultural, hábitos alimentares, preparação dos alimentos e aceitabilidade. Neste cenário, os merendeiros de ambos os sexos, a maioria pertencente a faixa etária de 41 a 50 anos e como qualificação essencial a conclusão da 4ª série do primeiro grau, demonstraram maior conhecimento e melhor desempenho de suas atividades identificadas através das categorias: importância profissional, formação, boas práticas de higiene, de produção, de distribuição e da aceitabilidade dos alimentos. Quanto ao cenário perceptivo, os merendeiros demonstraram maior percepção das categorias: fator de boas práticas de higiene, de preparo, de distribuição, destino de sobras, do lixo e aceitabilidade da alimentação escolar. Percebeu-se neste estudo a necessidade de que na metodologia, seja dada ênfase, no aprofundamento, ampliando e dinamizando os conteúdos de forma que contextualizem a prática da merenda escolar, principalmente quanto ao uso adequado do uniforme e boas práticas de higiene durante o processo de produção RECOMENDAÇÕES O diagnóstico demonstrou que os encarregados da merenda escolar apontaram que o baixo conhecimento e percepção de suas funções junto à alimentação escolar pode ser causa da metodologia atual utilizada como treinamento em forma de reuniões e distribuição de apostilas. Sugere-se a modificação desta metodologia com aprofundamento, ampliação e dinamização dos conteúdos que deverão ser contextualizados, utilizando-se de carga horária para que o retorno seja de melhor qualidade do que o atual. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 53-66. Diagnóstico dos profissionais da merenda... 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. 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