Fitossanidade
A
utilizaÇão do controle químico de plantas daninhas
em lavouras comerciais, iniciou nos anos 40 com o 2,4-0 e representou um grande avanço nas técnicas
de controle. A eficiência e a comodidade
do uso dos herbicidas resultaram em ampla aceitação por parte dos produtores e
também um importante mercado para a
indústria química. Desde então, novas familias de herbícidas foram desenvolvidas,
com prioridade para produtos de menor
impacto arnbiental, amplo espectro de
ação e que pudessem atender demandas
do mercado. Alguns produtos marcaram
época no seu lançamento por apresentar
avanços importantes, como aconteceu
com o glifosato em 1976, e com o scepter e os graminicidas pós-emergentes em
meados dos anos 80. As vendas de secpter em seu primeiro ano de mercado chegaram a chamar a atenção, pelo volume
muito acima do normal, o que se explicava pela necessidade de um produto que
controlasse o leiteiro, que durante anos
havia sido selecionado pelo intenso uso
de trifluralina e outros.
O sucesso do controle quimico também repercutiu biologicamente com a
seleção de espécies e a manifestação de
populações de plantas daninhas resistentes. Na maior parte das vezes, a resistência surge em sistemas de monocultura
onde um único herbicida, ou mecanismo de ação, é aplicado continuamente.
A resistência é a resposta a um processo
natural de evolução das espécies, no qual
as plantas se adaptam às mudanças do
ambiente.
A resistência foi registrada no Brasil
pela primeira vez nos anos 90, embora
fosse conhecida nos Estados Unidos desde a década de 60 com o herbicida 2,4D. Nos anos 70 foi regístrada a resistência a herbícídas utilizados em milho, com
o grupo das triazinas. Os problemas se
acentuaram com o desenvolvimento acelerado de novos produtos, muitos dos
quais com o mesmo mecanismo de ação.
Com a resistência das plantas daninhas,
passou a ser fundamental considerar, nas
recomendações técnicas, a classificação
dos herbicídas em função do mecanismo
de ação. Herbicidas com o mesmo mecanismo de ação têm alta probabilidade de
apresentar comportamento semelhante,
quando da ocorrência de população resistente.
Atualmente no Brasil estão oficialmente registrados os casos de resistência
com amendoim-bravo, picão-preto, losna-branca, nabiça, papuã e milhã, envolvendo os mecanismos de ação AiS, Protox e ACCAse. Com o glifosato o problema não é diferente e espécies resistentes
a esse produto já são conhecidas no país,
como a buva e o azevém. Fortes suspeitas de resistência ao glifosato recaem sobre o amendoin-bravo, indicando a possibilidade de graves problemas com essa
- Soja - Julho 07
espécie também na soja transgênica.
Muito recentemente foi confirmado, no
Paraná, a resistência de picão-preto a herbicida do grupo das triazinas, utilizado
no milho.
Casos de resistência podem ser evitados através da utilização de sementes
com alto grau de pureza, limpeza de
máquinas e implementos, rotação de cultivos, uso de herbicidas com mecanismos
de ação diferenciados, monitoramento da
dinâmica das populações das invasoras,
monitoramento dos resultados das aplicações dos herbicidas, utilização, quando permitido, das misturas de herbicidas
com mecanismos cliversos de controle e
pela integração dos métodos de controle.
A alternância de soja convencional com
transgênica em uma área onde não se
pratica rotação de culturas é uma ferramenta importante, vista sobre a ótica da
ciência das plantas daninhas.
SUBDOSAGEM
Além da monocultura e do uso continuado do mesmo mecanismo de ação,
existem outros fatores que podem ser
considerados como risco para a manifestação da resistência incluindo herbicidas
com mecanismo de ação simples, herbicida com longa ação residual, elevada eficiência (100% de controle) e vizinhos
com problema. É óbvio que se deseja eficiência total e longa ação residual. Mas
essas características podem também fa-
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• Julho 07 - Soja - Fitossanidade
Problemas de resistência se acentuaram com o desenvolvimento acelerado de
novos produtos, muitos dos quais com o mesmo mecanismo de ação
Caderno Técnico:
Fitossanidade
Foto de Capa:
Charles Echer
Circula encartado na
revista Cultivar
Grandes Culturas
nº 98 - Julho 07
Reimpressões podem
ser solicitadas através
do telefone:
(53) 3028.2075
www.grupocultivar.com
cilitar a seleção e por isso devem ser manejados na área. A subclose e a resistência têm sido motivo de polêmica. A subdose seleciona as plantas mais tolerantes
e esse já é um bom motivo para não praticá-Ia. O levantamento sobre um possível caso de resistência deve considerar o
histórico do uso de produtos ~ do controle das plantas daninhas. E comum
aparecer plantas mortas ao lado de plantas sem controle, assim como no início,
falhas em reboleira. Também é importante considerar que plantas daninhas resistentes e suscetíveis parecem iguais e somente o teste químico ou monitoramento
da área podem ajudar a identificar. Plantas daninhas resistentes podem apresentar dano causado pelo herbicida, porém,
controle não e algumas vezes a resistência é tão acentuada que ne~ sintomas
do produto são observados. E preciso estar atento, pois falha no controle não significa necessariamente que esteja ocorrendo resistência. Mesmo quem pratica
Gazziero reforça a importância de
um manejo adequado das moléculas
rotação de cultura pode ter problema de
resistência, porém a possibilidade é muito menor.
Quando do conhecimento dos primeiros casos de resistência no Brasil a
Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas (SBCPD) criou um Comitê de Resistência (CRPH) para estudar o assunto e discuti-lo com a assistência técnica, e com os produtores, para
gerar publicações, fazer recomendações,
e propor normas para estudos. Posteriormente, a indústria criou o seu próprio
comitê conhecido como HRAC, por reconhecer a importância do assunto e para
acompanhamento do problema, visando
soluções.
Resistência de plantas daninhas é um
problema? Sim, e até bem pouco tempo
atrás se falava que" era um problema de
fácil solução", desde que fossem utilizadas as técnicas recomendadas. Hoje, ao
olhanmos para o rápido crescimento dos
casos de resistência e o manejo que tem
sido adotado em muitas áreas de produção, observa-se o aumento da gravidade
dos casos, e conclui-se que é um problema que "ainda" tem solução. Resumidamente, temos casos na soja convencional, na soja transgênica, em espécies de
entressafra que transcendem ao manejo
de pré-sernadura e agora também no
milho, uma importante cultura na composição c rotação de sistemas de produção. A responsabilidade na prevenção e
na solução dos casos de resistência é de
todos, cabendo ao engenheiro agrônomo
e ao produtor a responsabilidade do gerenciamento do problema na propriedade, a pesquisa, estudando e buscando soluções alternativas, ao fabricante o profundo envolvimento nos casos, o alerta e
a orientação para a prevenção e tratamento quando surgirem as primeiras suspeitas.
Cabe lembrar também que não tem
ocorrido lançamentos de novas moléculas para a soja. Isto é o resultado da somatória de diferentes fatores, entre eles a
tecnologia da soja transgênica que impactou fortemente o mercado, da dificuldade para criar, desenvolver e regulamentar um produto e dos custos que envolvem um processo dessa natureza. Portanto as ferramentas que dispomos estão
no mercado e não se sabe quando, e se
será possível contar com novas alternativas. Isso reforça a importância de um
manejo adequado para proteção das moléculas e das tecnologias disponíveis no
momento. Prevenir é mais fácil que curar. Este ditado se aplica também à resistência de plantas daninhas aos herbicidas, sendo que a solução depende de
cada um de nós.
~
Dionisio Gazziero,
Fernando Adegas e
Elemar Yoll,
Embrapa
Soja
Aumento da gravidade dos casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas
que antes era um problema de fácil solução, atualmente "ainda" tem solução
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