Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 INTRODUÇÃO AO CÁLCULO DE ERROS NAS MEDIDAS DE GRANDEZAS FÍSICAS 1. Introdução ..................................................................................................................2 2. Erros de observação: erros sistemáticos e erros fortuitos ou acidentais ....................2 3. Precisão e rigor ..........................................................................................................3 4. Erro absoluto e erro relativo ......................................................................................3 5. Algarismos significativos ..........................................................................................4 6. Distribuição de medidas ............................................................................................5 7. Média Aritmética e erro padrão na média aritmética ................................................8 7.1 Média aritmética simples e pesada .....................................................................8 7.2 Desvio padrão e variância dos resultados de uma amostra e da média aritmética .........................................................................................8 8. Combinação de erros ...............................................................................................10 9. Ajuste de uma recta a dados experimentais Método dos mínimos desvios quadrados ................................................................12 9.1 Ajuste a uma recta da forma y = kx ..................................................................12 9.2 Ajuste a uma recta da forma y = ax + b ............................................................13 10. Avaliação da qualidade do ajuste de uma recta aos dados experimentais teste do qui-quadrado ...........................................................................................13 Bibliografia..................................................................................................................14 Departamento de Física da FCTUC 1/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 1. Introdução É um facto de observação corrente que, se repetirmos a medição de uma grandeza física em condições supostas idênticas, não obtemos sempre o mesmo resultado mas sim um conjunto de valores diferentes. Cada um destes valores constitui um “valor medido” da referida grandeza. Como uma medição nunca é exacta, cada valor medido representa uma aproximação do valor verdadeiro. As medidas de massa, comprimento, tempo e de todas as grandezas derivadas como, por exemplo, volume e densidade, são inevitavelmente de precisão limitada. Nestas condições, a crítica dos resultados obtidos numa experiência é parte fundamental da própria experiência. Ao realizar uma medição não basta indicar o número que se obteve como resultado: é necessário fazê-lo acompanhar de um outro que indique em que medida o experimentador está confiante no valor que apresenta. Por exemplo, ao medir-se a distância focal f de uma lente, o resultado final pode ser apresentado como f = 256 ± 2 mm. Significa isto que, dadas as condições em que foi efectuada a medição, o experimentador considera que a distância focal deverá ter um valor compreendido entre 254 mm e 258 mm, sendo 256 mm o valor mais provável. 2. Erros de observação: erros sistemáticos e erros fortuitos ou acidentais A preocupação fundamental do experimentador que realiza uma medição é, naturalmente, a de tomar todas as precauções para reduzir os erros durante a experiência. Apesar disso, todas as medições são afectadas por um erro experimental devido as inevitáveis imperfeições nos aparelhos de medida ou às limitações impostas pelos nossos sentidos (visão, audição, etc.) que registam a informação. Ao repetir várias vezes uma medição, verifica-se que os erros experimentais se agrupam em duas categorias: uns que se apresentam sempre no mesmo sentido e outros que actuam ao acaso tanto num sentido como no outro. Os primeiros designam-se por erros sistemáticos; os segundos, por erros acidentais ou fortuitos. Suponhamos que medimos o período de um pêndulo com o auxílio de um cronómetro e que repetimos várias vezes a medição. Os atrasos ou antecipações do experimentador ao ligar e desligar o cronómetro, os erros na estimativa das divisões da escala, as pequenas irregularidades no movimento do pêndulo, provocam variações nos resultados das sucessivas medições e podem ser considerados erros acidentais. Se não se manifestarem outros erros, algumas das medidas apresentam um valor elevado e outras um valor mais reduzido. Mas se, além disso, o cronómetro tiver, por exemplo, tendência para se atrasar, todos os resultados virão reduzidos. Trata-se assim de um erro sistemático. Relativamente aos erros sistemáticos, muitas vezes difíceis de detectar, não existe qualquer teoria generalizada que permita o seu estudo. No entanto, e ao contrário dos erros acidentais, são, na maior parte dos casos, susceptíveis de correcção, podendo mesmo ser eliminados. De facto, os cuidados do Departamento de Física da FCTUC 2/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 experimentador, o perfeito conhecimento das condições em que realiza a experiência e do método que está a seguir, uma permanente desconfiança dos aparelhos de medida e, sobretudo, uma larga prática, permitem compensar ou evitar este tipo de erros. Os erros acidentais, dado a carácter aleatório com que se apresentam, podem ser submetidos a um tratamento matemático baseado na Teoria das Probabilidades. É deles que nos ocuparemos nos parágrafos que se seguem. Interessa salientar, porém, que a fronteira entre erros sistemáticos e erros acidentais não é, por vezes, bem definida e que, se há erros que facilmente podemos identificar como sistemáticos, outros existem que, estando ligados a incertezas difíceis de esclarecer, tornam impraticável distinguir se pertencem a uma ou a outra destas categorias. 3. Precisão e rigor Convém também distinguir os conceitos de precisão e de rigor numa medida. Diremos que uma medição é feita com elevada precisão se os erros acidentais são pequenos (quando comparados com o valor da grandeza medida); diremos que uma medição é feita com elevado rigor (ou exactidão) se os erros sistemáticos são pequenos (quando comparados com o valor da grandeza medida). O termo precisão é usado para caracterizar a reprodutibilidade dos resultados, indicando o desvio em relação ao valor médio; exactidão é o termo que se utiliza para exprimir o afastamento do valor médio relativamente ao verdadeiro valor da grandeza. A precisão é tanto maior quanto mais próxima do valor médio estiver a medida; a exactidão é tanto maior quanto mais próximo do verdadeiro valor estiver o valor médio. A precisão pode ser aumentada reduzindo os erros acidentais; a exactidão pode ser aumentada eliminando os erros sistemáticos e minimizando os erros acidentais. 4. Erro absoluto e erro relativo Note-se, também, que um erro, seja ele de que tipo for, pode ser expresso de duas maneiras diferentes: o “erro absoluto” ou o “erro relativo”. Chamamos erro absoluto de um resultado medido ou calculado à diferença entre esse resultado e o valor verdadeiro da grandeza. Se designarmos por x0 o referido resultado e por x o valor verdadeiro da grandeza, o erro absoluto será: δx = x0 − x . Como é evidente, δx não é conhecido, uma vez que não há maneira de conhecer o verdadeiro valor, x. Porém, como se verá, há casos em que é possível estimar um valor máximo para δx. Chamamos erro relativo ao valor do quociente entre o erro absoluto e o valor (medido, calculado ou verdadeiro) da grandeza: Departamento de Física da FCTUC 3/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 x0 − x δx δx [1] = ≈ . x x x0 Analisando dimensionalmente as equações anteriores, verifica-se que o erro absoluto se exprime nas unidades da grandeza enquanto que o erro relativo é uma grandeza adimensional. Estas duas formas de exprimir um erro distinguem-se ainda pela natureza das informações que fornecem. Considere-se o exemplo seguinte: um erro de 5kg/cm2 na leitura de uma pressão de 2500kg/cm2 representa um erro absoluto de 5kg/cm2; se a pressão medida for 20kg/cm2 e o erro cometido na leitura tiver sido o mesmo, o erro absoluto será novamente de 5kg/cm2. Pelo contrário, os erros relativos cometidos em cada um dos casos serão, respectivamente, 5 5 = 0.002 e = 0.25 . 2500 20 Ou seja, enquanto que o erro absoluto é independente do maior ou menor valor da grandeza a medir, o erro relativo é largamente dependente desse valor, revelando a precisão da medida feita: um erro de 2 cm na medida de uma distância de 200 m representa uma boa precisão, enquanto que o mesmo erro de 2 cm na medida de uma distância de 10 cm revela uma fraca precisão. O erro relativo exprime-se, por vezes, em termos de percentagem e define, então, a chamada percentagem de erro ou erro percentual. No último exemplo apresentado, os erros relativos percentuais seriam, respectivamente 2 2 x100 = 0.01% e x100 = 20% . 20000 10 5. Algarismos significativos Suponhamos o caso de um voltímetro digital que permite leituras da tensão até à milésima de volt. Então, o voltímetro dá pouca informação sobre décimos milésimos de volt, embora dê alguma. Se o verdadeiro valor da tensão for, por exemplo, 23.5647 V, o voltímetro indicará 23.565 (admitindo que ele está construído para fornecer o valor mais próximo da sua escala, ao que se chama “arredondar para o valor mais próximo”)2. Se o verdadeiro valor fosse antes, por hipótese, 23.5654 V ele marcaria de novo 23.565. Em resumo, a indicação 23.565 corresponde a um valor compreendido entre 23.5645 e 23.5655. Esta situação é muito comum e convencionou-se que o último algarismo indica que o verdadeiro valor está num intervalo de amplitude igual ao de uma unidade dessa ordem ± meia unidade da ordem seguinte. Apresenta-se o resultado da medição como sendo 23.565 em que os algarismos [1] Geralmente, como se desconhece o verdadeiro valor da grandeza medida, o erro relativo é determinado através do quociente δx x0 , onde δx corresponde a uma estimativa do erro na medida e x0 ao valor medido. [2 ] Pode também acontecer que o aparelho de medida não apresente uma leitura “arredondada” para o valor mais próximo, limitando-se a truncar o valor medido de acordo com o número de dígitos do visor. Nesse caso, devemos considerar o erro como sendo de ± 1 unidade no último algarismo lido. Departamento de Física da FCTUC 4/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 tomam o nome de “algarismos significativos”. O último algarismo tem um significado especial, como se viu no exemplo do voltímetro, pois indica qual a incerteza no valor medido. Pode, por isso, ser um zero. Por exemplo, utilizando esta convenção 7.4200 tem 5 algarismos significativos e indica que o verdadeiro valor está entre 7.41995 e 7.42005. Se o resultado é expresso por um número sem parte decimal, escreve-se em notação científica e usa-se a convenção acima. Exemplo: 670000 com 3 algarismos significativos escreve-se 6.70x105. Ao efectuar operações entre números devem também adoptar-se algumas regras para apresentação dos resultados. Vamos ilustrar com exemplos. Seja o primeiro multiplicar 5.74 por 3.8 em que estes valores obedecem à convenção dos algarismos significativos. O produto dá 21.812 mas como o primeiro factor indica um valor qualquer compreendido entre 5.735 e 5.745 e o segundo um valor entre 3.75 e 3.85, só podemos afirmar que o produto estará entre: 5.735 x 3.75 = 21.50625 e 5.745 x 3.85 = 22.11825. Se quisermos representar a produto dentro da convenção dos algarismos significativos devemos adoptar apenas o número 22. Evidentemente que, ao proceder assim, estamos a afirmar que o valor está entre 21.5 e 22.5 o que, sendo verdade, alarga porém a imprecisão. A vantagem está na simplificação que advém da adopção neste caso de uma regra simples como a que se segue: Multiplicação, divisão e raiz quadrada: o número total de algarismos significativos do resultado é o número total de algarismos significativos do factor que tiver menor número deles. Ex: 56.25 x 5.37 = 302.0625 mas como 5.37 tem 3 algarismos significativos há que arredondar o resultado para 302. Adição e subtracção: o número de casas decimais significativas do resultado é o da parcela que tiver menor número delas. Ex: 4.17 + 1.6 = 5.77 mas como 1.6 tem 1 casa decimal significativa há que arredondar o resultado para 5.8. 6. Distribuição de medidas Sabemos já que, em virtude dos erros acidentais, se repetirmos a medição de uma mesma grandeza física em condições supostas idênticas obtemos um conjunto de resultados diferentes. Um processo gráfico para exprimir os diferentes resultados obtidos consiste em desenhar um histograma. Para construir um histograma procede-se do seguinte modo: 1. Marcam-se no eixo das abcissas os valores máximo e mínimo das leituras obtidas; 2. Divide-se o intervalo assim obtido num número conveniente de sub-intervalos iguais; Departamento de Física da FCTUC 5/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 3. Tendo por base cada um desses sub-intervalos constroem-se rectângulos cujas alturas sejam proporcionais ao número de leituras de valor compreendido em cada sub-intervalo. Suponhamos que um determinado comprimento é medido 30 vezes. As sucessivas leituras obtidas, x1, x2, ..., x30, estão representadas na Tabela I. Os valores mínimo e máximo dessas leituras são respectivamente, 99.2 e 113.0 mm. Pode, assim, traçar-se o histograma para o intervalo [99, 113]. Dividindo este intervalo em, por exemplo, sete sub-intervalos, pode estabelecer-se a Tabela II. Tabela I x1 = 105.2 mm x2 = 103.6 mm x3 = 110.3 mm x4 = 102.0 mm x5 = 101.5 mm x6 = 109.4 mm x7 = 103.6 mm x8 = 99.2 mm x9 = 108.0 mm x10 = 107.6 mm x11 = 109.3 mm x12 = 105.9 mm x13 = 103.9 mm x14 = 104.0 mm x15 = 110.8 mm x16 = 113.0 mm x17 = 108.2 mm x18 = 102.4 mm x19 = 104.3 mm x20 = 109.3 mm x21 = 107.3mm x22 = 106.6mm x23 = 105.3mm x24 = 105.8mm x25 = 104.5mm x26 = 106.3mm x27 = 106.1mm x28 = 103.2mm x29 = 106.9mm x30 = 106.6mm Tabela II Intervalos Nº de leituras em cada intervalo 99-101 101-103 103-105 105-107 107-109 109-111 111-113 1 3 7 9 4 5 1 O histograma correspondente a estes resultados vem representado na fig.1. Departamento de Física da FCTUC 6/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 Nº de leituras em cada intervalo Imaginemos agora que continuávamos a fazer medições até obter um número de leituras N muito elevado. Esta colecção 8 hipotética de leituras tende, quando N → ∞ , para uma distribuição e a 6 linha poligonal correspondente ao contorno do histograma tende para 4 uma curva contínua. O conjunto das N leituras constitui uma amostra da 2 distribuição. Se o número N for efectivamente muito elevado, 0 podemos escolher intervalos com 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 largura muito pequena e ter ainda Comprimento/cm um número apreciável de leituras Figura 1 em cada intervalo. Se considerarmos intervalos com largura infinitamente pequena dx, o histograma transforma-se numa curva contínua (fig. 2) que representa o número de leituras que caem em cada intervalo infinitesimal (x, x+ dx). f(x) x Figura 2 Podemos definir a função f(x), conhecida por função de distribuição, em que (após conveniente norma1ização, f ( x )dx = 1 ), f(x)dx representa a fracção das leituras que se situa no intervalo de x −∞ a x+dx. Por outras palavras, f(x)dx é a probabi1idade de que uma única leitura se situe no intervalo (x, x + dx). Quando estas curvas são simétricas relativamente a uma recta paralela ao eixo das ordenadas e que passa pelo seu máximo a média da distribuição coincide com o valor mais provável da grandeza. A distribuição normal ou de Gauss é um exemplo de uma distribuição simétrica da mais ∫ Departamento de Física da FCTUC 7/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 vasta aplicação em Física. 7. Média aritmética e erro padrão na média aritmética 7.1 Média aritmética simples e pesada Suponhamos que fazemos N medições sucessivas de uma mesma grandeza física e que estas medições foram efectuadas sem que se verificasse qualquer erro sistemático. Sejam x1, x2, ..., xN as leituras obtidas. Em termos de probabilidades, o valor mais provável da quantidade a medir é a média aritmética das leituras obtidas, dada por: N x= (x1 + x 2 + ... + x N ) N = ∑x i =1 N i . (1) Em outros casos há que extrair o valor mais provável a partir de um conjunto de medidas mas acontece que não se atribui igual confiança (ou peso) a todas elas. Isso não leva a desprezar as de menor confiança pois contribuem também com informação válida sobre o verdadeiro valor. A média pesada de um conjunto de N resultados xi, cada um com peso ωi é: N ∑ω x i x= i =1 N ∑ω i . (2) i i =1 7.2 Desvio padrão e variância dos resultados de uma amostra e da média aritmética Resta esclarecer qual o erro que se comete ao tomar a média aritmética como a melhor estimativa do valor verdadeiro [3]. Seja x o valor verdadeiro da quantidade a medir e que evidentemente desconhecemos. O erro absoluto δxi na leitura de ordem i é δx i = x i − x . Do mesmo modo, o erro δx na média aritmética será δx = x − x . Porém, estas duas expressões pressupõem o conhecimento do valor verdadeiro x. Um processo de tornear esta dificuldade consiste em trabalhar em termos de desvios (ou resíduos). O desvio (ou [3] Repare-se que quantas mais vezes se repetir uma medida tanto maior é a probabilidade de reduzir os efeitos dos erros acidentais ao considerar a média aritmética dos valores obtidos. Porém, por mais medidas que se façam não se consegue aumentar o número de algarismos significativos no resultado. O que obtemos é uma garantia de que o número obtido está mais perto do verdadeiro valor da grandeza, o qual devemos de antemão renunciar a conhecer. Departamento de Física da FCTUC 8/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 resíduo) da leitura i é definido por d i = xi − x , quantidade que é já possível calcular. Admitindo que a amostra obtida com N determinações constitui uma representação da distribuição em causa (no caso de N → ∞ ), então os parâmetros da amostra constituem estimativas dos parâmetros da distribuição. O desvio médio da amostra representa a média aritmética dos valores absolutos dos desvios mas não pode ser utilizada pois dá sempre zero. Com efeito: d = 1 N N ∑ ( xi − x ) = i =1 1 N N ∑ xi − i =1 1 N N ∑x = x − x = 0. i =1 Este resultado é devido, evidentemente, às definições correlacionadas de média e desvio, conduzindo a que haja desvios positivos e negativos cuja soma é nula. Isto sugere que em vez dos desvios usemos os seus módulos ou os seus quadrados, por exemplo. O desvio padrão [4] dos resultados σN é a média quadrática dos desvios, ou seja, é a raiz quadrada do valor médio dos quadrados dos desvios: σN = 1 N −1 N ∑d 2 i . (3) i =1 A variância dos resultados é o valor médio dos quadrados dos desvios. É, portanto, o quadrado do desvio padrão dos resultados: 1 N 2 σ N2 = di . (4) N − 1 i =1 ∑ Utilizam-se, também, o desvio padrão relativo ou o desvio padrão percentual: σN = r σN x (5) ou σ %N = σN x x100 (6), respectivamente. Desvio padrão e variância da média - A própria média é uma variável aleatória que está também [4] Em rigor, as equações (3) e (4) designam-se por desvio padrão ajustado e variância ajustada, respectivamente. Nas expressões do desvio padrão e da variância simples o denominador é N e não N-1 como vem nas equações (3) e (4). Prova-se, contudo, que o desvio padrão ajustado e a variância ajustada são parâmetros mais correctos quando o número N de medidas experimentais não é muito grande. Departamento de Física da FCTUC 9/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 sujeita a uma distribuição de probabilidade cuja variância, σ m2 , será tanto menor quanto maior for o número N de determinações. Temos assim como desvio padrão da média: σm = σN N . (7) 8. Combinação de erros Muitas vezes o resultado de uma experiência depende de um certo número de quantidades medidas, cada uma das quais está afectada de um certo erro. Pretende-se saber como combinar esses erros, que admitimos independentes, de maneira a obter o erro no resultado final. Por exemplo, poderemos medir a densidade d do material que constitui uma peça paralelepipédica medindo a sua massa M e as dimensões a, b, e c da peça. A relação funcional entre a quantidade que pretendemos, d, e as quantidades primárias M, a, b, e c é expressa por M . d= a .b.c Como as quantidades primárias são inevitavelmente medidas com um certo erro, interessa-nos esclarecer de que maneira esses erros individuais se propagam ao resultado d. Generalizando, designemos por Z a quantidade final e por A, B, C, etc. as quantidades primárias. Suponhamos que cada uma destas quantidades primárias foi medida várias vezes. Então, no caso de A teremos o melhor valor A e uma estimativa do respectiva erro padrão σ A . Do mesmo modo teremos B e uma estimativa do erro padrão σ B , e assim sucessivamente. Partimos do princípio de que as medidas das quantidades primárias são independentes e, portanto, que os erros nelas cometidos são também independentes. Seja então a função Z = Z (A, B, C, ...) e seja σ A , σ B , etc. o erro padrão em A , B , etc.. Demonstra-se que o erro padrão σ Z em Z é dado pela expressão (fórmula de propagação dos erros): (σ Z ) ∂Z ∂Z = σ A + σ B + ... ∂A ∂B 2 2 2 (8) Apresenta-se a seguir uma tabela que indica as expressões de Z para algumas das relações mais comuns entre Z e A, B, etc.: Departamento de Física da FCTUC 10/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 Função Relação entre erros Somas e Diferenças Z = A + B + ... Z = A − B + ... (σ Z )2 = (σ A )2 + (σ B )2 + ... Produto e quociente Z = A.B Z = A/ B σ Z σ σ = A + B Z A B Z = A n xB m σ Z 2σ 2σ =n A +m B Z A B Potências 2 2 2 2 2 2 Exemplo: Dada uma função Z = a − 2 B , onde A e B são medidas independentes, pretende-se calcular a valor de Z e do seu erro padrão σ Z a partir dos seguintes valores de A e de B: A = 100 ± 3; B = 45 ± 2 Resolução: O cálculo de Z é imediato: basta considerar que Z = A − 2 B e então Z = 100 − 2 x45 = 10 . Para calcular σ Z , recorrendo a expressão geral, (σ Z ) e como 2 2 ∂Z ∂Z = σA + σB ∂A ∂B 2 ∂Z ∂Z =1 e = −2 ∂A ∂B vem σ Z = 5 . O resultado final será pois Z = 10 ± 5 . Este resultado presta-se a algumas considerações. Verificamos assim que, embora os valores das quantidades A e B estejam afectados de um erro relativamente baixo (< 5%), o mesmo não acontece para o resultado final, onde o erro padrão é quase tão elevado como o próprio valor de Z (erro relativo 50%). Este exemplo indica que, se pretendermos que o erro padrão no resultado final não exceda um valor prefixado temos de, utilizando a fórmula de propagação dos erros, determinar quais os limites superiores do erro a admitir em cada uma das quantidades primárias. O processo de medida duma (ou mais) dessas quantidades poderá ser crucial para que o erro final possa estar dentro dos limites pretendidos. Departamento de Física da FCTUC 11/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 9. Ajuste de uma recta a dados experimentais – método dos mínimos desvios quadrados “O melhor valor de uma grandeza é aquele que torna mínima a soma dos quadrados dos desvios.” Aplicação deste princípio ao ajuste de uma recta aos dados experimentais Limitaremos o nosso estudo ao caso em que são unicamente duas as grandezas relacionadas entre si. Contudo, os conceitos fundamentais envolvidos generalizam-se para o caso de várias grandezas. Sejam medidos N pares de valores experimentais (também chamados “pontos experimentais”): (xi, yi) i = 1, 2, …, N As medidas yi podem ser realizadas de modo a que seja conhecido o desvio padrão σi associado a cada valor yi. Quando os pares de pontos (xi, yi) são marcados num gráfico, os erros em yi são representados sob a forma de segmentos verticais (barras de erro) centrados nos pontos experimentais e de comprimento 2σi [5]. Nas expressões que se seguem consideraremos que todos os yi vêm afectados do mesmo desvio padrão σi. 9.1 Ajuste a uma recta da forma y = kx Admita-se que a relação entre as grandezas x e y é da forma y = kx. Se as medidas não viessem afectadas de erro bastaria achar um par de valores (x1, y1) para se obter logo k = . Na realidade, x1 os valores medidos têm erros e torna-se necessário melhorar a precisão aumentando a informação disponível mediante a obtenção de mais pares (xi, yi). N Determinação do parâmetro k: k = ∑x y i i =1 N ∑x i =1 i (9) 2 i σ2 Desvio padrão do parâmetro k: σ k = ∑x . 2 i (10) i Desvio padrão (σ) das medidas yi (admitindo que o desvio padrão de todos os yi é o mesmo, como se referiu) σ= 1 N N ∑ (y i =1 − kxi ) . 2 i (11) [5] Na verdade, também os valores xi podem vir afectados de erros e, nesse caso, também traçaríamos barras horizontais centrados nos mesmos pontos experimentais. Consideraremos que os erros em x são desprezáveis em face dos erros em y. Departamento de Física da FCTUC 12/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 9.2 Ajuste a uma recta da forma y = ax + b Determinação dos parâmetros a e b: N ∑ xi y i − ∑ xi ∑ y i i i i a= 2 N ∑ xi2 − ∑ xi i i (12) ∑ yi ∑ xi2 − ∑ xi y i ∑ xi i i i i . b= 2 N ∑ xi2 − ∑ xi i i (13) Desvio padrão dos parâmetros a e b: N 2 σ ∆ σa = ∑x σb = onde ∆ = N ∑ xi2 − ∑ xi i i i ∆ (14) 2 i , (15) 2 Desvio padrão dos valores de y: σ= 1 N N ∑ [ y − (ax + b )] i =1 2 i . (14) 10. Avaliação da qualidade do ajuste de uma recta aos dados experimentais – teste do qui-quadrado Trata-se de arranjar um número cujo valor permita estabelecer juízos padronizados sobre a qualidade do ajustamento da recta aos dados experimentais. Esse número denomina-se “quiDepartamento de Física da FCTUC 13/14 Física Laboratorial Ano Lectivo 2003/04 quadrado”, χ2, e é dado por: N χ2 = ∑ i =1 [ y ( xi ) − yi ]2 , σ i2 (17) onde y(xi) são os valores de y obtidos a partir do ajuste da recta y = ax + b aos N pares de valores (xi, yi) e σi são os desvios padrão nos valores medidos yi. No entanto, um dado valor de χ2, por si só, não indica se se trata de um bom ou mau ajuste. Esta indicação é fornecida pelo qui-quadrado normalizado, χ 2n , ou seja, pelo quociente entre o χ2 e o nº de graus de liberdade (este corresponde ao número de pares de pontos experimentais menos o número de parâmetros de ajuste (no caso da recta, os parâmetros a e b)). Um bom ajuste caracteriza-se por um valor de χ 2n muito próximo de 1. Quanto mais χ 2n se afaste de 1, pior será a qualidade do ajuste. Bibliografia - N. Ayres de Campos, Introdução à Análise de Dados, Coimbra, Departamento de Física da Universidade (1995/1996). - P.R. Bevington e D.K. Robinson, Data reduction and error analysis for the physical sciences, 2ª edição, WCB/McGraw-Hill (1992). Departamento de Física da FCTUC 14/14