UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROBLEMAS DE VALIDADE DA LEI DE ANISTIA BRASILEIRA (LEI N. 6.683/79) LAURO JOPPERT SWENSSON JUNIOR PIRACICABA/ 2006 PROBLEMAS DE VALIDADE DA LEI DE ANISTIA BRASILEIRA (LEI N. 6.683/79) LAURO JOPPERT SWENSSON JUNIOR ORIENTADOR: PROF. DR. DIMITRI DIMOULIS Dissertação apresentada à banca examinadora do programa de pósgraduação em direito da Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP, como exigência parcial para obtenção do título de mestre em direito, área de concentração em filosofia do direito. PIRACICABA/ 2006 Swensson Junior, Lauro Joppert Problemas de validade da Lei de anistia brasileira (Lei n. 6.683/79). Piracicaba, 2006. 172 p. Orientador: Prof. Dr. Dimitri Dimoulis Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-graduação em Direito – Universidade Metodista de Piracicaba 1 - Criminalidade estatal. 2 - Justiça de transição. 3 - Anistia. 4 - Lei n. 6.683/79. 5 - Validade. PROBLEMAS DE VALIDADE DA LEI DE ANISTIA BRASILEIRA (LEI N. 6.683/79) LAURO JOPPERT SWENSSON JUNIOR Trabalho defendido em 24 de fevereiro de 2006, pela Banca Examinadora constituída por: ___________________________________ Prof. Dr. DIMITRI DIMOULIS (orientador) ___________________________________ Profa. Dra. ANA LUCIA SABADELL ___________________________________ Profa. Dra. DOROTHEE SUSANNE RÜDGER ___________________________________ Prof. Dr. JUAREZ CIRINO DOS SANTOS PIRACICABA/ 2006 PAZ SEM VOZ NÃO É PAZ, É MEDO O Rappa / Marcelo Yuka RESUMO A concessão da anistia pela Lei n. 6.683 de 28 de agosto de 1979 para os agentes estatais que realizaram a repressão política do regime militar é bastante contestada pelas vítimas da repressão, pela população em geral e por certos autores. Desse modo, nossa pesquisa pretende tratar sobre os problemas de validade da Lei de anistia brasileira, indagando se essa lei pertence ao ordenamento jurídico ou não. Ou seja, se ela é juridicamente válida ou inválida. Após termos analisado a criminalidade estatal objeto da anistia, a problemática da justiça de transição a que ela se insere e o entendimento do que seja a anistia nos seus mais diversos aspectos, nós concluímos que a Lei n. 6.683/79 é juridicamente válida, socialmente eficaz, axiologicamente ilegítima ou injusta. Apesar dessa lei contrariar aos vários critérios por nós estabelecidos para que ela possa ser considerada justa, legítima ou moralmente admitida, ela não deixa de ser uma norma juridicamente válida, pertencendo, portanto, ao ordenamento jurídico brasileiro e tendo força vinculante. PALAVRAS-CHAVE: 1 - Criminalidade estatal; 2 - Justiça de transição; 3 - Anistia; 4 - Lei n. 6.683/79; 5 - Validade. ABSTRACT Amnesty concession by Law n. 6.683 from August, 28th 1979 to all the state agents who executed the politic repression during the military regimen is quite contested by the repression victims, by the general population and by some authors. Our research intends to treat of the problems on the validity of the Brazilian law of amnesty, wondering if this law belongs to the juridical ordinance or not. What means, if it is juridically valid or not. After analyzing the state criminality amnesty object, the problematic of justice transition where it fits in and the understanding of what amnesty means on its most several aspects, we concluded that the Law n. 6.683/79 is juridically valid, socially effective, axiologically illegitimate or unfair. Despite this law opposes to several criteria established by us so that it can be considered fair, legitimate or morally accepted, it doesn’t stop being a juridically valid ruled, belonging, then, to the Brazilian juridic ordering and having active force. KEYWORDS: 1 - State criminality; 6.683/79; 5 - Validity. 2 - Transition justice; 3 - Amnesty; 4 - Law n. RESUMEN La concesión de la amnistía por la Ley n. 6.683 del 28 de agosto de 1979 para los agentes estatales que realizaron la represión política del régimen militar es bastante cuestionada por las víctimas de la represión, por la población en general y por algunos autores. Por eso, muestra pesquisa pretende tratar sobre los problemas de validez de la ley de amnistía brasilera, investigando si esa ley pertenece al orden jurídico o no. O sea, si ella es jurídicamente válida o inválida. Después de haber analizado el crimen estatal objeto de amnistía, el problema de la justicia de transición dentro de la cual se incluye y la comprensión de lo que sea la amnistía en sus más diversos aspectos, concluimos que la ley nº 6883/79 es jurídicamente válida, socialmente eficaz, axiológicamente ilegítima o injusta. A pesar de que esa ley es contraria a los varios criterios que hemos establecido para que ella pueda ser considerada justa, legítima o moralmente aceptada, no deja de ser una norma jurídicamente válida, perteneciendo, por lo tanto, al orden jurídico brasilero y teniendo fuerza de vinculación. PALABRAS CLAVE: 1 - Crimen estatal; 2 - Justicia de transición; Ley n. 6883/79; 5 - Validez 3 - Amnistía; 4 - SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................... 11 I. CRIMINALIDADE ESTATAL....................................................................................... 15 1. Ditadura militar, segurança nacional e repressão política no Brasil................................ 16 2. Criminalidade do Estado brasileiro ................................................................................. 22 2.1. Premissa maior: critérios para se julgar a criminalidade estatal............................... 23 2.1.1. Criminalidade estatal segundo normas morais .................................................. 24 2.1.2. Criminalidade estatal segundo normas de direito internacional........................ 29 2.1.3. Criminalidade estatal segundo normas de direito nacional ............................... 30 2.2. Premissa menor: a realidade dos porões da ditadura................................................ 32 2.2.1. O problema das fontes ....................................................................................... 33 2.2.2. Práticas da repressão política estatal ................................................................. 37 2.3. Conclusão: crimes do regime militar........................................................................ 41 3. Crítica ao conceito de criminalidade estatal .................................................................... 42 II. JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO .......................................................................................... 50 1. Punir ou não punir? ......................................................................................................... 50 2. Para quê punir? ................................................................................................................ 58 3. Como punir? .................................................................................................................... 63 4. É possível punir? ............................................................................................................. 68 4.1 Dificuldades jurídicas ................................................................................................ 69 4.2. Dificuldades políticas ............................................................................................... 80 5. Decidir sobre a punição ................................................................................................... 85 III. ANISTIA ....................................................................................................................... 87 1. Perdão .............................................................................................................................. 88 2. Anistia.............................................................................................................................. 95 2.1. Conceito.................................................................................................................... 95 2.2. Classificação........................................................................................................... 101 2.3. Finalidade ............................................................................................................... 102 2.4. Condições de validade ............................................................................................ 107 2.4.1. Formal.............................................................................................................. 108 2.4.2. Social ............................................................................................................... 111 2.4.3. Axiológica ....................................................................................................... 113 2.4.3.1. Excepcionalidade dos crimes .................................................................... 116 2.4.3.2. Auto-anistia ............................................................................................... 117 IV. PROBLEMAS DE VALIDADE DA LEI DE ANISTIA BRASILEIRA ................... 121 1. Lei n. 6.683/79............................................................................................................... 121 1.1. A reivindicação social pela anistia ......................................................................... 121 1.2. O processo legislativo............................................................................................. 123 1.3. Os destinatários da anistia ...................................................................................... 128 2. Problemas de validade da Lei n. 6.683/79..................................................................... 135 2.1. Lei n. 6.683/79 e as condições de validade formal, social e axiológica da anistia. 136 2.2. Validade jurídica e os critérios de sua determinação ............................................. 138 2.3. Escolha do critério e validade jurídica da Lei n. 6.683/79 ..................................... 142 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 148 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 153 Legislação consultada.................................................................................................... 162 ANEXO - LEI Nº 6.683/79. .............................................................................................. 169