A ESSÊNCIA ROMÂNTICA NOS BEST-SELLERS CONTEMPORÂNEOS: A SAGA CREPÚSCULO Camila Savioli Orientador: Prof. Dr. Alexandre Huady Introdução Segundo a obra Literatura: leitores e leitura, de Marisa Lajolo (2001), a própria palavra literatura pode ter vários significados, ou seja, pode vir a significar línguas clássicas, gramática, erudição, elementos que reforçam sua ligação com a escrita. A forma latina litteratura deriva-se de outra palavra latina, littera, que pode ser compreendida como letra, isto é, sinal gráfico que representa, por escrito, um som de fala. Há algumas décadas não se busca mais uma definição exata e única para a literatura, uma vez que ela pode ser interpretada de inúmeras formas. Invariavelmente é tratada como uma atividade artística na qual o escritor exprime as alegrias, as angústias, as certezas e os enigmas do homem. Há vários critérios pelos quais se tenta identificar o que é literatura: o tipo de linguagem, o tema, o efeito produzido, as intenções do autor etc. Fundamental é perceber que para que um texto caracterize-se como uma obra literária, é preciso, em primeiro lugar, que alguém o escreva e, principalmente, que alguém leia-o. Segundo a mesma autora (2001), músicas, fitas, arquivos, poemas, podem ou não serem considerados obras literárias. Para definir um texto como literatura não basta só a escrita e a leitura por parte de alguém, é preciso de um ponto de vista, da ampliação do significado que a palavra tem para cada um e a situação na qual se discute o texto. Uma obra mais específica passa por vários canais até chegar ao leitor: edição, distribuição, livrarias, eventos, publicações. São esses canais que aprovam, no mais das vezes, a essência literária das obras em circulação. Para fazer parte da tradição literária, existem setores especializados que atestam se determinado texto deve ser definido como literatura ou não. Esses setores são compostos, geralmente, pelos denominados intelectuais, professores, críticos, editores de prestígio, cursos de Letras, lista de obras vendidas, entre outros. Acompanhar a interpretação e a avaliação de um texto ajuda a entender como a literatura foi concebida e suas inúmeras definições. Entender o processo de aprovação que torna uma obra designada como literária ajuda os leitores a discutir mais sobre a literatura, com opiniões e com argumentos mais fortes. Best-seller e o mercado editorial No mercado editorial existem, basicamente, três tipos de editoras: editoras grandes, que publicam os best-sellers internacionais e autores nacionais consagrados; editoras médias que publicam livros em parceria com o autor e/ou instituições estatais ou privadas; editoras pequenas que publicam livros que são financiados pelos próprios autores. Para garantir espaço nas prateleiras, há certo conflito entre essas editoras. As grandes conseguem comprar espaços nas livrarias para venderem os livros. Para que os livros continuem nas lojas, as editoras médias dão descontos, algumas vezes, elevados. Já as editoras pequenas só conseguem um espaço nas lojas se possuírem algum tipo de acordo com a distribuidora. O livro que não é vendido fica encalhado no depósito e logo em seguida é retirado. Assim que funciona, em essência, o mercado editorial. Dentro dele, classificam-se como best-sellers os livros que se destacam no mercado, conquistando grande número de leitores. A primeira noção de best-seller ocorreu quando a Literatura foi produzida com fins lucrativos, ou seja, referindo-se a uma avaliação quantitativa de vendagem. No início do século XX, na década de 40, o americano Frank Luther Mott propôs um critério no qual um livro tornar-se-ia um best-seller se atingisse um total de vendas equivalente a um por cento da população dos EUA, na década em que foi publicado (SILVA, Fernando Moreno, 2006). Para um livro ficar largamente conhecido e ser o muito vendido, é preciso que o texto conquiste os leitores. Só que, quanto mais diversificado o leitor, mais complicado de agradar. As temáticas que mais fazem sucesso para os consumidores, ultimamente, são: crime, amor, sexo, aventura, suspense, terror etc. É importante, também, que não falte a presença do herói, com o qual o leitor identifica-se e projeta-se em sua figura, ansiando pelas mesmas conquistas e vitórias do personagem do livro. O best-seller, além de caracterizar-se por uma grande vendagem, e geralmente classificado como um livro com uma narrativa ficcional que se encaixa dentro de um gênero literário com pretensões mais comerciais que artísticas. No mercado editorial, não é só enredo que ajuda na vendagem dos livros. Há um processo de adaptação do best-seller. Nesse processo, há a lapidação da escrita, que a enobrece; o formato, a disposição e a divisão do texto, a ilustração, as chamadas dos nomes, os títulos, os subtítulos, as orelhas etc. Essas técnicas são executadas pelo editor com o intuito de deixar o livro ainda mais atrativo. Há, também, um bom catálogo que não só divulga os títulos dos livros como também envolve e persuade os leitores por meio de imagens pelas quais o produto fica conhecido, tendo o objetivo de conjugar o valor literário com o sucesso comercial. Como exemplo, tem-se a Editora Intrínseca, de Jorge Oakim, uma das mais competitivas do Brasil. A Editora Intrínseca está associada à Sextante e possui uma grande lista de best-sellers que quase sempre ocupam as primeiras posições de livros de ficção mais vendidos da revista Veja. O atual sucesso da Intrínseca dá-se, também, à publicação dos livros da Saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer, e do Ladrão de Raios, de Rick Riordan. Em 2008 a vendeu 725.000 exemplares e, em 2009, esse número subiu para 3,8 milhões de exemplares. Da série Crepúsculo, já foram vendidos 5,5 milhões de exemplares. Com o sucesso dos livros e a estréia do terceiro filme da saga, Eclipse, a autora Stephenie Meyer lançou mais um livro baseado no terceiro livro da série, A breve segunda vida de Bree Tanner. Segundo a própria Editora (www.intrinseca.com.br. Acessado em 18/02/2012): A série, que já teve mais de 5,5 milhões exemplares comercializados, mobilizou dezenas de fãs-clubes organizados além de uma legião nacional de leitores que atuam como multiplicadores do encantamento produzido pela história de Isabella Swan e Edward Cullen em sites, comunidades virtuais e eventos apoiados pela editora. Segundo levantamento feito pela Revista Veja, no dia 17 de novembro de 2010, a Editora Intrínseca passou da marca de 5.200.000 exemplares vendidos. Na semana que o elenco e toda equipe do filme Amanhecer, último livro da série, esteve para gravar algumas cenas no Rio de Janeiro, as vendas da saga dobraram em relação ao mesmo período de outubro, chegando a quase 4.500.000 exemplares. Os quatro livros Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer, de Stephenie Meyer, possuem no enredo o principal elemento que atrai a atenção dos adolescentes: o amor romântico. E é a partir desses elementos da tradição romântica, narrados em primeira pessoa pela protagonista (Bella Swan), que se pode estabelecer o estudo e a comparação com o movimento literário denominado como Romantismo. Romantismo Os estudiosos da literatura acabaram por dividi-la, didaticamente, em escolas, gêneros ou movimentos literários. Entre eles há o movimento romântico, ocorrido fundamentalmente na primeira metade do século XIX, época de grandes eventos na vida intelectual, social, política e econômica da Europa. Segundo Massaud Moisés (1989, p.3), “Da mesma forma que a Renascença havia preparado a idade clássica da literatura européia, o Romantismo inaugura-lhe a idade moderna. Assim principia um dos estudos de síntese mais bem equilibrados que já se fizeram acerca do Romantismo”. O Romantismo foi um movimento artístico, filosófico, político, literário que surgiu nas últimas décadas do século XVIII na Europa e perdurou até boa parte do século XIX. Apresentou uma visão de mundo contrária ao racionalismo e buscou um nacionalismo que iria consolidar os estados nacionais da Europa. O termo romântico faz referência à estética, à tendência idealista ou poética que se desenvolve em torno do subjetivismo. O Romantismo só foi definido como escola literária nos últimos vinte e cinco anos do século XVIII. Em Portugal, o poema Camões, de Almeida Garrett, foi o marco inicial do Romantismo no país. Já o livro de poesias Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, e a revista Niterói foram o marco inicial do Romantismo no Brasil, em 1836. Gonçalves de Magalhães moveu de modo sistemático os seus ideais românticos (nacionalismo e religiosidade) junto com o repúdio aos padrões clássicos externos, como, por exemplo, a mitologia pagã. Além disso, introduziu no Brasil o teatro, com a criação do primeiro grupo dramático brasileiro, a Companhia Dramática Nacional. Magalhães também foi considerado mestre da nova poesia. Segundo Sérgio Alves Peixoto (1999) em seu livro A consciência criadora na poesia brasileira – do barroco ao simbolismo, para Gonçalves de Magalhães, a poesia tinha a finalidade de “inspirar o amor à virtude e o horror ao vício” (p.81). A leitura de poetas “é sempre útil, e muito concorre para a moral e a ilustração dos povos” (p.81) e o poeta é aquele “em cujo coração arde a chama do amor à Pátria” (p.81). O autor ainda ressalta que para Magalhães, cabe ao poeta, junto com os seus versos, modificar a história e ensinar aos homens o caminho do bem, da glória e da liberdade. No Brasil, a literatura romântica, quando trata da poesia, foi dividida em três gerações: Nacionalista, Mal-do-século ou Byronismo e Condoreira. Para os textos em prosa, dividiu-se em: Indianista, Regionalista, Citadina e Histórica. A primeira geração, também chamada de Nacionalista, exalta a natureza, o herói na figura do índio, o sentimentalismo e a religiosidade. Como saudosista, lírico-amoroso e indianista, Gonçalves Dias destacou-se na literatura, principalmente nesta geração. Ao publicar os Primeiros Cantos, em 1846, efetivou de vez o Romantismo no Brasil, tornandose popular com a Canção do Exílio, poema que exalta a pátria e mostra a nostalgia do exilado. Em Poesias Americanas, valorizou o índio dando-lhe sentimentos nobres e heroicos, igualmente aos concedidos aos cavaleiros medievais do Romantismo europeu. Na segunda geração, o negativismo, a desilusão, o tédio e a dúvida caracterizaram a geração do Mal-do-século, influenciada largamente pelas ideias de Lord Byron. A fuga da realidade manifesta-se na exaltação da morte, em uma geração em que se destaca o poeta Álvares de Azevedo. Nele misturam-se ternura e perversidade, desejo de afirmação e submissão, idealização e sensualidade. A própria existência traduz-se no cansaço precoce de se viver e em um desejo anormal em busca do fim. O poeta, influenciado por Byron e Musset, lança-se à nostalgia, ao vício, à revolta que aparece em Spleen e Charutos. Além dele, destacam-se outros autores como Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. A terceira e última geração, conhecida por Condoreira, é caracterizada pela poesia social e libertária na qual as lutas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro II são refletidas nas obras. Ganha destaque nessa geração o poeta Castro Alves. Romântico, Castro Alves, por um lado, é renovador da lírica brasileira. O erótico passa a ser uma das vertentes de sua poesia; não esconde os seus desejos e a atração que a mulher amada exerce sobre ele. Por outro lado, no âmbito social, denuncia a realidade da nação. Seus mais importantes poemas estão ligados ao tema da escravidão: em O Navio Negreiro: tragédia no mar evoca o sofrimento dos negros durante a viagem da África ao Brasil. Em Vozes d’África, o poeta passa a voz de sua poesia para a África; dessa vez, é o continente inteiro que lamenta a partida de seus filhos. Focando a segunda geração, sabe-se que esta desenrola-se entre 1853 a 1870, quando Álvares de Azevedo publica Obras Poéticas e Laurindo Rabelo, Trovas. As características já citadas anteriormente (negativismo, tédio, dúvida,) evidenciam traços da geração do mal-do-século. O movimento literário transcorrido em São Paulo é a tendência nessa época: o Byronismo. O núcleo da mais importante atividade literária no tempo foi a Faculdade de Direito de São Paulo. Segundo Massaud Moisés (1989), em História da Literatura Brasileira, a boêmia acadêmica era encontrada nas aventuras reais e imaginárias de Byron. O poeta inglês fez da sua imagem um modelo de juventude liberal européia, a qual é caracterizada pela inquietude perpétua, pela melancolia, pelo desespero, pelo tédio de viver; é o mal do século, o egocentrismo que leva ao narcisismo, ao desprezo da sociedade e da humanidade que faz os poetas buscarem a solidão. A idéia aplicada pelo Byronismo fez com que Álvares de Azevedo trocasse os motivos ingênuos por motivos mais tediosos, desesperados e satânicos. Há a substituição do amor-medo pelo amor doentio, vicioso, fruto de neuroses que transformam a melancolia em visão de morte, que é desejada e temida. De um modo geral, as obras de Álvares de Azevedo perguntam como as idéias byronianas são praticadas, onde interrompe a realidade para começar a fantasia e como discriminar, nos textos, o plano imaginário do vivido. Entre obras A obra Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo, é dividida em três partes e podese encontrar nela várias ideias byronianas. A primeira parte da poesia caracteriza-se pelo amor-medo ou pela visão de um sentimento platonicamente espiritualizado em conflito com um intenso erotismo. Essa parte é finalizada com a ideia do sonho, ou seja, o devaneio, a fantasia, a imaginação. A segunda parte da poesia caracteriza-se pelo tema da morte ou amor da morte sobre o amor da mulher. A primeira parte entrega-se ao fingimento amoroso, casto, virginal, platônico; a segunda esforça-se por assumir um fingimento licencioso e irreverente. A Saga Crepúsculo encontra-se alguns pontos em comum com a poesia de Álvares de Azevedo. No primeiro livro de Stephenie Meyer, tem-se o encontro de um casal incomum. A jovem Bella Swan, uma menina desajeitada, tímida e reclusa dentro de si mesma, apaixona-se perdidamente por Edward, um rapaz misterioso e extremamente belo. No começo da trama, a jovem não sabe o que Edward realmente é: um vampiro. Por essa condição, o rapaz sente um desejo insaciável pela adolescente (o seu sangue). Ao mesmo tempo em que o vampiro sente vontade de matá-la, cresce um grande amor e um sentimento de proteção, de carinho e de tensão sexual entre os dois. Este ponto estabelece uma relação com a ideia do erotismo, pelo fato da autora enfatizar muito o encanto da jovem pela beleza irresistível e impenetrável do vampiro (corpo atlético, olhos dourados, voz hipnótica), sem importar-se com o perigo que corre ao lado dele. Stephenie Meyer usa os principais elementos da tradição romântica: o amor devotado e imortal; o homem que protege, cuida, espera e salva. Tudo isso, sem precisar consumar no sexo. Em Crepúsculo, encontra-se o seguinte pensamento da personagem narradora (MEYER, 2008, p.157): “De três coisas eu estava convicta. Primeira, Edward era um vampiro. Segunda, havia uma parte dele – eu não sabia que poder essa parte teria – que tinha sede do meu sangue. E terceira, eu estava incondicional e irrevogavelmente apaixonada por ele.” Em A Lira dos Vinte Anos, na primeira parte, Álvares de Azevedo (1996, p. 4) apresenta-se como o cantor de virgens pálidas, donzelas adormecidas, enaltecendo a amada. Álvares de Azevedo Stephenie Meyer Características Ah! que véu de palidez De três coisas eu estava convicta. Amor devotado Da langue face na tez! Primeira, Edward era um vampiro. Enaltecimento do ser amado Como eu cismava beijando Segunda, havia uma parte dele – eu Não consumação do sexo Teus negros cabelos soltos! não sabia que poder essa parte teria – Ó madresilva de amor que tinha sede do meu sangue. E Como eras saudosa então! terceira, eu estava incondicional Como pálida sorrias irrevogavelmente apaixonada por ele. e E no meu peito dormias Aos ais do meu coração! Em Crepúsculo, Edward perdeu a vida aos 17 anos, no século XIX, ao virar vampiro. Na história, o leitor percebe que Edward pouco viveu de sua juventude e até encontrar Bella, nunca esteve com uma mulher: Em Idéias íntimas, o autor romântico brasileiro (AZEVEDO,1996, p.46), por meio do eu-lírico demonstra a imagem de um homem jovem que pouco aproveitou a vida e nunca teve contato com uma mulher como se observa no seguinte fragmento do poema: Álvares de Azevedo Stephenie Meyer Características Oh! Ter vinte anos sem gozar de leve - Quantos anos você tem? A ventura de uma alma de donzela! - E sem na vida ter sentido nunca prontamente. Visão subjetiva da realidade Na suave atração de um róseo corpo - E há quanto tempo tem dezessete Distanciamento do sexo Meus olhos turvos se fechar de gozo! anos? Dezessete – respondeu Perda da juventude ele Melancolia - Há algum tempo – admitiu ele por fim [...] - Quem é o garoto de cabelo ruivo? – perguntei. [...] - É o Edward. Ele é lindo, é claro, mas não perca o seu tempo. Ele não namora. Ao que parece, nenhuma das meninas aqui é bonita o bastante para ele. (MEYER, 2008, p.26) No segundo livro, Lua Nova, há um mergulho no vazio emocional da personagem Bella, na qual ela explora a sua existência de espírito e sua dor pela partida do amor de sua vida. Na trama, Edward abandona Bella para protegê-la de outros perigos que ela viria a passar junto com ele. A ligação dessa obra com a poesia e com toda a segunda geração pode ser feita pelas características em comum: a melancolia, o tédio, a solidão etc. Tudo isso é abordado no cotidiano da personagem, seja na relação com seu pai, na escola, ou consigo mesma. O único modo de amenizar o sofrimento é enfrentando a morte. Bella arrisca a sua vida pulando de penhascos e participando de corridas de motos, enquanto o misterioso Edward vaga pelo mundo e tenta se matar ao saber que sua amada tirara a própria vida, o que não era verdade. Na segunda parte de A Lira dos Vinte Anos, o autor valoriza a decadência e a morte. O poeta é um moço que envelhece rapidamente e entra em conflito com a realidade. Tudo é mais sombrio, como se observa no fragmento de Lembrança de morrer (1996, p. 91): Álvares de Azevedo Stephenie Meyer Características Quando em meu peito rebentar-se a Dei um passo para a beirada, sem tirar Fuga da realidade fibra, os olhos do espaço vazio à frente. Os Impotência diante da vida [...] dedos de meus pés já tateavam às Presença da morte Não derramem por mim nem uma cegas, acariciando a beira da pedra Escapismo lágrima quando a encontraram. Respirei fundo e Ilusão amorosa Em pálpebra demente. prendi o ar... esperando. [...] [...] Não quero que uma nota de alegria Sorri e levantei os braços, com se fosse Se cale por meu triste passamento. mergulhar, erguendo o rosto para a [...] chuva. Só levo uma saudade — é desses [...] tempos E me atirei do penhasco. (MEYER, Que amorosa ilusão embelecia. 2008, p.255) Em relação à fantasia, a Saga Crepúsculo resgata criaturas místicas, atraentes e fascinantes. O lobisomem, originalmente, é metade homem e metade lobo. Na obra, os lobisomens sofrem uma transfiguração, pela qual se tornam enormes, do tamanho de um urso, comunicam-se mentalmente e não dependem da lua cheia para transformarem-se. Eles fazem isso por vontade própria, possuem um processo de cura rápido, mas podem morrer por feridas comuns, desde que sejam muito graves. Uma de suas características é sofrerem o imprinting, que significa amor à primeira vista. Fazem parte da tribo dos lobisomens, na obra de Meyer, Quileute, que têm um gene hereditário, que é ativado quando há ameaças vampirescas na região. Em relação aos vampiros, essas criaturas adentraram no Romantismo, na Literatura Ocidental. Segundo Michael Lowy (1995), esse movimento recusa os preceitos da classe social que se instala no poder, a burguesia. Contrariando o modelo de amor eterno e conjugal, o romantismo dará destaque ao sadismo e a crueldade. Segundo Mario Praz (1996), o vampiro é uma variante do homem fatal romântico, inspirado em Lord Byron: nobre, belo, misterioso e decaído, que seduz e destrói suas vítimas. Em 1816, Lord Byron escreve Fragmente of a novel, texto em prosa que faz alusões ao vampirismo e, em 1819, John Polidori escreve The Vampire, obra na qual estabelece uma ligação entre vampirismo e delito de amor. Na segunda geração, dá-se destaque à poesia Sombra de D. Juan, de Álvares de Azevedo, em que o sedutor espanhol encarna o homem fatal romântico para destruir a mulher que não resiste a ele. “Que amor, que sonhos no febril passado! Que tantas ilusões no amor ardente e que pálidas faces da donzela que por mim desmaiaram docemente”. (AZEVEDO, 1996, p. 246) Na Saga Crepúsculo, os vampiros são sensuais, extremamente bonitos, vegetarianos, com perfume de cheiro doce, o qual extasia e atrai a vítima. Eles são rápidos e cada um possui um dom diferente. No caso, Edward consegue ler a mente dos outros, menos a de Bella. O vampiro da literatura mundial possui dois dentes caninos afiados; em Crepúsculo, os vampiros usam todos os dentes para morder, pois são afiados como fa Álvares de Azevedo Que amor, que sonhos no Stephenie Meyer febril Características Fiquei olhando porque seus rostos, tão Jogo de sedução passado! Que tantas ilusões no amor diferentes, Idealização ardente e que pálidas faces da donzela completa, arrasadora e inumanamente que por mim desmaiaram docemente. lindos. tão Eram parecidos, rostos que eram não se esperava ver a não ser talvez nas páginas reluzentes de uma revista de moda. Era difícil decidir quem era o mais bonito – talvez a loira perfeita, ou o garoto de cabelo cor de bronze. (MEYER,2005, p.24) Conclusão Por meio deste projeto de iniciação científica, discutiu-se como os best-sellers da saga Crepúsculo conquistaram, com eficiência, os leitores adolescentes para o mundo da leitura e como esses livros destacaram-se no mercado editorial. Além disso, outro ponto explorado foi a essência romântica encontrada nesses best-sellers, no caso, a obra de Stephenie Meyer, relacionada com a segunda geração do Romantismo brasileiro. No decorrer do trabalho, estudaram-se o Romantismo e suas três gerações da poesia: Nacionalista, Mal-do-século e Condoreira. A partir desse ponto, o projeto foi desenvolvido a partir da segunda geração (byronismo), caracterizada pelo negativismo, a desilusão, o tédio e a dúvida, influenciada pelas ideias de Lord Byron, concedendo destaque ao poeta Álvares de Azevedo. Na principal obra de Álvares de Azevedo, Lira dos Vinte Anos, dividida em três partes, encontram-se duas personalidades do poeta: um em que ele idealiza o amor, a mulher amada, possui sonhos e fantasias; outro em que há um homem sarcástico, irônico, macabro e satânico. Essas características foram vistas em alguns fragmentos dos poemas: No mar, Idéias Íntimas, Lembranças de Morrer e a Canção de Don Juan. As características do Romantismo são, muitas vezes, utilizadas, até hoje, em bestsellers contemporâneos. O exemplo mais específico e explorado neste trabalho foi a saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer. Encontram-se alguns pontos em comum com a poesia de Álvares de Azevedo: o amor devotado, o enaltecimento do ser amado, a não consumação do sexo, assim como, a perda da juventude, a melancolia, a visão subjetiva e o distanciamento do sexo. Já com os livros Lua Nova e Eclipse, foram feitas algumas comparações com a segunda parte da Lira dos Vinte Anos: a fuga da realidade, a impotência diante da vida, a presença da morte, o escapismo e a ilusão amorosa. A questão do vampirismo, desenvolvida tanto no Romantismo quanto na saga envolve dois aspectos principais: o jogo de sedução e a idealização do personagem. Referências bibliográficas: AZEVEDO, Álvares. Álvares de Azevedo: Poesia. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1977. BOSI, Alfredo. Historia Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 2001. LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001. MEYER, Stephenie. Crepúsculo. São Paulo: Intrínseca, 2008. _______________. Lua Nova. São Paulo: Intrínseca, 2008. _______________. Eclipse. São Paulo: Intrínseca, 2008. MOISES, Massaud. História da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989. PEIXOTO, Sérgio Alves. A consciência criadora na poesia brasileira: do barroco ao simbolismo. 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