A ESSÊNCIA ROMÂNTICA NOS BEST-SELLERS CONTEMPORÂNEOS: A SAGA
CREPÚSCULO
Camila Savioli
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Huady
Introdução
Segundo a obra Literatura: leitores e leitura, de Marisa Lajolo (2001), a própria
palavra literatura pode ter vários significados, ou seja, pode vir a significar línguas clássicas,
gramática, erudição, elementos que reforçam sua ligação com a escrita. A forma latina
litteratura deriva-se de outra palavra latina, littera, que pode ser compreendida como letra,
isto é, sinal gráfico que representa, por escrito, um som de fala.
Há algumas décadas não se busca mais uma definição exata e única para a
literatura, uma vez que ela pode ser interpretada de inúmeras formas. Invariavelmente é
tratada como uma atividade artística na qual o escritor exprime as alegrias, as angústias, as
certezas e os enigmas do homem.
Há vários critérios pelos quais se tenta identificar o que é literatura: o tipo de
linguagem, o tema, o efeito produzido, as intenções do autor etc. Fundamental é perceber
que para que um texto caracterize-se como uma obra literária, é preciso, em primeiro lugar,
que alguém o escreva e, principalmente, que alguém leia-o.
Segundo a mesma autora (2001), músicas, fitas, arquivos, poemas, podem ou não
serem considerados obras literárias. Para definir um texto como literatura não basta só a
escrita e a leitura por parte de alguém, é preciso de um ponto de vista, da ampliação do
significado que a palavra tem para cada um e a situação na qual se discute o texto.
Uma obra mais específica passa por vários canais até chegar ao leitor: edição,
distribuição, livrarias, eventos, publicações. São esses canais que aprovam, no mais das
vezes, a essência literária das obras em circulação.
Para fazer parte da tradição literária, existem setores especializados que atestam se
determinado texto deve ser definido como literatura ou não. Esses setores são compostos,
geralmente, pelos denominados intelectuais, professores, críticos, editores de prestígio,
cursos de Letras, lista de obras vendidas, entre outros.
Acompanhar a interpretação e a avaliação de um texto ajuda a entender como a
literatura foi concebida e suas inúmeras definições. Entender o processo de aprovação que
torna uma obra designada como literária ajuda os leitores a discutir mais sobre a literatura,
com opiniões e com argumentos mais fortes.
Best-seller e o mercado editorial
No mercado editorial existem, basicamente, três tipos de editoras: editoras grandes,
que publicam os best-sellers internacionais e autores nacionais consagrados; editoras
médias que publicam livros em parceria com o autor e/ou instituições estatais ou privadas;
editoras pequenas que publicam livros que são financiados pelos próprios autores.
Para garantir espaço nas prateleiras, há certo conflito entre essas editoras. As
grandes conseguem comprar espaços nas livrarias para venderem os livros. Para que os
livros continuem nas lojas, as editoras médias dão descontos, algumas vezes, elevados. Já
as editoras pequenas só conseguem um espaço nas lojas se possuírem algum tipo de
acordo com a distribuidora. O livro que não é vendido fica encalhado no depósito e logo em
seguida é retirado.
Assim que funciona, em essência, o mercado editorial. Dentro dele, classificam-se
como best-sellers os livros que se destacam no mercado, conquistando grande número de
leitores. A primeira noção de best-seller ocorreu quando a Literatura foi produzida com fins
lucrativos, ou seja, referindo-se a uma avaliação quantitativa de vendagem. No início do
século XX, na década de 40, o americano Frank Luther Mott propôs um critério no qual um
livro tornar-se-ia um best-seller se atingisse um total de vendas equivalente a um por cento
da população dos EUA, na década em que foi publicado (SILVA, Fernando Moreno, 2006).
Para um livro ficar largamente conhecido e ser o muito vendido, é preciso que o texto
conquiste os leitores. Só que, quanto mais diversificado o leitor, mais complicado de
agradar. As temáticas que mais fazem sucesso para os consumidores, ultimamente, são:
crime, amor, sexo, aventura, suspense, terror etc.
É importante, também, que não falte a presença do herói, com o qual o leitor
identifica-se e projeta-se em sua figura, ansiando pelas mesmas conquistas e vitórias do
personagem do livro.
O best-seller, além de caracterizar-se por uma grande vendagem, e geralmente
classificado como um livro com uma narrativa ficcional que se encaixa dentro de um gênero
literário com pretensões mais comerciais que artísticas.
No mercado editorial, não é só enredo que ajuda na vendagem dos livros. Há um
processo de adaptação do best-seller. Nesse processo, há a lapidação da escrita, que a
enobrece; o formato, a disposição e a divisão do texto, a ilustração, as chamadas dos
nomes, os títulos, os subtítulos, as orelhas etc. Essas técnicas são executadas pelo editor
com o intuito de deixar o livro ainda mais atrativo. Há, também, um bom catálogo que não só
divulga os títulos dos livros como também envolve e persuade os leitores por meio de
imagens pelas quais o produto fica conhecido, tendo o objetivo de conjugar o valor literário
com o sucesso comercial.
Como exemplo, tem-se a Editora Intrínseca, de Jorge Oakim, uma das mais
competitivas do Brasil. A Editora Intrínseca está associada à Sextante e possui uma grande
lista de best-sellers que quase sempre ocupam as primeiras posições de livros de ficção
mais vendidos da revista Veja.
O atual sucesso da Intrínseca dá-se, também, à publicação dos livros da Saga
Crepúsculo, de Stephenie Meyer, e do Ladrão de Raios, de Rick Riordan. Em 2008 a
vendeu 725.000 exemplares e, em 2009, esse número subiu para 3,8 milhões de
exemplares. Da série Crepúsculo, já foram vendidos 5,5 milhões de exemplares. Com o
sucesso dos livros e a estréia do terceiro filme da saga, Eclipse, a autora Stephenie Meyer
lançou mais um livro baseado no terceiro livro da série, A breve segunda vida de Bree
Tanner. Segundo a própria Editora (www.intrinseca.com.br. Acessado em 18/02/2012):
A série, que já teve mais de 5,5 milhões exemplares comercializados,
mobilizou dezenas de fãs-clubes organizados além de uma legião nacional
de leitores que atuam como multiplicadores do encantamento produzido
pela história de Isabella Swan e Edward Cullen em sites, comunidades
virtuais e eventos apoiados pela editora.
Segundo levantamento feito pela Revista Veja, no dia 17 de novembro de 2010, a
Editora Intrínseca passou da marca de 5.200.000 exemplares vendidos. Na semana que o
elenco e toda equipe do filme Amanhecer, último livro da série, esteve para gravar algumas
cenas no Rio de Janeiro, as vendas da saga dobraram em relação ao mesmo período de
outubro, chegando a quase 4.500.000 exemplares.
Os quatro livros Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer, de Stephenie Meyer,
possuem no enredo o principal elemento que atrai a atenção dos adolescentes: o amor
romântico. E é a partir desses elementos da tradição romântica, narrados em primeira
pessoa pela protagonista (Bella Swan), que se pode estabelecer o estudo e a comparação
com o movimento literário denominado como Romantismo.
Romantismo
Os estudiosos da literatura acabaram por dividi-la, didaticamente, em escolas,
gêneros ou movimentos literários. Entre eles há o movimento romântico, ocorrido
fundamentalmente na primeira metade do século XIX, época de grandes eventos na vida
intelectual, social, política e econômica da Europa.
Segundo Massaud Moisés (1989, p.3), “Da mesma forma que a Renascença havia
preparado a idade clássica da literatura européia, o Romantismo inaugura-lhe a idade
moderna. Assim principia um dos estudos de síntese mais bem equilibrados que já se
fizeram acerca do Romantismo”.
O Romantismo foi um movimento artístico, filosófico, político, literário que surgiu nas
últimas décadas do século XVIII na Europa e perdurou até boa parte do século XIX.
Apresentou uma visão de mundo contrária ao racionalismo e buscou um nacionalismo que
iria consolidar os estados nacionais da Europa. O termo romântico faz referência à estética,
à tendência idealista ou poética que se desenvolve em torno do subjetivismo.
O Romantismo só foi definido como escola literária nos últimos vinte e cinco anos do
século XVIII. Em Portugal, o poema Camões, de Almeida Garrett, foi o marco inicial do
Romantismo no país. Já o livro de poesias Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de
Magalhães, e a revista Niterói foram o marco inicial do Romantismo no Brasil, em 1836.
Gonçalves de Magalhães moveu de modo sistemático os seus ideais românticos
(nacionalismo e religiosidade) junto com o repúdio aos padrões clássicos externos, como,
por exemplo, a mitologia pagã. Além disso, introduziu no Brasil o teatro, com a criação do
primeiro grupo dramático brasileiro, a Companhia Dramática Nacional. Magalhães também
foi considerado mestre da nova poesia.
Segundo Sérgio Alves Peixoto (1999) em seu livro A consciência criadora na poesia
brasileira – do barroco ao simbolismo, para Gonçalves de Magalhães, a poesia tinha a
finalidade de “inspirar o amor à virtude e o horror ao vício” (p.81). A leitura de poetas “é
sempre útil, e muito concorre para a moral e a ilustração dos povos” (p.81) e o poeta é
aquele “em cujo coração arde a chama do amor à Pátria” (p.81). O autor ainda ressalta que
para Magalhães, cabe ao poeta, junto com os seus versos, modificar a história e ensinar aos
homens o caminho do bem, da glória e da liberdade.
No Brasil, a literatura romântica, quando trata da poesia, foi dividida em três
gerações: Nacionalista, Mal-do-século ou Byronismo e Condoreira. Para os textos em prosa,
dividiu-se em: Indianista, Regionalista, Citadina e Histórica.
A primeira geração, também chamada de Nacionalista, exalta a natureza, o herói na
figura do índio, o sentimentalismo e a religiosidade. Como saudosista, lírico-amoroso e
indianista, Gonçalves Dias destacou-se na literatura, principalmente nesta geração. Ao
publicar os Primeiros Cantos, em 1846, efetivou de vez o Romantismo no Brasil, tornandose popular com a Canção do Exílio, poema que exalta a pátria e mostra a nostalgia do
exilado. Em Poesias Americanas, valorizou o índio dando-lhe sentimentos nobres e
heroicos, igualmente aos concedidos aos cavaleiros medievais do Romantismo europeu.
Na segunda geração, o negativismo, a desilusão, o tédio e a dúvida caracterizaram a
geração do Mal-do-século, influenciada largamente pelas ideias de Lord Byron. A fuga da
realidade manifesta-se na exaltação da morte, em uma geração em que se destaca o poeta
Álvares de Azevedo. Nele misturam-se ternura e perversidade, desejo de afirmação e
submissão, idealização e sensualidade. A própria existência traduz-se no cansaço precoce
de se viver e em um desejo anormal em busca do fim. O poeta, influenciado por Byron e
Musset, lança-se à nostalgia, ao vício, à revolta que aparece em Spleen e Charutos. Além
dele, destacam-se outros autores como Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira
Freire.
A terceira e última geração, conhecida por Condoreira, é caracterizada pela poesia
social e libertária na qual as lutas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro II são
refletidas nas obras. Ganha destaque nessa geração o poeta Castro Alves. Romântico,
Castro Alves, por um lado, é renovador da lírica brasileira. O erótico passa a ser uma das
vertentes de sua poesia; não esconde os seus desejos e a atração que a mulher amada
exerce sobre ele. Por outro lado, no âmbito social, denuncia a realidade da nação. Seus
mais importantes poemas estão ligados ao tema da escravidão: em O Navio Negreiro:
tragédia no mar evoca o sofrimento dos negros durante a viagem da África ao Brasil. Em
Vozes d’África, o poeta passa a voz de sua poesia para a África; dessa vez, é o continente
inteiro que lamenta a partida de seus filhos.
Focando a segunda geração, sabe-se que esta desenrola-se entre 1853 a 1870,
quando Álvares de Azevedo publica Obras Poéticas e Laurindo Rabelo, Trovas. As
características já citadas anteriormente (negativismo, tédio, dúvida,) evidenciam traços da
geração do mal-do-século. O movimento literário transcorrido em São Paulo é a tendência
nessa época: o Byronismo. O núcleo da mais importante atividade literária no tempo foi a
Faculdade de Direito de São Paulo.
Segundo Massaud Moisés (1989), em História da Literatura Brasileira, a boêmia
acadêmica era encontrada nas aventuras reais e imaginárias de Byron. O poeta inglês fez
da sua imagem um modelo de juventude liberal européia, a qual é caracterizada pela
inquietude perpétua, pela melancolia, pelo desespero, pelo tédio de viver; é o mal do século,
o egocentrismo que leva ao narcisismo, ao desprezo da sociedade e da humanidade que faz
os poetas buscarem a solidão.
A idéia aplicada pelo Byronismo fez com que Álvares de Azevedo trocasse os
motivos ingênuos por motivos mais tediosos, desesperados e satânicos. Há a substituição
do amor-medo pelo amor doentio, vicioso, fruto de neuroses que transformam a melancolia
em visão de morte, que é desejada e temida.
De um modo geral, as obras de Álvares de Azevedo perguntam como as idéias
byronianas são praticadas, onde interrompe a realidade para começar a fantasia e como
discriminar, nos textos, o plano imaginário do vivido.
Entre obras
A obra Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo, é dividida em três partes e podese encontrar nela várias ideias byronianas. A primeira parte da poesia caracteriza-se pelo
amor-medo ou pela visão de um sentimento platonicamente espiritualizado em conflito com
um intenso erotismo. Essa parte é finalizada com a ideia do sonho, ou seja, o devaneio, a
fantasia, a imaginação. A segunda parte da poesia caracteriza-se pelo tema da morte ou
amor da morte sobre o amor da mulher. A primeira parte entrega-se ao fingimento amoroso,
casto, virginal, platônico; a segunda esforça-se por assumir um fingimento licencioso e
irreverente.
A Saga Crepúsculo encontra-se alguns pontos em comum com a poesia de Álvares
de Azevedo. No primeiro livro de Stephenie Meyer, tem-se o encontro de um casal
incomum. A jovem Bella Swan, uma menina desajeitada, tímida e reclusa dentro de si
mesma, apaixona-se perdidamente por Edward, um rapaz misterioso e extremamente belo.
No começo da trama, a jovem não sabe o que Edward realmente é: um vampiro.
Por essa condição, o rapaz sente um desejo insaciável pela adolescente (o seu
sangue). Ao mesmo tempo em que o vampiro sente vontade de matá-la, cresce um grande
amor e um sentimento de proteção, de carinho e de tensão sexual entre os dois. Este ponto
estabelece uma relação com a ideia do erotismo, pelo fato da autora enfatizar muito o
encanto da jovem pela beleza irresistível e impenetrável do vampiro (corpo atlético, olhos
dourados, voz hipnótica), sem importar-se com o perigo que corre ao lado dele.
Stephenie Meyer usa os principais elementos da tradição romântica: o amor
devotado e imortal; o homem que protege, cuida, espera e salva. Tudo isso, sem precisar
consumar no sexo.
Em Crepúsculo, encontra-se o seguinte pensamento da personagem narradora
(MEYER, 2008, p.157): “De três coisas eu estava convicta. Primeira, Edward era um
vampiro. Segunda, havia uma parte dele – eu não sabia que poder essa parte teria – que
tinha sede do meu sangue. E terceira, eu estava incondicional e irrevogavelmente
apaixonada por ele.”
Em A Lira dos Vinte Anos, na primeira parte, Álvares de Azevedo (1996, p. 4)
apresenta-se como o cantor de virgens pálidas, donzelas adormecidas, enaltecendo a
amada.
Álvares de Azevedo
Stephenie Meyer
Características
Ah! que véu de palidez
De três coisas eu estava convicta.
Amor devotado
Da langue face na tez!
Primeira, Edward era um vampiro.
Enaltecimento do ser amado
Como eu cismava beijando
Segunda, havia uma parte dele – eu
Não consumação do sexo
Teus negros cabelos soltos!
não sabia que poder essa parte teria –
Ó madresilva de amor
que tinha sede do meu sangue. E
Como eras saudosa então!
terceira, eu estava incondicional
Como pálida sorrias
irrevogavelmente apaixonada por ele.
e
E no meu peito dormias
Aos ais do meu coração!
Em Crepúsculo, Edward perdeu a vida aos 17 anos, no século XIX, ao virar vampiro.
Na história, o leitor percebe que Edward pouco viveu de sua juventude e até encontrar Bella,
nunca esteve com uma mulher:
Em Idéias íntimas, o autor romântico brasileiro (AZEVEDO,1996, p.46), por meio do
eu-lírico demonstra a imagem de um homem jovem que pouco aproveitou a vida e nunca
teve contato com uma mulher como se observa no seguinte fragmento do poema:
Álvares de Azevedo
Stephenie Meyer
Características
Oh! Ter vinte anos sem gozar de leve
- Quantos anos você tem?
A ventura de uma alma de donzela!
-
E sem na vida ter sentido nunca
prontamente.
Visão subjetiva da realidade
Na suave atração de um róseo corpo
- E há quanto tempo tem dezessete
Distanciamento do sexo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
anos?
Dezessete
–
respondeu
Perda da juventude
ele
Melancolia
- Há algum tempo – admitiu ele por fim
[...]
- Quem é o garoto de cabelo ruivo? –
perguntei.
[...]
- É o Edward. Ele é lindo, é claro, mas
não perca o seu tempo. Ele não
namora. Ao que parece, nenhuma das
meninas aqui é bonita o bastante para
ele. (MEYER, 2008, p.26)
No segundo livro, Lua Nova, há um mergulho no vazio emocional da personagem
Bella, na qual ela explora a sua existência de espírito e sua dor pela partida do amor de sua
vida. Na trama, Edward abandona Bella para protegê-la de outros perigos que ela viria a
passar junto com ele. A ligação dessa obra com a poesia e com toda a segunda geração
pode ser feita pelas características em comum: a melancolia, o tédio, a solidão etc.
Tudo isso é abordado no cotidiano da personagem, seja na relação com seu pai, na
escola, ou consigo mesma. O único modo de amenizar o sofrimento é enfrentando a morte.
Bella arrisca a sua vida pulando de penhascos e participando de corridas de motos,
enquanto o misterioso Edward vaga pelo mundo e tenta se matar ao saber que sua amada
tirara a própria vida, o que não era verdade.
Na segunda parte de A Lira dos Vinte Anos, o autor valoriza a decadência e a morte.
O poeta é um moço que envelhece rapidamente e entra em conflito com a realidade. Tudo é
mais sombrio, como se observa no fragmento de Lembrança de morrer (1996, p. 91):
Álvares de Azevedo
Stephenie Meyer
Características
Quando em meu peito rebentar-se a
Dei um passo para a beirada, sem tirar
Fuga da realidade
fibra,
os olhos do espaço vazio à frente. Os
Impotência diante da vida
[...]
dedos de meus pés já tateavam às
Presença da morte
Não derramem por mim nem uma
cegas, acariciando a beira da pedra
Escapismo
lágrima
quando a encontraram. Respirei fundo e
Ilusão amorosa
Em pálpebra demente.
prendi o ar... esperando.
[...]
[...]
Não quero que uma nota de alegria
Sorri e levantei os braços, com se fosse
Se cale por meu triste passamento.
mergulhar, erguendo o rosto para a
[...]
chuva.
Só levo uma saudade — é desses
[...]
tempos
E me atirei do penhasco. (MEYER,
Que amorosa ilusão embelecia.
2008, p.255)
Em relação à fantasia, a Saga Crepúsculo resgata criaturas místicas, atraentes e
fascinantes. O lobisomem, originalmente, é metade homem e metade lobo. Na obra, os
lobisomens sofrem uma transfiguração, pela qual se tornam enormes, do tamanho de um
urso, comunicam-se mentalmente e não dependem da lua cheia para transformarem-se.
Eles fazem isso por vontade própria, possuem um processo de cura rápido, mas podem
morrer por feridas comuns, desde que sejam muito graves. Uma de suas características é
sofrerem o imprinting, que significa amor à primeira vista. Fazem parte da tribo dos
lobisomens, na obra de Meyer, Quileute, que têm um gene hereditário, que é ativado
quando há ameaças vampirescas na região.
Em relação aos vampiros, essas criaturas adentraram no Romantismo, na Literatura
Ocidental. Segundo Michael Lowy (1995), esse movimento recusa os preceitos da classe
social que se instala no poder, a burguesia. Contrariando o modelo de amor eterno e
conjugal, o romantismo dará destaque ao sadismo e a crueldade. Segundo Mario Praz
(1996), o vampiro é uma variante do homem fatal romântico, inspirado em Lord Byron:
nobre, belo, misterioso e decaído, que seduz e destrói suas vítimas.
Em 1816, Lord Byron escreve Fragmente of a novel, texto em prosa que faz alusões
ao vampirismo e, em 1819, John Polidori escreve The Vampire, obra na qual estabelece
uma ligação entre vampirismo e delito de amor. Na segunda geração, dá-se destaque à
poesia Sombra de D. Juan, de Álvares de Azevedo, em que o sedutor espanhol encarna o
homem fatal romântico para destruir a mulher que não resiste a ele. “Que amor, que sonhos
no febril passado! Que tantas ilusões no amor ardente e que pálidas faces da donzela que
por mim desmaiaram docemente”. (AZEVEDO, 1996, p. 246)
Na Saga Crepúsculo, os vampiros são sensuais, extremamente bonitos,
vegetarianos, com perfume de cheiro doce, o qual extasia e atrai a vítima. Eles são rápidos
e cada um possui um dom diferente. No caso, Edward consegue ler a mente dos outros,
menos a de Bella. O vampiro da literatura mundial possui dois dentes caninos afiados; em
Crepúsculo, os vampiros usam todos os dentes para morder, pois são afiados como fa
Álvares de Azevedo
Que
amor,
que
sonhos
no
Stephenie Meyer
febril
Características
Fiquei olhando porque seus rostos, tão
Jogo de sedução
passado! Que tantas ilusões no amor
diferentes,
Idealização
ardente e que pálidas faces da donzela
completa, arrasadora e inumanamente
que por mim desmaiaram docemente.
lindos.
tão
Eram
parecidos,
rostos
que
eram
não
se
esperava ver a não ser talvez nas
páginas reluzentes de uma revista de
moda. Era difícil decidir quem era o
mais bonito – talvez a loira perfeita, ou o
garoto
de
cabelo
cor
de
bronze.
(MEYER,2005, p.24)
Conclusão
Por meio deste projeto de iniciação científica, discutiu-se como os best-sellers da
saga Crepúsculo conquistaram, com eficiência, os leitores adolescentes para o mundo da
leitura e como esses livros destacaram-se no mercado editorial. Além disso, outro ponto
explorado foi a essência romântica encontrada nesses best-sellers, no caso, a obra de
Stephenie Meyer, relacionada com a segunda geração do Romantismo brasileiro.
No decorrer do trabalho, estudaram-se o Romantismo e suas três gerações da
poesia: Nacionalista, Mal-do-século e Condoreira. A partir desse ponto, o projeto foi
desenvolvido a partir da segunda geração (byronismo), caracterizada pelo negativismo, a
desilusão, o tédio e a dúvida, influenciada pelas ideias de Lord Byron, concedendo destaque
ao poeta Álvares de Azevedo.
Na principal obra de Álvares de Azevedo, Lira dos Vinte Anos, dividida em três
partes, encontram-se duas personalidades do poeta: um em que ele idealiza o amor, a
mulher amada, possui sonhos e fantasias; outro em que há um homem sarcástico, irônico,
macabro e satânico. Essas características foram vistas em alguns fragmentos dos poemas:
No mar, Idéias Íntimas, Lembranças de Morrer e a Canção de Don Juan.
As características do Romantismo são, muitas vezes, utilizadas, até hoje, em bestsellers contemporâneos. O exemplo mais específico e explorado neste trabalho foi a saga
Crepúsculo, de Stephenie Meyer. Encontram-se alguns pontos em comum com a poesia de
Álvares de Azevedo: o amor devotado, o enaltecimento do ser amado, a não consumação
do sexo, assim como, a perda da juventude, a melancolia, a visão subjetiva e o
distanciamento do sexo.
Já com os livros Lua Nova e Eclipse, foram feitas algumas comparações com a
segunda parte da Lira dos Vinte Anos: a fuga da realidade, a impotência diante da vida, a
presença da morte, o escapismo e a ilusão amorosa. A questão do vampirismo,
desenvolvida tanto no Romantismo quanto na saga envolve dois aspectos principais: o jogo
de sedução e a idealização do personagem.
Referências bibliográficas:
AZEVEDO, Álvares. Álvares de Azevedo: Poesia. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1977.
BOSI, Alfredo. Historia Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 2001.
LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001.
MEYER, Stephenie. Crepúsculo. São Paulo: Intrínseca, 2008.
_______________. Lua Nova. São Paulo: Intrínseca, 2008.
_______________. Eclipse. São Paulo: Intrínseca, 2008.
MOISES, Massaud. História da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989.
PEIXOTO, Sérgio Alves. A consciência criadora na poesia brasileira: do barroco ao
simbolismo. São Paulo: Annablume, 1999.
Webgrafia:
http://www.blogers.com.br/diferenca-dos-vampiros-de-crepusculo-com-os-outros/
http://bravonline.abril.com.br/materia/crepusculo-dracula-stephanie-meyer
http://www.filologia.org.br/pub_outras/sliit02/sliit02_15-24.html
http://www.infoescola.com/livros/lua-nova/
http://www.intrinseca.com.br
http://momentocrepusculo.blogspot.com/2009/05/os-lobisomens-de-stephenie-meyer-x.html
http://veja.abril.com.br/231209/geracao-romantica-p-174.shtml
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