AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES CENTRAIS DO EXTRATO BRUTO HIDROALCOÓLICO DE Elephantopus aff. scaber EM RATOS WISTAR Fabricio Urnau1; Karina Valerim Teixeira Remor2. (1) Acadêmico do Curso de Medicina da UNISUL, Bolsista do Programa Unisul de Iniciação Científica (PUIC Individual); (2) Orientadora, Grupo de Pesquisa em Produtos Naturais (GRUPNAT), Campus Tubarão Introdução Resultados Figura 1: Efeito da administração via oral do extrato hidroalcoólico de E. aff. scaber na % do tempo de permanência em 5 minutos de teste no labirinto em cruz elevado % Média Entradas braço aberto 50 45 Controle Experimental 40 35 Nº entradas braço aberto O uso de plantas medicinais é uma prática bastante comum em muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil. Nas últimas décadas, muitos estudos foram realizados tentando isolar princípios ativos de diferentes produtos vegetais, confirmar a atividade farmacológica sugerida pelo uso popular destes e garantir a segurança em tais usos. Infelizmente, os estudos farmacotoxicológicos, na maioria das vezes, ainda são insuficientes. Dentre as espécies vegetais utilizadas no Brasil, inclusive na região da AMUREL-SC, pode-se citar a espécie E. scaber, conhecida popularmente como Língua de Vaca, que tem sido usada como um remédio tradicional para tratar feridas, gripes, folgachos; para produzir diurese e eliminar pedras da bexiga; assim como, eliminar dores e febre e trazer sono. Estudos farmacológicos têm demonstrado que infusões de E. scaber (planta seca 10% ou fresca 20%), nas doses 1 ou 2 g/kg, podem apresentar atividade analgésica e antiinflamatória de intensidade variada, quando administrada por via oral em camundongos.¹ Alguns autores, utilizando extratos aquosos e hidroalcoólicos, avaliaram alguns parâmetros de toxicidade aguda e o efeito analgésico, antipirético, antiinflamatório da E. scaber em camundongos. Foi também observada a possível atividade sobre o sistema renal e trato gastrointestinal. Ambos extratos (0.3 – 6 g/kg i.p.), induziram aumento no número de contorções, perda do tônus muscular, ataxia, prostração e morte em camundongos. Nenhum efeito analgésico desses extratos, nas doses anteriormente citadas, foi detectado usando os modelos de placa quente e de contorções induzidas pelo ácido acético. Também não foi observado modificação da diurese. O extrato aquoso diminuiu o tempo de trânsito intestinal em camundongos enquanto que o extrato hidroalcoólico aumentou esse tempo.2 Levando em conta estas considerações, assim como o pouco material disponível na literatura, verifica-se a necessidade de realizar estudos com a E. scaber, com extratos hidroalcoólicos produzidos a partir de amostras encontradas na região Amurel e que já são comumente utilizadas pela população, visando a avaliação comportamental, para contribuir assim com a validação e segurança do uso popular da E. aff. scaber. 30 25 20 15 10 5 0 Figura 2: Efeito da administração via oral do extrato hidroalcoólico de E. aff. scaber, usado conforme indicação popular, no nº de entradas nos braços abertos, em 5 minutos de teste no labirinto em cruz elevado. % Média Tempo braço aberto 50 45 Controle 40 Objetivos O presente estudo tem por objetivo avaliar o efeito da administração via oral do extrato hidroalcoólico (produzido de acordo com a indicação popular, na concentração de 12,88 mg/ml) de E. aff. scaber em ratos (fêmeas) na atividade locomotora e ansiedade no Labirinto em cruz elevado (LCE) e também na atividade locomotora no Campo aberto (CA). Tempo braço aberto 35 Experimental 30 25 20 15 Metodologia 10 5 Extrato O extrato bruto hidroalcoólico foi produzido com a planta fresca, de acordo com o uso popular e armazenado em refrigerador a 8C, por 30 dias. Parte dele foi utilizado neste experimento. Após a realização de análise da planta por um professor da instituição, Jasper Zanco, especialista em identificação botânica, pode-se confirmar o gênero, mas não a espécie da planta, optando-se por utilizar a terminologia E. aff. scaber. O extrato bruto (20 mL) foi submetido à extração por três vezes em funil de separação, com porções de 100 mL com os solventes: hexano, diclorometano e acetato de etila. O líquido restante foi denominado fração aquosa que foi concentrado em rota vapor até secura. Em cada uma dessas extrações foi aguardado o tempo suficiente até obter a nítida visualização das linhas de separação das duas fases. As fases orgânicas de cada extração, foram reunidas e também concentradas até a secura em banho-maria. Após foram armazenadas em refrigerador. Testes comportamentais Preparação: Os animais foram distribuídos ao acaso em grupos de 4 para o experimental e 4 para o controle, pesados e resguardados no laboratório claro/escuro até o momento do experimento. Todos os experimentos foram realizados no período vespertino. Foi aplicada uma solução contendo o extrato hidroalcoólico de E. scaber na concentração de 12,88 mg/ml (grupo experimental) e uma solução hidroalcoólica a 5% 0,1 ml/kg (grupo controle), via oral, 60 minutos antes do experimento. Após receber a solução cada animal foi isolado em gaiolas separadas. Antes do início do experimento cada animal permaneceu durante 20 minutos no ambiente do laboratório experimental (pouca luminosidade). Os animais foram testados individualmente e primeiramente foram colocados no CA por 5 min. para em seguida passarem para o LCE por 5 min. Após a experimentação os animais voltaram ao biotério sem nenhum contato entre estes e os animais ainda não avaliados. Campo aberto Uma hora após a administração do extrato em estudo ou da solução controle e 20 minutos após o período adaptativo no ambiente do laboratório experimental os animais foram colocados, individualmente, no aparelho por 5 minutos, sendo então observados os seguintes parâmetros: Autolimpeza ou grooming, levantamentos ou rearing, tempo parado ou freezing, defecação, cruzamentos na periferia e no centro. Labirinto em cruz elevado Uma hora após a administração do extrato da planta ou da solução controle e 20 minutos após o período adaptativo no ambiente do laboratório experimental, e também após serem observados no aparelho CA por 5 minutos, os animais foram colocados, individualmente, na plataforma central de frente para um dos braços fechados do LCE e o número de entradas nos braços abertos e fechados e o tempo de permanência nos braços abertos e fechados foram registrados. Considerou-se entrada nos braços quando o animal encontrava-se com as quatro patas dentro dos mesmos. Posteriormente, estes dados foram convertidos em % de entradas nos braços abertos (%EA) e % de tempo nos braços abertos (%TA). Entende-se por % EA como sendo o resultado da divisão entre o nº de entradas nos braços abertos pela soma do nº de entradas nos braços abertos e fechados. E % TA como resultado da divisão entre o tempo de permanência nos braços abertos pelo tempo total de permanência nos braços abertos e fechados. O nº de entradas nos braços fechados foi considerado 0 Tabela 1: Médias e desvio padrão dos parâmetros analisados no Campo aberto após administração do extrato hidroalcoólico de E. aff. scaber usado conforme indicação popular. Não foram observados diferenças significativas entre os tratamentos. Parâmetros Controle (n=17) Experimental (n=16) Auto-limpeza 0,9412 ± 0,38797 1,1875 ± 0,33190 Levantamentos Tempo parado (seg.) Defecação Cruzamentos periferia Cruzamentos centro 9,2941 ± 1,19977 87,2353 ± 16,35779 2,2941 ± 0,58639 20,5882 ± 2,77470 1,8235 ± 0,45565 10,0000 ± 1,60728 70,2500 ± 12,58190 2,1875 ± 0,46743 23,0000 ± 1,35708 1,8750 ± 0,32755 Conclusões O presente estudo contribui para garantir a segurança na utilização da planta E. scaber na região sul do estado de Santa Catarina. Na concentração utilizada popularmente a E. Aff. scaber parece não deprimir o funcionamento do SNC ou do sistema motor. Outros estudos utilizando extratos padronizados produzidos de acordo com a farmacopéia e também com outras doses podem ser realizados futuramente, visando avaliar sua indicação terapêutica. No entanto, vale destacar que a impossibilidade de identificar a planta como sendo E. scaber expõe uma realidade preocupante quanto ao risco no qual a população esta exposta, ao utilizar plantas sem uma prévia identificação botânica. Muitas vezes, apesar da semelhança morfológica, elas podem não apresentar o mesmo perfil farmacotoxicológico. Bibliografia 1. Ruppelt BM, Pereira EF, Gonçalves LC, Pereira NA. Pharmacological screening of plants recommended by folk medicine as anti-snake venom—I. Analgesic and anti-inflammatory activities Mem Inst Oswaldo Cruz 1991; 86 Suppl 2: 203-5 2. Poli A, Nicolau M, Simoes CM, Nicolau RM, Zanin M. Preliminary pharmacologic evaluation of crude whole plant extracts of Elephantopus scaber. Part I: In vivo studies Journal Of Ethnopharmacology 1992 Aug; Vol. 37 (1):71-6 5. Manual de ensaios toxicológicos in vivo / Alba Souza Brito (1994). 6. Portaria n° 116/MS/SNVS, de 8 de agosto de 1996. 7. Nahas, T. R. O teste do campo aberto. In: Gilberto Fernando Xavier. (Org.). Técnicas para o estudo do sistema nervosa. São Paulo: Editora Plêiade, 1999, p. 197-215 8 Carobrez AP, Bertoglio LJ Ethological and temporal analyses of anxiety-like behavior: The elevated plus-maze model 20 years on. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 2005 Jan; 29 (8):1193 1205 Apoio Financeiro: Unisul