Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Faculdade de Economia e Administração César Augusto Zocchio Mufarej RISCO, DESVIOS DA PDJ E POSSÍVEIS EXPLICAÇÕES DE ACORDO COM FUNDAMENTOS DA ECONOMIA BRASILEIRA São Paulo 2010 1 César Augusto Zocchio Mufarej Risco, desvios da PDJ e possíveis explicações de acordo com fundamentos da economia brasileira Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do Insper. Orientador: Prof. Dr. Artur Parente – Insper São Paulo 2 Mufarej, César Augusto Zocchio. Risco, desvios da PDJ e possíveis explicações de acordo com fundamentos da economia brasileira/ Cesar Augusto Zocchio Mufarej. – São Paulo: Insper 2010. 32 f. Monografia: Faculdade de Economia e Administração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Orientador: Prof. Dr. Artur Parente 1. PDJ 2. Prêmio de riso 3. Diferencias de juros 4. Mercado de câmbio 3 César Augusto Zocchio Mufarej Risco, desvios da PDJ e possíveis explicações de acordo com fundamentos da economia brasileira Monografia apresentada à Faculdade de Economia do Insper, como parte dos requisitos para conclusão do curso de graduação em Economia. Aprovado em Julho de 2010 EXAMINADORES ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Artur Parente Orientador ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Sergio Ricardo Martins Examinador ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. João Luiz Mascolo Examinador 4 Agradecimentos Agradeço a todos os professores, em especial meu orientador Artur Parente, além de todos os amigos e colegas que me apoiaram e me instruíram nessa jornada do conhecimento e crescimento pessoal que foi o curso de graduação em Ciências Econômicas no Insper. De fato foram momentos inesquecíveis que guardarei preciosamente em minha memória. 5 Dedicatória Dedico esse estudo aos meus mais importantes professores e tutores, que me incentivaram a sempre encarar o aprendizado como um ato prazeroso, meu pai e minha mãe. 6 Resumo MUFAREJ, César Augusto Zocchio. Risco, desvios da PDJ e possíveis explicações de acordo com fundamentos da economia brasileira. São Paulo, 2010. 32p. Monografia – Faculdade de Economia e Adiministração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa Esse artigo testa se desvios da PDJ para horizontes de tempo de longo prazo podem ser atribuidos ao prêmio de risco. Observamos que desvios da paridade de juros são correlacionados com medidas proxy de risco largamente utilizadas por analistas de mercado, o EMBI+. Ademais, foram encontradas evidências de que esses desvios da paridade podem ser explicados por um conjunto de variáveis maroeconômicas refletindo os fundamentos macroecômicos do Brasil e apetite dos investidores internacionais. Esse resultado mostra que formuladores de política econômica podem em parte contribuir para a redução do prêmio de risco por meio de uma redução na dívida pública sobre PIB e reduções na necessidade de pagamentos em moeda estrageira para pagamento de importações. Palavras-chave: PDJ, prêmio de risco, diferenciais de juros, mercado de câmbio 7 Abstract MUFAREJ, César Augusto Zocchio. Risk, UIP deviations and possible explanations according to Brazilian macroeconomic fundamentals. São Paulo, 2010. 32p. Monografia – Faculdade de Economia e Adiministração. Insper Instituto de Ensino e Pesquisa This paper tests if long horizon UIP deviations can be explained by risk premium. We observed that interest rate parity deviations are significantly correlated with proxy risk premium measures such as EMBI+ for Brazil. Moreover, we found evidence that these deviations can be explained by a set of macroeconomic variables reflecting Brazilian economic fundamentals and a measure of risk aversion from international investors. These results show that policy makers are able to partially contribute to the reduction of risk premium through reduction in public debt to GDP ratio and required foreign exchange payments for imports. Keywords: UIP, risk premium, interest rates differentials, exchange rate fluctuations 8 Sumário 1- Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10 2- Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 3- Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16 4- Resultados esperados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18 5- Resultados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20 6- Conclusões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 9 Lista de tabelas Tabela 1 – Variáveis e sinais esperados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Tabela 2 – Variáveis e Resultados observados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Lista de figuras Figura 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Figura 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 10 1- Introdução A recente evolução e estabilização das políticas econômicas, acompanhada da maior integração dos mercados financeiros forneceram os incentivos para a mudança na percepção da comunidade financeira quanto à credibilidade e segurança da economia brasileira. Nesse sentido, após dez anos da introdução das metas de inflação, e a consequente condução mais harmônica de política monetária, se mostra interessante analisar quantitativamente desvios da da relação entre taxas de câmbio e diferenciais de juros, ou melhor, a paridade descoberta de juros (PDJ), para a economia brasileira, levando em conta o risco associado à ela. Há uma extensa literatura testando a validade da PDJ tanto para economias centrais quanto para países emergentes. Em geral, e principalmente para horizontes mais curtos, a proposição falha na tentativa de relacionar variações nas taxas de câmbio única e exclusivamente pela diferença das taxas de juros oferecidas em papéis ou títulos governamentais. Artigos como Froot and Thaler (1990) encontraram resultados contrários ao esperado. Estimando os parâmetros do modelo de regressão com base em dados 75 países as estimativas geraram um coeficiente de regressão médio de -0,88, enquanto o esperado seria um valor unitário. Para o Brasil o estudo de Flood and Rose (2002) estimou um coeficiente de paridade de 0,19, tendo ao menos o sinal esperado para a regressão. Mesmo que intuitivamente a paridade de juros ofereça uma explicação lógica e simples pelo fato de se basear no princípio de arbitragem, variações na PDJ podem ser explicadas por custos de transação, assimetria de informações e risco associado aos fundamentos da economia. As premissas de neutralidade de risco e de igualdade de ativos se mostram muito forte, pois de fato os fundamentos e instituições de países diferem, consequentemente, a percepção de risco dos investidores quanto ao default da economia também. Chinn and Meredith (1998) e MacCallum(1994) mostram que especialmente no curto prazo desvios da PDJ são explicados pelo risco. Enquanto outros estudos como Chinn and Meredith (2005) analisam a paridade de juros e o prêmio pelo risco para horizontes mais longos e obtêm resultados mais positivos com sinais de coeficientes mais próximos dos valores previstos. O modelo de paridade de juros incluindo risco é largamente conhecido na comunidade financeira internacional e muito utilizado em modelos econômicos. O próprio Banco Central do Brasil utiliza esse conceito em seu modelo de previsão de taxas de câmbio e na tomada de decisão para política monetária. Muinhos et al. (2001) apresentam a metodologia do modelo 11 baseado na PDJ em que o risco é modelado seguindo um processo auto-regressivo, dependendo de uma variável exógena mais abrangente e da necessidade de financiamento do Brasil em porcentagem do PIB. Outras instituições financeiras internacionais também se dedicaram a mensurar o prêmio pelo risco de países emergentes, como o Brasil. O índice EMBI+ formulado pelo J. P. Morgan1 representa uma medida de risco de default específica para uma lista de países. Sendo que é consenso que as medidas de risco têm grande impacto na formulação de opinião por parte dos investidores internacionais. Quanto aos fatores que influenciam as expectativas dos investidores, as análises efetuadas pelas agências de rating influenciam a credibilidade dos países e consequentemente o direcionamento de recursos. No escopo de sua análise eles podem aconselhar a aplicação nos títulos do país em questão, e isso é realizado ao incluir o determinado país no nível de grau de investimento. Nesse sentido, os critérios de avaliação utilizados pelas agências de mensuração de risco devem ser variáveis robustas para analisar o prêmio pelo risco, pois além de ter uma relação com os fundamentos da economia, têm um papel influente no controle das expectativas do mercado. No Anexo 1 apresenta-se os indicadores base para mensuração do risco pelas agências de rating. Cumprida a revisão e análise do tema proposto podemos traçar o objetivo do trabalho: i) testar os desvios da PDJ como correspondentes ao risco, ii) verificar a previsibilidade do risco de acordo com os fundamentos da economia e condições da economia global. O artigo segue a linha de análise apresentada em Ferreira(2009) que faz uma análise da PDJ com base nos fundamentos para um horizonte de 3 meses e Muinhos et al. (2001) que apresenta a metodologia de previsão de taxas de câmbio do Banco Central também com base na PDJ. No entato, utiliza-se um conjunto de variáveis fundamentais diferenciado e uma metodologia de estimação mais coerente com a nossa amostra, como será demostrado na próxima sessão. Estamos também utilizando um período de maturidade mais longo, de 1 ano, pois, de acordo com as conclusões obtidas em outros trabalhos como em Chinn and Meredith (1998, pp. 17): “Over longer horizons, the temporary effects of risk premium shocks fade and the model results are dominated by other dynamics that are consistent with the UIP hypothesis”. Sendo assim, utilizando um modelo da paridade de juros incluindo o risco e testando-o para um horizonte mais longo, teoricamente existe uma maior probabilidade dos 1 “The EMBI+ is a market capitalization-weighted index. Only issues with a current face amount outstanding of $500 million or more and a remaining life of greater than 2 1/2 years are eligible for inclusion in the index. Index returns are available hedged or unhedged in a variety of currencies.” Fonte: J. P. Morgan 12 resultados serem significativos para prever movimentos nas taxas de câmbio, já que no longo prazo essa outra dinâmica citada no trecho pode ser explicados pelos fundamentos econômicos, e estes desempenham um papel importante na determinação da paridade de juros e consequentemente na composição e previsibilidade do risco. 13 2- Metodologia Inicialmente se mostra interessante mostrar os conceitos por trás da paridade descoberta de juros. Começamos com o modelo básico baseado no princípio da arbitragem, a paridade coberta de juros (PCJ). O argumento por trás desse modelo se baseia no príncipio da arbitragem, os diferenciais de juros são iguais aos diferenciais de câmbio no equilíbrio pois em caso negativo existem oportunidades de ganhos financeiros sem risco. Sendo assim, o diferencial das taxas de juros vigentes em títulos governamentais nacionais e no exterior devem no equilíbrio corresponder a variação percentual da taxa de câmbio para as moedas dos países em questão. (1) Acima, e é a taxa de juros exigida em um título doméstico espirando em k períodos a taxa de juros exigida em um título estrangeiro correspondente, moeda estrangeira em moeda local observada no período t e contrato futuro de representa o preço da é o valor corrente de um para k períodos. A equação (1) supõe neutralidade de riscos, independendo das preferências do investidor. Porém, como observado em diversos artigos como em Engel (1996), como os investidores são majoritariamente avessos ao risco o valor observado no futuro pode não ser o mesmo da taxa spot esperada devido à custos de transação, assimetria de informação e primordialmente ao risco implícito na operação. Dessa forma, o risco pode ser definido como: (2) ( Substituindo equação (2) na (1) temos a relação de paridade de juros incluindo o prêmio pelo risco. (3) A PDJ representa essa equação considerando que o prêmio é zero, porém não estamos assumindo neutralidade de risco nesse trabalho. A equação (3) não é diretamente testável pelo fato de não haver dados sobre as expectativas quanto aos movimentos futuros na taxa de câmbio, por isso geralmente a PDJ é testada conjuntamente com a hipótese de expectativas racionais (re), de maneira que os valores esperados hoje quanto às taxas de câmbio futuras mais um ruído branco ( ) irão representar os valores de . (4) 14 Engel (1996) trouxe evidências de que pode ser entendido como o risco país da paridade de juros, se os fatores explicativos de forem relacionados com o que a teoria prevê. Sendo que podemos considerar o prêmio pelo risco como resultante de fatores específicos relacionado ao país e ao risco de câmbio. (5.1) (5.2) Em que representa o risco de default do país em questão, associado às variações cambiais e representa o risco representa o risco político. Alper et al. (2009) apresenta essa decomposição do risco para desvios da PDJ baseada no spread de títulos emitidos em moeda local ou estrangeira (risco cambial), pelo spread de acordo com jurisdição (risco de default) e origem do título (risco político). O objetivo aqui é analisar os componentes do risco fazendo uma distinção entre risco diretamente associado aos fundamentos da economia e o risco sistemático, não relacionado com as condições do país, nesse caso, vamos utilizar o risco de default e o risco político somente como uma variável, como mostrado na equação (5.2), estabelecendo de acordo com a teoria econômica os dois componentes de risco em foco nessa análise. Rearranjando as equações (3), (4), e (5.2) temos a equação de paridade de juros incluindo os componentes de risco. (6) Substituindo o risco por temos: (7) A seguinte regressão será utilizada para testar os desvios da PDJ e os componentes do prêmio de risco conjuntamente com a hipótese de expectativas racionais: (8) (9) Considerando que segue um processo autoregressivo como observado por outros autores, além de depender de F variáveis fundamentais, mais , erro que segue as 15 propriedades clássicas da estatística. A premissa do modelo é que o prêmio de risco, , pode ser explicado pelas variáveis fundamentais da economia. Suposição que iremos testar nesse trabalho. Quanto ao método de estimação para a equação (9) utilizaremos a metodologia mais adequada de acordo com os procedimentos estatísticos e estudos similares sobre o tópico. Chinn and Meredith (1998) utilizam o método dos momentos generalizado para estimar a equação de paridade de juros. Porém, como nesse estudo estamos trabalhando com uma base de dados muito menor, não seria recomendável a estimação por momentos, sendo assim, adotaremos o método dos mínimos quadrados ordinários (MQO). A equação (9) que se baseia nos resultados da equação (8) será estimada por MQO, como visto em Muinhos et al. (2001) e outros autores. 16 3- Dados Como observado anteriormente o objetivo é testar desvios da PDJ para horizontes mais longos, ao longo dos quais, teoricamente, os fundamentos desempenham um papel mais importante na composição do risco soberano. Vamos utilizar dados dos EUA e Brasil, utilizando títulos de horizonte igual a um ano. Para o Brasil os dados de juros serão a taxa swap DI pré-fixada, e para os EUA a 1-Year Treasury Constant Maturity Rate, ambos serão transformados de valores em porcentagem para decimais. Com relação as dados de câmbio para os dados spot será utilizada a cotação do Real/Dolar e para os dados futuros (que devem ser consistentes com o período de duração dos títulos) o dólar futuro R$/US$ com vencimento em 1 ano. Os dados do EMBI+ para o Brasil, um índice baseado em taxas de juros de títulos de divida sobera, são elaborados pela J. P. Morgan e obtidos pelo Bloomberg, a série original foi dividida por 10000 a fim de obtermos uma medida comparável às medidas de taxas de juros. O período da amostra depende da disponibilidade de dados de câmbio futuro, que é de 11/2001 até 12/2009. O primeiro passo para o início da análise será testar a paridade de juros com o índice EMBI+ como realizado em Ferreira (2009) com o intuito de verificar se o que estamos chamando de prêmio de risco, efetivamente tem uma correlação com parâmetros que investidores e analistas de mercado utilizam para mensurar o risco. Feito isso, o próximo passo consiste na estimação de um modelo relacionando o prêmio de risco, representado pelos desvios da paridade de juros, com fundamentos macroeconômicos. Analisando o comportamento do mercado internacional em relação ao risco país podese extrair duas variáveis distintas, o risco específico para o país e um risco sistemático não relacionado com as condições do país, um medidor do grau de aversão ao risco do investidor internacional mediano, determinado pela liquidez e condição da economia global. Uma proxy já largamente utilizada pare medir a percepção de risco, é o diferencial das taxas de juros de títulos empresariais americanos de primeira linha com rating elevado, contra os chamados títulos “junkies”, de empresas americanas com rating baixo. Utilizam-se títulos americanos pelo fato de ser o mercado mais líquido e consequentemente proporcionar uma eficiência maior na análise. A lógica por trás dessa medida está no risco relativo dos títulos, de maneira que, ao extrair um diferencial dos melhores e piores títulos do mercado, consegue-se observar um valor para o risco implícito de mercado. Quanto maior for o spread entre os títulos menor será a aversão ao risco do mercado. A fundamentação desse procedimento pode ser visto em Fisher (1959) e Sloane (1963). 17 O risco específico da economia brasileira será determinando por variáveis chave do ponto de vista macroeconômico, que têm grande relevância com a “saúde” da economia brasileira e com sua respectiva capacidade de pagamento, sendo elas por exemplo: déficit público e em conta corrente, reservas internacionais e necessidade de financiamento. Será utilizada uma combinação dos dados incluídos no modelo do Banco Central Brasileiro exemplificado em Muinhos et al. (2001), em Ferreira (2009) e de acordo com informações contidas no Anexo 1. O objetivo geral em termos das variáveis macroeconômicas é cobrir os principais pontos relacionados à solvência e liquidez da economia brasileira, medidas que representem o setor real tanto interno quanto externo e uma medida de aversão a risco dos investidores não correlacionada com o desempenho da economia em questão. O conjunto final de variáveis é apresentado na seção seguinte. 18 4- Resultados Esperados Com base nos artigos citados como fundamentos para esse estudo e de acordo com a teoria macroeconômica, podemos fazer algumas inferências a respeito do comportamento esperados das variáveis macroeconômicas em questão. Em uma análise preliminar mostra-se o sinal esperado em relação aos desvios da PDJ das variáveis macroeconômicas mais relevantes que, de certa maneira refletem a liquidez e solvência, crescimento real da economia e choques internacionais. Tabela 1 Variáveis e sinais esperados das variáveis fundamentais em relação aos desvios da PDJ Variáveis Déficit em conta corrente sobre PIB Sinal esperado Racional econômico2 Aumento do déficit em Positivo conta corrente aumenta as obrigações financeiras Aumento na razão de déficit Déficit público sobre PIB Positivo público indica piora na saúde financeira Importações sobre reservas internacionais Reservas Internacionais sobre PIB Aumento na razão gera Positivo estrangeiro Negativo Necessidade bruta de financiamento sobre reservas maior necessidade de capital Aumento das reservas indica saúde financeira Aumento na razão é um Positivo internacionais indicador de piora na capacidade de pagamento Aumento da taxa de Desemprego brasileiro Positivo desemprego gera piora da demanda interna Aumento da taxa de Desemprego americano Negativo desemprego gera piora na demanda externa Variação da inflação doméstica 2 Positivo Considerando que não haja impacto de outras variáveis (ceteris paribus) Aumento do risco financeiro doméstico 19 Variação da inflação americana Positivo EMBI+ Brasil Positivo Spread de títulos de primeira linha e junkies (Baa spread) Aumento do risco estrangeiro Medida de risco de default Menor spread sinaliza Positivo Fonte: Ferreira (2009) e Muinhos et al. (2001) Elaboração própria otimismo do mercado 20 5- Resultados Primeiramente tem-se como objetivo analisar se os chamados retornos em excesso (desvios da paridade de juros) podem efetivamente ser entendidos como um prêmio pelo risco da economia brasileira. Os gráficos 1 e 2 mostram desvios da PDJ utilizando um período de maturidade de 1 ano, descrito pela equação (10) e o EMBI+ para o Brasil, respectivamente. De fato, a análise da correlação cruzada, apresentada no anexo 3 indica a presença de uma correlação contemporânea da ordem de 0,8 e uma persistência da correlação para mais defasagens (lag e lead), mostrando que os retornos em excesso são positivamente influenciados quando há uma percepção maior de risco acerca da economia, nesse caso o EMBI+. Complementarmente, o comportamento da variável desvios da PDJ se mostra mais errático do que o EMBI+, o que é esperado considerando que os dados de mercado, principalmente para câmbio são muito mais influenciados por choques econômicos e reversão de expectativas. Em Bahr et al. (2004) é mostrada uma relação significante e positiva entre desvios da paridade coberta de juros e aumento da volatilidade das taxas de câmbio. 3 (10) Desvios da PDJ 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 Desvios da PDJ 0,1 0 -0,1 Figura 1 Fonte: Banco Central do Brasil, Federal Reserve. Elaboração Própria 3 é calculado como ( , ou seja, para poder ser relacionada com os diferenciais de juros a variação cambial deve estar em igual medida, nesse caso, percentual. 21 EMBI+ Brasil 30% 25% 20% 15% EMBI+ Brasil 10% 5% 0% Figura 2 Fonte: J. P Morgan, Bloomberg. Elaboração Própria A fim de avaliar a relação empírica entre os desvios da PDJ e o EMBI+ para o Brasil testamos a hipótese de correlação, através de uma regressão simples pelo método MQO. (11) Estimando os parâmetros da regressão obtivemos o seguinte resulado: (12) Temos uma variável positiva e sigificativa em relação aos desvios. O p-valor, em parênteses, é proximo de zero, validando a significância da variável. A constante se mostrou não significativa, portanto foi retirada da equação. No anexo 2, apresentamos o resultado da regressão no software Eviews juntamente com um teste de cointegração, já os testes ADF, ver Dickey and Fuller (1979), são apresentados no Anexo 4. Como para ambas as séries não foi possivel rejeitar a hipótese de raiz unitária no teste ADF, foi necessário torná-las estacionárias, como demonstrado em Campbell and Perron (1991). Já o teste de cointegração proposto por Engle and Granger (1987), calculado por meio de um teste ADF dos resíduos da equação (12) ainda utilizando uma correção nos valores críticos do teste de acordo com a tabela presente em Enders (2004), já que a estimação por MQO leva à rejeição da hipótese nula com uma frequência maior do a que devida, pode-se 22 inferir que não é possivel rejeitar a hipótese nula, evidenciado a existência de cointegração nas séries de desvios da PDJ e EMBI+ para o Brasil. O resultado igual a zero e um positivo do ponto de vista econômico intuitivo se mostra bastante coerente com a teoria da PDJ. Efetivamente estamos provando que os retornos em excesso da paridade podem ser explicados pelo risco de default, consolidando a tese de que o risco é um dos principais componentes dos desvios da paridade. O objetivo agora dentro do escopo desse trabalho é tentar identificar as principais variáveis fundamentais, pelo menos as mais relevantes economicamente para as variações nos desvios da PDJ. Todos os dados fundamentais estão em medidas comparáveis com os desvios da paridade de juros, em porcentagem. A transformação logarítimica das séries desse trabalho, mesmo sendo a metodologia mais usual não foi adotada pelo fato de não ser capaz de transformar valores negativos, esses presentes na série construída a partir da PDJ. De acordo com Engel (1996) e como observado em Alper et al. (2009) os desvios da paridade considerando igual a zero e um igual a 1, na equação (8), podem ser explicados pelo prêmio de risco. Seguindo essa premissa, as variáveis macroeconômicas listadas na Tabela 1 irão explicar o , prêmio de risco calculado na equação (10). A análise será feita por meio da estimação de um modelo, considerando a validade da PDJ e das expectativas racionais, além de todas a propriedades clássicas da estatística para o erro. Quanto à estacionariedade das séries temporais, foi realizado o teste ADF para todas as variáveis e os resultados são apresentados no Anexo 4. Todas as séries, exceto o déficit em conta corrente sobre PIB e variação de inflação para o Brasil e EUA, se mostraram não estacionárias, não sendo possível rejeitar a hipótese nula de raiz unitária em um nível de significância de 10%. Sendo assim, foi necessário torná-las estacionárias, diferenciando-as a fim de se estimar corretamente o modelo da equação (9), conforme demonstrado em Campbell and Perron (1991). Pelo fato do erro seguir um processo auto-regressivo, deve-se realizar a análise do correlograma, a fim de observar o padrão autoregressivo dos desvios da PDJ. Observando o padrão de auto-correlação, apresentado no Anexo 5, a FAC (função de autocorrelação) indica a existência de um comportamento auto-regressivo, enquanto o decaimento da FACP (Função de autocorrelação parcial), utilizada para ajudar a definir a ordem de integração, mostra que a estimação indicada seria no máximo uma série AR(2) para os desvios da PDJ. Para mais informações sobre a estimação de modelos com séries temporais veja Box et al. (1994). 23 O primeiro modelo incluía todas as variáveis apresentadas na Tabela 1 além dos desvios da paridade até duas defasagens. Os resultados obtidos pro meio do software Eviews, já desconsiderando as variáveis que não se mostraram significativas são apresentados na Tabela 2, para manter a coerência com as suposições clássicas da estatística foi implementado o estimador Newey-West apresentado em Newey et al. (1987), sendo esse o estimador mais robusto na presença de autocorrelação e homocedasticidade. Tabela 2 Variáveis e Resultados observados significantes a 10% Variáveis Coeficiente observado/ P-valor Desvios da PDJ (-1) 0,31 (0,00) Importações sobre reservas internacionais 0,59 (0,08) Reservas Internacionais sobre PIB 0,47 (0,05) Dívida Pública sobre PIB 0,03 (0,00) Spread de títulos de primeira linha e junkies (Baa spread) R2: 0,54 Fonte: Autor 0,07 (0,00) Amostra: 95 observações Elaboração própria Das variáveis que se mostraram significativas no modelo, as que apresentaram o sinal esperado foram: desvios da PDJ (-1), importações sobre reservas internacionais, dívida pública sobre PIB e Baa spread. O Baa spread tem poder explicativo sobre os desvios da PDJ mostrando que existe um componente de mercado independente das condições econômicas do país que influenciam a percepção de risco dos investidores. O caráter autoregressivo do risco se verificou nesse trabalho revelando que percepções passadas a cerca do risco influenciam a tomada de decisão dos investidores hoje. As variáveis como importações sobre reservas internacionais e dívida pública sobre PIB, enfatizam o peso das condições de solvência e liquidez de um país na composição da percepção de risco a cerca da economia brasileira. Esse resultado indica que para períodos de maturidade mais longos, como no caso desse trabalho, as variáveis diretamente relacionadas ao risco de solvência são mais estatisticamente significantes para explicar os desvios da PDJ. Em Ferreira (2009) que analisa um período de maturidade mais curto se observou que outras variáveis relacionadas ao setor real da 24 economia e representando possíveis efeitos de contágio também se mostraram significantes para explicar os desvios da paridade de juros. Complementarmente, os resultados se mostram interessantes não somente do ponto de vista acadêmico, mas também para formuladores de política econômica. Para uma dada expectativa de câmbio, reduções na dívida pública e reduções na necessidade de pagamentos em moeda estrageira para pagamento de importações podem contribuir com a redução do risco associado à economia. Ao mesmo tempo a significância do Baa spread indica que existe um componente não relacionado com a econômia brasileira que influencia a percepção de risco. A variável reserva internacional sobre o PIB, que teoricamente é inversamente relacionada ao aumento do risco, contrariou o resultado esperado. De fato, ao observar a correlação das reservas internacionais sobre o PIB com o EMBI+, observa-se uma relação inversamente proporcional, porém para o risco calculado em função dos desvios da paridade de juros esse resultado não se verificou. Sendo assim, esse ponto requer uma investigação mais apurada e se mostra um ponto interessante para a evolução da pesquisa dentro desse tema. 25 6- Conclusões Esse artigo teve o objetivo de construir um modelo empírico relacionando o risco associado à economia brasileira com base nos desvios da paridade descoberta de juros (PDJ) em linha com trabalhos como Ferreira (2009) e Muinhos et al. (2001). Com base na metodologia da PDJ construiu-se uma série de desvios da paridade de juros, baseade em dados do Brasil e EUA para taxas de juros e com base em taxas observadas e expectativas de taxas de câmbio organizadas pelo Banco Central do Brasil. A amostra vai de 11/2001 até 12/2009. O primeiro passo foi estimar os parâmetros do modelo de regressão da série contruída de desvios da paridade de juros com o EMBI+, medida proxy de risco largamente utilizada pelo mercado, para verificar se a série de desvios da paridade pode efetivamente ser entendida como risco. A regressão se mostrou consistente e apresentou o sinal esperado. O segundo passo consistiu na estimação de um modelo relacionando um conjunto de variáveis macroeconômicas com a série de risco calculada. Os resultados mostraram que os desvios da PDJ são parcialemente explicados pelo risco e que variáveis fundamentais da economia brasileira somadas a uma variável representando o apetite do mercado financeiro internacional para investimentos apresentam um poder explicativo sobre a percepção de risco da economia brasileira. Esse trabalho contribui para clarificar os principais determinantes dos desvios da paridade para horizontes mais longos, fornecendo mecanismos para os formuladores de política determinarem as políticas econômicas mais apropriadas para a diminuição do risco, controle de expectativas e equilíbrio de taxas de juros. De maneira geral, se observou que variáveis como dívida pública, e necessidade de pagamento de divisas estrangeiras influenciam a percepção de risco, mostrando que solvência e liquidez são fatores cruciais na determinação do risco por parte dos investidores. Por outro lado, também se observou que existem variáveis influenciadoras que estão fora do controle dos formuladores de política. Além disso, no que tange o período de maturidade do estudo se observou que para períodos mais longos os fundamentos relacionados exclusivamente à solvência e liquidez do país tendem a ser mais significantes quando comparado com estudos similares pare períodos de maturidade mais curtos, como Ferreira (2009). Possíveis contribuições futuras à literatura a respeito desse temas consistem em uma investigação mais apurada da relação entre reservas internacionais com os desvios da paridade 26 de juros, e no relaxamento de hipóteses como a validade da paridade de juros na construção da série desvios da paridade de juros e possível poder explicativo da série sobre o risco. 27 Referências ALPER, C. E., ARDIC, O. P., FENDOGLU S. The Economics of the Uncovered interest parity condition for emerging markets. Journal of Economic Surveys, Hoboken, v. 23, n. 1, pp. 115-138, 2007. BHAR, RAMPRASAD, SUK-JOONG KIM, and TOAN M. PHAM. "Exchange Rate Volatility and Its Impact on the Transaction Costs of Covered Interest Rate Parity." Japan and the World Economy 16.4, S.l., 503-525, 2004. BIAGI, M., CORREA V. P., NEDER, H. M., MUNHOS, V. C. V. Risco país, fluxos de capitais e determinação da taxa de juros no Brasil: Uma análise de impactos por meio da metodologia VAR. 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Externa liq./ Conta corrente/ PIB) VIII) Dívida externa (Reservas internacionais/ Exportações) IX) Liquidez (relação entre necessidade bruta de financiamento e reservas int.) X) Histórico de Default – Indicador que inclui na análise de o país efetuou, no passado recente, um calote na dívida. Fonte: FITCH RATINGS (1998). Sovereign Rating Methodology. Nova York: Fitch Ratings, ago. 1998. Elaboração: BIAGI, M. et. al. (2006) Anexo 2: Resultados da regressão de desvios da PDJ com o EMBI+ Brasil pelo software Eviews Variável Coeficiente observado/ P-valor EMBI+ Brasil 2,88 (0,00) R2: 0,66 Amostra: 97 observações Teste de Cointegração sugerido por Engle-Granger (a 5% de significância e amostra de ~100) Valor Crítico: -3,398 Valor do Teste ADF dos resíduos de cointegração: -3,437, sendo portanto mais negativo que o valor crítico observado acima, rejeitando a hipótese nula Fonte: Autor Elaboração Própria 30 Anexo 3: Resultados da correlação cruzada entre desvios da PDJ e EMBI+ Brasil pelo software Eviews. EMBI+, Desvios da PDJ Fonte: Autor Desvios da PDJ, EMBI+ i lag lead 31 Anexo 4: Testes ADF de estacionariedade para desvios da paridade de juros e variáveis, resultado obtidos no software Eviews Hipótese do teste em nível Variáveis P-valor Desvio da PDJ 0,11 Déficit em conta corrente sobre PIB 0,05 EMBI+ Brasil 0,12 Dívida público sobre PIB 0,47 Importações sobre reservas internacionais 0.30 Reservas Internacionais sobre PIB 0,98 Necessidade bruta de financiamento sobre reservas internacionais Desemprego brasileiro 0,22 0,25 Desemprego americano Variaçao de inflação doméstica 0,01 Variação de Inflação americana 0,00 Spread de títulos de primeira linha e junkies (Baa spread) Fonte: Autor Elaboração Própria 0,39 32 Anexo 5: Análise de autocorrelação da série desvios da paridade de juros, pelo software Eviews FAC Fonte: Autor FACP AC PAC Q-stat P-valor