XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 Gestão de relacionamento com clientes no mercado industrial: um estudo de caso na Novelis do Brasil Carlos José Gomes (UFOP) [email protected] Silvana Prata Camargos (UFOP/FEAD-MG) [email protected] Resumo O objetivo geral deste artigo é descrever e analisar o processo de relacionamento com os clientes do setor de Produtos Químicos da Novelis do Brasil, em Ouro Preto, buscando identificar como são aplicados cada um dos fatores que determinam a excelência na gestão de relacionamento com clientes, conforme sugere a teoria. Para tal, fez-se um levantamento na literatura desses fatores, visando também fazer um paralelo entre o marketing de relacionamento, principalmente no mercado industrial, e as contribuições da Engenharia de Produção. Posteriormente, foram coletadas informações na empresa utilizando-se um questionário semi-estruturado, abordando aspectos relativos ao mercado, estratégias, processo de vendas, atendimento ao cliente, recursos humanos e tecnologia. As informações obtidas sinalizam a importância de se considerar, adicionalmente, todas as etapas do processo, ou seja, desde o projeto dos produtos e serviços, passando pelo planejamento e controle, e por fim a entrega desses produtos e serviços aos clientes.Verifica-se, portanto, a importância e a necessidade dos profissionais da Engenharia de Produção saberem sintonizar suas ações, com as ações que são de responsabilidade das outras áreas, sabendo conduzí-las com total foco nos clientes. Palavras-chave: Clientes; Marketing Industrial; Setor de Produtos Químicos. 1. Introdução No contexto dos negócios torna-se fundamental considerar a importância que a variável estratégia vem assumindo a cada dia como forma de garantir maior chance de sucesso de uma organização frente ao mercado competitivo. Segundo Pintaud (2001), dentre várias ações competitivas como informatização, fusões, aquisições, incentivos, etc, verifica-se que o relacionamento com os clientes vem se destacando como fundamental nos processos de gestão focados no mercado. Os clientes têm hoje uma quantidade cada vez maior de opções de produtos de alta qualidade e a tecnologia evoluiu a tal ponto que sua banalização dá-se cada vez mais rapidamente. Os clientes querem ser ouvidos esperando com que o fornecedor de produtos e serviços ofereça a eles, flexibilidade, disponibilidade, criatividade e preço vantajoso. Tanto para clientes organizacionais, quanto para o consumidor final, a empresa tem que ter a consciência de que o cliente deve ocupar as prioridades de seus negócios, pois sua satisfação é fator chave para o sucesso de toda a organização que queira competir neste mercado global. O objetivo geral deste artigo é conhecer e analisar o processo de relacionamento com os clientes do setor de Produtos Químicos da Novelis, buscando identificar como são aplicados cada um dos fatores que determinam a excelência na gestão de relacionamento com clientes, conforme sugere a teoria. Este artigo visa também fazer um paralelo entre o marketing de relacionamento, principalmente no mercado industrial, e as contribuições da Engenharia de Produção. ENEGEP 2006 ABEPRO 1 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 Pode-se dizer que a preocupação com a satisfação do cliente deve ser uma questão organizacional, que deve ser objeto de preocupação também de Engenheiros de Produção, pois manter clientes é garantia de produção. 2. Gerenciamento do relacionamento com os clientes Conforme Peppers & Rogers (2004a), gerenciar o relacionamento com os clientes não é uma atividade de marketing ou tecnologia. Representa a cultura e o objetivo da organização, determina quais estratégias a serem utilizadas e como cada ação impacta no valor oferecido aos seus clientes. Conforme Wiersema (1996), muitas empresas ainda não aprenderam a personalizar os seus projetos de negócio de forma imaginativa e não são capazes de reorientar suas culturas. Por isso, conforme orienta Pintaud (2001), é importante as empresas se conscientizarem de que clientes satisfeitos são geradores de lucros crescentes. Ouvir o que os clientes têm a dizer pode ser também um diferencial que tornará a organização mais competitiva frente aos concorrentes. Por isso, Kotler (2000) orienta que a empresa deve avaliar a satisfação de seus clientes regularmente. O autor se justifica ao defender que a adoção de uma postura neste sentido representa uma questao de sobrevivência. Os clientes, cujas reclamações são resolvidas de modo satisfatório, tornam-se mais fiéis à empresa do que aqueles que nunca ficaram insatisfeitos. Peppers & Rogers (2004a) orientam que com os melhores clientes é preciso estabelecer uma relação de aprendizado. Nessa relação, o cliente participa com reclamações, sugestões e retroalimentação. 3. Fundamentos do marketing de relacionamento Para Peppers & Rogers (2004a), o marketing de relacionamento quer dizer relacionar-se com clientes de forma individual, um cliente de cada vez. Significa simplesmente “tratar clientes diferentes de forma diferente”, ou seja, desenvolver e gerenciar relações individuais com clientes individuais. Gordon (2002) define marketing de relacionamento como o processo contínuo de identificação e criação de novos valores com clientes individuais e o compartilhamento de seus benefícios durante a parceria. De acordo com o autor, isso envolve a colaboração entre fornecedores e clientes selecionados para criação e o compartilhamento de valores mútuos. Uma diferença, apontada por Peppers & Rogers (2004a), é que enquanto a medida do sucesso dos programas de marketing tradicional é o aumento da participação no mercado, medido por categoria de produto, no marketing de relacionamento os programas têm seu sucesso medido em termos de participação do cliente. Entretanto, o marketing de relacionamento exige um esforço muito grande e necessita de um nível de investimento significativo e, portanto, não deve ser aplicado a todos os clientes. Os autores recomendam que devem ser priorizados aqueles clientes de maior valor real e/ou potencial (GORDON 2002; PEPPERS & ROGERS 2004a). 4. Customer relationship managment (CRM) CRM pode ser definido como uma aplicação prática da filosofia e das estratégias do marketing de relacionamento, com ênfase no relacionamento com os clientes (GUMMESSON apud SCHWEITZER, 2004). As definições de CRM encontradas na literatura são diversas, porém, a grande maioria dos autores, apresenta a mesma abordagem de Gummesson, onde CRM é a infra-estrutura e um conjunto de estratégias fundamentadas no marketing de relacionamento, aplicadas nas organizações, com o suporte das tecnologias de informação e ENEGEP 2006 ABEPRO 2 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 comunicação (GARTNER GROUP apud PEPPERS & ROGERS, 2004a). O CRM não é apenas um software, trata-se de uma ferramenta administrativa que visa transformar processos de negócios para conservar e conseguir mais clientes. É um método para selecionar e administrar clientes, aumentando o valor a longo prazo. Requer uma filosofia e cultura empresariais centradas no clientes. Peppers & Rogers (2004a) apontam quatro passos para o processo de implementação de um programa de marketing de relacionamento, ou uma iniciativa de CRM: (1) identificar os clientes; (2) diferenciar os clientes; (3) interagir com os clientes e (4) personalizar. Finalmente, destacam que o CRM visa integrar pessoas, processos e tecnologias, com vistas a otimizar o gerenciamento de todos os relacionamentos. Os sistemas de CRM devem, portanto, estar alinhados aos objetivos estratégicos da empresa. O conhecimento da visão e direção da empresa é fundamental e deve ser utilizado para orientar cada etapa da implantação. 5. Marketing industrial Siqueira, citado por Silva (2001), define o mercado industrial como sendo o mercado de bens e serviços produzidos ou vendidos por empresas, para o uso das mesmas na produção, comercialização ou locação de outros bens ou serviços. Os consumidores e usuários industriais são as organizações, ou instituições, que compram esses produtos e serviços, para fabricar outros produtos, oferecer outros tipos de serviços, ou mesmo para utiliza-los em seu próprio negócio. No que se refere a clientes organizacionais, comparado ao mercado de vendas direto ao consumidor, Prieto e Carvalho (2005) defendem que a gestão do relacionamento com o cliente assume uma dimensão ainda maior. As autoras explicam que nesse tipo de relacionamento o mercado é de tamanho menor, em número de clientes, e é composto por empresas de grande porte. O valor econômico das negociações é alto e, por isso, é enorme o valor de um único cliente. Outra característica, inerente ao mercado industrial, é o contato com representantes, compradores e fornecedores de outras empresas. Esses fornecedores compram, ou influenciam a compra para as empresas que representam. Isto torna o processo de venda mais complexo, exigindo negociação com múltiplos grupos e uma estrutura para controlar as fases desta negociação. 6. A engenharia de produção no relacionamento com os clientes A Engenharia de Produção, por ter um grande campo de atuação, pode contribuir de forma significativa para que as empresas atendam melhor às necessidades de seus clientes. Os Engenheiros de Produção podem atuar em vários campos de atividades, com a capacidade de entender os processos em que atuam, ajudando as organizações a atingirem suas metas. Deve estar, adicionalmente, qualificado a entender a área de gerenciamento de relacionamentos. Corrêa et al (2001) defendem que os sistemas de administração da produção, para cumprirem seu papel de suporte aos objetivos estratégicos da organização, precisam saber planejar a produção e os recursos de forma eficiente, e além disso, ser capaz de prometer os menores prazos possíveis aos clientes e depois fazer cumpri-los. Os autores afirmam, adicionalmente, que em termos gerais, os sistemas de administração da produção devem ser capazes, por meio da informação, de integrar a função de operações dos sistemas produtivos com outras funções da organização. Têm que proporcionar a necessária integração de seu processo logístico, que é para a maioria das empresas o maior potencial de ENEGEP 2006 ABEPRO 3 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 obtenção de melhoramentos competitivos. Percebe-se então, que os sistemas de produção sob esta perspectiva, devem se mostrar bastante evoluídos e sensibilizados quanto ao ambiente de mercado, onde se encontra a chave do direcionamento dos produtos e serviços a serem criados e oferecidos. Dessa forma, a Engenharia de Produção pode assumir um papel mais preponderante nas organizações. 7. Metodologia Primeiramente, fez-se uma pesquisa bibliográfica por meio do material existente na literatura sobre a gestão do relacionamento com clientes, de modo a abranger seus conceitos. Para Gil, citado por Silva e Menezes (2001 p.19), a pesquisa é um “processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. Para tanto, foram utilizados livros, materiais disponíveis na internet, dissertações e teses defendidas. A pesquisa realizada para este trabalho é de natureza qualitativa e descritiva, conduzida por um estudo de caso no setor de Produtos Químicos da Novelis do Brasil em Ouro Preto. Segundo Silva e Menezes (2001 p.20), a pesquisa qualitativa considera que “há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.” Esta pesquisa foi conduzida por um roteiro de entrevista não estruturada que serviu de base para orientar o levantamento de informações. Os seguintes grupos de aspectos foram abordados no roteiro: mercado, estratégias, processo de vendas, atendimento ao cliente, recursos humanos e tecnologia. 8. Caracterização e histórico da empresa A Novelis surgiu no mercado brasileiro em janeiro de 2005 em função de um desmembramento dos negócios de laminados da Alcan Alumínio do Brasil. A unidade fabril de Ouro Preto foi fundada em 1934 e passou em 1950 ao controle acionário da Alcan. Em 2005 teve sua razão social modificada para Novelis do Brasil Ltda. Atualmente, a unidade engloba as atividades de: mineração de bauxita, produção de hidrato de alumínio e alumina calcinada, produção de aluminas especiais, produção de alumínio primário sob a forma de lingotes, tarugos e placas, fábrica de pasta Soderberg e geração de energia em usinas hidrelétricas próprias. Com aproximadamente 750 empregados e cerca de 700 prestadores de serviços, a unidade tem uma produção anual de 150 mil toneladas de alumina e 51 mil toneladas de metal. 8.1. O setor de produtos químicos da empresa São chamados de produtos químicos os diversos tipos de aluminas especiais, aluminas reativas e o hidrato de alumínio. São vários tipos de produtos, incluindo pasta eletródica e o revestimento, que são produzidos na fábrica de pasta, que tem um processo distinto, mas sob a supervisão da gerência de Químicos. O setor de Produtos Químicos é subdividido nas áreas de venda, processo e desenvolvimento de novos clientes e produtos. Toda a sua produção é comercializada com clientes externos. O setor é fornecedor de matéria-prima para outras empresas para diversos fins, tais como: fabricação de cerâmicas, vidros, produção de sulfato de alumínio essenciais para o tratamento da água, dentre outras aplicações. Atualmente, os produtos comercializados pelo setor de Produtos Químicos da unidade de ENEGEP 2006 ABEPRO 4 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 Ouro Preto são: a alumina metalúrgica, responsável por 41% do volume de vendas em toneladas, aluminas especiais e reativas, responsáveis por 17%, o hidrato de alumínio, que corresponde a 31% e os produtos da fábrica de pasta, correspondentes à 11% do volume de vendas. 9. Apresentação e análise dos dados obtidos com a entrevista Este item tem por finalidade apresentar os dados obtidos, por meio da entrevista realizada no setor de Produtos Químicos da Novelis. Para que os resultados obtidos com o estudo de caso sejam melhor compreendidos, este item foi dividido em sub-tópicos relativos aos conteúdos de cada grupo de questões abordadas na entrevista. 9.1. O mercado dos produtos fabricados O mercado brasileiro de aluminas especiais e hidratos é um mercado restrito e caracterizado por possuir um baixo número de concorrentes. Há poucas plantas que fabricam estes tipos de produtos no país. Das unidades da Novelis em todo o mundo, a unidade de Ouro Preto é a única que produz aluminas especiais. No caso da alumina metalúrgica e do hidrato, a concorrência é um pouco maior. Algumas empresas fabricam produtos substitutos que têm a mesma aplicação destes, sendo concorrentes indiretos destes produtos. O setor de Produtos Químicos da Novelis possui um número aproximado de 80 clientes, distribuídos em vários estados, sendo que a maioria fica fora de Minas Gerais. A empresa possui também clientes de exportação em outros países como a Argentina. Com o objetivo de ampliar a participação no mercado em outros estados, foi feita uma parceria com uma empresa representante na região sul do Brasil. Este representante já tinha contrato com um dos clientes da Novelis que atua num mercado semelhante ao dela. Por já conhecer melhor o mercado e poder estar próximo aos clientes desta região, esta foi uma oportunidade tanto para a Novelis, que aumentou a participação no mercado, quanto para o representante, que aumentou o seu portifólio de produtos. Quanto à divulgação da empresa e seus produtos no mercado são utilizados mais os catálogos de fornecedores de produtos químicos, revistas do setor e eventos setoriais. O site da empresa não é utilizado com fins de publicidade, é mais utilizado como fonte de pesquisa. Esta prática de divulgação também vai de encontro aos princípios do marketing industrial, onde são poucas as situações nas quais as decisões de compra sejam tomadas impulsivamente e provocadas por publicidade e promoções. O projeto de produtos, o custo e as inovações no serviço acabam sendo mais importantes, para a empresa, do que a propaganda e a publicidade. 9.2. Política da empresa no relacionamento com os clientes Na política da Novelis divulgada por toda a empresa, no que se refere ao relacionamento com os clientes, têm-se os seguintes itens: “compromisso com a satisfação do cliente, prevendo e entendendo suas necessidades” e “construção de relações de cooperação com nossos clientes e fornecedores para compartilhar melhores práticas”. No site da empresa contém: “o maior objetivo da Novelis é satisfazer seus clientes. Por isso, no mundo todo, a empresa mantém um compromisso com este público: oferecer produtos de qualidade a preços competitivos, com velocidade, inovação e precisão”. Estes itens da política vêm da cultura da Alcan e estão sendo incorporados de forma ainda mais expressiva com a criação da Novelis. A empresa é tratada de um forma única, onde toda a política é elaborada pelos níveis gerenciais mais elevados da empresa e divulgada para todas as unidades, em todo o mundo. Estes princípios são constantemente discutidas em níveis locais. Para consolidar estes princípios são realizadas reuniões trimestrais com a presidência ENEGEP 2006 ABEPRO 5 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 da empresa e reuniões semanais com a diretoria da unidade. A disseminação da política tem que ser de forma a atingir todos os envolvidos na atividade produtiva da empresa. Mas, mais importante que a divulgação, é colocar em prática estes princípios. 9.3. Ações estratégicas do setor de produtos químicos A empresa, com a sua reestruturação, está utilizando de forma mais intensa a técnica do benchmarking em outras unidades. Sendo assim, as práticas adotadas por elas poderão ser melhor absorvidas pela unidade de Ouro Preto. Está havendo também uma reestruturação e uma integração dos setores de venda de toda a empresa. Uma ação estratégia voltada para o fortalecimento do relacionamento com os clientes é o fornecimento exclusivo e desenvolvidos para alguns clientes. Alguns grandes clientes têm contrato com a Novelis, que é o único fornecedor de matéria-prima para eles. O atendimento é feito de forma mais personalizada na linha dos produtos. Esta prática vai de encontro aos princípios do marketing de relacionamento. De acordo com Gordon (2002), a empresa deve ser organizada em torno dos clientes que ela escolheu para atender. De acordo com uma curva ABC, os clientes do setor de Químicos da Novelis são classificados pelo volume e freqüência de compras, exigência e rentabilidade. Anualmente, são feitos convites aos clientes para visita às instalações da Novelis. Estas visitas são realizadas de acordo com a necessidade. No mínimo uma vez ao ano são realizadas visitas às instalações dos clientes preferenciais. Kotler (2000) orienta que a empresa deve avaliar a satisfação de seus clientes regularmente. Por isso, com o objetivo de avaliar as estratégias depois de adotadas, a empresa realiza anualmente pesquisas de satisfação junto aos clientes. A pesquisa foi criada há aproximadamente cinco anos. Com esta medida, a empresa busca o retorno do que foi feito dentro de um determinado período, buscando não somente avaliar, mas também identificar oportunidades de melhorias e crescimento da empresa. 9.4. O relacionamento com os clientes – rotina de vendas Um planejamento de vendas é elaborado anualmente pelo setor de Produtos Químicos. Deste planejamento, o departamento elabora uma previsão mensal, tanto para o volume quanto para os preços, de acordo com o cenário nacional e internacional. A carteira de clientes do setor de é bem estabelecida. Para aproximadamente 90% dos clientes, já se tem um conhecimento da freqüência de compras. A previsão é feita principalmente levando-se em consideração este histórico. O processo de vendas inicia com o cliente apresentando o seu pedido. Após a chegada do pedido é feita uma análise crítica, em função do planejamento anual e da disponibilidade de produção para atender a esta demanda. A análise crítica envolve a área de vendas, que vai analisar o pedido do ponto de vista comercial e também a área de processo, que vai analisar a disponibilidade de produção. A partir daí é feita a confirmação do pedido e feita a comunicação ao cliente se o pedido vai ser aceito, de acordo com as datas estabelecidas por ele. Se houver alguma alteração nestes prazos de entrega é feita uma negociação de datas. Após realizada toda a confirmação do pedido é feito o registro no sistema de faturamento da empresa e também na Programação de Embarques. Para cada pedido do cliente é feito um registro. A área de vendas faz um acompanhamento desde a fabricação até o processo de faturamento da transação. ENEGEP 2006 ABEPRO 6 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 Uma característica inerente ao mercado industrial, apontada por Prieto e Carvalho (2005), é o contato com representantes, compradores e fornecedores de outras empresas. Isto torna o processo de venda mais complexo exigindo-se, portanto, uma negociação com múltiplos grupos e uma estrutura para controlar as fases da negociação. Para o atendimento de todos os pedidos, há uma integração muito intensa entre as áreas de vendas, processo e operação. Essa integração se dá, tanto na análise crítica, quanto no processo de fabricação e expedição em si. Ocorre também o envolvimento com a área de suprimentos e com o laboratório de análises químicas. Após o embarque, o passo seguinte envolve a área financeira. Se acontecer alguma ocorrência que resultar no não atendimento ao cliente é feita uma renegociação de datas. No contato direto com os clientes é exposto o acontecido e uma nova programação é sugerida. Todo o processo de comunicação com o cliente é feito por meio do telefone, e-mail e fax. 9.5. Recursos humanos Em termos de recursos humanos empregados, a Novelis possui uma estrutura enxuta, como acontece em várias empresas do Brasil. O risco pela empresa ser pouco automatizada existe, mas não chega a ser um gargalo. A maior competência da empresa e de seus colaboradores, no atendimento às necessidades dos clientes, está no conhecimento técnico sobre os processos de fabricação de seus produtos. Outra questão é a flexibilidade e criatividade em saber lidar com as limitações de sua planta, e saber trabalhar com estas limitações, em função de atender as demandas do mercado. O setor de Produtos Químicos vêm trabalhando no sentido de elevar as empresas contratadas e o nível dos serviços terceirizados para o mesmo nível de motivação, interesse, e principalmente qualificação dos funcionários da Novelis. Com o objetivo de passar informações sobre clientes, finalidade dos produtos comercializados, níveis de satisfação de clientes, dentre outros, a Novelis já realizou um trabalho de divulgação dessas informações, envolvendo alguns funcionários na área operacional. A empresa reconhece que precisa ser feito também uma divulgação aos funcionários das empresas contratadas. Gordon (2002) argumenta que os relacionamentos com os clientes normalmente não serão duráveis e comprometidos, enquanto os relacionamentos com os funcionários não se aprofundarem. Por isso o fator recursos humanos tem um papel fundamental no alcance da excelência no relacionamento com clientes de qualquer organização, no ambiente competitivo em que se apresenta. 9.6. Tecnologia Um dos maiores obstáculos enfrentados pela empresa é a pouca automatização da sua planta de fabricação dos Produtos Químicos. Outro obstáculo enfrentado é a falta de um sistema integrado de informações (ERP) que comunique com as diversas áreas envolvidas no processo de fabricação e atendimento aos clientes. Não há também nenhum sistema de banco de dados digitalizados de clientes. Mas um diferencial tecnológico está no software que faz parte do sistema de gestão, que dentre outras funções, gerencia os documentos da ISO 9000 e procedimentos operacionais. Por meio dele faz-se também o registro das reclamações de clientes. A tecnologia acaba sendo um modo de conseguir vantagem competitiva em variedade de ENEGEP 2006 ABEPRO 7 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 operações que antes não sofriam sua influência. São muitas as empresas em que o atendimento se diferencia pela tecnologia da informação empregada. Por isso, a Novelis pode estar em desvantagem no mercado. A fábrica já tem um longo período de funcionamento, e, segundo a empresa, a automatização demandaria um alto investimento. 10. Conclusões O presente estudo abordou o relacionamento entre empresas, tendo seu foco nas principais atividades que englobam a gestão de relacionamento com clientes, destacando os princípios do marketing industrial. Pode-se afirmar que as informações obtidas durante o estudo salientam para a importância de se considerar, adicionalmente, todas as etapas do processo, ou seja, desde o projeto dos produtos e serviços, passando pelo planejamento e controle, e por fim a entrega desses produtos e serviços aos clientes. Verificou-se que é extremamente importante que todas as atividades de uma empresa sejam integradas e com total foco nos clientes. A Engenharia de Produção, por ter um amplo campo de atividade, pode contribuir de forma significativa para este objetivo. Na empresa pesquisada, percebe-se que há um esforço muito intenso da área de vendas, para superar as deficiências da empresa. De uma certa forma, a empresa acaba trabalhando um pouco menos preocupada com a concorrência, pois o mercado é restrito e a demanda supera a oferta. Com isso, pode-se perder o foco no cliente, o que pode ser uma desvantagem a médio/longo prazo. Quanto aos recursos tecnológicos, a falta de integração dos dados em uma base única dificulta o planejamento. Por isso, é recomendável que a empresa tenha uma maior preocupação em melhorar neste sentido. No mercado competitivo, como se apresenta hoje, os clientes estão cada vez mais exigentes e várias empresas travam uma disputa para sair à frente e atender à estas exigências. Aquelas que não se encaixarem neste perfil correm o risco de perderem sua fatia no mercado. A pesquisa foi realizada entre os meses de agosto e outubro de 2005, sendo que, em março de 2006 a Novelis anunciou a venda da unidade de Ouro Preto. Portanto, seria recomendavel um estudo posterior, onde fossem analisadas as modificações ocorridas na empresa após o fechamento do processo de aquisição pela empresa compradora. Referências CORRÊA, H.L.; GIANESI, I.G.N. & CAON, M. (2001) - Planejamento, programação e controle da produção MRPII / ERP: conceitos, uso e implantação. Atlas. 4. ed. São Paulo. GORDON, I. (2002) - Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologias para conquistar clientes e mantê-los para sempre. Futura. São Paulo. KOTLER, P. (2000) - Administração de marketing: a edição do novo milênio. Prentice Hall. São Paulo. PEPPERS & ROGERS (2004a) - CRM Series: marketing 1 to 1. Makron Books. 3.ed. São Paulo. PINTAUD, M.F. (2002) - A excelência no atendimento a clientes como diferencial competitivo: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. PRIETO, V.C. & CARVALHO, M. (2005) - Gestão do relacionamento com o cliente em mercados business-tobusiness. Revista Produção On Line. Vol. 5, Num. 1. Florianópolis. Disponível em <www.producaoonline.inf.br> Acesso em 08 mai. 2005. SCHWEITZER, A. (2004) - Pressupostos para o gerenciamento de soluções de CRM. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. ENEGEP 2006 ABEPRO 8 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 SILVA, E.L., MENEZES, E.M. (2001) - Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. 3a Edição Revisada Atualizada. Laboratório de Ensino à Distância da UFSC. Florianópolis. SILVA, L.N.N. (2001) - Marketing industrial: a importância da venda pessoal na comercialização de serviços profissionais.In: I Encontro de Pós Graduação e Pesquisa, 2001. Anais do I Encontro de Pós-Graduação e Pesquisa. p.387-394. Fortaleza. WIERSEMA, F.D. (1996) - Intimidade com o cliente: um compromisso com os resultados de seus clientes. Tradução: Luiz Euclydes Trindade Frazão Filho. Campus. Rio de Janeiro. ENEGEP 2006 ABEPRO 9